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Processo Penal
A regulamentação do Processo Penal no Brasil:
1. Ordenações do Reino de Portugal (séc. XVI a XIX);
2. Código de Processo Criminal de Primeira Instância (1832);
3. Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3.689 de 03 de outubro de 1941).
Existe uma íntima e imprescindível relação entre delito, pena e processo, de modo que
são complementares. Não existe delito sem pena, nem pena sem delito e processo,
nem processo penal senão para determinar o delito e impor uma pena.
Dentro dessa íntima relação entre o Direito Penal e o processo penal, deve-se apontar
que, ao atual modelo de Direito Penal mínimo, corresponde um processo penal
garantista. Só um processo penal que, em garantia dos direitos do imputado, minimize
os espaços impróprios da discricionariedade judicial, pode oferecer um sólido
fundamento para a independência da magistratura e ao seu papel de controle da
legalidade do poder (FERRAJOLI). A evolução do processo penal está intimamente
relacionada com a própria evolução da pena, refletindo a estrutura do Estado em um
determinado período.
Os fins da pena devem ser perseguidos no marco penal estabelecido pela culpabilidade
pessoal do sujeito (juízo de desvalor do autor do fato), na medida mais equilibrada
possível, podendo variar ainda, em uma ou outra direção, segundo as características do
caso concreto (desvalor do fato do autor).
Antes de servir para a aplicação da pena, o processo serve ao Direito Penal e a pena
não é a única função do Direito Penal. Tão importante como a pena é a função de
proteção do Direito Penal com relação aos indivíduos, por meio do princípio da
reserva legal, da própria essência do tipo penal e da complexa teoria da tipicidade.
O processo, como instrumento para a realização do Direito Penal, deve realizar sua
dupla função:
tornar viável a aplicação da pena, e
servir como efetivo instrumento de garantia dos direitos e liberdades
individuais, assegurando os indivíduos contra os atos abusivos do Estado. Nesse
sentido, o processo penal deve servir como instrumento de limitação da
atividade estatal, estruturando-se de modo a garantir plena efetividade aos
direitos individuais constitucionalmente previstos, como a presunção de
inocência, contraditório, defesa, etc.
O sistema garantista está sustentado por cinco princípios básicos, sobre os quais deve
ser erguido o processo penal:
1º Jurisdicionalidade - Nulla poena, nulla culpa sine iudicio: Não só como
necessidade do processo penal, mas também em sentido amplo, como
garantia orgânica da figura e do estatuto do juiz. Também representa a
exclusividade do poder jurisdicional, direito ao juiz natural, independência da
magistratura e exclusiva submissão à lei.
2º Inderrogabilidade do juízo: No sentido de infungibilidade e indeclinabilidade
da jurisdição.
3º Separação das atividades de julgar e acusar - Nullum iudicium sine
accusatione: Configura o Ministério Público como agente exclusivo da
acusação, garantindo a imparcialidade do juiz e submetendo sua atuação a
prévia invocação por meio da ação penal. Esse princípio também deve ser
aplicado na fase pré-processual, abandonando o superado modelo de juiz de
instrução.
4º Presunção de inocência: A garantia de que será mantido o estado de
inocência até o trânsito em julgado da sentença condenatória implica diversas
consequências no tratamento da parte passiva, inclusive na carga da prova
(ônus da acusação) e na obrigatoriedade de que a constatação do delito e a
aplicação da pena serão por meio de um processo com todas as garantias e
através de uma sentença. Atentar para as recentes alterações de entendimento
do STF quanto ao princípio da presunção de inocência. A Corte entendeu que a
prisão efetuada após decisão de segunda instância não fere o princípio da
presunção de inocência.
5º Contradição - Nulla probatio sine defensione: É um método de
confrontação da prova e comprovação da verdade, fundando-se não mais
sobre um juízo potestativo, mas sobre o conflito, disciplinado e ritualizado,
entre partes contrapostas: a acusação (expressão do interesse punitivo do
Estado) e a defesa (expressão do interesse do acusado em ficar livre de
acusações infundadas e imunes a penas arbitrárias e desproporcionadas). Para
o controle da contradição e de que existe prova suficiente para derrubar a
presunção de inocência, também é fundamental o princípio da motivação de
todas as decisões judiciais, pois só ele permite avaliar se a racionalidade da
decisão predominou sobre o poder.
O mais grave é que a pena pública e infamante do Direito Penal pré-moderno foi
ressuscitada e adaptada à modernidade, mediante a exibição pública do mero
suspeito nas primeiras páginas dos jornais ou nos telejornais. Essa execração ocorre
não como consequência da condenação, mas da simples acusação (inclusive quando
esta ainda não foi formalizada pela denúncia), quando, todavia, o indivíduo ainda
deveria estar sob o manto protetor da presunção de inocência.
Pode-se dizer que o legislador brasileiro vem adaptando seu modelo de processo penal
aos ideais garantistas defendidos por FERRAJOLI, através das inúmeras reformas da
legislação processual em curso e já aprovadas. Como exemplo pode-se citar a
revogação das prisões cautelares por pronúncia e por sentença penal condenatória
recorrível, bem como as alterações na natureza jurídica do interrogatório. Novamente,
lembrar sobre o precedente do STF em relação à mitigação da presunção de inocência
com a prisão antes do trânsito em julgado definitivo, após julgamento em 2ª instância.
Finalidade:
Em determinado momento histórico, o Estado percebeu que tinha o interesse de
resolver os conflitos porque tinha o dever de assegurar a ordem e paz social. Sendo
assim, o Estado avocou para si a administração da justiça, vedando ao particular a
justiça com as próprias mãos, em contrapartida garantiu ao indivíduo o direito de ação
para requerer a tutela jurisdicional do Estado para solução do conflito.
O Estado soberano é o titular exclusivo do direito de punir, mesmo quando transfere
para o particular a iniciativa (ação penal privada), está transferindo o JUS
PERSEQUENDI IN JUDICIO, mantendo para si o JUS PUNIENDI, que consiste no dever-
poder de punir, dirigido à toda a coletividade. Ou seja, trata-se de um poder abstrato
de punir qualquer um que venha a praticar fato definido como infração penal.
Quando um fato infringente da norma penal é praticado, há a lesão para a ordem
pública, fazendo surgir para o Estado a pretensão punitiva para a aplicação da sanctio
juris, que é satisfeita na sentença e somente se exaure com o seu trânsito em julgado
(é permitida a execução provisória quando favorecer o réu), nascendo a pretensão de
execução do comando emergente da sentença. Assim, o Estado-Juiz, no caso da lide
penal, deverá dizer se o direito de punir procede ou não, e, no primeiro caso, em que
intensidade deve ser satisfeito. A jurisdição penal é uma JURISDIÇÃO NECESSÁRIA, na
medida em que, nenhuma sanção penal pode ser aplicada exceto por meio de
processo judicial.
Características:
Para consecução de seus fins, o processo compreende:
PROCEDIMENTO: é a sequência de atos procedimentais ordenados até a
sentença;
RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL: que se forma entre os sujeitos do processo
(juiz e partes), pela qual estes titularizam posições jurídicas, expressáveis em
direitos, obrigações, faculdades, ônus e sujeições processuais.
Sistemas:
a) inquisitório: as funções de acusar e julgar estão concentradas em um
mesmo sujeito processual – busca da verdade real – perda da imparcialidade – “quem
procura sabe o que quer encontrar” – Direito Canônico: “Quem tem um juiz como
acusador precisa de Deus como advogado”; o réu é tratado como objeto e não como
um fim em si mesmo; o juiz atua desde a investigação, iniciando-se o processo desde a
“notitia criminis”. (Pacelli)
b) acusatório: na Inglaterra feudal começa a divisão entre acusador e julgador
– a busca da verdade se dá não pela pesquisa, mas pelo debate – a França, berço do
sistema jurídico ocidental, adotou o sistema inquisitorial – atualmente, a maior parte
dos ordenamentos jurídicos mundiais adota o sistema acusatório – mesmo na França,
atualmente o sistema inquisitorial é adotado em uma quantidade mínima de casos –
STF: o ponto definidor do sistema acusatório é a proibição do juiz produzir prova pré-
processual – No direito comparado, a capitulação da denúncia define a competência,
mas no Brasil a capitulação pode ser alterada pelo juiz para fins de definição de
competência (STF) – O sistema acusatório prima pela divisão das funções de acusar e
julgar, e acusar não é apenas denunciar: quando o MP pede absolvição – Argentina: o
juiz só pode absolver (acusatório puro); Brasil: o juiz pode condenar – Parte da
doutrina entende que as regras dispostas nos artigos 384 e 385 são resquícios do
sistema inquisitório em nosso ordenamento – No direito comparado o recebimento da
denúncia é causa de suspeição, no Brasil é causa de prevenção – No Brasil adota-se o
sistema acusatório flexível ou não ortodoxo (contraponto ao sistema acusatório puro),
no qual o magistrado não é mero expectador estático da persecução; Sob um viés
constitucional, deve-se tomar cuidado com a extensão dada ao “princípio da busca da
verdade real” pelo juiz criminal, sob pena de transformá-lo num juiz inquisidor,
substituto da acusação, isto é, referida busca pela verdade real deve se limitar ao
esclarecimento de questões duvidosas sobre material já trazidos pelas partes (Pacelli).
Nesse sistema, para o processo penal o réu é um fim em si mesmo e não mero objeto
(Caderno LFG).
c) misto ou acusatório formal: origem francesa – juiz de instrução e juiz
julgador – três fases: 1) investigação preliminar: polícia judiciária; instrução
preparatória: juiz de instrução; julgamento: apenas nesta última fase há contraditório e
ampla defesa.
Doutrina: Pacelli – Sistema Acusatório – “nada há na CR/88 que exija a
instituição de um juiz para a fase de investigação e outro para a fase de processo. Seria
o ideal como consta, aliás, do Projeto de Lei n. 8045/11, elaborado por uma comissão
de juristas que tivemos a honra de integrar, na condição de Relator-geral (o chamado
juiz das garantias). Mas, não se trata de imposição constitucional.” Nesse ponto, Pacelli
entende que, embora haja prevenção no caso do juiz decidir alguma questão de
conteúdo jurisdicional antes da ação penal, sua imparcialidade estaria comprometida.
Regra de tratamento: ninguém será tratado como culpado (artigo 5 o, CF). EXEMPLOS:
processo ou IP em andamento não podem ser considerados como antecedentes
criminais antes do trânsito em julgado (STF).
Regras probatórias:
O ônus de provar cabe à acusação;
O réu não está obrigado a provar a sua inocência, é a acusação que tem que
provar a responsabilidade;
A responsabilidade do réu exige decisão judicial, por isso, as provas policiais
orais não podem servir de embasamento exclusivo para a condenação do réu.
Não existe presunção de veracidade dos fatos narrados, leia-se, não existe
confissão ficta no processo penal, nem sequer quando o acusado não contesta
os fatos descritos na peça acusatória.
Trata-se de princípio consagrado (em parte) no art. 5º, inciso LVII, da Constituição
Federal, segundo o qual toda pessoa se presume inocente até que tenha sido
declarada culpada por sentença transitada em julgado. Encontra previsão jurídica
desde 1789, posto que já constava da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão.
O acusado pode ser preso durante o processo, apesar de ser presumido inocente?
Sim, pode o acusado ser preso durante o processo, desde que o juiz fundamente a
necessidade concreta da prisão cautelar. Ela não fere nenhum princípio constitucional
se devidamente fundamentada em fatos concretos reveladores da necessidade
imperiosa da medida restritiva (para atendimento de prementes fins processuais).
É em razão de tal princípio que “o nome do réu só poderá ser lançado no rol dos
culpados” após sentença condenatória transitada em julgado.
Princípio da Imparcialidade:
O juiz para ser imparcial deve ter garantida a sua independência: independência
funcional (é a independência interna dentro da própria magistratura, o juiz decide
como achar melhor) e independência política (é a independência frente aos demais
Poderes, constituídos – Legislativo e Executivo – e fáticos – imprensa, por exemplo).
OBS.: A súmula vinculante afetaria a independência do juiz? (LFG entende que é
inconstitucional).
Não há jurisdição sem imparcialidade. O juiz deve ser imparcial, neutro em relação às
partes (Prof. Pedro Taques entende que nenhum ser humano é neutro, ou seja,
desprovido de valores; para ele, o juiz deve ser imparcial, não tendo interesse na causa
a ser julgada – Caderno LFG). Havendo dúvida fundada sobre a parcialidade do juiz,
cabe exceção de suspeição. Cabe também exceção no caso de impedimento ou de
incompatibilidade (arts. 252, 254 e 112 do CPP).
Tanto o impedimento quanto a suspeição devem ser reconhecidos ex officio pelo juiz,
afastando-se voluntariamente de oficiar no processo e encaminhando-o ao seu
substituto legal.
Princípio do Contraditório:
Art. 5º, LV, CF – é garantia de participação, enquanto a ampla defesa é garantia de
reação - é a possibilidade de contraditar argumentos e provas da parte contrária. O
pressuposto lógico é o direito de ser informado. Consagrado na CF, por ele há a
igualdade de partes e toda prova permite uma contraprova, ele é inerente à acusação
e à defesa. Trata-se da capacidade de influir em processo com repercussão na esfera
jurídica do agente. Está consagrado no Pacto de São José da Costa Rica (convenção dos
direitos humanos). Esse princípio consiste na dialeticidade (tese, antítese e síntese).
Exige a bilateralidade e a igualdade formal e material entre as partes.
Não deve ser assegurado ao réu apenas o direito à informação e uma reação. Ainda
que o acusado não queira opor-se, é imposto a obrigatoriedade de assistência técnica
de um defensor.
A doutrina sustenta que em caso de emendatio libelli que torne o tipo penal mais
gravoso, deve-se dar oportunidade de contraditório ao réu.
STF: Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não
transcreva a denúncia ou a queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia. Não viola
o princípio do contraditório.
Obs.: o início da suspeita deve dar ensejo aos avisos sobre o direito ao silêncio
(“Miranda warnings”- Aviso de Miranda). Nos EUA só são protegidos os elementos
orais – o réu não é obrigado a testemunhar contra si mesmo – mas se decide falar
deverá dizer a verdade, sob pena de caracterização do crime de perjúrio.
A defesa deve ser EFETIVA (artigo 261, CPP). Se o réu estiver indefeso, mesmo que por
advogado constituído, o juiz deve anular todo o processo e nomear um dativo.
Súmula 523 do STF: “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo
para o réu”.
Notando o juiz que a defesa vem sendo absolutamente deficiente, o correto é tomar a
iniciativa de reputar o acusado indefeso, intimando-o para constituir um outro
defensor (ou nomeando defensor, em caso de defensor dativo ou se o acusado não o
constitui).
Defesa ampla, em suma, envolve: (a) autodefesa; (b) defesa técnica; (c) defesa efetiva e
(d) defesa por qualquer meio de prova (inclusive por meio de prova ilícita, que só é
admitida pro reo, para comprovar sua inocência).
Não existe defesa técnica (muito menos ampla) durante a investigação, que é a fase
administrativa da persecutio criminis. Mas isso não impede que o suspeito ou indiciado
(ou mesmo a vítima) venha requerer provas (CPP, art. 14), que serão deferidas ou
indeferidas pela Autoridade Policial, conforme o caso.
Caso haja confronto entre as teses de defesa, deve prevalecer, segundo a doutrina
majoritária, a tese que beneficiar (ou que mais beneficiar) o acusado, independente de
ser proposta pelo defensor técnico ou pelo próprio acusado.
A defesa técnica, de outro lado, tem que ser exercida por quem tem habilitação
técnica. Estagiário não pode incumbir-se dela durante o processo. Pode o estagiário
praticar alguns atos, mas não cuidar da defesa do acusado. E se houver absolvição com
trânsito em julgado? Nada pode ser feito. Prevalece a absolvição, porque não existe
revisão criminal pro societate.
STF - HC 94542:
A jurisprudência do STF está alinhada no sentido de não constituir cerceamento de
defesa o indeferimento de diligências requeridas pela defesa, se forem elas
consideradas desnecessárias pelo órgão julgador, a quem compete a avaliação da
necessidade ou conveniência do procedimento então proposto. Asseverou-se,
ademais, que a decisão a qual indeferiu a oitiva de testemunha da defesa está
amplamente motivada, não cabendo a esta Corte substituir o juízo de conveniência da
autoridade judiciária a respeito da necessidade ou não dessa oitiva.
Princípio da Oficiosidade:
Os órgãos incumbidos da persecução penal devem proceder de ofício, não devendo
aguardar provocação de quem quer que seja, ressalvados os casos de ação penal
privada e de ação penal pública condicionada.
O MP não pode dispor da ação penal e a autoridade policial não pode encerrar o IP.
Para o STF, o MP não pode desistir do recurso no momento da apresentação das
razões, porque decorre da obrigatoriedade da ação penal. Não é outra a dicção do art.
576, do CPP.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. – Há
contraditório diferido.
Motivação per relationem: caracteriza-se pela utilização da ratio decidendi da
instância inferior ou pelo MP na fundamentação da decisão proferida. Os tribunais
admitem a referida prática.
Princípio da Publicidade:
Artigo 792, CPP – a publicidade deve ser ampla e para todos; mas, em casos
excepcionais o juiz pode limitar a publicidade dos atos processuais, visando à
preservação da intimidade da vítima, desde que haja motivação. Existem alguns
procedimentos cautelares nos quais não existe publicidade ampla (escuta telefônica),
para preservar a dignidade da pessoa humana. O art. 792, §1, do CPP, prevê o sigilo se
da publicidade do ato puder ocorrer escândalo, inconveniente grave ou perigo de
perturbação da ordem.
A publicidade por ser limitada por norma infraconstitucional, eis que a CF permite: “,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos”...
Interessante notar que apenas o advogado dos investigados pode ter acesso aos autos
de investigação sigilosa. Tal direito não se estende aos advogados de eventuais
testemunhas, conforme vem sendo decidido de forma reiterada pela magistratura
federal de 1º grau, considerando que os processos de natureza sigilosa podem conter
informações pessoais dos investigados que seriam indevidamente devassadas por
pessoas estranhas ao objeto da investigação.
Em relação ao Júri, houve quem defendesse que a SALA SECRETA não teria sido
recepcionada pela CF/88, por violar o princípio da publicidade. Esse entendimento não
vingou, na medida em que, a sala secreta é mecanismo para preservação do animus
dos jurados, para que eles não votem em confronto com os acusados, seus parentes,
vítimas e etc.
A EC/45 trouxe alterações ao inciso IX, do artigo 93, CF/88: “todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, EM CASOS NOS QUAIS A PRESERVAÇÃO
DO DIREITO À INTIMIDADE DO INTERESSADO NO SIGILO NÃO PREJUDIQUE O
INTERESSE PÚBLICO À INFORMAÇÃO”.
O DPP é público, mas, com algumas exceções quando o juiz decretar o sigilo do
processo. EXEMPLOS: estupro de crianças. O IP é SIGILOSO. Dignidade Sexual, etc.
Para o STF, ainda prevalece o entendimento de que o duplo grau de jurisdição não é
uma garantia constitucional, mesmo após a incorporação da Convenção Americana de
Direitos Humanos (Pacto de São José) ao ordenamento jurídico brasileiro, em razão da
previsão constitucional de competência originária dos Tribunais.
QUESTÃO DE CONCURSO: lei nova que altera a competência, NÃO viola o princípio do
juiz natural (p.ex., Lei 9.299/96 que disse que o militar quando mata o civil
dolosamente é julgado pelo Tribunal do Júri e não pela Justiça Militar). A lei que cuida
de competência é uma lei processual, logo, tem aplicação imediata (artigo 2 o., CPP).
Mas note-se, a competência nova tem que ser para o órgão que já existe, não
podendo ser criado um órgão novo. Assim, no caso do militar, o júri já existia no Brasil
desde 1922. EXCEÇÃO: quando o caso já foi julgado em primeira instância, não pode
haver modificação de competência, jurisprudência pacífica do STF. EXEMPLO: quando
o TM/SP enviou os processos para o TJ/SP, este órgão remeteu-os de volta sob o
fundamento de que estavam julgados em primeira instância.
Réu absolvido por juiz incompetente: se essa absolvição transitou em julgado para a
acusação, nada mais será possível ser feito porque não existe revisão em favor do
Ministério Público (pro societate). Ainda que se trate de incompetência absoluta (juízo
cível que absolveu réu num processo criminal, sem ter designação).
Obs.: Juiz natural e especialização de varas – STF: não ofende o princípio do juiz
natural, pois é mera organização territorial.
Obs.: O CPP já previa o princípio da identidade física no caso do júri – agora também
prevê para o juiz – o juiz que conduzir a audiência deverá julgar a causa – vertente do
juiz natural. Não podendo ser esquecida a exceção quanto a esse princípio, por
aplicação analógica do CPC (não existe regra no CPP), isto é, no caso de impedimentos
legais do juiz da instrução, como férias, promoção e aposentadoria, haverá mitigação
daquele princípio, autorizando-se outro juiz a proferir sentença em seu lugar.
Obs.: quando se fala em competência meramente territorial, refere-se a juízo legal (não
natural), pois não há tratamento constitucional.
Inicialmente, depois da Lei Orgânica do Ministério Público (Lei 8.625/93) e Lei do MPU
(LC 105/93), parecia não haver dúvidas sobre a existência desse princípio no nosso
ordenamento jurídico. Não obstante isso, mais recentemente, parece que o STF vem
negando a aplicabilidade desse princípio, porém admitindo a sua instituição mediante
lei.
O princípio possui duas dimensões, ambas se acham contempladas no art. 5º, LIV, da
CF, a primeira de modo implícito, a segunda explicitamente:
DIMENSÃO PROCESSUAL (ou procedimental – judicial due process of law – fair
trial / juridial process – devido processo judicial ou procedimental), todo
processo deve se desenvolver conforme a lei e respeitar estritamente as
garantias do devido processo legal.
DIMENSÃO SUBSTANTIVA (substantive due process of law – devido processo
legal substantivo) – a criação dessas regras jurídicas possui limites. O legislador
deve produzir regras “justas”. A produção legislativa tem limites formais e
substanciais (Ferrajoli) – não só deve seguir o procedimento legislativo como
deve ser proporcional, equilibrada – exprime o princípio da razoabilidade ou
proporcionalidade.
CLÁSSICO CONSENSUAL
Há julgamento, há justiça
Há consenso
clássica, penas impostas
Obs.: Paridade de armas - não significa tirar poderes do Estado, mas permitir
ao indivíduo poderes iguais, principalmente por meio da atuação do juiz – Origem: 6ª
Emenda da Constituição Americana.
Princípio da Proporcionalidade
Dar ênfase ao espeque de proibição de excesso, limitando os arbítrios da atividade
estatal; proibição de infraproteção ou proibição de proteção deficiente. Muito utilizado
na valoração probatória, em especial na sua validade em relação às provas ilícitas. O
princípio da proporcionalidade não pode ser invocado para fazer prevalecer a busca da
verdade real a todo custo.
Direito de não praticar nenhum comportamento ativo que lhe comprometa (ou que lhe
prejudique). Exemplo: direito de não participar da reconstituição do crime, direito de
não ceder material gráfico para exame grafotécnico; direito de não produzir nenhuma
prova que envolva o seu corpo (exame de sangue, de urina, de fezes, bafômetro etc).
Mas ATENÇÃO: tal direito NÃO É ABSOLUTO: o acusado não tem o direito a se recusar a
fornecer dados sobre sua identidade, tampouco, segundo doutrina majoritária,
recusar-se a se submeter a reconhecimento pessoal.
Críticas à tese do Direito penal do inimigo de Jakobs: o Direito penal do inimigo nada
mais é que um exemplo de Direito penal do autor, que pune o sujeito pelo que ele é e
faz oposição ao Direito penal do fato, que pune o agente pelo o que ele fez; o Direito
penal tem que estar vinculado com a Constituição Democrática de cada Estado; não se
reprovaria (segundo o Direito penal do inimigo) a culpabilidade do agente, sim, sua
periculosidade. Com isso pena e medida de segurança deixam de ser realidades
distintas; é um Direito penal prospectivo, em lugar do retrospectivo Direito penal da
culpabilidade; desproporcionalidade das penas; perdem lugar as garantias penais e
processuais; o Direito penal do inimigo constitui, desse modo, um DIREITO DE
TERCEIRA VELOCIDADE, que se caracteriza pela imposição da pena de prisão sem as
garantias penais e processuais.
Princípio da Liberdade Individual:
A liberdade é a regra do Estado Democrático de Direito. Qualquer restrição ou privação
é exceção, e só poderá ocorrer quando houver motivo, fundamento e necessidade.
Pode uma lei ser julgada inconstitucional por faltar razoabilidade? Pode e deve, há
ampla jurisprudência do STF.
No nosso país, segundo o STF, tem fundamento constitucional, porque nada mais
representa que o aspecto substancial do devido processo legal, que vem
expressamente contemplado no art. 5º, LIV, da CF. Logo, é princípio constitucional geral
do Direito.
Princípio Acusatório:
Historicamente há três tipos de processo: (a) inquisitivo (nele uma só pessoa
desempenha os vários papéis de investigar, acusar, julgar e executar); (b) processo
misto (fase inicial de investigação da polícia ou do MP sob a regência do juiz; acusação
e julgamento; nos Juizados de Instrução é assim que funciona – França, por exemplo);
(c) acusatório (as funções de investigar, acusar, defender e julgar são atribuídas a
pessoas distintas).
No Brasil, vigora o processo acusatório flexível.
O PROCESSO PENAL ACUSATÓRIO pode ser rígido (o juiz JAMAIS toma a iniciativa de
provas, EXEMPLO: direito inglês) ou flexível (as partes produzem provas, mas, o juiz
tem o poder complementar de provas, pode determinar perícias ou a oitiva de
testemunhas não requeridas, o juiz NÃO é estático).
O vigente no Brasil é o FLEXÍVEL ou RELATIVO (não o rígido), o que significa que o juiz
penal brasileiro tem o poder de iniciativa complementar de produção de provas.
STF, ADI 1570: Busca e apreensão de documentos relacionados ao pedido
de quebra de sigilo realizadas pessoalmente pelo magistrado.
Comprometimento do princípio da imparcialidade e conseqüente violação
ao devido processo legal.
Conseqüências: como decorrência do princípio da iniciativa das partes: (a) o juiz não
pode julgar além ou fora ou aquém do pedido (ne eat iudes ultra petita partium); (b)
não pode prejudicar o acusado quando somente ele recorreu (proibição da reformatio
in peius) etc. Sintetizando: no Brasil vigora hoje o princípio acusatório (o processo tipo
acusatório), porém, com mitigações.
Princípio da Intranscendência:
Art. 5º, XLV, CF.
Assegura que a ação penal não deve transcender da pessoa a quem foi imputada a
conduta criminosa. É decorrência natural do princípio penal de que a responsabilidade
é pessoal e individualizada, não podendo dar-se sem dolo e sem culpa (princípio penal
da culpabilidade, ou seja, não pode haver crime sem dolo e sem culpa), motivo pelo
qual a imputação da prática de um delito não pode ultrapassar a pessoa do agente,
envolvendo terceiros, ainda que possam ser considerados civilmente responsáveis pelo
delinqüente.
(b) prova ilícita por derivação: provas ilícitas derivadas são também
inadmissíveis. Ex: tudo que decorre diretamente de uma interceptação telefônica ilícita
não vale. Vigora aqui a regra dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous
tree). O STF vinha acolhendo essa doutrina, com a seguinte observação: a prova ilícita
por derivação deixa de ser declarada nula quando existe prova autônoma suficiente
para a condenação. A Lei nº 11.690/2008 trouxe duas exceções, autorizando as
provas ilícitas por derivação nos seguintes casos: inexistência de nexo causal entre a
prova ilícita e a derivada; e quando as derivadas puderem ser obtidas por fonte
independente.
Este princípio contém outro: o princípio da conversão, ou seja, o recurso é certo, mas
dirigido ao órgão judiciário não competente para o julgamento. Assim, o órgão não
competente remete para o competente. O princípio da conversão se aplica tanto para
a defesa quanto para o Ministério Público, tendo como exemplo, o caso do antigo
artigo 27 da Lei nº 6.368/76 (não alterado pela Lei 10409/02), ou seja, nas cidades que
não fossem sede de Vara da Justiça Comum Federal, o processo de tráfico internacional
poderia ser delegado à Justiça Comum Estadual (artigo 109, § 3º da CF de 88), porém, o
recurso seria destinado ao respectivo TRF. Caso o recurso fosse para algum Tribunal de
Justiça, bastava que este órgão procedesse a conversão e remessa para o respectivo
TRF. Atualmente tal previsão foi revogada pela norma inserida no artigo 70, § único da
Lei 11.343 (competência da vara federal responsável pelo município).
As fontes de cognição ou formais pode ser: a) diretas (que contêm a norma em si); b)
supletivas que podem ser: b.1. indiretas – que sem conterem a norma, produzem-na
indiretamente, e b.2. secundárias – as que produzem de maneira secundária ou
incidental.
1) Fontes diretas podem ser: a) fontes processuais principais (CF e CPP); b) fontes
processuais penais extravagantes (normas extravagantes); c) fontes orgânicas principais
(leis de organização judiciária); e) fontes orgânicas complementares (regimentos
internos dos tribunais).
Obs.: os tratados integrados ao ordenamento jurídico pátrio constituem fonte
direta.
O artigo 3o fala da analogia que no DPP tem aplicação ampla, diferentemente, do que
ocorre no DP, que somente é admita em favor do réu. EXEMPLO: prazo para a
apresentação de queixa quando o réu está preso - não há previsão no CPP - o
querelante, para manter o réu preso, deve apresentar a queixa no prazo de 05 dias -
permanece com o prazo de 06 meses para apresentação da queixa, mas o réu será
solto.
Cabe à União, privativamente, legislar sobre direito processual (Art. 22,I, CF). Ocorre,
no entanto, que a própria Constituição Federal assegura que, através de Lei
Complementar, a União poderá autorizar que os Estados e o Distrito Federal legislem
sobre questões específicas relacionadas no Art. 22, CF.
O art. 96, I, da C.F. dispõe que os tribunais possuem competência para “... elaborar
seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias
processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos
respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos.” Como vimos o regimento
constitui-se como uma das fontes do direito processual penal.
Nas exceções à sua aplicação previstas em lei especial, o CPP vale subsidiariamente.
Princípio da aplicação imediata da lei processual está previsto no artigo 2o, CPP, ou
seja, a lei processual penal será aplicada imediatamente. Com isso os atos anteriores
são plenamente eficazes, já que a lei nova processual tem eficácia ex nunc.
2. LEIS PROCESSUAIS MISTAS: são as leis que têm uma parte penal e outra
processual penal. EXEMPLO: artigo 366, CPP = suspende o processo é lei
processual, suspende a prescrição = é lei penal. STF: o artigo é irretroativo,
porque a parte penal é maléfica, assim, não pode retroagir. EUGÊNIO PACELLI
(posição majoritária inclusive no STF e no STJ): as leis de conteúdo misto não
podem ser separadas para fins de aplicação, do que resultaria, na verdade,
como que uma TERCEIRA legislação. LFG (posição minoritária): discorda disso
afirmando que pode haver a separação.
É aplicado o princípio do tempus regit actum:
os atos processuais realizados sob a égide da lei anterior são considerados
válidos;
as normas processuais têm aplicação imediata, regulando o desenrolar do
processo, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.
A questão da eficácia temporal pode ser analisada, ainda, sob o enfoque do estágio em
que se encontram os processos:
1. PROCESSO FINDO: encerrado sob a vigência da lei antiga, não sofrerá influência
da lei nova.
2. PROCESSO A SER INICIADO: será regido pela lei nova, mas, surgem algumas
questões quanto à ação e quanto à prova. Quanto à ação (pública, privada,
etc.), a tutela do direito far-se-á pela ação concedida pela lei do tempo em que
a ação for proposta. Quanto à prova, é preciso distinguir aquilo que é regulado
pelas leis substanciais daquilo que é regulado pelas leis processuais; as normas
processuais disciplinam a prova dos fatos em juízo, regulam a admissibilidade
das provas; as leis substanciais, ao estabelecer as condições de existência e
validade dos atos jurídicos, dão-lhe a forma de sua manifestação; as leis
processuais regerão os atos sob a sua vigência.
3. PROCESSO PENDENTE: válidos e eficazes são os atos realizados na vigência e
conformidade da lei antiga, aplicando-se imediatamente a lei nova aos atos
subsequentes. Esta regra ampara até mesmo as leis de organização judiciária e
reguladoras de competência, as quais se aplicam de imediato aos processos
pendentes.
Obs.: MLA´S – Mutual Legal Assistance: podem ser trazidos por tratados
bilaterais, multilaterais ou apenas por compromisso de reciprocidade, não
havendo necessidade de exequatur.
Principais Tratados:
Afora esse rápido panorama acima sobre os atos de cooperação, fiz uma
pesquisa e detectei que a doutrina, sobre o presente tópico, se resume a mencionar
alguns pontos do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, do Pacto de San
José da Costa e do Estatuto de Roma. Como os dispositivos desses tratados e
convenções tratam de temas já conhecidos, principalmente princípios de direito
processual, achei por bem cuidar de apenas transcrevê-los, na maior parte do tempo,
porque eles são autoexplicativos. Além disso, ao examiná-los, percebe-se que eles são
muito repetitivos, afora o Estatuto de Roma, que trata de tema mais específico, qual
seja, do Tribunal Penal Internacional.
ESTATUTO DE ROMA
O art. 77, § 1º, b, do Estatuto, prevê que o Tribunal pode impor à pessoa
condenada por um dos crimes de sua competência a pena de prisão perpétua se o
elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado a justificarem.
O problema é um possível choque com o art. 5º, inc. XLVII, a, da CF, que proíbe as
penas de caráter perpétuo. A saída dada por Mazzuoli é a seguinte: “...a interpretação
mais correta a ser dada para o caso em comento é a de que a Constituição, quando
prevê a vedação de pena de caráter perpétuo, está direcionando o seu comando tão-
somente para o legislador interno brasileiro, não alcançando os legisladores
internacionais ...”, assim, ainda que o Brasil vede a pena de prisão perpétua
internamente, isso não constitui restrição para efeitos de extradição e de entrega.
1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal
formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência,
enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa
tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete,
caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua
defesa;
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um
defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu
defensor;
e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado,
remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele
próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o
comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar
luz sobre os fatos;
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada;
e
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.
4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido
a novo processo pelos mesmos fatos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os
interesses da justiça.
Artigo 10
§1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e
respeito à dignidade inerente à pessoa humana.
a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com
sua condição de pessoas não condenadas.
b) As pessoas jovens processadas deverão ser separadas das adultas e julgadas o mais
rápido possível.
§2. O regime penitenciário consistirá em um tratamento cujo objetivo principal seja a
reforma e reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinqüentes juvenis deverão ser
separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição
jurídica.
Artigo 14
§1. Todas as pessoas são iguais perante os Tribunais e as Cortes de Justiça. Toda pessoa
terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um Tribunal
competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer
acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e
obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou
da totalidade de um julgamento, quer por motivo de moral pública, ordem pública ou
de segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse da
vida privada das partes o exija, quer na medida em que isto seja estritamente
necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade
venha a prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em
matéria penal ou civil deverá tornar-se pública, a menos que o interesse de menores
exija procedimento oposto, ou o processo diga respeito a controvérsias matrimoniais
ou à tutela de menores.
§2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência
enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
§3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
a ser informada, sem demora, em uma língua que compreenda e de forma minuciosa,
da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada;
a dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-
se com defensor de sua escolha;
a ser julgada sem dilações indevidas;
a estar presente no julgamento e a defender-se pessoalmente ou por intermédio de
defensor de sua escolha; a ser informada, caso não tenha defensor, do direito que lhe
assiste de tê-lo, e sempre que o interesse da justiça assim exija, a Ter um defensor
designado ex officio gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo;
a interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e a obter comparecimento
e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições de que dispõem
as de acusação;
a ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou não fale a
língua empregada durante o julgamento;
a não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada.
§4. O processo aplicável aos jovens que não sejam maiores nos termos da legislação
penal levará em conta a idade dos mesmos e a importância de promover sua
reintegração social.
§5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da sentença
condenatória e da pena a uma instância superior, em conformidade com a lei.
§6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente anulada ou
quando um indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos novos que
provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que sofreu a pena
decorrente dessa condenação deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a menos que
fique provado que se lhe pode imputar, total ou parcialmente, e não-revelação do fato
desconhecido em tempo útil.
§7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido
ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e com os
procedimentos penais de cada país.
Nas cartas rogatórias, assim como nas sentenças estrangeiras, o sistema adotado é o
da contenciosidade limitada, vale dizer, a defesa só poderá versar sobre a) a
autenticidade dos documentos; b) a inteligência da decisão; c) a inobservância dos
requisitos da resolução n. 09; d) e afronta à soberania nacional e à ordem pública.
A Lei 221/1894 proibia medidas executórias através de carta rogatória.
Não obstante a questão não ser pacífica, inegável é o fato de que com a mudança da
competência para processar e julgar, originariamente, a concessão de exequatur às
cartas rogatórias, houve uma grande transformação no entendimento perfilhado. A
Resolução n° 9, que dispõe sobre os requisitos e os procedimentos para tramitação das
rogatórias, permitiu expressamente a concessão do “cumpra-se” em medidas de
caráter executório, estatuindo, em seu artigo 7°, que: “As cartas rogatórias podem ter
por objeto atos decisórios ou não decisórios”. Ressalte-se, que com tal disposição, os
pedidos de quebra de sigilo bancário e telefônico passaram a ser deferidos, sem
prejuízo à análise da ordem pública e aos demais requisitos.
Entendemos que o poder judiciário brasileiro deve evoluir conforme evoluem os meios
para se praticar o ilícito, de forma a equiparar forças com o ilegal. Tendo em vista o
crescimento do crime organizado internacional, mister que se afaste antigos
preconceitos infundados, e que se aplique da melhor forma todas as ferramentas
necessárias, pois a busca pela justiça nunca atentará contra a ordem pública. Pelo
contrário, a justiça é um direito constitucional dos cidadãos brasileiros.
Fundamento para a cooperação – qual seria a fonte normativa para sua existência:
alguns entendem que a fonte seria um dever genérico do estado de cooperar para um
bem comum; outros entendem que o princípio geral de proibição de abuso de direito
levaria a esse dever de cooperação.
Espécies de cooperação:
Cooperação Ativa: posição do Estado Requerente – o país requerente é o Brasil.
Cooperação Passiva: posição do Estado Requerido - cooperação judiciária
internacional dirigida ao nosso País, que atua como Estado requerido.
Autoridade Central x Juízo de Valor? MPF entende que à autoridade central não
cabe a realização de juízo de valor.
3. Via Contato Direto: nesse caso se reconhece eficácia das ordens da autoridade
de um país no território de um outro. Ex.: juiz dá uma ordem para a polícia de
outro país, como se um país só fosse.
Cartas Rogatórias:
Pedido formal de auxílio para a correta condução e instrução de um processo existente
ou futuro, feito pela autoridade judiciária de um Estado a outra. Admitida mesmo na
fase de investigação.
Ato de colaboração entre Poderes Judiciários dos Estados, em que um Poder Judiciário
solicita diligências ao outro, estrangeiro.
Procedimento:
Pedido recebido no STJ:
Vias existentes: Via diplomática;
Via autoridade central;
Diretamente pela parte.
STJ, CR 998:
Para ser exequível no Brasil, a quebra de sigilo bancário deve resultar de decisão
judicial emanada de órgão jurisdicional brasileiro ou de sentença estrangeira
homologada pelo Brasil.
Assistência Jurídica:
São os atos necessários à persecução penal do delito que não sejam a extradição, nem
a homologação de sentença estrangeira, nem a transferência de preso.
Quais diligências podem ser realizadas via carta rogatória? Fases de inquérito,
de instrução processual ou no decorrer do julgamento.
A lei 9.613/98 (lei de lavagem de dinheiro), art. 14 – esta lei cria o COAF
(conselho de operações de atividades financeiras) que fazem parte
representante de várias autoridades centrais, ligado ao Ministério da Fazenda.
COAF é uma unidade de inteligência financeira, ele circula as informações a
respeito da lavagem de dinheiro. Não é autoridade central.
MLAT (Brasil e EUA) – tratado legal de assistência mútua – aqui está presente a
autoridade central.
3. Via contato direto entre autoridades legitimadas. Assistência jurídica por meio
de contato direto. A autoridade pública de um Estado pede diretamente à
autoridade estrangeira competente a diligência ou informação necessária à
instrução pré-processual ou processual penal. Corre-se o risco de perder a
prova porque ela não passou pela autoridade central.