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Cólera em 1855, na Belém do Grão-Pará

Resumo
Em meados do século XIX adentra em Belém o flagelo da cólera vindo
diretamente dos portos de Portugal, o contexto da cidade tornava a proliferação propicia,
a medicina encontrava inepta para receber a doença sem meios eficazes de combate, os
bairros mais pobres sem possuir saneamento adequado tornava a gente de cor os
principais atingidos e a religião serviu como depósito de esperança. Trataremos de fazer
uma análise sobre esse evento social observando o impacto sobre a cidade de belém em
suas esferas politica, médica, religiosa e social com base nos periódicos, qual foi principal
meio de comunicação da época retratando o cotidiano submerso nas dificuldades
enfrentada pela população.

Palavras-Chave: século XIX, cólera, epidemia

Chegada do flagelo

Amazônia foi a primeira a entrar em contato com a cólera no Brasil, saindo dos
portos de Portugal em direção a Belém do Grão-Pará o Galera Portugueza Deffensor
transportava pouco mais de 300 passageiros. O cólera antes de chegar em Belém
enfrentou uma viajem formidável por várias partes do globo alastrando sociedades de
temor e sofrimento. Para compreendermos como chegou na dita província traçaremos
rapidamente um panorama do seu caminho até o Brasil. Tendo origem estabelecida no
continente asiático assolando por anos essa população, o bacilo nessa região se
caracteriza por endemia, aí nomeada de cólera asiático o que se diferencia dos lugares
onde alcançou ganhando forma de epidemia. A trajetória qual ela percorreu deve em
consequência, não apenas, mais principalmente das relações comerciais entre Europa e
Ásia por intermédio dos navios, fundamental meio de transporte da época no contato
entre os povos, era comum nesse tempo os navios serem ausente de higiene, a situação
da insalubridade era habitual o que facilitava ainda mais a proliferação da doença, não
apenas da cólera, sempre foi comum a importação de moléstias por esse fator. O cólera
chegou na Europa no fim do século XII, porém é apenas no século XIX que o bacilo
mostrou-se intenso nesse continente, mesmo período onde fluxo de pessoas tornou-se
ativo por conta das transformações.
O século XIX foi de grande intensificação nos meios de transportes, em
consequência o fluxo de pessoas aumentou estabelecendo contato maior entre as
regiões, além do contato direto já frequente que existia entre Portugal e Grão-Pará. Assim
o deffensor já dito navio, era mais um de vários que trilhavam essa rota. Então atracou em
Belém em maio de 1855 não fez qualquer parada durante a viagem e isso acaba por
assegurar a ideia de que o bacilo chegou por ele. Chegando em belém o navio passou
pela inspeção comum do serviço de saúde do porto, foi verificado que durante a travessia
houve 36 mortes entre as vítimas 4 eram crianças, sendo as primeiras atingidas. A
situação encontrada dentro do navio era completamente precária, além de muita sujeira a
água usada para beber e preparar alimentação não era potável faziam uso de água
salgada pra essas necessidades, além de grande parte da comida se encontrava
estragada, vencida, e os utensílios para cozinhar estavam na situação de enferrujamento.
Quem ficou encarregado da culpa pela situação foi o capitão, além disso declararam os
tripulantes, ser o capitão perverso, maltratando passageiros violentamente, além da fome
e sede que os passageiros sofreram. As pessoas com sintomas de enjoo, vomito,
enfraquecimento, e principalmente as mortes foram atribuídas a esse quadro de
dificuldades. Ao investigar esse cenário é evidente para a inspeção de saúde associar
imediatamente a falta de higiene aos doentes sem levantar outras dúvidas.
Com esse cenário não foi possível concluir se tratar de epidemia, desse modo a
cólera adentra Belém dando suas boas vindas de forma camuflada. Quer o cólera ter
chegado a belém através do navio português ou não, à questão é que a partir de seu
contato com a dita província foi que os sintomas de cólera surgiram na população e muito
foi atribuído a ele. Durante a singradura do atlântico, os passageiros da galera foram
surpreendidos pela cólera, e ao chegarem a Belém, foram acusados de trazer o mal
(Beltrão-Jane 2004:32)
O primeiro caso em Belém relatado foi dentro do quartel, dois soldados
apresentaram náusea, vomito, dor no estômago e fraqueza o médico do exército pelos
sintomas diagnosticou o cólera-morbo, através dos colonos autorizados a ficar em belém
o bacilo não esperou para fazer mais vítimas e a doença se espalhou rapidamente por
Belém. As outras regiões da província do Grão-Pará não tardaram em receber o cólera, o
vapor tapajó foi responsável por levar a doença até Manaus e assim se deu por navios a
entrada do bacilo pelos interiores, a cólera foi traçando pelo Brasil uma rota de norte a sul.
A população da vila de chaves durante a epidemia da febre amarela ocorrida em 1850
não foram atingidos ficando isentos, pensaram então estarem ilesos como aconteceu da
última epidemia, e assim realizaram a festividade do município que já tinha sido planejada
sem afligimento, durante o festejo pessoas de outras regiões foram prestigiar o festejo e
no dia seguinte chaves estava infestada pela cólera em junho de 1855, tornando-se um
dos locais com maior número de vítimas.
Não demorou muito o bacilo se alastrou rapidamente pelas ruas da cidade de
Belém atacando a todos retirando vidas. O cólera causou enorme impacto sobre o povo
que não imaginava depois da febre amarela ser atingidos novamente por outro mal o que
veio posteriormente foi o afogamento em incertezas e sofrimentos.

Debates e incertezas

Até então se conhecia pouco a respeito do bacilo, o que se sabia era das muitas
vítimas feito na Europa relatado no jornal treze de maio. Onde tenha a cólera chegado no
globo abalou as estruturas sociais, no Grão-Pará não seria diferente o cólera-morbo
impactou a capital de belém, exigiu por parte de todos uma comoção imensurável.
Quando chega à Belém o choque de saber que um mal precariamente conhecido ronda a
cidade gera perturbação em todas as esferas sociais, a moléstia era inesperável e o
terreno na província para a disseminação era bastante fértil. Diante às incertezas várias
manchetes tomaram conta dos jornais, desde a entrada do mal seria praticamente único
assunto tratado. Artigos e comunicados falam a respeito do bacilo, sua origem,
característica de seus sintomas, qual cuidado tomar, e como ele se manifestou em outros
lugares, o objetivo era deixar ao máximo a população informada sobre a doença para a
fim de precaver contra ela.
A medicina em meados do século XIX não estava equipada com conhecimentos
suficientes para receber o flagelo, o que gerou enorme debate no campo científico entre
os doutores. Primeiramente no que se refere a identificação do mal, se tratava de
epidemia ou não? Era esporádica, ou seja, que manifesta em casos específicos, ou
colerina leve, cólera asiático, se apareceu por conta da mudança climática ou traga de
outro lugar? Foram essas a premissa dos primeiros debates entre os médicos, e outros
passariam à vim, esse campo durante a epidemia foi de bastante críticas e brigas entre os
doutores. As polêmicas acadêmicas da época se colocaram a disposição de todas as
formas para encontrar meios de combate a cólera de que modo e quais estratégias
seriam usadas para se defender da doença, pouco se conhecia á respeito,
consequentemente pouco era os meios de tratamento eficazes travados para seu
combate. As recomendações médicas não tardaram a preencher as páginas dos jornais,
as receitas incluía fazer uso de cachaça com misturas de ervas, utilizar o elixir, e mistura
de salina com cevada, em casos graves o médico deixava o paciente por 48 horas de
completo jejum apenas fazendo uso da medicação, por consequência de dores
gastrointestinais. Cada um defendia uma forma de combate e alguns geraram debate
ferrenho, o método da sangria foi exemplo de polêmica. Dr. Silva Castro presidente da
junta de higiene recebeu críticas de outros médicos ao realizar no seu consultório como
tratamento a cólera, os próprios pacientes na maioria das vezes não concordava com o
procedimento:
“O povo fascinado destas e dominado ainda pela lembrança dos
tristes effeitos da sangria na febre amarella, recuza-se a acceitar o beneficio,
quando se lhe offerece; e já por duas vezes tenho passado pelo dissabôr de
vêr impugnada a minha prescripção huma dellas por insinuação de medico,
segundo fui informado. No entanto não esfriarei á vista de taes difficuldades;
hei de continuar a acconselhar este meio curativo sempre que o julgar
indicado, embora o rejeitem por ignorancia.” (Silva Castro, dr. Francisco.
Parte oficial, jornal treze de maio, belém, 24 de junho de 1855.ed.511)
Dentro das recomendações médicas o sumo de limão apresentou efeitos
positivos descrito pela população, declararam melhora após o uso, porém a maioria que
teve recuperação caracterizava-se por sintomas leves. Muitos buscaram tratamento em
casa seguindo as recomendações médicas que normalmente estava estampadas nos
jornais. Em casos extremos recorriam ao socorro público no hospital da santa casa. Na
epidemia gente mais pobre sem meios de se tratar, dependia de assistência pública
ofertado pela santa casa de misericórdia do Pará, a demanda era ampla tronando-se
preciso por meio de politicas públicas abrir uma nova enfermaria localizada na campina
para da conta em atender o número grande de pacientes que buscava a caridade. Os
enfermeiros começaram se tornar escasso e a santa casa publicou uma nota em busca
de novos profissionais sem mesmo dispensar estrangeiros para o ofício.
A santa casa de misericórdia do Pará teve papel importante durante a epidemia
a instituição abriu suas portas para amparar os coléricos principalmente os
desamparados, que na maioria das vezes só podia contar com a ajuda da casa de saúde.
O cólera chega sem avisos, quando chegou, interrompeu as reformas em andamento
dentro da santa casa para esta da conta de acudir a população. A demanda foi ampla,
ficando o hospital sobrecarregado sem vagas para novos doentes, precisando abrir uma
nova enfermaria no bairro da campina, local bastante atingido, usando a rua do açougue
do bairro como referência, para assim tentar ser capaz de ajudar a todos, mesmo com o
propósito o hospital não possuía capacidade necessária de atender toda gente adoentada
e a medicina do século XIX dificultava ainda mais o trabalho de salvar vidas. Nem todos
saiam curados, muitas mortes ocorreram dentro da instituição e o trabalho de levar as
tumbas com cadáveres do hospital ao cemitério da soledade era dos escravos
pertencentes a instituição, levavam também mortos das casas comuns, além de
carregarem os cadáveres ainda exerciam a função de coveiro do cemitério, não só
encarregavam-se de transportar mortos, também guiavam as canoas com coléricos
levando em direção a santa casa da misericórdia, ficavam os escravos tempo inteiro
expostos a doença, assim muitos padeceram. Diante dessa solidariedade um caso
registrado no treze de maio diz que a santa casa se recusou atender doentes sem
autorização do provedor da instituição, deixando então afetados sem socorro. O provedor
não dando a autorização necessária a pedido dos doentes, o presidente da província
Custodio Corrêa se manifesta por meio de uma nota pedindo ao provedor tome medidas
necessárias para atender os doentes pois era para isso que a província havia aberto os
cofres públicos, que passando a epidemia seria sentida posteriormente na economia. O
presidente vendo a tragédia em que a cólera deixava o povo decidiu abrir os cofres para
tentar aplacar a moléstia.
Os gastos com despesas médicas pesaram nos cofres públicos mesmo depois
de ter passado o mal no fim de 1856 ainda estavam sendo contabilizados e deixou um
vácuo nas contas públicas. As remessas de recursos eram destinadas a santa casa e sua
enfermaria na campina, as igrejas recebiam igualmente pelos padres que ficavam
responsável pela administração de acordo com cada freguesia com o dinheiro dos cofres
públicos que ganhava para ajuda aos desvalidos enviava medicação para os interiores, os
médicos, a junta de higiene e gastos com medicamentos obteve ajuda publica.
A falta de salubridade foi decisiva para indicar quem seria os principais alvos, a
falta de higiene que dá chance ao bacilo proliferar era perfil dos bairros mais pobres da
época localizado na campina e trindade, a falta de saneamento, o convívio diário com a
sujeira, na margem da pobreza, a carência de alimentos, e de condições para mudar esse
quadro, além do descaso do estado para com essas pessoas foram fatores que a
tornaram principal alvo da cólera o pobre, índios, mestiços e escravos foram os que mais
sofreram. De qualquer maneira é a classe menos privilegiada que sofre, e sua condição
de vida é o que definiu o seu sofrimento. Segundo jane beltrão 1 o ofício da maioria dos

1 (beltrão-jane 1999:216)
enfermos eram padeiro, pedreiro, cozinheira, costureiras, criadas, lavrador, carroceiro, os
soldados e marinheiros dentre outros serviços exercidos pela classe mais baixa da época.
Foram esses que mais procuraram pela caridade e por esse colapso na saúde que o
presidente forneceu ajuda financeira ao combate. Além do mais elas próprias se cuidaram
em casa medicavam-se com as instruções dos doutores escolhendo o que era mais eficaz
para si em cada caso, ainda existia uma rede de ajuda entre essas pessoas como forma
de sobrevivência a empatia entre vizinhos, parentes, amigos, até mesmo os padres
ajudaram e receberam ajuda na enfermidade, cada um como podia prestava ajuda, foram
momentos de todos estavam juntos para tentar amenizar o impacto. É claro não foram os
únicos porém foi maioria, o próprio presidente da província na época Custódio Corrêa
morreu de cólera mais são poucos os casos da classe abastarda, os comerciantes,
fazendeiros foram a minoria

Perspectiva religiosa

O campo espiritual serviu de consolo para uns e busca de respostas para outros
o papel dos lideres religiosos e a sua palavra era importante fonte de instrumento para
auxiliar as pessoas a lidar com a tal situação de forma tranquila ou não. A religião católica
na história do Brasil andou de mãos dada oficialmente com o estado por bom tempo,
apenas em 1888 com a nova constituição da república que o laço se desfaz teoricamente,
não é difícil perceber que o instrumento religioso foi participante ativo na epidemia,
manteve sua influência sempre que possível sobre a população, o povo no imerso de
incertezas viu no discurso religioso uma maneira de depositar esperança esperando por
respostas e melhoras. Como a medicina não dava respostas imediatas a respeito da
epidemia criava instabilidade e incertezas diante da situação buscaram na igreja uma
forma de depositar esperança.
D. José Affonso de Moraes Torres, nono bispo da diocese do Grão-Pará, foi um
adepto do ultramontanismo que buscava criar mudanças dentro da igreja tendo como
base os preceitos romanos, via na política um meio para realização de mudanças na
igreja sendo o quadro epidêmico um terreno bastante fértil. O bispo se destacou ao
expressar sua indignidade perante a temível cólera, o que ele considerava ser nada mais
do que castigo divino em função dos pecados cometidos nessa cidade: “E que outra
cousa deviamos esperar depois de tantos excessos pecaminhosos da nossa parte, senão
um mais terrivel castigo?2”. Explicou que na Europa e Ásia a cólera se manifestou de

2 (Torres, A. M. parte eclesiástica. Treze de maio, belém, 9 de junho de 1855. ed 00499)


forma devastadora ceifando muitas vidas, diferente do Grão-Pará que a situação era
amena em relação a esses lugares por isso não acreditava ser a mesma cólera de outros
lugares e sim um castigo. Segundo o bispo durante a febre amarela os pecadores em
desespero passaram agir em devoção a deus, porém depois que a epidemia minimizou
voltaram novamente a pecar as pessoas ficaram mais profanas, esqueceram
completamente de deus não rezavam, não iam mais a igreja, não cumpriam mais com
seus deveres ao religioso, voltaram-se contra deus e a favor das coisas mundanas, isto
despertou a fúria em deus e este estava castigando esses pobres pecadores, D. José
jogava então sobre a população a culpa do flagelo. Não foi apenas os civis que
concordaram nas palavras do oficial religioso, oficiais também, o presidente da junta de
higiene Dr. Silva castro por exemplo, médico bastante conhecido por suas praticas
medicinais que incluíam o uso da sangria a qual gerou intensos debates com outros
doutores sobre o uso ser correto ou não, concordou que se tratava de castigo divino pois
não encontrando respostas sobre o flagelo via no discurso religioso a resposta para os
anseios da população, assim não via problema na realização de procissões e dava
liberação para assim fazer, além de incentivar na tentativa de aplacar a ira divina, porém
as procissões deveriam ser realizadas entre as seis e nove da manhã, o médico
caracterizava por ser o melhor horário. Dessa forma as procissões foram sucedidas
provocando enorme quantidade de possas nas ruas mantendo contato uma com as outras
logo, o bacilo se proliferou mais gravemente e quem não estava em enfermo passou a
ficar. Essa era a principal forma de penitência bastante incentivada pela igreja de acordo
com o horário imposto pelo presidente da Junta de Higiene, cada igreja estava
encarregada de fazer procissões de acordo com seu santo padroeiro mas destacando
procissões à S. Sebastião, Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora da conceição e
bom jesus. As procissões não foi único ato religioso realizado, o bispo instruiu uma série
de antídotos para aplacar a fúria de deus, a benção das medalhas por exemplo valia a
quarenta dias de penitência por seus pecados, além das virgílias nas igrejas, novenas,
citação da ladainha de todos dos santos, e a reza do terço tanto na igreja como em
residência. As pessoas foram aconselhadas a se confessar, e o padre recebeu do bispo a
concessão de quer qualquer função que estivesse praticando em qualquer circunstância
largar o que estiver fazendo e ir até o enfermo que o chamar, além de dispensar
formalidade para confissão e realização de casamentos, depois que o período mais tenso
da doença passou essas concessões foram encerradas. Durante os meses que a cólera
fez mais vítimas, não havendo melhoramento no quadro epidêmico o bispo achando ser
“E necessario dobrarmos as nossas supplicas para assim de alguma maneira forçarmos
os céos a nosso favor.3 assim foi intensificado as orações, nesse período o número de
pastorais aumentaram, uma irmandade foi criada com objetivo de atrair fiéis para dentro
da igreja que crescia nesse período.
Não foram apenas os fiéis tomados do cólera, os sacerdotes também foram
acometidos, consideramos dois casos encontrados no jornal treze de maio não sendo da
capital do Grão-Pará no entanto demonstra não ser os leigos únicos em enfermo. Um
padre em nota agradece a amigos pela ajudar concedida enquanto este se encontrava
debilitado pelo cólera, e a morte de outro pároco, tanto o padre Antônio Augusto de
Mattos, e padre Victorio Procopio Serrão bem lembrado por amigos que estampavam
suas homenagens no periódico, exerceram função de auxiliar os doentes tanto como
médicos espirituais assim como realizavam a prática medicinal. As igrejas não serviram
apenas de ajuda espiritual, os padres além de exercerem suas funções ministrando os
atos religiosos agiam também por meio da medicina, vendo a calamidade em que se
encontrava o povo não poderiam de deixar de mostrar outros caminhos para o combate
do cólera, assim viajavam bastante para os interiores tentando levar remédios e ajudar
com alguns conhecimentos medicinais. O exemplo dos dois padres que residiam em Moju
e Igarapé-Miri respectivamente demonstra como a assistência médica era mais precária
pelo interior da província diferente da capital onde tinha mais acesso a meios de cura.
Além disso pouco era os oficiais religiosos nesses locais, por isso o bispo se encarregou
de enviar para vários municípios sacerdotes que auxiliasse os padres nas missões de
socorro nas comunidades.
Agosto foi o primeiro mês a demonstrar melhoria, os casos sofrem uma
diminuição depois de maio, entre 211 mortes abruptamente passaram a 44 óbitos em
agosto e a taxa de mortalidade só volta a aumentar no mês de outubro. Em decorrência a
igreja passa a expressar que suas súplicas estão sendo atendidas, outras programações
religiosas como missas se realizaram com o intuito de gratidão a Deus e Senhora de
Nazaré padroeira da cidade, mas também foi tempo de reforçar as praticas religiosas
incluindo três dias seguidos de ladainha a todos os santos para extinguir de vez o mal.
Toda comunicação feita entre o bispo D’José, padres e os crentes sobre a epidemia se
dava pelos periódicos.
O ano de 1856 começa com sinônimo de tristeza para a província muitos eram os
lamentos pelas perdas ocorridas, em uma nota do jornal treze de maio lembram que
começaram o ano cheio de tristeza de vez festas, o povo se encontrava ainda bastante
abalado nos primeiros meses de 1856 a cólera mexeu de todas as formas em todas as

3 (Torres. A.M. parte eclesiástica. Treze de maio, belém, 16 de junho de 1855. ed.00502)
estruturas na vida privada ou da vida pública e as relações entre as pessoas, muitos
perderam irmãos, filhos, pais, vizinhos, amigos. O último caso ocorreu em março de 1856
mais sem registro de morte, a soledade contabilizou cerca de 1049 mortos durante a
epidemia. Os atos religiosos em decorrência do cólera continuaram por algum tempo mais
dessa vez por gratidão a providência divina e dos, o batalhão do quartel reuniu seus
soldados também para realização de cerimonia à São Benedito, no qual foi bastante
lembrando durante os nove meses da quadra epidêmica. Os padres que foram
concedidos pelo bispo a dispensarem as formalidades para realização de cerimonias de
casamentos por exemplo e confessarem em qualquer circunstância, não estava mais em
prática. A epidemia do cólera na província do Grão-Pará, especificamente em Belém,
mostrou momentos de muitas tensões, a população já vinha passando por episódios de
aflições, primeiramente o movimento da cabanagem que ceifou muitas vidas, e como na
cólera a maioria era índios, negros e mestiços. Seguidamente a epidemia da febre
amarela em fins da década de 1840 surge na cidade e por cerca de cinco anos antes da
cólera castigou a população causando enorme sofrimento muitos adoeceram e as perdas
de entes foram ressentidas. A entrada do bacilo na capital do Grão-Pará foi inesperada e
ao adentrar encontrou um povo sensibilizado pelos eventos ocorridos, reprimidos e cheios
de incertezas, que ainda reviviam as memórias dos acontecimentos.
Referência bibliográfica

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Fontes eletrônicas

ABN digital, Hemeroteca digital


Jornal treze de maio(PA), analise do século XIX, anos:1855,1856,1859
Jornal do comércio, analise do século XIX, anos: 1855,1856,1857
Jornal tapajoneses, analise do século XIX, anos: 1855,1856

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