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Música

“O Aeroplano é uma banda mutante”


“Mais de cinco anos ficaram para trás desde que o Aeroplano subiu ao palco
pela primeira vez em algum boteco falido moralmente, numa noite quente
dessas típicas de Belém, em que a chuva se arruma toda, mas não cai uma
gota do céu”, assim começa o texto de apresentação da banda Aeroplano na
rede social MySpace.

A Aeroplano passou, ou ainda passa, pelos percalços que um grupo de jovens


vivencia quando decidem enfrentar as dificuldades do cenário musical.
Trabalho, ensaios, equipamentos prá lá e pra cá, viagens e festivais, tudo em
favor de um objetivo: realização de um projeto de vida.

Esse projeto acaba de entrar em rota de concretização. No último dia 25 de


fevereiro, a banda composta por Felipe Dantas, Eric Alvarenga, Diego Fadul e
Bruno Almeida, fez duas apresentações em uma mesma noite em virtude do
lançamento de seu primeiro álbum Voyage. Um disco denso e com diversas
experimentações que nas palavras do guitarrista Diego Fadul: Voyage tem
alguns elementos... estranhos.

Estranhos ou não, Voyage tem tudo para ser um álbum essencial na coleção
de quem realmente gosta de música.

Fred: Para os que estão conhecendo


o som de vocês agora, por que
escolheram batizar a banda de
Aeroplano?

Aero: Aeroplano foi um nome


escolhido muito por acaso. Depois de
descartarmos um sem número de
nomes. Felipe ou Eric, não lembro,
disseram: “o próximo nome que for
dito na TV será o nome da banda”.
Em seguida apareceu o Tatá Aeroplano (Cérebro Eletrônico) e eles
celebraram. Eu nem tanto, pra ser sincero. Mas... foi dos males o menor, o
nome acabou pegando, poucas pessoas reclamam. Nome sempre é um
problema.

Fred: No blog da banda vocês postaram em 3 de dezembro de 2009 que há


quatro anos daquela data (2005) vocês decidiram levar a banda a sério. Agora,
são seis anos de engajamento profissional. O que ou quem os encorajou a
assumir a música definitivamente?
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Aero: Acho que a gente tenta fazer pelo menos o


mínimo que uma banda deve fazer por si. Quando
“Quando você
você ultrapassa um certo ponto na, digamos,
escala de investimento da sua banda, fica, no ultrapassa um certo
mínimo, ridículo retroceder, sem falar no prejuízo ponto na, digamos,
patrimonial, espiritual e moral. Gosto muito de escala de
trabalhar com a idéia de planejamento e investimento da sua
consolidação de ações que lá no futuro coadunarão banda, fica, no
num resultado específico. Mas rola muito tiro no mínimo, ridículo
escuro também. Acabou que não respondi. O que
nos empurrou pra frente foi a vontade de fazermos retroceder, sem falar
música juntos e de um jeito bem feito, tanto a no prejuízo
música em si quanto o contexto todo. Daí pra frente patrimonial, espiritual
é mais um respeito próprio de tentar manter o nível e moral”
e sempre melhor conjunturalmente.

Fred: Em dezembro de 2009 vocês foram para Goiânia gravar o disco


“Voyage” no estúdio RockLab. Como foi a tomada de decisão de trabalhar com
o produtor Gustavo Vazquez, a intenção era fazer experimentações musicais
desde o início?

Aero: Antes de decidirmos que músicas entrariam no disco e quais ficariam de


fora, fechamos dentro da banda que gravaríamos o Voyage em outra cidade. A
idéia era realmente deixar Belém pra trás, deixar as gravações que já tínhamos
feito até aquela época, um lance de perder a inocência de cidade distante, dar
a cara pra bater e lidar com alguém que nunca tivera ouvido nosso som, que
vinha de outra realidade. Daí que o Gustavo é um produtor de renome
nacional, premiado, muito competente e obstinado, trabalhador e objetivo,
profissional e tudo mais. Fechamos com ele seis meses antes de viajarmos pra
lá pra Goiânia, mas já com uma pré produção nas mãos, que gravamos aqui
com Ulysses Moreira (Estúdio Mamute Mix/ Estúdio Apce). Acho que sobre
experimentações a intenção vem desde o começo da banda.

Fred: E que tipos de experimentações e efeitos as pessoas que gostam e


entendem de música poderão observar nas faixas de Voyage?

Aero: Não sei bem. Voyage tem alguns elementos... estranhos. Tem os mais
normais, como uns beats programados em „Vermelho que é rosa‟, tem os
reverbs de fita, delay de fita lindo, quase chorei ouvindo lá na hora, microfones
antigos, amplificadores antigos demais, tipo Fender Deluxe de 40 anos, baixo
Fender Precision anos 70, bateria Ludwig anos 70. Os estranhos, acho que são
o moog que adicionei no final de „Vermelho que é rosa‟ ou o whammy no fim de
„Preocupações‟, que dá um som meio de fita amassada enrolando [só quem
ouvia k7 vai saber o que é isso (risos)]. Mas confesso que foi uma tentativa de
estragar o final da música que acho muito... metal. E um pouco colegial. Mas é
a cara do resto da banda, esse lance meio metal.

Fred: Vocês são favoráveis a um estilo único de tocar ou não, quanto mais
experimentações melhor?
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Aero: A gente já caiu nessa besteira de ser aberto e


não se permitir ser uma coisa, uma unidade. Acaba
“A gente já caiu que isso é muito ruim pro artista, principalmente pro
nessa besteira de ser que está começando. Um disco, por exemplo, tem
aberto e não se que ter uma unidade, um troço conceitual que
permitir ser uma sustentará todas as canções de um jeito que cada
coisa, uma unidade” uma delas pertença de maneira igual à obra, sejam
reflexo do todo, mesmo sendo parte dele. A gente
experimenta... tipo tentando fazer diferente. Sempre
tivemos a pecha de ser uma banda de guitarras (exageradas e, cá entre nós,
ruins antes), mas topamos fazer um disco calcado na melodia da voz, numa
bateria grande e grave e em uma base de contrabaixo mais rígida e segura. As
guitarras ficam ao redor.

Fred: Quais as principais influências de vocês na música?

Aero: Porcupine Tree e Radiohead provavelmente são as duas bandas que


mais influenciaram a banda na concepção das canções que integram o
Voyage. Na gravação e quando estabelecemos parâmetros para a produção
junto com o Gustavo, na verdade ele que veio com a idéia e acatamos, nos
baseamos muito em artistas como Cat Power, Dirty Projectors, Arctic Monkeys,
especialmente o último disco, produzido pelo Josh Homme. Hoje a gente já
começa a pender pra outras coisas, mas nem vale a pena falar muito. Fica pro
próximo disco. O Aeroplano é uma banda mutante. O que duvido que seja algo
bom.

Fred: O disco Voyage se desenrola, sobre as idéias de abandono, solidão e


conflito, não somente no campo do relacionamento homem/mulher, mas
também do homem com o mundo. Em relação à faixa “Dorme”, aparentemente,
ela faz o caminho inverso das demais composições ou devemos entendê-la
como uma metáfora, uma alusão à vontade humana de retornar a uma
condição de inocência na qual os problemas não são realmente problemas?

Aero: Essa música tem uma letra muito bonita. Pena nenhum de nós ter um
filho pra emprestar um pouco mais de sentido a ela. Espero que ela possa
espalhar coisas boas aos que já têm a graça da paternidade. Soube que o Eric
a compôs quando uma amiga tivera um filho. Interessante sua pergunta. Ela
fala de muitas coisas, medo, solidão, proteção e acolhida e acaba batendo
numa outra parede conceitual dentro do Voyage, que é um pouco de
dissimulação da inocência, de se permitir fantasiar. Liberdade, eu acho.

Fred: Em “O Vermelho que é rosa” há exposição de diferentes ações e


comportamentos de uma mulher. Ao fim da música paira o mistério acerca do
nome dela, por quê?

Aero: Ah! É o nome da moça para quem o Eric escreveu a letra. Gente fina a
menina.

Fred: O clipe da música “Estou bem mesmo sem você” apareceu no Lab Now
da MTv, uma ótima divulgação para a banda além das redes sociais. Foi
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também a estréia de Bernie Walbenny como


diretor de videoclipes e, segundo ele informou
pelo twitter, no mesmo dia recebeu proposta pra “É um processo longo.
gravar outro. E vocês, também já começaram a Espero que não me
sentir os efeitos da divulgação? entendam mal, mas o
boom que se pode ter
Aero: Mais ou menos. É um processo longo. aqui na cidade precisa
Espero que não me entendam mal, mas o boom
ser alimentado por um
que se pode ter aqui na cidade precisa ser
alimentado por um segundo boom que deve rolar segundo boom que
lá fora. Belém tem um limite para consumo de deve rolar lá fora”
coisas produzidas aqui, porque é muita coisa
rolando ao mesmo tempo. A gente precisa mesmo trabalhar mais para alcançar
um outro estágio. Claro que a gente ficou super feliz com a repercussão grande
no twitter e no facebook, além da mídia impressa e do sucesso nos dois shows
de lançamento, mas tudo isso é fruto de ações que se somam. Peças
fundamentais nisso são nossos grandes parceiros, como o
musicaparaense.org, Ecleteca, a Doutromundo Discos, que é nosso selo,
Rádio Cultura FM, Rádio Unama FM, Megafônica e Se Rasgum que sempre
estiveram conosco, além de outros grandes parceiros.

Fred: Na última sexta-feira vocês se apresentaram duas vezes no mesmo dia


em Belém. Como vocês analisam a receptividade do público local em relação
ao trabalho em Voyage? Corresponde às expectativas?

Aero: A correria toda e o trabalho feito com afinco quase fazem parecer a
questão da receptividade do público um detalhe que virá naturalmente. Está
tudo indo muito bem, dando bastante certo, correspondendo ao que a gente
imaginava. Acho que a gente se cobra mais do que as pessoas cobram, então
fica mais tranqüilo aceitar qualquer eventual rejeição.

Fred: E morar e trabalhar fora de Belém, já cogitaram?

Aero: Difícil! Temos nossas vidas aqui. Empregos fixos e família. Mas vamos
circular bastante este ano, afinal temos que divulgar o disco. Como disse lá em
cima, fazer o trabalho pela metade é jogar dinheiro e dedicação fora.

Fred: Vocês conseguiram atingir a primeira meta de uma banda, trabalhar com
um bom selo e gravar o primeiro álbum. Agora, e o futuro?

Aero: Nossos planos casaram direitinho com os da Doutromundo Discos.


Futuro é divulgar em outros estados, dar um balão pelo interior do Pará, fazer
os festivais que der pra fazer até esgotarmos a divulgação do disco.

Fred: Podem deixar a agenda de shows da Aeroplano para aqueles que


estiverem interessados em vê-los?

Aero: Dia 05 de março – Balanço do Rock ao vivo na Rádio Cultura FM 93,7 ,


direito do estúdio Edgar Proença.
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Dia 18 de março – Grito Rock Capanema

Dia 19 de março – Grito Rock Belém – Café com Arte

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