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H867a Hoy, Wayne K.

Administração educacional : teoria, pesquisa e prática


[recurso eletrônico] / Wayne K. Hoy, Cecil G. Miskel, C.
John Tarter ; tradução: Henrique de Oliveira Guerra ;
revisão técnica: Márcia Rosiello Zenker. – 9. ed. – Porto
Alegre : AMGH, 2015.

Editado como livro impresso em 2015.


ISBN 978-85-8055-495-3

1. Gestão educacional. 2. Administração – Liderança –


Tomada de decisão. I. Miskel, Cecil G. II. Tarter, C.
John. III. Título.

CDU 37.07

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


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dos líderes pode melhorar nossa compreen- natureza do trabalho para os administrado-
são sobre liderança? Com certeza, respostas res escolares. A questão permanece: “Como
parciais a essas perguntas podem ser obti- passamos a compreender a natureza da li-
das com a observação de como os líderes derança nas escolas?”. As abordagens teó-
administram e comandam suas organiza- ricas dominantes na literatura de pesquisa
ções. Vários estudos têm utilizado uma fornecem um bom ponto de partida.
abordagem de observação estruturada para
descrever o que gerentes, administradores e
líderes fazem em seus trabalhos rotineiros.
1
Abordagem dos traços de
Esses estudos fornecem quadros detalhados liderança
e vívidos do que os gerentes de negócios e
Muita gente ainda acredita (como Aristó-
administradores escolares fazem em seus
teles apregoava há séculos) que desde a
cargos e com quem e onde eles passam seu
hora do nascimento algumas pessoas são
tempo. Considerando as regularidades na
destinadas a serem governadas e outras a
pesquisa, Kyung Ae Chung e Cecil Miskel
governar. Aristóteles pensava que os indi-
(1989) resumem as principais conclusões.
víduos nascem com características que os
• Administrar escolas é uma atividade tornavam líderes. A concepção de que os
febril e absorvente; os administradores fatores-chave na determinação de liderança
escolares trabalham longas horas em são hereditários produziu a assim chamada
ritmo incessante, fisicamente exaustivo. abordagem dos traços de liderança. Bass
• Líderes escolares dependem de meios (2008) observa que no início do século XX
de comunicação verbais; eles gastam os líderes eram geralmente considerados
uma grande parte do tempo andando indivíduos superiores que, por causa de he-
pelas dependências da escola e falando rança afortunada ou circunstância social, ti-
com indivíduos e grupos. nham qualidades e habilidades que os dife-
• As atividades do administrador variam renciava das pessoas em geral. Até a década
amplamente; portanto, os administra- de 1950, as investigações para encontrar os
dores constantemente trocam de mar- traços que determinam quem serão os líde-
cha e de tarefas. res dominavam o estudo sobre liderança.
• O trabalho gerencial é fragmentado; Os pesquisadores tentavam isolar caracte-
para administradores escolares, o ritmo rísticas ou traços únicos que diferenciassem
é rápido e frenético, a descontinuidade os líderes de seus seguidores. Traços fre-
prevalece e o intervalo de concentração quentemente estudados incluem caracterís-
é abreviado. ticas físicas (altura, peso), um leque de fato-
res de personalidade, necessidades, valores,
Em geral, as descrições do trabalho
níveis de energia e de atividade, competên-
administrativo são semelhantes em todos
cia de tarefas e interpessoal, inteligência e
os países diferentes e cenários organiza-
carisma. Ao longo do tempo, cresceu o re-
cionais. Os administradores escolares tra-
conhecimento de que os traços geralmente
balham principalmente em sua sala. O tra-
podem ser afetados por hereditariedade,
balho deles envolve longos expedientes e
aprendizagem e fatores ambientais.
breves conversas sobre uma vasta gama de
assuntos com diversos indivíduos e gru-
Primeiras pesquisas sobre traços
pos. Além disso, os avanços tecnológicos,
as exigências por desempenho melhorado, As abordagens de traço puras – ou seja, a
a responsabilização com base em padrões visão de que apenas os traços determinam
e a competição ambiental estão mudando a a capacidade de liderança – foram quase
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deixadas de lado com a publicação das re- variedade de procedimentos de medição


visões de literatura durante as décadas de melhorados, incluindo testes projetivos e
1940 e 1950. Em particular, Ralph M. Stog- centros de avaliação, e enfocam os gerentes
dill (1948) revisou 124 estudos sobre a abor- e administradores, em vez de outros tipos
dagem dos traços na liderança, concluídos de líderes. Yukl (1971, 2002, 2010) explica
entre 1904 e 1947. Ele classificou os fatores que, embora a revisão de literatura feita por
pessoais associados com a liderança em cin- Stogdill, em 1948, tenha encorajado extre-
co categorias gerais: mamente muitos pesquisadores a estudar
traços de liderança, os psicólogos indus-
• Capacidade – inteligência, agilidade, fa-
triais interessados em melhorar a seleção de
cilidade verbal, originalidade e juízo.
gestores continuaram a conduzir pesquisas
• Desempenho – títulos acadêmicos, co-
sobre traços. Sua ênfase na seleção focalizou
nhecimentos, realizações atléticas.
a pesquisa de traços na relação entre as ca-
• Responsabilidade – confiabilidade, per- racterísticas do líder e a eficiência do líder,
sistência, iniciativa, agressividade, au- em vez de na comparação dos líderes e não
toconfiança e desejo por excelência. líderes. Essa distinção é significativa. Prever
• Participação – atividade, sociabilidade, quem se tornará líder e prever quem será
cooperação, capacidade de adaptação, mais eficiente são tarefas muito diferentes.
humor. Portanto, os assim chamados estudos sobre
• Status – posição socioeconômica, popu- traços continuam, mas agora tendem a ex-
laridade. plorar a relação entre traços e a eficiência da
Embora Stogdill tenha encontrado vá- liderança dos administradores em tipos es-
rios traços (p. ex., inteligência acima da mé- peciais de organizações e cenários.
dia, confiabilidade, participação e status) Essa segunda geração de estudos pro-
que consistentemente diferenciavam os duziu um conjunto mais consistente de
líderes dos não líderes, ele concluiu que a conclusões; na verdade, em 1970, depois de
abordagem dos traços por si só havia gera- analisar outros 163 novos estudos sobre tra-
do resultados insignificantes e confusos. ços, Stogdill (1981) concluiu que um líder se
Ele afirmou que uma pessoa não se torna caracteriza pelos seguintes traços: ímpeto
um líder em virtude da posse de alguma para assumir responsabilidade e completar
combinação de traços, porque o impacto as tarefas; vigor e persistência para alcançar
dos traços varia amplamente de situação os objetivos; capacidade de correr riscos e
em situação. Como consequência, Stogdill de ser original na resolução de problemas;
acrescentou um sexto fator associado com ímpeto para tomar a iniciativa em situações
liderança – componentes situacionais (p. sociais; autoconfiança e senso de identida-
ex., características dos seguidores e objeti- de pessoal; disposição para aceitar as con-
vos a serem alcançadas). A revisão posterior sequências de decisões e atos; prontidão
de R. D. Mann (1959) chegou a conclusões para absorver o estresse interpessoal; dis-
semelhantes. posição para tolerar frustrações e atrasos;
capacidade de influenciar o comportamen-
to das outras pessoas e capacidade de es-
Perspectivas recentes sobre traços
truturar sistemas de interação para a finali-
e habilidades de liderança
dade em questão. Da mesma forma, Glenn
Não obstante a falta de sucesso na identifi- L. Immegart (1988) concluiu que os traços
cação de traços de liderança gerais, as pes- de inteligência, dominância, autoconfiança
quisas persistiram. Estudos mais recentes e alto nível de energia ou atividade estão
sobre traços, no entanto, usam uma ampla comumente associados com os líderes.
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Em suma, a evidência sustenta a con- • Líderes tolerantes ao estresse são pro-


clusão de que a posse de certos traços au- pensos a tomar boas decisões, a perma-
menta a probabilidade de que um líder seja necer calmos e a fornecer direção de-
eficiente (YUKL, 2002), mas não representa cisiva aos subordinados em situações
um retorno à suposição original dos traços difíceis.
de que “líderes já nascem líderes, não se • Líderes emocionalmente maduros ten-
tornam líderes”. Em vez disso, é uma visão dem a ter uma consciência exata de
mais sensata e equilibrada, que reconhece a seus pontos fortes e fracos e a ser orien-
influência de traços e situações. tados em direção ao automelhoramen-
Dada a multiplicidade de conceitos e to; eles não negam suas falhas nem fan-
para facilitar a discussão, classificaremos as tasiam sobre o sucesso.
variáveis de traços e habilidades que hoje • Integridade significa que os comporta-
estão associadas com liderança eficiente mentos dos líderes sejam consistentes
em um de três grupos (JUDGE; PICCOLO; com seus valores declarados e que eles
KOSALKA, 2009; ZACCARO, 2007). As sejam honestos, éticos, responsáveis e
categorias são personalidade, motivação e dignos de confiança.
habilidades (ver Tabela 13.1). Discutiremos • Extroversão (ou ser comunicativo, sociá-
traços selecionados dentro de cada grupo.2 vel, desinibido e ficar à vontade em gru-
pos) relaciona-se com a probabilidade
Traços de personalidade De acordo com
de que um indivíduo vai emergir como
Yukl (2002), traços de personalidade são
líder do grupo (BASS; RIGGIO, 2006).
disposições relativamente estáveis para se
comportar de um modo particular. A lista Portanto, autoconfiança, maturidade emo-
de fatores de personalidade associados com cional, tolerância ao estresse, integridade e
a liderança eficiente é bastante longa. Cinco extroversão são traços de personalidade as-
parecem particularmente importantes. sociados com a eficiência do líder.
• Líderes autoconfiantes são mais pro- Traços motivacionais A motivação é um con-
pensos a definir objetivos elevados junto de forças energéticas que se originam
para si mesmos e seus seguidores, ten- tanto dentro de um indivíduo quanto além
tar tarefas difíceis e persistir diante de deles para iniciar comportamentos relacio-
problemas e derrotas. nados com o trabalho e para determinar a
sua forma, direção, intensidade e duração
(ver Cap. 4). Um postulado básico é o de que
fatores motivacionais desempenham papéis-
TABELA 13.1 Traços e habilidades associados -chave na explicação tanto da escolha da
com liderança eficiente ação quanto do seu grau de sucesso. Em ge-
ral, líderes altamente motivados têm maior
Personalidade Motivação Habilidades
probabilidade de serem mais eficientes do
Autoconfiança Necessidades Técnicas que indivíduos com baixas expectativas,
interpessoais objetivos modestos e autoeficácia limitada.
e ligadas às
Com base nos trabalhos de vários estudio-
tarefas
sos (FIEDLER, 1967; MCCLELLAND, 1985;
Tolerância ao Foco no Interpessoais
estresse desempenho YUKL, 2010), cinco traços motivacionais são
Maturidade Necessidades de Conceituais especialmente críticos para os líderes:
emocional poder
• Tarefas e necessidades interpessoais
Integridade Expectativas
são duas disposições subjacentes que
Extroversão Autoeficácia
motivam líderes eficientes. Líderes efi-
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cientes caracterizam-se por seu ímpeto com traços e habilidades particulares que
para a tarefa e sua preocupação com as vão se adaptar às organizações e ajudar a
pessoas. conduzi-las.
• O poder precisa se referir aos motivos
Habilidades Componente importante (mas
dos indivíduos para buscar posições de
muitas vezes negligenciado) da liderança
autoridade e exercer influência sobre os
educacional é a habilidade necessária para
outros.
completar um trabalho. Se alguém compi-
• O foco no desempenho inclui a necessi- lasse uma lista das habilidades que os lí-
dade de alcançar, o desejo de se sobres- deres necessitam para resolver problemas
sair, o ímpeto para ter sucesso, a von- e fazer suas organizações progredirem,
tade de assumir responsabilidades e a essa lista seria bem extensa. No entanto,
preocupação com os objetivos da tarefa. uma variedade de esquemas classifica a
• Altas expectativas para o sucesso dos cornucópia de habilidades em um peque-
administradores escolares referem-se a no número de grupos. Um modelo recente
sua crença de que eles podem fazer o postula que as habilidades de resolução de
trabalho e se sentirão gratificados pelos problemas, as habilidades de julgamento
seus esforços. social e os conhecimentos tornam possível
• A autoeficácia (a crença em nossa pró- uma liderança eficiente (MUMFORD et al.,
pria capacidade de organizar e executar 2000). Da mesma forma, tanto Yukl (2002)
um curso de ação) está relacionada com o quanto Northouse (2004) discutem três ca-
desempenho de líder e a liderança trans- tegorias particularmente importantes das
formacional (BASS; RIGGIO, 2006). competências associadas à eficiência do lí-
Além dessas características de motivação, der: técnicas, interpessoais e conceituais.
os traços físicos de energia e atividade per- • As habilidades técnicas envolvem a
mitem que indivíduos exibam competência aplicação de conhecimentos especiali-
pelo envolvimento ativo com os outros. zados nas tarefas administrativas. Para
Em suma, abordar a liderança sob os líderes educacionais, exemplos de
uma perspectiva de traços tem um histó- habilidades técnicas incluem gestão
rico longo e produtivo. Alguns traços mos- de orçamentos, implementação de res-
traram relações claras e consistentes com ponsabilização com base em padrões,
a eficiência do líder. A lógica básica para interpretação de resultados de testes e
os estudos de traço é que alguns traços de supervisão e coordenação de melhorias
personalidade e motivacionais aumentam no ensino e na aprendizagem.
a probabilidade de que os indivíduos se • Habilidades interpessoais englobam
envolvam em esforços para influenciar os uma compreensão dos sentimentos e
outros na definição de resultados escolares das atitudes dos outros e saber como
apropriados, organizar atividades de ensi- trabalhar com pessoas em relações
no e aprendizagem e construir uma cultu- de trabalho individual e cooperativo.
ra cooperativista. Do ponto de vista prá- Provas de habilidades interpessoais in-
tico, Northouse (2004, 2010) mostra como cluem comunicação clara, relações cola-
indivíduos e organizações podem usar a borativas, sociabilidade e tato.
perspectiva dos traços. Os indivíduos ava- • Competências conceituais ou cogniti-
liam seus pontos fortes e fracos e, em se- vas envolvem as habilidades para for-
guida, tomam ações para desenvolver suas mar e trabalhar com conceitos, pensar
habilidades de liderança. Organizações logicamente e raciocinar de modo ana-
escolares procuram identificar indivíduos lítico, dedutivo e indutivo. Em outras
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palavras, as habilidades conceituais ministrador potencial ou já em exercício, é


ajudam os líderes a desenvolver e usar importante conhecer seus pontos fortes e
ideias para analisar, organizar e resol- fracos, aprender novas habilidades e con-
ver problemas complexos. tinuar a desenvolver as antigas, contornar
as deficiências e compensar as fraquezas
O princípio subjacente de uma aborda-
(YUKL, 2002).
gem de habilidades é que a liderança exige
o domínio de conhecimentos e habilidades
relevantes para a tarefa, possibilitando as- TEORIA NA PRÁTICA
sim a resolução de complexos problemas
Projete uma carreira em administração edu-
sociais e técnicos e o alcance de objetivos
cacional para si mesmo – por exemplo, de
de forma eficiente (MUMFORD et al., diretor assistente, depois diretor e, por fim,
2000). Em outras palavras, a eficiência de superintendente. Que traços e habilidades são
comportamentos do líder depende de o necessários para cada cargo? Os traços e as
líder ter as habilidades necessárias para habilidades para os cargos se complementam
selecionar e executar os comportamentos ou entrar em conflito uns com os outros?
necessários em formas consistentes com a Como você se proporia a explorar os aspectos
situação organizacional (MARTA; LERITZ; complementares? Como você se proporia a
resolver os conflitos?
MUMFORD, 2005).
As três habilidades são exigidas dos
líderes eficientes, mas é provável que a
prioridade relativa de cada uma dependa
Situações e liderança
do nível de administração (YUKL, 2002).
A habilidade interpessoal é fundamental A reação, ou talvez mais adequadamente a
independentemente do nível, mas a habi- reação exagerada, à abordagem dos traços
lidade técnica é especialmente importante foi tão intensa durante o final da década de
para os gestores nos níveis hierárquicos 1940 e o decorrer da década de 1950, que,
inferiores, tais como diretores assistentes por um tempo, parecia que os estudiosos ti-
em assuntos de instrução ou coordenado- nham substituído uma análise estritamente
res curriculares, porque trabalham com situacional para a então questionável abor-
professores altamente qualificados. Quan- dagem de traços. A visão de que os líderes
do os líderes são promovidos a cargos de já nascem líderes foi rejeitada (Bass, 2008).
nível médio como diretor, eles precisam Os pesquisadores procuravam identificar
de elevados graus de expertise em todas as as características distintivas do cenário ao
três habilidades. Para os administradores qual o sucesso do líder poderia ser atri-
de nível superior em nível de superinten- buído; eles tentavam isolar as propriedades
dência, as habilidades conceituais são par- específicas da situação de liderança que
ticularmente importantes na definição e tiveram relevância para o comportamento
resolução de problemas. e o desempenho do líder (CAMPBELL et
Conforme resumido na Tabela 13.1, al., 1970; LAWLER 3RD, 1985; VECCHIO,
identificamos três conjuntos de caracte- 1993). Conforme demonstrado ao longo
rísticas relacionadas com a eficiência da deste livro e resumido na Tabela 13.2, pos-
liderança. Embora os traços sejam rela- tula-se que algumas variáveis influenciam
tivamente mais estáveis ou fixos que as o comportamento nas escolas e, assim, po-
habilidades, ambos podem ser avaliados, dem ser vistas como determinantes situa-
aprendidos e reforçados por meio de uma cionais da liderança. Surgem alguns exem-
variedade de métodos. Se você for um ad- plos gerais (ver Tab. 13.2):
400 Hoy & Miskel

tes, não conseguem tomar decisões ou pelo


LIDERANÇA menos as protelam, ignoram as responsa-
TRANSFORMACIONAL bilidades, não fornecem nenhum feedback
e permitem que a autoridade permaneça
James MacGregor Burns (1978) geralmente dormente. Em essência, consiste na evi-
recebe o crédito por formular as ideias de tação ou na ausência de liderança e, con-
liderança transacional e transformacional e sequentemente, é a mais passiva e menos
aplicá-las na arena política. Com base nas eficiente. Um exemplo seria um diretor que
ideias de Burns, Bass (1985b) construiu um fica no escritório, envolve o corpo docente
modelo amplo e altamente influente para lí- e alunos o mínimo possível, mostra só a
deres em organizações sociais. O arcabouço mínima preocupação com a aprendizagem
básico da liderança transformacional pode e o desenvolvimento dos alunos ou com as
ser conceituado usando uma escala chama- necessidades dos professores e permite que
da por Bass (1998) de “modelo de liderança as estruturas e os processos escolares conti-
de gama completa”. Conforme mostrado na nuem da mesma forma.
Tabela 13.4, Bass identifica três tipos prin-
cipais de liderança: passiva, transacional e Liderança transacional
transformacional. Embora os três tipos de
liderança tenham permanecido constan- Os líderes transacionais motivam segui-
tes, o número de fatores ou componentes dores por meio da troca de recompensas
que compreende os três tipos tem variado por serviços prestados – por exemplo, um
(AVOLIO; BASS; JUNG, 1999). A formula- diretor fornece novos materiais instrucio-
ção mostrada na Tabela 13.4 usa nove fato- nais ou tempo de planejamento aumenta-
res – um para passiva ou laissez-faire, três do aos professores para que eles consigam
para transacional e cinco para transforma- instituir um novo programa curricular.
cional (BASS; RIGGIO, 2006). Quando os subordinados estão fazendo seu
trabalho em organizações como as escolas,
os líderes transacionais reconhecem o que
Três tipos de liderança os seguidores querem do trabalho e tentam
lhes proporcionar o que eles querem. Eles
Liderança passiva ou laissez-faire
trocam recompensas e promessas de recom-
Bass (1998) caracteriza este tipo de lide- pensas pelo esforço e respondem aos au-
rança como a ausência de transações com tointeresses imediatos dos seguidores. Os
seguidores. Por exemplo, os líderes laissez- líderes transacionais buscam um intercâm-
-faire evitam expressar seus pontos de vista bio econômico vantajoso para satisfazer as
ou tomar medidas em questões importan- necessidades atuais dos seguidores em ter-

TABELA 13.4 Escala de liderança de gama completa

Escala de liderança de gama completa


Liderança laissez-faire Liderança transacional Liderança transformacional
1. Não transacional 2. Liderança subordinada à recompensa 5. Influência idealizada: atribuída ou carisma
ou passiva 3. Gestão por exceção ativa 6. Influência idealizada: comportamento ou
4. Gestão por exceção passiva ações carismáticas.
7. Inspiração motivacional
8. Incentivo intelectual
9. Individualização na consideração
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mos materiais e psicológicos por serviços os interesses coletivos inspiradores e aju-


contratuais prestados pelos subordinados dam os seguidores a alcançar resultados de
(BASS, 1985b). desempenho excepcionalmente altos. A teo-
Como mostrado na Tabela 13.4, postu- ria postula que a liderança transformacio-
la-se que a liderança transacional tenha três nal é composta pelos quatro I: influência
componentes (ANTONAKIS; AVOLIO; SI- idealizada, inspiração motivacional, incen-
VASUBRAMANIAM, 2003). A liderança de tivo intelectual e individualização na consi-
recompensa contingencial refere-se a com- deração (BASS; RIGGIO, 2006).
portamentos de líder que se concentram A influência idealizada constrói a con-
na clarificação dos requisitos do cargo e de fiança e o respeito nos seguidores e fornece a
tarefas e fornecem recompensas dependen- base para a aceitação de mudanças radicais
tes do desempenho eficiente. Em outras pa- e fundamentais nos métodos que indivíduos
lavras, esse subtipo de comportamento de e organizações fazem o seu trabalho. Esses
liderança dá aos seguidores itens que eles líderes mostram convicção sobre questões
querem em troca de itens que os líderes importantes; apresentam elevados padrões
querem (KUHNERT; LEWIS, 1987). A ges- de conduta ética e moral, compartilhando
tão por exceção ativa significa que os líde- riscos com seguidores em definir e atingir
res mantêm altos níveis de vigilância para objetivos; consideram as necessidades dos
garantir que os padrões sejam atendidos. outros antes das suas próprias; e, por fim,
Ou seja, os líderes monitoram ativamente o exercem o poder para direcionar os indiví-
desempenho e tomam medidas corretivas, duos ou grupos à execução de sua missão,
à medida que os problemas tornam-se apa- visão e causa, mas nunca para ganhos pes-
rentes. A gestão por exceção passiva signi- soais. Por isso, os líderes transformacionais
fica que os líderes não conseguem intervir são admirados, respeitados e confiados. Os
até que os problemas se agravarem. Esses seguidores se identificam com seus líde-
líderes esperam para agir depois de erros res e querem imitá-los. Sem essa confiança
serem cometidos ou que outros problemas e esse comprometimento com os líderes, é
de desempenho tenham acontecido e cha- provável que as tentativas de alterar e redi-
mado a sua atenção. recionar a missão da organização fossem re-
Bass e Riggio (2006) afirmam que, na cebidas com extrema resistência (AVOLIO,
maioria das situações, a liderança tran- 1994). A influência idealizada resulta de
sacional pode ser muito eficiente. Em es- líderes transformacionais comportando-se
pecial, comportamentos de recompensa como modelos para seus seguidores.
contingencial fornecem sólidas fundações Em formulações recentes, a influência
para uma liderança eficiente. No entanto, idealizada (ou carisma) foi dividida em dois
observam-se aumentos nos esforços, na efi- subtipos. A influência idealizada atribuída
é a medida na qual os seguidores percebem
ciência e na satisfação no trabalho quando a
no líder qualidades como carismático, con-
liderança transacional é incrementada com
fiante, poderoso e centrado em ideais de
a liderança transformacional.
ordem superior e na ética. Em contraste, a
influência idealizada como comportamen-
Liderança transformacional
to consiste em ações carismáticas de líderes
A liderança transformacional é uma expan- que se concentram em valores, crenças e
são da liderança transacional que vai além um senso de missão (ANTONAKIS; AVO-
de singelos acordos e trocas. Os líderes LIO; SIVASUBRAMANIAM, 2003).
transformacionais são proativos, elevam os A inspiração motivacional altera as
níveis de consciência dos seguidores sobre expectativas dos membros do grupo para
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acreditar que os problemas da organização prestam especial atenção à necessidade


podem ser resolvidos (ATWATER; BASS, que cada indivíduo tem de se realizar e
1994). Também desempenha um papel evoluir. O propósito da consideração indi-
central no desenvolvimento de uma visão vidualizada é determinar as necessidades
atraente que orienta o desenvolvimento de e os pontos fortes dos outros (ATWATER;
objetivos organizacionais e procedimentos BASS, 1994). Usando esse conhecimento e
operacionais (AVOLIO, 1994). A inspiração agindo como mentores, os líderes transfor-
motivacional vem principalmente de com- macionais ajudam seguidores e colegas a
portamentos de líder que fornecem signifi- se desenvolver para níveis sucessivamente
cado e desafio para os seguidores. Líderes mais altos de potencial e a assumir a res-
transformacionais energizam as pessoas, ponsabilidade por seu próprio desenvolvi-
projetando um futuro atraente e otimista, mento (AVOLIO, 1994). A criação de novas
enfatizando objetivos ambiciosos, criando oportunidades de aprendizagem em um
visões idealizadas para a organização e clima favorável, reconhecendo e aceitando
comunicando claramente aos seguidores as diferenças individuais em necessidades e
que a visão é atingível. Assim, espírito de valores, usando a comunicação bidirecional
equipe, entusiasmo, otimismo, comprome- e interagindo com os outros de uma forma
timento com os objetivos e uma visão com- personalizada são comportamentos neces-
partilhada surgem e se aglutinam no gru- sários para alcançar a consideração indivi-
po de trabalho ou na organização (BASS; dualizada. O líder adepto da consideração
AVOLIO, 1994). individualizada ouve de modo ativo e efi-
O incentivo intelectual aborda o pro- ciente.
blema da criatividade (ATWATER; BASS, Os líderes exibem todos os aspectos da
1994). Os líderes transformacionais estimu- escala de liderança mostrada na Tabela 13.4.
lam seguidores a serem inovadores e cria- Um líder de alto desempenho raramen-
tivos, questionando suposições, tradições te exibe comportamentos laissez-faire, mas
e crenças antigas; reenquadrando proble- mostra níveis sucessivamente mais altos de
mas; e abordando situações antigas de no- gestão por exceção ativa, gestão por exce-
vas maneiras. Os líderes transformacionais ção passiva e recompensa contingencial e,
desafiam os seguidores a pensar de forma com mais frequência, demonstra compor-
criativa, projetar novos procedimentos e tamentos transformacionais. Em contraste,
programas e resolver problemas difíceis; os líderes de baixo desempenho tendem
fomentam a desaprendizagem organiza- a exibir comportamentos laissez-faire com
cional e descartam a fixação em velhas mais frequência e comportamentos trans-
rotinas; e evitam criticar publicamente os formacionais com menos frequência (BASS;
erros de membros individuais (BASS; AVO- RIGGIO, 2006).
LIO, 1994). Os líderes insistem no constante A maioria dos estudos de pesquisa
e aberto escrutínio de tudo e na completa que medem os fatores primordiais e tes-
receptividade para a mudança (AVOLIO, tam a teoria da liderança transformacional
1994). Por sua vez, seguidores estimulam tem utilizado o questionário de liderança
seus líderes a reconsiderar suas próprias multifatorial (MLQ, do inglês multifactor
perspectivas e premissas. Nada é bom de- leadership questionnaire). As primeiras ver-
mais, fixo demais, político demais ou buro- sões do MLQ foram severamente criticadas
crático demais que não possa ser contesta- (SASHKIN; BURKE, 1990). Desde a sua
do, alterado ou descartado (AVOLIO, 1999). introdução, o conteúdo do MLQ mudou e
A individualização na consideração foi aprimorado para aumentar os itens que
significa que os líderes transformacionais descrevem os comportamentos de líder ob-
Administração Educacional 403

serváveis. Uma avaliação recente do MLQ próprio e alheio. Os seguidores tornam-se


verificou apoio para o modelo de nove fato- líderes; os líderes tornam-se agentes de mu-
res mostrado na Tabela 13.4 (ANTONAKIS; dança e, por fim, transformam a organiza-
AVOLIO; SIVASUBRAMANIAM, 2003). ção.
A fonte da liderança transformacional
está nos valores pessoais e nas crenças dos
Teoria e pesquisa sobre liderança líderes. Expressando seus padrões pessoais,
transformacional os líderes transformacionais são capazes de
unir seguidores e ao mesmo tempo mudar
Bass (1998) e Avolio (1999) afirmam que a
seus objetivos e crenças no intuito de pro-
liderança transacional constitui a base de
duzir níveis de desempenho mais altos do
um sistema de liderança sustentável. Por
que se imaginava possível (KUHNERT;
exemplo, se os líderes cumprem suas mui-
LEWIS, 1987). Com efeito, Thomas J. Ser-
tas transações com os seguidores, ao longo
giovanni (1994) argumenta que o âmago
do tempo as pessoas começam a confiar em
da conversa sobre liderança consiste em
seus líderes. É esse nível mais alto de con-
concepções, valores e ideias. House (1988)
fiança e identificação que os líderes trans-
ainda mantém que a liderança transforma-
formacionais usam como base para atingir
cional depende que os líderes expressem
o desempenho exemplar. A liderança trans-
com eficiência sua necessidade de poder,
formacional não substitui a liderança tran-
usando metáforas e outras imagens para
sacional, mas aumenta ou expande seus representar exemplos de mudança e resul-
efeitos sobre a motivação, a satisfação e o tados socialmente desejáveis.
desempenho dos seguidores. Portanto, es- Da mesma forma, Bass (1985b, 1998)
ses tipos de liderança podem ser represen- observa que essa liderança transformacio-
tados como pontos na mesma escala de li- nal é vista quando os líderes: estimulam
derança, conforme mostrado na Tabela 13.4. os outros a ver os seus trabalhos sob novas
No entanto, a liderança transforma- perspectivas; geram consciência sobre a
cional vai bem além da troca de incentivos missão ou a visão da organização; alçam os
para o desempenho desejado (BENNIS; colegas e seguidores a níveis mais elevados
NANUS, 1985; HOWELL; FROST, 1989; de capacidade e potencial; e os motivam
HOWELL; AVOLIO, 1993). Os líderes trans- a olhar além de seus próprios interesses e
formacionais constroem comprometimento abraçar aqueles que beneficiarão o grupo.
com os objetivos da organização e capaci- Os líderes transformacionais definem me-
tam os seguidores para alcançar esses ob- tas mais desafiadoras e normalmente atin-
jetivos (YUKL, 2010; GEIJSEL et al., 2003). gem desempenhos mais elevados do que os
Como ilustrado nas descrições dos quatro I, líderes transacionais.
espera-se que os líderes transformacionais Em uma avaliação global da teoria,
definam a necessidade de mudança, criem Yukl (1999) conclui que a liderança trans-
novas visões e mostrem comprometimento formacional parece fazer contribuições im-
com essas visões, concentrem-se em metas portantes para a explicação dos processos
de longo prazo, inspirem os seguidores a e resultados de liderança. Em particular,
transcender seus próprios interesses para baseia-se em importantes aspectos simbó-
perseguir objetivos de ordem superior, al- licos e consiste em mais do que apenas os
terem a organização para acomodar sua vi- aspectos técnicos e interpessoais da gestão
são em vez de trabalhar na rotina existente eficiente. Tem a ver com os significados e
e orientem os seguidores a assumir maior com as ações, e os líderes fazem significa-
responsabilidade pelo desenvolvimento dos. Contudo, Yukl afirma que é necessária
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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