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Trans/Fo rm/Ação, S ã o Pau l o

9/ 1 0 : 1- 7, 1986/87.

A CIÊNCIA DO OLHAR ATENTO

Lucrécia D'ALÉSSIO FERRARA*

RESUMO: Que é ciência? A distinção entre conhecimento cientffico e ciência como coisa viva, ciência da ex­
periência. A dimensão cientffica das categorias de Peirce: dedução, abdução, indução. Pragmatismo peirceano.
A indução como elemento de ligação entre a hipótese explicativa abdutiva apenas provável e a geração de uma
lei dedutiva, necessária porque normativa para hábitos de conduta.

UNITERMOS: Ciência; conhecimento cientffico; indução; dedução; a b dução; exp e riência; lei; expe­
rime n tação.

" A c i ê n c i a c o n s i ste e m rea l m e nte d i ste n d e r o a rco n a d i reção da


v e rd a d e , c o m ate n ç ã o n o o l h a r, co m e n e rg i a n o braço" ( 3. C P .
1.235)

1. CIÊNCIA E CONHECI MENTO CIENTíFICO

Onde está o prazer do conhecimento? No reconhecimento da tradição!? No domínio


de uma classificação!? Na descoberta do sujeito que conhece!? Na revelação do objeto
que envolve o homem!? Na união epifânica entre o ser que conhece e o objeto conheci­
do!? Uma simples questão: que nos ensina a ciência?
Fazer ciência não consiste em saber o que é o científico sacramentado pelo rigor de
um patrimônio cultural rigorosamente definido e defendido, mas fazer ciência consiste
em desenvolver uma atitude perante o objeto. Não é uma questão de saber, é, antes,
uma questão de comportamento; planejar a ciência que queremos: " ciência como coisa
viva e não como uma mera definição abstrata" (3. CP. 1.232). Esta é a noção básica que
norteia as noções de Peirce sobre A Classificação das Ciências, uma resposta simples
para questões complexas, mas que coloca para a prática desse fazer a necessidade de
descobrir e de incorporar um outro valor. A lógica da linguagem de Peirce vem impreg­
nada por esse valor e a pesquisa da linguagem supõe descobrir e/ou criar o que significa
esta "coisa viva" que não pode estar, senão, na experiência da própria linguagem-(No­
tas).

* P rofesso ra Titu l a r do P r o g ra m a de Pós- G r a d u aç ã o em C o m u n i cação e S e m i ótica da P U C - S P e


P rofesso ra A d j u nta d o D e p a rt a m ento de Projeto d a FA U - U S P - S P .
2

2. CIÊNCIA E DEDUÇÃO

A pesquisa como coisa viva é produção desautorizada e nova de informação. Em que


consistem desautomatização e informação nova?
A informação possui duas válvulas reguladoras: de um lado, a adaptação informacio­
nal, de outro, a inovação, a informação nova. A adaptação supõe uma redução ou tradu­
ção de informações de um repertório mais alto, para outro mais baixo, tendo em vista
um aumento quantitativo de receptores da mensagem. Por outro lado, a inovação ou in­
formação nova é, na prática, um quase signo novo, uma quase novidade, porque não é
possível operar com a informação totalmente nova, seria incompreensível. Entretanto,
para ser nova, a informação deve reverter a rotina, deve ser, no mínimo, desautomati­
zante.
Enquanto produção de conhecimento e a partir da relação sujeito-objeto, a ciência
pode partir do rigor de sistemas logicamente dedutivos, sólidos para sempre e, em tudo,
corretos e verdadeiros, ou seja, sobre aquela relação sujeito-objeto constrói um super­
objeto que suplanta o fato, o fenômeno existente para seduzir-se pela lógica de uma lei
explicativa. A ciência converte-se numa reflexão, quando não, em comentário sobre a
própria lei, sobre a teoria que a estimula na relação de conhecimento: seu estímulo não
está no objeto de conhecimento, mas na lógica da lei, uma linguagem fechada, um dis­
curso de poder a que tem acesso um grupo cada vez mais restrito de pessoas. Ciência
distante da "experiência", da "coisa viva" únicas capazes de ensinar (3. CP. 5.360), ou se­
ja, produzir uma idéia nova capaz de reverter a rotina de normas, crenças e hábitos de
conduta automatizada.
Ora, produção de informação nova capaz de reverter hábitos de conduta tem como
contrapartida certa "crise", certa "dúvida" (3. CP. 5.370, 37 1, 37·2,373) que se projeta so­
bre o argumento dedutivo dando-lhe certo indeterminismo como elemento básico da
produção de conhecimento; por outro lado, é essa mesma crise que, paradoxalmente,
põe em evidência a resistência da lei e o caráter inteligente e preditivo de suas generali­
zações.
Entretanto, para ousar correr esse risco é necessário que a dedução se aproxime da
experiência, da coisa viva e sofra o impacto da abdução; a lei, a terceiridade encontra seu
elemento corretivo na abdução sugerida pela experiência, na possibilidade da primeiri­
dade e, ambas, dedução e abdução, constituem dois dos pilares do raciocínio que sus­
tentam o pragmatismo peirceano.

3. DEDUÇÃO E ABDUÇÃO

Para a abdução, ciência e experiência são, mutuamente, reflexo e refração: a ciência


descobre a experiência, mas esta sustenta aquela. Cabe ao raciocínio apreender o modo e
a lógica dessa correlação que produz "a ciência como coisa viva", uma possível "per­
gunta feita à natureza" (3. CP. 5. 168), ou seja, apreensão não simplesmente descritiva,
mas necessariamente interpretativa e, daí, inserida na realidade. Ciência como uma per­
gunta feita à natureza supõe a recuperação do universo como um conjunto de possibili­
dades reais, porém, parciais; supõe uma postura anti-tradicional, incerta, mais para fla­
grar uma possibilidade inusitada do que para acertar.
Entretanto, essa postura não é idealista ou ingenuamente anarquista pois, embora ul­
trapasse o rigor indiscutível das posturas dedutivas, supõe a necessidade de que um cor­
po de conceitos gerais seja, dinamicamente, reconceituado dentro de um amplo corpo de
experiências que estabelece, entre as idéias, um novo sistema de relações. Cria-se uma
fresta entre o conhecimento acumulado e teoricamente fixado e a intrigante postura que
estabelece, para o cientista, uma relação interrogativa com a experiência. A combinação
entre os dois aspectos, dedução e abdução, nos leva à informação nova, ou seja, "asso-

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ciar o que nunca, antes, pensáramos associar" (3. CP. 5. 187), aí, a descoberta de hipóte­
ses explicativas é proporcional à capacidade de ver a realidade como um estímulo que
aguça a curiosidade.
Este é o caminho da descoberta. Sem receitas,sem fórmulas, estrategicamente demo­
lidor: cada pesquisa constrói sua determinada ciência. No edifício argumentativo da
pragmática peirceana, dedução e abdução se espreitam, porque se a lei é corrigida pela
experiência, a descoberta vai da surpresa do fato à esperança da lei. Reflexão e refração
mútuas que nos levam da experiência para a construção de teorias e leis que orientam
nossos hábitos de conduta e nossas crenças: da primeira para a terceiridade,da abdução
para a dedução.

4. DEDUÇÃO, A BDUÇÃO,INDUÇÃO

Entre a primeira e a terceiridade, entre a abdução e a dedução está a secundidade, a


indução que constitui o outro pilar daquele edifício pragmático: entre a experiência e a
teoria surge a pesquisa controlada dos fatos, a etapa onde aquela pergunta feita à natu­
reza se concretiza.
Para a ciência como coisa viva, por assim dizer, não há ciência, mas as pesquisas que
se alteram, alternam, convergem e divergem de modo constante. Só entendendo a ciên­
cia como processo em crise, na eterna metamorfose do seu fazer é que questionamos
a teoria, escapamos do seu dogmatismo e estamos em condições de integrar os resulta­
dos e dimensionar as conseqüências práticas da investigação.
O controle indutivo experimental transforma os fatos reais em dados científicos real­
çando o espaço da pesquisa que permite transformar a lei em processo submisso a
constantes metamorfoses, porém com capacidade pragmática de orientar nossa constru­
ção no mundo.
De certa forma, a surpresa diante do fato que leva à geração de hipóteses explicativas
abdutivas na expectativa da geração de uma lei, coloca a indução como etapa necessária
de controle daquela experiência e daquela hipótese; para a indução entendida tradicio­
nalmente, o confronto entre abdução e dedução, entre fato e lei, leva a uma inversão na
ordem dos fatores: em lugar de procurar fatos que comprovem uma teoria, parte deles
para, experimental e controladamente,criar experimentos que possam comprovar a legi­
timidade de uma hipótese explicativa, até então, apenas possível. É próprio da abdução
produzir idéias, à indução cabe testar idéias e falar sobre elas, à dedução cabe generalizá­
las e abstratamente transformá-Ias em teorias ou leis. Com o acréscimo indutivo,ao lado
da abdução, a pragmática peirceana tem condições de produzir, dedutivamente, uma lei
capaz de orientar a conduta humana e de fazer com que a ciência encontre uma razão de
ser que supere as classificações abstratas.
Entre a primeira e a terceiridade: a secundidade,o território do aqui e do agora da ex­
periência realmente vivida em impactos de ação e reação. Território de aprendizagem
fértil e constante, mundo dos fenômenos realmente existentes que só adquirem identi­
dade e representação pela variação da própria experiência que, por sua vez, só se con­
cretiza pela sua mediação sígnica: o índice,o sinal de um fato realmente existente.

5. INDUÇÃO E íNDICE

Essa identidade de um fenômeno pela variação entre fenômenos supõe, entre eles,
um confronto, uma ação e reação comparável pela mediação de seus índices digitaliza­
dos. Logo, para a indução experimental, a descoberta desses índices é fator da própria
concreção experimental dos fatos submetidos a controle. Esses índices podem ser desco­
bertos se realmente existentes e individuais, porém os índices de um fenômeno podem

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ser uma simples referência dele,portanto,um índice degenerado.


No processo indutivo transforma-se o fato em dado científico na medida em que se
identifica, no fenômeno, os sinais controláveis, ou seja, aqueles que atuam como suges­
tão para a consecução de uma lei. Explicando: na ciência como coisa viva,procura-se,no
fenômeno, o índice que identifica uma experiência porque permite a comparação entre
ela e suas correlatas e, mais do que isso,procura-se entre esses índices uma sugestão de
lei, uma predição capaz de transformar uma hipótese apenas possível em algo, não só
provável como,sobretudo,necessário.
Na indução, procura-se nos fenômenos certos índices degenerados,ou melhor,certos
índices experimentáveis de índices fenomênicos: certos índices de índices,metalingüísti­
cos que sugerem uma investigação controlada a partir da combinação imprevista realiza­
da entre eles - "associar o que nunca pensáramos antes associar".
Esta associação imprevista que é germe da investigação procura, nos fenômenos, as
pistas, os sinais,os índices de certo modo de pesquisar,caminhos associativos: índices de
índices, sinais de sinais. A partir desse ponto de vista, é possível entender e admitir que
cada investigação gera sua própria estratégia metodológica, seu próprio processo expe­
rimentai: "Crer que se pode fazer progredir uma pesquisa científica aplicando-lhe um
método-tipo porque deu bons resultados em outra pesquisa da qual era conatural é uma
estranha cegueira que pouco tem a ver com a ciência"( 1,p. 1 18). A excelência do méto­
do se resolve em saber pesquisar,em saber fazer.
A identificação dos fenômenos a partir da comparação entre seus índices salienta a
seleção praticada pela atenção entre as manifestações da experiência,o modo de coliga­
ção entre aquelas manifestaçôes e a observação da ação e reação provocada pelo encon­
tro entre experiências tensionadas. Atenção, comparação, coligação e observação são os
elementos que nutrem a secundidade científica, a indução e preparam o caminho da in­
ferência: "Os três elementos essenciais da inferência são,então coligação,observação e o
juízo do que observamos entre elementos coligados conforme uma regra" (3. CP. 2.444).

6. INDUÇÃO E REPERTÓRIO

A indução supõe certa concessão necessária à fragmentação, não é recuperação total


da experiência, mas abre nela uma fratura pela qual se introduz o juízo perceptivo e a
própria historicidade do sujeito através de associações e inferências entre juízos. Por aí, o
fenômeno presente, o aqui e agora da experiência se cola ao tempo passado, à história, à
interpretação de um repertório.
Repertório é a memória onde indivíduos,famílias,grupos,povos ou civilizações guar­
dam as interpretações ou juízos perceptivos: uma extensão diádica da experiência ou de
sentimentos da experiência. Entre a experiência de hoje e o juízo perceptivo da experiên­
cia de ontem, registra-se uma tensão entre ações no tempo,uma tensão entre o presente
e o passado.*
Ontem e hoje se espelham mutuamente e permite à experiência de hoje se identificar
no passado, porque lá encontra um padrão, um signo melhor elaborado dela mesma:
uma aprendizagem que decorre da experiência sedimentada no repertório visto, então,
como memória da experiência, uma aprendizagem que se equilibra entre a secundidade
da ação, o sentimento dessa ação e a terceiridade alcançada pela inteligibilidade da expe­
riência capaz de gerar um padrão de conduta, um hábito decorrente de ações e reações
sedimentadas.
"O hábito conjugado com a motivação e as condições tem a ação com seu interpre­
tante energético; mas a ação não pode ser um interpretante lógico pois lhe falta generali­
dade. O conceito que é interpretante lógico é ainda imperfeito. Partilha da natureza da

* E m b o ra s o b o utro e n fo q u e , I b r i ( 2) já estu d a a q u estão o tem po n o â m b i to d a terce i ri d a d e .

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defi n ição verba l e como t a l é i n fe r i o r a o h á bito, n a m e s m a m e d i d a e m q u e a d efi nição


ve rba l é i nfe ri o r à defi n ição rea l. O h á bito d e l i be ra d a m ente co n stitu ído, a u to - a n a l i sa d o­
auto - a n a l i s a d o p o rq u e fo i fo r m a d o co m a a j u d a d a a n á l i se d o s e x e rcíci os e p o r e l a a l i ­
menta d o - , é a d efi n ição viva, o ve r d a d e i r o e d e r r a d e i r o i nte r p reta nte l óg i co " (3. C P. 5 .4 91
- trad ução co l h i d a em 4.p. 1 54).
De ce rta fo r m a , u m repertó r i o é a i n te l i g i b i l i d a d e d a ação a t ravés d o h á bito, mas n ã o é
pro p r i a m ente u m a n o r m a o u l e i i n fe r i d a de m o d o d e d u tivo, l óg i co e c o n t r o l a do. É o
co nju nto de sentime ntos p rovoca d o s p e l o passado q u e s u bsti t u i o u r e p resenta a q u e l a
experiência e i n fl u e ncia decisiva m e n te n ossas reações p resentes. O s h á bitos d e u m re ­
pe rtó r i o c u l t u r a l e i n fo r m a ci o n a l co n tém , à m a n e i ra d o s j u ízos p e rceptivos, ce rta g e n era ­
l i d a d e d e d utiva, certa terce i ridade, em b o ra d eg e n e r a d a :
"A categ o ri a d e tercei ri d a d e e x i be d u a s d i ferentes m a n e i ra s d e d e g e n e rescê n c i a , o n d e
a i rred u tíve l i déia d e p l u ra l i d a d e d i sti n güi n d o - se d a d u a l i d a d e está rea l m e n te p rese n te,
m a s em co n d ições m u ti l a d a s. O p ri m e i ro g ra u d e d e g e n e rescê n c i a e n contra -se e m u m a
p l u ra l i d a d e i r raci o n a l q u e, exi sti n d o em contradição à fo r m a d e s u a rep rese ntação, é u m a
m e ra com p l icação d a d u a l i d a de. Temos u m p reciso exem p l o d i sto n a i d é i a d e s u b d i v i sã o.
C o m o p u ra secu n d i da d e , os correl atos em reação são si n g u l a res e, co m o ta i s, i n d i v i d u a is,
não capa zes de uma o utra divisão. C o n seqüe n te m e nte, a c o n c e pção d e s u b d i v i sã o , d i ­
ze n d o - se re peti d a d i coto m i a , ce rta m e nte e n v o l ve u m a espéc i e d e te rce i ri d a d e, m a s é
u m a tercei r i d a d e co nce b i d a co m o co n s i sti n d o em u m a se g u n d a secu n d i d a de. A terce i r i ­
d a d e m a i s d e g e n e ra d a é a q u e l a q u e co n ce b e m o s c o m o si m p l e s q u a l i d a d e d e senti m e nto
o u p r i m e i ri d a d e , rep resenta n d o - se a s i mesma co m o rep resentação. (3. CP .5.70, 71).
E ssa te rce i r i d a d e tem s u a co r rosão a po i a d a e m c e rta si n g u l a ri d a d e d o p l u ra l , ce rta
pa rticu l a ri d a d e g e r a l q u e perm ite a p ree n d e r, n u m i n te r p reta nte l ó g ico, s u a ra i z e n e rg éti ­
ca, no coletivo, os a l ice rces do i n d ivíd u o o u , n o h á b ito, s e u s eve n t u a i s d esvi o s possíveis,
em o u tras p a l a v ras, visl u m b r a r, n o g e ra l , o fa n ta s m a d a e x p e r i ê n c i a que poderá d eses­
trutu rá - l o.
E nt reta nto, é o repertó rio i nfo rmacio n a l q u e n o s perm ite v e r/ i nte r p reta r a e x p e r i ê n c i a
e enco nt r a r, n o d i a g ra m a d o s n o ssos j u ízos perce pti vos, u m a possi b i l i d a d e d e re p rese n ­
tação i n d u tiva d a expe riência o u d a s h i póteses a b d u tivas a pe n a s p rováveis:
"O s ig n o - pensa m e nto rep resenta o o bj eto n a perspecti va p o r que o p e n s a ; esta
" pe rspectiva" é o o bjeto i m ediato d a c o n sciê ncia no p e n sa m e nto, ou o p ró p ri o pensa ­
m e nto, o u , p e l o m e n os, o pe nsa m ento pensa n d o n o pe n sa m e nto s u b seqüente a q u e m
serve de s i g n o " (3. C P.5.286 - tra d u ção c o l h i d a e m 4.p.80 ).
É da i nfo rmação a rm a z e n a d a no re pert ó r i o q u e d e p e n d e a a ssociação d e i d é i a s q u e
n o s l eva à estratég i a d a pesq u i s a , res p o nsável po r a q u e l a a ssociação i n u s ita d a q u e co n ­
d u z à d esco b e rta d o n ovo, à cri ativi d a d e i n d u tiva, o u tra fo r m a d e e n te n d e r a q u estão d a
m etod o l o g i a e m c i ê n cia. S e s o b a s u rp resa a b d u tiva, a i n d u ção d e i x a d e s e r s i m p l es
co m p rova ção de teo r i a s, sob o i m pa cto r e p e rto ri a l , a i n d uç ã o p o d e s e r u m m o m e nto d e
desco be rta d a expe riência q u e n o s e n v o l ve n o q u ot i d i a no. É n essa est raté g i a c r i ativa q u e
se reg i stra a p a s s a g e m d a a b d ução pa ra a d e d ução, atra vés d o teste e x p e r i m e n ta l i n d u t i ­
vo, é n a estratég i a de pes q u isa q u e a h i pótese e x p l i cativa, a bd u tiva, possível, t r a n sfo rm a ­
s e e m , n ão a pe n a s, p rovável, m a s n ecess á ri a : d a p r i m e i ri d a d e pa ra a te rcei ri d a d e at ravés
d a secu n d i d a d e , d a a bd ução pa ra a d e d u ção a t ravés d a i n d ução, d a expe riência p a ra a l e i
através d a ex p e r i m e n tação. S o b o i m pacto d a a bd u ç ã o , m u d a - se a co m p re e n s ã o trad i ­
c i o n a l d o q u e s e e ntende po r ded u ção e i n d u ção, o u sej a , se é d a natu reza d a a bd u ção
p rod u z i r i d éi as, ca be às o utras d u a s u m a co - pa rtici pação n essa ta refa , v i sto q u e à i n d u ­
ção ca be evide n ci a r a va l i d a d e dessa idéia e , à d e d u ção, j u st i fica r, n ã o s ó a rel evâ ncia
m a s, s o b retudo, pela g e n e ra l i za ção, ava l i a r o seu pote n ci a l e n q u a nto idéia que propõe
uma leitu ra i n u sita d a d a experiênci a : à d e d u ção ca b e i d e n ti fica r uma desco b e rta.
A ciência d a experiência é a q u e l a d o o l h a r atento: o e x e rcício científico co m o dese n ­
volvi m e nto d e u m a capaci d a d e d o h o m e m : o l h a r pa ra v e r. T e n a c i d a d e o u s a g a c i d a d e ?
Sem red u z i r a q u e stão a u m a s i m p l i c i d a d e d icotô m i ca e sa l va n d o a i n d i s pe n sável d i a l éti -

Trans/ Form/ Açã o , São Paulo, 9/ 1 0 : 1-7, 1986/87.


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ca entre aqueles pólos, a predominância de um ou outro aspecto caracteriza a natureza


do que se convencionou chamar produção científica. Ciência para acumular conheci­
mentos ou para produzir o novo. Uma questão de olhar.

NOTAS

Peirce preocupou-se em estudar as categorias da experiência e, para isso, criou e de­


senvolveu uma Ideocospia de caráter numérico e distinta das classificações fenomenoló­
gicas.
Todos os elementos da experiência pertencem a três classes, denominadas categorias
cenopitagóricas,a saber:

Primeiro, experiências monádicas ou simples, em que os elementos são de tal nature­


za que poderiam ser o que são sem inconsistência, ainda que nada mais houvesse na ex­
periência.
Segundo, experiências diádicas ou recorrências onde cada uma é uma experiência di­
reta de um par de objetos em exposição.
Terceiro, experiências triádicas ou compreensão onde cada uma é uma experiência
direta em conexão com outras experiências possíveis (3. C.P. 7.528).
Experiência monádica ou de primeiridade é a experiência de uma qualidade; experiên­
cia diádica ou de secundidade é aquela proporcionada pela reação a um choque, a um
conflito entre ações ou hábitos, ocorrendo aqui, agora e apenas uma vez, se repetida e
contínua, passa a ser reação com força de lei e, aí, estamos no domínio da experiência
triádica ou de terceiridade.

D' A LÉ S S I O FE R R A R A , L. - S c i e nce of t h e a ttentive eye. T ra ns/Form/ Ação, São P a u l o , 9/ 1 0 : 1- 7,


1 986/87.

ABSTRACT: What is scienee? What is the distinetion between seientifie knowledge and living seienee,
seienee of experienee. Peiree's pragmatismo The seientifie dimension of Peiree's eategories: deduction, abduc­
tion, induetion. Induetion as a eonneetion between the abduetive hypothesis, that is only probable and the genera­
tion of a deduetive and indispensable law that eharaeterises behavior habits.

KEY-WORDS: Seienee; scientifie knowledge; induetion; deduetion; abduetion; experienee; law; experimenL

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Trans/FonnlAção, São Pa u lo , 9/10: 1 - 7, 1 986/87.


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