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UNIVERSIDADE 

FEDERAL DE GOIAS

FACULDADE DE FILOSOFIA

TÓPICOS DE ONTOLOGIA E METHAFÍSICA

KARINE DE ASSIS OLIVEIRA SOARES

FICHAMENTO DO LIVRO: A METHAFÍSICA DA MODERNIDADE DE FRANKLIM  
LEOPOLDO SILVA

INTRODUÇÃO

Descartes inaugura o pensamento moderno. A ruptura com a tradição não significa que o 
filósofo a ignora, mas sim que ele a critica. A continuidade em relação a tradição não quer dizer 
que   o   filósofo   simplesmente   repete   os   seus   antecessores,   mas   sim   que   ele   retoma   os   temas 
tradicionais para lhes dar um tratamento que julga mais pertinente.

Descartes   opera   uma   inversão   radical   das   perspectivas   metódicas,   e   o   faz   a   partir   de 
concepções metafísicas completamente diversas das que eram até então vigentes. Examinaremos as 
noções do pensamento cartesiano: dualismo, idealismo, subjetivismo e representação.

DUALISMO

Descartes   é   dualista,   ou   seja,   admite   a   existência   de   duas   realidades   complementares 


separadas: a alma e o corpo ou, na sua terminologia, a substancia pensante e a substancia extensa. 
Nessa perspectiva entrecruzam­se as questões da independência completa entre o pensamento e a 
extensão e a possibilidade da existência do mecanismo, isto é, do tratamento da realidade física em 
termos de quantidade e através da matemática.

Essa separação significa a separação mais do que a independência entre corpo e espírito: 
significa a separação entre sujeito e objeto. È preciso que se afirme primeiramente o sujeito para 
que então possam aparecer para ele objetos, o elenco daquilo que ele pode saber, a partir de si 
mesmos, acerca daquilo que não é ele mesmo. A independência do sujeito, no plano metafísico, 
consiste em tomar o sujeito como ponto de partida do conhecimento

IDEALISMO.

O sujeito é polo irradiador de certeza e é a partir do que se encontra no sujeito que se 
constitui   o   conhecimento   verdadeiro,   entendendo­se   aqui   o   sujeito   como   exclusivamente   o 
pensamento. Dizemos então que o conhecimento em Descartes, se constitui a partir de idéias e que 
por isso ele é idealista.

O idealismo significa que se assume doravante uma nova hierarquia entra os sentidos e o 
intelecto. Não se admite mais, por exemplo, a sensação como ponto de partida e como principio, 
visto que o conhecimento só começaria com as coisas ou as imagens das coisas. A realidade está 
sempre primeiramente no espírito, isto é, no sujeito, e se apresenta na forma das idéias.

SUBJETIVISMO 

O   sujeito   tem  uma   função  ordenadora  da  conhecimento.  Subjetivismo   quer  dizer  primado   na 
subjetividade, precedência do sujeito no processo de conhecimento, e essa é a grande modificação 
introduzida por descartes na filosofia. O homem assume a tarefa de fundar na subjetividade tudo e 
qualquer conhecimento. Para Descartes o conhecimento é um problema a ser solucionado para que 
a relação do sujeito e as coisas possa ser bem estabelecidas. A primeira realidade que é dada a um 
sujeito pensante não pode ser outra senão o próprio pensamento. Essa prioridade é que determina 
que Descartes estabeleça um fundamento único para o conhecimento. A concordância entre as 
ideias  do sujeito e o mundo exterior se constituirá a partir da hegemonia do sujeito.
REPRESENTAÇÃO

A hegemonia do sujeito convencionou dominar em Descartes de primado da representação. 
Representação é todo e qualquer conteúdo presente na mente.

Para  a filosofia  anterior  a Descartes, mais  precisamente  a filosofia  aristotélico­tomista, 


qualquer representação que aspire à realidade tem que ser primeiro uma representação, sensível, 
pois é das coisas para o intelecto que segue a trajetória do conhecimento.

Em Descartes ocorre o inverso: tudo o que temos primeiramente são representações das 
quais se trata de atestar a realidade. Dizemos que a filosofia cartesiana parte da representação 
enquanto puro conteúdo mental, e não tomada como reflexo de um mundo cuja realidade não se 
questionaria.   A   filosofia   passa   a   ser   então   uma   reconstrução   do   saber   enquanto   marcha   pelo 
caminho da representação em direção ao reencontro da realidade.

CAPITULO 2 – O MÉTODO

CRÍTICA DA TRADIÇÃO

O projeto de Descartes é a reconstrução do saber, com tudo o que é por isso Descartes 
insiste em que o seu projeto só abarca seus próprios pensamentos nesse domínio privado.

DA DUVIDA À EVIDENCIA

O MÉTODO

Quando a duvida começa a ser exercida, o espírito já tem que estar de posse do método que 
permitirá   substituir   as   opiniões   rejeitadas   por   verdades   sobre   as   quais   não   pairem   duvidas. 
Descartes   reparou   que   a   utilização   da   matemática   não   ia   além   dos   números   e   figuras,   e   sua 
evidencia limitava­se as operações aritméticas e geométricas. A evidencia matemática é aquilo que 
o espírito humano pode apreender de mais certo; o método consistirá em captar a razão dessa 
certeza para que se possa intende­la a outros campos do conhecimento. A lógica, na época de 
Descartes, era a doutrina silogistica de Aristóteles que ele considera completamente estéril.

Descartes exclui a matemática e a lógica por entender que o método por ele concebido 
reúne as vantagens dessas duas ciências sem conservar   as vantagens dessas duas ciências sem 
conservar nenhum de seus feitos. O filósofo considera o que a matemática tem de fundamental nos 
seus procedimentos: a ordem e a medida. A razão triunfa na matemática. Por isso o método deverá 
inspirar­se na matemática para buscar a causa da certeza.

AS QUATRO REGRAS  

O método de Descartes consiste em quatro regras:

1­ Clareza e distinção:

Deve­se   evitar   a   prevenção,   isto   é,   não   formular   juízos   a   partir   de   preconceitos   e 


prejulgamentos. Não afetar um juízo até que a ligação entre os termos representados apareça com 
inteira clareza e total distinção.

2­ Análise:

Pressupõe a anteriormente dos elementos simples sobre as composições.

3­ Ordem

Permitirá a dedução como forma de ampliar o saber. Cada elemento que entra no sistema 
deve seu valor a posição que ocupa num determinado conjunto.

Isso implica de critica a recusa da tradição cultural e dos procedimentos filosóficos da 
escolástica.

O Discurso do método contem, no seu inicio, duas afirmações. A primeira é a frase famosa 
que abre o discurso, e que nos diz que o bom senso é a coisa mais bem partilhada do mundo, pois 
cada   qual   pensa   estar   tão   bem   provido   dele   que,   mesmo   aqueles   que   se   mostram   difíceis   de 
contentar em outras coisas não desejam tê­lo maior do que já o têm. A segunda afirmação diz que 
o bom senso é identificado, entre outras coisas, como a capacidade de distinguir o verdadeiro do 
falso.

O bom senso não garante por si só a identificação da verdade é necessário que a razão seja 
conduzida, e essa condução se da por meio de regras que permitem atingir a evidencia.
Descartes valoriza a tal ponto o método que atribui a ele a capacidade de remediar talentos 
pessoais que em principio suporíamos essenciais ao estudo da ciência e da filosofia.

ALCANCE DA CRÍTICA

A   razão   mesmo   cultivada   pelos   espíritos   mais   aptos   de   todas   as   épocas,   não   produz 
resultados satisfatorios quando não é conduzida por um método previamente concebido.

UNIDADE DA CIENCIA, UNIDADE DO MÉTODO

Temos como condição da busca da verdade a recusa da tradição cultual e de tudo que ela se 
vincula em termos de procedimentos filosóficos. A reconstrução da ciencia apartir do espírito 
liberado   dos   continuos   culturais   aprendidos   se   faz,   em   Descartes,   desde   muito   cedo   em   seu 
pensamento, que reaparece no Discurso: a unidade do saber apartir da unidade do intelecto. Essa 
idéia significa que a ciencia é una, apesar da diversidade de seus objetos. A unidade do método é 
determinante da unidade da ciencia.

A   ciencia   tem   como   sua   verdade   relacionada   com   a   unidade   e   coesão   no   ambito   dos 
procedimentos  utilizados  na  sua  elaboração.  Por  que Descartes   vê  como  incompativeis  com   a 
verdade   a   variação   e   a   pluraridade   na   construção   do   saber?   Porque   a   própria   diversidade   de 
opiniões acumuladas ao longo da historia do saber se mostra incompativel com o carater único que 
deve   possuir   a   verdade.   Em   segundo   lugar,   a   relatividade   que   as   condições   e   os   custumes 
imprimem na maneira de pensar tornam o conhecimento dependente dessa conjuntura. 

Assim, toda vida do individuo é orientada pela cristalização de opiniões cuja validade não é 
questionada.

4­ Enumeração:

As   revisões   e   enumerações   são   para   ter   a   certeza   de   que   todos   elementos   foram 
considerados. Pode ser visto como síntese ja que recupera a visão de totalidade do conjunto. 

O que Descartes procura é atingir um certo conteúdo de representação abstraindo todas as 
condições   materiais   e   psicologicas   que   poderiam   influir   no   pensamento.   Se   os   requisitos 
metódicos forem cumpridos, a certeza do sujeito corresponderá à evidencia, que é uma versão 
objetiva da verdade. O método proporciona então o encontro de uma verdade subjetiva, isto é, no 
sujeito.

A DÚVIDA

Todo aquilo que a razão não reconhece como portador das características do método deve 
ser colocado em dúvida. Tudo aquilo que aparecia como verdadeiro antes da aplicação do método 
não responderia pela origem de sua verdade.

É metódicamente necessario colocar tudo em duvida. É preciso invalidar a própria esfera 
do conhecimento sensível. Isso significa que as incertezas são tomadas como ilustrações de uma 
possibilidade mais geral: a de que todo e qualquer conhecimento gerado nesse plano seja falso. É a 
denominada genaralização: é o próprio gênero do conhecimento sensível que fiica colocado em 
dúvida.

CONHECIMENTO MATEMÁTICO 

Segundo Descartes é preciso que a dúvida atinja também os conhecimentos matemáticos, 
dos quais entretanto não temos as mesmas razões de duvidar. Pois o conhecimento matemático 
mostrou um grau de evidência capaz de resistir naturalmente à duvida. Isso porque, no que se 
refere às coisas materias, a verdade se põe como adequação entre a representação e a própria coisa. 
A matemática não existe o problema da adequação, porque essa ciencia é construida de entidades 
inteligíveis, e não de coisas materiasi que são percebidas.

DÚVIDA E EXISTÊNCIA

À questão da existência das coisas e das idéias em sua maxima generalidade chamamos 
problema ontológico, visto ser a ontologia parte da filosofia que trata da existência dos seres que 
podem   ser   coisas   percebidas   ou   idéias   metemáticas,   sendo   estas   as   essências   a   que   não 
correspondem necessariamente as coisas existentes no mundo.

O problema da adquação trata das exigencias internas da razão, expressas no método, à 
realidade externa. Essa método tem uma finalidade obvia: o conhecimento das coisas, e não apenas 
inventário de idéias. É preciso demonstrar   que o que é objetivo segundo as regras da razão é 
também o que é objetivo do ponto de vista do que é universal ­ isto é, pura e simplismente real.

As regras do método são estabelecidas pela razão ou pelo entendimento subjetivo, ao qual 
também pertencem as representações. Será preciso mostrar que a idéia ­ a representação no sujeito 
­ possui um valor tal que a verdade obtida através dela vale para alêm da esfera da subjetividade. 
Descartes chama o valor objetivo da representação: o conteúdo da idéia não tem validade apenas 
no sujeito e para o sujeito, mas é verdadeiramente objetivo, isto é, universal.

A unidade e a objetividade da verdade ­ seu carater absoluto ­ exigem que sua objetividade 
possua um alcance universal, devendo ser, um autêntico fundamento inquestionado.

RADICALIZAÇÃO DA DÚVIDA

Para que haja a passagem da representação subjetiva à existência exterior é preciso uma 
garantia   de   total   objetividade.   Isso   se   dá   por   uma   representação   indubitável.   A   reflexão   só 
encontrará a evidência absoluta se partir da negação absoluta de todas as certezas. A geração da 
certeza a partir da dúvida é que dá à dúvida o seu caráter metódico. Mas para que a certeza 
corresponda ao que é exigido pelo método é preciso que a dúvida seja radical e hiperbólica, ou 
seja, deve ser levada ao limite extremo da generalização.

DÚVIDA NATURAL E DÚVIDA METAFÍSICA

A dúvida pode ser dividida em duas partes: a dúvida natural e a dúvida metafísica. Todas as 
etapas da dúvida natural estão relacionadas com a não­aceitação de que a percepção sensível possa 
garantir, mesmo em parte, o conhecimento. Tudo o que se relaciona como conhecimento sensível é 
falso, entendendo e radicalizando a dúvida até os elementos da sensação. Com isso extenderei a 
dúvida a toda e qualquer representação relacionada com a percepção de coisas exteriores.

Nisso desempenha papel importante em argumento de Descartes: a impossibilidade de se 
distinguir   o   sono   da   vigília.   Esse   argumento   me   permite   colocar   em   dúvida   não   apenas   as 
representações pouco nítidas, mas também aquilo que aparece como fazendo parte de minha vida, 
pois no sonho tais rrepresentações não correspondem à realidade. Não é, portanto, o caráter pouco 
claro da representação que me leva a colocá­la em dúvida; é o seu caráter sensível.
Os elementos últimos do sensível não podem ser colocados em dúvida. tais elementos são o 
tempo, o espaço, o número, a relação e outros do mesmo gênero, que Descartes denomina "coisas 
matemáticas". Não são propriamente objetos de sensação e percepção, e podem ser considerados à 
parte. A dúvida natural significa a existência de razões naturais de duvidar, e ela encontra aqui o 
seu limite. o entendimento não pode colocar em dúvida as representações matemáticas enquanto 
tais, porque elas naõ fazem parte do fundamento sensível do conhaecimento. Elas se vinculam ao 
fundamento intelectual.

A dimensão metafísica da dúvida deve atingir representaçãoes que, em princípio são claras 
e distintas. Descartes vai supor uma razão de duvidar ­ ou seja, a dúvida metafísica é artificial. Sou 
necessariamente iludido quanto as representações matemáticas, uma vez que não posso recusar 
como verdadeiro o que aparece como claro e distinto. Através dessa suposição, que é uma ficção, 
tenho como extender a dúvida à esfera da matemática, pois a matemática, enquanto atividade mais 
elevada   da   razão,   não   pode   de   fato   ser   submetida   à   dúvida,   uma   vez   que   o   acordo   entre 
representações matemáticas e as essencias matemáticas é como o acordo consigo mesmo.

Se repararmos no caráter metódico da dúvida, verificaremos que a suposição cartesiana tem 
a função de uma hipótese que lançamos mão para melhor formular um problema visado a sua 
solução. Assim como o astronomo supõe linhas imaginárias para melhor compreender a tragetória 
dos astros o filósofo lança mão de uma ficção que lhe permite prolongar a dúvida, afim de que o 
problema   do   conhecimento   venha   a   ser   inteiramente   formulado,   para   que   se   possa   resolvê­lo 
apartir de uma visão total de todos os termos.

DESCARTES E O CETICISMO

Descartes é comparado aos céticos por que tinham a dúvida como única atitude coerente do 
pensamento em face da pluralidade de opiniões e das contradições do conhecimento sensível.

OS CÉTICOS HELENISTAS

O processo de estabelecimento da dúvida de Descartes também pode ser observado entre os 
céticos do período helenista.

Entre os primeiros céticos Pirro viveu entre os anos 365 e 275 a.C. e pregava a suspensão 
do juízo sobre todas as coisas como forma de encontrar o equilíbrio e a serenidade, num estado de 
desinteresse  teórico  motivado pela impossibilidade  de se atingir a  verdade acerca de  qualquer 
coisa.

Aquele que deseja felicidade deve manter­se indiferente suspendendo todas as crenças e os 
juízoas acerca de tudo o que existe.

No século III a.C., a noca academia, herdeira da academia platônica, combate as escolas 
filosóficas   que   procuravam   soluções   positivas   e   sistemáticas   para   os   prblemas   filosóficos. 
Argumentavam que não se pode apontar qualquer representação como abolutamente verdadeira, já 
que sempre poderemos opor uma falsa e dificilmente disinguivel da primeira. è o caso do sonho, 
da embriaguez e da loucura.

O caráter subjetivo da representação nos impede de tomar em igualdade de condições, os 
dois termos seriam necessários para avaliar a adequação: a representação do sujeito e a própria 
coisa. Não há maneira de nos relacionarmos com as coisas fora da representação.

O CETICISMO DE MONTAIGNE

É inquestionável que Descartes retoma muitos dos argumentos dos acadêmicos, é relevante 
considerar  a influência que sobre ele exerceu Montaigne, que, no século XVI, desenvolve  em 
relação   ao  conhecimento, à moral, a política é a própria racionalidade, uma crítica de caráter 
cético,   principalmente   baseadana   instabilidade   e   na   variabilidfade   das   opiniões   humanas. 
montaigne expressa num trabalho a demolição das certezas em quase todos os seus aspectos. Num 
conjunto de textos deliberadamente não­sistemáticos, são aborados inúmeros assuntos passando 
pelas certezas filosóficas herdadas da tradição.

Montaigne   utiliza   o   procedimento   cético   de   mostrar   a   relatividade   dos   produtos   da   razão,   a 


impossibilidade de certeza definitiva em vários campos, notadamente a filosofia, a interferência 
constante   das   paixões   comprometendo   uma   postura   que   se   pretende   puramente   racional. 
Mantaigne recusa­se a aceitar que as certezas da tradição são intocáveis e analiza a flutuação dos 
sentidos   ­  e   consequentemente   os   conhecimentos   que   adquirimos   através   deles.   É   o   Eu   que 
constata   a   relatividade,   é   a   consciência   que   passeia   pelas   diferentes   formas   da   existência   do 
homem.
EM BUSCA DA CERTEZA

Descartes se distingue dos céticos acadêmicos na medida em que não julga que a certeza 
seja impossível de atingir. Para ele, a matemática é a prova de que a razão humana é compatível 
com a verdade. O projeto de reconstrução do poder só tem sentido apartir da convicção de que o 
intelecto humano é capaz de atingir a verdade. O método é o caminho que leva à verdade.

A dúvida é um percurso com direção e objetivo, que consiste no ponto de chegada como 
ponto fixo, pois se o ponto de chegada da dúvida for um ponto fixo, ele será o ponto de partida do 
conhecimento.

O  caráter  metódico  é provisório  da duvida  cartesiana  não  se trata  apenas  de  abalar   as 
certezas;   trata­se   de   distingui­las   para   recomeçar   inteiramente.   Descartes   não   se   contenta   em 
abalar as certezas sensíveis: ele invalida o fundamento sensível do conhecimento, a certeza das 
coisas materiais.

Por isso adúvida de Descartes, embora metódica e provisória, não é fingida. É preciso 
descrever radicalmente do conhecimento adquirido sem método para aceitar inteiramente o novo 
processo metódico de construção da ciência.

CAPÍTULO 3 ­ A CONSTRUÇÃO DA FILOSOFIA

CRÍTICA DO ARISTOTELISMO TOMISTA: FÍSICA E METHAFÍSICA.

O SENTIDO DA CRÍTICA

O trabalho filosófico de Descartes repousa sobre a refutação de certos conceitos ­ chave da 
tradição aristotélico­tomista, ou seja, da síntese elaborada principalmente por S. Tomás de Aquino, 
no século XIII, entre a filosofia que Aristóteles e a doutina cristã.

Entre os conceitos cuja refutação se pode seguir desde os primeiros escritos de Descartes 
está o de forma substancia, um dos alicerces da filosofia da natureza tomista.

O OBJETO DA CRÍTICA
Em   Aristóteles   há   dois   pares   de   noções   que   desmpenham   funções   estratégicas: 
forma/matéria e ato/potência. A matéria é o indeterminado que se detrermina ao receber uma 
forma. A potência é a possibilidade, em si meramente indeterminada, que se realiza concretamente 
pela determinação de um ato. Uma substância é, pois, potência atualizada, ou matéria que se ganha 
uma determinada forma, tornando­se, então algo. A forma é precisamente o ato que se faz com que 
a substância, pelo qual ela existe, é a forma substancial ou a forma da substância.

É   chegando   ao   conhecimento   da   forma   enquanto   ato   constitutivo   da   substância   que 


podemos conhecer a essência e, de maneira geral, a estrutura essencial do universo. Conhecer uma 
substância é conhecer aquilo que a identifica como ela mesma e não outra: é conhecer sua forma 
substancial.

O estudo da natureza é a compreenssão da essência dos fenômenos, da realidade em seus 
múltiplos   movimentos,   e   não   a   explicação   das   leis   que   reagem   os   conjuntos   de   fenômnos 
independentemente da especificidade de cada um.

As propriedades que os seres naturais possuem devem ser concebidas como derivadas desse 
princípio. Esse princípio é a alma. Ora, a alma é a forma substancial do homem,. Para Aristóteles a 
natureza de uma coisa é a sua forma. Quando essa coisa é uma substância, a natureza é a forma 
substancial com seu princípio de vida.

Descartes e Galileu abandonam a noção de forma substancial, uma vez que despreza a 
consideração das essencias qualitativas no estudo dos fenômenos naturais. A compreensão das 
essências é substituída pela visão das relações matemáticas que os fenômenos mantém entre si. 
Nesse sentido, todos são considerados homogêneos do ponto de vista do conhecimento.

O ALCANCE DA CRÍTICA

Descartes   causa   a   compreensão   do   fenômeno   físico   através   de   noções   como   forma, 


qualidade, ação e outras assemelhadas. Extenção e movimento se tornarão, juntamente com as 
figuras, os principais conceitos de Descartes.

A crítica de Descartes à física das formas substanciais contém como elemento principal 
pŕecisamente a denúncia de que conceber a presença de qualidades e ações nos corpos físicos nos 
impede   de   concebê­los   como   físicos   e   que,   portanto,   a   clareza   que   se   deseja   na   essência   da 
natureza deve começar por uma separação completa entre o físico e psíquico.

A analogia aristotélica entre alme e natureza física é totalmente contrariada pela distinção 
radical entre substância externa e substância pensante, proposta por Descartes.

A   reflexão   cartesiana   coincide   com   o   procedimento   crítico   de   demolição   das   formas 


substanciais. Sendo seu método geométrico, Descartes pôde considerar apenas posições, e não o 
movimento das coisas de uma posição para outra.

A recusa das formas substanciais e a contrapartida positiva dessa recusa, que é a afirmação 
da separação entre substância pensante e substância externa, podem ser entendidas como princípio 
fundador da física moderna.

O ALCANCE DA SUBJETIVIDADE

DA DÚVIDA À CERTEZA

Duvidar   é   procurar   o   fundamento.   isso   porque   o   fundamento   da   dúvida   leva   ao 


desvendamento da instância original da dúvida e, assim, do próprio pensamento. o limite da dúvida 
é a descoberta do pensamento.

Se a dúvida existe então o pensamento, do qual a dúvida é uma modalidade, existe, e eu 
mesmo,   que   duvido,   logo   penso,   existo   necessáriamente,   ao   menos   como   ser   pensante.   No 
entender dos críticos de Descartes, seria preciso definir os termos pensamento e existência, contido 
na proposição penso, logo existo. Em primeiro lugar, o pensamento é o caso privilegiado em que o 
conhecimento coincide perfeitamente com seu objeto. Em segundo lugar, pensamento e existência 
fazem parte daquilo que constitui para Descartes as noções comuns, primeiras e indefiníveis, e 
evidentes por si.

Descartes, todos sabemos o que queremos dizer quando empregamos as palavras existência 
e   pensamento.  toda  consciência   interna   é  pensamento;   por  isso,  o  pensamento  recobre  toda   e 
qualquer representação. O fato de que tudo é considerado antes de mais nada como pensamento 
significa,   por   exemplo,   que   não   é   preciso   fazer   uma   distinção   em   termos   de   gênero   entre   o 
pensamento e o sentimento. A representação implicado no sentimento faz com que sentyir seja 
pensar, ou que sentir seja primeiramente pensar, ou, ainda, que o pensamento seja condição da 
representação dita como sensível.
CONHECIMENTO DA NATUREZA DO EU PENSANTE

Imaginar   é   produzir   representações   ligadas   ao   dominio   corporio.   Descartes   tratará   de 


mostrar que, o pensamento de uma essência que não pode aparecer à imaginação tem precedência, 
e maior clareza intelectual. Para isso Descartes realiza a analize de um hipotético pedaço de cera 
que seria submetido a todas as variações da percepção sensível: é duro, mas pode tornar­se mole se 
aquecido; seu cheiro pode mudar.

Mas como posso reconhecer que é a mesma cera se todas as suas características sensíveis 
mudam?

O que permanece sob as variações é uma certa extensão:na verdade é o ser extenso da cera. 
É essa a razão pela qual, embora não perceba a mesma cera, sei que é a mesma, e o sei pelo poder 
de julgar, isto é, pela representação intelectual da extensão como permanente.

O   próprio   corpo,   no   que   tem   de   essencial,   não   é   conhecido   pelos   sentidos,   nem   pela 
imaginação, mas pelo entendimento.

O pensamento é a codição do conhecimento dos corpos enquanto é condição de qualquer 
um de seus modos representativos. O que se quer mostrar é que o Eu pensante não se conhece 
através de seus modos, mas através de sua essência que no caso se confunde com a existência.

IDÉIA E REALIDADE

O ALCANCE E O FUNDAMENTO SUBJETIVO

Na   verdade,   a   descoberta   do   Eu   pensante   não   conferiu   legitimidade   alguma   ao   liame 


representação/representado, nem resolveu o problema do valor objetivo das representações. Disso 
já sabíamos, uma vez que somente o Eu pensante escapa à duvida do ponto de vista da existência.

Para conferir realidade ­ ou validade objetiva ­ as idéias claras e distintas devo pôr em 
quaestão o estratagema que impede revê­las como tais.

PASSAGEM AO FUNDAMENTO OBJETIVO
Recordemos   que   no   projeto   cartesiano   não   está   presente   apenas   a   finalidade   do 
ordenamento das representações com base na claresa e na distinção intrínsecas a cada uma delas. 
Está   presente  também   a  extenção  da   clareza   e  distinção  ao  valor  objetivo  das   representações. 
Jamais   Descartes   se   contentaria   com   uma   ordenação   exclusivamente   subjetivas   dos   conteúdos 
mentais. É preciso projetar­se da certeza para a evidência, sai do espírito.

O senso comum se caracteriza por uma crença espontânea nas rtelações de semelhança e 
causalidade entre as idéias e as coisas. Descartes não pode concordar com essa crença porque as 
razões   invocadas   pelo   senso   comum   para   estabelecer   dessa   forma   a   origem   das   idéias   não 
correspondem às exigencias racionalistas do pensamento filosófico. Será pelo intelecto que acharei 
o caminho que leva da subjetividade à objetividade, que leva ao conhecimento para fora do espírito 
através de um trajeto interior ao espírito nisso consiste o percurso, que não é outra coisa senão a 
via racionalista de exploração da objetividade.

FUNDAMENTO E PONTO DE PARTIDA

A objetividade exige que a idéia embora seja em si mesma o modo de pensar, remete 
alguma realidade fora do espírito e que essa correspondência, devidamente estabelecida, legitime o 
valor objetivo das representações.

As   idéias   se   diferneciam   não   apenas   pelo   fato   de   representarem   coisas   diversas,   mas 
também porque essas representações situam­se em diferentes pontos numa hierarquis de realidade 
a   que   Descartes   chama   graus   de   ser.   Da   mesma   maneira   podemos   dizer   que   uma   idéia   que 
representa o seu infinito é hierarquicamente superior a uma outra que representa seres finitos, pois 
o infinito é numa dimensão de realidade maior que o finito.

A IDÉIA DE DEUS E A QUESTÃO DE FUNDAMENTO DO SABER

A REALIDADE OBJETIVA DAS IDÉIAS

Descartes introduz na filosofia que a idéia pode ser considerada apenas enquanto idéia, e já 
aí se pode falar de ser. Por isso, para Descartes, campos de análise são as idéias da mente enquanto 
realidades são as idéias consideradas como realidades objetivas.
A IDÉIA DE DEUS E A REALIDADE DE DEUS

Para Descartes as idéias não são como para filosofia tradicional, puros seres da razão, isto é 
algoque se esgota apenas na sua forma de conteúdo menta e que não possui, propriamente falando, 
realidade. As idéias são algo e é por isso que cabe procurar suas causas. Somente a explicação 
causal exclarecerá a adequação que se trata de encontrar entre a idéia daquilo que ela representa. 
Fica   portanto   caracterizado   que   o   caminho   para   a   exterioridade   é   a   interioridade.   A   dúvida, 
enquanto carência de conhecimento, é uma prova de minha finitude. Aquilo que é efeito não pode 
ser mais do que sua propria causa. Aplicando esse princípio de causalidade à idéia de infinito, a 
existência em mim dessa idéia só se explica pela existência da causa dessa idéia.

DEUS: FUNDAMENTO DA VERDADE

Para Descartes a capacidade de indagar não é poder, mas carência, visto que erro e engano 
estão   ligados   à negatividade  do  ser  finito Deus  é  a  razão  de  ser de  todas   as  verdades.  O   Eu 
pensante é a razão de ser de todos os pensamentos, não de todas as verdades. Devido ao caráter 
metódico   da   filosofia   cartesiana:   o   Eu   pensante   é   razão   de   ser   da   idéia   de   Deus   enquanto 
pensamento; não é razão de ser dessa idéia naquilo em que ela se rremete à sua causa real e infinita 
o Eu pensante não é razão de ser da realidade objetiva da idéia de Deus. Atinjo a realidade objetiva 
da idéia de Deus pela ordem das razões internas ao Eu pensante. Deus é a primeira verdade na 
ordem do ser, enquanto não se confunde com a ordem do meu pensamento.

CAPÍTULO 4: ESSÊNCIA E EXISTÊNCIA

O MUNDO COMO CONCEITO E COMO REALIDADE PERCEBIDA

A ESSÊNCIA DO MUNDO MATERIAL

Uma   das   consequências   imediatas   da   prova   da   existência   de   Deus   é   a   validação   das 


representações matemáticas. Ora, entre as essências matemáticas validadads está a extensão em seu 
caráter de essência geométrica.
O mundo material, no que diz respeito à sua essência, é também uma certeza. Se tudo que é 
material é essencialmente substância extensa, o conjunto de representações qu chamo de mundo 
exterior pode ser desde já considerado verdadeiro no que diz respeito a essência matemática. Na 
medida em que a essência do mundo material é uma realidade, a existência das coisas passa a ser 
pelomenos uma possibilidade.

A EXISTÊNCIA DO MUNDO MATERIAL

A imaginação trabalha coma presença de objetos físicos, traçados a contornos dos mesmos 
quando não estão presentes à sensação. Mas o fato de torná­los fisicamente presentes em imagem 
mostra que a imaginação em relação a algo diferente do espírito. A imaginação seria o pensamento 
voltado para os corpos, para coisas materiais e efetivas.isso reforça a prioridade do entendimento 
no conhecimento de qualquer coisa e indica uma presuposição de representações de corpos vindas 
dos próprios corpos através dos sentidos, o que depois é recomposto na imaginação. Descartes 
aalém de criticar a sensação enumera também os argumentos aparentemente favoráveis à hipótese 
de uma fonte de idéias sensíveis independentemente.

Descartes, além de criticar essa separação, enumera também os argumentos aparentemente 
favoráveis às hipóteses de uma fonte de idéias sensíveis independentemente o pensamento. São 
eles:

Coerção: não depende de minha vontade ter ou não representações sensíveis.

Vivacidade: o contato imediato com as coisas provoca representações mais vivas e nítidas. 
Quando as recordo elas não têm a mesma nitidez.

Prioridade:   certas   representações   sensíveis   acontecem   antes   que   eu   represente 


intelectualmente.

Corpo­próprio: Algumas sensações são intimamanete ligadas ao que julgo ser o meu corpo.

Interação corpo­mente: Minha vontade provoca movimentos de meu corpo e, inversamente, 
sensações provocam reações no meu espírito.]

A NATUREZA HUMANA: EXPERIÊNCIA E CONHECIMENTOS
UNIÃO SUBSTANCIAL

A causa da dificuldade que apontamos no item anterior está ligada à doutrina cartesiana da 
absoluta separação entre substancia e pensante e substancia extensa. A idéia de extensão é aquela 
que permite um tratamento metódico de sua realidade objetiva. A essência é real , mas tem uma 
existência  ideal ou seja  na mente. É  por isso que posso ter como  mundo exterior apenas   um 
contato, nunca uma relação de saber.

Ora,   essa   dificuldade   se   agrava   quando   Descartes   constata   que   existe   um   caso   onde   a 
substância pensante e a substância extensa, embora metafísicamente separadas, na realidade se 
encontram unidas formando um composto indissociável.

PENSAMENTO E EXTENSÃO

O que Descartes necessita, do ponto de vista metodológico, para constituição de ciência e 
da física, é de uma extensão geométrica suscetível de tratamento científico consistente com os 
princípios de sua filosofia. Para que a fisíca se constitua, a extensão de que fala Descartes tem que 
significar tabém matéria, pois a física é a ciência dos corpos materiais. 

O que Descartes quer verdadeiramente dizer é que, para que o intelecto pense na idéia de 
corpo apartir de substância extensa, ele não precisa de nenuma imagem corporia, porque a idéia do 
corpo equivale a idéia de extensão. Isso significa que a materialidade efetiva, aquela do âmbito da 
percepção, apesar de ser considerada no decorrer da prova de existência do mundo exterior, não 
constitui realmente um problema teórico. Descartes afirma que, embora o mundo material exista, 
ele não pode ser efetivamete conhecido enquanto tal, isto é, as percepções dos corpos não podem 
tornar­se idéias objetivas. É como se necessitássemos menos da existência das coisas materiais do 
que  do conceito de coisas materiais.

PROBLEMAS DO IDEALISMO

O   idealismo   encontra   limitações   para   resolver   o   problema   da   passagem   da   essência   à 


existência.   Devido   a   impossibilidade   de   conferir   objetividade   às   representações   que   se 
caracterizam   principalmente   como   qualitativas,   e   à   demonstração   da   realidade   daquilo   cuja 
existencia não decorre imediatamente da análise da essencia da idéia.

REPRESENTAÇÕES QUALITATIVAS

A afirmação da realidade do mundo sensível configura a passagem da essencia (idéia) à 
existencia   das   coisas   materiais,   isso   nos   mostra   a   extraordinária   dificuldade   que   o   idealismo 
cartesiano   teria   que   superar   para   que   a   afirmação   da   existencia   do   mundo   material   fosse 
inteiramente   demontrativo. Essa  é a  razão  pela  qual  não pode  haver conhecimento  teórico   do 
mundo sensível no que respeita aos seus aspectos qualitativos. É uma possibilidade de antemão 
excluida pelo método. 

O que Descartes criticava na ciencia aristotélica e escolástica era a mistura de quantidade e 
qualidade que tornava essa ciencia obscura, que fazia com que as idéias que ela manipulava não 
fossem claras e destintas.

     
  

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