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PARA QUE SERVE O DIREITO NUMA SOCIEDADE INJUSTA, DESIGUAL E OPRESSORA?

Arménio da Roda: Mestre em Direito e Doutorando em Direito pela UNIVERSIDADE


FEDERAL DA BAHIA e UERJ-Brasil

Para muitos, o Direito é o mundo fantasiado de respostas utópicas de todos


problemas existentes na sociedade, ou seja, o Direito é campo imaginário que elimina
todas as injustiças sociais como; o desemprego, que extirpa o crime, que corrige as
desigualdades sociais e econômicas, que garante ao pobre o direito à assistência social,
educação, saúde, que por sua vez, garante ao negro as mesmas oportunidades que o
branco, o Direito é idealizado como arma que erradica a violência doméstica e que faz
a mulher sujeito de direito igual ao homem. Ou seja, o Direito é o instrumento para a
liberdade e igualdade de todos cidadãos inseridos na sociedade.

Para outros, o Direito serve para legitimar as injustiças, de manter o pobre ainda
pobre, de tornar criminoso sempre criminoso, de garantir aos ricos o direito de oprimir
aos pobres, de proteger os interesses das grandes empresas, de legitimar o capitalismo
para devastar e mercantilizar natureza para fins da burguesia, o Direito transforma o
homem em mercadoria, para atender as exigências econômicas do mercado, o Direito
serve para proteger o político corrupto, dos crimes públicos, o Direito, garante a classe
política, o direito de saquear os impostos dos cidadãos, ademais o Direito serve para
legitimar os privilégios políticos, serve ainda para condenar o ladrão de galinha, o
consumidor de maconha a pena perpétua, serve justamente para autorizar a morte
dos civis, transformando-os em traficantes perigosos. Enfim, o Direito serve para
proteger bandidos e sacrificar os interesses do cidadão do bem.

Diante deste antagonismo aludido, a questão ecoa de forma mais ampla ainda. Para
que serve mesmo o Direito? Não temos respostas acabadas para a questão
apresentada, deixando a todos, o livre direito de contribuir com as repostas segundo a
subjetividade de cada um, enquanto sujeitos inscritos em mundos de vida diferentes.

Antes de formular a resposta, talvez seja necessário questionar o seguinte: quem cria o
Direito? claro que muitos responderia, O parlamento ou Congresso com certeza.
Será!...
Ainda que de forma atrevida e no campo da minha subjetividade compreensiva sobre
o mundo, farei seguintes observações :Sempre nos foi ensinado que a lei, é o resultado
da vontade geral do povo, ela determina o contrato social assumidos por todos
cidadãos, isso é o que os doutrinadores políticos e jurídicos nos ensinam nas
academias. E o preocupante disso, é que aceitamos estas verdades sem uma margem
crítica desses argumentos.

O Direito sempre foi e continua sendo criado pela elite dominante, influenciado pelo
poder economicamente mais forte, isto é, pelos senhores feudais, os burgueses,
nobreza, os reis, os príncipes, os senhores da classe alta, hodiernamente pelos
detentores das grandes empresas, proprietários das multinacionais e por todo aparato
que goza de poder econômico, financeiro e social, pois, são os mesmos que dominam
o campo das leis para o seu benefício, apenas mudam de nome, e mantem-se os
mesmos sujeitos ao longo da história. É para este que serve o Direito.

O povo, o cidadão, o contribuinte de imposto, o trabalhador, o proletariado, é o mero


destinatários das leis formuladas pelos senhores detentores do poder. O povo, tem o
papel social de cumprir as leis e ser moralmente correto. A estrutura de poderes dita
as regras de quem é o destinatário das leis e quem é o criador das leis ou das regras
sociais. Portanto, a distribuição de poderes na sociedade, representa a estrutura
lógica de como o Direito opera, em benefício das categorias dominantes e que oprime
os mais fracos na relação.

O pobre que ganha pouco, é quem paga uma soma de imposto além da sua
capacidade tributária, o político que cria danos econômicos sociais gravíssimos à
sociedade, pela corrupção, é quem recebe prêmios ou medidas preventivas brandas.
O pobre, apodrece na cadeia sob prisão preventiva, enquanto o político, goza de fórum
privilegiado e o maconheiro da favela é o criminoso que pega pena perpétua e de
morte, porque o pobre coitado não pode pagar fiança.

O Direito, opera no campo da lógica estruturada por classe e poder, portanto, menos
direitos existem para os menos favorecidos ou para os mais fracos. Enfim, precisamos
reformular certas formas de atuação deste senhor chamado Direito, embora
teoricamente ele é convidado para mediar e refrear estes problemas sociais, e
contudo, acaba fazendo o papel de meretriz, que apenas atende os interesses dos
poderosos, dos ricos, que melhor pagam. os parlamentares simbolizam a meretriz,
que só olha para o bom pagador, que atende os seus interesses.

Não que o Direito seja maculado ou tenha pretensões erradas, ele é apropriado pelos
senhores detentores de poderes para acrescer as desigualdades e aumentar as
injustiças. O Congresso ou Parlamento não legisla em favor do povo, sim do seu
patrão.

Direito é mundo preto e branco, Direito é um quadro que aceita o pincel de todas as
cores, Direito é arma para dizimar, Direito também é um escudo de defesa, Direito foi
instrumento para conquistas dos direitos civis e políticos, Direito foi o aguilhão usado
para assassinar, oprimir dominar e matar, Direito comprou a liberdade, igualdade e
emancipou o homem conquistando a dignidade humana. O direito aceitou o
neoliberalismo, a escravatura, Direito continua legitimando as desigualdades. Direito
aceitou o feminismo, direito combateu a mulher, Direito emancipa o homem, Direito
domina e coisifica o homem, transformando-o em objeto para alcançar determinado
fins.

Direito é um universo controlado e manipulado pelas ideologias, fragmentada por


classes, cor, poder. Direito é um mundo de tensão, ondes os mais fortes ganham a
vitória, em nome da forjada democracia, usada para ocultar os verdadeiros interesses
clamados pelos socialmente vulneráveis. O Direito, parece uma espada de dois gumes,
que corta em ambos os lados, porém, ela é uma espada mais afiada em um lado, que o
outro lado, ou seja, o poderoso, pode afia-la da melhor forma, para aniquilar o seu
adversário.

O lugar importante para criticar e observar a racionalidade do Direito, é o seu berço, o


seu âmago, ou lugar da sua formação, o Parlamento, que constitui e modifica o
aparato legal, todavia em atuais democracias nefastas, corrompidas, o Parlamento é o
ente desconfiável para legitimar as pretensões do povo, porque é o mesmo que pede o
voto no período eleitoral e mesmo que trai o povo, vendendo o voto para o lobista e
que quer ver a previdência e os direitos de trabalhos arruinado, para continuar
ganhando e acumulando o lucro e defasado de qualquer compromisso social
comunitário .

Poucos políticos dão ouvido aos choros e anseio do cidadão, morador de rua, o
desempregado, os acamados nos hospitais, por outro lado, o aparelho político, acolhe
todas propostas do empresariado nacional, com sutil fundamento de ajudar crescer
economia. A questão é, que economia é esta? que não se volta para o oprimido, o
sem teto, o marginalizado pelo capitalismo, que se apodera do mundo jurídico para
dominar e escravizar.

Vamos pensar o Direito pensando direito, para resignificá-lo e reestrutura-lo, afim de


responder os problemas sociais para equilíbrio da sociedade e bem-estar da
comunidade. O Direito não pode dar com a mão direita e tirar com a esquerda.

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