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DO FIM PARA COMEÇO

“Isso de começar não é fácil. Pinga-se um ponto e pronto; ou então escreve-se um


latinzinho: FINIS. Mas começar é terrível.”

As Memórias de Emília, william shakespeare

Estava decidido Ananda escreveria uma carta para ela mesma. A moça sentou-se
atras do balcão da livraria, os livros empilhados em ordem de genero a cercando de
todos os lados, capas-duras e manuscritos, canetas e cadernos de anotações, era quase
meia noite e não se importava de estar naquele lugar solitario. A meia luz que vinha da
lua refletia das das janelas, fazedo seu cabelo negro ficar azul escuro por causa da lua.
No ambiente a pouca iluminação deixava o clima sombrio, no entanto, Ananda não se
importava sempre sentia-se bem ali.

Ela recolheu alguns papeis rabiscados sob o criado mudo, os amassou e jogou-os
na lixeira ao lado que já estava transbordado de tanto “lixo literario”. Ela sempre achou
aquele lugar acolhedor apesar do mal cheiro as vezes. Haviam cadeiras rusticas,
prateleiras entortadas pelo peso dos livros, sessões divididas por generos, corredores
finos e silensiosos... Com seus ouvidos até mesmo o ranger do chão de madeira era
agradavel.

Ela gostava de ficar incontaveis minutos passeando pelas lombadas dos livros
com os dedos. Tinha aquelas mais grossas, umas mais finas e incardidas, outras tão
velhas que se despedaçavam com um singelo toque, sem contar a palheta de cores que
variava de acordo com as folhas dos livros: brancas, cinzas, amareladas, independente
do tom, se sentia a vontade perto qualquer um deles.

Ela queria entender o porque de os achar tão belos. O que eles tem de tão
interessante?, ela se perguntava. Na medida que o tempo passava, mas difícil ficava de
ela encontrar a resposta.
Bem humorada, ela empunhou a caneta com determinação, empolgada para a
ideia de enviar uma carta para ela. Ela seria bem sucedida naquela missão.

— Isso fica entre você e eu. — Disse para o cardeno em suas mãos. — Suponho
que esse caderno não pode contar pra ninguém. — pensou em voz alta. Ela estava
cansada de ver a caixa do correio vazia há tanto tempo quando sua vizinha sempre mal
vestida e que não a desejava boa noite recebia incomendas todas as semanas — porque
aquilo lhe atingia tanto? Devia agradecer a mãe por ser esse tipo de pessoa invejosa.
Faziam anos que não se viam, mas a mãe ainda lhe afetava. Quando eu ver aquela
vizinha de novo vou iniciar com bate papo com ela, pensou.

Do que valia se o remetente for ela mesma? O importante era receber a carta –
abrir a porta de forma despretenciosa, pegar incomenda como quem não quer nada e
entrar em casa. Do que não receceber nenhuma ela preferia receber uma carta de si
mesma. Ela riu com a possibilidade e por um momento um misero segundo, achou-se
idiota por isso, mas, esse pensamento passou tão rápido quando chegou.

Ananda escreveu algumas linhas e estava a ponto de iniciar outra quando ouve o
som de passos abafados.

— Por hora está bom. — sussurrou e fechou o caderno, afim de retomar a escrita
em breve. — Fique quietinho ai. Aguarda por mim.

Não levantou-se da cadeira, esperado que alguém girasse a maçaneta da porta —


ela esqueceu de trancá-la. O dono puxa saco da livraria não se importava que a
funcionaria ficasse até tarde escrevedo ou lendo no ambiente, Ananda já dormiu sentada
no balcão depois de assistir televisão até meia noite e só acordou na manhã seguinte
com o povo batendo a porta. Aquela altura, não se surpreenderia que qualquer coisa que
fizesse não acarretasse em problema.

O som se aproximou ainda mais com um que de ameaça e ela segurou a


respiração, um minuto de completo silencio passou-se, até que a porta se abriu com um
ranger. Ananda pensou em falar alguma coisa, perguntar quem era, só que uma mistura
de sons invadiu sua cabeça. Será que tinha alguém ali?

Cogitou ter ouvido os livros caindo no chão, porém, uma dor horrivel preencheu
sua cabeça e ela pensou que caíria se não fosse pelo corpo de alguém que a amparou
antes que pudesse chegar no chão. No momento que a escuridão ameaçou cega-la a
única coisa que a moça pensou foi que a carta não seria entregue e no homem de pele
morena que sempre circundava seu pensamentos.

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