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O Sol brilhava tão forte naquela manhã, que as cortinas eram inúteis. As
pessoas que moravam nas cidades lamentavam o fato de estar tão calor, e de que o
Sol estava fritando-as. Alguns buscavam ventiladores ou ar-condicionados, mas num
dia tão quente como aquele, somente as árvores ofereciam sombra, conforto e
frescor.
No meio da floresta, em uma clareira arborizada, havia uma casa. Uma bela
casa, com um belo jardim. O Sol também castigava por aquelas bandas, mas as árvores
sopravam um ar fresco, e dessa forma não fazia tanto calor para o rapaz que morava
lá.
Juarez era o seu nome. Ele era um rapaz metodico. Metodicamente casual.
Todos os dias ele acordava sabendo o que deveria fazer: Aguardar o acaso, as
surpresas.
Sua casa era simples, mas extremamente confortável. Havia dois quartos
pequenos, um banheiro pequeno, uma sala com um espaço para uma pequena mesa e
um bom sofá, e uma grandiosa cozinha. Na sala havia uma lareira, para os tempos
frios, e na cozinha um grande fogão a lenha. Todos os cômodos tinham janelas, mas as
maiores ficavam na cozinha. Duas janelas enormes, voltadas para um bosque que
levava a um bom riacho. E no meio da cozinha ficava uma bela mesa de madeira.
Mas, o que mais importava para Juarez era o seu quintal. Havia plantas, árvores
e arbustros dos mais diversos tipos, das espinhosas, das coloridas, das cheirosas e das
infrutiferas. Ele todos os dias cuidava delas, com regalias e alegria.
O que Juarez mais gostava de fazer era passear pela floresta. Olhava para as
árvores, sentia sua pele áspera. Ele adorava o gracioso riso das árvores, quando elas
farfalhavam suas folhas, e tentava ouvir o vento para saber do que elas riam.
Desta forma, sua comida era os frutos que conseguia, da floresta e de seu
quintal e mel. Com isso ele fazia das mais diversas receitas, inclusive de bebidas.
Verão
Era um quente dia de pleno Verão. Juarez acordou com o sabor doce dos
cantos dos pássaros. Arrumou a sua cama, depois o restante da casa. Tomou um belo
café da manhã enquanto olhava para fora de sua casa através da janela. Ele não
gostava do dia. Preferia a noite e sua doce escuridão. Somente a noite era possível ver
o brilho das coisas. Das estrelas, das águas e a fraca luz que centilava nas mais
pequenas pedras da mais escura floresta.
Assim como tudo em sua volta, as plantas estavam esbeltas, coloridas e lindas.
Sem muita dificuldade Juarez decidiu que era um ótimo dia para se passear na floresta.
Além de tomar um ar nas sombras da árvores, afinal estava muito calor, iria visitar as
suas amigas árvores.
No fim do corredor colorido que era o bosque, passava um rio. Suave era a sua
melodia. Juarez encheu seu cantil d’água, e se deitou na sombra de uma árvore. Ao
primeiro gole, sentiu sua dança por todo o seu corpo. O segundo gole terminou de
refrescar-lo. E o terceiro era pura gulodice. Ficou ali abraçado pelas raízes da árvore.
Decidiu, por fim, que iria jogar. E por que não? Sem pensar muito, jogou o que
costumava jogar, peão e2 em e4. Esperou um pouco para ver se alguém iria aparecer,
mas ninguém apareceu. Então voltou andando para sua casa, já estava escurecendo.
A casa de Juarez parecia normal vista de longe. Mas quanto mais perto
chegava-se, mais se percebia a sua diferença das casas convencionais. A casa havia
sido construida em uma ruína. Restos de uma casa de pedra. As paredes que estavam
danificadas foram remendadas com restos de galhos e madeira de árvores mortas. E
por cima disso tudo nasciam-se trepadeiras. O interior da casa, por incrivel que pareça,
era aconchegante. Havia uma lareira, herança da própria casa, que o tempo pouco
danificou. O que mais precisou de mudanças fora os banheiros e a cozinha. O banheiro
na realidade não existia, era na realidade, uma sala onde o rapaz se banhava, e havia
apenas sua toalha, e uma bela banheira de madeira. Já a cozinha era ampla e
extremamente organizada. Todos os temperos e vegetais eram devidamente
organizados e guardados. O forno a lenha e a louça ficavam na mesma parede, a
esquerda. A parede do meio era estantes e armários, já a direita ficava a janela.
Essencial para o morador, que passava horas olhando por ela, sem falar na luz que
entrava. No meio da cozinha ficava uma grande mesa de madeira. A mesa também era
feita de restos de árvores que se foram, mas apesar disso era extremamente bela e de
ótima qualidade.
Juarez terminou de fazer seus afazeres, que não eram muitos nessa época do
ano. Descansou o restante do dia. De noite, antes de dormir, passou o olho nas
plantas. As suas flores estavam mais bonitas do que de costume, e os pássaros
cantavam para elas.
Apesar da noite ter sido agradável e o sono leve não foi incomodado, até que
os primeiros raios de Sol dourassem as copas das árvores, nosso amigo demorou a
dormir. Ficou pensando quanto ao seu encontro durante a tarde, tinha parado para
refletir sobre, e sua conclusão era que não fazia o menor sentido aquele tabuleiro de
xadrez no meio da floresta. Decidiu que iria novamente no dia seguinte.
De manhã, após cuidar de sí e das plantas, tomou seu café da manhã e foi
andando novamente. O mesmo percursso que no dia anterior, o bosque continuava
belo, as florestas continuavam balançando os cabelos ao vento.
E o tabuleiro continuava lá, no mesmo lugar. Quase tudo no mesmo lugar, uma
peça havia se movido no tabuleiro. Quem quer que fosse, havia sido efetuada uma
jogada. Peão e7 em e5.
Certo dia, Juarez foi fazer sua jogada tarde da noite, próximo da passagem do
dia. Depois investigou a região em busca de vestigios da passagem de alguém, mas
não encontrou absolutamente nada. Decidiu que iria voltar de manhã cedo, e depois ia
explorar a floresta em busca de alguma coisa ou algo do genero.
Passou primeiro pela clareira, para ver se seu adversário havia jogado. E havia.
Jogou seu cavalo em c3, para desenvolver o seu material, e foi andando para dentro da
floresta. Não tinha direção nem caminho para onde estava indo, simplesmente ia
andando por entre as árvores.
Uma atividade que para muitos seria chata e cansativa, mas não para Juarez,
aquilo era muito prazeroso para ele. E como poderia ser chato com tantas árvores para
conversar?
Muitos podem se perguntar como Juarez não se perdeu na floresta. Mas como
iria se perder, afinal? Ele não conhecia todas as árvores. Mas conhecia muitas. E
quando tinha alguma dúvida quanto a qual lado tomar, era só perguntar.
Quando o Sol se pos, Juarez fez sua pequena bagagem. Levou um pedaço de
pão e algumas frutinhas para comer junto. Levou seu cantil vázio, ia passar por um rio
e ia enche-lo lá. Levou também um pouco de mel. Vestiu-se com um agasalho, e foi
andando.
Era uma noite sem luar. As estrelas brilhavam forte no céu. Somente Juarez, o
vento e as cigarras não estavam dormindo. Os passos que ele dava eram o mais leves
possíveis, não queria despertar ninguém. Chegou ao rio, abriu sem cantil e o encheu. O
cantil bebeu a água com voracidade, estava sedento. Quando se encheu fez um som
oco como se estivesse agradecendo. Juarez pegou-o e continuou sua caminhada.
Logo chegou ao tabuleiro de xadrez. Lá ninguém havia. E para sua surpresa, seu
oponente ainda não havia chegado.
Com o passar da noite, começou a sentir sono, comia e bebia para tentar se
manter acordado. Mas no meio da escuridão, começou a sentir as púpilas pesarem, e
sua cabeça escorregava de suas mãos. De repente caiu no chão, que era uma grama
fofa, e adormeceu.
Seus sonhos eram como qualquer outro. Incomprensível, mas pareciam suaves.
O fato é que ele dormia com tranquilidade, o clima era agradável, e seu manto era as
costelações. Se estivesse em sua cama, não estaria adormecendo tão bem.
Mas, de repente, pouco menos de uma hora antes do Sol nascer, sentiu medo.
Juarez já não sabia se era o sonho que lhe aterrorizava, começou a se contorcer na
grama, e de repente despertou ofegando. O puro ar da natureza logo lhe tranquilizou,
mas quando olhou para o tabuleiro, viu que uma jogada havia sido efetuada. Aquilo
lhe fez lembrar do que julgava ser seu sonho.
No mesmo local, na pequena clareira no meio da floresta, ele viu o tabuleiro.
Podia ver detalhadamente as peças, e a posição exata na qual estava a partida. Havia
alguém, ou algo, não sabia o que era. Ele via mas não enxergava, não parecia um
humano, não parecia nada. De repente o vulto se inclinou sobre o tabuleiro, fez algo
que Juarez não podia visualizar, e saiu andando. E uma jogada havia sido efetuada.
Juarez achava que era um sonho, mas o fato é que uma jogada havia sido feita.
Havia jogado o peão que estava em b7 de duas casas, de forma que ficasse em b5
atacando o seu bispo.
Acontece que aquele sonho, trouxera um medo que Juarez não sentia fazia
bastante tempo. Não era medo de que o vulto pudesse lhe fazer algo, afinal, ele não
sentiu nada. Mas apenas havia se esquecido do que se tratava. Ele passou aquele
tempo todo tentando entender ou conhecer contra quem estava jogando. Mas afinal,
isso pouco importava. Ele tinha que vencer aquele jogo, pelo menos esse.
E fez sua ousada jogada. Comeu o peão do oponente, que atacava seu bispo,
com o cavalo. Um sacrificio, afinal outro peão tomaria seu cavalo, mas nada mais
defenederia o isolado peão, dessa forma teria tranquilidade para mantér o seu
domínio em seu jogo.
Após jogar, recolheu suas coisas e voltou para casa. O mesmo caminho da ida,
os bosques continuavam com seus tapetes coloridos, mas agora, em pleno dia, as
árvores chaqualhavam, e o vento também era colorido com as belas folhas que
voavam.
Passando pelo rio em que havia enchido o cantil na ida, decidiu que iria tomar
um banho. A água parecia refrescante, e o Sol estava escaldante.
Juarez estava no meio do rio, e nos cantos se refletiam as árvores. Até mesmo
no nado elas lhe acompanhavam. Calmamente a correntenza ia lhe tirando as
impurezas, e após estar totalmente limpo, deixou que o vento lhe guiasse para a
margem. Saiu do rio, a grama fofa bebia a grandes goles a água que lhe escorria.
Encheu o cantil, pegou suas coisas e voltou para casa. Pegou também uma fruta
madura que havia caido ao lado de sua bagagem enquanto tomava banho. Não a
comeu imediatamente, ia tomar seu café da manhã quando chegasse em casa.
Quando chegou em casa, a primeira coisa que fez foi ir até seu quarto e
desfazer sua mochila. A janela de seu quarto dava para o quintal de sua casa. Pensou
em ir dar uma olhada em suas plantas, mas não foi. Afinal ela já estavam ficando
grandes, e tinham que ter autonomia, sustentar-se sozinha perante a natureza.
Depois foi até a cozinha. Despejou a água de seu cantil em uma panela,
acendeu o seu forno a lenha, e deixou a água esquentando. Depois tirou um pão de
grãos e frutas que havia guardado no armário. Cortou duas fátias e colocou em um
prato de prata. Uma das poucas coisas que trouxera consigo da cidade, assim como os
talheres e algumas de suas roupas.
Depois saiu de casa, e foi procurar pelo bosque algumas frutas. Saiu escalando
algumas árvores, cheirando arbustros, e recolhendo os frutos. Não demorou muito,
Juarez conhecia a região e todos os frutos que as árvores davam. Ao chegar, retirou as
partes que não iria comer das frutas, e guardou em um recipiente. Posteriormente ele
iria devolver as sementes e partes incomestiveis das frutas para a terra. O restante ele
esmagou em um pilão de pedra, e despejou a geleia em cima do pão.
Nesse tempo, a água já fervia. Ele abriu alguns potes e gavetas, pegou diversas
folhas, cheirou-as. Algumas ele guardava novamente, outras ele ia despejando na
panela com a água quente. A água ia colorindo-se com o tempo. Mexeu bastante e
depois tirou as folhas e as guardou novamente. Ainda havia muito a se reaproveitar. O
chá que ficou na panela ele despejou em um copo. Pegou os pães e o chá quente e se
sentou na grande mesa que ficava no meio da cozinha e começou a comer.
Juarez era capaz de comer muito rápido, mas ainda assim preferia sentir o
sabor das coisas. Gostava de provar e experimentar. Uma vez ele saiu recolhendo
umas frutinhas vermelhas que davam em arbustros. Já ia comendo algo quando alguns
animais o alertaram que era venenosa. E era de fato, mesmo de fácil acesso, todas as
frutas permaneciam nos pés, pois ninguém se atrevia a come-las.
Apesar do modo de preparo serem muito parecidos, todas as comidas que ele
produzia tinham gostos diferentes. A geleia nem sempre era de mesmas frutas, e o pão
de mesmo grão e o chá de mesmas folhas. Costumava fazer bolos de diferentes tipos.
As vezes colocava mel na comida, as vezes não. Costumava experimentar as cascas
também, que muitas vezes tinha um gosto ruim e amargo, mas se bem preparado
ficava delicioso. E, além de suas variações, as frutas também variavam bastante. As
frutas ali não nasciam para serem todas iguais, elas tinham suas diferenças, algumas
eram maiores, outras menores, mais doces, mais amargas, mais duras, mais moles. E
com o tempo Juarez já conseguia identificar as diferenças pelo cheiro, ou até mesmo
pelo olhar.
O mais fantástico da culinária de Juarez era que toda mordida tinha um gosto
diferente. O pão era recheado com diversas frutas e em cada pedaço poderia vir uma
fruta diferente. E a geleia ele botava um pouco de cada em seu pão, sem falar que suas
geleias é feita com diversas frutas. Era a forma que ele fazia para presentear a sí
mesmo. Toda refeição era um mistério a ser desbravado. Se a primeira mordida era
boa, a segunda era fantástica.
Enquanto comia, e se surpreendia com a bela refeição que fizera, uma doce
música chegava a seus ouvidos. Juarez no primeiro momento deixou-se levar, estava
gostando daquilo, seus sentidos regojizavam-se. Mas, em um estalo, levantou-se
assustado. De onde vinha aquela música? Comeu o restante do pão em duas mordidas,
e bebeu o restante do chá por cima, e saiu com a comida a derreter na boca. Andando
contra o vento, foi seguindo a música.
O que Juarez ouvia era uma música instrumental, coisa que não escutava fazia
tempo. Era raro ter uma orquestra no meio de uma floresta. Mas era o som que o
vento trazia até ele. Quando saiu de casa estava assustado, apesar de gostar muito de
música. Mas ao caminhar pela floresta, foi se acalmando, naturalmente. As árvores
balançavam calmamente. As folhas ao chão dançavam em pequenos redemoinhos.
As núvens no céu pareciam serem feitas de mel, o Sol já estava quase se pondo,
e iluminava tudo com suas cores. O céu estava rosa, as núvens laranjas e a floresta
amarelada. Juarez via aquele espetáculo, mas não enxergava, estava focado em
encontrar a origem da música. Ia correndo pela floresta, mesmo com as árvores a se
porem todo momento a frente.
Até que finalmente chegou ao seu destino. Não chegava a ser uma clareira, mas
era um local no qual havia uma brecha no teto da floresta. As árvores estavam um
pouco afastadas uma das outras, e a luz do céu derramavasse naquele ponto exato.
Havia uma mistura de cores. A maioria era possível ver, mas algumas se ouvia.
Juarez estava atordoado, agora a pouco ele escutava diversos instrumentos,
mas assim que chegou, uma baforada de vento lhe elucidou tudo. Não havia
instrumentos algum, nem nenhuma pessoa, nem nada tocando música. Mas
havia uma orquestra. O assobio agudos dos pássaros, os chocalhos das árvores,
e o vento lamento grave do vento, que percorria tudo ali, entre os galhos,
levantando as folhas, entre pedras, batendo-se na madeira das árvores.
Pequenas gotas de chuvas que caiam das nuvens lá em cima, e do riacho que ao
longe fazia sua melodia. Tudo aquilo ao mesmo tempo era de paralisar os
sentidos. De ficar plantado ao chão, apenas admirando, estupefato. Mas não
durou muito, logo o Sol se escondeu, e a música desapareceu. O colorido se foi,
os pássaros foram dormir e até mesmo o vento cessou.
Enquanto todos teriam ido embora, Juarez ficou, junto com as árvores,
que ainda dançavam. Não tinha medo do silencio e nem das trevas, pelo
contrário, as adorava. Era uma das atividades favoritas dele, ficar de pé na
janela aos finais do dia, vendo a luz que inundava as florestas sumirem. Em
questão de uma hora, ele deixava de ver tudo para não ver nada. Apenas o
breu.
A sua janela que era árvore, passáro, céu, nuvens, arbustros, grama etc,
se tornava em breu. Somente. No meio da noite ia até a janela e olhava para o
exterior, e sabia de tudo que lá havia, mas não via. O breu era tudo.
Inverno
O outono passou rapidamente para Juarez. Seus afazeres eram bastantes para
se prevenir do inverno. Sua casa, era no meio da floresta, não tinha água encanada,
não tinha sistema de aquecimento nem nada do gênero, mas ele não precisava. A água
do rio era mais limpa que a da cidade, e suas colchas eram quentes. E sua casa, apesar
de ter sido feita em uma ruína, era bem vedada e suas paredes conservavam bastante
calor.
Ele havia recolhido bastante fruta e lenha, galhos caídos e pedaços de madeira
morta, para se aquecer. Também havia sido feito uma área para cuidar de suas plantas
que adoeciam. Mas falaremos disso.
Era uma manhã nublada de inverno fechado. Estava bastante frio, e as nuvens
estavam densas, apesar disso, não chovia. Juarez acordou e achou que ainda era noite.
O chão de pedra estava gelado. Procurou alguma meia e vestiu-se com uma
confortável roupa. Comeu seu desjejum preparado já no dia anterior, na mesa, vendo
o céu pela grande janela de sua cozinha. O céu estava fechado e escuro.
Quando terminou de comer foi cuidar de suas plantas. Juarez não gostava de
proteger suas plantas da natureza, afinal ele sempre as replantava, e se elas não
estivessem prontas para viver na floresta, morreriam logo. Ele só tomava providências
quando elas estavam adoecidas, ou quando havia alguma devastação eminente.
Juarez olhou para suas pequenas plantas. Examinou uma por uma. Uma outra
ainda tinha folhas mortas, que foram cortadas delicadamente. Duas estavam
adoecidas, murchas e sem graça. Essas, Juarez pegou e levou para dentro de sua casa.
Era a parte mais prazerosa do ano. Juarez calmamente pegou o seu carrinho de
mão, que era bem grande, e colocou todas as plantas dentro. As grandes, com seus
vasos enormes, e as pequeninas que cabiam na mão. Depois que as dispôs
confortavelmente, ele começou a andar. Saiu andando mata a dentro. Era o momento
das plantas que ele cuidara, encontrarem seu espaço na floresta. A cada bosque que
ele ia passando, as árvores e arbustros chamavam, e algumas plantas decidiam ficar
por lá mesmo. Então, ele pegava o vaso e escolhia um bom lugar. Cavava com as
próprias mãos um buraco na terra. A terra estava fofa, e seu cheiro aromatizante o
tranquilizava e o relaxava. E sempre que ele colocava a mão na terra, ele pudia sentir
seus dedos se enraizando na terra, a harmonia era vísivel. Ele se sentia parte daquilo.
Quando o buraco estava pronto, ele calmamente tirava a planta e toda a terra
com suas raízes, e colocava no local escavado. A terra que ele escavou, ele colocava no
carrinho de mão novamente. Posteriormente ele iria prepara-la para utilizar para
outras plantas. O vaso de planta ele deixava vázio. E então continuava.
Quando ele replantou todas as plantas, ele estava próximo do rio. Assim como
ele havia planejado, estava chegando no fim da extensão da floresta que se
aproximava de sua casa. Após o rio, ainda havia floresta, mas não muito distante
começavam a chegar na área em que as pessoas da cidade comumente viam para
passear e sujar.
O vento gelado soprava contra ele. Gelado e frio como a vida que corria dentro
dele. Ele abriu os braços e deixou o vento correr por seu corpo. Olhou para o céu e viu
a escuridão tomar conta. Deixou o som entrar em seus ouvidos. O rio caudaloso, o
vento escandaloso e o sussuro silencioso.
Juarez estava engasgado. Sentia algo que não sabia dizer o que era. Não era
raiva, não poderia ser. Não era aflição pois sentia-se totalmente calmo. Não era
tristeza, por que sentia toda a sua angustia sendo lavada. O vento gelado empurrava e
a chuva lavava. E por fim, a música tranquilizava.
Juarez tinha muitas críticas quanto ao modo de vida da cidade. Ele não gostava
das cidades. Primeiro, por que não se encontrava lá. Pessoas como eles, não se
encaixavam. Ele não conseguia encontrar felicidade, apenas alegria.
Sim, Juarez tinha uma distinção brusca entre felicidade e alegria. Para ele,
felididade era um estado de espirito, enquanto alegria era apenas um júbilo
momentâneo.
Na cidade era difícil ser feliz, e para pessoas como Juarez, impossível e
impensável, para uma pessoa como ele, encontrar felicidade com pessoas ao montes,
vivendo em blocos de concreto, sem espaço, sem tempo e sem energia para elas
mesmas.
Quando retornou a sí, já era tarde da noite. O vento soprava frio e o rio lambia
seus pés. Era uma noite sem lua, e o céu permanecia nublado e não era possível
enxergar nenhuma estrela no céu. Então, Juarez se levantou, despiu-se, e pulou na
água fria. O rio corria devagar e suave. O gelo podia ser sentido até os ossos, mas
mesmo assim era agradável. Juarez pegou os vasos que tinha deixado na margem, e os
lavou da terra. Após isso, os encheu de água do rio e os colocou de volta no carrinho
de mão, por cima da terra. Vestiu-se e voltou para casa.
Quando chegou em casa, entrou dentro de casa, acendeu algumas velas, e foi
procurar uma panela. Uma panela enorme. Encheu-a com a água que havia trazido do
rio nos vasos de plantas. Colocou a panela sobre o seu fogão a lenha. Acendeu um fogo
e colocou bastante lenha. Depois, voltou e guardão os vasos de plantas, virados de
cabeça para baixo, e do lado de fora de sua casa.
Foi até o seu banheiro, que nada mais era que um salão de pedra, totalmente
fechado, que armazenava bastante calor. Muitos chamariam de sauna hoje em dia.
Buscou sua bacia de madeira. Foi no quarto e pegou o seu roupão e uma sandália para
andar em casa e manter os pés agasalhados.
Quando a água estava quente, ele a despejou, com muita dificuldade, afinal
estava muito pesado, na bacia de madeira. Depois se lavou. Esfregou-se bastante, até
a sujeira toda ir embora. Quando saiu do banho, a bacia cheirava a terra molhada.
Despejou a água em um pequeno ralo que levava a água até a terra do lado de
fora. Após isso, foi até o forno a lenha, que ainda estava ligado, e colocou um pouco de
água para ferver. Água de seu déposito já armazenado, para beber e cozinhar. Saiu
cheirando folhas e ervas pela cozinha inteira. Depois jogou um punhado na água. Com
uma peneira tirou as folhas e colocou o chá em um copo. Segurou o copo com as duas
mãos para se aquecer e foi até a sala. Acendeu a lareira e depois sentou-se em sua
poltrona de folhas, e suspendeu os pés.
Quando acordou, foi até a cozinha e colocou a água para ferver. Depois
pegou alguns grãos cheirosos de café, e os moeu. Tinha ido bem longe para
conseguir aquele café. Quando a águar ferveu, ele jogou o pó na água e
esperou. Logo sua casa se perfumou totalmente. Coou o café e serviu-se.
Colocou-o em cima da mesa e pegou um dos seus pães salgados, cortou uma
fátia e a colocou em cima da xícara de café. Guardou o pão. Antes de se sentar
começou a separar os ingredientes que iria utilizar para cozinhar. Havia
acordado um pouco tarde, e precisaria logo começar a cozinhar.
Tinha decidido que faria um gostoso bolo de frutas e mel, doce e mácio,
e também uma bela salada, amarga e crocante. Não para comer junto,
evidentemente.
Juarez passou o inverno todo sem ir ver como estava sua partida de
xadrez. Primeiro por que estava muito ocupado para ir lá jogar, mas também
por que não estava conseguindo pensar em que jogar. Sentia que poderia
vencer em breve, mas não via como.
O que Juarez queria dizer é que, toda aquela madeira que eram de
várias árvores, que ele colocou ali no forno e queimou, elas queimavam,
liberando sua energia, e era esse calor que ele iria comer posteriomente, junto
com o bolo. Tudo que lá estava naquele saboroso bolo, ele iria comer, e
começaria a partir daquele momento a fazer parte dele. Assim como o ar que
respirava, a água que tomava e a luz que lhe iluminava. Ele era tudo aquilo.
Voltou para casa e fez seu suco. Verde, vermelho, laranja, roxo, era
alguma das cores que o suco tomou antes de ficar pronto. Colocou a jarra de
suco do outro lado de onde ficaria o bolo.
Primeiro a salada.