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CONHECENDO A VIDA DO SOLO

Solos
VO LUME 1

UF L A
© 2017 by Maíra Akemi Toma, Rogério Custódio Vilas Boas e Fatima Maria de Souza Moreira
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma,
sem a autorização escrita e prévia dos detentores do copyright.
Direitos de publicação reservados à Editora UFLA.
Impresso no Brasil – ISBN: 978-85-8127-065-4

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS


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Comercial/Financeiro: Damiana Joana Geraldo Souza

Ficha Catalográfica Elaborada pela Coordenadoria de


Produtos e Serviços da Biblioteca Universitária da UFLA

Solos / editores: Maíra Akemi Toma, Rogério Custódio Vilas Boas


e Fatima Maria de Souza Moreira – Lavras :
Ed. UFLA, 2017.
32 p. : il. (Conhecendo a vida do solo ; v. 1)

ISBN: 978-85-8127-065-4

1. Biodiversidade. 2. Organismos do solo. 3. Serviços


ambientais. I. Toma, Maíra Akemi. II. Boas, Rogério Custódio Vilas.
III. Moreira, Fatima Maria de Souza. IV. Universidade Federal de Lavras.
V. Título.

CDD – 631.4
CONHECENDO A VIDA DO SOLO

Solos
VO LU M E 1

Lavras, Minas Gerais


2017
EDITORES
Maíra Akemi Toma
Universidade Federal de Lavras | mairakemi@gmail.com

Rogério Custódio Vilas Boas


Universidade Federal de Lavras | rogeriovilas@gmail.com

Fatima Maria de Souza Moreira


Universidade Federal de Lavras | fmoreira@dcs.ufla.br

AUTORES
Diego Tassinari
Universidade Federal de Lavras | diego.tassinari@yahoo.com.br

Sérgio Henrique Godinho Silva


Universidade Federal de Lavras | sergio.silva@dcs.ufla.br

Elidiane da Silva
Universidade Federal de Lavras | elidianeagroufla@gmail.com

Érika Andressa da Silva


Universidade Federal de Lavras | andressaerikasilva@gmail.com

Bruno Montoani Silva


Universidade Federal de Lavras | brunom.silva@dcs.ufla.br

REVISÃO TÉCNICA
Michele Duarte de Menezes
Universidade Federal de Lavras | michele.menezes@dcs.ufla.br

REVISÃO DE TEXTO
Paulo Roberto Ribeiro

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Miriam Lerner | Equatorium Design

CRÉDITOS DAS IMAGENS


Adélia Aziz Alexandre Pozza: p. 16
Carla Eloize Carducci: p. 30
Diego Tassinari: pp. 6, 8, 10, 12, 13, 14, 15, 21, 22, 26, 31, 32
Eduardo da Costa Severiano: p. 30
Giovana Clarice Poggere: p. 19
Jessica Carvalhiero Ferreira Bueno: p. 23
Letícia de Pierri: p. 29
Maíra Akemi Toma: pp. 4, 5, 7, 8, 9, 11, 17, 18, 28
Walbert Júnior Reis dos Santos: p. 17

Agradecemos às agências de fomento:


O que é
solo?
A definição de solo depende da
origem e costumes de deter-
minado segmento social. Cada pes-
gremes e mais planos, mais altos e
mais baixos.
A vegetação normalmente é um
soa percebe o solo de acordo com a bom indicativo desses diferentes
função que lhe dá. Para alguns, o am­bientes na paisagem. Em geral,
solo é terra, ou nem mesmo isso, lugares mais íngremes apresentam
apenas chão. Para os cientistas, o vegetação herbácea com árvores
solo é uma mistura de minerais, esparsas; os solos são mais rasos e
material orgânico, gases, líqui- de cores mais claras. Por outro lado,
dos e uma diversidade de micro e as regiões mais planas geralmente
macro-organismos, compondo a têm solos mais desenvolvidos, com
chamada pedosfera. Ele fornece cores mais vivas e sob vegetação
nutrientes às plantas, é o habitat mais exuberante. Já nos locais mais
de milhares de organismos, arma- baixos da paisagem, caso das vár­
zena água, retém carbono, entre zeas, onde mais água se acumula,
outras diversas funções que serão algumas plantas são bastante co-
discutidas a seguir, partindo da muns, como as taboas, e os solos
sua formação até o seu uso pelos são escuros e acinzentados.
seres humanos.
Observando uma paisagem qual- Várzeas: ambientes localizados nas
quer, como a da foto a seguir, vemos proximidades de rios e ribeirões.
morros, baixadas, lugares mais ín-

S O LOS 3
Existem solos de diferentes co- como besouros e minhocas.
res, idades, composição e nomes. Alguns solos são melhores para
Neles existem organismos de vá- plantar e têm mais nutrientes, en-
rios tamanhos, desde muito pe- quanto outros precisam de cuida-
quenos e invisíveis a olho nu, como dos especiais. Tudo isso ocorrendo
bactérias e fungos, até os maiores, bem debaixo dos nossos pés!

4 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Formação
do solo
S e repararmos bem em barran-
cos de estradas ou em escava-
ções de construções civis, vamos
Em geral, a formação dos solos se
inicia com a exposição das rochas na
superfície. Assim como todos os ma-
perceber que os solos são muito teriais expostos ao ambiente, as ro-
diferentes. Em alguns locais eles chas também sofrem alterações. Du-
são vermelhos, em outros são rante o dia, os minerais das rochas se
amarelos ou alaranjados, podendo expandem devido ao calor e, quando
ser bem escuros, acinzentados, ró- anoitece e esfria, se contraem.
seos ou mesmo brancos. Os solos
podem ter muitas pedras, estarem
quase sempre úmidos, serem difí-
ceis de moldar, fáceis de cavar, etc.
Essa grande diversidade deve-se
aos diferentes processos de forma-
ção de cada solo.
Cinco fatores influenciam a for-
mação dos solos: clima, organismos,
material de origem, relevo e tempo.
Dessa forma, conhecendo esses fa-
tores, podemos prever as caracterís-
ticas gerais de um solo em qualquer
lugar do mundo.

S O LOS 5
Essas variações de temperatura,
associadas aos ciclos de expansão
e contração, provocam fraturas nas CU RIO SID AD E:
rochas, quebrando-as em pedaços Você sabia que... Para forma
cada vez menores, chegando a ta- r 1 mm
de solo são necessários 30 an
manhos menores que de um grão de os de
intemperismo em regiões temp
areia. Esse processo natural é cha- eradas e
cerca de 1,5 ano em regiões
mado intemperismo físico. tropicais.
As chuvas também têm um pa-
pel importante. Além de resfriarem
as rochas abruptamente em dias pequenas plantas e organismos vivam
quentes, a água da chuva, de nature- ali. Esses seres vivos liberam subs-
za ácida, ao entrar em contato com tâncias químicas que também con-
as rochas, causa reações químicas tribuem para a degradação da rocha
que as degradam. Esse é o chamado original abaixo dessa camada terrosa,
intemperismo químico. que vai aumentando em espessura.
Ao longo de milhões de anos sob Com o passar do tempo, essa ca-
ação dessas alterações, as rochas mada vai ficando cada vez mais pro-
vão se transformando em um ma- funda e passa a ser chamada de solo,
terial terroso, inicialmente em fi- que pode variar de poucos centíme-
nas camadas. tros a vários metros de profundida-
Esse material terroso permite que de até a rocha.

6 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Horizontes
do solo
O s solos são estudados através
dos perfis (cortes verticais do
solo). Em um perfil de solo, exis-
por letras (A, B, C, entre outras) e
separados de acordo com suas ca-
racterísticas. Entretanto, nem to-
tem camadas que são chamadas de dos os solos apresentam todos os
horizontes. Eles são identificados horizontes.

S O LOS 7
O horizonte A é mais escuro devi- O horizonte C tem cores mais
do ao maior conteúdo de matéria suaves, como rosa e amarelo-claro.
orgânica, sendo mais fértil e onde É o horizonte mais novo, por se en-
se encontra a maioria das raízes e contrar mais próximo da rocha de
organismos. origem abaixo. Por isso, os horizon-
O horizonte B é o principal para tes mais profundos são os mais jo-
dar nome ao solo e apresenta cores vens e, quanto mais espesso o solo,
vivas, como amarelo e vermelho. mais velho ele é.

Matéria orgânica: inclui animais,


vegetais e micro-organismos vivos e
em diferentes estádios de decomposi-
ção (húmus).

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Morfologia:
cor, textura
e estrutura
Cor
O solo é um meio de mui-
tas cores, as quais são a
primeira característica a
ser notada em um perfil.
Os principais agentes que
dão cor ao solo são:

• Matéria orgâ­
nica:
que confere cor escura ao solo amarela
• Compostos de ferro: Hematita: que confere cor
Goethita: que confere cor vermelha

Goethita: oxidróxido de ferro (FeOOH). É Hematita: do grego “haima”, sangue, é


responsável pela coloração amarela dos solos. um óxido de ferro (Fe2O3), responsável pela
O seu nome é uma homenagem a Johann coloração vermelha dos solos. Possui alto
Wolfgang von Goethe (1749-1832), poeta, poder pigmentante. Por exemplo, 1% de
dramaturgo, novelista e filósofo alemão. hematita já confere cor vermelha ao solo.

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C U R IO S ID A D E :
As partículas de argila,
A cor sozinha nã
silte e areia (ver adiante) o indica a fertil
solo; para isso d idade natural d
têm cor esbranquiçada, co­ evem ser levados o
outros atributo e m consideração
mo a porcelana (que é fei- s (clima, organi
o solo, uso e ma sm os que habitam
ta com argila muito pura). nejo do solo, ma
e relevo). Porta terial de origem
Assim, as cores do solo de- nto, ao olhar ap
do solo não é poss enas para a cor
vem-se à ação desses agen- ível dizer se ele
sendo necessári é fértil ou não,
tes pigmentantes. o fazer outras a
análise laborato nálises, como a
rial de fertilida
de do solo.

Textura
A textura refere-se à proporção de chamadas de cascalho, enquanto
partículas minerais de diferentes o material menor que esse limite é
tamanhos existentes no solo. As chamado de terra fina, sendo forma-
partículas maiores que 2 mm são do por areia, silte e argila

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A proporção dessas partículas, partícula tem uma sensação dife-
ou seja, a textura, varia de um solo rente. A textura está diretamente
para outro em consequência dos relacionada com a capacidade do
seus fatores de formação, princi- solo de reter água e nutrientes para
palmente devido ao material de as plantas e organismos que nele
origem (rochas ricas em quartzo habitam. Em associaçao com a es-
originam solos mais arenosos) e trutura, a textura ajuda a explicar
idade do solo (solos jovens tendem a facilidade com que a água passa
a ter mais areia e silte). Com um pelo solo, ou seja sua permeabili-
pouco de prática, é possível esti- dade. Solos com alta permeabilida-
mar a textura de um solo pelo tato, de são importantes para a recarga
como na figura abaixo, já que cada de cursos d’água e aquíferos.

PARTÍCULA SENSAÇÃO AO TATO


Areia áspera

Silte sedosa

Argila pegajosa

S O LOS 11
Estrutura
A estrutura do solo é o agrupamento quentemente na estrutura do solo.
das partículas minerais (argila, silte Um torrão de solo pode ser formado
e areia) e da matéria orgânica, tan- por vários agregados, que são fa-
to viva como morta, que compõem cilmente separados uns dos outros.
o solo, bem como o espaço poroso Dependendo de como se agrupam
formado entre elas. Quando o solo os materiais que compõem o solo,
possui ao menos um pouco de argila podem ser identificados diferentes
e matéria orgânica, as partículas se tipos de estrutura.
agrupam em unidades estruturais
maiores, que são os agregados. As
Agregados: formados a partir da
raízes, as hifas dos fungos e substân-
união e cimentação das partículas
cias gomosas excretadas tanto por primárias (areia, silte e argila) que
fungos como por bactérias exercem compõem o solo, sendo as substân-
um papel importante na agregação cias orgânicas os principais agentes
cimentantes.
das partículas minerais e conse-

Hifas de fungos
“seguram” os agregados

A areia é um material solto e


Bactérias e fungos
sem aderência, mas ajuda
produzem gomas que
a formar poros maiores
funcionam com uma cola devido ao seu tamanho

Agregado, a unidade básica A argila envolve as


da estrutura do solo partículas de areia e
silte, unindo-as

O húmus também
Os espaços vazios que surgem ajuda na união das
da organização das partículas partículas de solo
são os poros do solo
O silte ocupa os
espaços vazios,
reduzindo a porosidade

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Os solos sob Na superfície
vegetação nativa do solo, a
geralmente têm, compactação e o
na superfície, impacto das gotas
estrutura granular, de chuva podem
formada pela ação originar uma
dos organismos camada fina de
do solo estrutura laminar

Nos solos
Nos horizontes
compactados, os
mais profundos,
agregados são
como o B, os
maiores e estão
blocos são a
mais próximos
estrutura mais
uns dos outros,
comum No horizonte C, a
diminuindo a
estrutura é maciça,
porosidade
com torrões de
formas irregulares e
tamanhos variados
e sem agregados
definidos

S O LOS 13
Porosidade
Entre as partículas de areia, silte e poros, que permitem a drenagem
argila, existem espaços vazios de- da água e aeração do solo; e poros
nominados poros do solo. A porosi- menores, os microporos, mais as-
dade é uma das principais caracte- sociados à retenção de água.
rísticas do solo, pois está associada Os solos arenosos têm muitos
ao desempenho de suas funções, macroporos; por isso, drenam a
uma vez que os poros são respon- água rapidamente. Já os solos ar-
sáveis pela infiltração e retenção de gilosos com estrutura granular têm
água, aeração, além de ser o hábitat boas quantidades de micro e ma-
dos organismos do solo e o local de croporos, oferecendo assim condi-
crescimento das raízes. Existem po- ções melhores para as plantas.
ros grandes, denominados macro-

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Retenção de água
Os poros do solo podem ser ocupa- de força para retirar a água. No solo
dos por água ou por ar. Quando o seco, como na figura abaixo, a água
solo está seco, os poros estão ocu- é retida com tanta força que não
pados predominantemente por ar. pode ser absorvida pelas plantas.
Já no solo saturado, a água ocupa Já quando o solo está saturado, a
todos os poros e não há aeração. água é fracamente retida, sendo
A “força” com que o solo retém a facilmente drenada. Existe uma
água depende da umidade. É como condição ótima de umidade para as
torcer uma camisa para secá-la: plantas, na qual a água é disponível
cada vez é preciso um pouco mais e a aeração, adequada.

Solo úmido
Há bastante água
para as plantas, mas
os poros maiores
permanecem
vazios, garantindo
aeração adequada
para as raízes (que
também precisam
Solo seco Solo encharcado
de oxigênio para a
O solo retém a água respiração) Todos os poros do solo
com tanta força estão ocupados pela
que as plantas não água, que é fracamente
conseguem utilizá-la retida e acaba por se
aprofundar no solo até
atingir o lençol freático

S O LOS 15
Principais
tipos de
solos brasileiros
exemplificados por perfis de
Lavras e região

Neossolo Litólico e Neossolo Regolítico


• Horizonte A sobre a rocha inalte-
rada (Neossolo Litólico) ou sobre
a rocha apodrecida (Neossolo Re-
golítico).
• Solos pouco desenvolvidos (jo-
vens).
• Ocorrem em áreas íngremes, como
serras, em regiões quentes e chu-
vosas, mas podem ocorrer tam-
bém em áreas planas, em regiões
frias ou com pouca chuva.
• Principais solos da Serra da Bocai-
na, em Lavras, e de tantas outras ga e na Serra do Espinhaço, todas
serras, como em Carrancas, Itutin- em MG.

16 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Cambissolo
• Solos que possuem, além do ho-
rizonte A, horizonte B ainda em
formação, chamado de incipiente
(raso).
• São de difícil uso quando ocorrem
em áreas de relevo mais acidenta-
do (montanhoso), mas comumen-
te são cultivados com lavouras pe-
renes, como café e pastagens.
• Solos com horizontes B e C com
alto teor de silte, o que os torna
muito suscetíveis à erosão, exigin-
do cuidados especiais.

Argissolo
• Solos em que o horizonte B apre-
senta maior teor de argila do que
o horizonte A, devido à movimen-
tação de argila durante a formação
do solo

• Geralmente possui uma camada


adensada logo abaixo do hori-
zonte A, o que pode reduzir a infil-
tração de água e dificultar o cresci-
mento de raízes.

S O LOS 17
• Ocorrem em relevo ondulado. perenes, como o café, frutíferas e
• Adequados para cultivo de plantas pastagens.

Latossolo
• Solos com horizonte B muito pro-
fundo, mas ácido e pouco fértil.
• São os solos mais velhos do mundo.
• Ocorrem em regiões com relevo
plano e suavemente ondulado.
• Por serem aptos à mecanização
agrícola, são intensamente culti-
vados.
• Ocorrem em todo o Brasil, com
variações regionais. São os solos
predominantes na Amazônia e no
Cerrado.

Camada adensada: camada do solo de Relevo ondulado: formado por vários


baixa permeabilidade, devido a um arranjo morros ou colinas arredondados e não mui-
mais denso das partículas do solo que causa to altos, com declividade entre 8% e 20%.
redução da porosidade.
Ácido: acidez do solo se refere a valores de
pH inferiores a 7,0.

18 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Solos de várzea
• Solos com coloração acinzentada
ou escurecidos pela matéria orgâ-
nica. Na região de Lavras, os mais
comuns são os Gleissolos (solos
cinzas de várzeas) e, menos fre-
quentes, os Organossolos (solos
com quantidades muito grandes
de matéria orgânica).
• Ocorrem em áreas baixas da pai-
sagem onde há maior acúmulo
de água e decomposição lenta da
matéria orgânica.
drenados artificialmente e utiliza-
• Em geral, são áreas de preserva-
dos para agricultura, em especial
ção permanente pela proximidade
para o cultivo de arroz inundado,
com cursos d’água.
devido a incentivos governamen-
• No passado (décadas de 1970 e tais por meio do programa PRO-
1980), muitos desses solos foram VÁRZEAS (hoje extinto).

Massapê e terra roxa: Existem dois solos muito famosos no


Brasil, por terem sido largamente cultivados desde o passado colonial. Os
solos de massapê têm esse nome por serem muito pegajosos quando úmi-
dos devido à sua textura argilosa. São encontrados no Nordeste e preferi-
dos para cultivo de cana-de-açúcar. Já a terra roxa tem seu nome derivado
da palavra italiana “rosso”, que significa vermelho, devido à forte coloração
desses solos. As terras roxas ocorrem do norte do RS até o Triângulo Mi-
neiro e sobre eles se pratica, desde o passado, intensa agricultura.

S O LOS 19
O solo
e os ciclos
biogeoquímicos
O solo e o ciclo da água
O solo tem papel essencial no ciclo A água retida no solo pode eva-
da água. As chuvas podem atingir porar-se pela ação da energia solar,
o solo diretamente ou podem ser in- ou pode ser absorvida pelas plantas,
terceptadas pela vegetação. Quando que irão transpirá-la pelas folhas ou
a chuva é interceptada, pode eva- utilizá-la em crescimento e desen-
porar-se diretamente da superfície volvimento. A evapotranspiração
das plantas ou escorrer até o solo. (evaporação + transpiração) retorna a
Quando a intensidade da chuva é água à atmosfera, reiniciando o ciclo.
superior à capacidade do solo de ab-
sorvê-la, forma-se o escoamento
Escoamento superficial: excesso de
superficial, responsável pela ero- água que o solo não é capaz de absorver e
são dos solos, enchentes e assorea- que escoa sobre a sua superfície, também
mento de rios. A água que infiltra conhecido como enxurrada ou deflúvio.

pode permanecer no solo, devido à Evapotranspiração: processo de


capacidade de retenção de água, ou trans­ferência natural da água, no estado
de vapor, da superfície da Terra para a
pode deslocar-se em profundidade,
atmosfera. A evapotranspiração inclui a
indo alimentar os aquíferos depois água proveniente da evaporação da água
de ser “filtrada” pelo solo. do solo e da transpiração das plantas.

20 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


TRANSPIRADO PELAS
PLANTAS

Nascentes e olhos d’água


A água que brota da terra sempre nos fascinou e antigamente acredita-
va-se que seria uma forma de intervenção divina ou milagre. Mas você
já pensou de onde essa água realmente vem? A água das nascentes ou
surgências tem origem no lençol freático, que é alimentado pela água
das chuvas que se infiltra no solo. Nesses locais, o lençol freático na
verdade está aflorando à superfície do terreno.

S O LOS 21
O solo e o ciclo do carbono
O solo é um grande dreno de carbo- CO2 para a atmosfera (respiração),
no, havendo quase o dobro de car- mas uma fração não é perdida, per-
bono no solo do que na vegetação manecendo no solo como molécu-
e atmosfera juntas. Os resíduos de- las orgânicas estabilizadas, como
positados no solo pelos organismos húmus e também retida na bio­
são consumidos pelos decomposi- massa dos organismos, incluindo
tores. Uma parte é liberada como as raízes de plantas.

Húmus: fração da matéria orgânica re- gânicos. Normalmente constitui a prin-


lativamente resistente à decomposição, cipal fração da matéria orgânica do solo.
usualmente marrom-escura a preta,
formada por vários processos biológi- Biomassa: parte da matéria orgânica
cos de transformação dos resíduos or- constituída pelos organismos vivos.

22 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Como a qualidade do solo afeta
esses ciclos?
Um solo com boa qualidade é aque- parcela que escoa sobre a superfí-
le capaz de desempenhar suas fun- cie, que, por sua vez, causa erosão,
ções. Absorção e armazenamento assoreamento e eutrofização dos
da água da chuva e sua condução cursos d’água, além das enchentes.
aos sistemas aquíferos são funções Manter o solo permanentemen-
do solo, em ecossistemas natu- te coberto por vegetação ou resí-
rais, urbanos e agrícolas. Processos duos vegetais, entre outras prá-
como impermeabilização do solo ticas, protege o solo do impacto
(por concreto e asfalto) ou mesmo da chuva e fornece alimento para
compactação severa impedem ou a diversidade de organismos que
reduzem grandemente a infiltração nele habitam, e consequentemen-
da água da chuva, aumentando a te, mantêm a qualidade do solo.

S O LOS 23
O aquecimento global e as ticas que aumentam os teores de
mudanças climáticas parecem es- matéria orgânica do solo, como re-
tar associados à atuação humana florestamento, sistema de plantio
através da emissão dos gases de direto, adubação verde, adubação
efeito estufa. As consequências orgânica, entre outros. Atualmen-
disso já se fazem sentir, como pe- te, porém, o solo tem balanço ne-
ríodos cada vez mais prolongados gativo de carbono (emissão maior
de seca e chuvas concentradas e que absorção), devido ao desma-
intensas. O solo pode amenizar tamento e práticas agrícolas ina-
esse problema através do seques- dequadas, como revolvimento
tro de carbono, que significa a ab- excessivo do solo, que acelera a
sorção de grandes quantidades de decomposição da matéria orgânica
CO2 da atmosfera por meio de prá- pelos organismos.

Aquecimento global: é o aumento da Gases de efeito estufa: os gases de efeito


temperatura média dos oceanos e do ar per- estufa (GEE) são substâncias gasosas que
to da superfície da Terra. Um dos respon- absorvem parte da radiação infraverme-
sáveis pelo aumento de temperatura são as lha, emitida principalmente pela superfí-
concentrações crescentes de gases do efeito cie terrestre, e dificultam o escape desta
estufa, resultado de atividades humanas, radiação para a atmosfera, aumentando a
como a queima de combustíveis fósseis temperatura da Terra. Os principais GEE
(derivados de petróleo e carvão mineral) e são o dióxido de carbono (CO2), o metano
o desmatamento de florestas. (CH4), o óxido nitroso (N2O), perfluorcar-
bonetos (PFC’s).

24 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Importância
agrícola
dos solos
V imos anteriormente que os
so­
los têm importante papel
nos ciclos biogeoquímicos, desem-
produtivas, pois neles são cultivadas
as plantas que fornecem alimento,
madeira, fibras, energia, etc. Mui-
penhando funções essenciais para a tas vezes, essas funções entram em
manutenção da vida no planeta. conflito, devido ao mau uso do solo
Além da função ambiental, os so- e manejo inadequado, o que provoca
los também desempenham funções a sua degradação.

Os solos nutrem as plantas


As plantas necessitam de 17 elemen- Assim como a água, os nutrien-
tos químicos, que são chamados de tes são armazenados no solo e dis-
nutrientes. Os elementos C, H, e O ponibilizados às plantas. A maio-
são retirados da água (que é arma- ria dos nutrientes encontra-se no
zenada no solo) e do ar, enquanto
Solução do solo: é a água do solo (sua
os nutrientes minerais (N, P, K, Ca, fase líquida); mas não se trata de água
Mg, S, Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, Cl, B, Mo) pura, e sim de uma solução que contém
são fornecidos principalmente pelo nutrientes (cátions, como Ca+2, Mg+2,
K+ e ânions, como PO43-) e outros ma-
solo. As raízes absorvem água e nu-
teriais dissolvidos.
trientes da solução do solo.

S O LOS 25
solo em formas iônicas (como Ca2+, naturalmente ácidos, com valores
Mg2+, K+, SO42- e H2PO4-) aderidos de pH entre 4,5 e 5,5. A maioria das
na superfície das partículas eletri- plantas prefere solos com pH entre
camente carregadas do solo que 5,5 e 6,5; por isso, a correção do pH
têm carga oposta. Do contrário, pela aplicação de calcário é uma prá-
seriam rapidamente “lavados” pela tica agrícola fundamental nos nos-
água das chuvas que se infiltra no sos solos.
solo, processo esse conhecido como Os nutrientes são retirados do
lixiviação. solo pelas plantas e devem ser retor-
O pH é uma das mais importan- nados através da adubação, para que
tes características químicas do solo. o potencial produtivo seja mantido
Os solos das regiões tropicais são ao longo dos anos.

26 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Adubos minerais, orgânicos e verdes
A adubação é uma prática agrícola essencial para que o solo mantenha sua
capacidade produtiva ao longo dos anos. Em algumas situações, a falta
de adubação é responsável pelo início do processo de degradação do solo,
como frequentemente ocorre em pastagens mal manejadas. Os adubos
minerais (também chamados de inorgânicos, químicos ou sintéticos) são
produzidos por processos industriais ou extraídos da natureza pela mine-
ração, podendo ou não passar por processos industriais depois disso. Os
adubos orgânicos incluem estercos, farinhas, bagaços, cascas e restos de
vegetais, decompostos ou ainda em estágio de decomposição. Já os adu-
bos verdes são plantas, geralmente leguminosas ricas em nitrogênio, que
ao serem cultivadas antes, junto com a cultura principal, ou entre duas
culturas, liberam os nutrientes contidos em suas folhas e palhada ao se-
rem decompostas, também enriquecendo o solo com matéria orgânica.

Degradação
C U R IO SI D A D E
do solo
O Brasil, segundo a
Degradação do solo consiste em FAO (Food and
Agriculture Organi
tudo aquilo que compromete o de- zation), ocupa a qu
posição no ranking inta
sempenho de suas funções. Normal- mundial dos países
com maiores popu
mente os maiores problemas estão lações rurais afet
pela degradação adas
relacionados ao uso inadequado do dos solos. A China
o primeiro lugar, co ocupa
solo pelos seres humanos. m uma população
afetados de 457 m de
ilhões de pessoas,
vezes maior que no dez
Brasil.

S O LOS 27
Erosão O impacto das gotas de chuva pro-
A erosão é a principal causa da de- voca o desprendimento de partícu-
gradação de solos em todo o mun- las de solo, que são transportadas
do. As principais formas são a ero- para outros locais pela enxurrada.
são eólica, causada pelo vento, e a Com isso, o solo vai sendo empo-
erosão hídrica, provocada pela ação brecido gradativamente, pois as
do impacto das gotas de chuva so- camadas mais superficiais são jus-
bre a superfície do solo sem cober- tamente aquelas que concentram a
tura (plantas, palhadas, pedras). maior parte dos nutrientes e maté-
A erosão eólica é mais comum em ria orgânica. Esses sedimentos, ao
locais com clima seco, enquanto a serem depositados, podem provo-
erosão hídrica é a mais importan- car assoreamento e eutrofização de
te na maior parte de nosso país. cursos de água.

PRINCIPAIS FORMAS DE EROSÃO HÍDRICA

Laminar Sulcos Voçoroca

Maior degradação do solo


Maiores perdas de solo e nutrientes

28 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


V O C Ê SA B IA ? do Pa raná aumentou a
no es ta do
a de plantio direto pela
A adoção do sistem pu , de m en os de 50 para 200 anos,
atório de Itai mento no reservat
ório.
vida útil do reserv la s e do ass or ea
nas áreas agríco o, o
redução da erosão vo lv id o an ua lm en te antes do planti
vez de ser re teriores, o que o
Nesse sistema, em a da s la vo uras an
berto pela palhad
solo permanece co a. Pa ra ta nt o, são empregadas
osiva da ch uv no
protege da ação er rm it em a se m ea dura diretamente
icadas, que pe
semeadoras modif
ada.
solo sob essa palh

Assoreamento e
eutrofização
Assoreamento é a de-
gradação parcial ou to­
tal de córregos, rios e
lagos pela deposição
de sedimentos arrastados pelas en-
xurradas durante o processo erosi- de um rio ou lago são enriquecidas
vo. Esse acúmulo de sedimentos re- com nutrientes, minerais e orgâ-
duz a profundidade de rios e lagos, nicos, originando um crescimento
diminui a vida útil de hidrelétricas e, excessivo de algas, que reduzem a
no caso de águas correntes, provoca quantidade de oxigênio dissolvido
redução da correnteza ou até mes- na água, dificultando e até mesmo
mo sua obstrução. Já a eutrofização aniquilando a vida animal por falta
é um processo pelo qual as águas de oxigênio.

S O LOS 29
Contaminação do solo solo é danosa para a produção agríco-
A deposição de poluentes sem ne- la, pois influencia negativamente o
nhum tipo de controle causa a con- crescimento de raízes, fazendo com
taminação do solo. Esses poluentes, que a planta tenha problemas em seu
devido à infiltração de água e escoa- desenvolvimento. A compactação
mento superficial, podem atingir cur- afeta principalmente os macroporos,
sos d’água e o lençol freático, afetando comprometendo a infiltração de água
sua qualidade. O solo também atua e a aeração do solo. Nas fotos abai-
como um grande filtro ambiental, re- xo podemos ver alguns exemplos de
duzindo toxicidade de poluentes, na- compactação do solo.
turalmente, e mesmo artificialmente,
como em aterros sanitários.

Principais agentes
contaminantes:
• Resíduos industrias e de mineração
• Lixo doméstico
• Agrotóxicos
• Metais pesados
• Atividades agrícolas e pecuária

Compactação do solo
A compactação do solo consiste basi-
camente na redução de sua porosida-
de. Na agricultura, a compactação do
solo deve-se ao tráfego de máquinas
agrícolas (como tratores e colhedo-
ras), e também ao pisoteio de ani-
mais, como o gado. A compactação do

30 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


O solo nos
ecossistemas
O solo integra as esferas do pla-
neta (Biosfera, Atmosfera,
Hidrosfera e Litosfera), o que o tor-
se em um estado de equilíbrio di-
nâmico, facilmente rompido pela
intervenção humana. O solo é um
na mediador de processos globais. recurso essencial para a vida no pla-
Por se encontrar em íntimo contato neta e, por isso, deve ser mais cui-
com esses domínios, o solo os afeta dado pelos seres humanos.
e é por eles afetado, encontrando-

S O LOS 31
O ecossistema
solo
A lém de compor os ecossiste-
mas terrestres, o solo é o há-
bitat de uma enorme diversidade
grande importância na qualida-
de e no desempenho das funções
ambientais e produtivas. Os orga-
de organismos, frequentemente nismos que compõem o ecossis-
ignorados por aqueles que fazem tema solo são tratados nas outras
uso deste recurso, mas que têm cartilhas.

32 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


O solo e suas múltiplas funções são a base da vida no planeta. Além
de produzir nossos alimentos, fibras para nossas roupas e energia
para diversos fins, é responsável pela qualidade do ar e da água, entre
outras funções. Apesar disso, os diferentes segmentos da sociedade, em
geral, negligenciam a sua importância. Para muitos, o solo é considerado
“sujeira”. Do mesmo modo, os inúmeros organismos que nele ha­bi­tam
são considerados pragas e causadores de doenças. No entanto, organis-
mos maléficos são uma minoria das espécies existentes e são controla-
dos por outras espécies quando o ambiente está em equilíbrio. Equilíbrio
que é rompido por atividades humanas inadequadas. Isso acontece dev-
ido ao enorme desconhecimento sobre tudo que se refere ao solo. O ob-
jetivo da coleção “Conhecendo a vida do solo” é aumentar a consciência
sobre a importância do solo, de modo que esse recurso da natureza seja
preservado, não só para garantir a existência das futuras gerações, mas
também para melhorar a qualidade de nossa vida hoje.

Os editores

ISBN 978-85-8127-065-4

9 788581 270654

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