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DESPESAS MUNICIPAIS NORDESTINAS: UMA ANÁLISE EMPÍRICA A PARTIR


DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LRF) Municipal expenses in the
Northeast: An empirical analysis of the Fiscal Resp...

Article  in  Revista econômica do Nordeste · June 2017

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Luís Abel da Silva Filho


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ISSN eletrônica (on line) 2357-9226

DESPESAS MUNICIPAIS NORDESTINAS: UMA ANÁLISE EMPÍRICA


A PARTIR DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LRF)

Municipal expenses in the Northeast: An empirical analysis of the Fiscal


Responsibility Law (LRF)
Thyago Bezerra de Luna
Economista. Universidade Regional do Cariri - URCA. thyagoluna@outlook.com

William Gledson e Silva


Economista. Doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte - UFRN. Prof. Assistente da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte - UERN. williangledson@yahoo.com.br

Luís Abel da Silva Filho


Economista: Estudante de Doutorado em Ciências Econômicas pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual
de Campinas - IE-UNICAMP. Professor do Departamento de Economia - URCA. abeleconomia@hotmail.com

Resumo: (VWHDUWLJRWHPRREMHWLYRGHDQDOLVDUFRPSD- Abstract: This article aims to comparatively analyze


rativamente as despesas municipais no Nordeste brasi- PXQLFLSDO H[SHQVHV LQ WKH %UD]LOLDQ 1RUWKHDVW WDNLQJ
leiro, tomando como referência os municípios com até as reference the municipalities with up to 50,000 and
50.000 e aqueles com mais de 50.000 habitantes nos those with more than 50,000 inhabitants in the years
anos 2002 e 2011. A hipótese da pesquisa sustentou que 2002 and 2011. The hypothesis of the research suppor-
D /HL GH 5HVSRQVDELOLGDGH )LVFDO /5)  QD FRQGLomR WHG WKDW WKH /DZ RI )LVFDO 5HVSRQVLELOLW\ /5)  DV D
GHXPDLQVWLWXLomRIRUPDOWURX[HLPSRUWDQWHVUHSHUFXV- formal institution, brought important repercussions
V}HV SDUD DV ¿QDQoDV S~EOLFDV PXQLFLSDLV QRUGHVWLQDV WR WKH PXQLFLSDO SXEOLF ¿QDQFHV RI WKH 1RUWKHDVW LQ D
HPXPDGpFDGDHVSHFL¿FDPHQWHQDVLQVWkQFLDVJRYHU- GHFDGHVSHFL¿FDOO\LQJRYHUQPHQWDOLQVWDQFHV0HWKR-
namentais. Metodologicamente, usou-se uma revisão dologically, a review of the literature and documentary
GH OLWHUDWXUD H H[DPH GRFXPHQWDO DOpP GD FRQVLGHUD- H[DPLQDWLRQZDVXVHGDVZHOODVWKHFRQVLGHUDWLRQRI
ção de estatística descritiva e regressão múltipla log-log descriptive statistics and multiple log-log regression
para mensurar os resultados do estudo, com base nos to measure the results of the study, based on seconda-
dados secundários constantes na Secretaria do Tesouro U\GDWDIURPWKH1DWLRQDO7UHDVXU\6HFUHWDULDW 671 
1DFLRQDO 671 $OFDQoRXVHUHVXOWDGRVUHOHYDQWHVRV 5HOHYDQWUHVXOWVZHUHREWDLQHGZKLFKVKRZHGWKDWWKH
TXDLVPRVWUDUDPTXHD/5)HVWDEHOHFHXOLPLWHV¿VFDLV /5)HVWDEOLVKHG¿VFDOOLPLWVIRU1RUWKHDVWHUQPXQLFL-
jV¿QDQoDVPXQLFLSDLVQRUGHVWLQDVHQWUHWDQWRQmRKRX- SDO¿QDQFHVKRZHYHUWKHUHZDVQRGLYHUJHQFHEHWZHHQ
ve divergência entre o controle nas contas públicas e os control in public accounts and social spending, revea-
JDVWRVVRFLDLVUHYHODQGRXPDHYLGHQWHDSUR[LPDomRGH OLQJDQHYLGHQWDSSUR[LPDWLRQRIVXFKHFRQRPLFSROLF\
WDLVREMHWLYRVGHSROtWLFDHFRQ{PLFDQR%UDVLO objectives in Brazil.
Palavras-chave:'HVSHVDV0XQLFLSDLV1RUGHVWH/5) Keywords:0XQLFLSDO([SHQGLWXUHV1RUWKHDVW/5)

Recebido em 2 de novembro de 2016 Rev. Econ. NE, Fortaleza, v. 48, n. 2, p. 101-110, abr./jun., 2017
Aprovado em 26 de junho de 2017
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Thyago Bezerra de Luna, William Gledson e Silva e Luís Abel da Silva Filho

DO   6LOYD )LOKR HW DO   H 6LOYD HW DO
1 Introdução   YLD GH UHJUD WHQGHP D WRUQDU D DGPLQLV-
$V¿QDQoDVS~EOLFDVVHPG~YLGDUHIHUHPVHD tração dos recursos públicos mais adequada, isto
uma temática crucial na compreensão da chamada é, os gestores de cada ente passam a ter uma lente
HVWDELOLGDGH HFRQ{PLFD GR %UDVLO 1RWDGDPHQWH orientadora com poderes coercitivos, na condição
SHODFRPSUHHQVmRGRTXHRGHVHTXLOtEULR¿VFDOWHP de uma norma fundamental, ao menos na literatura
SURGX]LGRHOHYDQGRDVLQFRQVLVWrQFLDVQD)HGHUD- aqui mencionada, constituindo a possibilidade de
ção; afetando o transito de recursos; a capacidade PHOKRULDV¿VFDLVFDSD]HVGHRIHUWDUVXVWHQWDELOLGD-
discricionária dos entes; e ao relevante impacto no de de longo prazo na participação governamental
combate aos desajustes sociais demandantes da em termos de uma prudente discricionariedade.
oferta adequada de bens públicos, etc. 8PD~OWLPDUHVVDOYDLPSRUWDQWHYLDGHUHJUD
Nesse sentido, trabalhos como os de Silva WUDWDGRFRQWH[WRVLVWrPLFRGDJUDYHFULVHHFRQ{-
)LOKR HW DO   6LOYD )LOKR H 6LOYD   H mica que assola o mundo e, consequentemente o
6LOYDHWDO  SRUVXDYH]UHDOL]DPHVWXGRV Brasil, a qual se inicia em 2008, repercutindo nos
H[SORUDWyULRVQDSHUVSHFWLYD¿VFDOSDUDHQWLGDGHV HQWHVPXQLFLSDLVÀDJUDQWHPHQWHSRLVDIHWDRVSD-
municipais, mostrando, dentre outros aspectos, a drões de arrecadação e da aplicação dos recursos
ÀDJUDQWH QHFHVVLGDGH HP FRPSHQVDU D UHGX]LGD na forma de gastos, compatibilizando com os pri-
propensão em arrecadar, do ponto de vista médio PHLURVDQRVGHLPSOHPHQWDomRGD/5)DSDUWLUGH
das transferências, na tentativa de tornar as enfa- DSRQWDPHQWRVGH)HUUHLUDH6LOYD  
tizadas instâncias governamentais mais robustas $SyV HVVDV H[SOLFLWDo}HV VXPiULDV WRUQDVH
¿QDQFHLUDPHQWH cabível ressaltar que a hipótese deste artigo, a ri-
'H IDWR D )HGHUDomR EUDVLOHLUD FXMR WUDoR gor, refere-se a importância institucional formal
institucional remonta um sistema composto pela GD /5) HP PHOKRUDU DV FRQGLo}HV ¿VFDLV PXQL-
8QLmR(VWDGRVH'LVWULWR)HGHUDOHRV0XQLFtSLRV cipais nordestinas, mais precisamente no que toca
resguarda inúmeros entes caracterizados em seu jVGHVSHVDVGXUDQWHRVDQRVGHDWDQWR
conjunto, em uma verdadeira reunião de unidades para municípios com até 50.000 munícipes, quanto
economicamente diferenciadas. Quer dizer, a ele- jTXHOHV TXH SRVVXDP PDLV GH $VVLP RV
vada quantia de membros do universo federativo testes empíricos e a revisão de literatura devem
do país apontam necessidades de uma presença permitir aferir se é aceitável ou não a suposição
LQVWLWXFLRQDOVREUHRSODQR¿VFDO aqui desenhada.
$VVLP 6LOYD )LOKR H 6LOYD   DSUHVHQWDP Com efeito, o objetivo do estudo é analisar as
QD HVWUXWXUD GD )HGHUDomR EUDVLOHLUD D H[LVWrQ- despesas municipais nordestinas, cujo período os
FLDGD&RQVWLWXLomR)HGHUDO &) GHDTXDO DQRVVHOHFLRQDGRVVmRRVGHD2UHFRUWH
permite haver estímulos ao não ajuste nas contas temporal compreende 10 anos após a implementa-
S~EOLFDV SUHYHQGR UHSDVVHV IHGHUDLV jV HVIHUDV ção de toda as medidas cabíveis institucionalmente
subnacionais, reduzida preocupação com a trans- DRDUFDERXoROHJDOGD/5)2SULPHLURUHIHUHVHD
parência nas ações governamentais, diminuta res- LPSOHPHQWDomRGD/5)HGD/HLGHFULHV¿VFDLVTXH
WULomRTXDQWRjFULDomRLPSUXGHQWHGHPXQLFtSLRV só entrou em vigor a partir de outubro do ano 2000
FRQIRUPH*RPHVH0DF'RZHOO   e 2011 contempla o décimo ano de implementação
HH[HFXomRGD/5)0HWRGRORJLFDPHQWHRDUWLJR
3DUDFRUULJLUDVGLVWRUo}HVQRWHUUHQRGDV¿QDQ-
pretende utilizar uma revisão de literatura sobre
ças públicas no Brasil, o ano de 2000 traz a im-
¿QDQoDV S~EOLFDV H R DPELHQWH LQVWLWXFLRQDO TXH
SOHPHQWDomRGDFKDPDGD/HLGH5HVSRQVDELOLGDGH
envolve os mencionados entes federativos, além
)LVFDO HP TXH HVVD LQVWLWXLomR SURS}H OLPLWHV DR
de regressões log-log com o objetivo de captar as
HQGLYLGDPHQWRSRUJDVWRVH[FHVVLYRVUHQ~QFLDGH
elasticidades das variáveis em relação as despesas.
receitas pelos tributos não arrecadados e de com-
petência da Instância de governo correspondente, -XVWL¿FDVHDUHDOL]DomRGHVWDSHVTXLVDQDYHU-
transparência pela publicação das medidas efetua- GDGHSHODH[LVWrQFLDGHXPDOLWHUDWXUDGH¿QDQoDV
das via contas de cada ente, etc. públicas e contornos institucionais relevantes ao
cenário teórico. Além disso, é pertinente considerar
(VVH H[SHGLHQWH LQVWLWXFLRQDO DSUHVHQWDGR
XPFRQMXQWRGHPXQLFtSLRVFRPIDL[DVGHKDELWDQ-
QRV HVWXGRV GH$IRQVR HW DO   6DQWROLQ HW

Rev. Econ. NE, Fortaleza, v. 48, n. 2, p. 101-110, abr./jun., 2017

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Despesas municipais nordestinas: uma análise empírica a partir da lei de responsabilidade fiscal (LRF)

tes até 50.000 e mais de 50.000 munícipes, pois a Antes, porém, faz-se necessário assinalar que a
região Nordeste é compreendida como pouco di- instituição aqui mencionada deve regular um sis-
nâmica economicamente, sendo mais susceptível tema federativo de grandes proporções, o qual se
DR GHVHTXLOtEULR ¿VFDO WHQGHQFLDO YLD JDVWRV PDLV H[SOLFLWDQR%UDVLOHVXDFDUDFWHUtVWLFDWUD]FRQWRU-
UHSUHVHQWDWLYRV H D /5) SRGH VHU XPD LQVWLWXLomR QRVGHVFHQWUDOL]DGRV¿VFDOPHQWHFRPPDLRUHVDX-
coercitiva importante ao ajuste de tais instâncias tonomias federativas por parte dos entes subnacio-
governamentais, especialmente em tempos de crise. QDLV HVWDGRVHPXQLFtSLRV GLDQWHGD8QLmREHP
)LQDOPHQWH R DUWLJR VH HQFRQWUD GLYLGLGR HP como um mais representativo poder decisório das
mais 4 itens além da introdução. A seguir, faz-se a instâncias de menor amplitude, conforme ressal-
H[SRVLomREUHYHGHDOJXQVHOHPHQWRVLPSRUWDQWHV WDP6LOYD)LOKRHWDO  )HUUHLUDHWDO  
através da revisão de literatura; posteriormente, H6LOYDHWDO  
realiza-se a apresentação dos procedimentos me- 7DLVWUDoRVSRUVHXWXUQRH[SOLFLWDPHYHQWXDLV
todológicos; na sequência, a discussão dos princi- repercussões sobre receitas e despesas dos entes
pais resultados alcançados no trabalho, reservando federativos apontados, de maneira que condições
j~OWLPDVHomRjVFRQVLGHUDo}HV¿QDLV ¿VFDLVGHVFHQWUDOL]DGDV FKDQFHODLQVWLWXFLRQDOGD
&)GH SURGX]HPDXPHQWRWHQGHQFLDOQDDU-
2 Notas sobre a repercussão da Lei de UHFDGDomRVXEQDFLRQDOHH[SDQVmRGRVGLVSrQGLRV
Responsabilidade Fiscal no Brasil FXMD FRQVHTXrQFLD SRGH VHU XP GHVDMXVWH QDV ¿-
nanças públicas das instâncias em tela, na leitura
(VWDVHomRSRUVXDYH]UH~QHWUDoRVUHOHYDQ- GH)HUUHLUDH6LOYD  
tes ao que se espera no estudo, pois pretende de-
Nesse sentido, o caráter enfatizado, a rigor,
senvolver, sumariamente, alguns apontamentos
tende a produzir eventuais desajustes nas contas
WHyULFRV LQWHUHVVDQWHV j SHVTXLVD FRQVLGHUDQGR
públicas, pois a não restrição em torno de estados
DVSHFWRVFRQFHLWXDLVOLJDGRVjV¿QDQoDVS~EOLFDV
e municípios pode acarretar instabilidades mais
D FRHUomR QRUPDWLYD GD /HL GH 5HVSRQVDELOLGDGH
pronunciadas, sendo pertinente haver prerrogati-
)LVFDOSRUpPWRUQDVHFDEtYHOLQLFLDUDGLVFXVVmR
YDVGHGLVFLSOLQD¿VFDODLQGDPDLVFRQWXQGHQWHVD
com evidências do que venha a ser uma instituição.
H[HPSORGDVGLVFXVV}HVDSUHVHQWDGDVSRU%DUERVD
1RUWK   UHYLVDGR WHRULFDPHQWH SRU *DOD )LOKR  H*REHWWL  
 H&DYDOFDQWH  DGPLWHTXHXPDLQVWL-
$V D¿UPDo}HV DQWHULRUHV YLD GH UHJUD VLQDOL-
WXLomRVLJQL¿FDDVUHJUDVGRMRJRDVTXDLVRULHQWDP
zam que um ajuste nas contas públicas do país é
e restringem as ações dos jogadores consoantes
importante, sendo plausível anunciar alguns traços
FRPRVGLYHUVRVDJHQWHVHFRQ{PLFRVGHQWUHHVVHV
institucionais compatíveis a tal cenário, em que se
se incluem os entes federativos governamentais,
DGPLWH D LQÀXrQFLD GD /HL GH 5HVSRQVDELOLGDGH
HPSUHVDVFRQVXPLGRUHVHWF(QWUHWDQWRRVDXWR-
)LVFDOQRUPDWL]DomRHVVDSDVVtYHOGHFRQVLGHUDomR
res supracitados anunciam que há possibilidades
neste estudo, tomando como referências os traba-
GDRFRUUrQFLDGHLQVWLWXLo}HVIRUPDLV OHLVHVFULWDV 
OKRVGH*LXEHUWL  6DQWROLQHWDO  6LO-
HDVLQIRUPDLV YDORUHVFXOWXUDHFRVWXPHVGHXPD
YD)LOKRHWDO  H6LOYD)LOKRH6LOYD  
GDGD VRFLHGDGH  GHQWUR GH XPD GLQkPLFD GH WUD-
MHWyULDKLVWRULFDPHQWHGHWHUPLQDGDDH[HPSORGR 'HIDWR)LRUDYDQWHHWDO  QDFRQWUDPmR
chamado path dependence. do discurso institucionalista convencional, apre-
sentam o argumento no qual as restrições impos-
As denominadas instituições formais atesta-
WDVTXDQWRDRVJDVWRVH[FHGHPEDVWDQWHRFRQWH[WR
GDV HVSHFLDOPHQWH SRU 1RUWK   SURS}HP
UHDOGDV¿QDQoDVS~EOLFDVTXHUGL]HUDLQVWLWXLomR
que normas estabelecidas possam ter o poder de
IRUPDO UHIHUHQWHjVUHJUDVHVFULWDV WRUQDPRFDP-
restringir ações no terreno social, cujo destaque
SR ¿VFDO PDLV H[SDQVLYR ID]HQGR DXPHQWDU WHQ-
GHVWH DUWLJR SHUSDVVD SHOD /5) UHSRXVDQWH VREUH
dencialmente o endividamento dos entes federati-
DV ¿QDQoDV S~EOLFDV EUDVLOHLUDV FRQ¿JXUDQGR HP
vos brasileiros em termos médios.
passos teóricos convergentes ao estudo empírico
aqui desenhado, sendo indispensável tecer breves (QWUHWDQWR /XTXH H 6LOYD   *LXEHUWL
FRPHQWiULRVDFHUFDGDGLQkPLFD¿VFDO  $IRQVRHWDO  6HQDH5RJHUV  
6DQWROLQHWDO  SRUVXDYH]FRQFRUGDPTXH
D/5)pXPDLQVWLWXLomRGHUREXVWDLQÀXrQFLDVR-

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Thyago Bezerra de Luna, William Gledson e Silva e Luís Abel da Silva Filho

EUHDV¿QDQoDVS~EOLFDVGRVHQWHVIHGHUDWLYRVEUD- todas as rubricas com cifras numéricas diferentes


sileiros, pois estabelece diversos pontos capazes de 0 em todas as variáveis utilizadas.
GHUHVWULQJLUSRVVtYHLVGHVHTXLOtEULRV¿VFDLVGLVFL- 2SHUDFLRQDOPHQWHWUDWDVHGHXPDGXSODDQiOL-
plinando mais adequadamente a utilização dos re- se, de um lado são construídos indicadores enten-
cursos e tornando transparente o quadro das contas GLGRV FRPR ¿QV D H[HPSOR GRV GLVSrQGLRV FRP
das instâncias observadas, convergindo ao atesta- saúde, educação e assistência social, já os compre-
GRSRU%DUERVD)LOKR  H*REHWWL   endidos como meios se encontram associados aos
8PD ~OWLPD VLQDOL]DomR WUDWD GH DVSHFWRV SUH- gastos de legislativos e administrativo. De fato, os
VHQWHV QD /HL GH 5HVSRQVDELOLGDGH )LVFDO D TXDO ¿QVH[SULPHPPDLRUUHOHYkQFLDVRFLDOHRVPHLRV
limita maiores despesas com folha de funcioná- menos, cujos valores dos primeiros se maiores,
rios como proporção da receita corrente líquida; melhor e os segundos o inverso.
UHVWULo}HVjUHQ~QFLDWULEXWiULDHDSXEOLFDomRGRV Destarte, o indicador toma a seguinte forma:
UHVXOWDGRVGRVH[HUFtFLRVREULJDWyULRVFXMDSUHR-
cupação é fornecer uma credibilidade e; portanto, Gm0LM
,*00L= [ 
FRQ¿DQoDQDVJHVW}HVJRYHUQDPHQWDLVGHPRGRUH- Gt0L- Gm0LM
presentativo, de acordo com nuances enfatizadas
SRU/XTXHH6LOYD  *LXEHUWL  H6HQD
2QGH
H5RJHUV  

3 Procedimentos metodológicos ,*00L= índice de gasto municipal;


Gm0LM= índice de gastos do município i com a
(VWD VHomR WHP R REMHWLYR GH DSUHVHQWDU RV DV- variável j;
pectos metodológicos do artigo, de modo que é rea- Gt0L= gasto total dos municípios i com todas as
OL]DGDXPDH[SOLFLWDomRGHFDGDHWDSDHVSHFLDOPHQ- rubricas.
te na demonstração sumária do modelo de regressão
múltipla log-log5HVVDOWHVHTXHDUHJLmR1RUGHV-
WH REMHWR GR HVWXGR WUD]  PXQLFtSLRV FRPR Para reforçar essas evidências iniciais, a pesquisa
PHPEURVUHVHUYDQGRDFRQVLGHUDomRGHSDUD procura desenvolver um procedimento quantitativo,
DDQiOLVHQRDQRGHHHP a partir do modelo de regressão múltipla log-log, na
tentativa de medir as elasticidades de cada variável
$VVLPDXWRUHVFRPR6LOYD)LOKRHWDO  
LQGHSHQGHQWH GLDQWH GD H[SOLFDGD LQFOXLQGR R log
H6LOYDHWDO  YLDGHUHJUDUHYHODPKDYHU
em ambos os membros da equação de regressão,
pertinência na aplicação do método de regressão
para linearizar a relação entre as rubricas.
múltipla para municípios, cuja razão é possibili-
WDU TXH VH PHGLVVH D LQÀXrQFLD GH FDGD YDULiYHO Some-se a isso, sem dúvida, que o método é
LQGHSHQGHQWH IUHQWH j H[SOLFDGD DIHULQGR HIHLWRV H[SUHVVR SHOR GHQRPLQDGR PRGHOR GRV 0tQLPRV
mais consistentes quantitativamente, usando me- 4XDGUDGRV 2UGLQiULRV 042  R TXDO YLDELOL]D
todologia simples de logaritmização das variáveis haver uma estimação de parâmetros capazes de
D ¿P GH FDSWDU D HODVWLFLGDGH /RJR DV YDULiYHLV H[SOLFDUPDLVDGHTXDGDPHQWHDLQÀXrQFLDGDVYD-
correspondem: a dependente a Despesa Corrente ULiYHLVLQGHSHQGHQWHVMiDQXQFLDGDVSHUDQWHjH[-
'& DVH[SOLFDWLYDVVHUHODFLRQDPFRPRVJDVWRV plicada, presumindo-se que os resíduos sejam os
de educação, saúde, assistência social, administra- menores possíveis.
omRHOHJLVODWLYRDSDUWLUGHXPH[HUFtFLRVLPSOHV
PDVH¿FD]DRREMHWLYRTXHVHSURS}H < ;ȕ‫  ܭ‬
Saliente-se, por sua vez, que a técnica do des-
carte é considerada, quer dizer, cada rubrica supra- No qual, Y p D YDULiYHO GHSHQGHQWH D VHU H[-
FLWDGDTXDQGRH[SUHVVDYDORUHVQXORVHPTXDOTXHU SOLFDGD  ; UHSUHVHQWD D PDWUL] GH YDULiYHLV H[y-
ente, esse tem seu descarte, pois os autores supra- JHQDV H[SOLFDWLYDV  1[.ï FRUUHVSRQGHDRYHWRU
citados mostram a necessidade estatística de evi- GHSDUkPHWURVGDIXQomRGHUHJUHVVmR .[ H ‫ ܭ‬
denciar apenas instâncias de governo que tenham apresenta o caráter de erro aleatório viabilizado a
partir da estimação.

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Despesas municipais nordestinas: uma análise empírica a partir da lei de responsabilidade fiscal (LRF)

Com efeito, uma ressalva importante corres- 7DEHOD9DORUHVper capita das variáveis nos mu-
SRQGHDGLIHUHQoDHQWUHR<HVWLPDGRHRREVHUYD- nicípios segundo a função 2002/2011
do, isto é, o erro aleatório procede desse método de
HVWLPDomRDH[HPSOR Despesa por
Até 50.000 50.001 ou mais
Habitantes habitantes
função
2002 2011 2002 2011
Ǔ஘ ȕ΋ȕ;L(L, .   Despesas
  1.242,87 
Correntes

'HIDWRWRUQDVHIXQGDPHQWDOH[SOLFLWDUDOLQH- Legislativo   15,58 


Administração 75,08   
arização que se segue:
Assistência
21,43   
Social
‫< ܭ‬±Ǔ  Saúde  324,00 103,00 
(GXFDomR    357,11
Após esses aspectos, é possível estabelecer a )RQWHHODERUDGRSHORVDXWRUHVDSDUWLUGHGDGRVGD671

função de regressão linearizada com as variáveis do


estudo, partindo da aplicação do chamado log-log. De posse das evidências constantes na Tabe-
la 1, compreende-se que a variabilidade em uma
década é bastante interessante, quase que integral-
/Q Ǔ஘  ȕ΋ȕΌOQ ;஘ ‫ܭ‬஘ 
mente, as rubricas por habitante tornam verossímil
R DUJXPHQWR GH )LRUDYDQWH HW DO   H UHIRU-
/Q '&஘  ȕၵȕၶOQ /HJ஘ ȕၷ oDGR QR HVWXGR GH 6LOYD )LOKR HW DO   FXMD
OQ $GP஘ ȕၸOQ $VVLVW஘ ȕၹ   H[SOLFLWDomRGHQRWDVHUSRVWHULRUPHQWHj/5)TXH
OQ 6D~GH஘ ȕၺOQ (GX஘ ‫ܭ‬஘ os municípios passam a ter maiores gastos siste-
maticamente.
(PTXH'&ࢾFRUUHVSRQGHjV'HVSHVDV&RUUHQ-
Assim, observa-se que os gastos correntes, au-
tes dos municípios da amostra; /(*ࢾ, as Despesas
PHQWDPQRVDQRVFRQVLGHUDGRVWDQWRSDUDDIDL[D
com Legislativo; $'0ࢾ, os gastos com o setor de
PXQLFLSDOFRPROLPLWHGHHRFRQMXQWRH[-
Administração; $66,67ࢾ UHIHUHQWHV jV 'HVSHVDV
cedente a tal cifra, revelando não se descartar a ins-
com Assistência Social dos municípios; 6$Ò'(ࢾ,
WLWXFLRQDOL]DomRGD/5)HPIDFHDRLQFUHPHQWRQDV
diz respeito aos Dispêndios com Saúde instituídos
despesas nordestinas, notadamente, não incompatí-
pelos municípios; ('8ࢾID]UHIHUrQFLDjV'HVSHVDV
YHOD¿UPDUTXHDQRUPDWL]DomRSDUHFHGHVFXPSULU
FRP(GXFDomRHȕౖȕ౗ȕౘȕౙȕౚsão os parâmetros
seu objetivo de equilibrar as contas públicas.
a serem estimados pelo método dos mínimos qua-
drados ordinários, sendo ȕౖ!ȕ౗!ȕౘ!ȕౙ! 2EVHUYDQGR RV GHPDLV GDGRV WRUQDVH IDFWtYHO
ȕౚ!, o termo de erro aleatório. evidenciar que os dispêndios com administração,
legislativo, em ambos os anos e na modalidade
Para a operacionalização do modelo, utiliza-se
GH DWp  H QD IDL[D DOpP YLD GH UHJUD QRWD-
R VRIWZDUH *5(7/ *QX 5HJUHVVLRQ (FRQRPH-
VHHOHYDo}HVVLJQL¿FDWLYDVSHUPLWLQGRFRQVHUYDUD
WULFVDQG7LPHVHULHVOLEUDU\ YHUVmR
FRPSUHHQVmRDQWHVH[SUHVVDSULQFLSDOPHQWHSRUVH
tratar de conjuntos e períodos distintos, estabelecen-
4 Notas sobre o gasto público munici- GRSDUkPHWURVFRPSDUDWLYRVDH[HPSORGDLQWHUSUH-
pal à luz da Lei de Responsabilida- WDomRSURYHQLHQWHGH6LOYD)LOKRH6LOYD  
de Fiscal $¿QDORVGDGRVPRVWUDPRWULRGHFRQWDVUHOD-
cionadas com saúde, assistência social e educação,
A partir de agora, a seção em destaque pretende as quais entendidas como despesas orientadas ao
apresentar alguns resultados importantes ao estu- VRFLDO H[SULPHP QDV UXEULFDV XP FRPSRUWDPHQ-
do, especialmente, olhando para os dados de dis- to incompatível ao antes observado, quer dizer,
pêndios per capita, ressaltando o comportamento, apenas os gastos com saúde aumentam em ambos
preliminarmente, das despesas municipais nordes- os anos e modalidades de análise, já a educação
tinas, cujos autores que sustentam a análise se re- e assistência social reduzem suas cifras, podendo
ODFLRQDPFRP6LOYD)LOKRHWDO  6LOYD HYLGHQFLDUQRYRVHOHPHQWRVDRH[DPHDSDUWLUGD
HWDO  6LOYD)LOKRH6LOYD  H6LOYDHW literatura.
DO  

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Thyago Bezerra de Luna, William Gledson e Silva e Luís Abel da Silva Filho

$GPLWLQGR D LQWHUYHQomR GH 6RDUHV   H Tabela 1, em que o único dispêndio a aumentar é
)DJQDQL  RVDXWRUHVLGHQWL¿FDPQDVSROtWL- a saúde, diminuindo despesas de assistência social
cas sociais, especialmente no Brasil, uma assime- e educação, essa última quase que pela metade em
tria dessas diante aos demais tipos de gastos, in- DPERV RV DQRV QDV GLIHUHQWHV IDL[DV PXQLFLSDLV
vocando como argumento, a condição de periferia nordestinas, entretanto, revelando cifras bastante
do país, reproduzindo na distribuição dos recursos auspiciosas e garantidoras de melhorias nas condi-
YLDGHVSHVDVXPDWHQGrQFLDGHEHQH¿FLDPHQWRGH ções de vida da população.
alguns grupos em detrimentos das parcelas mais Cabe ressaltar, todavia, que não se considera a
desfavorecidas, não sendo diferente no Nordeste. UXEULFD GH JDVWRV FRP SHVVRDO LGHQWL¿FDGR FRPR
DPDLVH[SUHVVLYDSDUDRVHQWHVVXEQDFLRQDLVFRQ-
7DEHODLQGLFDGRUHVGH*DVWRS~EOLFRPXQLFLSDO IRUPH6LOYD)LOKRHWDO  6LOYD)LOKRH6LOYD
2002/2011  H6LOYDHWDO  /RJRRSURSyVLWRGH
WDO SURFHGLPHQWR VHP G~YLGD p HQWHQGHU R SHU¿O
Até 50.000 50.001 ou mais
Despesa por Habitantes habitantes de outros tipos de despesas, trazendo interpretações
função incrementais ao já constante na literatura anunciada.
2002 2011 2002 2011
Legislativo  3,30 4,08 2,80 'LDQWH GR H[SRVWR FKDPD DWHQomR R IDWR GD
Administração    15,13 educação representar uma importância relativa
Assistência Social  4,22   bastante maior que a saúde, especialmente nos
Saúde     PXQLFtSLRVFRPDWpKDELWDQWHVFXMDH[SOL-
(GXFDomR   33,81 33,38 cação provável, fundamentalmente, perpassa pela
)RQWHHODERUDGRSHORVDXWRUHVDSDUWLUGHGDGRVGD671 tendência de entes municipais menores estarem
PDUJLQDOPHQWHSRVWDGRVIUHQWHjVLQVWkQFLDVPDLR-
)LQDOPHQWH DR FRQVLGHUDU RV UHVXOWDGRV GD7D- res, as quais ofertam saúde de qualidade melhor e
bela 2, percebe-se relativamente, que a proporção os habitantes das demais localidades se deslocam
de cada rubrica, anualmente, diante das despesas até esses centros.
correntes trazem aspectos importantes e comple-
'H IDWR 6RDUHV   H )DJQDQL   SRV-
PHQWDUHV j SHVTXLVD FXMDV FRQVWDWDo}HV IRUQHFHP
VLELOLWDP REVHUYDU TXH R H[SUHVVR DQWHULRUPHQWH
FRQYHUJrQFLDVDRDQWHVH[SOLFLWDGRVHGHPDUFDQGRD
via de regra, está associado com a ideia de perife-
orientação dos dispêndios municipais nordestinos a
ria, demandando das autoridades governamentais,
XPSHU¿OVyOLGRHPIDFHGDOLWHUDWXUDDTXLUHYLVDGD
o atendimento de necessidades básicas da popu-
1HVVHVHQWLGRDLQWHUSUHWDomRGH)LRUDYDQWHHW lação, cujos municípios economicamente maiores
DO   SHUGH FRQVLVWrQFLD LVWR p DV UHODo}HV atraem habitantes de localidades adjacentes, dife-
dos dispêndios com administração e legislativo re- rindo a educação um pouco do enfatizado, pela ca-
duzem-se no decênio estudado, provavelmente, a racterística do serviço.
H[SOLFDomRDWDOFRQWH[WRWUDWDGHPHQRUHVFRPSUR-
Claramente, o argumento anterior salienta que
metimentos dos recursos aplicados, convergindo
o bem público educação requer do município ofer-
com o antes enfatizado, pois a queda do volume de
tante mais esforços do que no serviço de saúde,
dispêndios frente ao conjunto de despesas amplia
pois na leitura aqui realizada e com base na litera-
a disponibilidade a outras áreas.
WXUDHQWHQGHVHTXHKiUHFXUVRVHVSHFt¿FRVSDUDD
&RPHIHLWR6LOYD)LOKRHWDO  H6LOYDHW rubrica educação em anos iniciais de competência
DO   PRVWUDP DXPHQWR GH UHFHLWDV PXQLFL- dos entes enfatizados, cuja marca incontestável é
SDLVHPHVWDGRVQRUGHVWLQRVUDWL¿FDQGRRFHQiULR a que os munícipes procuram deslocamentos a ou-
antes desenhado, o qual anuncia institucionalmen- tras localidades para o ensino, quando esse passa a
te, a partir das referências provenientes de North QtYHLVPDLVHOHYDGRVDH[HPSORGHHVFRODVWpFQL-
 TXHDVUHJDVGRMRJRIRUPDOPHQWHHVWDEH- cas, universidades, etc.
lecidas formatam os traços de diminuição de gas-
)LQDOPHQWHDFRPSUHHQVmRSUpYLDVHPG~YLGD
WRVEXURFUiWLFRVSRGHQGRH[LELUHOHYDomRHPRX-
torna a saúde e educação bens públicos básicos e
tras modalidades.
de atribuição municipal na mais reduzida comple-
Assim, alcança-se o trio de gastos sociais, o [LGDGH QR HQWDQWR VHXV GHVGREUDPHQWRV HP WHU-
qual, em linhas gerais, conserva os resultados da mos de acesso aos serviços revelam, tendencial-

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Despesas municipais nordestinas: uma análise empírica a partir da lei de responsabilidade fiscal (LRF)

mente e, provavelmente, maneiras diferentes ao 6LOYD)LOKRHWDO  H6LOYD)LOKRH6LOYD


atendimento das demandas, ainda mais quando os  
municípios são economicamente pequenos, permi- Assim, a Tabela 3 a seguir postada, por sua vez,
WLQGRHVVHWLSRGHH[SOLFDomR SURFXUD H[LELU TXmR FDGD YDULiYHO LQGHSHQGHQWH
3RUWDQWR D VHomR DTXL HYLGHQFLDGD WURX[H UH- LQÀXHQFLDQDH[SOLFDGDDWUDYpVGDVHODVWLFLGDGHV
sultados interessantes ao estudo, de modo que o SURGX]LQGRSURYiYHLVHIHLWRVLPSRUWDQWHVDRH[D-
argumento, necessitou de uma maior robustez me- me, pois os autores supracitados revelam, meto-
todológica por meio da utilização do chamado mo- GRORJLFDPHQWHTXHDV¿QDQoDVS~EOLFDVSHUPLWHP
delo de regressão múltipla log-log, reunindo ele- fazer uso desse recurso econométrico para reforçar
mentos analíticos essenciais ao desenvolvimento os achados pelas estatísticas descritivas.
do artigo em curso. $VVLPDVHYLGrQFLDVSUpYLDVVHPG~YLGDH[-
plicitam haver para os municípios limitados aos
5 Considerações sobre despesas mu- 50.000 habitantes determinados resultados, isto
nicipais nordestinas via análise de é, no campo burocrático, os gastos com legislati-
YRGHPRQVWUDPPDLVLQÀXrQFLDQDVGHVSHVDVFRU-
regressão múltipla rentes comparativamente aos dispêndios ligados
2 LWHP TXH DJRUD VH LQLFLD VHP G~YLGD WUD] jDGPLQLVWUDomRHVSHFLDOPHQWHHPHPTXH
HOHPHQWRVEDVWDQWHUREXVWRVSDUDRV¿QVSURSRVWR respectivamente há no incremento de 1 ponto per-
no artigo, quer dizer, os resultados aqui apresenta- centual em ambas as rubricas, a resposta gira em
dos mostram mais claramente algumas evidências torno de 0,25 e 0,11, reservando a 2011 na varia-
apontadas anteriormente no artigo, tendo em vista ção de uma unidade variações de 0,22 e 0,8 res-
procedimentos realizados na literatura, conforme pectivamente.

7DEHOD5HVXOWDGRGDUHJUHVVmRP~OWLSOD /RJORJ SDUDDVGHVSHVDVFRUUHQWHVGRVPXQLFtSLRVGR1RUGHV-


te com até 50000 habitantes 2002/2011

2002 2011
Variáveis
&RH¿FLHQWH p-valor &RH¿FLHQWH p-valor
Constante 1,407   
Legislativo 0,247  0,221 
Administração 0,114  0,080 
Assistência Social 0,037  0,048 
Saúde 0,207  0,251 
(GXFDomR 0,417  0,415 
1žGH2EVHUYDo}HV 1.235 
5ðDMXVWDGR  
P-valor global 0,00 0,00
)RQWH(ODERUDGRSHORVDXWRUHVDSDUWLUGHGDGRVGD671

(VVHV SRQWRV SRU VHX WXUQR UHÀHWHP FXULRVD- santes o fato de que a variação de 0,01 nas rubricas
PHQWH XPD LQYHUVmR GD SURSRVLomR GH *RPHV H assistência social, saúde e educação produzem ele-
0DF'RZHOO  KDMDYLVWDRVDXWRUHVGHIHQGH- vações nas despesas correntes da ordem de, respec-
rem que entes municipais economicamente peque- tivamente para 2002, 0,4, 0,21 e 0,42, resguardando
nos realizam mais despesas no custeio de folha, a 2011 em igual sequência 0,5, 025 e 0,41.
acentuadamente em maior grau aos demais gastos, Nesse sentido, a política social manifestada na
PRGL¿FDQGRDTXLWDODUJXPHQWRSRUVLPSOHVPHQWH educação apresenta as maiores repercussões mu-
ROHJLVODWLYRH[SUHVVDUPDLVHOHYDGRV¿QDQFLDPHQ- QLFLSDLV QR 1RUGHVWH HP XPD GpFDGD GHL[DQGR
tos das enfatizadas instâncias governamentais, al- aos gastos com saúde em uma prioridade inferior,
terando em parte o princípio presente na literatura. ainda que tenha aumentado sua importância e a
Já o trio de políticas sociais considerados no es- assistência social conserva a menor relevância do
tudo, via de regra, revela como resultados interes- WULR TXDVH UDWL¿FDQGR DV HYLGrQFLDV GDV HVWDWtVWL-

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Thyago Bezerra de Luna, William Gledson e Silva e Luís Abel da Silva Filho

cas descritivas, pois nelas os dispêndios de saúde maneira que esse aspecto converge com a ideia de
VmRPDLVVLJQL¿FDWLYRV aumento nos gastos sistematicamente observado
&RP HIHLWR R SHU¿O DTXL H[SOLFLWDGR WUD] QR- SRU)LRUDYDQWHHWDO  TXDQGRVXJHUHPTXH
vas prospecções ao cenário das políticas públicas DLPSOHPHQWDomRGD/5)YLDELOL]DPDLRUHVGHVSH-
voltadas ao social, de modo que se perde tenden- VDV GHYLGR DR DODUJDPHQWR GDV UHVWULo}HV ¿VFDLV
cialmente nos municípios a focalização até então sendo favorável a hipótese de universalismo das
incontestável, dando margem ao universalismo, políticas sociais.
GHEDWHWmRUHSUHVHQWDWLYRQDOLWHUDWXUDDH[HPSOR $¿QDOGHFRQWDVDOFDQoDVHD7DEHODDTXDO
GH 6RDUHV   TXH PRVWUD KDYHU QR %UDVLO IR- traz resultados do modelo de regressão para os en-
FDOL]DomRH)DJQDQL  TXHVXVWHQWDDWHVHGD tes municipais nordestinos com 50.001 ou mais
universalidade da política social no país. habitantes, cujas evidências reforçam o que as es-
Tais respostas empíricas para municípios eco- tatísticas descritivas antes analisadas apontam, no-
nomicamente pequenos, sem dúvida, revelam es- tadamente por fazer compreender o comportamen-
forços ainda primários em fugir da mera tendência to dos gastos de instâncias governamentais locais,
de oferta de emprego e renda via setor público, de DH[HPSORGDVSUHVHQWHVQHVVDVSiJLQDV

7DEHOD5HVXOWDGRGDUHJUHVVmRP~OWLSOD /RJORJ SDUDDVGHVSHVDVFRUUHQWHVGRVPXQLFtSLRVGR1RUGHV-


te com 50001 ou mais habitantes 2002/2011

2002 2011
9DULiYHLV
&RH¿FLHQWH p-valor &RH¿FLHQWH p-valor
Constante 1,332 0,00001*** 1,147 
Legislativo 0,141   
Administração 0,183  0,052 
Assistência social  0,00018*** 0,041 
Saúde 0,240  0,350 
(GXFDomR 0,402  0,407 
1žGH2EVHUYDo}HV 125 135
5ðDMXVWDGR  
P-valor global 0,00 0,00
)RQWH(ODERUDGRSHORVDXWRUHVDSDUWLUGHGDGRVGD671

De fato, os resultados antes postados, via de WXFLRQDODGYLQGRQROLPLDUGRVpFXOR;;,UHVROYH


regra, imputados aos municípios nordestinos eco- os fortes problemas nas contas públicas no país.
nomicamente maiores são bastante interessantes, (VVH DVSHFWR FRQWUDGL] FRPSUHHQV}HV GH TXH D
pois no terreno burocrático, no ano de 2002, uma /5)WUD]PHOKRULDVQDGLVFLSOLQD¿VFDODH[HPSOR
variação de 0,01 nas rubricas legislativo e admi- GH6LOYDHWDO  H6LOYDHWDO  FXMRVHV-
nistração respectivamente, geram aumentos apro- WXGRVWHQWDPUHD¿UPDUDWHQGrQFLDGHHTXLOtEULRGDV
[LPDGRVGHHHHPH contas públicas adquirido pela implementação da
revelando que o os governos municipais maiores instituição formal considerada, demarcando dessa
reduzem suas despesas de forma ampla e os pode- maneira, a possibilidade de realocações orçamentá-
UHVOHJLVODWLYRVH[SDQGHPPRVWUDQGRXPDWHQGHQ- ULDVWmRVLJQL¿FDWLYDVSDUDDVSROtWLFDVVRFLDLV
cial readequação orçamentária.
'LDQWHGRH[SRVWRDYDULDomRGHQDVUXEUL-
As razões aos resultados prévios, muito pro- cas assistência social, saúde e educação respecti-
YDYHOPHQWH WUDWDP GH XPD PDUJHP ¿VFDO PDLRU YDPHQWHH[SULPHPUHVSRVWDVHPGDRUGHP
GHFUHWDGD LQVWLWXFLRQDOPHQWH SHOD /5) WRUQDQGR GHHHHPH
os entes em discussão mais propensos para a re- permitindo admitir que o item educação no decê-
alização de despesas, fazendo perder consistência QLRVHMDRPDLVVLJQL¿FDWLYRHDVD~GHRTXHPDLV
analítica o argumento de ajuste nas contas públi- VHHOHYDGHL[DQGRDDVVLVWrQFLDVRFLDODPHQRUUH-
cas, invertendo a aceitação de que os municípios SUHVHQWDWLYLGDGH QR FRQWH[WR PXQLFLSDO LJXDO RX
brasileiros posteriormente ao recente quadro insti- superior a 50.001 habitantes.

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Despesas municipais nordestinas: uma análise empírica a partir da lei de responsabilidade fiscal (LRF)

Assim, os resultados encontrados combinados )LQDOPHQWHUHFRQKHFHXVHOLPLWHVUHOHYDQWHVQR


com os elementos constantes na literatura, sem dú- artigo, em que não se utilizou uma série completa
vida, sugerem que a realocação orçamentária é o UHIHUHQWHDXPSHUtRGRHVSHFt¿FRDOpPGLVVRRXVR
PRWLYRGHWDLVHYLGrQFLDVFXMDH[SOLFDomRDRTXD- de modelos econométricos mais robustos na capta-
GURGHUHIHUrQFLDpRLQFUHPHQWRGHGHVSHVDVjVFRU- ção de efeitos não plenamente alcançados pelos re-
rentemente obtidas, possibilitando haver maiores cursos aqui empregados, na tentativa de em futuros
ganhos em termos de gastos sociais a partir de Soa- estudos realizar o alcance de novas evidências tão
UHV  FRPrQIDVHHPSROtWLFDVPDLVXQLYHUVDLV importantes, as quais possam viabilizar uma discus-
H QmR WmR IRFDOL]DGDV QD LQWHUSUHWDomR GH )DJQDQL VmRVREUHDV¿QDQoDVS~EOLFDVQRUGHVWLQDVPDLVVLV-
 &RQWXGRDFRQVWDWDomRDLQGDpPHUDPHQWH tematicamente, em tempos de grande repercussão
primária, necessitando de testes mais profundos e do objeto desta pesquisa agora encerrada.
VLVWHPiWLFRVSDUDTXHWDOD¿UPDomRVHWRUQHHIHWLYD-
PHQWHDFHLWDQDOLWHUDWXUDGH¿QDQoDVS~EOLFDV Referências
$)2162-5.+$,5$2/,9(,5$:
 KJOE@AN=¾ËAOłJ=EO GH/HLGH5HVSRQVDELOLGDGH)LVFDORVDYDQoRVH
aperfeiçoamentos necessários. In: Gasto Público
Após o desenvolvimento deste artigo, o qual
(¿FLHQWHSURSRVWDVSDUDRGHVHQYROYLPHQ-
teve o objetivo de analisar, comparativamente, as
WRGR%UDVLO5LRGH-DQHLUR7RSERRNV
despesas municipais nordestinas para aqueles com
até 50.000 e os com mais de 50.000 habitantes, nos %$5%26$),/+212GHVD¿RPDFURHFR-
DQRVGHH2EVHUYRXVHTXHDOJXQVGRV Q{PLFRGHRevista de Economia
UHVXOWDGRVREWLGRVWURX[HUDPLQGLFDWLYRVQmRGHV- PolíticaYQ  S
prezíveis ao estudo e permitiu determinadas consi-
derações ao longo do trabalho. &$9$/&$17(&0Análise Metodo-
lógica da Economia Institucional. Nite-
Claramente, as evidências mostraram que os
UyL'LVVHUWDomR 0HVWUDGR 3URJUD-
dispêndios burocráticos foram menos relevantes
PDGH3yV*UDGXDomRHP(FRQRPLD
frente ao realizado pelas políticas sociais admitidas,
comportamento semelhante nos anos antes mencio- )(55(,5$)''$66,/9$:*/,0$
QDGRVSRGHQGRVXJHULUTXHD/5)DOpPGHH[SDQGLU )$&RQGLo}HV¿VFDLVHFUHVFLPHQWRHFR-
o teto dos gastos, possibilitou uma realocação orça- Q{PLFRXPDDQiOLVHGDV¿QDQoDVS~EOLFDV
PHQWiULDFRQYHUJHQWHjVSROtWLFDVVRFLDLVGHFDUiWHU de estados nordestinos, 2003/2015. Revis-
mais universais. ta EspaciosYQS
Ambos os critérios adotados na pesquisa, sem dú-
)(55(,5$)'GD66,/9$:*)L-
YLGDWURX[HUDPHOHPHQWRVGHTXHRVPXQLFtSLRVWL-
nanças públicas municipais de estados do
YHUDPPDLRUHVOLEHUGDGHV¿VFDLVLQVWLWXFLRQDOL]DGDV
FHQWURRHVWHEUDVLOHLURHDFULVH¿QDQFHLUD
cujos resultados ao menos em parte, questionaram o
internacional: uma análise a partir do cho-
argumento de equilíbrio nas contas públicas, permi-
TXHHFRQ{PLFRSyVRevista de econo-
WLQGRDFHLWDUTXHRREMHWLYRGD/5)QmRpDPSODPHQ-
mia$QiSROLVYQS
te admitido, lançando as bases de maiores aprofunda-
mentos sobre a temática e assim procurar testar mais ),25$9$17('*3,1+(,5200
detidamente a instituição aqui considerada. 69,(,5$56/HLGH5HVSRQVDELOLGDGH
Portanto, a hipótese do artigo foi parcialmente )LVFDOH¿QDQoDVS~EOLFDVPXQLFLSDLVLP-
aceita, de maneira que esse tipo de investigação rea- pactos sobre despesas com pessoal e endi-
lizada inúmeras vezes, apresentou resultados quan- vidamento. http://www.ipea.gov.br/.7H[WR
to aos gastos de inclinação ao campo social mais SDUDGLVFXVVmR%UDVtOLDRXWXEUR
representativos, especialmente, de modo que a re-
*$/$3$WHRULD,QVWLWXFLRQDOGH
ODomR HQWUH D /HL GH 5HVSRQVDELOLGDGH )LVFDO H DV
Douglass North. Revista de Econo-
políticas sociais tenha um caráter convergente, fato
mia Política, v. 23, n. 2, 2003.
SRVVtYHOGHFRQVWDWDomRQRREMHWRDTXLH[DPLQDGR

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Thyago Bezerra de Luna, William Gledson e Silva e Luís Abel da Silva Filho

*,8%(57,$&/HLGH5HVSRQVDELOLGD- com dados em painel dinâmico. Est. Econ.,


GH)LVFDOHIHLWRVVREUHRJDVWRFRPSHVVRDO 6mR3DXORYQS
GRVPXQLFtSLRVEUDVLOHLURV,Q(1&21752
1$&,21$/'((&2120,$ 6(1$/%52*(563$QiOLVHDJUHJD-
Natal. Anais... 1DWDO$13(& da dos municípios mineiros de grande porte
TXDQWRjDGHTXDomRjOHLGHUHVSRQVDELOL-
*2%(77,6:$MXVWH)LVFDOQR%UDVLO GDGH¿VFDO /5) ;,9&RQJUHVVR
os limites do possível. 7H[WRVSDUDGLV- Brasileiro de Custos, João Pessoa/PB, Bra-
cussão, Brasília, n. 2037, fev. 2015. sil, Anais... 5 a 7 de dezembro 2007.

*20(6*00$&'2:(//0&. 6,/9$),/+2/$HWDO&RQVLGHUDo}HVVREUH
Descentralização Política, Federalismo receitas municipais em estados do Nordeste:
Fiscal e Criação de Municípios: o que é Comparação entre Bahia, Ceará e Piauí: 2007.
PDXSDUDRHFRQ{PLFRQHPVHPSUHpERP Revista Econômica do 1RUGHVWH)RUWDOH]D
SDUDRVRFLDO%UDVtOLD'),3($ YQDEULOMXQKRS

/848(&$6,/9$90$/HLGH5HV- 6,/9$),/+2/$6,/9$:*&RQVLGHU-
SRQVDELOLGDGHQD*HVWmR)LVFDOFRPEDWHQGR DWLRQV$ERXWPXQLFLSDOJRYHUQPHQW¿QDQFHLQ
IDOKDVGRJRYHUQRjEUDVLOHLUDRevista de Eco- WKHVWDWHRIWKH(VStULWR6DQWRChi-
nomia Política, v. 24, n. 3, p. 404-421, 2004. nese business reviewYQS

1257+'&,QVWLWXFLRQHVFDPELRLQV- 6,/9$:*HWDO$UUHFDGDomR0XQLFLSDO
WLWXFLRQDO\GHVHPSHxRHFRQ{PLFR&ROHF- QRV(VWDGRVGR6XOGR%UDVLO8PD$ERUGDJHP
FLyQ(FRQRPtDFRQWHPSRUkQHD)RQGRGH Preliminar. Revista EspaciosYQ
&XOWXUD(FRQRPLFDU0p[LFR

6$172/,15-$<0(-81,25)*5(,6
-&'26/HLGH5HVSRQVDELOLGDGH)LVFDOH
implicações na despesa de pessoal e de inves-
timento nos municípios mineiros: um estudo

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