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Tiragem: 27259 Pág: 2

i País: Portugal Cores: Cor

Period.: Diária Área: 9,95 x 27,09 cm²

ID: 34352887 04-03-2011 Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1

EDITORIAL
Se o que faz falta
é outro Salazar,
existe Rui Rio
Rui Rio proclamou que a justiça “está pior do
que no tempo da ditadura”. Quando se
pensava que não podia ir mais longe, foi

clui-se também que descon-


fiam dos poderes instituídos,
apontam o Estado como figura
central no desenvolvimento do
país e sentem-se desconfortá-
veis com a globalização.”
Ora este é o eleitorado com
que um político com ambições
Ana Sá Lopes tem de contar: os dois únicos
políticos nacionais que conse-
guiram maiorias absolutas
A nostalgia da ditadura é um foram incansáveis na explora-
monstro difuso na sociedade ção desse tema. Cavaco Silva
portuguesa e atravessa todos sempre recusou – à saciedade
os estratos sociais. O que é evi- e ao absurdo – assumir-se
dente na chamada “conversa como “um político”, à imagem
de taxista” – aquele invariável e semelhança da técnica de
“o que fazia falta era outro Salazar. José Sócrates, que não
Salazar” que quase todos nós já se podia dar a esse luxo devido
ouvimos mais de 25 vezes – à ascensão no seio do aparelho
surge em formas mais refina- socialista, usou e abusou dos
das, mas não menos obscenas, argumentos da “autoridade”
nos discursos das elites. O quase ditatorial.
incrível apego nacional ao Mas existe um terceiro político
mantra “isto está cada vez que está a fazer o seu caminho
pior” torna quase óbvio que o discreto para adquirir as devi-
período “melhor” fosse a dita- das credenciais de “possível
dura ou, vá lá, os primeiros Salazar dos tempos moder-
anos da Revolução, em que nos”, categoria essencial para a
não havia nem água nem luz ascensão no imaginário da
em boa parte do país, para não nação. Chama-se Rui Rio, é
falar de hospitais decentes presidente da Câmara do Por-
nem das estradas do professor to, tem inegáveis qualidades e
Cavaco. Recentemente, um defeitos e é um herdeiro natu-
estudo, “As escolhas dos portu- ral do cavaquismo. Ontem Rio
gueses e o Projecto Farol”, atri- proclamou que “a justiça em
buiu um número redondo a Portugal está pior do que nos
esta estranha categoria de dis- tempos da ditadura”, ao que
função com a realidade. Quase parece descontando “os julga-
metade dos portugueses (46 mentos políticos”. E quando se
por cento) acha que se vivia pensava que Rui Rio não pode-
melhor antes do 25 de Abril. ria ir mais longe, foi: “Se não
Belmiro de Azevedo, membro fossem os políticos, era fácil
da comissão executiva do Pro- resolver o problema.”
jecto Farol, sugere razões para O cargo de líder do PSD não
estes números assustadores: está vago, mas a qualquer
“Além de os portugueses esta- momento pode ficar. E se o que
rem mal informados sobre o faz falta é outro Salazar, Rui
grau de desenvolvimento do Rio reúne as condições neces-
país nas últimas décadas, con- sárias ao bem da nação.

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