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AS 10 ALTERAÇÕES

DO PACOTE ANTICRIME
NO DIREITO PENAL

Prof.
Erivelton Almeida
@proferivelton

RUA JERÔNIMO ROSADO, 124, CENTRO CONCURSEIROMOSSOROENSE


EM FRENTE AO COLÉGIO DOM BOSCO 84 9 9862.1117
Olá! Eu sou o Professor Erivelton Almeida, Especialista em Direito
Penal, atuante na área criminal há 18 anos. Preparei esse material
para você que está focado em concursos públicos nas carreiras
Policiais, principalmente na PCRN. Atualmente sou Policial Civil no
Estado do RN e Professor do @concursseiromossoroense.
Contato: @proferivelton

AS 10 ALTERAÇÕES DO PACOTE ANTICRIME NO DIREITO PENAL

Mais conhecido como Pacote Anticrime, a Lei 13.964 de 24 de dezembro de 2019 é


a mais recente alteração do Código Penal Brasileiro (CPB). Além do CPB, o Pacote
Anticrime alterou vários outros dispositivos da legislação Processual Penal e Penal
Extravagante (Lei de Drogas, Estatuto do Desarmamento, Identificação Criminal, Lei das
Organizações Criminosas, dentre outras).

Nesse texto vamos apresentar e comentar as alterações que o Pacote Anticrime


realizou no CPB. O nosso Código Penal é de 1941 e de lá para cá passou por várias
alterações. Compreender essas mudanças significa entender que o direito não é estático e
evolui juntamente com a sociedade.

Vamos apresentar na sequência o que mudou no Código Penal com a vigência do


Pacote Anticrime.

PARTE GERAL

01) LEGÍTIMA DEFESA

No âmbito das excludentes de ilicitude foi inserido o Parágrafo Único ao Art. 25


“ampliando” o conceito de legítima defesa. O novo parágrafo inclui, de forma literal, que o
agente de segurança pública que repelir agressão ou risco de agressão à vítima refém, agirá
em legitima defesa.
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Vários autores, dentre eles Guilherme de Souza Nucci, apontam que essa implementação
pode ser vista como redundante e meramente simbólica. Isso porque, essa possibilidade já
está amparada pelo caput do artigo 25, quando permite a legítima defesa de terceiros.

Na verdade só é possível entender essa mudança específica com a leitura do projeto


inicial. Como o projeto foi um tanto desidratado pelo Congresso, e posteriormente sofreu
alguns vetos do governo, alguns dispositivos ficaram, a princípio, sem muito sentido. Porém,
para fins de provas de concursos, o que interessa é o que foi literalmente alterado.

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se


também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou
risco de agressão à vítima mantida refém durante a prática de crimes.

02) CONVERSÃO DA MULTA E REVOGAÇÃO

A mudança nesse artigo foi quanto à competência jurisdicional para cobrança da


multa penal. No texto anterior a multa aplicada na sentença penal se transformava em
dívida de valor e passava a ser executada pela Fazenda Pública. Assim, com a nova
redação, é certo que a pena de multa será executada perante o Juízo da Execução
Penal e a competência para a promoção é do Ministério Público.

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o
juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas
à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição.

03) LIMITE DAS PENAS

Essa é uma das alterações que mais chamou atenção da sociedade. A mudança é
um exemplo da evolução da legislação penal. O tempo máximo de cumprimento de pena de
30 anos foi proposto em 1940, quando a expectativa de vida do brasileiro girava em torno de
45 anos. A expectativa de vida do brasileiro atualmente, de acordo com o IBGE, é de 76
anos. Nada mais justo que aumentar também o tempo máximo de cumprimento de pena.

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Importante observar que 40 anos é o limite máximo para cumprimento da pena
privativa de liberdade, o que não impede do réu ser condenado a 80, 100, ou mais
anos. Inclusive são essas penas que são as levadas em consideração para fins dos
benefícios de progressão de regime e livramento condicional. Nesses casos, a pessoa
começa cumprindo a pena estabelecida na sentença e só terá direito aos benefícios após
cumprir o percentual estabelecido em cima da pena definitiva, e não em cima dos 40 anos.

Ex.: imagine que uma pessoa pegou 300 anos de prisão. Em tese ela só terá direito
de progredir de regime após cumprir 48 anos da pena (16%). Nesse caso sairá do regime
fechado antes (40 anos). Veja que o cálculo para progressão foi em cima da pena
definitiva e não em cima dos 40 anos.

Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior
a 40 (quarenta) anos.
§ 1º Quando o agente for condenado à penas privativas de liberdade cuja soma seja
superior a 40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo
deste artigo.

04) DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

Foram duas modificações em relação ao livramento condicional. Uma é em relação ao


comportamento, que anteriormente teria que ser SATISFATÓRIO (regular). Agora é
exigido comprovação de BOM comportamento. A outra mudança impede livramento
condicional para presos que possuem falta grave nos últimos 12 meses.

Requisitos do livramento condicional


Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado à pena privativa de
liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:
I - cumprida mais de um terço da pena, se o condenado não for reincidente em crime
doloso e tiver bons antecedentes;
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;
III - comprovado:
a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto.

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IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela
infração;
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo,
prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e
terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação
de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.

05) DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO

A finalidade da inserção desse novo artigo no CPB é o combate ao enriquecimento


ilícito.

Nas infrações penais com penas em abstrato superior a 6 anos, o juiz pode
decretar como efeito da condenação, a perda dos bens correspondentes à diferença entre
o valor do patrimônio do condenado e àquele montante que seria compatível com o seu
rendimento líquido.

Vê-se, nesse novo dispositivo, uma possibilidade de ações mais eficazes por parte do
estado contra o crime organizado, retirando seus bens,quando servirem de instrumentos
para o delito, independente se a posse desses bens eram licitas ou ilícitas.

Os parágrafos correspondentes trazem informações sobre as possibilidades de


defesa do condenado e como se dá a participação do MP e do Juiz. A lei exige, por
exemplo, o pedido expresso do Ministério Público, que deve ser feito por ocasião da
denúncia, inclusive com a indicação da diferença apurada entre o patrimônio que o
condenado possui e o que seria compatível com sua atividade profissional e/ou econômica
lícita.

Na sentença, o juiz deverá declarar a diferença efetivamente apurada, após o


exercício do contraditório e da ampla defesa, com a especificação dos bens que terão a
perda decretada.

Por fim determina que os instrumentos utilizados para a prática de crimes por
organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou

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do Estado, dependendo da competência para julgamento do crime (justiça estadual ou
federal).

Art. 91-A. - Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena
máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como
produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do
patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio
do condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício
direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a
partir do início da atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a
procedência lícita do patrimônio.
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério
Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e
especificar os bens cuja perda for decretada.
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas
e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo
da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das
pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o
cometimento de novos crimes.

06) CAUSAS IMPEDITIVAS DA PRESCRIÇÃO

A prescrição possui causas suspensivas. A suspensão determina que o prazo deixe


de fruir, ficando paralisado. Com o fim da suspensão, a prescrição volta a correr de onde
parou.

Deste modo, se o prazo prescricional é de 10 anos e, ao completar 4 anos do prazo,


sobrevém uma causa suspensiva, o prazo ficará congelado nos 4 anos já corridos.
Cessada a causa de suspensão do prazo, este voltará a fruir, reiniciando-se nos 4 anos em
que havia sido suspenso e correndo pelos 6 anos restantes.

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Da leitura do dispositivo, percebe-se que a prescrição não corre enquanto, em outro
processo, não for resolvida questão de que depende a existência do crime. Também há
suspensão do prazo prescricional no caso de o agente estar cumprindo pena no exterior.

A prescrição não corre durante a pendência de embargos de declaração, bem


como de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis. Ou seja, deve-se
analisar a não admissibilidade dos recursos para que haja a suspensão do prazo
prescricional.

Celebrado o acordo de não persecução penal que foi instituído, sem base legal,
por uma resolução do CNMP e, posteriormente, efetivamente criado pela Lei 13.964/2019,
fica suspensa a prescrição enquanto ele não for cumprido ou rescindido.

Por fim, a prisão do indivíduo, por outro motivo, é uma causa suspensiva da
prescrição. Enquanto o agente estiver preso por delito diverso, a prescrição não corre. Só
voltará a correr quando ele for posto em liberdade, enfatizando que ele deveria estar preso
por motivo diverso, ou seja, não em razão do delito cujo prazo prescricional estava
suspenso.

Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento
da existência do crime;
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores,
quando inadmissíveis; e
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal.
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição
não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo.

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CRIMES EM ESPÉCIES

07) DISPOSIÇÕES COMUNS DOS CRIMES CONTRA HONRA

Esse é outro artigo que foi alterado pelo congresso, e logo depois sofreu um veto. Ao
final o texto permaneceu exatamente como estava antes. A única mudança é que o que hoje
é o § 1º, era no texto anterior um parágrafo único.

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos
crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
difamação ou da injúria.
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no
caso de injúria.
§ 1º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena
em dobro.

08) DO ROUBO E DA EXTORSÃO

O Pacote passou a prever mais um aumento de pena, que incide no caso de emprego
de arma branca: “VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma
branca.”

Vale recordar que o emprego de arma de fogo faz incidir um aumento de pena de
2/3 (dois terços). Já no caso da arma branca, a causa de aumento será de 1/3(um
terço)até metade.

Antes da Lei 13.654/2018, o aumento de pena apenas se referia ao emprego de


arma. Sem especificação, haveria um aumento de pena no caso de emprego de arma de
fogo, de arma branca ou de arma imprópria. A referida Lei revogou tal aumento de pena e
passou a prever aumentosomente para emprego de arma de fogo.

Com o advento da Lei 13.964/2019, buscou-se a correção da alteração legislativa


anterior, incluindo-se mais um aumento de pena, a do emprego de arma branca. Portanto, a

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partir da vigência Pacote, passa a ser majorado o crime cometido com emprego de arma
branca.

Além disso, foi incluído no mesmo artigo, o parágrafo 2º-B. Que prevê que o roubo
com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena
prevista no caput deste artigo.

Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção
da coisa para si ou para terceiro.
§ 2ºA pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I -(revogado);
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância;
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade;
VI - se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego;
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
§ 2º-A.A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II - se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.
§ 2º-B.Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
§ 3ºSe da violência resulta:
I - lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
II - morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

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09) ESTELIONATO CONTRA IDOSO

A Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, introduziu o parágrafo 5º ao artigo 171 do


Código Penal, que, portanto, se aplica ao estelionato e à todas as modalidades
equiparadas. O novo dispositivo traz as hipóteses em que a ação penal passa a ser pública
incondicionada.

Portanto, a regra é a ação penal pública condicionada à representação. De acordo


com o § 5º a ação penal passa a ser incondicionada se o delito for praticado contra a
Administração Pública, Direta ou Indireta; contra criança ou adolescente; contra pessoa com
deficiência mental; contra maior de 70 (setenta) anos de idade ou contra incapaz.

§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:


I - a Administração Pública, Direta ou Indireta;
II - criança ou adolescente;
II - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

10) CONCUSSÃO

A pena do crime de concussão era uma das mais criticadas pela doutrina, pois antes
da alteração essa pena era de 2 à 8 anos (considerada baixa para o crime). Era menor,
inclusive, do que a pena de corrupção passiva. Dessa forma, a pena de quem exigia era
menor do que a pena de quem solicitava ou recebia. Eu costumava dizer aos alunos que
para o servidor era melhor exigir do que pedir. O pacote anticrime corrigiu essa distorção e
elevou a pena máxima do crime de concussão para 12 anos.

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Não esqueçam que o Pacote Anticrime alterou vários outros dispositivos


do Código e Processo Penal e da Legislação Extravagante. Esse pequeno
resumo apresenta apenas as mudanças no Código Penal.
Ótima semana e bons estudos!

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