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Caderno de Resumos

do VII Seminário Temático


Filosofia Ética e Política
em Giorgio Agamben

Ésio Francisco Salvetti


Paulo César Carbonari
Iltomar Siviero
Organizadores

Ana Lucia Kapczynski


Bruno Silveira Rigon
Danielly Borguezan
Fernanda Vecchi Pegorini
Gustavo Jugend
Janilce Silva Praseres
Jerônimo Milone
José André da Costa
Maria Benedita de Paula
Silva Polomanei
Mariane Gehlen Perin
Ricardo Machado
Rudimar Barea
Terezinha de F. J. Scziminski
Walter Marquezan Augusto
Ésio Francisco Salvetti
Iltomar Siviero
Paulo Cesar Carbonari
Organizadores

Caderno de resumos do VII Seminário Temático


Filosofia Ética e Política em Giorgio Agamben

IFIBE
Passo Fundo
2015
2
© 2015 Autores

Edição: Editora IFIBE


Capa: Diego Ecker
Projeto gráfico: Diego Ecker
Diagramação e normatização: Wanduir R. Sausen

Editora IFIBE
Rua Senador Pinheiro, 350
99070-220 – Passo Fundo – RS
Fone: (54) 3045-3277
E-mail: editora@ifibe.edu.br
Site: www.ifibe.edu.br/editora

Comitê Científico
Me. Diego Ecker
Dr. José André da Costa
Dndo. Valdevir Both

CIP – Catalogação na Publicação

C122 Caderno de resumos do VII Seminário Temático Filosofia Ética e


Política em Giorgio Agamben / organização de Ésio Francisco
Salvetti, Iltomar Siviero e Paulo César Carbonari. – Passo
Fundo : IFIBE, 2015.
32 p. ; 14x 21 cm.

ISBN: 978-85-8259-034-8 (e-book)

1. Agamben, Giorgio, 1942-. 2. Filosofia política. 3. Ética. I.


Salvetti, Ésio Francisco, org. II. Siviero, Iltomar, org. III.
Carbonari, Paulo César, org. IV. Título.

CDU: 1:32(048.3)

Catalogação: Bibliotecária Marina Miranda Fagundes - CRB 10/2173

2015
Proibida reprodução total ou parcial nos termos da lei.
Instituto Superior de Filosofia Berthier – Editora IFIBE

3
SUMÁRIO

Apresentação.................................................................................... 6
Programa – Conferências e Painéis........................................... 8
O culto à aparência: diálogos sobre ética, política
e estética com a filosofia de Agamben....................................... 9
Ana Lucia Kapczynski

Os presídios brasileiros podem ser considerados campos?


um diálogo com Giorgio Agamben............................................ 11
Bruno Silveira Rigon

A administratibilidade jurídica da vida: desdobramentos


biopolíticos da modernidade....................................................... 13
Danielly Borguezan

Nota sobre a polêmica entre Schmitt e Benjamin:


violência e ação humana............................................................... 15
Fernanda Vecchi Pegorini

A condenação da linguagem........................................................ 16
Gustavo Jugend

A fenomenologia da vida: apontamentos sobre afetividade


e não-intencionalidade: para a fundamentação de
uma ética no pensamento de Michel Henry............................ 18
Janilce Silva Praseres

Poesia e ética em Giorgio Agamben........................................... 19


Jerônimo Milone

Ócio forçado e a “vida nua”: nas veredas de


Giorgio Agamben........................................................................... 21
José André da Costa
4
Do rabisco a autonomia do cidadão........................................... 22
Maria Benedita de Paula, Silva Polomanei

De Michel Foucault a Giorgio Agamben:


os desdobramentos dos conceitos de
biopoder e biopolítica.................................................................... 24
Mariane Gehlen Perin

Tempo e experiência no pensamento de


Giorgio Agamben........................................................................... 26
Ricardo Machado

Diálogos com Giorgio Agamben: por uma


responsabilidade social com o Outro........................................ 28
Rudimar Barea

O paradoxo da lei e a efetividade da justiça............................. 30


Terezinha de Fátima Juraczky Scziminski

Resistência pelo direito: uma leitura a partir


de Giorgio Agamben...................................................................... 31
Walter Marquezan Augusto

5
APRESENTAÇÃO

O VII Seminário Temático – Filosofia Ética e Política em


Giorgio Agamben é uma realização do Instituto Superior de
Filosofia Berthier (IFIBE). Ocorreu nos dias 21 a 23 de agosto
de 2013. O Seminário teve como objetivo refletir temáticas fi-
losóficas atuais com base no pensamento do filósofo italiano
Giorgio Agamben.
Agamben nasceu em 1942 na Itália e formou-se em
Direito no ano de 1965 na Universitá di Roma. Frequentou
os seminários de Martin Heidegger de 1966 e 1968. Foi res-
ponsável pela edição, em italiano, das obras de Walter Ben-
jamin. Foi professor visitante da New York University, antes
de decidir a não mais entrar nos Estados Unidos em protesto
contra a política de segurança do governo Bush. A produ-
ção de Agamben concentra-se na relação entre a filosofia, a
literatura, a poesia e, fundamentalmente, a política. Através
da continuação das pesquisas iniciadas por Walter Benjamin,
Michel Foucault e Hannah Arendt, retoma as categorias da
biopolítica e dos campos de concentração, resultando em
contribuição significativa na compreensão e problematização
do desenvolvimento da filosofia política atual. O aprofunda-
mento de suas teses sobre os Campos de concentração, homo
sacer e a vida nua se tornou indispensável no momento em
que testemunhamos acontecimentos como os da prisão de
Guantánamo, na qual supostos terroristas árabes são marti-
rizados, e do elevado extermínio da população palestina na
Faixa de Gaza. Neste contexto, o homo sacer é apresentado
como um ser no limiar da animalidade, uma criatura des-
provida de significado e suscetível ao descarte.
A publicação do primeiro volume do projeto Homo sacer,
tornou o filósofo italiano conhecido mundialmente. O livro foi

6
traduzido para vários idiomas e discutido em todo o mundo.
Contribuiu para transformar e redefinir os parâmetros da fi-
losofia política contemporânea, o que se evidencia através dos
novos conceitos introduzidos por Agamben e que hoje são im-
prescindíveis nas discussões da filosofia política. Isso se deve
especialmente à forma inovadora pela qual vincula os traba-
lhos de Arendt e Foucault à teoria de soberania de Schmitt.
O presente Caderno de Resumos reúne comunicações
apresentadas por acadêmicos, professores e pesquisadores
no VII Seminário Temático – Filosofia, Ética e Política em
Giorgio Agamben. A Comissão Organizadora agradece a to-
dos que se dispuseram a promover o debate sobre o pensa-
mento de Giorgio Agamben e sua contribuição para a filoso-
fia atual, com ênfase nas dimensões ética e política.

Dndo. Ésio Francisco Salvetti


P/ Comissão Organizadora

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Programa – Conferências e Painéis

21/08 – Quarta-feira
19:00h Abertura
19:30h Conferência – Altíssima Pobreza e as Noções de
Direito e Lei
Dr. Sandro Chignola (Università di Padova - Itália)
22/08 – Quinta-feira
13:30h Comunicações
15:00h Painel: Direito, Política e Filosofia
Sandro Luiz Bazzanella e Evandro Pontel (PUC-RS)
Márcia Junges (Unisinos) e Eduardo Tergolina Teixeira
(Unisinos)
19:30h Conferência: Ética, Política e Economia em Giorgio
Agamben
Dr Selvino Assmann (UFSC)
23/08 – Sexta-feira
13:30 Comunicações
15:00h Painel: Diálogo entre Foucault, Arendt e Agamben
Dr. Selvino Assmann (UFSC); Ddo. Iltomar Siviero
(IFIBE) e Ddo. Valdevir Both (IFIBE)
19:30h Conferência: Direitos Humanos e Estado de Exceção
Ddo. Gustavo Oliveira de Lima Pereira (PUC-RS)

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O culto à aparência: diálogos sobre ética, política e
estética com a filosofia de Agamben

Ana Lucia Kapczynski*

O presente artigo discute os princípios éticos, políticos e es-


téticos que estruturam o sistema capitalista e são profana-
dos por meio do culto à aparência, encobrindo a essência
das coisas e do próprio ser humano. O capitalismo se coloca
como algo sagrado ou como religião e se recria por meio do
fetichismo e suas ideologias. Na concepção de Agamben a
luta pela ética é a luta pela liberdade, para poder experi-
mentar a própria existência como possibilidade ou potência
de ser e de não ser, implicando numa luta política capaz de
desmascarar o ilusório instituído ao conceito de democracia
que encobre práticas totalitárias. Profanar significa libertar-
-se do sagrado, da asfixia consumista, do cartesiano eu so-
berano impessoal, obscuro e pré-individual, que separa o eu
de seu corpo. O sistema vigente utiliza a imagem para des-
pertar desejos consumistas, mobilizando sentimentos como
o amor para vender produtos. Tudo gira em torno da ima-
gem, de padrões de beleza pré-estabelecidos, ferindo direi-
tos humanos fundamentais. É preciso profanar as próprias
religiões contaminadas pelos ideais capitalistas. O caráter
religioso conservado pelas potências econômicas e políticas
torna-se a porta de uma nova concepção de felicidade, cujo
jogo de profanação está em decadência. Diante do sentimento
de fracasso busca-se recuperar a originalidade perdida por

* Graduada em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade de Passo


Fundo (2013) e bacharelado em Filosofia - Instituto Superior de Filosofia
Berthier (2010). Especialista em Educação em Direitos Humanos e Educação
para as Relações Étnico-raciais pelo Instituto Superior de Filosofia Berthier
(2012). Mestranda em Educação pela Universidade de Passo Fundo.
9
meio do retorno ao sagrado e dos ritos da nova religião que
transmuta a monarquia celeste pela monarquia terrena.

Palavras-chave: Profanação. Aparência. Capitalismo. Ser


humano.

10
Os presídios brasileiros podem ser considerados
campos? um diálogo com Giorgio Agamben

Bruno Silveira Rigon*

A presente pesquisa se propõe a pensar a situação dos pre-


sídios no Brasil em diálogo com a obra do filósofo italiano
Giorgio Agamben, especificamente em relação ao concei-
to de campo. A partir da ideia de campo como o espaço de
exceção - que se abre quando a exceção começa a se tornar
a regra - em que a vida nua é capturada pelo poder sobera-
no, sendo excluída através da sua própria inclusão e incluída
por meio da sua exclusão, havendo a absoluta indistinção
entre fato e direito, legalidade e ilegalidade, vida nua e nor-
ma; buscar-se-á problematizar se determinadas prisões bra-
sileiras podem ser consideradas como zonas de exceção, ou
seja, como campos. Este trabalho não visa realizar qualquer
espécie de comparação entre a condição inumana dos lager
nazistas e dos gulags soviéticos com as prisões brasileiras -
até porque se mostra impossível realizar qualquer tipo pon-
deração entre as injustiças sofridas -, mas sim analisar se a
estrutura jurídico-política dos campos é compatível com a
situação prisional no Brasil e se a condição jurídico-política
dos prisioneiros dos campos de concentração possui alguma
similitude com a dos detentos brasileiros. Tais questionamen-
tos se mostram necessários diante da concepção de Giorgio
Agamben, que nitidamente excluí a possibilidade das peniten-
ciárias configurarem como espaços de exceção, tendo em vis-
ta que estas nascem do direito ordinário - direito carcerário -

* Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais, Especialista em Ciências Pe-


nais e Mestre em Ciências Criminais na Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUCRS).
11
e os campos nascem do estado de exceção. O autor possui
grande influência do pensamento de Michel Foucault, que
concebe a prisão como mecanismo disciplinar. Contudo, a
realidade analisada por Foucault no surgimento da socieda-
de disciplinar era diversa da nossa. A proposta da presente
pesquisa é se distanciar da perspectiva europeia e focar a
atenção na realidade prisional Latino Americana, sobretu-
do brasileira, com base numa análise a partir do realismo
marginal proposto por Eugênio Raúl Zaffaroni.

Palavras-chave: Presídio. Brasil. Campo. Exceção. Agamben.

12
A administratibilidade jurídica da vida:
desdobramentos biopolíticos da modernidade

Danielly Borguezan*

A vida em sua dimensão biológica se tornou o fato político


por excelência na modernidade. Neste sentido, a biopolíti-
ca, é o exercício, ou mesmo a captura do poder sobre a vida.
Este é o posicionamento de pensadores do porte da politólo-
ga alemã Hannah Arendt (1906 - 1975), do filósofo francês
Michel Foucault (1924 - 1984) e, do filósofo italiano Giorgio
Agamben (1942 ...), entre outros pensadores, salvaguardadas
as diferenças teóricas e conceituais de suas reflexões e escri-
tos. O Estado, grande razão político-adminsitrativa e jurí-
dica, que se estabelece na modernidade passa administrar a
vida e a morte dos indivíduos cidadãos. Incide sobre a vida
biológica dos indivíduos uma racionalidade estatística e cal-
culadora que tem por finalidade implementar em toda sua
extensão uma gestão potencializadora da vida, tanto quanto
de estratégias tanatopolíticas de deixar morrer, ou de calcu-
lar os custos e benefícios da extinção da carga biológica dos
corpos da população. Sob tal perspectiva, a biopolítica em
suas manifestações na forma de um biopoder invade, con-
trola, potencializa, normaliza e normatiza todas as esferas de
manifestação da vida em sua biologicidade. Uma destas ma-
nifestações deste biopoder se apresenta na estrutura jurídica
normatizadora da vida em sua totalidade, que se instaura na

* Danielly Borguezan. Advogada, professora de Direito; Mestre do Programa


de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contes-
tado. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências
Humanas – Cnpq; Membro do Grupo de Estudo em Giorgio Agamben
– GEA e bolsista do Programa do Fundo de Apoio à Manutenção e ao
Desenvolvimento da Educação Superior – FUMDES.
13
modernidade. Classificar a vida em fases, determinar para
cada uma delas padrões de comportamento, de amadure-
cimento e responsabilidades jurídicas dos seres humanos
torna-se determinante para a efetividade da gestão admi-
nistrativa, política e jurídica da vida na modernidade. Desta
forma, muito embora sejamos sujeitos de direito (e auferimos
essa condição antes mesmo de nosso nascimento, enquanto
nascituros), para a lei muito mais do que individualizados,
somos “classificados” em critérios objetivos conforme nosso
tempo cronológico nos permite, e é através da lei, de seu ins-
trumento normativo, que assim nos molda, categorizando-
-nos como crianças, adolescentes, jovens, maiores capazes e
idosos. A vida biológica sob essa ótica torna-se o fato politi-
camente decisivo na modernidade e na contemporaneidade,
uma vez que não vivemos unilateralmente, ou seja, despi-
mo-nos como indivíduos e assumimos uma classificação ad-
vinda do Estado, razão pela qual vivemos a margem do que
ele nos permite ou nos autoriza impondo critérios objetivos
ou marcos legais tal qual a idade.

Palavras-chave: Biopolíca. Biopoder. Idade. Critério legal.

14
Nota sobre a polêmica entre Schmitt e Benjamin:
violência e ação humana

Fernanda Vecchi Pegorini*

A relação entre violência e ação humana é fundamental na


polêmica entre Schmitt e Benjamin sobre o estado de exce-
ção em Agamben. Isso porque a disputa entre eles está na
ação política pensada dentro do direito ou fora dele e na me-
dida em que o estado de exceção se relaciona ou não com a
ordem jurídica, em síntese, se há espaço de decisão soberana
ou a sua impossibilidade neste contexto. Então a leitura de
Agamben desta polêmica é o ponto de partida para com-
preender na história da filosofia (e precisamente no perío-
do renascentista), como se dá a relação sociedade/Estado
quando o questionamento dos governos e das leis chegou ao
ponto de sua suspensão. Tem-se um espaço aberto ao pen-
samento e experimentação de novas relações em sociedade
e com isso novas relações do homem com a autoridade, com
o uso do direito e com o outro, num movimento histórico e
contemporâneo a nós.

Palavras-chave: Benjamin. Schmitt. Agamben. Violência.


Ação humana.

* Advogada. Mestre em sociologia pela UFRGS. Acadêmica do curso de ba-


charelado em filosofia do Instituto Superior de Filosofia Berthier.
15
A condenação da linguagem

Gustavo Jugend*

É notória a influência que Giorgio Agamben recebe da li-


teratura de Franz Kafka. Dentre as diversas referências que
o filósofo faz ao escritor, chama-nos atenção aquela presen-
te na obra Idéia da Prosa. No ensaio Idéia da linguagem II,
ao tematizar a máquina judicial kafkiana presente em Na
Colônia Penal, Agamben afirma: “[...] o aparelho de tortura
inventado pelo ex-comandante da colônia é, de facto, a lin-
guagem. [...]. Na lenda, a máquina é, de facto, antes do mais,
instrumento de julgar e punir. Isto quer dizer que também a
linguagem, nesta Terra e para os homens é um instrumento
do mesmo tipo” (AGAMBEN, 1999, p. 113). Revisitando o
conto de Kafka observamos que a execução da máquina se
dá sob a forma de tortura resultando que o sentenciado co-
nheça sua condenação não sob a forma da linguagem, mas
“na própria carne” (KAFKA, 1986, p. 40). A experiência ine-
narrável atinge sua impossibilidade linguística justamente
na conclusão de sua justiça: “Mais nada acontece, o homem
simplesmente começa a decifrar a escrita, faz bico com a boca
como se estivesse escutando. [...]. Mas aí o rastelo o atravessa
de lado a lado e o atira no fosso, onde cai de estalo sobre o
sangue misturado à água e o algodão. A sentença então está
cumprida [...]” (KAFKA, 1986, pp. 48, 49). O problema pos-
to é evidente: se a experiência da máquina-linguagem não
pode ser narrada, o que estaria Agamben propondo ao fazer
tal formulação? Para tentarmos indicar uma resposta para o
problema traremos ao debate a figura de Genius, um duplo

* Graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2012). Mes-


trando da Universidade Federal do Paraná.
16
de nós mesmos que nos impele em direção à linguagem, mas
que, assim como o instrumento de tortura kafkiano, quando
nos encontra grava em nossa pele sua sentença limitando,
assim, nossa vida: “Assim, no momento da morte, a alma
vê seu anjo, que lhe vem ao encontro transfigurado, depen-
dendo da conduta da sua vida, ou numa criatura ainda mais
bela, ou num demônio horrível, que sussurra: “Eu sou tua
Daena, aquela que os teus pensamentos, as tuas palavras e os
teus atos formaram. Com uma inversão vertiginosa, nossa
vida plasma e desenha o arquétipo em cuja imagem fomos
criados” (AGAMBEN, 2007, p. 21). A comunicação propos-
ta tem por objetivo tentar esclarecer as seguintes questões:
Como Agamben fundamenta a linguagem na morte? Por que
a experiência que funda a linguagem não pode ser narrada?
Seria esse o ponto a parte “mais desagradável” (AGAMBEN,
2008, p. 71) que o discurso sobre a ética não teria até então
contemplado?

Palavras-chave: Linguagem. Ética. Sujeito. Kafka.

17
A fenomenologia da vida: apontamentos sobre
afetividade e não-intencionalidade: para a
fundamentação de uma ética no pensamento
de Michel Henry

Janilce Silva Praseres*

Como toda pesquisa, a fenomenologia sugere pressuposições.


Mas, as conjeturas próprias à fenomenologia apresentam um
traço distintivo, pois é visível que na fenomenologia há um
ímpeto de renovação da filosofia. O conhecimento sobre o
conteúdo de uma “nova” fenomenologia, no caso a material
ou da vida, compõe uma relação ímpar no horizonte de uma
fenomenologia contemporânea que expressa à dinâmica que é
gerada em relação a isso. Abrem-se caminhos para estudar a
difusão do pensamento de Michel Henry, convidando assim a
um repensar, novamente, a fenomenologia a partir da existên-
cia. Este trabalho investigará dois pontos fundamentais deste
pensamento: a afetividade e a não-intencionalidade, pretende-
-se assim, ao final do trabalho, ter produzido uma visão geral
sobre o processo que dá fundamentação e estruturação para
uma ética presente no pensamento de Michel Henry.

Palavras-chave: Fenomenologia. Vida. Afetividade. Não-in-


tencionalidade. Ética.

* Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria/RS.


18
Poesia e ética em Giorgio Agamben

Jerônimo Milone*

A relação em que Agamben situa a poesia no seu pensamen-


to faz transparecer o caráter eminentemente ético e políti-
co do fazer poético. Tal advento da eticidade se estabelece
através da assunção da poesia como singular possibilidade de
desvelamento da inoperância. Esta inoperância constitui no
pensamento de Agamben o objetivo fundamental da crítica
na medida em que a crítica esquiva a inoperância da captu-
ra, isto é, da operacionalização. Esta possibilidade de desve-
lamento do inoperável dentro da língua, Agamben conceitua
como experimentum linguae, colocando-o sobre responsabi-
lidade da poesia, mediante a apresentação, que se realiza no
fazer poético, daquela fratura em que se situa a palavra na
tradição ocidental. Nesta revalorização da experiência, em
oposição ao saber técnico, Agamben proporá a quete, cuja
finalidade reside na experiência desta fratura, constituindo
assim, uma experiência da aporia. Veremos então, através
das contribuições de Jacques Derrida em Força de Lei, em
que sentido esta experiência da aporia torna-se condição de
possibilidade para o agir ético. Tais considerações de Der-
rida assomam-se às de Agamben, que entrevê nesta expe-
riência da fratura da língua o desvelamento de toda cinope-
rância sendo esta inoperância, justamente, o motor de toda
operacionalização e tecnicismo bio-político. Analogamente,
também, à concepção do dispositivo foucaultiano como a
relação entre o dito e o não-dito. Agamben, através da reco-
locação do problema significante-significado, sob a perspec-

* Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do


Sul, nesta circunstância bolsista da Capes. Bacharel em Filosofia (PUCRS).
19
tiva, não de questionar um ou outro, mas a própria barrei-
ra entre eles, enunciará uma nova possível compreensão do
mito edipiano a partir de uma leitura esfíngica. Tal leitura
perfaz-se no sentido de demonstrar como Édipo ao significar
o enigma, desvendando a Esfinge, ocasionaria a redução do
significante ao significado, provocando aquilo que Agamben
chama de “canhestra remoção” da relação problemática en-
tre filosofia e poesia. Agamben, então, faz ressurgir o caráter
do enigma como inoperância imanente da linguagem, capaz
de ser formulada e exposta pela poesia, possibilitando uma
abertura e um atravessamento do significado e das lógicas
de poder estabelecidas pela operacionalização do enigma e
da poesia, numa constante redução da língua ao discurso.
A comunicação proposta versará sobre os conceitos acima
citados, com o objetivo de apresentar a função ética e políti-
ca que Agamben delega à poesia enquanto possibilidade de
não-operacionalização da língua.

Palavras-chave: Experimentum linguae. Poesia. Ética. Inope-


rosidade.

20
Ócio forçado e a “vida nua”: nas veredas de
Giorgio Agamben

José André da Costa*

Esta comunicação tem como objetivo fazer uma análise da


atual economia e mostrar a lógica perversa do “Estado de
Exceção” apresentado pelo pensador G. Agamben como o
agente que em nome da “soberania” suspende o direito para
estabelecer a ordem. Pretendemos colocar o dedo na ferida
do atual sistema de produção/exceção. As perguntas de fun-
do são: Por que, depois que inventaram as máquinas, as pes-
soas têm que trabalhar mais do que trabalhavam antes e fi-
cam cada vez mais ameaçados seus direitos humanos? E por
que muitas pessoas são “dispensadas da cidadania” e ficam
desprotegidas pelo Estado de direto? Com estas perguntas
queremos trazer à tona questões latentes no ser humano, às
quais nem o socialismo real nem o capitalismo conseguiram
responder. Isso para mostrar que a concorrência frenética
gera uma grave deterioração do ser humano e que a revolu-
ção da microeletrônica representa um perigo para a socieda-
de por estar aliada a um sistema de produção/exclusão que
tende a criar cada vez mais “vidas desperdiçadas”.

Palavras-chave: Ócio. Estado. Trabalho. Capitalismo. Vida


nua. Direito. Ética.

* Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do


Sul, Brasil(2011). Diretor Geral do Instituto Superior de Filosofia Berthier.
21
Do rabisco a autonomia do cidadão

Maria Benedita de Paula


Silva Polomanei*

O tema central desse trabalho é a autonomia do cidadão. Ob-


jetiva discutir a formação dessa autonomia numa visão ética
e política. Pretende desenvolver uma reflexão em torno das
possibilidades de aquisição dessa autonomia. Apropria-se do
conceito kantiano de autonomia, que apresenta autonomia
como a discussão pública ou privada usando a razão. Com
o apoio de teóricos como Agamben (2010), Hannah Arendt
(2003), Benjamin (2012), Aristóteles (367 a.C.), Soares (2010)
e Cox (2007) se realizou um estudo buscando compreender
a formação (não linear) do caminho para se chegar ao co-
nhecimento. Acredita-se que instrumentos como o desenho
e o lúdico servirão de suporte para subsidiar a defesa de que
a criança desenhando, brincando e construindo as primei-
ras letras está apresentando a potência imanente por meio
de atos. Nesse sentido ato e potência serão pontos centrais
na análise para se perceber a formação do sujeito autônomo.
Dessa forma o processo de ensino deve por meio de ques-
tionamentos, compreender que o desenvolvimento precede
a aprendizagem. O processo pedagógico necessário não é o
castrador, o condicionante, pois exemplos de uma educação
que se apresenta soberana têm demonstrado a formação de
sujeitos omissos que caminham para uma vida nua. Socie-
dade, escola e família são instituições igualmente responsá-
veis pela educação de qualidade. E, quando se fala em edu-
cação de qualidade, que não se compreenda uma educação
* Graduada em Pedagogia pela Fundação Faculdade Municipal de Filosofia
Ciências e Letras de União da Vitória (1985) e Mestre Em Educação pela
Universidade do Sul de Santa Catarina (2001).
22
mercadológica que subsidia a cultura do descartável. Mas
uma educação que reflita a mediação entre ato e potência,
exija uma concepção de infância que respeite o seu desen-
volvimento pleno e capaz de uma cidadania calcada na ética
e na política.

Palavras-chave: Cidadão. Autonomia. Formação. Educação.

23
De Michel Foucault a Giorgio Agamben:
os desdobramentos dos conceitos de biopoder
e biopolítica

Mariane Gehlen Perin*

O presente trabalho trata sobre os conceitos de biopoder e


de biopolítica, tanto na obra de Michel Foucault (1926-1984),
como na de Giorgio Agamben (1942-). Tais conceitos tem
origem nos estudos de Foucault sobre o conceito de poder,
isto é, na analítica do poder de Foucault, a qual é uma gran-
de empreitada de pesquisas e estudos realizados pelo filósofo
francês, a qual tem em vistas fazer uma análise do conceito
de poder, ao invés de, por exemplo, elaborar uma teoria geral
e sistemática do poder. Nesta analítica do poder de Foucault,
o conceito de poder passa por várias transformações, vai to-
mando enfoques distintos, principalmente no decorrer dos
anos 70. Na filosofia de Foucault a questão do poder disci-
plinar se apresentará como absolutamente central de 1973 a
1975, já a discussão sobre a governabilidade será destacada
a partir de 1978 e, quanto ao biopoder, sua problematização
recairá no período de 1976-1977. Enfim, no decorrer deste
trabalho, veremos mais detalhadamente, de que modo, os
estudos de Foucault sobre o conceito de poder, fazem com
que tal conceito vá se desdobrando até chegar à formulação
dos conceitos de biopoder e biopolítica. Além do que, vere-
mos que, os conceitos de biopoder e biopolítica não possuem
um sentido unívoco na obra foucaultiana, isto é, o sentido
exato desses conceitos varia de acordo com períodos especí-
ficos dos estudos de Foucault. Contudo, de um modo geral,

* Graduanda no curso de Bacharelado em Filosofia pela Universidade Fe-


deral de Santa Maria - (UFSM).
24
poderemos dizer que na obra foucaultiana, os conceitos de
biopoder e de biopolítica referem-se ao poder que se exerce
sobre a vida, o qual pode visar o corpo molar de uma popu-
lação ou, além disso, também os micro-corpos individuais.
Posteriormente, veremos que, na contemporaneidade alguns
autores retomam os conceitos em questão, contudo, é o fi-
lósofo italiano, Giorgio Agamben, que faz isto de maneira
mais expressiva. Ora, Agamben retoma os conceitos de bi-
poder e de biopolítica a partir de Foucault, contudo, desen-
volve tais conceitos de maneira peculiar, de modo que, os
conceitos em questão adquirem em sua obra, nuances pró-
prias. Agamben inspira-se em Foucault, mas também nas re-
flexões de Hannah Arendt, Carl Schmitt e Walter Benjamin,
para pensar a biopolítica/biopoder, assim, trata destes temas
no entrecruzamento de quatro conceitos que ele diz serem
diretivos da política ocidental, a saber, poder soberano, vida
nua (homo sacer), estado de exceção e campo de concentra-
ção. Como já foi dito anteriormente, na obra de Agamben, os
conceitos de biopolítica e biopoder adquirem características
próprias, porém, tais conceitos preservam o sentido geral de
poder sobre a vida. Finalmente, veremos que, tanto Foucault
como Agamben, cada um a seu modo, apontam uma possí-
vel resistência ao poder sobre a vida, que podemos chamar
de poder da vida.

Palavras-chave: Michel Foucault. Giorgio Agamben. Biopo-


der. Biopolítica.

25
Tempo e experiência no pensamento de
Giorgio Agamben

Ricardo Machado*

Se em Foucault o biopolítico era um problema eminente-


mente moderno, Agamben encontrará já na Grécia antiga
as distinções entre bios e zoé. Foucault interessou-se em to-
mar a biopolítica como componente organizador da gestão
das populações na modernidade. É a partir dela que a vida
teria sido apropriada como problema político, produzindo o
direito de fazer viver e deixar morrer em oposição ao direito
de deixar viver e fazer morrer - fruto de uma concepção de
governo marcada pela soberania. É sob esta nova biopolítica
que a modernidade produziria a morte em nome da vida e o
racismo de estado. Foucault esteve interessado em circunscre-
ver este limiar entre a soberania e uma genealogia do poder
disciplinar e biopolítica em fins do século XVIII e ao longo
do século XIX. No entanto, nas últimas páginas de seu curso
“Em Defesa da Sociedade”, já anunciava: “o nazismo como o
desenvolvimento até o paradoxismo dos mecanismos biopo-
líticos criados no século XVIII. Foi através desta breve refe-
rência de Foucault ao nazismo e ao totalitarismo do século
XX que Agamben encontrou a possibilidade pensar o limite
da experiência biopolítica nos campos de concentração. Mas
foi com Benjamin, em suas Teses sobre história que encontra
a referência necessária para um trabalho que enfrentasse o
estado de exceção e suas implicações entre história e a políti-
ca. É em Benjamin que encontra a noção de que o estado de
* Graduado em História pela Universidade Regional de Blumenau (2003),
Mestre em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina
(2006) e Doutorando em História Cultural da Universidade Federal de
Santa Catarina. Professor na Universidade Federal da Fronteira Sul.
26
exceção é a regra que desembocaria em todas as definições
de vida nua e vida indigna de ser vivida do Homo Sacer e
com isso, as implicações da biopolítica que ultrapassam os
limites temporais apresentados por Foucault. Mas há nesta
tese de Benjamin algo que vai além do tema do estado de ex-
ceção – mas que constitui-se no problema de construir uma
outra concepção de História. Em nosso entendimento, tra-
ta-se de um tema fundamental em sua obra que merece ser
melhor compreendido e problematizado. Trata-se da neces-
sidade de refletir sobre o próprio tempo e suas articulações
com a História, seu impacto na memória e nas possibilida-
des de testemunho. Mesmo não se considerando historiador,
estes temas acompanharam toda a obra de Agamben e são a
sustentação teórica para seus ousados conceitos políticos. É
por isso, que precisamos tomar estas reflexões e relacioná-las
com a própria escrita da história e os usos do passado na
atualidade. Sua crítica a noção de tempo, instaura outra pos-
sibilidade de historicidade na medida que leva em conta a
noção de experiência e o conceito de anacronismo para pen-
sar “o que é o contemporâneo” e a “comunidade que vem”.
A partir destas encruzilhadas que o autor apresenta ao oficio
do historiador que esta comunicação pretende abordar e en-
frentar conceitualmente.

Palavras-chave: Tempo. Experiência. Agamben.

27
Diálogos com Giorgio Agamben: por uma
responsabilidade social com o Outro

Rudimar Barea*

Viver a vida como fruição de viver. Dar um sentido a nossa


existência através do nosso corpo relacionado ao rosto do
Outro. Essa é uma das preocupações que pretendemos expor
juntamente com um diálogo entre os filósofos contemporâ-
neos Emmanuel Levinas e Giorgio Agamben. O trabalho
que comunicaremos tomara como metodologia inicial uma
apresentação do conceito de corporeidade por Emmanuel
Levinas com base na obra Totalidade e Infinito, na sequência
traremos alguns apontamentos do filósofo Giorgio Agamben
especialmente no que se refere à vida nua do Homo Sacer,
ao final deixaremos algumas questões que nos inquietam
para continuar a pesquisa e a reflexão. Neste trabalho o lei-
tor será convidado a refletir sob a luz da filosofia o tema da
corporeidade e as suas possíveis relações; o que fazemos para
agradar o nosso corpo e o corpo do outro? Quais os dilemas
que encontramos em nossa morada? Como nos libertar do
nosso egoísmo? O trabalho que o meu corpo possibilita fazer
garante-me a posse? O que possuo, o que faço com o que
possuo e o que ainda desejo possuir? Essas questões estão
implícitas no trabalho, como pano de fundo, são questões
que cercam a nossa existência fenomenologicamente. A lei-
tura provocará para que reflitamos algumas implicações do
nosso corpo perante o Outro. Pensar a corporeidade como
responsabilidade social com o Outro. Sentir a existência do

* Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).


Bacharel em Filosofia pelo Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE)
em 2012.
28
rosto do outro a me tocar e a me movimentar a partir dele e
por ele. Será possível identificar um grito, um chamado de
responsabilidade social, ética e política frente aos problemas
que se colocam no dia a dia frente ao nosso corpo e que nos
desafiam a sair da nossa morada para acolher o Outro. Este
trabalho será oportuno também para problematizar alguns
posicionamentos filosóficos contemporâneo, mas especial-
mente os posicionamentos de Emmanuel Levinas e Giorgio
Agamben.

Palavras-chave: Corporeidade. Vida nua. Corporeidade.


Viver de...

29
O paradoxo da lei e a efetividade da justiça

Terezinha de Fátima Juraczky Scziminski*

Este estudo de caso reside na decisão do Tribunal Regional


Eleitoral, que cassou o diploma do prefeito do município de
Major Vieira/SC, por prática de captação ilícita de sufrágio.
Parte significativa da população questiona a decisão judicial,
afirmando desconhecer a lei que anulou os 2.542 votos, so-
bretudo, o fato de rejeitarem uma decisão judicial, baseada
na interpretação legalista da lei que toma como fato deter-
minante da decisão judicial a denúncia de dois eleitores que
abriram mão de seu direito inalienável ao voto vendendo-o.
Com o aporte teórico de Giorgio Agamben, pretende-se estu-
dar o paradoxo que reside no fundamento da lei e a violência
da positivação do ordenamento jurídico e a pretensão e cren-
ça na efetividade da justiça, advindo do estado de exceção.

Palavras-chave: Lei. Justiça. Violência.

* Mestranda em Desenvolvimento Regional- UnC - 2014 Canoinhas -.


Mestranda em Educação – Uniplac. Graduada em: Direito, (2008). Peda-
gogia (2002) e Ciências da Religião (2014).
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Resistência pelo direito: uma leitura a partir de
Giorgio Agamben

Walter Marquezan Augusto*

O presente resumo apresenta uma intenção de pesquisa na


área de Filosofia do Direito e visa discutir uma possível leitu-
ra do pensamento de Giorgio Agamben, tomando por objeto
o que o autor chama por “Resistência”. Justifico a escolha do
tema na inquietação que me causa a separação feita pelos
juristas contemporâneos entre Direito, Política e exercício de
poder. Admitindo a tese de Agamben sobre o Poder Sobera-
no e o Estado de Exceção como premissa desta pesquisa –
na qual ele revela o aprisionamento do Estado de Direito no
Estado de Exceção –, então, o paradigma dos discursos de
Resistência deve mudar. A partir daquela tese, todo discurso
de Resistência só será tido como tal se visar romper com o
Estado de Direito, leia-se “desativar o Direito” ou a cons-
trução de um “estado de exceção efetivo”, sob pena de ser
subsumido; em suma, deve buscar a correspondência com a
(figura kafkiana enigmática da) criação de um Direito “não
mais praticado, mas apenas estudado” (AGAMBEN, 2004,
p. 97). A partir disso pergunta-se: como podemos identifi-
car o que se manifesta como Resistência? É possível fazer
tal identificação? E, se é possível, como pode a Resistência
(tentar) “desativar” o Direito? Segundo Agamben, o critério
de distinção entre as forças que se digladiam no Estado de
Exceção consiste na solução que essas forças têm com o Di-
reito (2004, p. 96); elas podem tanto instituir quanto conser-
var, a qualquer custo, o vínculo que une violência e Direito;
* Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Mestre em Teoria, História e Filosofia do Direito pela Universidade Federal
de Santa Catarina (PPGD-UFSC).
31
ou podem depor esse vínculo. O decisivo é que essa distin-
ção somente é possível fazer a posteriori, quando se possa
identificar o deslinde das ações em relação ao Direito. Essa
identificação, portanto, é necessariamente histórica. Agam-
ben frisa que “verdadeiramente política é apenas aquela ação
que corta o nexo entre violência e direito” (2004, p. 133). A
abertura de espaço, que deriva desse corte, se dá em prol de
um “Direito puro”, um novo uso do Direito “após a desa-
tivação do dispositivo que, no estado de exceção, o ligava
à vida” (AGAMBEN, 2004, p. 133). Para a nossa hipótese,
é essa ação que deve ser considerada Resistência. Conside-
rando os resultados de Agamben, talvez possamos afirmar
que também haja um duplo movimento de Resistência: 1º)
um “movimento” de desvelamento e manutenção da hete-
rogeneidade de auctoritas e potestas, que permita o Direi-
to funcionar em sua ficção, sem que haja maior afetação da
vida no jurídico; e/ou 2º) uma ação política de desativação
do Direito, que aja contra esta estrutura. Nesse sentido, se
invertermos a ordem dos conceitos, podemos afirmar que a
ação política, que objetiva a deposição do vínculo que une
violência e Direito, poderá ser considerada como ato de “re-
sistência” pelo Direito quando visar a possibilidade de um
novo uso, em contraposição à manutenção da possibilidade
do exercício da violência (pura, força-de-lei) em nome de um
Direito que vige apenas formalmente.

Palavras-chave: Resistência. Direito. Estado de Exceção.


Ação política.

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