Você está na página 1de 2

ELE350 - QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA, AGOSTO DE 2020 1

Análise de Indicadores de Continuidade de Serviço


em Distribuidoras de Áreas Metropolitanas
Ana P. Zanatta

Resumo—Indicadores individuais e coletivos de continuidade tempo de duração da interrupção (i) da unidade consumidora
do fornecimento de energia elétrica são bastante utilizados na considerada ou do ponto de conexão, no perı́odo de apuração.
avaliação da qualidade de sistemas de distribuição. Este trabalho A frequência de interrupção individual por unidade consum-
traz uma análise desses indicadores em duas distribuidoras e
aprofunda o estudo em uma delas, indicando que esta pode idora ou por ponto de conexão (F IC), expressa em número
apresentar problemas de continuidade devido à filosofia de de interrupções, é cálculada como [2]:
proteção adotada em um de seus alimentadores, em particular.
Palavras-Chave—qualidade, continuidade, confiabilidade, indi- F IC = n (2)
cador, interrupção.
O DIC e o F IC caracterizam os indicadores individuais
de continuidade. Por sua vez, o DEC e o F EC são os
I. I NTRODUÇ ÃO indicadores coletivos de continuidade. A duração equivalente
de interrupção por unidade consumidora (DEC) é dada por
CONFIABILIDADE de um sistema de distribuição de
A energia elétrica está relacionada ao tempo que os con-
sumidores finais ficam sem fornecimento [1]. No Brasil, a
[2]:
n
X Ca (i) · t(i)
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) avalia as DEC = (3)
Cc
distribuidoras quanto à qualidade do serviço e do produto i=1
oferecidos aos consumidores. As interrupções de curta e Onde Ca (i) representa os consumidores afetados pela
longa duração figuram entre as principais reclamações dos interrupção i e Cc o número total de unidades consumidoras
consumidores [1]. faturadas do conjunto no perı́odo de apuração. A frequência
O objetivo deste trabalho é analisar indicadores de confi- equivalente de interrupção por unidade consumidora é obtida
abilidade em distribuidoras de energia elétrica especı́ficas e através de [2]:
produzir suposições acerca de suas possı́veis causas. Buscar
n
respostas a este problema é importante, uma vez que altos X Ca (i)
F EC = (4)
indicadores acarretam altas multas às distribuidoras, de acordo Cc
i=1
com os limites estabelecidos pela ANEEL. A metodologia ado-
tada é aplicada, exploratória, quantitativa, dedutiva e envolve Os indicadores coletivos de continuidade deverão ser apu-
um estudo de caso. rados considerando as interrupções de longa duração. No
entanto, para apuração dos indicadores individuais de con-
tinuidade, deverão ser consideradas todas as interrupções [2].
II. I NDICADORES DE C ONTINUIDADE
Entre os indicadores de continuidade de serviço de III. D ESCRIÇ ÃO DO P ROBLEMA
distribuição de energia elétrica aplicados pela ANEEL para
Analisando, por cinco anos, dados provenientes de duas
avaliar a qualidade do serviço e o desempenho do sistema
empresas distribidoras de energia elétrica, aqui denominadas
elétrico, estão o DIC, o F IC, o DEC e o F EC. A duração
apenas como “A” e “B”, que atendem áreas metropolitanas
de interrupção individual por unidade consumidora ou por
através de redes aéreas, sabe-se que os indicadores DEC e
ponto de conexão (DIC), expressa em horas, é determinada
F EC têm os valores caracterizados pelas Fig. 1 e Fig. 2,
por [2]:
respectivamente.
n
X Considerando que os indicadores anuais máximos exigidos
DIC = t(i) (1) por lei sejam DEC = 30 horas e F EC = 30 interrupções,
i=1 percebe-se que a distribuidora “A” tomou providências, ao
Onde i é o ı́ndice de interrupções da unidade consumidora longo destes cinco anos, para que a duração e a frequência
ou por ponto de conexão no perı́odo de apuração, n é o de interrupções atendessem às exigências da ANEEL, apre-
número de interrupções da unidade consumidora ou por ponto sentando DEC = 30 horas e F EC = 29 interrupções, em
de conexão considerado no perı́odo de apuração e t(i) é o 2012, o último perı́odo analisado neste trabalho.
Por outro lado, a empresa “B”, embora tenha diminuı́do
A. P. Zanatta é pesquisadora no Grupo de Modelagem e Análise de seus indicadores levemente ao longo desses cinco anos, ainda
Sistemas de Potência (GMASP) e estudante de doutorado no Programa de apresenta DEC e F EC muito acima dos exigidos pela
Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE) da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, RS, Brasil (e-mail: ANEEL, o que sugere que essa pequena melhoria se deve
zanatta@ufrgs.br). a casualidades e não a investimentos técnicos e comerciais.
ELE350 - QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA, AGOSTO DE 2020 2

TABELA I
I NTERRUPÇ ÕES NOS ALIMENTADORES “1” E “2”.

Alimentador 1 Alimentador 2
Transformadores Transformadores
Duração (h) Duração (h)
interrompidos interrompidos
Evento 1: V, X 1 Evento 4: W, Y, Z 3
Evento 2: V 2 Evento 5: Y, Z 1
Evento 3: X 1 Evento 6: W 5
Evento 7: Y 2
Evento 8: Z 3

os indicadores anuais seriam DEC = 29, 1 horas por ano


Fig. 1. DEC, em horas, para as empresas distribuidoras “A” e “B”.
e F EC = 24 interrupções por ano. Portanto, os indicadores
coletivos do alimentador “1” atenderiam aos limites estabele-
cidos pela ANEEL (DEC = 30 horas por ano e F EC = 30
interrupções por ano).
Em contrapartida, para o alimentador “2”, os indicadores
coletivos são DEC = 7, 6 horas mensais e F EC = 2, 3
interrupções mensais. Realizando a mesma extrapolação para
este caso, obtem-se DEC = 90, 7 horas anuais e F EC = 28
interrupções anuais. Dessa maneira, se entende que o principal
problema observado no alimentador “2” não está diretamente
relacionado à frequência de interrupções, mas à duração delas.

TABELA II
DIC E F IC DOS CONSUMIDORES DE CADA TRANSFORMADOR .
Fig. 2. FEC para as empresas distribuidoras A e B. Transformador
V X W Y Z
DIC (horas) 3 2 8 6 7
FIC 2 2 2 3 3
IV. R ESULTADOS E D ISCUSS ÃO
Em busca de uma melhor compreensão das causas dos Por fim, os indicadores individuais para os consumidores
indicadores coletivos estarem tão elevados para a distribuidora conectados a cada um dos transformadores do alimentador
“B”, fez-se um recorte da situação, em um determinado “2” foram avaliados. Nota-se, por meio da Tabela II, que as
mês, em uma de suas subestações, com dois alimentadores, durações das interrupções nos consumidores conectados aos
conforme mostra a Fig. 3. No mês em análise, ocorreram as transformadores “W”, “Y” e “Z” são consideravelmente mais
interrupções descritas na Tabela I. crı́ticas que as durações nos consumidores conectados aos
transformadores “V” e “X”.

V. C ONCLUS ÃO
Embora detalhes sobre a proteção do sistema de distribuição
não sejam conhecidos, pode-se inferir que os circuitos laterais
“W”, “Y” e “Z” do alimentador “2” estejam protegidos por
elos fusı́veis e o tempo de substituição deles impacta nos
indicadores de continuidade. Além disso, provavelmente, o
religador de distribuição do alimentador “2” não opera com
atuação rápida, o que poderia, durante faltas temporárias,
salvar os elos fusı́veis que protegem os transformadores. Final-
mente, levanta-se a hipótese de que os dispositivos de proteção
dos ramais secundários e do ramal principal do alimentador
“2” não estejam bem coordenados entre si ou que não estejam
bem coordenados com o disjuntor da subestação.

Fig. 3. Subestação e alimentadores pertencentes à distribuidora B. R EFER ÊNCIAS


[1] R. Dugan, S. Santoso, M. McGranaghan, and H. Beaty, Electrical Power
A partir da aplicação de (3) e (4), respectivamente, DEC = Systems Quality, 2nd ed. Nova York, NY: McGraw-Hill Educationl,
2003.
2, 4 horas por mês e F EC = 2 interrupções por mês para o [2] ANEEL, “Procedimentos de distribuição de energia elétrica no sistema
alimentador “1”. Supondo que os outros onze meses do ano elétrico nacional: Módulo 8 - qualidade da energia elétrica,” Revisão 10,
se comportem de maneira semelhante ao mês em questão, Janeiro 2018.

Você também pode gostar