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http://dx.doi.org/10.1590/ 0102-6445047-077/99
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Weber provavelmente concordaria com a observação de Jean-Jacques Rousseau
(1973 [1762], p. 31): “o forte nunca é suficientemente forte para ser sempre o
senhor, senão transformando força em direito e a obediência em dever”.
[…] com certeza não mostra o que se “deve” fazer, mas sim
o que se pode fazer de modo consistente com determinados
meios em relação a uma meta prevista. Acima de tudo, torna
conhecido o que em geral realmente se “quer”.
Legalidade e legitimidade
O núcleo central do qual o Estado haure a obrigatoriedade
das normas reside na crença na legalidade, precisamente,
no reconhecimento da retidão da norma jurídica. Acredita-
-se no caráter correto de uma norma jurídica na medida
em que ela obedece a uma forma previamente determina-
da de elaboração. Uma lei tem de ser aprovada pelo Poder
Legislativo para, posteriormente, submeter-se à sanção ou
veto pelo chefe do Poder Executivo. Uma norma jurídica
somente é validada se se sujeitar aos trâmites procedimen-
tais. Aí, sim, encontra uma possibilidade relevante de ser
legitimada pelos membros da associação política. Trata-se
de uma legitimidade da forma, do procedimento de elabo-
ração da norma jurídica e não de seu conteúdo.
Portanto, “a forma de legitimidade hoje mais corrente
é a crença na legalidade, a submissão a estatutos estabele-
cidos pelo procedimento habitual e formalmente correto”
54 (Weber, 2000, p. 23). A vigência legítima de uma ordem
pode ocorrer em virtude “de um estatuto existente em cuja
legalidade se acredita”. Nota-se como “esta legalidade [...]
pode ser considerada legítima” (Weber, 2000, p. 22; grifos
meus). Weber recebeu críticas ao sustentar que a crença
na legitimidade da legalidade de um preceito jurídico é a
forma mais corrente de legitimidade. Carl Schmitt (1998,
p. 14) comenta, em Legalität und Legitimität, que a afirma-
ção de Weber seria inconsistente: “Aqui tanto a legalida-
de quanto a legitimidade são reconduzidas ao conceito
comum de legitimidade, significando a legalidade exata-
mente o oposto da legitimidade”2. Schmitt postula a neces-
sidade de se distinguir inequivocamente legitimidade de
legalidade e alerta sobre o perigo de redução da legitimi-
dade à legalidade. A crença na forma vazia de um estatuto
Poder e dominação
Para Weber (1999, p. 33), “poder significa toda probabilida-
de de impor a própria vontade numa relação social, mesmo
contra resistências, seja qual for o fundamento dessa proba-
bilidade”. Não se trata de uma substância ou um elemento
metafísico, mas de uma relação social. O poder é uma espécie
de relação social onipresente na sociedade. Tal tipo de rela-
ção não se encontra apenas na política, nas empresas, nos
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Para Weber, a sistematização é um produto tardio da civilização ocidental, e,
portanto, desconhecida do direito primitivo. O autor a define como “inter-rela-
cionamento de todas as disposições jurídicas obtidas mediante a análise, de tal
modo que formem entre si um sistema de regras logicamente claro, internamente
consistente e, sobretudo, em princípio sem lacunas” (Weber, 1999, p. 12).
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