Você está na página 1de 11

Síntese: Inferno

Quando Dante se encontra no meio da vida, ele se vê perdido em uma


floresta escura, e sua vida havia deixado de seguir o caminho certo. Ao
tentar escapar da selva, ele encontra uma montanha que pode ser a sua
salvação, mas é logo impedido de subir por três feras: um leopardo, um
leão e uma loba. Prestes a desistir e voltar para a selva, Dante é
surpreendido pelo espírito de Virgílio - poeta da antigüidade que ele admira
- disposto a guiá-lo por um caminho alternativo. Virgílio foi chamado por
Beatriz, paixão da infância de Dante, que o viu em apuros e decidiu ajudá-
lo. Ela desceu do céu e foi buscar Virgílio no Limbo. O caminho proposto
por Virgílio consiste em fazer uma viagem pelo centro da terra. Iniciando
nos portais do inferno, atravessariam o mundo subterrâneo até chegar aos
pés do monte do purgatório. Dali, Virgílio guiaria Dante até as portas do
céu. Dante então decide seguir Virgílio que o guia e protege por toda a
longa jornada através dos nove círculos do inferno, mostrando-lhe onde são
expurgados os diferentes pecados, o sofrimento dos condenados, os rios
infernais, suas cidades, monstros e demônios, até chegar ao centro da terra,
onde vive Lúcifer. Passando por Lúcifer, conseguem escapar do inferno por
um caminho subterrâneo que leva ao outro lado da terra, e assim voltar a
ver o céu e as estrelas.

Síntese: Purgatório
Saindo do inferno, Dante e Virgílio se vêem diante de uma altíssima
montanha: o Purgatório. A montanha é tão alta que ultrapassa a esfera do
ar e penetra na esfera do fogo chegando a alcançar o céu. Na base da
montanha encontram o ante-purgatório, onde aqueles que se arrependeram
tardiamente dos seus pecados aguardam a oportunidade para entrar no
purgatório propriamente dito. Depois de passar pelos dois níveis do ante-
purgatório, os poetas atravessam um portal e iniciam sua nova odisséia,
desta vez subindo cada vez mais. Passam por sete terraços, cada um mais
alto que o outro, onde são expurgados cada um dos sete pecados capitais.
No último círculo do purgatório, Dante se despede de Virgílio e segue
acompanhado por um anjo que o leva através de um fogo que separa o
purgatório do paraíso terrestre. Finalmente, às margens do rio Letes, Dante
encontra Beatriz e se purifica, banhando-se nas águas do rio para que possa
prosseguir viagem e subir às estrelas.

Síntese: Paraíso
O Paraíso de Dante é dividido em duas partes: uma material e uma
espiritual (onde não há matéria). A parte material segue o modelo
cosmológico de Ptolomeu e consiste de nove círculos formados pelos sete
planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno), o céu das
estrelas fixas e o Primum Mobile - o céu cristalino e último círculo da
matéria. Ainda no paraíso terrestre, Beatriz olha fixamente para o sol e
Dante a acompanha até que ambos começam a elevar-se, "transumanando".
Guiado por Beatriz, Dante passa pelos vários céus do paraíso e encontra
personagens como São Tomás de Aquino e o imperador Justiniano.
Chegando ao céu de estrelas fixas, ele é interrogado pelos santos sobre suas
posições filosóficas e religiosas. Depois do interrogatório, recebe
permissão para prosseguir. No céu cristalino Dante adquire uma nova
capacidade visual, e passa a ter visão para compreender o mundo espiritual,
onde ele encontra nove círculos angélicos, concêntricos, que giram em
volta de Deus. Lá, ao receber a visão da Rosa Mística, se separa de Beatriz
e tem a oportunidade de sentir o amor divino que emana diretamente de
Deus, "o amor que move o Sol e as outras estrelas".

Canto I
Saída do inferno - Quatro estrelas
Espírito de Catão de Útica
Para navegar por águas melhores, minha poesia agora deixa para trás
aquele mar cruel e segue para o segundo reino, onde a alma humana se
purifica, e se torna digna de elevar-se ao céu.

Quatro estrelas iluminavam o céu do Pólo Sul. Quatro estrelas nunca


vistas por homem algum em vida (a não ser pelo primeiro casal), pois
nunca são vistas no céu do hemisfério norte. Voltei a minha atenção ao
outro pólo, e vi um vulto se aproximar. Era um velho solitário. Tinha barba
longa e cabelos brancos. Seu semblante era iluminado pela luz das quatro
estrelas, que davam-lhe um aspecto divino, como se a luz do Sol brilhasse
em seu rosto.

- Quem sois vós? - perguntou ele, movendo suas plumas. - Quem sois
vós que, vencendo a correnteza do cego riacho, conseguistes fugir da prisão
eterna? Quem foi que vos guiou? Quem foi a lanterna que vos indicou o
caminho pelas trevas infernais? Será que todas as leis do abismo foram
destruídas? Ou foram novas decisões tomadas no céu, permitindo que vós,
condenados, chegásseis até o pé da minha montanha?

Com sinais e gestos, meu mestre pediu que eu ficasse de joelhos e


baixasse a cabeça em sinal de respeito. Depois, dirigindo-se ao velho,
falou:

- Eu não estou aqui por vontade própria. Uma dama que desceu do céu
me pediu que eu acompanhasse este aqui. Ele ainda não viu a morte, mas
por sua imprudência ela esteve tão perto que pouco tempo havia para salvá-
lo. Como eu disse, fui enviado para ajudá-lo e não havia outro caminho a
não ser este, que eu escolhi. A ele mostrei todos os condenados do Inferno
e pretendo ainda mostrar as almas que se purgam no teu domínio. Que te
agrade aceitar a sua vinda: ele busca a liberdade, tão cara, como deve saber
alguém que deu a vida por ela, como tu fizeste em Útica. Não quebramos
as leis divinas. Este homem ainda vive e Minós não me impede. Eu vim
daquele círculo onde está a tua Márcia. Por seu amor, então, deixa que
possamos conhecer teus sete reinos.

- Márcia era um prazer aos meus olhos, enquanto eu era vivo -


respondeu o velho-. Ela agora vive além do rio Aquerontee não mais me
move, pela lei que vigora desde o dia em que eu fui trazido para cá. Mas se
uma dama celeste te ordena, não é preciso adulação, basta pedir em seu
nome. Vai, então, com esse homem e coloca em volta da sua cintura um
junco liso. Não esqueças de lavar o seu rosto para que fique livre das
névoas infernais. Em volta desta ilha, lá onde as ondas quebram na praia,
encontrarás juncos nascendo na areia onde nenhuma outra planta poderia
sobreviver. Para continuar, deves guiar-te pelo Sol, que em breve estará
nascendo. Ele indicará o caminho onde encontrarás a subida mais suave.

O velho calou-se. Pouco depois, desapareceu. Eu me levantei e olhei

para Virgílio, que falou:


- Vem! Me acompanha!

Eu obedeci. Seguimos para a praia por um caminho deserto e plano,


com a imensidão do mar preenchendo nosso horizonte. Paramos assim que
chegamos a um lugar onde o orvalho se formava nas folhas das plantas. O
mestre abaixou-se e molhou suas mãos na grama úmida. Logo compreendi
o que ele pretendia fazer e ofereci-lhe meu rosto manchado de lágrimas,
que ele limpou, restaurando sua cor verdadeira que o Inferno havia
ocultado.

Continuamos a caminhar até a praia. Como o velho havia dito, juncos


cresciam nas areias onde planta alguma seria capaz de sobreviver. Virgílio
procurou um junco liso para amarrar na minha cintura. Assim que ele
arrancou a planta do chão, ocorreu um milagre: um novo junco, igual ao
que ele arrancara, imediatamente nasceu no mesmo lugar.
Orelhas do livro:

É apenas na aparência que esta inesperada e surpreendente história de

amor entre um ancião e uma ninfeta se insere numa tradição da qual


fa-

zem parte o Vladimir Nabokov de Lolita, o Thomas Mann de Marte


em

Veneza e o Yasunari Kawabata de A casa das belas adormecidas, ain-

da que este último tenha sido citado na epígrafe de Memória de


minhas

putas tristes e fornecido o mote a partir do qual o escritor colombiano

Gabriel Garcia Márquez pôs fim a um período de dez anos longe dos

romances.

Um leitor mais atento vai encontrar aqui as principais referências e


moti-

vações desse hino de louvor à vida e, por extensão, ao amor, já que


um

não existe sem o outro no imaginário do Prêmio Nobel de Literatura


de

1982. Apesar de parecer estranho, uma dessas chaves está no conto de

fadas A bela adormecida, que, não por acaso, é citado em um


momento

crucial dessa narrativa ambientada em uma cidade colombiana


imaginá-

ria, numa época que de tão remota parece imemorial.


A semelhança com a famosa fábula do escritor francês Charles
Perrault

fica mais explícita na adolescente, que aqui surge dormindo, como se

estivesse à espera do seu príncipe encantado. Mas ela também está

presente no velho jornalista, narrador dessas memórias, que vai viver

cerca de cem anos de solidão embotado e embrutecido, escrevendo

crônicas e resenhas maçantes para um jornal provinciano, dando aulas

de gramática para alunos tão sem horizontes quanto ele, e, acima de

tudo, perambulando de bordel em bordel, dormindo com mulheres


des-

cartáveis.

Só quando acorda ao lado da ainda pura ninfeta Delgadina é que este

personagem vai ganhar a humanidade que lhe faltou enquanto fugia do

amor como se tivesse atrás de si um dos generais que se revezaram no

poder da mítica Colômbia de Gabriel Garcia Márquez. O medo do


amor

é tão superlativo que o anti-herói dessas memórias vai preterir


conviver

com a mais terrível ameaça para o macho latino: o fantasma da impo-

tência. E enquanto tivesse forças, resistiria ao poder do amor.

Parte desse medo se deve aos ridículos a que o amor nos expõe, aqui

elevado à última potência em cenas como a que o ancião anda numa

bicicleta cantando “com ares do grande Caruso”, ou aquela em que


des-
trói um quarto de bordel. por mais que lidemos com esse sentimento

como se fosse um paletó dois números acima do nosso, apenas ele e

tão somente ele, o amor, nos faz humanos, como desde tempos
imemo-

riais a arte vem tentando provar. Seja nos boleros mais sentimentais,

que ressoam nas paixões evocadas pelos grandes mestres da ficção,

ou em obras-primas como esta.

“Não devia fazer nada de mau gosto, ad-

vertiu a mulher da pousada ao ancião Egu-

chi. Não devia colocar o dedo na boca da

mulher adormecida nem tentar nada pare-

cido.”

Yasunari Kawabata,

A casa das belas adormecidas

Orelhas do livro:

É apenas na aparência que esta inesperada e surpreendente história de

amor entre um ancião e uma ninfeta se insere numa tradição da qual


fa-

zem parte o Vladimir Nabokov de Lolita, o Thomas Mann de Marte


em

Veneza e o Yasunari Kawabata de A casa das belas adormecidas, ain-


da que este último tenha sido citado na epígrafe de Memória de
minhas

putas tristes e fornecido o mote a partir do qual o escritor colombiano

Gabriel Garcia Márquez pôs fim a um período de dez anos longe dos

romances.

Um leitor mais atento vai encontrar aqui as principais referências e


moti-

vações desse hino de louvor à vida e, por extensão, ao amor, já que


um

não existe sem o outro no imaginário do Prêmio Nobel de Literatura


de

1982. Apesar de parecer estranho, uma dessas chaves está no conto de

fadas A bela adormecida, que, não por acaso, é citado em um


momento

crucial dessa narrativa ambientada em uma cidade colombiana


imaginá-

ria, numa época que de tão remota parece imemorial.

A semelhança com a famosa fábula do escritor francês Charles


Perrault

fica mais explícita na adolescente, que aqui surge dormindo, como se

estivesse à espera do seu príncipe encantado. Mas ela também está

presente no velho jornalista, narrador dessas memórias, que vai viver

cerca de cem anos de solidão embotado e embrutecido, escrevendo

crônicas e resenhas maçantes para um jornal provinciano, dando aulas


de gramática para alunos tão sem horizontes quanto ele, e, acima de

tudo, perambulando de bordel em bordel, dormindo com mulheres


des-

cartáveis.

Só quando acorda ao lado da ainda pura ninfeta Delgadina é que este

personagem vai ganhar a humanidade que lhe faltou enquanto fugia do

amor como se tivesse atrás de si um dos generais que se revezaram no

poder da mítica Colômbia de Gabriel Garcia Márquez. O medo do


amor

é tão superlativo que o anti-herói dessas memórias vai preterir


conviver

com a mais terrível ameaça para o macho latino: o fantasma da impo-

tência. E enquanto tivesse forças, resistiria ao poder do amor.

Parte desse medo se deve aos ridículos a que o amor nos expõe, aqui

elevado à última potência em cenas como a que o ancião anda numa

bicicleta cantando “com ares do grande Caruso”, ou aquela em que


des-

trói um quarto de bordel. por mais que lidemos com esse sentimento

como se fosse um paletó dois números acima do nosso, apenas ele e

tão somente ele, o amor, nos faz humanos, como desde tempos
imemo-

riais a arte vem tentando provar. Seja nos boleros mais sentimentais,

que ressoam nas paixões evocadas pelos grandes mestres da ficção,

ou em obras-primas como esta.


“Não devia fazer nada de mau gosto, ad-

vertiu a mulher da pousada ao ancião Egu-

chi. Não devia colocar o dedo na boca da

mulher adormecida nem tentar nada pare-

cido.”

Yasunari Kawabata,

A casa das belas adormecidas

Você também pode gostar