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IMPUTABILIDADE PENAL

É a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse


entendimento. O agente deve ter condições físicas, psicológicas, morais e mentais de saber que está
realizando um ilícito penal. Além dessa capacidade plena de entendimento, deve ter totais condições
de controle sobre sua vontade. Ou seja, o imputável é aquele que tem capacidade de intelecção
sobre o significado de sua conduta e possui comando da própria vontade.

A imputabilidade apresenta um aspecto intelectivo (capacidade de entendimento) e outro


volitivo(faculdade de controlar e comandar a própria vontade), faltando um desses elementos, o
agente não será considerado responsável pelos seus atos.

01 DISTINÇÕES

01.1 IMPUTABILIDADE E CAPACIDADE

A capacidade compreende a possibilidade de entendimento e vontade (imputabilidade ou


capacidade penal) e a aptidão para praticar atos na órbita processual (capacidade processual). A
imputabilidade é a capacidade na órbita penal, ou seja, a capacidade é gênero do qual a
imputabilidade é espécie.

OBS.: A capacidade penal (cf, art. 228 e cp, art. 27) e a capacidade processual plena são adquiridas
aos 18 anos.

01.2 DOLO E IMPUTABILIDADE

Dolo é a vontade, imputabilidade é a capacidade de compreender essa vontade.

01.3 IMPUTABILIDADE E RESPONSABILIDADE

A responsabilidade, aptidão do agente para ser punido por seus atos, abrange a
imputabilidade, exigindo três requisitos:

a) imputabilidade;

b) consciência potencial da ilicitude; e

c) exigibilidade de conduta diversa.

02 excludentes de imputabilidade

Em regra todo agente é imputável, sendo a capacidade penal obtida por exclusão, sempre
que se verificar a inexistência de uma causa excludente da imputabilidade (causa dirimente). São
quatro as causas dirimentes, que excluem a culpabilidade, são elas:

a) doença mental;
b) desenvolvimento mental incompleto;

c) desenvolvimento mental retardado; e

d) embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior.

02.1 DOENÇA MENTAL

É a pertubação mental ou psíquica de qualquer ordem, capaz de eliminar ou afetar a


capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou a de comandar a vontade de acordo com esse
entendimento.

OBS.: a dependência patológica de substância psicotrópica configura doença mental sempre que
retirar a capacidade de entender ou de querer (arts. 45 a 47 da lei 11.343/06). Lembrando que a
imputabilidade também cessa na hipótese de enfermidade de natureza não mental que atinja a
capacidade de entender e querer (ex: delírios febris).

02.2 DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO

é o desenvolvimento que ainda não se concluiu em razão da pouca idade ou da falta de


convivência em sociedade, ocasionando imaturidade mental e emocional. No entanto, é passível de
atingir a plena potencialidade. É o caso dos menores de 18 anos (CP, art. 27) e dos indígenas
inadaptados à sociedade.

OBS.: havendo outros elementos de provas que permitam aferir a imputabilidade, como a avaliação
do grau de escolaridade, a fluência na língua portuguesa, o pleno gozo dos direitos civis, é
dispensável o exame antropológico. No entanto, o laudo pericial é imprescindível.

OBS.: os menores de 18 anos, apesar de não sofrerem sanção penal pela prática de ilícito penal, em
decorrência da ausência de culpabilidade, estão sujeitos ao procedimento e às medidas
socioeducativas previstas no eca.

02.3 DESENVOLVIMENTO MENTAL RETARDADO

É o desenvolvimento incompatível com o estágio de vida, sem a possibilidade de se atingir a


a plena potencialidade.
02.4 EMBRIAGUEZ COMPLETA PROVENIENTE DE CASO FORTUITO OU DE FORÇA
MAIOR

Embriaguez é uma intoxicação aguda e transitória provocada por álcool ou qualquer


substância de efeitos psicotrópicos, sejam eles entorpecentes, estimulantes ou alucinógenos.
Dividindo-se nas seguintes espécies:

a) embriaguez não acidental;

b) embriaguez acidental;

c) embriaguez patológica; e

d) embriagues preordenada.

02.4.1 EMBRIAGUEZ NÃO ACIDENTAL

Subdivide-se em:

a) voluntária, dolosa ou intencional: o agente ingere a substância alcoólica ou de efeitos análogos


com a intenção de embriagar-se.

b) culposa: o agente quer ingerir a substância, mas sem a intenção de embriagar-se.

Ambas podem ter como consequência a perda total ou parcial da capacidade de


entendimento e autodeterminação do agente. Contudo, a embriaguez não acidental jamais exclui a
imputabilidade do agente, pois a ação de ingestão da substância foi livre na causa. Trata-se da teoria
da actio libera in causa(ações livres na causa)1, considerando-se o momento da ingestão da
substância e não o da prática delituosa.

02.4.2 EMBRIAGUEZ ACIDENTAL

Pode decorrer de:

a) caso fortuito: é toda ocorrência episódica, ocasional, rara, de difícil verificação;

b) força maior: deriva de uma força externa ao agente, que o obriga a consumir ou ingerir a
substância.

1 Resquício da responsabilidade objetiva no sistema penal brasileiro.


A embriagues acidental também pode ser completa ou incompleta. Contudo, quando
completa, exclui a imputabilidade, restando o agente isento; quando incompleta, não exclui, mas
permite a diminuição da pena de 1/3 a 2/3.

OBS.: ao contrário do que ocorre na hipótese de doença mental e no desenvolvimento mental


incompleto ou retardado, não haverá imposição de medida de segurança (absolvição imprópria). A
absolvição será própria.

02.4.3 EMBRIAGUEZ PATOLÓGICA

É o caso dos alcoólatras e dependentes químicos, tratando-se de verdade doença mental,


recebendo, por conseguinte, o mesmo tratamento.

02.4.3 EMBRIAGUEZ PREORDENADA

O agente embriaga-se com a finalidade de vir a delinquir nesse estado. Além de não excluir
a imputabilidade, constitui causa agravante genérica da pena (CP, art. 61, II, l).

03 CRITÉRIOS DE AFERIÇÃO DA INIMPUTABILIDADE

a) Sistema biológico: preocupa-se apenas com a existência da causa geradora da inimputabilidade,


não se importando se ela efetivamente afeta ou não o poder de compreensão do agente. Foi
excepcionalmente adotado no caso dos menores de 18 anos, nos quais o desenvolvimento
incompleto presume a incapacidade de entendimento e vontade (CP, art. 27).

b) Sistema psicológico: preocupa-se apenas se o agente, no momento da ação ou omissão delituosa,


tinha ou não condições de avaliar o caráter criminoso do fato e de orientar-se de acordo com esse
entendimento. Esse sistema não é contemplado pelo nosso Código Penal.

c) Sistema biopsicológico: exige que a causa geradora esteja prevista em lei e que atue
efetivamente no momento da ação delituosa, retirando do agente a capacidade de entendimento e
vontade. Foi adotado como regra (CP, art. 26, caput).

OBS.: A lei de drogas, em seu art. 45, adotou o sistema biopsicológico.

04 REQUISITOS DA INIMPUTABILIDADE SEGUNDO O SISTEMA BIOPSICOLÓGICO

a) causal: existência de doença mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado


(causas previstas em lei).
b) cronológico: atuação ao tempo da ação ou omissão delituosa.

c) Consequencial: perda total da capacidade de entender ou da capacidade de querer.

Haverá inimputabilidade apenas se os três requisitos acima estiverem presentes, à exceção


dos menores de 18 anos, regidos pelo sistema biológico.

Obs.: Nem a emoção nem a paixão excluem a imputabilidade, entretanto a emoção poderpa ser
causa específica de diminuição de pena nos homicídios dolosos e nas lesões corporais dolosas
quando:

a) o agente estiver sob o domínio de violenta emoção;

b) a emoção foi provocada por um ato injusto da vítima; e

c) a reação do agente deu-se logo em seguida a essa provocação (CP, arts. 121, §1º, e 129, §4º)

Nesse caso, a pena será reduzida de 1/6 a 1/3. Mas se o agente estiver sob mera influência, a
emoção atuará apenas como circunstância atenuante genérica.

05 SEMI-IMPUTABILIDADE OU RESPONSABILIDADE DIMINUÍDA

É a perda de parte da capacidade de entendimento e autodeterminação, em razão de doença


mental ou de desenvolvimento incompleto ou retardado. Na verdade, o agente é imputável e
responsável, mas sua responsabilidade é reduzida.

05.1 REQUISITOS DA SEMI-IMPUTABILIDADE

São os mesmos da inimputabilidade, exceto quanto à intensidade no requisito consequencial.

a) causal: é provocada por pertubação de saúde mental ou de desenvolvimento mental incompleto


ou retardado.

b) cronológico: deve estar presente ao tempo da ação ou omissão;

c) consequencial: há perda apenas de parte da capacidade de entender e querer.

A Semi-imputabilidade não exclui a imputabilidade, sendo o agente condenado pelo fato


típico e ilícito que cometeu. Contudo, o juiz poderá reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou impor medida de
segurança.

OBS.: a escolha por medida de segurança somente poderá ser feita se recomendada pelo laudo de
insanidade mental. Se for aplicada pena, a sua diminuição será obrigatória.
06 QUESTÕES PROCESSUAIS

▪ Havendo dúvida sobre a integridade mental do réu, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do
MP, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este
submetido a um exame médico-legal, chamado incidente de insanidade mental, suspendendo-se o
processo até o resultado final (CPP, art. 149).

▪ O art. 319 do CPP trouxe um extenso rol de medidas cautelares alternativas à prisão. Assim, será
possível a internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou
grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (CP, art. 26) e
houver risco de reiteração (inciso VII).

Nos termos do art. 396 do CPP, uma vez recebida a denúncia ou queixa pelo juiz, poderá o acusado
comprovar a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade, mediante resposta que
deverá ser ofertada no prazo de 10 dias, seja o procedimento ordinário ou sumário. Assim,
demonstrada de forma manifesta2 a existência da causa excludente da culpabilidade, o CPP,
consoante o teor do seu art. 397, III, autoriza expressamente a absolvição sumária do acusado.

No procedimento do júri, o juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando


demonstrada causa de isenção de pena (art. 415, IV, do CPP). Aplicando-se no caso de
inimputabilidade apenas quando esta for a única tese defensiva (CPP, art. 415, § ú).

2 Não pode haver qualquer dúvida.

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