Você está na página 1de 10

1 INTRODUÇÃO

O canteiro de obras pode ser entendido como a “fábrica da obra” e, dessa forma, deve ser
projetado segundo os princípios de organização e administração da produção. A adoção de
ferramentas e princípios de outros setores industriais, como a lean production, tem auxiliado
na organização eficaz de suprimentos em canteiros de obras. Diversos pesquisadores
enfatizam a importância do projeto da produção, que considere a distribuição espacial dos
espaços internos do canteiro e sua relação com o ambiente externo da obra. A adoção de
diretrizes e metodologias de planejamento e de projeto tem sido enfatizada como estratégia
que, além de observarem o aspecto legal, apresentam também cuidados em relação à
racionalização, qualidade e produtividade da produção. Para Mourão; Novaes; Kemmer (2009),
as dificuldades temporais e espaciais de locomoção e de localização das instalações em
canteiros são uma das maiores causas de perdas na produtividade. Estas situações podem ser
evitáveis e gerenciáveis se identificadas a tempo. Entretanto, nem sempre as empresas usam
ferramentas de gerenciamento que consideram as necessidades de alocação de espaços no
canteiro de obras. Para Souza (2000), o estudo do canteiro de obras torna-se instrumento
extremamente importante na busca da qualidade e da produtividade no processo produtivo,
pois grande parte das ações acontece no próprio canteiro. Passa a ser necessário prever a
localização de cada área, entre elas as de trabalho, as de estocagem e as de circulação.
Entretanto, a definição dos espaços de estocagem é, na maioria das vezes, feita em tempo
real, no momento em que os materiais são recebidos. Isso frequentemente resulta em
canteiros caóticos e operações ineficientes de manuseio dos materiais. O conhecimento
antecipado do fluxo físico entre os diversos setores previstos torna-se fundamental para a
eficiência do processo como um todo. Ressalta-se que a combinação de espaço limitado com o
amplo número de elementos que compõe um canteiro de obra, torna a concepção do projeto,
similar à montagem de um “quebra cabeças”, necessitando empenho e criatividade por parte
do projetista, para encontrar soluções viáveis e práticas (SAURIN; FORMOSO, 2006). Existe
também uma série de recomendações técnicas e legais que precisam ser seguidas durante a
previsão do canteiro. A principal é a NR-18 (Norma Regulamentadora 18), referente às
condições de segurança e saúde do trabalhador. São colocadas prescrições, como a previsão e
dimensionamento das áreas de vivência e a restrição de circulação em áreas de cargas para
gruas, por exemplo. Mas o atendimento somente às prescrições legais não garante que o
canteiro possua uma boa organização logística. Os fundamentos logísticos aplicados ao
canteiro de obra tornam-se fundamentais para a eficiência e gestão do ambiente de trabalho.
O enfoque na logística em projetos de canteiros, afeta o tempo de deslocamento de
trabalhadores e o custo de movimentação dos materiais e otimiza a execução das atividades e
na produtividade global da obra e serviços (MENEZES; SERRA, 2003). Dessa forma, este
trabalho pretende analisar um canteiro de obras real, que apesar de possuir uma boa
estrutura de suporte à obra, como áreas de vivência bem dimensionadas, não utilizou
amplamente os princípios de organização e de logística, fazendo surgir assim, vários problemas
de fluxos físicos na circulação dos materiais e componentes.

2 O PROJETO DO CANTEIRO DE OBRAS

Segundo Ferreira; Franco (1998), para as empresas atenderem às normas técnicas e


regulamentadoras e a um mercado competitivo mais exigente, torna-se necessária a
elaboração do projeto do canteiro de obras, como forma de atender às exigências legais e
possibilitar a otimização das condições de trabalho e segurança nas obras. Com isso, o sistema
de produção do edifício torna-se mais eficiente. O projeto do canteiro é o serviço integrante
do processo de construção, responsável pela definição do tamanho, forma e localização das
áreas de trabalho, fixas e temporárias, e das vias de circulação, necessárias ao
desenvolvimento das operações de apoio e execução, durante cada fase da obra, de forma
integrada e evolutiva, de acordo com o projeto de produção do empreendimento, oferecendo
condições de segurança, saúde e motivação aos trabalhadores e execução racionalizada dos
serviços (FERREIRA; FRANCO, 1998). O arranjo físico ou layout é um estudo sistemático, que
procura uma combinação ótima das instalações industriais que concorrem para a produção,
dentro de um espaço disponível. Procura harmonizar e integrar equipamentos, mão-de-obra,
administração indireta, enfim, todos os itens de uma atividade industrial.

2.1 O planejamento do canteiro O planejamento ineficaz do projeto de canteiro de obras ou


layout, irá continuamente afetar o custo da produção, encarecendo o produto. É importante
que o setor responsável pelo arranjo físico seja constantemente alimentado por um sistema de
informações da estrutura industrial. Portanto, o canteiro de obras é uma estrutura dinâmica,
mutável com o desenvolver da obra. Enquanto a obra vai sendo executada, o mesmo assume
características e formas especiais em função da diversidade dos serviços, materiais e
equipamentos presentes, caracterizando diferentes fases de configuração do canteiro.
Mourão; Novaes; Kemmer (2009) citam que o problema de transporte de materiais pode ser
minimizado através de um estudo do layout do canteiro, procurando a melhor posição para o
guincho, a central de betoneiras, locais para o estoque de material e entrada de caminhões.
Este estudo deve procurar a otimização das distâncias, de modo a reduzir o transporte. Outros
condicionantes que influenciam no dimensionamento são as programações físicas da obra, a
frequência de abastecimento dos fornecedores, a disponibilidade de espaço no canteiro, a
existência de compras com lote econômico, a necessidade de manutenção dos estoques
mínimos, e as condições e restrições de armazenamento dos insumos no local. Em função das
restrições e exigências existentes, diversas empresas alocam seus insumos ou áreas de
vivência em edificações vizinhas alugadas, que devem ser consideradas na concepção de
projetos de canteiros de obras. De um modo geral, os principais pontos que determinam as
alterações de um layout são: mudança no projeto do produto ou no processo produtivo, novo
produto, melhoria das condições de trabalho, variações na demanda do produto, substituição
de equipamentos, introdução de novos métodos de organização e controle. Portanto, o
projeto do canteiro deve considerar a interface entre as estratégias de produção, as fases do
planejamento de execução da obra e as instalações necessárias.

2.2 Diretrizes para o projeto do canteiro de obras Os princípios que devem ser respeitados na
elaboração do layout de um canteiro de obras devem ser os mesmos do layout industrial, que
de acordo com Borba (1998), são:

 Integração de todos os elementos e fatores: almoxarifados, entradas e saídas para


operários distintos, para os clientes, disposição dos equipamentos etc.;

 Mínima distância: o transporte nada produz, portanto deve ser minimizado e se possível
eliminado;

 Obediência do fluxo de operações: evitar cruzamentos, retornos, interferências e


congestionamentos;

 Racionalização do espaço: aproveitar as quatro dimensões (geométrica e temporal) –


subsolo, espaços superiores para transportar, canalizações, depósitos pouco usados;
 Satisfação e segurança do empregado: um melhor aspecto das áreas de trabalho promove
tanto a elevação da moral do trabalhador quanto a redução de riscos de acidentes;

 Flexibilidade: possibilidade de mudança dos equipamentos, quando evoluir ou modificar a


linha de produtos – condições atuais e futuras. Para que o projeto de canteiro de obra seja o
mais apropriado possível, é necessário que o mesmo se desenvolva segundo uma metodologia
pré-estabelecida. Maia (2003) apresenta um método para subsidiar a definição do arranjo
físico dos elementos do canteiro, considerando a elaboração de uma lista de critérios:
acessibilidade, facilidade para a movimentação de materiais e de pessoal, interferência entre
os fluxos, confiabilidade dos equipamentos, qualidade da estocagem, segurança patrimonial,
segurança da mão-de-obra, flexibilidade, estética e marketing, interação administração e
produção, salubridade e motivação do operário e custo. As informações básicas para a
realização do layout do canteiro de obras devem ser analisadas através de vários documentos,
entre eles: projetos executivos revisados e compatibilizados, cronograma físico da obra,
cronograma de compras, especificações técnicas da obra, definições sobre compra de
argamassas e/ou concretos prontos, NR 18 (BRASIL, 1995), produtividade dos operários para
os serviços da obra, estudos de inter-relacionamento homem/máquina e equipamentos,
definição de equipe técnica, definição do número de funcionários na obra (empreiteiras e
subempreiteiras), definição dos processos construtivos, rede de serviços públicos, visita ao
local para verificação de: acessos, muros, desníveis e detalhes de projetos (FÉLIX, 2000). Deve-
se levar em consideração que o planejamento do arranjo físico de um canteiro de obras é
desafiador, pois para ter sucesso, o planejador deve ter a experiência em projetos
semelhantes. O arranjo físico do canteiro deve garantir a estabilidade das operações ao longo
do processo de construção e evitar a necessidade de muitas alterações nas alocações dos
elementos, além daquelas previstas durante o planejamento (FREITAS, 2009). Deve-se primar
pela minimização das interferências entre setores de produção, áreas de vivência e áreas
administrativas no canteiro de obras, privilegiar a qualidade de vida no trabalho juntamente
com a produtividade e qualidade dos serviços, e avaliar a capacidade do sistema atender à
produção e o custo das alternativas. 2.3 As condições de trabalho no canteiro de obras Os
principais índices para dimensionamento de canteiros de obras são a NR-18 revisada em 1995
(BRASIL, 2011) e norma técnica ABNT 12.284, denominada por Áreas de Vivência em Canteiro
de Obras - Procedimento (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1991). O
atendimento aos requisitos legais garante a conformidade com a legislação e consequente
melhoria do ambiente de trabalho, mas nem sempre otimiza a organização e a distribuição do
ambiente visando a máxima produtividade e eficiência no canteiro. Muitas vezes, as decisões
do arranjo físico são tomadas considerando-se somente os custos envolvidos e o atendimento
mínimo e necessário para o funcionamento da obra. Saurin (1997) propôs uma lista de
verificação das condições de trabalho e de organização do canteiro de obras, tomando por
base alguns requisitos da NR-18 e as diretrizes de planejamento logístico. Durante o
preenchimento do questionário existem três possíveis respostas: “SIM”, “NÃO” e “NÃO SE
APLICA”. As respostas assinaladas com a opção “SIM” representam a existência de boas
práticas e as respostas assinaladas com “NÃO” significam que as práticas não estavam
implementadas no canteiro em análise. Já as respostas “NÃO SE APLICA” (NA) indicam que as
práticas não eram necessárias no canteiro, seja devido à tipologia da obra ou a fase de
execução no dia da visita. Ao final da avaliação, obtém-se uma nota geral da obra, numa escala
de zero a dez, que é um indicador do comportamento do canteiro em relação aos aspectos
avaliados. A análise dos indicadores obtidos orienta a tomada de decisões e estratégias de
melhoria das condições de trabalho no canteiro. Esta lista foi utilizada neste artigo como
diagnóstico referencial das condições do canteiro. Menezes; Serra (2003) verificaram que as
ações e práticas de segurança além de melhorarem as condições de vida do trabalhador,
propiciam também maior eficácia ao processo produtivo, através do projeto do canteiro e
correta previsão das instalações necessárias à administração da obra.

2.4 Gestão dos fluxos físicos A organização e adequada sinalização do canteiro têm grande
importância para o desenvolvimento dos fluxos físicos, aumentando a transparência dos
processos. Com a definição e delimitação clara do local de estocagem de cada insumo, pode-se
facilmente reconhecer os desvios. Essa prática pode reduzir a ocorrência de movimentações e
manuseio desnecessários, além de poder reduzir a ocorrência de congestionamentos devido à
movimentação de materiais, ferramentas e equipamentos, que se encontram espalhados de
forma desorganizada pelo canteiro. A análise do fluxo de materiais consiste na determinação
da melhor sequência de movimentação dos materiais através das etapas exigidas pelo
processo, e na determinação da intensidade ou magnitude desses movimentos. O fluxo deve
permitir que o material seja movimentado progressivamente durante o processo, sem
retornos, desvios ou cruzamentos. De acordo com Zegarra (2000), os baixos índices de
produtividade podem ser relacionados a uma gestão logística deficiente, sendo as principais
características observadas nos canteiros: (i) transporte interno excessivo de materiais; (ii)
estocagem sem critério; (iii) grandes perdas; (iv) furtos; (v) falta de material; (vi) erros nas
entregas; (vii) grande quantidade de materiais devolvidos ao fornecedor; (viii) quebras e (ix)
danos em trabalhos realizados. Além disso, os estudos mostraram que, em média, um operário
passa aproximadamente um terço do seu tempo na obra, procurando e manuseando
materiais. Para proporcionar transparência aos fluxos físicos, podem ser utilizadas ferramentas
para a coleta e divulgação de dados sobre a produção. Os gráficos, imagens, plantas,
diagramas e mapofluxogramas podem ser utilizados como fonte de informações para auxiliar
na tomada de decisão com base em dados e fatos, durante as reuniões de planejamento. Além
disso, os diagramas e mapofluxogramas podem auxiliar na realização de simulações em planta
com o objetivo de analisar e melhorar a forma de desenvolvimento dos trabalhos, através da
eliminação de práticas que contribuem para a ocorrência de perdas e da identificação de
sequências e formas de produção mais eficientes. Portanto, estas ferramentas podem fornecer
informações para a elaboração dos planos com base em dados e fatos. Porém, deve-se
ressaltar que a sua utilização, deve ser acompanhada por uma análise que vise identificar os
pontos nos quais podem ser efetuadas melhorias. Deve-se observar, porém, que nem todas as
interferências entre atividades irão causar conflitos. Outro aspecto importante é a observação
das características dos espaços necessários para cada atividade, pois essa caracterização irá
auxiliar na identificação do tipo de conflito de tempo e espaço que se tem, e se o mesmo
realmente pode causar problemas ou não.

3 ESTUDO DE CASO

O canteiro de obras em estudo contemplou a execução de um empreendimento residencial na


cidade de São Carlos, SP. O empreendimento de padrão popular é composto por quatro torres
com quatro pavimentos cada, oito apartamentos por pavimento, construído em alvenaria
estrutural com blocos de concreto. As edificações destinadas a esse público são normalmente
situadas distantes de áreas centrais e formadas por condomínios horizontais, pequenos
prédios. Normalmente possuem grande disponibilidade de espaço para a implantação do
canteiro de obras, representada pelas áreas de estacionamento. A Figura 1 apresenta a
implantação do canteiro de obra em estudo, com a localização das principais áreas: stand de
vendas, as edificações administrativas, almoxarifado, sala do mestre e engenheiro, carpintaria,
reservatório de água, refeitório, vestiário, sanitários e a central de argamassa. Ressalta-se que
o acesso principal ao canteiro (entrada), caracteriza-se por uma via com fluxo intenso de
veículos, já as outras ruas que contornam o empreendimento, apresentam um fluxo mínimo
de veículos. Os serviços em execução na fase de realização do estudo eram referentes às
etapas de obra bruta e obra fina. A alvenaria estrutural já havia sido concluída em três blocos,
estando em fase de finalização o quarto bloco, com a execução da platibanda. Dessa forma,
estavam sendo executados os seguintes serviços: alvenaria, reboco, pintura externa, gesso,
revestimento cerâmico (piso e parede) e pintura interna. Pela complexidade dos serviços em
execução e pelo planejamento da produção, pode-se afirmar que o canteiro encontrava-se em
seu momento de pico do processo de execução, caracterizado por um grande número de
operários e uma quantidade significativa de atividades realizadas de forma simultânea.

Figura 1. Implantação do canteiro de obras com a representação das áreas.

3.1 Áreas administrativas O uso de construções em madeira com dois pavimentos é usual nos
canteiros, devido ao baixo custo, facilidade de montagem e desmontagem e ocupação de
menor área no terreno. A reutilização dos materiais é possível, principalmente quando se
procura utilizar a mesma configuração dos espaços. As situações observadas são verificadas
nas Figuras 2 e 3
Figura 2. Estoque de materiais e ferramentas

Figura 3. Instalações provisórias: área administrativa

3.2 Áreas de vivência A quantidade de operários presentes na fase de realização do estudo era
de aproximadamente 80 trabalhadores, sendo que as áreas de vivência (Figuras 4 e 5)
apresentavam diversos itens em acordo com a NR-18, como a previsão dos armários
individuais e o refeitório com ampla iluminação. Analisando amplamente os itens da NR-18
conforme Figura 8, pode-se afirmar que estas áreas foram consideradas adequadas para
atendimento dos trabalhadores. Ressalta-se que as refeições eram realizadas em turnos
diferentes, para que os trabalhadores tivessem espaço físico suficiente.

Figura 4. Área de vivência: refeitório

Figura 5. Áreas de vivência: vestiário

3.3 Áreas de produção Na fase de realização do estudo, a central de argamassa era a área de
produção que estava sendo mais utilizada, apresentando quatro betoneiras em atividade
devido à grande quantidade de frentes de trabalho de serviços argamassados (Figura 9).
Entretanto, se observou que o armazenamento dos agregados não era realizado de forma
adequada, em piso nivelado e com proteção de baias nas laterais. Outra constatação é que se
procurou posicionar a central de argamassa numa posição centralizada dentro do canteiro, de
modo a diminuir o trajeto de distribuição de materiais entre os quatro blocos dos edifícios.
Entretanto, como será visto a seguir, havia muita interferência do fluxo de transporte da
argamassa com os de outros materiais.

3.4 Depósitos de materiais Os materiais como blocos, tubos, cerâmica (azulejo e piso),
madeiramento dos telhados, telhas, eram estocados no pátio do canteiro em local não coberto
(Figuras 6 e 8), o que contraria as orientações de qualidade dos produtos. Os mesmos não
estavam devidamente identificados e não havia controle do nível de estoque.

Figura 6. Área de produção: central de argamassa

Figura 7. Pátio: estoque de blocos

Figura 8. Estoque de tubos

3.5 Sistema de transporte e movimentação O sistema de transporte vertical e horizontal de


materiais utilizado na fase anterior a realização do estudo era um veículo motorizado com
manipulador telescópico, que foi retirado abruptamente do canteiro para servir à outra obra
da mesma empresa. Assim, no momento do estudo, o transporte de materiais era realizado
pelos próprios operários com uso de carriolas de pequena capacidade de transporte. Em
função disso, alguns materiais como as cerâmicas e blocos de concreto eram armazenados
após entrega do fornecedor no pátio do canteiro, próximos ao local de utilização. Os
caminhões podiam adentrar ao canteiro e fazer o descarregamento dos materiais próximo aos
locais fixados. Pode-se constatar que não havia planejamento logístico de distribuição e análise
dos fluxos de transporte interno.

4 ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Avaliação do planejamento da obra Segundo a avaliação proposta por Saurin (1997), a
pontuação para a obra é 6,4, podendo ser considerada com padrão satisfatório, dividida nos
seguintes itens de atendimento da NR18 e da logística, conforme Quadro 1 a seguir. Assim, na
obra analisada, a nota das instalações provisórias reproduz a avaliação visual do arranjo físico.
A segurança do trabalho foi parcialmente atendida, obtendo desempenho satisfatório de 7,8 e
ausência de acidentes do trabalho. O sistema de movimentação, particularmente, demonstra a
avaliação ruim (nota 4,2) destacada pela grande movimentação de materiais e componentes.
As centrais de produção apresentaram desempenho satisfatório. Quadro 1 – Pontuação dos
principais itens do canteiro segundo Saurin (1997) Itens de avaliação Nota obtida Instalações
Provisórias 6,2 Segurança na Obra 7,8 Sistema de Movimentação e Armazenamento de
Materiais 4,2 Centrais de Produção 7,1 Pode-se perceber que o item de movimentação dos
materiais, sejam eles processados ou brutos, apresenta o menor valor, sendo que uma análise
sistêmica poderá contribuir para melhorar esta avaliação. Por isso, este item será analisado e
será proposta uma solução para otimização do transporte interno.

4.2 Mapofluxograma de transporte de materiais O estudo dos fluxos físicos dos materiais é
representado por meio de linhas coloridas. A linha azul representa o fluxo físico do material
argamassa, a linha lilás - o azulejo, a linha cinza - o bloco de concreto, a linha verde - o
cimento, a linha amarela - o gesso, a linha vermelha - o piso cerâmico e a linha laranja - a tinta
e a textura. Com a execução das quatro edificações de forma simultânea, pode-se observar
uma concentração da sobreposição dos fluxos de transporte de materiais, como pode ser
observado na Figura 12.
Figura 9. Mapofluxograma de transporte de materiais: argamassa, azulejo e piso cerâmico,
bloco de concreto, cimento, gesso, textura e tinta

Observa-se na Figura 12, que o estoque do azulejo, bloco de concreto e piso cerâmico, localiza-
se próximo ao ponto de utilização e eram transportados até as edificações pelos próprios
operários. O cimento era armazenado no depósito, sendo transportado até a central de
argamassa por carriolas. O gesso ficava armazenado próximo da entrada principal do canteiro
de obras, no piso térreo da primeira edificação. O transporte do gesso até as outras três
edificações era também realizado pelos operários. A tinta e a textura eram armazenadas no
interior da última edificação, localizada na extremidade oposta à entrada. A partir dela que o
material era distribuído para as demais edificações. Por fim, os materiais utilizados na
fabricação da argamassa eram estocados próximos à central de argamassa, sendo distribuída
após processamento para as quatro edificações em construção pelos operários através de
carriolas, conforme já mencionado

5 CONCLUSÃO

O projeto do canteiro deve prever as condições mínimas de segurança e saúde prescritas na


NR-18. O canteiro estudado atende satisfatoriamente aos requisitos, atingindo pontuação
considerada boa, segundo metodologia proposta por Saurin (1997). Estas condições
colaboraram também, na visão dos pesquisadores, para que a obra conseguisse cumprir as
metas de produções fixadas pela administração do empreendimento. Para melhorar a
armazenagem e a movimentação dos materiais deve-se prever as áreas na elaboração do
projeto do canteiro, bem como a quantidade de fluxos fisicos e sua relação com outras áreas
produtivas. A visão precisa ser sistêmica e considerar a diversidade e especificidade de cada
fase de evolução da obra. Também a análise da logística deve ser pensada antecipadamente,
de forma a facilitar o fluxo físico dos recursos alocados no canteiro. O projeto do canteiro de
obras centrado no mapofluxograma de materiais auxilia na otimização do processo de
produção de uma edificação, diminuindo os desperdícios, custos e tempo de duração da
execução dos serviços. Entretanto, percebe-se que a edificação em estudo, em fase de
execução de várias atividades, sem uma análise preliminar, ocasionou um mapofluxograma de
transporte de materiais com muitos conflitos. Esses conflitos poderiam ser minimizados com o
planejamento adequado a longo, médio e curto prazo da logística do canteiro de obras. O
planejamento do canteiro deve ser iniciado antes do início da execução da obra e deve se
consolidar na proposta de um projeto específico. Assim, é importante que as empresas
construtoras tenham a consciência das perdas inerentes ao não planejamento de canteiros de
obras, e que a proposição do projeto de forma sistêmica e integrada com a produção, trará
benefícios sociais, econômicos e ambientais para a sociedade.

6 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 12284: Áreas de vivência em


canteiros de obras - Procedimento. Rio de Janeiro, 1991. 14 p. BORBA, M. Arranjo Físico. 42p.
1998. Apostila do curso de Engenharia de Produção, UFSC. Disponível em:
http://pt.scribd.com/doc/51933460/6/Principios-do-Arranjo-Fisico. Acesso em maio de 2011.
BRASIL, Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora N. 18. Considerações e Meio
Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção. Brasília: Fundacentro, 1995. 70 p.
Disponível em: < 59 phttp://portal.mte.gov.br/legislacao/norma-regulamentadora-n-18-
1.htm>. Acesso em maio de 2011. FÉLIX, M.C. Layout em canteiros de obras. Seminário Sul
Brasileiro sobre Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. 2000.
Disponível em: www.fundacentro.sc.gov.br. Acesso em março de 2001.

Você também pode gostar