AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 187.172 - DF (2012/0117403-3)
RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO AGRAVANTE : DISTRITO FEDERAL PROCURADORA : ÚRSULA RIBEIRO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA E OUTRO(S) AGRAVADO : ASSOCIAÇÃO DAS FILHAS DE NOSSA SENHORA DO MONTE CALVÁRIO ADVOGADO : ERICH ENDRILLO SANTOS SIMAS E OUTRO(S)
DECISÃO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. INSTITUIÇÃO
DE ENSINO SEM FINS LUCRATIVOS. IMUNIDADE. REQUISITOS PREVISTOS NO ART. 14 DO CTN. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO DO DISTRITO FEDERAL DESPROVIDO.
1. Agrava-se de decisão que negou seguimento a Recurso Especial
fundando na alínea a do art. 105, inciso III da Constituição Federal, interposto contra acórdão proferido pelo egrégio TJDFT, assim ementado:
TRIBUTÁRIO. INSTITUIÇÃO DE ENSINO SEM FINS LUCRATIVOS.
IMUNIDADE. REQUISITOS. PROVA.
1. Para que entidade de ensino sem fins lucrativos goze da
imunidade tributária prevista no art. 150, VI, C, da CF, basta que preencha os requisitos estabelecidos no art. 14, do CTN.
2. Provado que o imóvel da entidade e os serviços por ela
prestados estão diretamente ligados à sua finalidade essencial, goza essa de imunidade tributária quanto ao IPTU e ao ISS.
3. Apelação provida (fls. 1.327).
2. Nas razões do Recurso Especial, a Agravante sustenta, em
síntese, a violação aos arts. 9o., IV, c e 14, ambos do CTN. Aduz que a recorrida não comprovou o preenchimento dos requisitos exigidos para a concessão da referida imunidade tributária.
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Superior Tribunal de Justiça 3. É o que havia para relatar.
4. Não merece prosperar o inconformismo.
5. O Tribunal a quo, após a análise do conjunto fático e das
alegações da executada, concluiu pelo preenchimento dos referidos requisitos, merecendo destaque o seguinte trecho do acórdão impugnado:
Segue que, para gozar de imunidade, suficiente que a entidade
preencha os requisitos estabelecidos no CTN.
O pedido foi julgado improcedente sob o fundamento de que o
reconhecimento da imunidade tributária se faz por meio de procedimento administrativo, no qual devem ser cumpridas as exigências impostas pela autoridade fiscal, entre elas a apresentação dos documentos que permitam o exame quanto aos requisitos que autorizam a declaração de imunidade - exigência não atendida pela.- autora, que deixou de apresentar atestado de pleno funcionamento, expedido pela Promotoria de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social, certificado de entidade beneficente de assistência social, expedido pelo Conselho Nacional de Assistência Social, e portaria com autorização de funcionamento da instituição.
No âmbito do Distrito Federal, o reconhecimento de situação apta a
gerar imunidade tributária se faz por meio de ato declaratório, publicado no diário oficial (Dec. 16.106/94, arts. 69 e 72).
Referida exigência, entretanto, não é prevista no CTN como
requisito para o reconhecimento da imunidade tributária, bastando à autora provar, além da condição de instituição de ensino, que não tem fins lucrativos.
A autora foi reconhecida como instituição de ensino pela Secretaria
de Educação do DF (fls. 59) e pelo Ministério da Educação e Cultura (fls. 28).
E a inexistência de finalidade lucrativa foi demonstrada mediante
prova pericial.
Cumpre mencionar que, antes desta ação, a autora impetrou
mandado de segurança, sob idênticos fundamentos (proc. 2003.01.1.095568-8).
A sentença indeferiu a inicial e extinguiu o processo, sem resolução
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Superior Tribunal de Justiça de mérito, sob o argumento de que há evidente necessidade de prova pericial a fim de se perquirir se o impetrante preenche ou não os requisitos previstos no art. 14 do Código Tributário Nacional, quais sejam, constitui entidade sem fins lucrativos, não remunera seus dirigentes, aplica seus recursos no país e mantém, regular escrita fiscal.
O laudo pericial, em resposta aos quesitos formulados pela autora,
afirmou que ela: a)'tem, como objetivo estatutário a prestação de serviços voltados à educação; b) aplica integralmente, no país, os recursos necessários à manutenção de seus objetivos institucionais; c) mantém em seu acervo documentos que contêm informações relativas às suas despesas e receitas, revestidos das formalidades capazes de assegurar-lhes a exatidão; d) não distribui qualquer parcela de seu patrimônio e de suas rendas, a qualquer titulo. E concluiu que a autora preenche os requisitos técnico-contábeis previstos no art 14, do CTN (fls 228/231).
Preenchidos, portanto, os requisitos exigidos no CTN para que a
autora - instituição de ensino - seja enquadrada como entidade sem fins lucrativos, é de ser reconhecida a imunidade tributária pretendida.
Além disso, o estatuto social da autora - documento que,
isoladamente, não seria suficiente para o reconhecimento da imunidade - atesta que os serviços por ela prestados estão ligados à sua finalidade essencial - prestação de ensino (art 2, fls 31).
Por outro lado, não se pode olvidar que a imunidade quanto ao
IPTU foi anteriormente reconhecida pelo DF (fls. 48/51).
E termo de vistoria, realizada por auditor fiscal do DF, atestou que
o imóvel da autora vincula-se às suas finalidades essenciais (61).
Enfim, a falta de apresentação de documentos não previstos em lei
não afasta o direito dá autora de, preenchidos os requisitos exigidos pelo CTN, ver reconhecida a imunidade tributária (fls. 1.329/1.330).
6. Assim, para se chegar à conclusão diversa da firmada pelas
instâncias ordinárias seria necessário o reexame das provas carreadas aos autos, o que, entretanto, encontra óbice na Súmula 7 desta Corte, segundo a qual a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial. Nesse sentido já decidiu esta egrégia Corte Superior em diversos julgados:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA DE DE DÉBITO
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Superior Tribunal de Justiça FISCAL. IPTU. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. REQUISITOS DO ART. 14 DO CTN. SÚMULA 7/STJ. ÔNUS DA PROVA. CONTRIBUINTE.
1. O ônus da prova quanto ao preenchimento dos requisitos do art.
14 do CTN cabe ao contribuinte. Concluindo o Tribunal de origem que os documentos apresentados não são aptos a conceder a imunidade prevista no art. 150, inciso VI, alínea "c", § 4º, da Constituição Federal, mudar essa conclusão demandaria o reexame do acervo fático-probatório dos autos, o que é inviável em sede de recurso especial, sob pena de violação da Súmula 7/STJ.
2. Proposta a ação anulatória de lançamento fiscal pelo
contribuinte, incumbiria a este, como autor, a prova do fato constitutivo do seu direito à imunidade (art. 333, inciso I, do CPC), o que não ocorreu.
Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 105.288/SP, Rel.
Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 28.03.2012).
² ² ²
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ICMS. IMUNIDADE. ENTIDADE ASSISTENCIAL. NÃO COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A SUA CONCESSÃO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INVIABILIDADE. SÚMULA 7 DO STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Tendo o acórdão recorrido entendido pela não demonstração
dos requisitos essenciais para a concessão da imunidade tributária relativa ao ICMS, rever tal posicionamento implicaria o indispensável reexame de matéria fático-probatória, o que é vedado ao Superior Tribunal de Justiça.
2. Incidência da Súmula 7/STJ: "A pretensão de simples reexame
de prova não enseja recurso especial".
3. Agravo regimental não provido (AgRg no Ag 1.332437/SP, Rel.
Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe 14.10.2011).
7. Por fim, registro que esta Corte já decidiu que o reconhecimento
da imunidade tributária prevista na Constituição Federal não está vinculado ou condicionado a qualquer ato administrativo, bastando para tanto que se comprove que a entidade atente aos requisitos estabelecidos na Carta Magna. Nesse sentido:
TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE DÉBITO FISCAL.
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Superior Tribunal de Justiça IPTU. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL SEM FINS LUCRATIVOS. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS PARA O GOZO DA IMUNIDADE RECONHECIDA COM BASE EM MATÉRIA PREDOMINANTEMENTE CONSTITUCIONAL E NO SUPORTE FÁTICO CONSTANTE NOS AUTOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO-CONHECIDO.
1. Cuida-se de recurso especial interposto pelo Distrito
Federal (art. 105, III, a, da CF/88), contra acórdão assim espelhado (fl. 345):
CONSTITUCIONAL - EMBARGOS À EXECUÇÃO DE DÉBITO
FISCAL - IPTU - CONSELHO CULTURAL THOMAS JEFFERSON - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA - INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS - PRESENÇA DOS REQUISITOS EXIGIDOS PELA CONSTITUIÇÃO.
A instituição de ensino que em seu ato constitutivo veda a
distribuição de seu patrimônio ou de suas rendas, a título de lucro ou participação no resultado, e que reverte os recursos obtidos para a manutenção de suas atividades educacionais faz jus à imunidade tributária.
O reconhecimento da imunidade tributária prevista na Constituição
Federal não está vinculado ou condicionado a qualquer ato administrativo, bastando para tanto que se comprove que a entidade atende aos requisitos estabelecidos na Carta Magna.
2. O Distrito Federal interpõe recurso especial alegando
violação dos arts. 9o., IV, c, e 14, ambos do Código Tributário Nacional.
3. Ainda que se demonstre prequestionada a matéria federal
de que cuidam os artigos de lei ditos violados, fica inviabilizado o acesso às Instâncias Superiores quando o acórdão recorrido, ao apreciar a lide, os aplicou subsidiariamente, levando em consideração as provas e fatos circunstanciados nos autos. Também obstaculiza o conhecimento do apelo nobre a predominância do embasamento constitucional (artigo 150, VI, c e § 4o. da CF) a interferir na viabilidade da pretensão recursal ora espelhada.