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ENGENHARIA DE

PESCA
PRODUTIVIDADE E SUSTENTABILIDADE
VOLUME I

EDITORA CONHECIMENTO LIVRE


Frederico Celestino Barbosa
João Luis Ribeiro Ulhôa

Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

1ª ed.

Piracanjuba-GO
Editora Conhecimento Livre
Piracanjuba-GO
Copyright© 2020 por Editora Conhecimento Livre

1ª ed.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Barbosa, Frederico Celestino


B238E Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade
/ Frederico Celestino Barbosa. João Luis Ribeiro Ulhôa. – Piracanjuba-GO
Editora Conhecimento Livre, 2020
629 f.: il
DOI: 10.37423/2020.a37
ISBN: 978-65-86072-36-5
Modo de acesso: World Wide Web
Incluir Bibliografia
1. Pesca 2. Produtividade pesqueira 3. sustentabilidade I. Barbosa, Frederico Celestino II. Ulhôa,
João Luis Ribeiro III. Título

CDU: 620

https://doi.org/10.37423/2020.edcl37

O conteúdo dos artigos e sua correção ortográfica são de responsabilidade exclusiva dos seus
respectivos autores.
EDITORA CONHECIMENTO LIVRE

Corpo Editorial

Dr. João Luís Ribeiro Ulhôa

Dra. Eyde Cristianne Saraiva-Bonatto

MSc. Anderson Reis de Sousa

MSc. Frederico Celestino Barbosa

MSc. Carlos Eduardo de Oliveira Gontijo

MSc. Plínio Ferreira Pires

Editora Conhecimento Livre


Piracanjuba-GO
2020
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 .......................................................................................................... 12
CULTIVO DE ORGANISMOS PLANCTÔNICOS EM CONDIÇÕES LABORATORIAIS
Ana Sampaio-Nakauth
Rogério Nakauth
Leice Canto
Mônica Costa
Thalia Silva
DOI 10.37423/200501027

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................... 23
AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO DE PTEROPHYLLUM SCALARE (SCHULTZE 1823) COM
DIFERENTES DIETAS ALIMENTARES
Etevoldo Araújo - Neto
Sidney Silva
Rodrigo Silva
Suzane Neves
Rebeca Vasconcelos
DOI 10.37423/200501033

CAPÍTULO 3 .......................................................................................................... 37
INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CONSERVAÇÃO NAS PROPRIEDADES FÍSICO-
QUÍMICAS DA CARNE DO SIRI VERMELHO (CALLINECTES BOCOURTI)
Alan Araujo
Wesclen Nogueira
Carla Brito
Sandra Pinheiro
DOI 10.37423/200601068

CAPÍTULO 4 .......................................................................................................... 47
ANÁLISE DA TEMPERATURA SUPERFICIAL DE RESERVATÓRIOS EMPREGANDO
SENSORIAMENTO REMOTO COM APLICAÇÃO NA PISCICULTURA
Vinícius Maciel Haitzmann dos SANTOS
Rafael Augusto Franzim AMBROSIO
Edilson Dias MOREIRA
Darllan Collins da Cunha e SILVA
DOI 10.37423/200601086

CAPÍTULO 5 .......................................................................................................... 60
COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE FARINHA DE PEIXE
“PIRACUÍ” PRODUZIDA ARTESANALMENTE
Rogério Ferreira Nakauth
Ana Carolina Souza Sampaio-Nakauth
Sandra Regina Gregório
DOI 10.37423/200601094

SUMÁRIO
CAPÍTULO 6 .......................................................................................................... 75
ANÁLISE DA EFETIVIDADE DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO DE
PRESERVAÇÃO DO MANGUEZAL DA ILHA DO MARANHÃO
Lyssandra Kelly Silva Ferreira
Thaís Brito Freire
Lygyanne Kássia Silva Ferreira De Oliveira
Tatiana de Jesus Pereira Ferreira
DOI 10.37423/200601109

CAPÍTULO 7 .......................................................................................................... 89
ALIMENTAÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE PEIXES NO RESERVATÓRIO DE CURUÁ-
UNA, SANTARÉM, AMAZÔNIA, BRASIL
Gilcideya Silva Prado
Telma Evellyn Bezerra Marinho
Sérgio Melo
DOI 10.37423/200601119

CAPÍTULO 8 .......................................................................................................... 107


PERFIL DOS COMERCIANTES DE PESCADO NO MUNICÍPIO DE PINHEIRO, MARANHÃO,
BRASIL
Kerly Pereira
Vanessa Corrêa
Carlos Soares
Danilo Lopes
Rodrigo Moura
Adriana Bordignon
DOI 10.37423/200601133

CAPÍTULO 9 .......................................................................................................... 120


MORFOMETRIA CORPORAL: RENDIMENTO DE COSTELA DE TILÁPIA DO NILO
(OREOCHOMIS NILOTICUS)
Flavia Renata Potrich Signor
Elisiane da Silva Figueiredo
Hellen Krystiane Alves Ferreira
Adilson Reidel
Arcangelo Augusto Signor
DOI 10.37423/200601134

SUMÁRIO
CAPÍTULO 10 .......................................................................................................... 130
CULTIVO DA MICROALGA MARINHA CHAETOCEROS MUELLERI COM DEPLEÇÃO DA
FONTE DE AZOTO E ANÁLISE DE RENDIMENTO DE BIOMASSA
Susana Félix Moura dos Santos
Ana Cláudia Teixeira Silva
Illana Beatriz Rocha de Oliveira
José Lucas da Silva Oliveira
Francisco Rafael Moreira dos Santos
Vitória Lima Damasceno
Maria Jackeline Barbosa dos Santos
Mariana Luzia Monteiro Silva
Dilliani Naiane Mascena Lopes
José William Alves da Silva
DOI 10.37423/200601138

CAPÍTULO 11 .......................................................................................................... 137


RENDIMENTO DE BIOMASSA DA MICROALGA MARINHA NANNOCHLOROPSIS OCULATA
SUBMETIDA A PROCESSO DE DEPLEÇÃO DA FONTE DE NITROGÊNIO EM SEU MEIO DE
CULTURA
Illana Beatriz Rocha de Oliveira
Ana Cláudia Teixeira Silva
Susana Félix Moura dos Santos
José Lucas da Silva Oliveira
Francisco Rafael Moreira dos Santos
Vitória Lima Damasceno
Maria Jackeline Barbosa dos Santos
Mariana Luzia Monteiro Silva
Dilliani Naiane Mascena Lopes
José William Alves da Silva
DOI 10.37423/200601139

CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 144


A FAUNA ACOMPANHANTE CAPTURADA NA PESCARIA DO MAPARÁ (HYPOPHTHALMUS
MARGINATUS) NO MUNICÍPIO DE LIMOEIRO DO AJURÚ, PARÁ
Flávia Roseira
Ádria Vulcão
Silmara Tavares
Laudiceia Costa
Adimilson Pereira
Bruno Ferreira
Carlos Holanda
DOI 10.37423/200601151

SUMÁRIO
CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 146
ISOLAMENTO DE FUNGO DO GÊNERO CURVULARIA EM SISTEMA DE AQUICULTURA
MARINHA EXPERIMENTAL
Gabriel Domingos Carvalho
Flávia Regina Spago
André Batista de Souza
Henrique David Lavander
DOI 10.37423/200601165

CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 162


PRINCIPAIS CAUSAS DE ACIDENTES DE TRABALHOS EM PESCADORES ARTESANAIS DO
RIO MARACAPUCÚ - PALMAR, ABAETETUBA-PA
Welbert Souza
DOI 10.37423/200601166

CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 170


PERFIL SOCIECONÔMICO DOS PESCADORES DE MONTE ALEGRE, PARÁ
Edvane de Lourdes Pimentel Vieira
Arthur Cássio de Sousa Cardoso
Charles Hanry Faria Junior
DOI 10.37423/200601173

CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 183


ETNOCONHECIMENTO DE PESCADORES DE TRES COMUNIDADES DO MUNICÍPIO DE
MONTE ALEGRE, PARÁ, BRASIL
Arthur Cássio de Sousa Cardoso
Edvane de Lourdes Pimentel Vieira
Charles Hanry Faria junior
DOI 10.37423/200601175

CAPÍTULO 17 .......................................................................................................... 196


EFEITOS DO CONFINAMENTO NA VARIABILIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE
TAMBAQUI CULTIVADOS NO NORDESTE DO BRASIL
Claudivane de Sá Teles Oliveira
Joemille Silva dos Santos
Leydiane da Paixão Serra
Maria Vanderly Andrea
Ricardo Franco Cunha Moreira
Soraia Barreto Aguiar Fonteles
Norma Suely Evangelista-Barreto
DOI 10.37423/200601178

SUMÁRIO
CAPÍTULO 18 .......................................................................................................... 212
ESTUDO DA VARIABILIDADE GENÉTICA DE TAINHA, MUGIL CUREMA (VALENCIENNES,
1836), EM DUAS ÁREAS PESQUEIRAS DA BAHIA
Joemille Silva dos Santos
Leydiane da Paixão Serra
Vitória Lacerda Fonseca
Claudivane de Sá Teles Oliveira
Marcelo Carneiro de Freitas
Ricardo Franco Cunha Moreira
Soraia Barreto Aguiar Fonteles
DOI 10.37423/200601181

CAPÍTULO 19 .......................................................................................................... 226


REVOLUÇÃO AZUL: O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA
SUL-OCIDENTAL.
Carlos Henrique Profirio Marques
Rafael Lustosa Maciel
Suzete Roberta da Silva
Ana Luzia Assunção Claudio Araújo
DOI 10.37423/200601182

CAPÍTULO 20 .......................................................................................................... 237


ESTUDO ECOLÓGICO DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS EM AMBIENTES DE ÁGUA PRETA NA
AMAZÔNIA CENTRAL
Maria Anete Leite Rubim
Diogo Campos Cardoso
DOI 10.37423/200601186

CAPÍTULO 21 .......................................................................................................... 251


ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E ESTRUTURAIS DA PESCA NO MUNICÍPIO DE MONTE
ALEGRE, BAIXO AMAZONAS, PARÁ
Anderson Araújo dos Santos
Elizabete de Matos Serrão
Diego Maia Zacardi
DOI 10.37423/200601187

CAPÍTULO 22 .......................................................................................................... 267


CAPACITAÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES PARA DESENVOLVIMENTO DE
PISCICULTURAS NO MUNICÍPIO DE ALENQUER, OESTE DO PARÁ
Suzete Roberta Silva
Marcella Costa Radael
DOI 10.37423/200601189

SUMÁRIO
CAPÍTULO 23 .......................................................................................................... 276
CARACTERIZAÇÃO DAS EMBARCAÇÕES DOS PORTOS DE MAIOR CIRCULAÇÃO NA ILHA
DE MOSQUEIRO, BELÉM – PARÁ
Alessandra Assis
Conceição Medeiros
Jessica Oliveira
Pamela Silva
Rayanne Salimos
DOI 10.37423/200601191

CAPÍTULO 24 .......................................................................................................... 294


PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À ATIVIDADE PESQUEIRA COMERCIAL EM
MANAUS, AMAZONAS
Glenda Katherine de Souza Dias
Lucirene Aguiar de Souza
DOI 10.37423/200601197

CAPÍTULO 25 .......................................................................................................... 311


CARACTERIZAÇÃO TRÓFICA DA ICTIOFAUNA DO LAGO ITANDÉUA, CURUÁ PARÁ.
David Salomão Teixeira Melo
Keid Nolan Silva Sousa
DOI 10.37423/200601199

CAPÍTULO 26 .......................................................................................................... 323


DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE DE OSTREICULTURA NO POVOADO DE AREINHAS,
MUNICÍPIO DE PRIMEIRA CRUZ – MA
Thalison Lima
Hugo Gomes
Thaís Freire
Derykeem Amorim
Ana Karolina Sousa
Ícaro Antonio
DOI 10.37423/200601201

CAPÍTULO 27 .......................................................................................................... 332


APRESENTAÇÃO DO PESCADO E ESPÉCIES MAIS COMERCIALIZADOS EM
SUPERMERCADOS DE SÃO LUÍS- MA
Henrique Silva
Hugo Gomes
Aleff França
Márcio Junior
Lucilia Conceição
DOI 10.37423/200601204

SUMÁRIO
CAPÍTULO 28 .......................................................................................................... 341
CARACTERIZAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE PEIXES DO LAGO ITANDÉUA, CURUÁ PARÁ.
David Salomão Teixeira Melo
Marcos José de Freitas Lima
Raúl Rocha Silva
Keid Nolan Silva Sousa
DOI 10.37423/200601209

CAPÍTULO 29 .......................................................................................................... 353


ELABORAÇÃO DE MASSA DE MACARRÃO ENRIQUECIDA COM FARINHA DE PEIXE
(CURIMATA CYPRINOIDES)
Leudiane Pinheiro
Haeliton Setubal
Gleyciane Pereira
Francielle Passos
Luana Quaresma
Marcos Bomfim
Christian Flaker
Adriana Bordignon
DOI 10.37423/200601210

CAPÍTULO 30 .......................................................................................................... 365


IDENTIFICAÇÃO DA PROPORÇÃO SEXUAL E ESTÁGIOS DE MATURAÇÃO DA OSTRA
NATIVA CRASSOSTREA GASAR NO MUNICÍPIO DE RAPOSA-MA
Ana Karolina Sousa
Adriano Sousa
Hugo Gomes
Ícaro Antonio
DOI 10.37423/200601211

CAPÍTULO 31 .......................................................................................................... 375


PREFERÊNCIA ALIMENTAR DO ACARI ZEBRA HYPANCISTRUS ZEBRA EM LABORATÓRIO
Atos Fábio Santos
Ozeas Henrique Araújo
Luciano Jensen
Michelle Midori Sena Fugimura
DOI 10.37423/200601215

SUMÁRIO
CAPÍTULO 32 .......................................................................................................... 384
ANÁLISE DO CONTEÚDO ESTOMACAL DE LARVAS DE MATRINXÃ BRYCON AMAZONICUS
(SPIX E AGASSIZ, 1829) EM ÁREAS ADJACENTES A RESERVA MAMIRAUÁ, AMAZÔNIA
CENTRAL
Darliane Santos
Dávia Talgatti
Diego Zacardi
DOI 10.37423/200601216

CAPÍTULO 33 .......................................................................................................... 394


CRIAÇÃO DO CAMARÃO MACROBRACHIUM AMAZONICUM EM DIFERENTES DENSIDADES
DE ESTOCAGEM COM A TECNOLOGIA BFT
Gleika Tamires Jordão Reis
Alícia Maria de Andrade Siqueira
Elissandro Cardoso Costa Silva
Luciano Jensen
Michelle Midori Sena Fugimura
DOI 10.37423/200601218

CAPÍTULO 34 .......................................................................................................... 406


QUALIDADE DE ÁGUA NA RECRIA DE TAMBAQUI (COLOSSOMA MACROPOMUM) EM
SISTEMA DE BIOFLOCOS
Sara Joane Cruz Nobre
Maria Rosalba de Alcântara Farias
Rita de Cássia Campos Imbiriba
Gleika Tamires Jordão Reis
Luciano Jensen
Michelle Midori Sena Fugimura
DOI 10.37423/200601221

CAPÍTULO 35 .......................................................................................................... 415


ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (HYPOPHTHALMUS SPP.) E
DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO
Mila Katrielle de Sousa Marinho
Ellen Kaline Miranda de Figueiredo
Ana Rízia Nascimento Marinho
Waldinete de Fátima Freitas Lobato
Hérlon Mota Atayde
DOI 10.37423/200601223

SUMÁRIO
CAPÍTULO 36 .......................................................................................................... 426
ESTRUTURA TRÓFICA DE PEIXES EM IGARAPÉS URBANOS DA CIDADE DE MANAUS,
AMAZONAS - BRASIL
Thaynara Sofia Gomes Vieira
Eder Cruz Junior
Catarina Lima Oliveira
Luana Simas Montenegro
Hélio Daniel Beltrão Anjos
Kedma Yamamoto
DOI 10.37423/200601277

CAPÍTULO 37 .......................................................................................................... 445


ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA PRINCIPAL REGIÃO PESQUEIRA DO ESTADO DE
PERNAMBUCO
Severino Adriano Oliveira Lima
Ana Júlia Rufino Freitas
Carlos Henrique Sales Mota
DOI 10.37423/200601470

CAPÍTULO 38 .......................................................................................................... 460


EUGENOL COMO ANESTÉSICO PARA A ESPÉCIE ACARA PRETO (CICHLASOMA
BIMACULATUM)
Luis Farias
Carlos Riedel
Erivania Teixeira
DOI 10.37423/200601475

CAPÍTULO 39 .......................................................................................................... 471


“PERMEABILIDADE DE DIFERENTES SOLOS EM TANQUES DE PISCICULTURA DO IFRR -
CAMPUS - AMAJARI, RR.”
CLÉTINA RODRIGUES
DOI 10.37423/200601476

CAPÍTULO 40 .......................................................................................................... 489


DESENVOLVIMENTO DE NUGGETS DE PEROÁ (BALISTES CAPRISCUS): ANÁLISE FÍSICO-
QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA
Betsy Gois Santos
Carolina de Souza Moreira
Mariana Rodrigues Lugon Dutra
Paula Zambe Azevedo
Leandro da Silva Presenza
Marcelo Giordani Minozzo
DOI 10.37423/200601483

SUMÁRIO
CAPÍTULO 41 .......................................................................................................... 500
CRESCIMENTO DE JUVENIS DO CAMURIM, CENTROPOMUS UNDECIMALIS (BLOCH, 1792)
EM LABORATÓRIO NA AMAZÔNIA ORIENTAL-ESTUDO DE CASO
RAIMUNDO SOUZA
ALEX SOUZA
ARAÚJO JANAÍNA
GABRIEL PASSINI
CARVALHO CRISTINA
DOI 10.37423/200601487

CAPÍTULO 42 .......................................................................................................... 511


QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DAS ÁGUAS DO RIO PACIÊNCIA: UM DOS PRINCIPAIS RIOS
DA ZONA LESTE DA ILHA DE UPAON-AÇU, MA.
Marcelo Victor Rodrigues Da Silva
Izabela Alves Paiva
Vitorya Mendes da Silva Monteiro
Camila Magalhães Silva
José de Ribamar Silva Barros
DOI 10.37423/200601488

CAPÍTULO 43 .......................................................................................................... 520


ASPECTOS REPRODUTIVOS DA CAMBUBA, HAEMULON PARRA (DESMAREST, 1823)
(PERCIFORMES: HAEMULIDAE) CAPTURADA NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO
Yúri Marins
Sidney Andrade
Pollyana Roque
Sara Loebens
Danielle Lima
Paulo Oliveira
DOI 10.37423/200601493

CAPÍTULO 44 .......................................................................................................... 532


ONDE ESTÃO OS TUBARÕES DO RECIFE? UTILIZAÇÃO DE BRUVS PARA O
LEVANTAMENTO DA ICTIOFAUNA NA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE
Natalia Bezerra
Ana Laura Corrêa
Ricardo Garla
Fábio Hazin
DOI 10.37423/200601504

SUMÁRIO
CAPÍTULO 45 .......................................................................................................... 548
“GESTÃO DE RISCOS: ESTUDO DE CASO EM FAZENDAS MARINHAS DE CULTIVO DE
OSTRAS”
Giselle Mari Speck
Cristhiane Guertler
Walter Quadros Seiffert
Lizandra Garcia Lupi Vergara
DOI 10.37423/200601516

CAPÍTULO 46 .......................................................................................................... 564


ANÁLISES DAS CARACTERÍTICAS MORFOMÉTRICAS E MERÍSTICAS DO PLATY
(XIPHOPHORUS MACULATUS)
AMANDA RAFAELA CUNHA GOMES
YAGO BRUNO SILVEIRA NUNES
CARLOS RIEDEL PORTO CARREIRO
DOI 10.37423/200601518

CAPÍTULO 47 .......................................................................................................... 572


CARACTERIZAÇÃO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE PEIXES ORNAMENTAIS NA PRAÇA DA
REPÚBLICA, MUNICÍPIO DE BELÉM, ESTADO DO PARÁ
Leonnan Carlos Carvalho Oliveira
Ryuller Gama Abreu Reis
Bruno José Corecha Fernandes Eiras
Daniel Abreu Vasconcelos Campelo
Marcos Ferreira Brabo
DOI 10.37423/200601527

CAPÍTULO 48 .......................................................................................................... 586


REDES, BARCOS E MÉTODOS: PESCANDO NO ESTUÁRIO DO RIO SÃO FRANCISCO
Jurandyr Reis Neto
Gianfrancisco Schork
Igor Da Mata-Oliveira
DOI 10.37423/200601532

CAPÍTULO 49 .......................................................................................................... 612


CARACTERIZAÇÃO DA PESCA ARTESANAL COM LINHA DE MÃO PRATICADA COM
JANGADAS SEDIADAS NA ENSEADA DO MUCURIPE, MUNICÍPIO DE FORTALEZA – CEARÁ
Marcelo Carneiro de Freitas
DOI 10.37423/200601559

SUMÁRIO
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 1
10.37423/200501027

CULTIVO DE ORGANISMOS PLANCTÔNICOS EM


CONDIÇÕES LABORATORIAIS

Ana Sampaio-Nakauth

Rogério Nakauth

Leice Canto

Mônica Costa

Thalia Silva
Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

INTRODUÇÃO

O fitoplancton é composto por microalgas unicelulares fotossintetizantes. As microalgas incluem


organismos com estrutura celular eucariótica e procariótica, encontrados em ambiente marinho, água
doce e solo, as quais são consideradas responsáveis por pelo menos 60% da produção primária da
Terra (Chisti, 2004 apud Derner et al, 2006).
Em viveiros de piscicultura, além da produção primária, a variação na atividade fotossintética entre os
períodos de dia e noite influencia também no potencial hidrogeniônico (pH) e alcalinidade da água.
Águas verdes tendem a suportar maiores adições de elementos acidificantes (entrada de gás
carbônico- CO2 pela respiração e decomposição das fezes e restos de alimentos), com menores
variações de pH e portanto maior conforto fisiológico para os peixes cultivados (Cavalcante e Sá, 2010).
O cultivo de microalgas pode ser realizado em sistemas abertos ou fechados. Sistemas abertos são
realizados em lagoas ou tanques abertos e utilizam a luz solar e o CO2 da atmosfera. Sistemas fechados
proporcionam menor contato com o ambiente externo. O estímulo luminoso é artificial e há menor
exposição da cultura às variações ambientais. Normalmente, nesses sistemas costuma-se obter maior
produtividade em biomassa em relação ao primeiro (Franco et al, 2013).

Com relação ao cultivo de algas, segundo relatos de Sipaúba-Tavares e Rocha (2003), um grande
impulso no cultivo em massa ocorreu entre 1955 e 1970, devido à construção de pequenos
laboratórios que, posteriormente, foram substituídos por sistemas de cultivo em grande escala. Os
gêneros Chlorella sp e Scenedesmus sp., foram as primeiras microalgas investigadas, pela facilidade no

cultivo. Tanto em sistema aberto ou fechado é possível aplicar os métodos de cultivo estacionário,
semicontínuo ou contínuo. A escolha do sistema resulta em variação nas produtividades, valor
nutricional e custo de produção.
Quando direcionada à alimentação de organismos aquáticos, o método estacionário é o mais utilizado.
Este método é caracterizado por utilização de recipientes (garrafa, bolsa plástica, cilindro, tanque etc.),
enchidos com água tratada (filtração, cloração, UV ou ozônio etc), ao qual são adicionados os
nutrientes e o inóculo (geralmente uma cultura com menor volume). Esta cultura é mantida por algum
tempo – sem qualquer manejo, enquanto as microalgas se multiplicam por sucessivas divisões
mitóticas, e após alguns dias é integralmente empregada na alimentação dos organismos (Derner,
2018).

4
13
Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

É de fundamental importância o conhecimento da dinâmica dos sistemas aquáticos, pois, o


fitoplâncton é o elo na transferência de energia solar e dos nutrientes, possibilitando a passagem
destes aos consumidores (zooplâncton e peixes) e, muitas vezes, determinando a produtividade de
um ambiente. Entretanto, poucos estudos têm sido realizados focalizando o aspecto do cultivo de alga
de água doce e seu valor nutricional e alimentar (Sipaúba-Tavares et al.,1999; Sipaúba-Tavares et al.,
2009).
O zooplâncton é o segundo elo da cadeia alimentar nos ecossistemas aquáticos. Alimentam-se de fito
e bacterioplâncton e são importante recurso alimentar para organismos aquáticos maiores. Sua
composição contempla pequenos vermes, crustáceos, protozoários e larvas de insetos. Estudos
apontam os microcrustáceos como importantes itens alimentares em formas jovens (pós-larvas e
juvenis) de peixes (Guevara, 2003; Ribeiro, 2005; Pedreira et al, 2015).
Dentre as vantagens na utilização de zooplâncton na alimentação inicial de peixes estão a
disponibilidade em ambiente natural, a aceitação pelas espécies nativas e o valor nutricional. Vários
estudos têm sido conduzidos, visando subsidiar a produção em grande escala (Sipaúba-Tavares e
Rocha, 2003; Cornélio, 2012; Sampaio Nakauth et al 2015; Andrade et al, 2018).
Os “cladócera” correspondem ao grupo zooplanctônico preferido pelas larvas e juvenis de peixes por
conta de características anatômicas como corpo arredondado, ausência de espículas ou espinhos,
elevado volume corporal quando comparado a outros grupos, deslocamento relativamente lento e
fácil distinção visual, por conta dos ocelos destacados (Fregadolli, 1993; Sampaio-Nakauth, 2010).
A adubação convencionalmente utilizada em viveiros proporciona o desenvolvimento de uma mistura
de organismos, cuja prevalência populacional fica condicionada a questões ambientais, que
proporcionam mais vantagens competitivas para determinados grupos, em detrimento de outros
(Rocha, 1994).
Resultados satisfatórios de crescimento populacional de organismos zooplanctônicos de interesse
estão sendo relacionados a diferentes concentrações de várias espécies de microalgas, capazes de
afetar a composição química do zooplâncton (Pozuelo, 1975; Hirayama e Nakamura, 1976; Scott e
Baynes, 1978; Rainuzzo et al., 1989 e Carié et al., 1993). De acordo com Macedo e Pinto-Coelho (2000
a), ainda são necessários estudos sobre alimentação e desenvolvimento de organismos
zooplanctônicos tropicais de água doce, alimentados com alga de origem conhecida com alto valor
nutricional.

5
14
Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

A produção de exemplares de cladócera a partir da inoculação em ambiente controlado possibilitará


conhecer os fatores que influenciam na densidade populacional, bem como familiarizará o profissional
técnico em recursos pesqueiros com as metodologias de manejo deste grupo de organismos.
Este trabalho propôs a realização de cultivo de fito e zooplancton em laboratório, para conhecimento
e aplicação das técnicas de monitoramento e produção de organismos alimento em pequena escala.

MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto foi desenvolvido em duas etapas, sendo a primeira dedicada à verificação da multiplicação
das células fitoplanctônicas em meio fertilizado e não fertilizado e, a segunda etapa, destinada ao
acompanhamento da produção de zooplancton em cultivo não axênico.
1ª etapa
As unidades experimentais utilizadas foram 06 garrafas plásticas, transparentes, com volume útil de
01 litro, nas quais foram inoculados 1000 ml de água destilada (ph 5,5); 02 gotas de solução fertilizante
NPK (20:5:20) e 200ml de água verde (densidade: 4.833±555,5 células/litro).
As condições em que as densidades fitoplanctônicas foram avaliadas consistiram em:
T1: NPK (20:5:20) + inóculo de fitoplancton e
T2: inóculo de fitoplancton + água destilada.
A solução fertilizante foi preparada a partir da utilização de Uréia (CH 4N2O); Superfosfato Simples
(P2O5) e Cloreto de Potássio (KCl), em proporções correspondentes à mistura de 20% Nitrogênio (N):
5% Fósforo (P): 20% Potássio (K), conforme sugerido por Sipaúba-Tavares e Rocha (2003).
O cálculo da participação dos nutrientes desejados em cada composto considerou a participação de
45% de N na uréia; 18% de P no superfosfato simples e 62% de K no cloreto de potássio, conforme
indicação dos fabricantes. Para o cálculo utilizou-se a metodologia descrita por Trani e Trani (2011).
A água verde foi obtida a partir de coleta em tanque de piscicultura, com transparência 25 cm, medida
através de Disco de Secchi. O volume coletado com balde plástico foi filtrado em rede de plâncton,
malha 20 µm para retenção dos organismos zooplanctônicos contidos na amostra. Do filtrado, foram
inseridos em cada garrafa aproximadamente 300 ml, totalizando em cada unidade 1.300 ml.
Os inóculos foram mantidos por 14 dias sob aeração constante e intensidade luminosa de 5000 lux
(medido a partir do aplicativo LUX ® instalado em aparelho celular, sistema androide), em regime de
24h e níveis de oxigênio em 5,2±0,5mg/L, (medido com multiparâmetro digital) e temperatura média
de 31±0,8ºC (via termômetro de mercúrio).

6
15
Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

As unidades experimentais foram acondicionadas em caixa isotérmica, revestida com papel alumínio,
dentro da qual foi instalado suporte em madeira onde foram fixadas 03 lâmpadas fluorescentes de 25
watts, com espaçamento de 30 cm entre cada uma.
A cada três dias, após homogeneização das unidades de cultivo, foram retiradas alíquotas de
aproximadamente 03 ml com pipeta Pasteur. Desta amostra, realizava-se a contagem das células
fitoplanctônicas em Câmara de Neubauer sob microscópio. A contagem foi realizada utilizando-se os
procedimentos descritos no protocolo de amostragem descritos em Sipaúba-Tavares e Rocha (2003).
Os dados foram registrados em planilhas, calculadas as densidades fitoplanctônicas na amostra e no
volume total conforme metodologia descrita por Tavares e Rocha (2001) segundo fórmula abaixo:

𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎𝑠 𝑛º 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎𝑠


𝑛º = ∗ 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑙𝑢𝑖çã𝑜 ∗ 10.000
𝑚𝑙 𝑛º 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠
Ao final foram construídos gráficos com a variação do número de células ao longo dos 14 dias de
cultivo.
2ª etapa
As unidades experimentais utilizadas foram 06 garrafas plásticas, transparentes, com volume útil de
01 litro, nas quais foram inoculados:
800 ml de água destilada (ph 5,5); 02 gotas de solução fertilizante NPK (20:5:20); 200ml de água verde
(densidade: 5750±750 células/litro) e 50 organismos cladócera.
A solução fertilizante e a água verde foram obtidas conforme descrito na 1ª etapa. Os organismos
foram coletados com rede de plâncton, em viveiro escavado e separados individualmente, com auxílio
de estilete sob estereomicroscópio.
A quantificação dos organismos foi feita a cada três dias. Para contagem do zooplancton, uma amostra
de 50 ml era filtrada em malha 20 µm. Os organismos retidos eram retirados por meio de lavagem
com água destilada, e transferidos para placa Petri. Na placa, pequenas porções eram separadas e
quantificadas. O número de organismos contados eram estimados proporcionalmente para o volume
total.
Para contagem do fitoplancton, utilizava-se o filtrado obtido na coleta do zooplancton, do qual eram
retiradas alíquotas de 3 ml, as quais eram depositadas em placa de contagem celular (câmara de
Neubauer ou hemocitômetro) onde eram realizadas as contagens por campo (figura 01).

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16
Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

Figura 01 – Câmara de Neubauer (hemocitômetro) usada na contagem de células


fitoplanctonicas. Fonte: globaltrade.br

Os inóculos foram mantidos por 12 dias sob aeração constante e intensidade luminosa de 5000 lux
(medido a partir do aplicativo LUX ®), em regime de 24h e níveis de oxigênio em 5,2±0,5mg/L, (medido
com multiparâmetro) e temperatura média de 30,7±0,3ºC (via termômetro de mercúrio).
As unidades experimentais foram acondicionadas em caixa isotérmica, com a mesma estrutura
utilizada no cultivo de fitoplancton descrito para a 1ª etapa.
Os dados foram registrados em planilhas, calculadas as densidades dos organismos na amostra e no
volume total conforme metodologia descrita por Tavares e Rocha (2001). Ao final foram construídos
gráficos com a variação do número de células ao longo dos dias de cultivo.

Figura 02. (a) microscópio; (b) estereomicroscópio e (c) unidades utilizadas no cultivo de organismos
planctônicos em laboratório.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste trabalho, foram utilizados o sistema fechado e método de cultivo estacionário, cujo crescimento
das culturas foi representado por Curvas de Crescimento populacional (Gráfico 01).

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Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

Gráfico 01: Variação da densidade fitoplanctônica em cultivo com (T1) e sem solução fertilizante de
NPK (20:5:20) (T2)

Na primeira etapa, observou-se crescimento da multiplicação celular até o 10º dia em ambos
tratamentos. Dener (2018) indica a colheita das culturas nesta fase exponencial para uso na
alimentação em aquicultura, por conta dos elevados teores de proteínas e ácidos graxos poli-
insaturados disponíveis, decorrentes da intensa assimilação dos nutrientes do meio de cultura.

Gráfico 02: Variação do número de organismos zoo e fitoplanctônicos ao longo dos dias de cultivo na
segunda etapa.

Na segunda etapa, aos 06 dias de cultivo, observou-se pico de densidade fitoplanctônica (145.000 ±
25.000 células/litro). A densidade de cladócera manteve ascendência até o 9º dia de cultivo quando
atingiu 257,50 ± 22,5 organismos/litro. A fase de crescimento foi mais breve quando comparada aos
resultados de Cornélio (2012) e Sampaio Nakauth (2015) que observaram aumento da produção
zooplanctônica do 7º ao 12º dia. Isto pode estar relacionado ao tipo de nutriente utilizado nos
diferentes trabalhos ou à composição das microalgas que compunham o recurso alimentar.

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18
Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

No 12º dia não foram encontrados organismos zooplanctônicos vivos. As amostras coletadas das
unidades de cultivo apresentavam associações microbianas e fungos, além de carapaças em estado de
decomposição. Acreditamos que este evento esteja relacionado à morte do fitoplancton, que deve ter
ocorrido entre 9º e 12º dias. Para o prolongamento da fase de crescimento populacional Ohse et al
(2008) sugere que sejam feitas diluições sucessivas visando reduzir as competições por luz, nutrientes
e espaço entre as células fitoplanctonicas.

Figura 03. Predominância de parasitismo de fungos encontrados sobre o fito e zooplancton


(aumento de 4 vezes em estereomicroscópio)

Os organismos inoculados pertenciam à ordem Anomopoda, a saber, Famílias Moinidae e Daphnidae


(Figura 04). Não foi feita a contagem do número de fêmeas grávidas, tampouco isolamento de jovens
e adultos, sendo contabilizados apenas os números totais de indivíduos em cada amostra.

Figura 04. Organimos fitoplanctonico (a e b) e zooplanctonico (c) mais comuns nas amostragens.
Fonte: algaebase.org; limnet.geog.ubc.ca, 2019.

Os mecanismos de nutrição de diferentes espécies zooplanctônicas, seletividade, taxa de ingestão, e


vários outros aspectos foram extensivamente investigados, mas muitas questões ainda não foram
respondidas (Giani, 1991; Barros e Valenti, 1997; Thomaz et al., 2004; Ferreira et al., 2013). Os
resultados sugerem que ao 6º dia o fitoplâncton atinge a fase estacionária, entrando em declínio o
crescimento populacional e demandando reposição de parte da cultura algal, diluição ou adição de

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19
Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

solução fertilizante. Esta medida poderia prolongar a fase exponencial para suprir as demandas
energéticas do zooplancton, que no mesmo período ainda apresentava crescimento populacional.

CONCLUSÂO

A produção de Cladocera alcança densidade máxima até o 9º dia de cultivo, nas condições estudadas.
O uso de fertilizante à base da mistura nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), na proporção 20:5:20,
em cultivos de pequena escala, não tenha surtido efeito positivo sobre o desenvolvimento
populacional.
São necessários estudos adicionais para avaliar técnicas de aumento da produtividade e qualidade
nutricional destes organismos, bem como o efeito do fertilizante sobre o crescimento em cultivos não
axênicos em maior escala.

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20
Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

REFERÊNCIAS

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Cultivo de Organismos Planctônicos em Condições Laboratoriais

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22
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 2
10.37423/200501033

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO DE
PTEROPHYLLUM SCALARE (SCHULTZE 1823)
COM DIFERENTES DIETAS ALIMENTARES

Etevoldo Araújo - Neto

Sidney Silva

Rodrigo Silva

Suzane Neves

Rebeca Vasconcelos
Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

Resumo: O experimento foi elaborado para obtenção dados zootécnicos que auxiliem a produção
comercial do acará-bandeira (Pterophyllum scalare) objetivando: a) verificar a eficiência da utilização
de rações experimentais, sobre as variáveis de crescimento, ganho de peso e sobrevivência. No
experimento foram utilizados 15 aquários com cinco peixes, totalizando 75 acará-bandeira, divididos
em três tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos foram: T1 - 100% ração comercial (45% PB);
T2 - 50% ração comercial e 50% ração experimental e T3 - 100% ração experimental. As dietas foram
fornecidas ad libitum, durante 60 dias em duas porções diárias: às 8h e 16h. O tratamento com ração
experimental foi mais econômico. Entretanto, os animais alimentados com T1 proporcionou
crescimento e ganho de peso superior aos tratamentos com T1 e T3.

Palavras-chave: ração experimental, crescimento, acará-bandeira.

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

INTRODUÇÃO

A criação de peixes ornamentais é uma das atividades da aquicultura mais vantajosas e lucrativas
devido a como requisição de uma área de produção pequena se comparada com os cultivos de
espécies convencionais da aquicultura, necessidade de um baixo investimento inicial e o preço de
venda do produto final tanto para o mercado interno como para o mercado externo.
A aquariofilia ou aquarismo consiste na técnica de criar peixes, plantas ou outros organismos aquáticos
com finalidade ornamental. Esta prática antiga é realizada, geralmente, em recipientes translúcidos
(aquários ou caixas) ou em pequeno lagos. Há registro de figuras de peixes encontradas em vasos
egípcios. Na Roma antiga, existem relatos da manutenção de peixes em banheiras. Tanques para
peixes de água doce e salgada foram encontrados no zoológico de um imperador asteca (Botelho,
2001).
A publicação do “Livro do Peixe Vermelho”, por CHANG-CHI'EN-TE, em 1596, é o marco do nascimento
oficial da atividade. Este livro relata o modo como o autor alimentava os peixes, trocava a água,
limpava os recipientes e os protegia do frio no período de inverno (Botelho, 1990).
A aquariofilia se popularizou a partir do século XX com a chegada de tecnologias que facilitaram a
atividade. A utilização de aquários de vidro com armação metálica e, posteriormente, colada com
silicone; aquecedores e controladores de temperatura elétricos equipados com termostatos; o
incremento de filtros biológicos e mecânicos que possibilitavam maiores intervalos entre as trocas de
água tornaram a criação de peixes em casa mais acessível e prazerosa. Além disso, novas técnicas de
coleta e transporte mais sofisticadas possibilitaram ao aquarista, em qualquer lugar do mundo, o
acesso a uma grande diversidade de espécies de peixes (Watson & Shiremam, 1996).
Na China, a criação de peixes ornamentais tem passado por várias modificações e inovações,
culminado com a constituição de um mercado de peixes ornamentais que movimenta cerca de três
bilhões de dólares por ano (FAO, 2000) e uma indústria mundial que ultrapassa quinze bilhões de
dólares (Meyers, 2001). Cingapura é, de longe, o maior exportador de peixes ornamentais do mundo
seguido pelos Estados Unidos (FAO, 2000).
Os Estados Unidos além de grande exportador também um grande importador. Entre os anos de 1991
e 1994 a importação de peixes ornamentais, pelos Estados Unidos, aumentou 29,3% (Lima et al.,
2001).
Segundo Botelho (1990) a aquariofilia é a segunda atividade de lazer mais praticada pela população
dos Estados Unidos da América, perde apenas para a fotografia. Em geral, identifica-se que os
principais compradores de peixes ornamentais são de países desenvolvidos. No Japão, por exemplo,

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

estima-se que existam cerca de um milhão e duzentos mil aquaristas (Botelho, 1990). Com relação a
este país verifica-se que a aquariofilia, está ligada a crenças e superstições de que “possuir aquários
traz sorte”, e seu mercado foi valorizado em mais de cem milhões de dólares (preço a varejo) em 1995
(Lima et al, 2001).
A produção de espécimes ornamentais é uma atividade bastante promissora sendo considerado um
dos setores mais lucrativos da piscicultura. Por possuir grande potencial de exportação, requisição de
uma pequena área de produção e um investimento inicial pequeno se comparado a outras atividades,
gera, desta forma, uma atividade rentável aos produtores. Tendo esta visão, diversos países estão
aumentando cada vez mais os incentivos à produção e a comercialização destes organismos. Portanto,
pacotes tecnológicos para a produção de espécies ornamentais se fazem necessários (Ribeiro et al.,
2008).
Uma característica peculiar dessa atividade é a combinação de técnicas usadas para peixes de
consumo e técnicas desenvolvidas e adequadas no cotidiano pelo produtor que, muitas vezes, são
mantidas em sigilo (Chapman, 2000). Esse manejo tem sido o “know-how” da atividade, mas também
o sucesso ou o fracasso de alguns produtores o que tem dificultado a padronização dos procedimentos
de cultivo.
A aquicultura de peixes ornamentais foi introduzida no Brasil em meados da década de 20, através de
criações trazidas por Sigeiti Takase um imigrante Japonês que fixou residência na cidade do Rio de
Janeiro, tornando-se pioneiro tanto na atividade quanto na divulgação.
De acordo com Bezerra (1998), existem registros de pisciculturas ornamentais desde a década de 30,
produzindo principalmente na região da Baixada Fluminense. No entanto, a difusão das pisciculturas
iniciou-se na década de 80, aliada a crescente demanda do mercado consumidor dos peixes asiáticos
coloridos. Verifica-se, neste mesmo período, que as pisciculturas de corte estavam sendo estimuladas
no país. Isso familiarizou muitos produtores com as técnicas de cultivo de peixes em cativeiro,
facilitando de forma indireta, a entrada de alguns produtores no cultivo de peixes ornamentais.
A pouca exigência em espaço, o rápido retorno econômico e o alto valor dos peixes ornamentais em
mercados, nacional e mundial, estimularam o ingresso de alguns produtores na atividade compondo
um contingente aproximado de mil e oitocentos produtores em todo o Brasil (Vidal, 2002).
De acordo com Ribeiro et al. (2005) a alimentação representa cerca de 70% dos custos de produção
de um cultivo. Devido a esse alto valor os criadores buscam alternativas de alimentação que visem à
diminuição da sua despesa. Com isso, os criadores desenvolvem rações caseiras comumente
conhecidas como - patê para a alimentação dos peixes. Dentre estas rações destacam-se: o patê de

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26
Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

Gordon, devido a sua grande utilização por parte dos criadores. O patê de Gordon foi idealizado pelo
médico e ictiólogo Myron Gordon (Agostinho, 1991). O inventor era responsável pela nutrição dos
peixes do Aquário Público do Museu de Nova York e utilizou componentes, tais como: fígado de boi,
espinafre, ovos, aveia em flocos, açúcar, sal e água para compor a mistura.

Dentre as espécies de peixes ornamentais, o acará-bandeira, Pterophyllum scalare Lichtenstein (1823),


se destaca por ser um dos mais belos, mais vendidos e também mais populares peixes ornamentais de
águas tropicais (Chapman et al., 1997). Esta espécie pertence à família dos ciclídeos, cuja principal
característica é possuir a linha lateral interrompida (Lima, 2003).
O acará-bandeira, (Pterophyllum scalare), apresenta como principais características morfológicas:
corpo comprido lateralmente, forma triangular criada por nadadeiras dorsal e anal alongadas,
coloração prateada contrastada com listras verticais pretas e nadadeira ventral modificada, fina e
alongada. Segundo Ribeiro (2008), o seu cultivo é realizado tanto no sistema semi-intensivo, quanto
no sistema intensivo.
O acará-bandeira é uma espécie originária da Bacia Amazônica amplamente distribuída com
ocorrência no Peru, Colômbia, Guianas e Brasil. Na natureza, prefere locais de água com baixa dureza
e levemente ácida. Pode atingir até 15 centímetros de comprimento, é calmo e territorialista. Quando
jovem, vive em cardume e estabelece hierarquia. Normalmente é encontrado junto a madeiras e
vegetação submersa que servem de abrigo contra predadores. Sua biologia é ainda pouco conhecida
e praticamente nada se sabe a respeito dos seus padrões comportamentais exibidos na natureza
(Cacho et al., 1999).
Estudos nutricionais de peixes ornamentais são escassos se comparados com os de peixes de corte
(Shim & Chua, 1986; Shim & Ng, 1988). Por isso, a alimentação desses peixes tem como base
recomendações de resultados obtidos com peixes de maior interesse comercial (Yanong, 1999; Sales
& Janssens, 2003).
O presente estudo teve como objetivo verificar o crescimento do acará-bandeira, Pterophyllum
scalare, submetidos a diferentes dietas durante o período de 60 dias em laboratório.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Avaliação Ponderal em Animais Aquáticos, do


Departamento de Pesca e Aquicultura, da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE.
Os 75 exemplares de P. scalare utilizados neste experimento foram provenientes de um produtor local.
No transporte ao laboratório os espécimes foram acondicionados em grupos de cinco, em sacos

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

plásticos sem pontas, contendo 5 litros de água, buscando assim evitar danos aos peixes. A
aclimatação às condições de laboratório ocorreu pelo período de uma semana, como recomendado
por Murty (1988).
Foram utilizados cinco indivíduos por unidade experimental com peso médio de 0,98 gramas.
Foi utilizado delineamento experimental inteiramente casualizado, com três tratamentos (ração
comercial – T1, ração comercial mais ração experimental – T2, ração experimental – T3) e cinco
repetições. A alimentação foi ofertada ad lebitum, duas vezes por dia nos respectivos horários;
08h00min, 16h00min.
O experimento foi conduzido em sistema de recirculação de água onde o mesmo era equipado com
filtro mecânico e ultravioleta, com taxa de renovação água contínua sendo calculada em torno de
100% ao dia. A água utilizada no experimento foi proveniente de poço artesiano
As variáveis físico-químicas da água (temperatura, pH e amônia) foram aferidos diariamente fazendo-
se uso de, testes colorimétricos e termômetros.
Biometrias foram efetuadas quinzenalmente quinze dias, aferindo-se o peso (g) e comprimento (cm),
com auxílio de paquímetro e balança digital de precisão ± (0,01g).
Os dados obtidos foram submetidos a análise estatística através da ANOVA baseada no teste Tukey a
nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos tratamentos com ração comercial (T1) e ração comercial mais ração experimental (T2) houve
mortalidade de dois peixes em cada tratamento, equivalendo a 8%, portanto, a sobrevivência final de
92% respectivamente. Já no tratamento com ração experimental (T3) ocorreu a mortalidade de três
peixes, totalizando uma taxa de mortalidade de 12% e uma sobrevivência de 88%%. Valores estes que
podem ser vistos na Tabela 1.
Nos sistemas de produção de peixes os principais fatores determinantes da taxa de sobrevivência são:
densidade de estocagem, qualidade da água, estado nutricional, enfermidades e ataques de
predadores (Sipaúba-Tavares, 1995).
De acordo com Baldisseroto (2002) a densidade de estocagem baixa favorece o crescimento dos
peixes, mas o espaço é pouco aproveitado.
Chapman (2000) cita que, de maneira geral, em sistemas intensivos de cultivo de peixes ornamentais
a sobrevivência mínima é de 85%. Portanto, as dietas testadas não influenciaram a sobrevivência do
acará-bandeira.

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

Embora as taxas de sobrevivência obtidas neste trabalho fossem elevadas, em pesquisas com outras
espécies de peixes alimentados com dietas contendo fígado e coração de boi, foi observada a
influência dos tratamentos na sobrevivência.
Tabela 1- Taxa de sobrevivência do Pterophyllum scalare, submetido a diferentes dietas, durante 60
dias de cultivo.
Tratamento NI NF Sobrevivência ( % )
R. comercial 25 23 92 %
R. comercial mais r. experimental 25 23 92 %
R. experimental 25 22 88%
NI = número inicial de peixes NF= número final de peixes

Segundo, Chong et al. (2000), testando cinco níveis de proteína (35, 40, 45, 50 e 55 %), em dietas
semipurificadas para acará, verificaram por regressão polinomial melhores ganhos de peso com 50%
PB e de acordo com Maehana et al. (2004) testando juvenis de acará, não encontraram diferenças no
ganho de peso de peixes alimentados com ração contendo entre 35% e 50%PB.
Como pode ser visualizado na Tabela 2 o maior ganho de peso diferiu estatisticamente entre os
tratamentos. Ocorrendo um maior ganho de peso respectivamente nos tratamento de ração
comercial, ração comercial mais ração experimental e só ração experimental.
Tabela 2 – Peso inicial médio (g), peso final médio (g), ganho de peso médio (g), taxa de ganho de peso
específico médio (%) e ganho de peso relativo médio (g) dos acarás-bandeiras, após 60 dias de
experimento, submetidos a diferentes dietas.
Tratamento PI(g) PF(g) GP(g) TGPE (%) GPR (%)
Ração comercial 0,87224a 3,271a 2,397 a 115,435 a 71,895 a
Ração comercial mais ração 0,92060a 2,811a 1,808 b 99,391 b 61,656 b
experimental
Ração experimental 1,00380a 1,787b 0,853 c 56,591 c 45,894 c
CV (%) 23,578 25,541 41,270 27,520 22,653
PI = Peso Inicial; PF = Peso Final; GP = Ganho de Peso; TGPE = Taxa de Ganho de Peso Específico; GPR
= Ganho de Peso Relativo; CV = Coeficiente de Variação.
Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente (p < 0,05) pelo teste Tukey

Observou-se diferença estatística significativa (p >0,05) com relação ao comprimento como pode ser
visualizado na Tabela 3. O crescimento foi superior nos tratamentos com ração comercial e ração

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

comercial mais ração experimental, assim como a taxa de crescimento específico e ganho de
crescimento relativo.
O comprimento tem grande importância na avaliação de desempenho de uma espécie ornamental,
por ser comercializado por tamanho e não pelo peso.
Nas Figuras 1, 2 e 3 observa-se a existência de classes hierárquicas nos peixes trabalhados, e em todos
os acarás trabalhados verificou-se que obteve-se um maior crescimento com a utilização da ração
comercial sendo precedida pela ração comercial mais ração experimental e ração experimental.
Tabela 3 – Comprimento total inicial (cm) e final médio (cm), Crescimento médio (cm), Taxa de
crescimento específico médio (%), Ganho de crescimento relativo médio (%) dos acarás-bandeiras,
após 60 dias de experimento, submetidos a diferentes dietas.
Tratamento CI(cm) CF (cm) C(cm) TCE (%) GCR (%)
Ração comercial 3,492 a 5,127 a 1,631 a 163,130 a 31,199 a
Ração comercial mais ração 3,564 a 4,751 ab 1,438 a 159,826 a 28,194 a
experimental
Ração experimental 3,544a 4,514 b 0,969 b 150,454 b 21,079 b
CV (%) 7,678 13,412 38,591 5,632 32,370
CI = Comprimento Inicial; CF = Comprimento Final; C = Crescimento; TCE = Taxa de Ganho de
Crescimento Especifico; GCR = Ganho de Crescimento Relativo; CV = Coeficiente de Variação.
Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente (p < 0,05) pelo teste Tukey.

Figura 1 – Crescimento dos acarás-bandeiras submissos, submetidos a diferentes dietas, durante os


60 dias de experimento.

Figura 2 – Crescimento dos acarás-bandeiras dominantes, submetidos a diferentes dietas, durante os


60 dias de experimento.

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30
Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

Figura 3 – Crescimento dos acarás-bandeiras intermediários, submetidos a diferentes dietas, durante


os 60 dias de experimento.

A relação entre peso e comprimento (Tabela 4) foi maior de acordo com o aumento do tamanho do
peixe, o que pode ser analisado quando se compara a média final e inicial dos fatores de condição
obtidos neste experimento. Tal fato indica que o acará-bandeira cresce proporcionalmente mais em
peso do que em comprimento.
Vazzoler (1981) relata que os peixes só tem crescimento isométrico, proporcional em peso e
comprimento após atingirem a maturidade sexual. Portanto, a relação entre peso e comprimento
obtida para a espécie, não pode ser utilizada para comparar peixes de tamanhos diferentes. Além de
variar em função do tamanho, esta relação também varia de acordo com a espécie, pois apresentam
formas de corpo diferentes.

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

Tabela 4 – Relação entre peso (g) e comprimento (cm) total inicial e final após 60 dias de
experimento, submetidos a diferentes dietas.
Tratamento P/C inicial P/C final
R. comercial 0,249 a 6,343 a
R.comercial mais r. experimental 0,259 a 5,584 b
R. experimental 0,258 a 3,940 c
Média 0,263 ± 5,309 ±
P = Peso (g); C = Comprimento (cm).
Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente (p < 0,05) pelo teste Tukey.

Nota-se que os peixes eram mais homogêneos (menor CV) em comprimento do que em peso, pois
foram selecionados pelo comprimento para a homogeneidade do lote, ao início do experimento
(Tabela 5).
Por outro lado, percebe-se que a heterogeneidade inicial era menor que a final, tanto em peso quando
em comprimento. Portanto, o CV aumenta de acordo com o tempo de cultivo. À medida que os peixes
se desenvolvem, a não uniformidade do lote aumenta. Tal fato está de acordo com Baldisserotto
(2002).
Alguns estudos tem sugerido que o aumento no coeficiente de variação seja indicativo do
estabelecimento de dominância hierárquica e competição pelo alimento, com supressão do
crescimento de peixes subordinados por peixes dominantes (Higby & Beulig, 1988; Bagley et al., 1994).
A heterogeneidade do tamanho provavelmente ocorre devido ao comportamento territorialista do
acará (Chong et al.; 2000). Para Soh (2005), os machos tendem a crescer mais que as fêmeas, indicando
efeito do sexo como causador de não uniformidade .
Segundo Baldisserotto (2002), mesmo quando o alimento é fornecido em abundância e de forma
desigual pode ocorrer competição alimentar, o que gera a não uniformidade dos peixes.
Durante o experimento é provável que vários fatores atuem em conjunto para causar crescimento
heterogêneo.

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

Tabela 5 – Coeficiente de variação das medidas de peso inicial (CVPI) comprimento inicial (CVCI),
peso final (CVPF) e comprimento final (CVCF), dos acarás-bandeiras, submetidos a diferentes dietas.
Tratamento CVPI (%) CVCI (%) CVPF (%) CVCF (%)
Ração comercial 7,39 a 23,90 a 31,58 a 45,61 a
Ração comercial mais ração 7,39 a 23,89 a 38,32 c 42,16 b
experimental
Ração experimental 7,42 a 23,88 a 31,92 b 38,80 a
CV (%) 10,77 12,39 16,43 22,59
Médias com letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente (p < 0,05) pelo teste Tukey.
Segundo Junior (2003), o acará necessita de uma temperatura de cultivo entre 26ºC e 29º C. Ribeiro
& Fernandes (2008) citam que o clima em alguns locais da região Sudeste e Sul não permite o cultivo
desta e outras espécies tropicais em ambientes externo, necessitando de aquecimento. Situação
diferente ocorre em grande parte de Pernambuco onde a temperatura da água é favorável para o
cultivo desta espécie além de potencializar seu crescimento.
A temperatura da água oscilou entre 26ºC e 28°C (Tabela 6), amplitude essa considerada adequada de
acordo com Pérez et al. (2003), que recomendam que a temperatura não ultrapasse 30,0ºC para o
cultivo do acará-bandeira.
No presente trabalho o pH manteve-se em torno de 6,8 (Tabela 6) vale salientar que a água utilizada
no experimento era proveniente de poço artesiano. Baldisserotto (2002) confirma que peixes
amazônicos que vivem em águas naturalmente ácidas certamente apresentarão melhor crescimento
em águas com valores menores de pH.
Baldisserotto (2002) apresenta uma tabela com valores de nível máximo de NH3 + para algumas
espécies de peixes, a qual varia de 0,01 a 0,75mg/L. De acordo com Kubitza (1999) a exposição
contínua ou frequente a concentrações de amônia tóxica acima de 0,02mg/L pode causar irritação e
inflamação nas brânquias. Os valores observados de NH3 foram de 0,002mg/L.

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

Tabela 6 – Variáveis de qualidade de água analisado durante o período experimental do cultivo de


acará-bandeira, submetidos a diferentes dietas.
Amônia Amônia
Tratamento Temp. (ºC) Ph total (NH3)
(MG/L) (mg/L)
Ração comercial 27±1 6,8±0,2 0,50±0,5 0,002
Raça caseira 27±1 6,8±0,2 0,50±0,5 0,002
Ração comercial + ração caseira 27±1 6,8±0,2 0,50±0,5 0,002
A partir do teor de amônia total, do pH e da temperatura foi calculado o teor de amônia (NH3).
Os dados obtidos neste trabalho possibilitam o cultivo do acará-bandeira com uma dieta apenas com
ração comercial que possui um custo mais elevado, mas proporciona melhores desempenhos,
tornando-se economicamente mais rentável, além de ser mais fácil o seu armazenamento visto que,
as rações experimentais necessitam de refrigeração para serem preservadas suas qualidades
nutricionais, isso torna-se inviável tentar reduzir os custos de produção economizando na compra de
rações comercias e utilizando rações caseiras.

CONCLUSÃO

A ração comercial é a que melhor se aplica ao Pterophyllum scalare proporcionando ganho de peso e
crescimento superior.

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Avaliação Do Crescimento De Pterophyllum Scalare Com Diferentes Dietas Alimentares

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Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 3
10.37423/200601068

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE
CONSERVAÇÃO NAS PROPRIEDADES FÍSICO-
QUÍMICAS DA CARNE DO SIRI VERMELHO
(CALLINECTES BOCOURTI)

Alan Araujo

Wesclen Nogueira

Carla Brito

Sandra Pinheiro
Influência Da Temperatura De Conservação Nas Propriedades Físico-Químicas Da Carne Do Siri Vermelho (Callinectes Bocourti)

Resumo
O objetivo do estudo foi realizar uma caracterização do siri vermelho (Callinectes bocourti)
comercializado na cidade de Parnaíba e avaliar o comportamento da sua carne sob diferentes
temperaturas de conservação. Foram obtidos 38 exemplares de siri de mercado público informal na
cidade de Parnaíba. Os exemplares foram colocados em caixa isotermica e levado ao Laboratório de
Tecnologia do Pescado da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), onde passaram pelos
processos de limpeza, abate, medição de peso total e comprimento total e da carapaça. Em seguida,
foram levados para cocção durante 30 min (100ºC), retirada e pesada a carne e os resíduos gerados,
para verificação do rendimento. A carne foi dividida em lotes e aplicados dois tratamentos em função
das temperaturas de aclimação: (A) Temperatura de 5ºC, e (B) Temperatura de -10ºC. Os lotes foram
avaliados nos tempos 0, 5, 10, 15, 20, 25 e 30 dias de armazenamento, onde foi verificado os níveis de
pH da carne. Todas as análises foram realizadas em triplicata. Para o rendimento foi realizada regra de
três simples, os valores de peso e comprimento total e da carapaça foram obtidos por media e desvio
padrão. Os resultados obtidos passaram pela análise de variância a 5 % de probabilidade e aplicado
teste de Tukey. Os exemplares de siri apresentaram peso médio de 0,199 g e comprimento total e da
carapaça de 117,10 cm e 61,57 cm, demonstrando uma não conformidade entre os exemplares. O
rendimento médio de carne obtido no estudo foi de 28,12%, valor esse inferior quando comparado a
outros crustáceos. Os valores de pH apresentados no período de conversação em ambos os
tratamentos, se apresentaram superior ao permitido pela legislação, tendo o T1 no 20º dia o menor
valor expressado (7,69) e o T2 no 25º dia o maior valor (8,11). Conclui-se que, não há homogeneidade
entre os siris da espécie Callinectes bocourti comercializados na cidade de Parnaíba, possuem baixo
rendimento de carne e está, apresentou valores foras do permitido pela legislação que garanta a sua
segurança alimentar.
Palavras-chave: Siri vermelho, Qualidade da carne, Vida útil.

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Influência Da Temperatura De Conservação Nas Propriedades Físico-Químicas Da Carne Do Siri Vermelho (Callinectes Bocourti)

1. INTRODUÇÃO

Os crustáceos constituem uma parcela considerável da fauna bentônica estuarina, principalmente


quando avaliados os fatores evolutivos, como carcinização, e grau de adaptação a diferentes
ambientes, ocupando desde zonas costeiras, estuários, rios (NG et al., 2008; CARVALHO; COUTO,
2011), além de possuir grande variedade de espécies quando comparado com os demais grupos de
invertebrados (BERTINI; FRANSOZO, 2004). Dentro deste grupo os representantes da Família
Portunidae, conhecidos popularmente como “siris”, possuem grande representatividade (SEVERINO-
RODRIGUEZ et al., 2001).
Esse grupo de crustáceos inclui uma variedade de espécies, especialmente as pertencentes ao gênero
Callinectes, pois apresentam ampla distribuição natural, desde o litoral sul do estado de São Paulo, até
a Carolina do Norte nos Estados Unidos (SFORZA, 2010). No Brasil, representantes deste gênero
compreendem populações numerosas em termos de abundância, 84,2% do total da carcinfauna
acompanhante (MANTELATTO; FRANSOZO, 2000; FRANSOZO et al., 2016; COSTA et al. 2016)
capturada nas atividades pesqueiras, consequência da utilização de apetrecho de pesca não seletivo
(GRAÇA-LOPEZ et al., 2002).
Porém, apesar de sua alta abundância e de representarem ótimo recurso pesqueiro, as espécies deste
gênero ainda são consideradas rejeitos da pesca comercial (SEVERINO-RODRIGUES et al., 2001;
SFORZA et al., 2010), ou possuem relevância econômica apenas para as comunidades ribeirinhas,
como é o caso da espécies Callinectes bocourti (A. Milne Edwards, 1879) no nordeste brasileiro (ALVES;
NISHIDA, 2003), onde estados , destacam-se na extração deste crustáceo (VASCONCELOS et al., 1999;
BOTELHO et al., 1999). Dentre os estados, o Piauí apresenta maior índice de extração desta espécie,
sendo grande parte vendidos nas feiras do estado ou utilizados como fonte de subsistência pelas
comunidades locais.
Apesar de sua ampla distribuição (SFORZA, 2007) e abundância (MANTELATTO; FRANSOZO, 2000;
FRANSOZO et al., 2016; COSTA et al. 2016), os trabalhos científicos realizados no Brasil abordando a
estão focados em espécies como o caranguejo-uça (Ucides cordatus) devido alto rendimento de carne
e processo de coleta, já que esses habitam galerias que facilitam sua captura (MENDONÇA; PEREIRA,
2009).
Mesmo diante das perspectivas apresentadas relativas à distribuição e abundância da espécie C.
bocourti, estudos referentes a extração e conservação da carne, composição nutricional e vida útil da
carne são escassos, significando uma importante lacuna a ser preenchida. Neste contexto, o presente
estudo teve por objetivo determinar as características morfológicas da espécie e avaliar o rendimento

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Influência Da Temperatura De Conservação Nas Propriedades Físico-Químicas Da Carne Do Siri Vermelho (Callinectes Bocourti)

do processo de extração de carne do siri (C. bocourti) proveniente do mercado público informal
efetuado na cidade de Parnaíba-PI. Além de subsidiar as técnicas de processamento e verificar o
comportamento de estabilidade da carne desse crustáceo quando submetidos a diferentes
temperaturas de aclimação.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. MATÉRIA-PRIMA

Os exemplares de C. bocourti (n = 38) foram adquiridos no mercado público informal na cidade de


Parnaíba, Piauí. Os animais foram colocados em caixas isotérmicas e encaminhados ao Laboratório de
Tecnologia do Pescado – LATEP, da Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Campus Ministro Reis
Velloso.

2.2. PARTE EXPERIMENTAL

2.2.1. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS E CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO

Em laboratório os exemplares foram lavados com água corrente, depositados em basquetas e abatidos
por hipotermia em solução contendo água e gelo, na proporção de 2:1 (v:p), sob temperatura de 2 ºC
por um período de 10 minutos. Após essa etapa, os exemplares foram submetidos a cocção (100ºC)
por 30 min. Seguidamente os siris foram lavados com água destilada, escovados e submetidos ao
processo de descarne manual, onde os resíduos gerados e a carne foram pesados. A carne foi separada
em dois lotes de 150 gramas e colocados em sacos plásticos de alta densidade de etileno-álcool-vinílico
– EVOH e aplicados 2 tratamentos (A e B), em função das temperaturas de aclimação, sendo A com
temperatura de refrigeração, 5 ºC e, B com temperatura de congelamento, a -10 ºC.

2.2.2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

Para verificar as características morfológicas dos espécimes, foram avaliados o peso total (PT), usando
balança de bancada (DIGIMED, KN 2000, Brasil), comprimentos total (CT) e da carapaça (CC) utilizando
paquímetro digital (Kala, 150 mm, 6” resolução 0,01 mm). As classes de comprimento foram
determinadas através do método proposto por Sturges (1926).

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Influência Da Temperatura De Conservação Nas Propriedades Físico-Químicas Da Carne Do Siri Vermelho (Callinectes Bocourti)

2.2.3. RENDIMENTO DE CARNE

O percentual de rendimento de carne foi realizado através da pesagem das amostras embalada em
balança automática (DIGIMED, KN 2000, Brasil), de acordo com a Equação 1:

Rendimento (%) = (Peso siri inteiro – peso da carne do siri/ peso do siri inteiro) x100 (1)

2.2.4. ANALISE FÍSICO-QUÍMICA (PH)

As amostras foram armazenadas por 30 dias. As análises foram realizadas nos tempos zero, 5, 10, 15,
20, 25 e 30 dias de armazenamento, de acordo com as Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (SÃO
PAULO, 1985). As analises foram realizadas pela leitura em potenciômetro, utilizando 10 g de carne
de siri homogeneizado em água destilada, na proporção 1:10 utilizando pHmetro de bancada (QUIMIS
Q400AS, São Paulo, Brasil).

2.3- ANÁLISE ESTATÍSTICA

Aos valores de peso e comprimentos dos siris vermelho foi aplicado o recurso estatístico de avaliação
da média e desvio padrão. Para o estudo do rendimento utilizou-se metodologia de cálculo a partir do
uso de regra de três simples. Para determinar os valores de pH das amostras foram realizadas
triplicatas. Os resultados obtidos entre os tratamentos e em cada tempo amostral foram submetidos
a análise de variância (ANOVA) de uma via ao nível de 5% de probabilidade, em seguida aplicado teste
de Tukey, usando o sowftare Statistic 7.0.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através das analises, observar-se alto valor do desvio padrão nos comprimentos total e da carapaça,
o que evidencia a não comercialização dessa espécie. O comprimento da carapaça variou entre 96,7 e
140,3 mm e o comprimento vertical entre 56,8 e 60,2 mm, o peso apresentou variação entre 0,060 e
0,134 g (Tabela 1). Em estudo Vieira et al. (2014), avaliando exemplares de caranguejo (Ucides
cordatus) oriundos de mercado em Parnaíba/PI, observaram a não conformidade entre os exemplares,
evidenciando a comercialização de indivíduos de peso e comprimento variados.

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Influência Da Temperatura De Conservação Nas Propriedades Físico-Químicas Da Carne Do Siri Vermelho (Callinectes Bocourti)

Tabela 1: Resultados expressos como média ± desvio padrão das médias (n=3) para as características
morfométricas de siri vermelho.

Amostra Peso total (g) Comprimento da Comprimento


Carapaça (cm) vertical (cm)
C. bocourti 0,199 ± 0,12 117,10 ± 9,87 61,57 ± 4,71

A pesca de crustáceos na região litorânea piauiense é da modalidade artesanal, os catadores coletam


manualmente os indivíduos, gerando uma deformidade entre os indivíduos. Contudo, de acordo com
a Portaria do IBAMA nº1.208 de 1989 que estabelece que a captura de crustáceos na região Nordeste
do Brasil deve ser exclusivamente de indivíduos machos com tamanho mínimo da carapaça de 4,5 cm.
Foi verificado 6 classes de comprimento entre os espécimes, sendo unimodal e mais representativa a
classe entre 110,72 a 117,73 mm (n = 18) (Figura 1). A distribuição dos exemplares de siri vermelho
em classes de tamanho apresentou distribuição normal, segundo o teste de Kolmogorov-Smirnov.

Figura 1: Classes de comprimento do siri vermelho C. bocourti comercializado em feiras informais na


cidade de Parnaiba, Pi.

Severino-Rodrigues et al. (2012) em estudo com a espécie Callinectes danae, encontraram 8 classes
de comprimento para a espécie ocorrente no Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape e Cananéia, São
Paulo, tendo mais representatividade a classe entre 7 e 8 cm. Já De-Carli et al. (2014) acompanhando
a espécie de siri-candeia Achelous spinimanus constataram 10 classes de comprimento, sendo mais

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Influência Da Temperatura De Conservação Nas Propriedades Físico-Químicas Da Carne Do Siri Vermelho (Callinectes Bocourti)

abundantes espécimes na classe entre 80,1 e 85,2 mm. Esses resultados diferem ao presente estudo,
no entanto as espécies avaliadas são diferentes.
Em relação ao percentual de carne do siri, neste estudo foi encontrado o valor de 28,12% de
rendimento. Avaliando o rendimento de carne de crustáceo, Nascimento et al. (2010), obtiveram um
valor total de carne separada de 460 g o que representou um rendimento de 51,23%. O processo de
rendimento de carne depende de alguns fatores, como a espécie utilizada, o método de extração e a
experiência do manipulador. Assim, o baixo rendimento de carne neste estudo pode ser explicado pela
falta de pratica dos envolvidos.
Na caracterização da carne de siri em função da forma de aclimação não foram observadas diferenças
significativas (p>0,05) entre os tratamentos (Figura 2). Os valores de pH encontrados ao final do 30º
dia de vida útil, para os tratamentos A e B foram de 7,95 ± 0,01 e 7,97 ± 0,09, respectivamente. No
tempo 0 (zero) o pH inicial foi de 8,11 ± 0,07 para ambos os tratamentos, contudo durante o tempo
de armazenamento o tratamento 1 apresentou menores valores de pH, sendo o menor encontrado
no vigésimo dia (7,69 ± 0,21). Já o tratamento 2 apresentou os maiores valores de pH tendo no
vigésimo quinto dia apresentado 8,11 ± 0,01.

Figura 2: Comportamento dos níveis de pH dos tratamentos aplicados durante o tempo de


armazenamento da carne de siri. Sendo, A= temperatura de refrigeração e B= temperatura de
congelamento.
A legislação brasileira estabelece que os valores de pH para carne de crustáceos devem ser inferiores
a 7,85 (BRASIL, 2017). Ambos os tratamentos utilizados nesta pesquisa, apresentaram valores
superiores aos permitidos. Devido à escassez de informações sobre valores de pH em carnes de siri,
podemos verificar em trabalhos com outros crustáceos, no caso o caranguejo, valores de 7,09 a 8,43

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(OGAWA et al., 1973) e 7,1 a 8,1 (LOURENÇO et al., 2006). Os valores fora do permite para o pH das
amostras pode estar correlacionado com a forma de comercialização dos animais, o método de abate
ou algum problema durante o período de armazenamento do produto.

4. CONCLUSÃO

Não há homogeneidade para comprimento e peso dos exemplares de siri vermelho, C. bocourti
comercializados na cidade de Parnaíba - PI. Mesmo sob condições de laboratório, observa-se baixo
rendimento no processamento da carne para a espécie, portanto é imprescindível uma prática de
utilização racional dos resíduos orgânicos gerados.

5. AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal do Piauí e a equipe do Laboratório de Tecnologia do Pescado pela ajuda na


realização da pesquisa. Além dos feirantes que comercializam o siri no mercado público de Parnaíba.

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6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 4
10.37423/200601086

ANÁLISE DA TEMPERATURA SUPERFICIAL DE


RESERVATÓRIOS EMPREGANDO
SENSORIAMENTO REMOTO COM APLICAÇÃO NA
PISCICULTURA

Vinícius Maciel Haitzmann dos SANTOS

Rafael Augusto Franzim AMBROSIO

Edilson Dias MOREIRA

Darllan Collins da Cunha e SILVA


Análise Da Temperatura Superficial De Reservatórios Empregando Sensoriamento Remoto Com Aplicação Na Piscicultura

Resumo: Os reservatórios despertam grande interesse para a Aquicultura e, para isso, são necessários
estudos para determinar as variáveis ambientais, a fim de encontrar a capacidade de suporte do local.
Diante do exposto, este estudo objetiva estimar a temperatura superficial média para os períodos seco
e chuvoso (Inverno e Verão) num intervalo de cinco anos (2014 a 2018) com imagens do satélite
Landsat 8 para o braço Ocoy do reservatório de Itaipu (PR) e verificar sua adaptabilidade para o para o
crescimento da Tilápia. As temperaturas foram calculadas em Celsius (°C) no complemento do QGIS e
a partir dos dados obtidos, gerou-se gráficos com as variações médias de temperaturas e os desvios
padrões para cada ano referente ao período seco e chuvoso. No período chuvoso apresentaram valores
médios em 23,76 °C ± 1,62 e no período seco 19,30 °C ± 1,34. Ao se analisar os valores mínimos,
máximos e médios de temperatura em conjunto com a análise espacial da distribuição é possível
concluir que o reservatório apresenta um gradiente térmico adequado para o desenvolvimento de
atividades aquícolas para diversas espécies. Isto demonstra-se condizente com a sazonalidade natural
do ambiente, não tendo sido verificado mudanças significativas do clima para o período analisado
quando se avalia a dispersão dos dados. As temperaturas nos períodos seco e chuvoso são adequadas
para a criação da tilápia e implementação do sistema de tanques rede de acordo com a variação
térmica anual da superfície do reservatório.

Palavras-chave: Piscicultura, Sensoriamento Remoto, Reservatório, Temperatura.

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Análise Da Temperatura Superficial De Reservatórios Empregando Sensoriamento Remoto Com Aplicação Na Piscicultura

1. INTRODUÇÃO

Técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto tornaram-se cruciais para obtenção de


informações, referentes à visualização e comportamento da temperatura em determinado corpo
hídrico (SILVA et al., 2017; SALES et al., 2017). Estas permitem uma análise periódica, muitas vezes
econômica e eficiente, surgindo como medida potencial de variáveis físico- químicas (PULZATTO,
2018).
O uso e ocupação no entorno de um reservatório resulta na exposição da área, bem como um
comportamento distinto da temperatura que o abrange. Contudo, efeitos diversos causam
diferenças no gradiente de temperatura (BUFFON, 2016).
Neste sentido, a análise espacial de dados com imagens de satélite geram uma interpretação mais
robusta (SILVA et al., 2017; ROSA et al., 2018). Cada pigmento fotossintetizante reflete um nível de
absorção e por consequência, calor (PONZONI et al., 2015; SALES et al., 2017).
Diante disso, a Temperatura Superficial (TS) pode contribuir aos estudos dessa natureza, bem como
suporte para elaboração de Parques Aquícolas, pois permitem uma estimativa mais precisa e com
menor custo de aquisição dessa informação devido ao caráter remoto de sua obtenção por
especialistas (HUFKENS et al., 2019; TERAMOTO et al., 2019; SILVA et al. 2020). A obtenção dessa
informação envolve modelos matemáticos e computacionais e possibilitam compreender o
comportamento de um lago (TOEBE, 2011; SIMONETTI et al., 2019).
Diante desta evolução e desenvolvimento de novas tecnologias de monitoramento através do
sensoriamento remoto, um dos cenários a nível nacional que mais cresceu nos últimos anos é o setor
da piscicultura. Entre os anos de 2008 e 2010, houve um incremento de 76% na produção nacional,
atingindo um montante de 479.398,6 toneladas, sendo 82,3% oriunda da aquicultura continental e
os 17,7% restantes da marinha (IPEA, 2017).
Sem o conhecimento da qualidade da água e o controle da alimentação, esse desenvolvimento do
setor não seria possível. Segundo Jian et al. (2003), a temperatura da água é considerada uma das
variáveis ambientais mais importantes, por afetar diretamente o metabolismo e consequentemente,
o consumo de oxigênio, o crescimento e a sobrevivência dos organismos.
Diante do exposto, este estudo objetiva estimar a temperatura superficial média para os períodos
seco e chuvoso (Inverno e Verão) num intervalo de cinco anos (2014 a 2018) com imagens do satélite
Landsat 8 para o braço Ocoy do reservatório de Itaipu (PR) e verificar sua adaptabilidade para o para
o crescimento da Tilápia.

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Análise Da Temperatura Superficial De Reservatórios Empregando Sensoriamento Remoto Com Aplicação Na Piscicultura

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 ÁREA DE ESTUDO

O local de estudo, Braço do Ocoy, localiza-se no reservatório de Itaipu Binacional que compreende uma
área de 1350 km² (Figura 1), próximo ao município de Itaipulândia-PR. Ele possui uma potencialidade
para execução de Parques Aquícolas, com várias estações de amostragem (PULZATTO, 2018). O
reservatório fica alocado no leito do oitavo maior rio do mundo em extensão (4.880 km) e o segundo
da América do Sul. Sua bacia hidrográfica abrange cerca de 10% do território brasileiro. O local faz
divisa com os estados do Alto Paraná e Canindeye no Paraguai (ROSA et al., 2018).

Figura 1. Localização das estações de amostragem dos parques aquícolas no Reservatório de Itaipu-
Brasil e o Braço Ocoy em destaque
Fonte: Elaborado pelos autores

Estudos adjacentes estão sendo desenvolvidos com o intuito de legalizar a implementação de novas
propriedades aquícolas, principalmente em criação de tanques rede (CAMPOS, 2018).

2.2 PROCESSAMENTO DOS DADOS

Para a delimitação do Braço do Ocoy foi gerada uma composição de falsa cor com as bandas 543 do
satélite landsat 8 da órbita 223 e ponto 77 do dia 23 de junho de 2018 com passagem as 13 horas e
28 minutos no local. Essa composição de falsa cor permitiu após uma classificação supervisionada pelo
método Máxima Verossimilhança (MAXVER) extrair o limite do reservatório.

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Posteriormente, foi realizado uma conversão direta dos níveis de cinza da banda 10 para temperatura
de superfície em graus Celsius (°C) com o auxílio do plug-in “Semi-Automatic Classification” presente
no software QGIS, versão 2.4. Os dados foram capturados com precisão radiométrica em uma faixa
de 12 bits, com ampliação da relação do sinal e qualidade da imagem, com 4096 níveis de cinza
potencial e resolução espacial de 100 metros (USGS, 2019).
O tratamento do dado raster (Banda 10) no software QGIS para obtenção dos valores temperatura
observado no reservatório foi realizado seguindo os parâmetros fixos de conversão de níveis de cinza
para radiância segundo as Equações 1 e 2 (COELHO, 2013).

Lλ = ML × Qcal + AL (1)

Sendo:
Lλ é a Radiância Espectral em Watts/ (m² sr µm)
ML é o Fator multiplicativo de redimensionamento da banda 10 = 3,3420E-04
AL é o Fator de redimensionamento aditivo específico da banda 10 = 0,10000
Qcal é o Valor quantizado calibrado pelo pixel em DN = Imagem banda 10

K2
T= K1 (2)
ln( +1)

Sendo:
Lλ é a Radiância Espectral em Watts/ (m² sr µm)
K2 é a Constante de Calibração 2 = 1.321.08 (K)
K1 é a Constante de Calibração 1 = 774,89 (K)
T é a Temperatura efetiva no satélite em Kelvin (K)

Após este procedimento, os valores em Kelvin foram convertidos para a temperatura em graus Celsius
(ºC), subtraídos pelo seu valor absoluto (273,15).
A partir dos dados obtidos, gerou-se gráficos no Excel para observar as temperaturas mínimas,
máximas e médias do reservatório para o período seco e chuvoso entre os anos de 2014 a 2018,
visando identificar a amplitude térmica e a variação térmica, auxiliado pelo cálculo do desvio
padrão.
Para a confecção do mapa do período seco e chuvoso foi calculado as médias das temperaturas de
cada período por meio de Álgebra de Mapas e reprojetado o datum para SIRGAS 2000/ UTM zone
21S. A álgebra de mapas foi realizada através da obtenção dos valores médios das temperaturas
por meio de uma média aritmética simples.

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Análise Da Temperatura Superficial De Reservatórios Empregando Sensoriamento Remoto Com Aplicação Na Piscicultura

Também foram realizadas as classificações quanto as áreas que contemplam as condições ideias
para o crescimento da tilápia (Tabela 1) de acordo com os estudos de ZHOU et al. (2019).

Tabela 1. Critérios para classificação das condições ideias para crescimento da tilápia.

Intervalo de Temperatura Condição de crescimento


0 a 10 ºC 1 – Não sobrevive
10 a 16 ºC 2 – Inadequado para o crescimento
16 a 25 ºC 3 – Condição boa para o crescimento
25 a 28 ºC 4 – Condição ótima para o crescimento
28 a 38 ºC 5 – Condição boa para o crescimento
38 a 60 ºC 6 – Inadequado para o crescimento

Após a classificação foi aferido as áreas totais (km²) e o percentual das condições tanto para o
período seco quanto para o chuvoso. A classificação promove uma visualização espacial das áreas
mais adequadas ao desenvovimento da tilápia, auxiliando na tomada de decisão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise compreendeu um intervalo de tempo de 5 anos para o período seco (Figura 2) e chuvoso
(Figura 3), onde cada período possui uma característica típico da sazonalidade a qual está inserido.
Corroborando com esta afirmação, Costa (2019) afirma que em ambientes tropicais, a temperatura
da água sofre com as maiores incidências pluviométricas, de acordo com as estações do ano,
principalmente no verão.

Figura 2. Temperaturas máxima, média e mínima anual do período seco

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As temperaturas referentes ao período seco mantiveram uma média de 19,30 °C ± 1,34 para um
intervalo de 5 anos, com as maiores temperaturas registradas em 2015, com máxima de 29,31 °C ±
2,40 e mínima de 20,01 °C ± 1,99, frente aos demais anos. Em 2018, as menores temperaturas foram
registradas, com máxima de 17,45 °C ± 1,34 e mínima de 15,09 °C ± 1,99.

Figura 3. Temperaturas máxima, média e mínima anual do período chuvoso

Para o período chuvoso foi possível observar uma temperatura média de 23,76 °C ± 1,62, com as
maiores temperaturas registradas em 2014, com máxima de 30,99 °C ± 2,36 e mínima de 20,83°C ±
1,92. Comparando com as menores temperaturas, no ano de 2017, a máxima chegou aos 25,98 °C ±
2,36 e a mínima de 20,83 °C ± 1,92.

Ressalta-se que no ano de 2015 as imagens estavam com várias nuvens e, por consequência, suas
temperaturas abaixo de zero. Portanto, o ano não foi contabilizado. Obviamente que a temperatura
da água passou por mudanças de energia ao longo do período, seja pelo ângulo solar ou pela cobertura
de nuvens (COSTA, 2019).

A Figura 4 apresenta um gráfico com os valores médios da temperatura por período seco e chuvoso.

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Figura 4. Avaliação sazonal da temperatura para os períodos seco e chuvoso

Os desvios ficaram abaixo de 2,5ºC, o que é importante para caracterização da sazonalidade e uma
importante informação para o densenvolvimento de processos produtivos de peixes.

Outro fator que precisa ser citado quando se trata da oscilação da temperatura e que influencia o
desvio padrão é o El Niño. Na região sul do país, foram observados que o fenômeno se mostrou
influente na distribuição anual de chuvas (BODAS TERASSI, 2018), sendo expressivo em períodos
chuvosos intensos. Conforme mostrado, a análise da temperatura apresentada é um retrato do que
ocorre no ambiente, estando sujeita a diversas variações incontroláveis.

A faixa de crescimento da tilápia está descrita entre 16 e 38°C, com um ótimo entre 25 e 28°C com
tolerância a temperaturas abaixo dos 16°C (ZHOU et al., 2019). Conforme classificação, nota-se que
para o período seco (Figura 5) o Braço Ocoy apresenta uma temperatura média de 17,09°C,
apresentando uma condição boa para o crescimento da tilápia.

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Figura 5. Mapa de temperatura média do período seco

Percebe-se que as temperaturas registradas são mais altas na borda do reservatório, isto se deve ao
maior alcance dos raios solares em todo o perfil longitudinal do corpo hídrico, possibilitando o
aquecimento maior destes em relação as áreas mais profundas que trocam calor com a superfície
resfriando-as.

Por sua vez, no período chuvoso, obtiveram-se temperaturas ótimas em todo o corpo hídrico, com
uma média de 27,74 °C (Figura 6), elucidando a possibilidade de um melhor desempenho zootécnico
(ZHOU et al., 2019).

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Figura 6. Mapa de temperatura média do período chuvoso

Orsi (2011) relatou que já existe a criação de peixes na região, enfatizando a produção do Pacu
(Piaractus mesopotamicus). Contudo, pode-se usar como alternativava a Tilápia, sendo uma espécie
adaptada a diversas condições de criação, além dos diferentes regimes produtivos (BARTZ, 2018),
sendo a mais produzida no Brasil (destacando-se o estado do Paraná).
Pela interpretação dos mapas constatou-se que, 99,95% da área do Braço Ocoy (Figura 7) apresenta
boa condição para o crescimento da Tilápia, correspondendo a 68,098 km², propicias à criação em
tanques rede (Período seco).

Figura 7. Classificação do Período seco

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Já no período chuvoso, observa-se resultados superiores (Figura 8), com condições ótimas, apesar da
diminuição da área para 99,15 %, com aproximadamente 67,5 km², ideais à implementação do sistema
produtivo. Isso pôde ocorrer devido à diferença do gradiente de temperatura do regime pluviométrico
anual, com as temperaturas mais elevadas e distantes dos pontos mais altos do Braço (SILVA, 2015).

4. CONCLUSÃO

A Temperatura Superficial da água é distinta nas diferentes estações do ano. As estações inverno e
verão mantiveram temperaturas normais para a região, com exceção do verão de 2015, diante da
qualidade da imagem disponível. Ressalta-se que a cobertura de nuvens, a exposição da borda do
reservatório e presença do El Niño podem ter influenciado na análise.

De acordo com a classificação dos mapas nos períodos seco e chuvoso determina- se que, as
temperaturas encontradas estavam na faixa boa e ótima de crescimento da Tilápia do Nilo, com uma
média de 17 ºC (Período Seco) e 27 ºC (Período chuvoso) para toda a extensão do Braço Ocoy.
Portanto, torna-o ideal para a implementação do Parque aquícola, seguindo a temperatura como
principal parâmetro de análise.

As técnicas empregadas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento foram de grande


importância na determinação da temperatura do Braço Ocoy. Entretanto, a análise seria mais robusta
se fosse aliada a outras informações de campo como Clorofila-a, transparência e fósforo, visto que o
ambiente é muito dinâmico.

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59
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 5
10.37423/200601094

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E ANÁLISE


MICROBIOLÓGICA DE FARINHA DE PEIXE
“PIRACUÍ” PRODUZIDA ARTESANALMENTE

Rogério Ferreira Nakauth

Ana Carolina Souza Sampaio-Nakauth

Sandra Regina Gregório


Composição Centesimal E Análise Microbiológica De Farinha De Peixe “Piracuí” Produzida Artesanalmente

INTRODUÇÃO

O “piracuí” é a farinha de peixe, produzida artesanalmente, a partir do musculo do peixe seco e


desfiado (Jesus e Almeida, 2011). Este produto é caracterizado como uma forma de Concentrado
Protéico de Pescado (CPP), obtido pela moagem do pescado seco, inteiro ou não, e pelo cozimento,
prensagem, secagem e moagem dos resíduos da indústria de pescado, geralmente apresentado com
granulometria fina de farinha (ALMEIDA, 2009).
No processo de obtenção de piracuí, farinha de peixe para consumo humano, podem ser utilizadas
estruturas artesanais simples, de fácil obtenção e baixo custo. O termo “piracuí”, cientificamente, tem
origem na língua tupi, onde pira=peixe e cuí= farinha, e significa “peixe seco ao fogo, socado no pilão,
reduzido a pó, peneirado, posto em paneiro e mantido em fumeiro” (Alves, 2009). Canstatt (1954),
Staden (1974), Florence (1977) e Castro (2003) relacionam a origem do piracuí à necessidade de
conservação de alimento das tribos indígenas e apresentam diferentes descrições das etapas de
preparo.
Fonseca (2008) descreve o processamento a partir das metodologias aplicadas pelo colono português,
que realizava a extração em regiões distantes dos centros consumidores. A escassez ou alto custo do
sal para a conservação do produto, fazia com que a produção de piracuí fosse destinada apenas aos
peixes pequenos e com muitas espinhas, enquanto que os maiores eram salgados e transformados em
piraém. O piracuí era consumido misturado com cebolas, azeite ou manteiga, ou gordura de peixe e
ovos.

Rial (2003) registra transformação da carne do peixe em farinha pelos índios Tupinambás, nos anos
1540, como forma de conservação. O autor também destaca que o piracuí era misturado à farinha de
mandioca para alimentação.
O piracuí se constitui em uma importante fonte de proteína de ótima digestibilidade, média de 70%,
muito utilizado na dieta da população especialmente a de baixa renda, e largamente empregado como
ingrediente na culinária da regional (SILVA 1981; SÁ-FILHO, 1998), ou consumido diretamente
(FIGUEIREDO et al, 2015). Seu preparo consiste basicamente em moquear o peixe com escamas e
espinhas, até ressecá-lo, tirando então as escamas e as espinhas maiores após o que pulverizam-no,
peneiram-no e levam-no ao forno (FONSECA, 2008)
O piracuí está classificado como CPP tipo C (CASTRO, 2003) e é feito principalmente de acari
(Liposarcus pardalis), tamuatá (Hoplosternum littorari) (Brasil-Ministério da Saúde, 2015), havendo
também registros de preparo a partir de aruanã (Osteoglossum bicirhossum) (CASTRO, 2003),

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Composição Centesimal E Análise Microbiológica De Farinha De Peixe “Piracuí” Produzida Artesanalmente

tambaqui (Colossoma macropomum) e pescada (Plagioscion squamosissimus), conforme observações


nos pontos de venda na cidade de Parintins.
A produção da farinha de piracuí concentra-se na região de Manaus, no estado do Amazonas, na região
do rio Tapajós, a jusante de Santarém, no estado do Pará. (Brasil-Ministério da Saúde, 2015). O
processo de produção do piracuí é artesanal e emprega operações de tratamento térmico, eliminação
de resíduos e desidratação. O peixe ainda fresco é cozido ou assado, em seguida separa-se a carne da
carcaça e dos ossos; a mesma, assim obtida, é desidratada em tachos de barro ou fornos abertos, sob
uma chapa aquecida; adiciona-se sal e o produto final é resfriado em temperatura ambiente e, depois,
embalado (NUNES, et al., 2013).
A farinha de piracuí é comercializada nas feiras livres em sacos de aniagem sem nenhum cuidado
higiênico. Ao contrário do CPP tradicional, o piracuí tem ótima aceitabilidade, sendo consumido puro
ou misturado a outros alimentos, na forma de bolinhos de peixe, tortas, omeletes, sopas, ensopados,
risotos e suplemento proteico. Também pode ser empregada em diferentes situações: desde
programas de merenda escolar, em internatos, nas dietas hospitalares e até nas rações operacionais
das Forças Armadas durante manobras na região amazônica (NUNES, et al., 2013)
Quanto ao aspecto microbiológico, Alves (2009) registrou contaminação no piracuí comercializado em
três principais feiras de Manaus (AM). Nunes et al (2013) avaliando a qualidade microbiológica do
piracuí comercializado em Belém (PA), também observou excesso de Staphylococcus coagulase
positiva em 78,87 % das de piracuí. Estas condições acarretam perda de qualidade do produto, já que
grande parte das amostras de piracuí analisadas apresentaram níveis de contaminação inaceitáveis
para fungos, conforme também verificado por Santos e Freitas (2004). Os diferentes trabalhos
reforçam as péssimas condições higiênico-sanitárias do comércio de pescados salgados secos, na
região Norte do país.
Nutricionalmente, o piracuí de acari-bodó (Liposarcus pardallis) apresenta baixo teor de gordura e
elevado teor protéico, gerando um produto final mais estável à oxidação lipídica; é seco e desfiado,
com excelente fonte proteica (em média 70%). Este produto é considerado uma farinha de peixe,
entretanto, a farinha de pescado, de acordo com a legislação brasileira, é classificada como um
subproduto não-comestível, elaborada a partir de todo resíduo resultante de manipulações e de
pescado condenado (FIGUEIREDO et al 2015), e frequentemente é utilizada no processo de fabricação
de ração.

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Composição Centesimal E Análise Microbiológica De Farinha De Peixe “Piracuí” Produzida Artesanalmente

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida nos meses de abril e maio, na Comunidade Nossa Senhora do Desterro,
distante em linha reta 54,42 quilômetros da sede urbana do município de Parintins. Localizada no
complexo de comunidades denominadas de Núcleo do Limão (S 2º38’09.50” O 56º49’27.90”),
composta por treze famílias, com aproximadamente sessenta pessoas.
Foi fundada em 1981 como resultado do desmembramento da Comunidade do Marinheiro, e tem
como principal atividade produtiva a pesca desde a decadência da produção de juta (GARCIA e
GARCIA, 2016). O pescado capturado é destinado em sua maioria à comercialização no município de
Barreirinha, mais próximo em relação a Parintins. O alvo principal da pescaria são as espécies de peixes
“de escamas” e “de couro” com alto valor comercial.
Além da pesca, é praticada a agricultura voltada para o autoconsumo, sendo seu excedente também
comercializado no município de Barreirinha. Os plantios são de culturas de ciclos curtos (feijão,
macaxeira, jerimum e melancia), muito comuns em área de várzea (GARCIA e GARCIA, 2016).
A comunidade esta geograficamente localizada em uma área de várzea, que tem como principal
característica ser inundada periodicamente, ou seja, durante um período as suas terras ficam cobertas
pelas águas do Rio Amazonas, a figura 11 mostra o avanço das águas entre os meses de fevereiro a
maio. A enchente faz com que os habitantes desta área busquem outro lugar para viverem durante o
pico da enchente que ocorre no entre os meses de maio e junho. Nestes meses, os comunitários
partem em direção a terra firme, levando consigo suas criações de pequenos e médios animais, no
caso desta comunidade, principalmente porcos. Durante o período em que vivem na terra firme os
comunitários se dedicam a coleta extrativa de sementes como a castanha e mantêm a pesca como
principal atividade (op cit).
Os discentes do 3º módulo do Curso Técnico em Recursos Pesqueiros do IFAM-Campus Parintins
observaram in loco, o processo de fabricação de piracuí e realizaram registros sobre os procedimentos
de manipulação do pescado. Depois da experiência, em laboratório, produziram artesanalmente a
farinha de pescado, aplicando os conhecimentos de Boas Práticas de Manipulação (BPM), com base
na Resolução da Diretoria Colegiada n.º 216 de 2004 da ANVISA, que dispõe sobre Regulamento
Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação.
Com base nas orientações quanto às BPM, os discentes ministraram uma oficina teórico prática aos
comunitários, apresentando pontos críticos registrados durante a observação do processo de
produção artesanal do piracuí na Comunidade e propuseram elaboração de novo lote de farinha de
peixe com a implementação do uso de EPI e BOM (Figura 3).

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Composição Centesimal E Análise Microbiológica De Farinha De Peixe “Piracuí” Produzida Artesanalmente

Na oficina de produção piracuí em laboratório, adotou-se os procedimentos descritos no fluxograma


(figura 2), com a utilização dos seguintes Equipamentos de Proteção Individual (EPIs): avental, touca
descartável, mascara e luva. Os utensílios e as mãos dos manipuladores foram higienizados com
detergentes líquidos e sanitizados com a aplicação de álcool a 70%. Foram utilizados exemplares de
jaraqui-escama-grossa (Semaprochilodus insignis) adquiridos comercialmente na feira de Parintins.

Na Comunidade Nossa Senhora do Desterro as espécies utilizadas no processo de produção de piracuí


foram (pirarara) Phractocephalus hemioliopterus e (surubim) Pseudoplatystoma fasciatum, as quais
originaram dois lotes de piracuí sendo um de cada espécie. Os procedimentos encontram-se descritos
no fluxograma (Figura 2).
Para análise da composição centesimal e análise microbiológica foram coletadas amostras de 02 lotes
de piracuí produzidos em laboratório, com os alunos e na comunidade, e enviadas para laboratórios
especializados. A determinação da composição centesimal (físico-química) consistiu na quantificação
de lipídios, carboidratos, proteína, umidade e cinzas. A análise microbiológica visou a quantificação de
Coliformes totais e termotolerantes, Salmonella sp.e Estafilococcus sp., conforme RDC 012, de 2001,
da ANVISA.
As analises da composição centesimal (umidade, lipídios totais, cinzas, proteína bruta e fração não
nitrogenada) foram realizadas no laboratório de Tecnologia do Pescado, do Departamento de Ciencias
Pesqueiras, da Faculdade de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, e foram
realizadas por métodos preconizados pela A.O.A.C (1990) e Instituto Adolpho Lutz, São Paulo (2008).
As analises microbiológicas foram realizadas no laboratório de microbiologia do Departamento de
Parasitologia, do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, com
metodologia baseada em SILVA et al. (2006).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A tabela 01 apresenta os resultados das análises de composição centesimal, realizadas em 02 amostras


de piracuí, produzidas sem intervenção, a partir das espécies de pescado Surubim- (Pseudoplatystoma
fasciatum) e Pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), na comunidade de Nossa Senhora do
Desterro. As amostras de farinha de peixe apresentaram valores consonantes com a literatura já
descrita para esta categoria de produto formulado a partir de peixes regionais.

Nunes et. al., (2013), apresentaram resultados para composição centesimal de piracui coletado em 14
diferentes pontos da cidade de Belém-PA, entretanto não especificam a espécie de peixe utilizada na

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Composição Centesimal E Análise Microbiológica De Farinha De Peixe “Piracuí” Produzida Artesanalmente

produção destas amostras. Estes autores descrevem ranço oxidativo, cloretos, atividade de água,
cinzas e umidade, sendo estas duas últimas informações que podem ser comparadas com esta
pesquisa. Cinzas e umidade, 12,91 e 18,76%, respectivamente, diferem deste trabalho, que verificou
valores de umidade entre 16,0 e 15,50% e cinzas 4,57 e 4,26%, respetivamente para Surubim e
Pirarara. As diferenças podem estar relacionadas às espécies utilizadas ou à presença de resíduos não
comestíveis.

Tabela 1: Composição centesimal de piracui produzido na Comunidade de Nossa Senhora utilizando


Pirarara e Surubim.

Piracui de Piracui
Parâmetros físico-químicos Pirarara de Surubim-
(Phractocephalus (Pseudoplatystoma
hemioliopterus) fasciatum)
Umidade (g/100g) 15,50 16,00
Resíduo Mineral Fixo (g/100g) 4,26 4,57
Lipídios totais (g/100g) 8,93 7,67
Proteínas (g/100g) 70,35 70,74
Carboidratos (g/100g) 0,96 1,02
Valor Calorico (Kcal/EB/100g) 365,64 356,04

Santos (2008) trabalhou com o Acari-Bodó (Liposarcus pardalis, CASTELNAU, 1855), apresentando
resultados muito próximos aos descritos nesta pesquisa, destacando-se Proteínas 74,65%, lipídeos
7,38% e Energia kcal/100g 365,02, mesmo sendo de espécies conhecidamente diferentes. O processo
artesanal de desossa contribui para diminuição dos níveis de matéria inorgânica presentes no produto
final, sendo basicamente composto em sua maioria por proteína, como apresentado nesta pesquisa.
O cozimento em agua ou por exposição indireta a fonte de calor (assado), contribuem para diminuição
dos níveis de lipídeos pela retirada da gordura sobrenadante durante o cozimento.

Santos e Freitas (2004) analisaram 08 mostras coletadas aleatoriamente na cidade de Belém-PA, não
definindo em sua pesquisa a espécie de peixe utilizada na produção do piracui analisado. Os resultados
de umidade variaram entre 14,56% e 23,34% e uma média de 18,6%. A umidade é próxima ao obtido
na pesquisa, entretanto Santos e Freitas (2004), observaram media alta de 13,4% de resíduos não
comestíveis, muito próximos ao encontrada por Alves (2009), em uma de suas três amostras de piracui
comercializado na Cidade de Manaus.

Alves (2009) apresentou em seus resultados níveis de proteínas considerados baixos para o produto
piracui, uma média 44,7 %, e uma umidade média de 22,7%. A autora informa que a manipulação para

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comercialização do produto, normalmente exposto em sacos abertos de rafia, somado aos altos níveis
de umidade relativa da região Amazônica, pode ter contribuído para esta média mais alta de umidade.

Em relação ao teor proteico do piracuí, o que tem sido observado na literatura é que a variação está
mais associada à técnica utilizada para cozimento da carne do pescado, se à vapor (assado) ou em
água (cozido), e ao tempo de secagem, do que em relação à espécie utilizada.

As analises microbiológicas foram realizadas de acordo com a Resolução da ANVISA - RDC nº 12, de 2
de janeiro de 2001, que estabelece os padrões microbiológicos sanitários para alimentos, e determina
os critérios para a conclusão e interpretação dos resultados das análises microbiológicas de alimentos
destinados ao consumo humano.
Os resultados obtidos pela analise microbiológica estão apresentados na tabela 2 e mostram que os
tres lotes produzidos na comunidade de Nossa Senhora do Desterro, com ou sem intervenção, não
apresentam contaminação por Salmonella sp., Escherichia coli ou coliformes tolerantes e Estafilococos
coagulase-positiva.

Tabela 2: Resultados das analises microbiologicas de amostras de piracui produzido

Parâmetro Microbiológico Produto Padrões permitidos Resultado


(ANVISA)
Salmonella sp/25g Piracuí de surubim Ausente Ausente*
Escherichia coli ou (Pseudoplatystoma 10²/g Ausente*
coliformes termotolerantes fasciatum) produzido pela
Estafilococcus coagulase comunidade SEM 5X10²/g Ausente*
positiva intervenção(LOTE 01)
Salmonella sp/25g Piracuí de pirarara Ausente Ausente**
Escherichia coli ou (Phractocephalus 10²/g Ausente**
coliformes termotolerantes hemioliopterus) produzido
Estafilococcus coagulase pela comunidade SEM 5X10²/g Ausente**
positiva intervenção(LOTE 02)

Salmonella sp/25g Piracuí de surubim Ausente Ausente***


(Pseudoplatystoma
fasciatum) produzido pela
Escherichia coli ou comunidade COM 10²/g Ausente***
coliformes termotolerantes intervenção(LOTE 03)
Estafilococcus coagulase 5X10²/g Ausente***
positiva

O resultado para os lotes 01 e 02 (piracuí produzido sem intervenção), demonstra que os metodos
artesanias praticados na comunidade, dentre eles destaca-se a secagem, conseguem garantir a
elaboração de um produto que atende os requisitos descritos na RDC da ANVISA nº 12, de 2 de janeiro
de 2001. Ao contrario do esperado, os resultados são satisfatorios, tendo vista a infraestrutura e o

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Composição Centesimal E Análise Microbiológica De Farinha De Peixe “Piracuí” Produzida Artesanalmente

pouco conhecimento de BPM dos comunitarios, o processo de secagem consegue eliminar as possiveis
contaminações durante o processo produtivo.

Além disso, a técnica de utilizar calor por cozimento e depois, secagem em temperatura superior a
80ºC, promove a segurança microbiológica do processo, e ainda, o produto piracuí é seco, ou seja tem
baixo teor de água, o que dificulta a proliferação dos microorganismos que são indicadores da
qualidade sanitária conform RDC 12 de 02/01/2001-ANVISA.

O resultado do lote 03 (piracuí produzido com intervenção) atendeu as expectativas, principalmente


pelo fato de ter sido produzido observando-se as recomendações das Boas Praticas de Manipulação
da RDC N°216 de 2004 da ANVISA. Pode-se afirmar que a atividade de extensão, em que os alunos
sugeriram melhorias, principalmente em relação a higiene das mãos, do local de trabalho e da matéria-
prima, contribuíram para um produto livre de contaminação.

Segundo SILVA et. al. (2006), o grupo coliformes totais é utilizado como indicador da potabilidade da
água e como indicador geral das condições higiênico-sanitárias do ambiente de processamento de
alimentos. A contagem de E. coli é utilizada como indicador de contaminação fecal recente ou de
condições higiênico-sanitárias insatisfatórias de processamento de alimentos. Sendo assim, os
resultados microbiológicos apresentados nesta pesquisa, demonstram que os procedimentos
utilizados na produção do piracui, destacando-se a secagem, contribuíram para a elaboração de um
piracui apto para o consumo humano.

Os resultados encontrados por Alves (2009), com piracui coletado em três diferentes pontos nas feiras
da cidade da Manaus, constatou o Numero Máximo Provável (NMP) de coliformes totais variou de
<0,3 a 24/g. O NMP de coliformes fecais ficou entre <0,3/g a 4,3/g, e apenas a Feira da Panair
apresentou contaminação por E. coli. Na contagem de Staphylococcus aureus houve uma pequena
variação de 2,3x103 a 2,4x103 UFC/g. A pesquisa de Salmonella sp. indicou ausência em todos os
pontos.

Diferente do resultado desta pesquisa, os resultados de Alves (2009), indicam que além do processo
de produção, a cadeia de comercialização ate o consumidor pode levar a contaminação do piracui,
caso a armazenagem e a manipulação não sejam feitas de maneira adequada.

Nunes et. al., (2013), coletou amostras em 14 pontos diferentes na cidade de Belém –PA, encontrou
resultados para analises microbiológicas diferentes das apresentadas nesta pesquisa. As contagens de

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Composição Centesimal E Análise Microbiológica De Farinha De Peixe “Piracuí” Produzida Artesanalmente

Staphylococcus coagulase positiva não atenderam aos respectivos valores máximos regulamentados
em 78,87 % das amostras de piracuí. Enterococcus spp. foi detectado em 64,28 % de suas amostras de
piracui. Houve ocorrência de Salmonella sp. em cinco amostras.

A possibilidade de contaminação cruzada nas amostras coletadas por Nunes et. al. (2013), pode ter
conferido as amostras analisadas por ele os altos índices de contaminação, tendo em vista toda a
dificuldade logística do transporte do piracui desde seu processamento artesanal nas comunidades
ribeirinhas ate o centro de comercialização na cidade de Belém-PA.

Franco e Landgraf (2008) descreveram que os estafilococos constituem o principal grupo microbiano
que habita a pele humana, podendo-se inferir que estes agentes, quando presentes, possam ter sido
transferidos às amostras de farinha de peixe (piracuí), através do manipulador durante o preparo e
comercialização. Tais organismos sendo considerado um perigo potencial à saúde coletiva, em função
da possibilidade de produção da Enterotoxina estafilocócica, responsável por toxinfecção alimentar.

Considerando a fonte de contaminação de Stafilococus aureus, este trabalho corrobora a eficácia do


trabalho desenvolvido pelos sujeitos da pesquisa na comunidade de Nossa Senhora do Desterro, uma
vez constatada a ausência desta bactéria demonstrando a qualidade do produto elaborado por esta
comunidade.

Um contra ponto pode ser evidenciado devido ao fato da produção de piracui na comunidade na ter
como foco a comercialização, mas principalmente o consumo interno das famílias da comunidade, o
que gera uma produção pequena e muito mais fácil de ser gerenciada e controlada.

Santos (2008), observou em seus resultados para amostras de tipo piracui ausência de coliformes
totais durante o tempo de armazenamento de 90 dias. Durante a estocagem, a contagem de
Estafilococos coagulase positiva foi <1x101 em todas as avaliações, portanto dentro do limite
estabelecido. No que se refere à pesquisa de Salmonella, houve ausência de Salmonella na farinha
(tempo zero) e no fim do armazenamento (90 dias). Estes resultados são os mesmos encontrados pela
analise microbiológico desta pesquisa, entretanto difere no processo de produção, pois as amostras
de farinha tipo piracui de Santos (2008), foi produzido em laboratório e o piracui desta pesquisa em
uma comunidade ribeirinha.

Santos e Freitas (2004) coletaram amostras em 08 pontos diferentes na cidade de Belém – PA,
observou em suas amostras ausência de Staphylococcus aureus e Salmonella sp em todas as amostras

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Composição Centesimal E Análise Microbiológica De Farinha De Peixe “Piracuí” Produzida Artesanalmente

e o NMP de coliformes fecais igual a 0,0/g em todas as amostras e NMP de coliformes totais variando
de 0,0/g a 21,0/g. Apesar da presença de coliformes totais, não foi constatado a presença de
coliformes fecais, obtendo resultados iguais a esta pesquisa em relação a Staphylococcus aureus e
Salmonella sp, entretanto diferindo de Nunes et. al., (2013), que coletou na mesma cidade 09 anos
depois e com maior número de amostras.

Figura 1: Localização Geográfica: A – mapa do Brasil; B – mapa do Estado do Amazonas; C - localização


da comunidade de Nossa Senhora do Desterro em relação à sede urbana do município de Parintins,
apresentando as vias fluviais de acesso a comunidade. Fonte: Google Earth, 2016.

Figura 2: Fluxograma da produção de farinha de peixe (Piracuí) com estudantes (01) e comunitários
(02).

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Figura 3: Elaboração do piracui de jaraqui (Semaprochilodus insignis), em laboratório, aplicando o uso


de EPI e BPM: a, b, c e d: descamação, evisceração, descabeçamento e cozimento; e: desossa; f:
secagem; g: esfriamento; h: armazenamento.

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Figura 4: Atividade prática com discentes, sobre aplicação da técnica de higienização das mãos.

Figura 5: a e b: Atividade prática sobre correta higienização das mãos, com comunitários; c e d:
socialização das observações críticas quanto ao processo de produção de piracuí.

CONCLUSÃO

A composição centesimal e a análise microbiológica do piracuí produzido artesanalmente, na


Comunidade Nossa Senhora do Desterro, não sofreu alterações em função da incorporação de boas
práticas de manipulação de alimentos ao processo de fabricação.

Os resultados indicam que a contaminação do piracui, comumente descrita na literatura, deve ser
associada à logística de distribuição e comercialização, já que ao final do processo produtivo, conforme

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caso estudado, não há contaminação do piracui produzido de forma artesanal. Devem ser realizados
trabalhos que proponham novas formas de apresentação do produto ao consumidor, visando reduzir
a exposição e consequente contaminação do produto.

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transcrita no Anexo desta dissertação.

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Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 6
10.37423/200601109

ANÁLISE DA EFETIVIDADE DA LEGISLAÇÃO


AMBIENTAL NO PROCESSO DE PRESERVAÇÃO
DO MANGUEZAL DA ILHA DO MARANHÃO

Lyssandra Kelly Silva Ferreira

Thaís Brito Freire

Lygyanne Kássia Silva Ferreira De Oliveira

Tatiana de Jesus Pereira Ferreira


Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

RESUMO: A efetividade de norma jurídica trata-se de um requisito mínimo para que depósitos legais
sejam válidos. Este trabalho objetivou analisar a efetividade da legislação ambiental no processo de
preservação do manguezal da Ilha do Maranhão. Para o desenvolvimento deste estudo, realizou-se
caracterização da área de estudo, delineamento das normas jurídica ambiental; e análise da
efetividade das normas jurídicas aplicadas nos manguezais. Os resultados constaram-se que, entre as
diversas legislações incidentes sobre ao manguezal destacam-se, 43 dispositivos legais, que as estão
dispostas em hierarquia de 04 níveis, sendo estes constituídos por Constituições, Leis, Decreto-Lei,
Decretos e Resoluções. Em relação à efetividade dos dispositivos legais na preservação do mesmo
apresenta um aspecto ineficaz, sendo este aspecto pode esta correlacionada pelo déficit de
responsabilidade administrativo por parte órgãos competentes e a interfaces mal trabalhadas dos
dispositivos legais, contribuindo assim a sua inefetividade. Conclui-se que as normas jurídicas
incidentes sobre os manguezais da ilha do Maranhão apresentam textos normativo bastante avançado,
entretanto a sua aplicação na sociedade expressa graves falhas que influencia diretamente a
efetividade destas.
Palavras-chave: Normas jurídicas, Aplicabilidade social, Ecossistemas.

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

1- INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta extensão territorial de aproximadamente 8.515.568 Km² e largura variável,


contemplando uma diversidade de ecossistemas terrestres e aquáticos cuja riqueza biológica e
excelentes condições ambientais favorecem o desenvolvimento de diversas atividades econômicas
(MEDEIROS e YOUNG,2011). Entretanto, o uso equivocado dos recursos naturais disponibilizados em
território brasileiro vem causando pressões ao meio ambiente, ocasionado desequilíbrio na relação
homem-ambiente.
Tornando-se necessário a tomada de medidas que busquem realizar boa gestão dessa base de recursos
naturais e assegurem a capacidade de produção no longo prazo (MEDEIROS e YOUNG, 2011),
desencadeando a sustentabilidade ambiental e social. Concretiza-se, portanto, o estabelecimento do
compromisso intergeracional com a matriz do desenvolvimento sustentável.
Desta forma, o ordenamento jurídico, entre as várias as medidas que vise salvaguardar os recursos
ambientais existentes em propriedades, constatou-se que a forma mais eficiente para solucionar essa
questão consistiu na delimitação de áreas apropriadas a preservação dos recursos hídricos, da
paisagem, estabilidade geológicas e biodiversidade, cujas finalidades consistem em facilitar o fluxo
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. As áreas
que apresentam características e finalidade supracitadas são designadas Áreas de Preservação
Permanente (APP's), conforme a Lei Nº 12.651/2012.
Os espaços territoriais enquadrados como APP's são áreas de marginais dos corpos hídricos; áreas de
topo de morros e montanhas; áreas em encostas muito íngremes; restingas e manguezais; bordas dos
tabuleiros ou chapadas; nas linhas cumeada entre outras, conforme a Resolução nº 302/2002 e
303/2003 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
Entre os espaços territoriais enquadrados como APP's, destaca-se o manguezal que se refere ao um
ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, apresenta condições
propicias para alimentação, proteção e reprodução de diversas espécies, além disso fornece bens
ambientais e serviços importantes e únicos para sociedade humana e os sistemas costeiros e marinhos
(GIRI, 2011; QUINÕNES, 2000).
Os manguezais vêm sofrendo forte influência dos efeitos do desenvolvimento econômico, do processo
de urbanização e da deficiência do planejamento territorial das populações humanas, apesar das
normas ambientais restritivas estabelecidas para proteção desse ecossistema. Tensores estes
contribuem para desaparecimento rápido e degradação de manguezais, tendo em vista consequências
negativas para a sociedade e aos sistemas marinhos (DUKE et al., 2007; GIRI et al., 2011).

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

Com efeito, o ordenamento jurídico buscou assegura a efetividade das normas ambientais aplicadas
aos manguezais, ou seja, o cumprimento efetivo da norma por parte da sociedade, que as reconhecem
e as cumprem, concretizam seus comandos, fazendo com que seus preceitos incidam efetivamente na
vida social. Segundo Barroso (2003) e Calsing (2012), a efetividade jurídica trata-se de um requisito
mínimo para que conjunto de normas sejam válidas, já que um determinado conjunto normativo
carece da aceitação social para se impor. Neste contexto, o presente trabalho teve como finalidade
analisar a efetividade da legislação ambiental no processo de preservação do manguezal da Ilha do
Maranhão.

2- MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento deste estudo, realizou-se os procedimentos metodológicos que consistiram


em três etapas: 1) Caracterização da área de estudo; 2) Delineamento das normas jurídica ambiental;
e 3) Análise da efetividade das normas jurídicas aplicadas nos manguezais, nos quais estão descritos a
seguir:
1º Etapa: Caracterização da área de estudo
Esta etapa caracterizou pela descrição e avaliação local, visando alcançar um melhor entendimento
e/ou complementação aprofundada do manguezal da Ilha do Maranhão. Realizaram levantamento
bibliográfico referente ao tema abordado em banco de dados de da Scielo, Springer link, Science
Direct, e sites de instituições que estão ligadas de forma direta e indireta com o assunto abordado.
2ª Etapa: Delineamento das normas jurídicas ambiental

Executou-se os procedimentos realizados por Pulner (2007) que consistiu em delineamento das
normas jurídicas aplicadas ao meio ambiente, classificando-as quantos à hierarquia das normas
jurídicas, no intuito de proporcionar uma maior compreensão do ordenamento jurídico em âmbito
ambiental. Esta etapa foi feita através da análise conjunta de literatura e textos jurídicos, ambientais,
sociológicos e antropológicos.
3º Etapa: Análise da efetividade das normas jurídicas aplicadas nos manguezais
Caracterizou-se pelo estabelecimento de uma correlação entre panorama das condições dos
manguezais na Ilha do Maranhão com normas ambientais estabelecidas para este ecossistema, no
intuito de verificar a incorporação normativa ao contexto apresentando. Essa abordagem foi feita por
analise de textos normativos e estudos científicos disponíveis.

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

CARACTERIZAÇÃO DO MANGUEZAL DA ILHA DO MARANHÃO

A Ilha do Maranhão apresenta uma vegetação arbórea e arborescente, expressando um caráter


heterogênico e adultos com pouco desenvolvimento estrutural, designado de mangues, as quais se
associam outros componentes faunísticos e florísticos adaptados ao um ambiente de substrato não-
consolidado e grandes variações de salinidade periodicamente, caracterizando assim o ecossistema
costeiro conhecido manguezal. Segundo Rabelo-Mochel (1997), os manguezais da Ilha do Maranhão
estão distribuídos ao longo dos cordões litorâneos e/ou as margens de estuários de rios, igarapés e
praias, conferindo-lhe uma série de propriedades ecológicas essenciais para desenvolvimento da
dinâmica ambiental.

FLORA DO MANGUEZAL

A formação da vegetação do manguezal da Ilha do Maranhão, fisionomicamente, possui um aspecto


arbustivo e /ou arborescentes, constituída, basicamente, por uma diversidade de 05 espécies vegetais:
Rhizophora mangle, Avicennia germinans, Avicennia schauerian, Laguncularia racemosa e Conocarpus
erectus (FRUEHAUF, 2005). Estas espécies vegetais apresentam estratégias adaptativas nos seus
processos de desenvolvimento e sobrevivência diante as condições peculiares do ambiente inserido
como: substrato não consolidado com baixa concentração de oxigênio, grande amplitude de
salinidade diariamente, variações extremas de pH entre outras (QUEIROZ e CELINO, 2008).

FAUNA DO MANGUEZAL

O manguezal da Ilha de São Luís apresenta uma grande variedade e diversificada fauna , na qual está
possui interesse no âmbito de econômico, decorrente do fornecimento de inúmeros bens e serviços
para sociedade (ABREU, 2007; ALVES, 2011).Esta riqueza faunística estão distribuídas em diferentes
compartimentos existentes neste ecossistema, didaticamente, separados em água, sedimento e
vegetação. A composição faunística desse ecossistema possui principalmente representantes dos
grupos de crustáceos, moluscos, aves, répteis, anfíbios, mamíferos, insetos e peixes (FRUEHAUF, 2005;
TORRES, 2008).
Salienta-se ainda que esta fauna expressa um importante papel na manutenção da dinâmica desse
ecossistema, uma vez que este ambiente serve como abrigo para visitantes, que frequentam para a
alimentação, proteção e reprodução; ou como residência, por período permanente e temporário, para

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

inúmeros indivíduos de ambiente aquático e terrestre. (FRUEHAUF, 2005; LACERDA, 2009;


SCHAEFFER-NOVELLI, 1999).

RELAÇÃO MANGUEZAL E HOMEM

O ecossistema manguezal proporciona ao homem, em particular, às populações costeiras tradicionais,


uma série de riquezas de recursos faunísticos e florísticos, dos quais estes são extraídos ou utilizados
em diversas atividades antrópicas, tais como: produção de lenha, mel de abelhas e carvão vegetal,
construção de residências, obtenção de alimentos, remédios caseiros, tanino, utensílios caseiros,
artefatos de pesca e agricultura (ABUODHA e KAIRO, 2001; GLASER, 2003; VASQUES et al., 2011).
Os usos indiscriminados dos manguezais da Ilha do Maranhão pelos homens vêm provocando grandes
eliminações deste ecossistema, por sua vez ocasionaram uma alteração na dinâmica nesse sistema,
visto que estes usos acarretaram sérios impactos de forma direta e indiretamente na composição e
zonação das espécies florísticas e faunísticas, na ciclagem de nutrientes, na permeabilização e
compactação do solo e fatores abióticos, promovendo assim a degradação do ecossistema
(SCHAEFFER-NOVELLI, 1999).
A degradação do manguezal da área de estudo ocorre, principalmente, pelos seguintes fatores
antrópicos: desmatamento para extração de madeira e lenha, instalação de portos e marinas de
grande porte e mineração nas proximidades do manguezal; dragagem de igarapés e cursos d’água;
lançamento de resíduos sólidos e esgotos domésticos; descarga de efluentes industriais em corpos
d'água ; intensificação da especulação imobiliária e ocupação desordenada nas sedes municipais;
realização da sobrepesca, captura de caranguejos de forma desordenada; exposição do solo para
práticas agrícolas, aterros para construção de estradas, construção de condomínios, clubes e casas e
bloqueio de canais e barragens e turismo predatório (BASTOS e LOBATO, 1996; ESPÍRITO SANTOS,
2006).
Segundo Moreira (2007), quanto à duração e atuação de tensores sobre os manguezais poderão
expressa em dois tipos: 1) Agudo: quando ocorre por um curto período representado por fenômenos
naturais estando possível realizar a recuperação ambiental; 2) Crônico: acontece em longo prazo, às
ações antrópicas, principalmente acidentes que geram contaminação por petróleo e produtos tóxicos,
desmatamentos atuam como tensores crônicos, dificultando ou impossibilitando a recuperação
ambiental do manguezal.
Os tensores antrópicos de degradação dos manguezais da Ilha do Maranhão se enquadraram como
tipo crônico, na qual promoveram uma redução significativa de 50,84% (12.682 ha) da área abrangida

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

pelo esse ecossistema numa em escala temporal de 1971-2010. De acordo com Pereira (2014), a
distribuição espaço-temporal do manguezal, em 1971/1972, contemplava uma área em cerca de
25.800 ha, nos 38 anos posteriores, esta distribuição sofreu um declínio constante resultando assim
apenas uma área de 13.118ha, em 2010 (Figura 02).
Figura 02. Área ocupada, em hectares, pelo manguezal da Ilha do Maranhão.

Entre os tensores antrópicos, segundo IMESC (2011), o crescimento populacional e a intensificação


imobiliária na enquadram-se como principais fatores responsáveis por perdas dos manguezais nos
municípios constituintes da Ilha do Maranhão, sendo que em São Luís houve uma diminuição de mais
de 25% desse ecossistema; São José de Ribamar ocorreu uma redução de 52%, Paço do Lumiar e
Raposa as perdas foram aproximadamente 64% e 60% respectivamente.
O ritmo e a intensidade destas intervenções sobre os manguezais da Ilha do Maranhão causarão
inúmeros impactos ao meio ambiente afetando diretamente sociedade, tais como: ocorrência de
erosão, diminuição da atividade pesqueira, deslizamentos nas encostas dos morros, formação de
microclima específico, retirada de matas ciliares, aumento da contaminação da água pelos resíduos
sólidos e líquidos (IMESC, 2011; PEREIRA, 2014).

NORMAS JURÍDICAS AMBIENTAIS APLICADAS AO MANGUEZAL

O ordenamento jurídico brasileiro desenvolveu uma série de normas que incide sobre o manguezal,
cujo principal propósito consiste na preservação ambiental desse ecossistema, que resultará em

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

proteção à biodiversidade existente, uma vez que se trata de uma parte essencial e fundamental à
manutenção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado (AVANCI, 2009).
Em análise das principais das normas jurídicas brasileiras aplicadas aos manguezais constatou-se que
estão dispostas de forma escalonada hierarquicamente estático, na qual compreende 04 níveis, tanto
na esfera federal quanto estadual, sendo que estes níveis são constituídos por Constituições, Leis,
Decreto-Lei, Decretos e Resoluções (Tabela 01).
Tabela 01. Hierarquia das normas jurídicas aplicada pelo manguezal

Segundo Oliveira (2007) e Quinõnes (2000), os instrumentos legais encontram-se escalonados dessa
forma para que haja uma ordem de grandezas condicionando a sua aplicabilidade de uso e/ou de
ações em áreas de manguezal, e o grau de abrangência com os cidadãos. Assim, corrobora-se que o
sistema normativo está delineando certa ordem, onde as normas ambientais, nas quais expressam um
caráter legitimidade, desencadeiam uma classificação das mesmas de acordo com o grau de
superioridade, indo-se desde a norma mais inferior até alcançar a norma suprema.
Em conformidade com a teoria exposta essa distribuição lógica das regras jurídicas significa que se
ordenam, por meio de uma subordinação gradativa entre elas, obcedendo uma estrutura piramidal,
cuja sua disposição hierárquica no ordenamento jurídico brasileiro contempla 14 níveis, nas quais
estão caracterizados da seguinte forma: 1º) Constituição; 2º) Emenda a Constituição; 3º) Lei
Complementar; 4º) Lei Ordinária ou código ou consolidação; 5º) Lei Delegada; 6º) Decreto Legislativo;
7º) Resolução; 8º) Decreto; 9º) Instrução normativa; 10º) Instrução Administrativa; 11º) Ato
Normativo; 12º). Ato Administrativo; 13º) Portaria; e 14º) Aviso (OGUISSO, SCHMIDT, 1999).
As normas jurídicas enquadradas no 1° nível hierárquico, as Constituições Federal e Estadual, do
referente estudo trata-se ao grau mais elevado da hierarquia dentro do ordenamento jurídico, nas
quais apresentam aspectos superiores, genéricas, abstratas e fundamentais no que refere as
enquadradas nos demais níveis, isto é, as normas foram criadas com sua disposição no escalonamento
previamente definida, e a partir destas foram derivadas as normas pertencentes ao outros níveis. Esse

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

critério é caracterizado como formal, devido à forma de produção da norma que vai determinar a
posição da norma dentro do sistema hierárquico, se superior ou inferior às demais (THOMÉ, 2006;
OLIVEIRA, 2007).
Em relação às normas dos 3º nível, nas quais contemplam as leis ordinárias, enquadrando abaixo da
constituição e emendas constitucionais, que consistem ato normativo primário que ter por
características editar normas gerais e abstratas, sendo que estas são aprovadas pela maioria dos
parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal presentes durante a votação
(FERREIRA-FILHO, 2005). Já as normas de 6º 7º nível, Decretos e Resoluções, estão na base da pirâmide
hierárquica das principais normas ambientais do presente estudo as quais se referem atos específicos
e concretos, estas retiram vigência de um número cada vez mais reduzido de normas que são cada vez
mais genéricas (THOMÉ, 2006).
Entre as diversas legislações aplicadas sobre ao manguezal destacam-se, 43 normas jurídicas, nas quais
constatou-se 01 Constituição Federal, 13 Leis Federais, 11 Decretos Federais, 11 Resoluções Federais,
01 Constituição Estadual do Maranhão, 04 Leis Estaduais, 01 Decreto Estadual e 01 Resolução
Estadual. Notou-se que 10 dispositivos legais apresentam as APP's como conteúdo principal do seu
texto normativo e as demais citam como aspecto incidental, isto é, carregado do caráter axiológico
que orbita em torno das necessidades de preservação deste bioma, conforme peculiaridade de cada
norma. Segundo Machado (1991) e Pulner (2007), as ferramentas jurídicas vêm incorporadas o melhor
o conhecimento cientifico existente para esse ecossistema, assegurando a proteção do mesmo.
A interpretação das normas supracitadas, que consiste de uma atividade mental realizada pelos
juristas na qual estabelece uma ligação entre o texto normativo abstrato e a sua aplicação em contexto
real (CARVALHO, 2014), visa resguardar diretamente os recursos naturais e a garantia do equilíbrio do
meio ambiente e, por consequência a manutenção da vida humana. Eliminando assim a possibilidade
de degradação por causa do desenvolvimento econômico.
No entanto para efetividade dessas normas percebe-se, ainda, que é necessário a atuação efetiva do
Poder Público de forma ampla (União, Estado, Municípios, bem como aos Poderes Executados,
Legislativo e Judiciário das referidas esferas) em implementar essas ferramentas e garantir que suas
abrangências em todo a extensão territorial maranhense. Ressalta-se que, Mesquita (2012),o Poder
Público durante essa atuação deve estabelecer mecanismos que preservem, restaurem e promovam
o manejo das espécies do ecossistema manguezal, conforme o art 5° da Lei Estadual do Maranhão nº
8.528/06; bem como implantar programa de monitoramento e métodos de fiscalização por órgãos
competentes as ações realizadas por pessoa física ou jurídica neste ecossistema.

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

Conforme a situação ambiental encontrada nos manguezais da Ilha da Maranhão descrita no item
anterior, percebe-se que a efetividade dos dispositivos legais na preservação do mesmo apresenta um
aspecto ineficaz.
Como nos ensina Ferraz Jr. (2009) no seguir relato:
A eficácia é a uma qualidade da norma que se referee à sua adequação em vista
da produção concentra de efeitos. A norma será eficaz se tiver condições fáticas
de atuar, por ser adequada à realidade (eficácia semântica); e condições
técnicas de atuação (eficácia sintática), por estarem presentes os elementos
normativos para adequá-la à produção de efeitos concretos. Será ineficaz, p.
ex., a norma que prescrever o uso de certa máquina para proteger, mas que
não existe no mercado, por ser inadequada à realidade; a li que determina em
entrará em vigor imediatamente, mas requer regulamentação, porque não
pode produzir efeitos.
Neste diapasão o aspecto estudado poderá esta correlacionado com dois fatores: 1) o déficit de
responsabilidade administrativa por parte órgãos competentes incumbidos de fiscalizar e executar as
leis, resultante da inadaptação entre a estrutura existente e as atribuições, em virtude de tal situação
ocasionará uma lacuna na responsabilidade criminal e civil, sendo recorrente aos órgãos de controle
ambiental; e 2) a interfaces mal trabalhadas dos dispositivos legais incidente aos
manguezais, em virtude das graves falhas existentes nas normas jurídicas que contribuem para o
descumprimento das mesmas e, assim, restar a lei à mácula da inefetividade (BARROSO, 2001; SAID,
2010).
Salienta-se que, os tensores antrópicos que causaram a supressão de vegetação dessa Área de
Preservação Permanente (APP), trata-se de intervenções não enquadradas como hipótese de utilidade
pública e interesse social conforme estão dispostos §3°, art. 14. da Lei Estadual do Maranhão nº
8.528/06.
Segundo Fernandes (2012), as intervenções ou supressão que podem ser realizadas nesse
ecossistema, sendo que essas devem estar devidamente caracterizada e motivada, mediante
procedimento administrativo autônomo e prévio, bem com preenchidos os requisitos previstos nesta
resolução e outras normas federais, estaduais e municipais.
Por consequente, as atividades que se enquadram nessas condições são dos casos de utilidades
públicas, principalmente, as relacionadas com atividades de proteção integral da vegetação, como:
preservação, conservação, combate e controle ao fogo, controle da erosão, erradicação de espécies
invasoras e combate ao lançamento de materiais tóxicos no ambiente.
Deste modo observa-se que, segundo Almeida Júnior e Campello (2008), o não cumprimento das
normas ambientais tem expressado um aspecto de exceção dentro do sistema jurídico, pois

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Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

corresponde a incorporação recentes valores sociais captados pelo ordenamento e transformados em


leis. Logo, esta atitude tornou-se usual no Brasil, caracterizando-o este como um fator limitante para
concretização da efetividade dos dispositivos legais ambientais.
Cabe ressalta que, a efetividade das normas jurídicas ambientais tem se tornado uma busca constante
pelo mundo das ciências jurídicas, marcadamente nas questões afetas à preservação do patrimônio
ambiental. Atualmente, tem-se realçando a sua importância dentro do sistema jurídico assumindo
empenho singular o estudo do verdadeiro sentido da área do Direito resultando assim no alcance das
normas introduzidas no meio social (ALMEIDA JUNIOR e CAMPELLO, 2008).

4- CONCLUSÃO

As normas jurídicas incidentes sobre os manguezais da Ilha do Maranhão apresentam textos


normativos bastante avançados, entretanto a suas aplicações na sociedade expressa graves falhas que
influenciam diretamente na efetividade destas. Demonstrando, assim, a existência de um abismo que
há entre o texto normativo e sua aplicabilidade na sociedade que configuram um dos desafios mais
eminentes que devem ser enfrentados pelos órgãos competentes, no intuito de alcançar a efetividade
plena dessas normas.

71
85
Análise Da Efetividade Da Legislação Ambiental No Processo De Preservação Do Manguezal Da Ilha Do Maranhão

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Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 7
10.37423/200601119

ALIMENTAÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE


PEIXES NO RESERVATÓRIO DE CURUÁ-UNA,
SANTARÉM, AMAZÔNIA, BRASIL

Gilcideya Silva Prado

Telma Evellyn Bezerra Marinho

Sérgio Melo
Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

Resumo: O presente estudo avaliou os efeitos de um reservatório amazônico antigo sobre a dinâmica
trófica da ictiofauna. As amostragens ocorreram na usina hidrelétrica de Curuá-Una, o primeiro
reservatório da Amazônia Central, durante um ciclo hidrológico a montante e a jusante da barragem.
A análise da dieta de 22 espécies de peixes foi realizada através do cálculo do Índice de Importância
alimentar (IAi) e revelou que a ictiofauna é sustentada pelos recursos autóctones. As espécies foram
agrupadas em nove guildas (algívora, carnívora, zooplanctívora, detritívora, lepidófaga, insetívora,
piscívora, invertívora e herbívora) as quais variaram espaço-temporalmente em quantidade, tipo e
composição.
Com base nos resultados foi observado que apesar da baixa plasticidade alimentar dos peixes, existe
uma grande variedade de guildas tróficas o que reflete uma estrutura trófica instável. A análise geral
da estrutura trófica da ictiofauna demonstra que a grande variedade de interações tróficas, o
predomínio de recursos autóctones e a tendência das espécies piscívoras e herbívoras para apresentar
especificidade alimentar indicam que o reservatório de Curuá-Una apresenta sinais de estabilização
trófica e, portanto, após quatro décadas de operação encontra-se em sua terceira fase de formação
ecossistêmica.
Palavras-chave: Ecologia alimentar, reservatório antigo, peixes amazônicos.

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Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

1. INTRODUÇÃO

No consenso ecossistêmico, a construção de um reservatório consiste em uma perturbação


antropogênica na dinâmica natural do ecossistema aquático e terrestre, que promove uma gama de
alterações abruptas e irreversíveis à toda a comunidade biológica, sem possibilitar aos organismos, o
tempo necessário para as adaptações ao novo ambiente o que por sua vez, impede o restabelecimento
harmônico das funções do sistema (Agostinho et al., 2016).
Entre as inúmeras modificações causadas pelo barramento de um rio, destacam-se no ecossistema
aquático, as interferências cumulativas e contínuas na qualidade da água que consequentemente,
afetam de forma negativa o funcionamento da dinâmica biótica e abiótica do ecossistema, além da
alteração permanente na composição e estrutura da biodiversidade associada ao ambiente represado,
como é o caso da ictiofauna que habita o rio de origem da represa (Lira et al., 2017).
Os impactos dos represamentos sobre a comunidade de peixes, iniciam com a fragmentação das
populações que inevitavelmente, ocasiona efeitos deletérios sobre muitas espécies, em virtude da
interrupção no fluxo gênico necessário para a manutenção da capacidade adaptativa dos seres vivos
(Pelicice et al., 2015). Nas espécies de peixes, essa depleção populacional afeta principalmente, as de
maior porte que em geral, são de hábito migratório, possuem alta longevidade e potencial reprodutivo
baixo. Enquanto as espécies de pequeno porte, sedentárias, com alto potencial reprodutivo e baixa
longevidade (restrategistas), proliferam-se massivamente, devido entre outros fatores, à elevada
disponibilidade alimentar que favorece a natureza trófica onívoro-generalista da maioria dessas
espécies (Agostinho et al., 1999a; Lira et al., 2017).
Desse modo, os processos de colonização posteriores ao barramento do rio, estão diretamente
relacionados à capacidade de adaptação das espécies as condições lacustres e também a flexibilidade
alimentar dos peixes. Nesse sentido a plasticidade alimentar é considerada principal fator básico para
o sucesso adaptativo das espécies, desde os estágios iniciais de formação do reservatório, até as
demais mudanças sucessivas que ocorrem no ambiente. Uma vez que, todas as funções orgânicas do
peixe dependem primordialmente, da energia que ele adquire através dos alimentos (Hahn e Fugi,
2007; Delariva et al., 2013).
Dessa forma, em face aos distúrbios hidrológicos decorrentes da construção da barragem, as
estratégias alimentares dos peixes bem como, a disponibilidade de recursos no meio são consideradas
elementos fundamentais para a reorganização trófica da ictiofauna, à medida que os demais
compartimentos da fauna e da flora também apresentam acomodações às condições impostas pelo
novo ambiente ao longo do tempo (Lima et al., 2018).

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Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

Através de estudos sobre a ecologia trófica tornou-se possível avaliar a influência de uma barragem na
estrutura trófica dos peixes e assim elucidar questões sobre os processos gradativos de reorganização
de um ecossistema após a interferência humana em sua dinâmica natural (Abelha et. al., 2005;
Benemann et al., 2011; Delariva et al., 2013). Nesse sentido, a análise do conteúdo estomacal se
consolidou como uma pesquisa de monitoramento dos impactos causados pelos represamentos às
interações bióticas, tendo em vista que a identificação do alimento consumido fornece informações
sobre a dinâmica estrutural da ictiofauna, seus diferentes grupos tróficos e as inter-relações entre seus
componentes (Abelha et al., 2001; Abelha et al., 2005; Fugi et al., 2005).
Nesse contexto, o presente trabalho objetivou identificar a estrutura trófica da ictiofauna em um
reservatório amazônico, tendo como base o estudo da alimentação dos peixes e as variações espaço-
temporais nas guildas tróficas formadas, considerando-se que os resultados deste estudo, serão
fundamentais para a aquisição de informações relativas às estratégias alimentares da ictiofauna em
um reservatório formado há mais de quatro décadas, como também para ampliar a compreensão da
dinâmica da cadeia trófica em um ecossistema amazônico impactado por barragem, o que por sua vez,
subsidiará medidas de conservação e manejo para a mitigação dos efeitos negativos, causados por tais
empreendimentos sobre a comunidade biológica.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 ÁREA DE ESTUDO

O presente trabalho foi desenvolvido na usina hidrelétrica de Curuá-Una localizada a cerca de 80 km


da cidade de Santarém, Pará no rio Curuá-Una, afluente da margem direita do rio Amazonas (Figura 1).

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Figura 1: Mapa de localização dos pontos amostrais no reservatório da UHE de Curuá-Una.


● Pontos a montante da barragem; ▲ Pontos a jusante. Fonte: Silva Prado, 2019.

2. 2 AMOSTRAGEM DOS PEIXES

As coletas foram realizadas nos meses de abril (período chuvoso) e novembro (período de estiagem)
de 2017 em dois trechos do reservatório de Curuá-Una, (Santarém, Pará): à montante e à jusante da
barragem, sendo distribuídas em cada trecho cinco estações de coleta o que resultou em dez pontos
amostrais (Figura 1).
Os peixes foram capturados com o auxílio de cinco redes de espera, com diferentes tamanhos de
malhas instaladas ao entardecer e recolhidas ao amanhecer permanecendo dessa forma por 12 horas
em cada trecho. Os exemplares capturados foram imediatamente acondicionados em gelo e
conduzidos ao laboratório para a fixação em solução de formalina 10%, sendo depositados espécimes-
testemunho na coleção ictiológica da Universidade Federal do Oeste do Pará.

2.3 ANÁLISE DE DADOS E CLASSIFICAÇÕES TRÓFICAS

Para se obter uma representatividade confiável das características avaliadas nas populações de peixes
a análise da dieta foi desenvolvida somente em espécies que apresentaram no mínimo quatro
exemplares com conteúdo no estômago (n≥4) em cada trecho (montante e jusante) e período (cheia e

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Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

estiagem) de amostragem. Foram utilizados somente estômagos de indivíduos adultos, no intuito de


evitar possíveis influências de alterações ontogenéticas (Abelha et al., 2001).
Os exemplares foram eviscerados e seus conteúdos estomacais analisados sob microscópio
estereoscópico e óptico. Os recursos alimentares foram identificados até o mais preciso nível
taxonômico com o auxílio de bibliografias apropriadas para cada grupo (Perez, 1988; Needham e
Needham; 1982; Bicudo e Menezes 2006).
Com base na identificação do conteúdo estomacal, foram calculadas as frequências de ocorrência e o
volume relativo, associados no cálculo de Índice alimentar (IAi) (Kawakami e Vazzoler, 1980), o qual
permite distinguir adequadamente a importância relativa de cada item.

Onde:
IAi = Índice alimentar
Fi = Frequência de ocorrência de cada item
Vi = Volume relativo de cada item.
Posteriormente, cada espécie foi classificada em determinada guilda trófica a medida que seu
alimento preferencial atendeu ao critério de inclusão que considera como predominante o item
alimentar que atinge valores do IAi ≥ 60% (Mérona et al., 2001).
Quando um item não atingiu um IA ≥ 60% os itens foram somados de acordo com a sua origem (animal,
vegetal ou detritos) para a determinação visual do hábito alimentar de cada espécie (Ferreira, 1993).
A importância dos itens alimentares na dieta de cada espécie foi calculada para todos os períodos e
trechos analisados. No intuito de avaliar as possíveis diferenças no número de espécies que formaram
as guildas e também no número de guildas identificadas em cada local e período de coleta, foi
realizado um teste não paramétrico (Kruskal Wallis (H)) uma vez que os dados originais não atenderam
aos pressupostos de normalidade e de homocedasticidade exigidos pela ANOVA. Para a análise
estatística dos dados foi utilizado o software PAleontological STatiscs (PAST, versão 3.15) (Hammer,
2017).
Em seguida, o IAi de cada espécie foi combinado a classificação proposta por Hahn et al. (1998) para
a determinação das guildas tróficas, sendo essas:
a) Insetívora: formada por espécies cuja dieta foi composta predominantemente por larvas, pupas e
adultos de insetos aquáticos e terrestres;

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Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

b) Carnívora: guilda com as espécies que consumiram alimentos de origem animal sem alguma
predominância de vertebrados e invertebrados em geral;
c) Invertívora: guilda representada por espécies que consumiram invertebrados em geral (aquáticos e
terrestres) inclusive insetos, todos em diferentes fases de desenvolvimento e sem predominância de
determinados itens entre eles;
d) Herbívora: representada por espécies que consumiram predominantemente plantas vasculares
terrestres e∕ou aquáticas ou em iguais proporções ao consumo de algas;
e) Detritívora: guilda com espécies que consumiram matéria orgânica altamente particulada, amorfa,
em diversos estágios de decomposição e de forma associada ao consumo de partículas inorgânicas
(areia e∕ou silte);
f) Piscívora: constituída por espécies com consumo predominante de peixes inteiros ou fragmentos
destes (escamas, músculos, gordura, nadadeiras, raios de nadadeiras, etc.);
g) Zooplanctívora: guilda constituída por espécies que consumiram microcrustáceos (Conchostraca,
copépodas, cladóceras), tecamebas e rotíferos.
h) Algívora: guilda formada por espécies com consumo predominante de algas do perifiton e do
fitoplancton;
i) Lepidófaga: constituída por espécies que apresentaram predominantemente o consumo de
escamas.

3. RESULTADOS

Foram capturadas 39 espécies e analisados 824 exemplares, dos quais 751 continham alimento no
estômago. Nas dietas analisadas, foram identificados nove diferentes recursos alimentares todos de
origem autóctone como algas, camarão, zooplâncton, detritos, escamas, insetos aquáticos (larvas,
pupas, adultas e restos já sob digestão avançada), peixe e restos vegetais. Cada guilda alimentar
formada apresentou um ou dois recursos predominantes na dieta das espécies componentes (Tabela
1).
Desse modo, através dos valores dos itens alimentares calculados pelo IAi foram identificadas no total
das amostragens nove guildas tróficas: algívora, carnívora, zooplanctívora, detritívora, lepidófaga,
insetívora, piscívora, invertívora e herbívora. No entanto, em virtude de mudanças no consumo dos
itens alimentares ocorreram variações espaço-temporais no número, tipo e composição das guildas.
Assim, em relação a quantidade, formaram-se durante a cheia nove guildas à montante e oito à
jusante. Já na estiagem, formaram-se sete guildas à montante e oito à jusante, embora a variação

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espaçotemporal no número de guildas não tenha ocorrido de forma significativa estatisticamente (H


= 8,67). As variações espaço-temporais no tipo e composição das guildas decorreram principalmente,
de mudanças na alimentação de oito espécies sendo estas: Auchenipterus nuchalis, Acestrorhynchus
microlepis, Catoprion mento, Crenicichla strigata, Ilisha amazonica, Myloplus rubiprinis, Pimelodus
ornatus e Serrasalmus rombheus (Tabela 1).

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Tabela 1: Composição da dieta das 22 espécies de peixes analisadas em dois períodos de um ciclo hidrológico no reservatório da UHE de Curuá-
Una. MC – Montante na cheia, ME – Montante na estiagem, JC – Jusante na cheia, JE – Jusante na estiagem. A – Alga, Ca – Camarão, Zoo –
Zooplâncton, D – Detrito, E – Escama, Ia – Inseto adulto, Li – Larva de inseto, N – Nematódeo, Pi – Pupa de inseto, Pf – Perifíton, P- Peixe, Ri –
Restos de insetos, Rv – Restos vegetais. n - Número de exemplares com conteúdo estomacal analisado.

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Em relação a classificação trófica, enquanto H. unimaculatus foi herbívora em todos os locais de coleta,
ao longo de todo o ciclo hidrológico, A. nuchalis atuou na guilda zooplanctívora, nas duas regiões de
coleta, somente na cheia pois na estiagem, tal espécie foi zooplanctívora somente à montante, uma
vez que a jusante passou a ingerir insetos terrestres, o que a caracterizou como invertívora. Quanto a
maior quantidade de espécies, a guilda piscívora predominou nas duas zonas de amostragem durante
todo o ciclo hidrológico, representando sozinha aproximadamente 35% do total de espécies
analisadas.
Quanto a maior quantidade de exemplares, a guilda zooplanctívora predominou durante a cheia, nos
dois trechos de coleta, enquanto na estiagem a guilda herbívora se destacou a jusante, e a
zooplanctívora manteve-se predominante a montante.

4. DISCUSSÃO

Analisar as estratégias alimentares da ictiofauna, após um longo tempo de formação de um


reservatório, consiste em esclarecer a dinâmica das interações entre os peixes e os alimentos
disponíveis, na medida em que se implementam os processos biológicos que constituem o período de
homeostase ecológica do ambiente (Agostinho et al., 2007; Lima et al., 2018).
Nesse contexto, as variações espaço-temporais constatadas no tipo, número e composição das guildas
tróficas neste estudo, resultam de mudanças na alimentação das espécies devido à plasticidade
alimentar, que lhes possibilita realizar ajustes tróficos, a medida que o regime hidrológico praticado
no reservatório influencia a disponibilidade de recursos alimentares no meio. Tais resultados,
corroboram os registros efetuados no reservatório de Salto Caxias, também considerado antigo onde
foi identificado que os peixes consumiram diferentes recursos alimentares ao longo do espaço e do
tempo e gradativamente passaram a ocupar diferentes guildas tróficas o que gerou o aumento de
algumas guildas e a redução ou até o desaparecimento de outras (Delariva et al., 2013). As variações
espaço-temporais constatadas nas guildas tróficas formadas neste estudo também estão em
concordância com a zonação longitudinal geralmente observada em reservatórios a qual indica que o
tamanho e a profundidade do sistema bem como o tempo de residência da água influenciam no
comportamento alimentar da ictiofauna (Araújo-Lima et al., 1995; Hahn et al., 1998; Agostinho et al.,
1999; Delariva et al., 2013).
De um modo geral, a estrutura trófica da ictiofauna em um reservatório ou ambiente natural, indica a
relação entre a qualidade/quantidade de alimento disponível no ambiente e o nível de plasticidade
alimentar dos peixes, sendo esta última influenciada diretamente pelas variações ontogenéticas das

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espécies bem como por fatores ambientais (Gaspar da Luz et al., 2001; Gandini et al., 2012; Silva Soares
e Leite, 2013).
Com base nos resultados do presente estudo, sugere-se que em um ambiente como o reservatório de
Curuá-Una, ou seja, represado há mais de quarenta anos os peixes apresentem plasticidade alimentar
menos intensa do que em geral é observado na ictiofauna durante as fases iniciais de formação de um
reservatório (Hahn e Fugi, 2007).
Os resultados deste trabalho, permitem ainda a sugestão de que os peixes apresentem plasticidade
alimentar com baixa intensidade, em virtude da pouca exploração dos recursos alóctones. Por outro
lado, a predominância dos itens de origem autóctone observada na dieta das espécies analisadas,
assemelha-se a o que geralmente é encontrado em outros reservatórios antigos que assim como da
usina hidrelétrica de Curuá-Una são de médio e grande porte (Abelha et al., 2005; Bennemann et al.,
2011; Ribeiro et al., 2014; Lima et al., 2018).
De um modo geral, tanto a dependência trófica dos peixes sobre os recursos autóctones, como a
influência das condições ambientais na estrutura trófica da ictiofauna foram observadas neste
trabalho, também na dieta de A. nuchalis, uma das espécies mais capturadas. Nesse sentido,
observou-se que A. nuchalis atuou na guilda zooplanctívora somente quando exposta a ambientes
lênticos, ou seja, onde o desenvolvimento de zooplâncton é favorecido (Esteves, 1988). Porém,
quando tal espécie foi submetida a ambientes lóticos o seu consumo de zooplâncton reduziu,
enquanto a ingestão de outros grupos de invertebrados aumentou. Em decorrência de tais alterações,
A. nuchalis foi a única espécie componente da guilda invertívora na jusante durante a estiagem,
enquanto a montante durante a cheia, a única espécie que compôs a guilda invertívora foi Crenicichla
strigata espécie que nesse mesmo período a jusante, ocupou a guilda insetívora. Tais resultados,
corroboram a explicação de Agostinho et al. (2008), quanto as variações proporcionais entre as
categorias alimentares consumidas ocasionarem guildas restritas a poucas espécies.
A análise da alimentação de A. nuchalis também demonstrou que embora as condições ambientais
tenham favorecido a variação no espectro alimentar da espécie, o seu hábito alimentar não foi
alterado, uma vez que estudos prévios a caracterizam como carnívora com preferência por
microcrustáceos e insetos (Tejerina-Garro e Mérona, 2010; Oliveira et al., 2016; Freitas et al., 2017). A
mesma permanência de hábito alimentar também foi observada em H. unimaculatus,
Acestrorhynchus microlepis, Acestrorhynchus falcirostris, Catoprion mento e Serrasalmus rhombeus,
o que demonstra que após quatro décadas de formação do reservatório, tais espécies ainda

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101
Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

apresentam uma dieta muito semelhante a que foi registrada nos primeiros sete anos após a
construção da barragem (Ferreira, 1984).
Essa constatação reitera os resultados de Lima et al. (2018), quando esses autores afirmam que o
tempo de formação do reservatório influencia espécies piscívoras e herbívoras a expressarem uma
relativa especificidade alimentar.
O contexto que evidencia neste estudo, a ocorrência de espécies com uma alimentação mais
especializada, a maior exploração dos recursos autóctones, a abundância de espécies forrageiras, a
maior riqueza da guilda piscívora e a quantidade de guildas formadas , sugere que o reservatório de
Curuá-Una encontra-se sob um período de acomodação ou estabilização trófica, o qual atende às
perspectivas geradas em outros estudos realizados em grandes reservatórios antigos (Agostinho et al.,
1999; Mérona et al., 2001; Lima et al., 2018).
É importante frisar que a elucidação de questões, sobre os processos de reorganização da estrutura
trófica da ictiofauna, em relação ao tempo de formação de um reservatório, auxilia no esclarecimento
da dinâmica das interações de competição e coexistência das populações e também da oferta de
recursos no ambiente, em função do regime hidrológico praticado nos reservatórios (Bennemann et
al., 2011; Gandini et al., 2012; Ribeiro et al.,2014). Além disso, acompanhar o desenvolvimento de um
reservatório e identificar a implementação de um possível estágio de acomodação trófica, também
representa a obtenção de esclarecimentos acerca das modificações na produção primária, no decorrer
de um longo tempo, considerando-se que a conectividade entre o reservatório e sua bacia
hidrográfica, é permanente e simultânea, o que por sua vez torna esses corpos d´água altamente
passíveis a perturbações ambientais, como por exemplo, a entrada excessiva de nutrientes (Gomes e
Miranda, 2001; Agostinho et al., 2016).

5. CONCLUSÃO

Diante desse contexto, concluiu-se que após quatro décadas de operação o reservatório de Curuá-Una
possui grande variedade de guildas tróficas embora as espécies aparentem plasticidade alimentar
menos intensa do que em geral é registrado nas fases iniciais de formação de um reservatório. De um
modo geral, a estrutura trófica do reservatório foi considerada instável devido a maioria das espécies
apresentar relativa flexibilidade em alterar a alimentação a medida que a oferta de alimentos é
influenciada pelas condições ambientais. Por fim, os resultados que indicam a elevada riqueza de
espécies principalmente, na guilda piscívora, a grande quantidade de espécies forrageiras, a

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102
Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

predominância de recursos autóctones na dieta dos peixes e a especificidade alimentar em piscívoros


e herbívoros, refletem que o reservatório de Curuá-Una apresenta sinais de estabilização trófica.

6. AGRADECIMENTOS

Aos professores André Luiz Colares Canto e Frank Rynner Vasconcelos Ribeiro pela identificação das
espécies de peixes, à professora Andreia Cavalcante Pereira e ao Professor Marcos Prado Lima, pelo
apoio logístico e científico durante as coletas, à UFOPA e à Eletrobrás pela logística disponibilizada
para o desenvolvimento deste trabalho e a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas
(FAPESPA) pela bolsa de doutorado e de iniciação científica concedida à primeira e à segunda autora,
respectivamente.

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103
Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

7. REFERÊNCIAS

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Alimentação Das Principais Espécies De Peixes No Reservatório De Curuá-Una, Santarém, Amazônia, Brasil

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91
106
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 8
10.37423/200601133

PERFIL DOS COMERCIANTES DE PESCADO NO


MUNICÍPIO DE PINHEIRO, MARANHÃO, BRASIL

Kerly Pereira

Vanessa Corrêa

Carlos Soares

Danilo Lopes

Rodrigo Moura

Adriana Bordignon
Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

RESUMO
A grande demanda do consumo de pescado em todo o mundo, inclusive no Brasil, mostra que houve
um aumento significativo nos cultivos e comercialização de espécies com potencial para o consumo.
A comercialização em feiras livres é considerada a última fase da cadeia produtiva antes do produto
chegar a mesa dos consumidores. Pensando nisso, o presente trabalho teve como objetivo traçar o
perfil dos comerciantes de pescado no município de Pinheiro, Baixada Maranhense -MA. Foi aplicado
um questionário semiestruturado para 34 vendedores com o intuito de traçar o perfil dos
comerciantes de pescado. Foi identificado que a maioria dos entrevistados são do sexo masculino e
estão inserido na atividade entre 10 a 30 anos. Foi identificado que uma elevada parcela que atua
nessa profissão considera ela como sendo uma atividade temporária. Dentre as espécies mais
comercializadas, destacam-se: Hoplias malabaricus, Colossoma macropomum e Cynoscion acoupa. A
forma de comercialização limitada a peixe inteiro fresco e eviscerado.

Palavras-chave: vendedores de peixe, feira municipal, maranhão.

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Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

INTRODUÇÃO

Segundo o relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura –
FAO (2020), em 2018 a produção mundial de peixes atingiu um recorde histórico de em cerca de 114,5
milhões de toneladas, sendo que a produção aquícola mundial cresceu em média de 5,3% ao ano no
período 2001 a 2018.
Apesar das perspectivas de crescimento na produção de pescados, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde, em 2030 o déficit de pescado no mundo poderá atingir 100 milhões de toneladas.
Contudo, a relação entre produção prevista e consumo estimado mostra uma possível realidade
favorável para o investimento na produção de pescado no Brasil, tanto para consumo local quanto
para a exportação de produtos (OMS, 2015).
O estado do Maranhão possui a segunda maior costa litorânea brasileira, com extensão de 640 km, e
é formado por sete bacias hidrográficas: Itapecuru, Maracaçumé, Mearim, Munim, Periá, Rio Preguiças
e Turiaçu. A Microrregião da Baixada Maranhense é composta por 21 municípios, incluindo o
município de Pinheiro e com área total de 13.144,22 km2 (IBGE, 2017). A região conhecida como
Baixada Maranhense é caracterizada por apresentar muitos rios e ao entorno deles, houve o
crescimento e o desenvolvimento de muitos municípios .
Assim sendo, uma região de grande importância social e ecológica no estado. Sua importância
ecológica advém da inundação de áreas de planície durante o ciclo de chuvas o que proporciona o
desenvolvimento de um ecossistema típico e único no estado cuja produtividade biológica atinge altos
níveis (NOGUEIRA, 2003).
O estado também é notável pelo caráter de ecossistemas distintos como cerrado, babaçuais,
formações florestais e bacias fluviais e lacustres, o que reflete em múltiplos cenários importantes de
estudo, especialmente na Baixada, onde encontra-se grande concentração de bacias lacustres. A
característica principal do clima da região é a alta pluviosidade com ocorrência de dois períodos
distintos: um chuvoso e outro de estiagem. Essa sazonalidade fortemente marcada diferencia o local
(CARVALHO, 2011).
Essa diversidade ecossistêmica fornece diversos produtos para o consumo humano e muitos deles são
comercializados em feiras livres em todos os municípios da Baixada Maranhense. A feira livre é uma
herança da tradição moura, trazida pelos ibéricos, enriquecida pelos africanos, que está presente na
maioria das cidades brasileiras, a comercialização em feiras livres tem agravado a qualidade dos
alimentos de origem animal é, muitas vezes expostos em barracas, sem refrigeração, sem proteção e
na presença de poeira, insetos e aves (CORREIA; RONCADA, 1997).

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Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

O município de Pinheiro, localizado na região da Baixada Maranhense, também adota essa prática e é
considerado pelos comerciantes como um dos principais polos da venda de pescado na região. Sua
população, que em maioria adquire os peixes na feira municipal, tem preferência pelos pescados de
água doce, capturados no Rio Pericumã, que banha a cidade (BORGES, 2017).
O presente trabalho objetivou traçar o perfil dos comerciantes de pescado e levantar as principais
espécies de peixes comercializadas nas feiras do município de Pinheiro, no estado do Maranhão,
região nordeste do Brasil.

MATERIAIS E MÉTODOS

ÁREA DO ESTUDO

A área de desenvolvimento deste estudo foram as feiras: Beiradão, Matriz, Pacas e a Municipal de
Pinheiro, sendo está última a principal feira da cidade. O município de Pinheiro está localizado a 2°
31´S e 45° 5´W, na Baixada Ocidental Maranhense. O município tem aproximadamente 82.990 de
habitantes e área de 1.559 km², banhada pelo rio Pericumã (IBGE, 2018). Sua população se distribui
de maneira heterogênea ao longo do território e o maior número de pessoas encontra-se na área
urbana do município, porém, com o crescimento populacional, há uma concentração cada vez maior
de habitantes nos bairros e povoados mais distantes. O comércio de alimentos na cidade tem se
adequado a essa tendência. Embora, a Feira Municipal, localizada em uma região central da área
urbana da cidade, representa o principal ponto de comércio de alimentos, especialmente de pescados,
na região, outros pontos de venda foram criados para suprir a demanda crescente das regiões
periféricas como a Feira do Beiradão, localizada no bairro do João Castelo e a Feira no bairro de Pacas,
situada há aproximadamente 8 km da Feira Municipal.

COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados durante o ano de 2016. Adquiridos a partir de um questionário


semiestruturado, com perguntas de múltipla escolha acerca de características socioeconômicas dos
vendedores, as principais espécies comercializadas, hábito de consumo e a origem do pescado
comercializado, com o intuito de traçar o perfil dos vendedores de pescado na cidade de Pinheiro., Os
dados obtidos foram tabulados em planilha eletrônica no software Microsoft Excel® e apresentadas
na forma de tabelas e gráficos de frequência. No intuito de encontrar associações entre as variáveis
consideradas foi realizado o teste de chi-quadrado a 5% de significância.

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Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

RESULTADOS

Do público total entrevistado 61,76% dos comerciantes atuam na Feira Municipal de Pinheiro, 29,41%
Feira do Beiradão, 5,88% Feira de Pacas e apenas 2,94% na Feira da Matriz. O público entrevistado foi
composto predominantemente pelo sexo masculino (84%), com faixa etária entre 30 a 63 anos. O
público feminino representou apenas 16%, com faixa etária entre 30 e 49 anos (Figura 1).

Figura 1: Percentagem de gênero dos comerciantes de pescado no município de Pinheiro.

As feiras representam um importante papel econômico na cidade, funcionando como local de trabalho
para alguns feirantes há muitos anos. A maioria dos comerciantes de pescado 36% iniciou essa prática
recentemente, variando de 1 a 10 anos de oficio, enquanto que 33% dos entrevistados vem
desenvolvendo essa atividade há um período entre 21 a 40 anos (Figura 2).

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Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

Figura 2: Tempo de atuação dos comerciantes nas feiras no município de Pinheiro.


Quanto à profissão, 60% dos entrevistados não exercem outras atividades paralelas e sobrevivem,
exclusivamente, da venda de pescado em feiras municipais. Os outros 40% dos entrevistados admitem
exercer outras profissões, tendo a venda de pescado apenas como uma profissão temporária, para
completar a renda (Figura 3).

Figura 3: Porcentagem de comerciantes que exercem outras profissões no município de Pinheiro. Além
de comercializar o pescado, os comerciantes também possuem uma dieta a base do próprio produto
fornecido por eles, de forma geral todos consomem pescado, onde 60% deles diariamente, 70% dos
homens e 60% das mulheres consomem diariamente (Figura 4).

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Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

Em relação a origem do pescado, 47,1% dos entrevistados afirmaram que a maior parte do pescado
comercializado nas feiras municipais são cultivados ou capturados na própria cidade de Pinheiro e
demais cidades pertencentes a região da Baixada Maranhense. Destaca-se o município de Turilândia
com 19%, localizado a 42 km de Pinheiro. A variedade de espécies de pescado de origem marinha que
é ofertada nas feiras, é devido à proximidade de Pinheiro com a microrregião do Litoral Ocidental
Maranhense (Figura 5).

Figura 4: Origem do pescado comercializado nas feiras de Pinheiro. BEQ = Bequimão; CUR = Cururupu;
MAT = Matinha; PA = Pará; PHO = Pinheiro; MAN = Manaus; SDC = São Domingo do Camin; SBE = São
Bento; TUR = Turilândia; TFU = Três Furos; VDM = Vitória do Mearim; OUT = Outros.
Em relação ao pescado mais vendido, 26,47% dos entrevistados afirmaram que a traíra Hoplias
malabaricus (Bloch, 1794) é a espécie que apresenta melhor aceitação do mercado consumidor,
principalmente pelo seu grande rendimento de filé e por ser um peixe ofertado diariamente nas feiras
municipais. O Tambaqui Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) proveniente, principalmente, de
cultivos da cidade e região, foi considerado a segunda espécie mais comercializada nas feiras do
município (23%).
Algumas espécies de peixes marinhos também são muito apreciadas para o consumo, como a pescada
amarela Cynoscion acoupa (Lacèpede, 1802), contribuindo com 6% de todo o pescado de origem

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Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

marinha vendido na cidade (Figura 6). Entre as espécies comercializadas estão também os crustáceos
(camarão e o caranguejo), representando 9% do pescado comercializado.

Figura 5: Pescado mais vendido no município de Pinheiro.


Quanto à forma de apresentação do pescado para a comercialização, a preferência (35,29%) é pelo
produto inteiro e fresco (Figura 7), de acordo com o conceito de frescor atribuído ao pescado na
região, interpretado pela visualização do peixe ainda vivo em cima das mesas de venda. A
comercialização do peixe inteiro e eviscerado também demonstra ser bem aceito pela população
(24%). Outra forma de apresentação seria o pescado congelado, indicada por 8,82% dos comerciantes
entrevistados como preferência de compra, demostrando que os hábitos culturais de uma população
podem interferir em aspectos de aquisição e consumo.

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Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

Figura 6: Formas de venda do pescado no município de Pinheiro. SA = Salgado; IF = Inteiro Fresco; IR


= Inteiro Refrigerado; IC = Inteiro Congelado; EF = Eviscerado Fresco; ER = Eviscerado Resfriado; EC =
Eviscerado Congelado; SE = Seco.

DISCUSSÕES

A maioria dos comerciantes entrevistados é representada pelo público do sexo masculino, a pequena
participação feminina na atividade demonstra possível relação com questões culturais ainda presentes
na região. A grande parte dos comerciantes está na atividade entre 1 e 30 anos. As influências
socioeconômicas da atividade mostram-se bastante consolidadas na parcela dos comerciantes que
atua há muitos anos e a tem como sua única fonte de renda.
A maior parte do público consumidor do município demostra uma preferência pela aquisição de
pescado na Feira Municipal de Pinheiro, o que ocasiona uma concentração maior de vendedores nesse
local. Esse padrão se mantém ao longo dos anos apesar de ter havido, em decorrência do processo de
urbanização do município, a necessidade expansão do comércio para outros pontos, como pequenas
feiras em bairros distantes do centro, para suprir a demanda dessas regiões. Com isto, percebe-se a
importância da Feira Municipal de Pinheiro para a população. Para Sato (2007), a feira é uma atividade
econômica e social relevante para a vida de muitos brasileiros, culturalmente bem aceita, e que sofreu
poucas mudanças na sua essência, caracteriza-se por estruturar-se numa ampla rede de relações
sociais que mescla diversas gramáticas sociais, além de ser importante instituição tradicional.
A cadeia de comercialização do pescado é voltada principalmente para espécies regionais, como a
traíra, tambaqui, e a pescada amarela, sendo as espécies mais consumidas e vendidas por estes

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Perfil Dos Comerciantes De Pescado Na Baixada Maranhense, Maranhão, Brasil

comerciantes. A pescada-amarela é responsável pelos maiores volumes de capturas de peixes


marinho-estuarinos do Maranhão, assim sendo comercializada em todo o estado (DE ALMEIDA, 2011).
A traíra e tambaqui são as espécies mais comercializadas, a Traíra sendo uma espécie culturalmente
valorizada pela população e o Tambaqui uma espécie que vem ganhando destaque no cenário da
piscicultura na Baixada Maranhense. Ambas apresentam rendimento de filé significativo quando
comparamos com as outras citadas.
Segundo Santos (2001), o rendimento do filé da traíra é de 44,33 %, e para Lima (2018) o rendimento
do filé do tambaqui é maior que 45%. O sabor é um atributo que influencia fortemente na decisão de
compra da espécie de peixe, outros atributos como a textura ou consistência da carne, odor, aroma e
coloração, que de maneira geral são utilizados pelos compradores para avaliar a qualidade do pescado
(SILVA E SILVA, 2004)
A economia do município e região da Baixada Maranhense está voltada para a agricultura familiar,
pesca e pecuária, devido à ausência de grandes indústrias na região, sendo que profissão de aquicultor,
pescador ou vendedor de pescado são ofícios comuns na região. A feira também favorece outros
setores da economia, tanto pela venda de outros produtos nos locais de comercialização de pescado,
como na circulação de dinheiro pelos feirantes que após a comercialização de seus produtos, realizam
compras de diversos outros produtos com o dinheiro oriundo da comercialização do pescado
(LOMBA, 2013)
A oferta constante de pescado nas feiras, reflete na presença de uma demanda diária, apresentando
abundância nos recursos pesqueiros ou possível sobre-exploração.
O consumo de pescado encontra-se amplamente distribuído entre homens e mulheres vendedores,
sendo uma proteína importante na alimentação diária da população. É válido ressaltar que o
Maranhão é o quinto colocado no ranking, com consumo de 10,61 quilos per capita por ano, perdendo
apenas para o Acre (10,68 kg), Amapá (15,31 kg), Pará (18,69 kg) e Amazonas (30 kg) (G1, 2012). Silva
e Silva (2006) apontam que conhecer o perfil e hábitos de consumo da população e comercialização
são importantes para o planejamento da produção e distribuição do pescado, e que estas informações
podem servir de referência aos fornecedores e vendedores de pescado para definir estratégias de
comercialização e otimizar os aspectos econômicos em toda cadeia produtiva.
A maioria dos vendedores optaram pela venda do pescado inteiro, e com aspecto “fresco”, devido a
demanda dos consumidores por essa categoria. De acordo, com a ANVISA (2008), o conceito de
“pescado fresco” é definido como o pescado dado ao consumo sem ter sofrido qualquer processo de
conservação, a não ser a ação do gelo. O que se nota é que na maioria dos boxes de venda de peixes

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nas feiras do município de Pinheiro, o pescado é comercializado sem nenhum tipo de refrigeração
e/ou acondicionamento, e que as práticas observadas, de modo geral, podem acrescentar risco à
saúde do consumidor. Para Freitas (2017), a comercialização de pescado deve estar atenta quanto à
manipulação e armazenamento do pescado, devido aos elevados riscos de contaminação cruzada, e
para que o pescado não ofereça nenhum risco ao consumidor.

CONCLUSÃO

A comercialização do pescado é uma atividade de grande importância para a Baixada Maranhense, e


representa parte importante da economia que é gerada nos municípios, principalmente em Pinheiro.
Os resultados obtidos no presente estudo indicam que existe uma grande variedade de espécies
comercializadas que são oriundas da bacia do rio Pericumã bem como de outras regiões do país. Além
disso, o estudo gerou subsídios que irão auxiliar os gestores públicos nas tomadas de decisões que
visam o desenvolvimento da cadeia produtiva na baixada maranhense Cabe ressaltar que os
parâmetros higiênicos não são cumpridos, diante disso, se faz necessário maior rigor no cumprimento
das leis existentes, e a criação de programas de treinamento aos comerciantes, e melhorias quanto a
estrutura das feiras que servem como ponto de comercialização do pescado no município.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao apoio fornecido pela Associação de Pescadores do município de Pinheiro.

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557
119
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 9
10.37423/200601134

MORFOMETRIA CORPORAL: RENDIMENTO DE


COSTELA DE TILÁPIA DO NILO (OREOCHOMIS
NILOTICUS)

Flavia Renata Potrich Signor

Elisiane da Silva Figueiredo

Hellen Krystiane Alves Ferreira

Adilson Reidel

Arcangelo Augusto Signor


Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

RESUMO: Objetivo do presente trabalho foi avaliar diferentes cortes no processamento da tilapia do
Nilo (Oreochromis niloticus) visando melhorar o aproveitamento. Foram adquiridas a tilápia do Nilo
em frigorifico com Sistema de Inspeção Federal/SIF, após passarem pelo processo de eutanásia em
frigorifico, foram armazenadas em gelo e transportado ao laboratório. Os peixes foram pesados
(1978,60±256,31g), e separados em dois grupos para processamento: file e costela (cortes de costela,
filé dorsal e filé ventral). Posteriormente foram eviscerados, descabeçados, retirada a pele, nadadeiras,
obtendo o tronco limpo, depois processados conforme o delineamento. Das vísceras foram separadas
a gordura visceral e o fígado. Não observou influência (p-valor <0.05) para os parâmetros de
rendimento: eviscerado, cabeça, pele, escamas, nadadeiras, gordura visceral, fígado e tronco limpo.
Observou-se influência (p-valor <0.05) no aproveitamento das tilápias submetidos ao processamento
de costela comparado a filetagem. Pode-se concluir que o processamento da tilápia do Nilo, na forma
de costela, file dorsal e file ventral melhoram o rendimento da parte útil da tilápia.

Palavras chave: Processamento, aproveitamento, resíduos.

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121
Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

1 INTRODUÇÃO

Dentre as espécies de maior expressão na produção aquícola brasileira é o cultivo da tilápia do Nilo
(Oreochromis niloticus) (Silva et, al., 2016). O aumento na produção desta espécie se deve às
características relativas à qualidade de sua musculatura, elevado valor nutricional, características
especificas de textura e sabor, sua rusticidade, potencial mercadológico, genética e fácil reprodução,
além, de pré-requisitos típicos de peixes preferidos ao consumidor pois apresenta carne branca de
textura firme, sabor delicado e fácil filetagem por não apresentar espinho em “Y”, sendo o filé, o
principal produto comercializado.
O rendimento do filé de tilápia do Nilo, é de aproximadamente 37%, gerando grande quantidade de
resíduos (maior percentual para a produção de farinha de resíduos) ou processados na forma de CMS
da carcaça (aumentando o aproveitamento) e o restante destinado a produção de farinha. Contudo,
o rendimento de filé é diretamente proporcional ao peso dos animais. Santos et al. (2007) demonstram
que o rendimento de filé é superior para peixes de 800 gramas, quando comparado aos peixes com
peso inferior. Neste sentido, visando aumentar o rendimento de filé nas unidades de processamento
de tilápia tem-se exigido peixes cada vez maiores para a indústria.
O aproveitamento de um animal, não está apenas relacionada ao seu peso, mas ao rendimento do filé
(Bosworth et al., 2001), parte útil para consumo. O processo do rendimento da filetagem varia em
função do peso, forma ou método de filetagem, formato anatômico, agilidade do filetador, densidade
de estocagem e intrínseco a própria espécie. Segundo Souza e Maranhão, (1998) relataram diferenças
quanto à forma de retirada da pele e quanto ao tipo de corte da cabeça (decapitação).
A vários métodos aplicados para retirada do filé, a retirada da pele com auxílio de alicate e
posteriormente o filé (Souza et al., 1999, Silva et, al., 2016), outros retiram o filé posteriormente a
pele dos animais. Com a automação dos frigoríficos a retirada do filé com peixe inteiro e
posteriormente retirada da pele mecanizada, já é uma realidade. Em algumas unidades pode ou não
ocorrer a evisceração dos peixes antes da retirada do filé. Naquelas em que ocorre a retirada do filé,
sem evisceração os resíduos são conduzidos produção de farinhas e óleos para serem utilizados na
alimentação animal.
O aprimoramento das técnicas de processamento visando maximizar o aproveitamento do pescado,
seja ele com a obtenção da Carne Mecanicamente Separada para uso em produtos reestruturados ou
a partir de cortes específicos deve ser incessante, pois o custo da produção tem apresentado cada vez
mais elevado.

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122
Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

A produção de costela a partir de pescados, ocorre principalmente para espécies de peixes redondos
(tambaqui, tambatinga e outros), peixes de tamanho superior a 1,5 quilos, que melhoram
consideravelmente o rendimento destinado ao consumo humano. Porém, com o aumento do peso da
tilápia, em função da escala de produção, em alguns momentos os peixes apresentam peso próximo
ou superior a 1,5 kg, e uma alternativa é a realização de cortes diferenciados que visa melhorar o
rendimento da parte útil do pescado agregando maior valor com a produção de tilápia.
Para uma melhor aceitação dos produtos no mercado é necessária a padronização, a relação
morfométrica corporal e classe de peso determina o melhor corte aumentando o rendimento no
processo e melhorando a escolha nos equipamentos usados na indústria (Barros et al., 2019; Lima et,
al., 2018).
Objetivo do presente trabalho foi avaliar diferentes cortes no processamento da tilapia do Nilo
(Oreochromis niloticus) visando melhorar o aproveitamento.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 LOCAL DE DESENVOLVIMENTO

O processamento dos tilápias foi realizada no Laboratório de Abate e Corte do Instituto Federal do
Paraná/IFPR, campus Foz do Iguaçu/Paraná, Brasil.

2.2 MATÉRIA PRIMA

A tilápia do Nilo foi adquirida em frigorífico com Sistema de Inspeção Federal/SIF, na cidade de
Toledo/Paraná/Brasil. Após sofrerem o processo de eutanásia no frigorifico, foram armazenados em
gelo e transportados ao Laboratório de Abate e Corte do Instituto Federal do Paraná/IFPR campus Foz
do Iguaçu/Paraná, Brasil. No laboratório os peixes foram pesados (1978,60±256,31 gramas) e
submetidos ao processamento com diferentes cortes.

2.3 PROCESSO DE OBTENÇÃO DO TROCO LIMPO

As tilápias foram separadas atendendo ao processamento proposto (filetagem ou costelinha). Todos


os peixes foram pesados e posteriormente eviscerados, retirada as escamas, pele e as nadadeiras,
obtendo o tronco limpo, posteriormente foi realizado a filetagem ou os cortes de costela. Os
componentes da cavidade visceral foram pesados, em seguida separada a gordura visceral e o fígado.

94
123
Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

2.4 PROCESSO DA OBTENÇÃO DO FILÉ

Para o processo de filetagem fez-se a separação da musculatura das duas laterais do peixe no sentido
longitudinal, ao longo da extensão da coluna vertebral, em seguida realizado um corte em “V” para
retirada das espinhas (Figura 1).

Figura 1. File de tilápia do Nilo com o corte em “v”

2.5 PROCESSO DA OBTENÇÃO DA COSTELA

Para a obtenção da costela, foi realizado o corte das bandas, das duas laterais do peixe no sentido
longitudinal, ao longo da extensão da coluna vertebral (Figura 2), cortando as costelas próximo a
coluna vertebral, posteriormente separada a costelinha, filé dorsal e filé ventral (Figura 3).

Figura 2. Cortes das Bandas de file de tilápia do Nilo

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124
Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

Figura 3. Processamento das tilápias para obtenção de filé dorsal, filé ventral e costela

2.6 RENDIMENTOS CORPORAIS

Foram calculados os rendimentos de peixe eviscerado (%), cabeça (%), gordura visceral (%), fígado (%)
e tronco limpo (%). Foram calculados ainda o rendimento de filé (%), costela (%), file dorsal (%), filé
ventral (%) e coluna vertebral (%) de acordo com o processamento.

2.7 ESTATÍSTICA

Os dados obtidos foram submetidos a Análise de Variância (ANOVA) checando os pressupostos de


normalidade e homogeneidade, ao nível de 5% de significância, pelo programa STATISTICA 7.0. Os
dados são expressos em percentagem do peso vivo dos animais e apresentadas as médias ± desvio.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As medidas corporais utilizadas para realizar as relações morfométricas encontram-se descritas na


Tabela 1. Comparando-se os rendimentos corporais do processamento da tilápia do Nilo na forma de
filé e de costela não apresentaram diferença significativa (p-valor <0.05), observando-se que os
rendimentos corporais como rendimento eviscerado, tronco limpo, assim como os de resíduos
(cabeça, pele, escamas, nadadeiras e índice vicerossomático), e composição das vísceras (índice
hepatossomático, gordura visceral e outros componentes) não apresentam influência. A não diferença
é esperada pois todos os peixes foram submetidos ao mesmo processamento, ou seja, obtenção do
tronco limpo para posterior processo de filetagem ou costela, demonstrando que o processamento
foi realizado de forma padrão para ambos os processamentos.

96
125
Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

Tabela 1. Rendimentos corporais (media±desvio) da tilápia do Nilo


Processamento Valor de P
Parâmetros (%)
Filetagem Costela
Peixe sem vísceras 89,38±1,19 88,40±1,60 0,328ns
Tronco limpo 54,43±1,67 53,97±1,88 0,702 ns
Resíduos
Cabeça 20,69±1,15 20,69±1,40 0,994 ns
Pele, escamas e nadadeiras 14,08±1,69 12,44±1,23 0,111 ns
Vísceras 10,62±1,19 11,60±1,60 0,328ns
Composição das vísceras
Fígado 1,99±1,27 1,79±0,46 0,738 ns
Gordura 3,94±1,25 5,57±1,49 0,111 ns
Vísceras em geral 4,69±1,96 4,23±0,68 0,609 ns
nsNão significativo ao nível de confiança de 95%; os tratamentos são semelhantes estatisticamente.

Com relação ao diferentes processamentos realizados a partir do tronco limpo (Tabela 2), observa-se
que a coluna vertebral, é um parâmetro o qual foi influenciado (p-valor <0.05), de forma que, aqueles
submetidos ao processamento de costela apresentaram menor percentual de coluna vertebral, pois
permaneceram aderidas ao produto, porém, no caso da filetagem é considerado resíduo.
Tabela 2. Rendimentos (media±desvio) a partir do tronco limpo da tilápia do Nilo
Processamento Valor de P
Parâmetros (%) Filetagem Costela
Filé 36,11±1,92 - -
Costelinhas - 44,43±1,65 -
Coluna vertebral 16,57±0,87 6,61±0,43 0,000*
Total 52,68±1,61 51,04±1,98 0,099 ns
*Significativo ao nível de confiança de 95%; os tratamentos se diferenciam estatisticamente. nsNão
significativo ao nível de confiança de 95%; os tratamentos são semelhantes estatisticamente.

O rendimento em filés de tilápia (Oreochromis niloticus) varia em torno de 34,6 a 36,6%, porém
encontrou diferenças significativas quanto aos métodos de filetagem usados (Souza, 2002). Segundo
este autor o melhor método de filetagem foi o que retirou a pele do peixe inteiro e depois removeu o
filé. Contudo, o rendimento em filé, quando submetido a extração das peles após a filetagem, envolve
segundo Contreras-Guzmán, 1994, além da eficiência das máquinas filetadoras, a destreza manual do

97
126
Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

operário, características intrínsecas à matéria-prima (forma anatômica do corpo, tamanho da cabeça


e dos pesos dos resíduos - vísceras, pele e nadadeiras) (Silva et al., 2016). Além disso, segundo Souza
e Maranhão (1998), Souza e Maranhão (2001) o rendimento de filé varia em função do peso, forma
ou método de filetagem, formato anatômico, densidade de estocagem e intrínseco a própria espécie.
Para os parâmetros de rendimento para comercialização observa-se diferença estatística (p-valor
<0.05) com maior percentual de aproveitamento para aqueles submetidos ao processamento de
costela comparado ao filetagem. Desta forma pode-se observar que o processamento na forma de
costela tem um maior aproveitamento, comparado a filetagem. Observa-se ainda que para a
comercialização, o processamento na forma de costela gera três novos produtos sendo o filé dorsal
um corte mais nobre atendendo um mercado selecionado, e o filé ventral e as costelinhas com um
valor mais acessível que abrangem um público em geral.
As pesquisas com rendimento de carcaça de peixes buscam maior eficiência para os sistemas de
produção melhoram o aproveitamento e consequentemente rendimento de cortes nobres e mais
valorizados pelo mercado consumidor. Contudo, o processamento industrial de pescados fornece
muito mais do que alimentos nutritivos, na medida em que geram grandes quantidades de resíduos,
os quais são devem ser, de alguma forma reaproveitados, pois são componente de alto valor biológico
(Lima et al., 2012).
Para o piscicultor o interessante, é o peso final dos animais e a relação com a conversão alimentar,
porém, recentemente algumas empresas têm inserido na remuneração do produtor o rendimento de
filé. Para a indústria, o importante é a parte comestível para humanos, ou seja, na indústria da tilápia
é o filé, o principal produto. Neste sentido os resíduos são conduzidos a produção de farinhas e óleos
que agregam um menor montante aos recursos para a empresa. Observou-se que o rendimento da
parte útil, quando processada na forma de costela, apresenta uma melhora de 10% no aproveitamento
dos pescados, em função de aproveitar as costelas e o musculo aderido as mesmas (Tabela 3). A
padronização no tamanho de abate economicamente viáveis são técnicas empregadas no
processamento, são parâmetros que necessitam serem estabelecidos para obtenção de melhorias no
aproveitamento do pescado na indústria (Adames et al., 2014; Silva et, al. 2016).

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127
Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

Tabela 3. Rendimentos (media±desvio) para comercialização da tilápia do Nilo

Processamento Valor de P
Parâmetros (%) Filetagem Costela
Filé 36,11±1,92 - -
Costelinha - 18,97±1,25 -
Filé dorsal - 19,53±1,52 -
Filé ventral - 7,50±0,38 -
Total 36,11±1,92 46,00±2,07 0,000*
*Significativo ao nível de confiança de 95%; os tratamentos se diferenciam estatisticamente.

Os rendimentos corporais observados para a tilápia, são superiores aos avaliados ao rendimento de
pacu (Piaractus mesopotamicus) observados por Lima et al. (2012) o qual observaram rendimento de
17,51% de costela, para tambaqui (Colossoma macropomum), o qual observaram 16,27% de costela
(Mujica e Lima, 2011).
Em relação aos processos, que vão desde o abate até a industrialização e a apresentação do produto
ao consumidor a cabeças, escamas, peles, vísceras e carcaças são os principais resíduos do
processamento de pescado, gerando aproximadamente 65% de resíduos em função do peso vivo dos
animais. No Brasil, o aproveitamento dos resíduos de pescado é pequeno, para a produção de farinhas
e óleos, sendo a maioria descartada de forma indevida prejudicando o meio ambiente (Lima et al.,
2012), nos últimos anos, observa-se uma melhora neste aproveitamento em função da cobrança dos
órgãos ambientais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processamento da tilápia do Nilo na forma de costela apresenta rendimento total para consumo
humano 10% superior ao processo de filetagem, aumentando os lucros e reduzindo a quantidade de
resíduos gerados na industrialização do pescado.
Portanto, é importante considerar os resultados obtidos na indústria de beneficiamento do pescado,
desta forma utiliza-se estas informações para identificar a melhor estratégia de comercialização do
produto.

99
128
Morformetria Corporal: Rendimento De Costela De Tilápia Do Nilo (Oreochomis Niloticus)

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Zootecnia, Viçosa, v. 31, n. 3, p. 1076-1084, 2002.

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100
129
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 10
10.37423/200601138

CULTIVO DA MICROALGA MARINHA


CHAETOCEROS MUELLERI COM DEPLEÇÃO DA
FONTE DE AZOTO E ANÁLISE DE RENDIMENTO
DE BIOMASSA

Susana Félix Moura dos Santos

Ana Cláudia Teixeira Silva

Illana Beatriz Rocha de Oliveira

José Lucas da Silva Oliveira

Francisco Rafael Moreira dos Santos

Vitória Lima Damasceno

Maria Jackeline Barbosa dos Santos

Mariana Luzia Monteiro Silva

Dilliani Naiane Mascena Lopes

José William Alves da Silva


Cultivo Da Microalga Marinha Chaetoceros Muelleri Com Depleção Da Fonte De Azoto E Análise De Rendimento De Biomassa

RESUMO: As microalgas são importantes para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, pois
encontram-se na base da cadeia alimentar dos organismos aquáticos, além disso, são excelentes
bioindicadores da qualidade da água, indicando, por exemplo, um desequilíbrio ecológico por excesso
de nutrientes e matéria orgânica, sendo também utilizadas no biotratamento de águas residuais. O
estudo foi realizado no Laboratório de Tecnologias Aquícolas (LTA), do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) – Campus Aracati. Com o cultivo axênico da microalga
Chaetoceros muelleri, considerou-se três tratamentos T1, T2 e T3, para analisar a influência da
depleção nitrato presente no meio de cultura Guillard F/2, com variações de 75 mg.L⁻¹ (T1), 50 mg.L⁻¹
(T2) e 25 mg.L⁻¹ (T3), cada tratamento com cinco repetições, em condições semelhantes de aeração,
iluminação e temperatura. O cultivo foi estacionário e o crescimento das microalgas monitorado
através de medida de densidade ótica (DO700nm) por espectrofotometria, posteriormente
relacionada a biomassa com peso seco. Quando o cultivo atingiu a fase estacionária de crescimento,
as microalgas foram separadas do meio de cultura por floculação química, utilizando hidróxido de
sódio (NaOH 2N). Após a floculação a biomassa foi para secagem em estufa a 60° C durante 24 horas,
posteriormente, o peso foi determinado em balança analítica. A C. muelleri atingiu maior recuperação
algal com a utilização de 75 mg.L⁻¹ de nitrato (T1) no meio de cultura.

Palavras-chave: Biomassa; Cultivo axênico; Diatomáceas.

101
131
Cultivo Da Microalga Marinha Chaetoceros Muelleri Com Depleção Da Fonte De Azoto E Análise De Rendimento De Biomassa

1 INTRODUÇÃO

As microalgas são organismos aquáticos unicelulares e microscópicos, sendo eucariontes ou


procariontes, dependendo da espécie crescem em águas continentais ou marinhas, realizam atividade
fotossintetizante, no qual fixam o carbono atmosférico e produzem a maior parte do oxigênio presente
na atmosfera. São importantes para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, pois encontram-se na
base da cadeia alimentar dos organismos aquáticos, são excelentes bioindicadores da qualidade da
água e podem ser utilizadas no tratamento de águas residuais (LOURENÇO, 2006).
As diatomáceas representam cerca de 250 gêneros e 10.000 a 12.000 espécies atuais, são organismos
unicelulares, possuem uma estrutura periférica denominada frústula (FRANCESCHINI et al., 2010). Um
dos grupos mais utilizados na alimentação de artêmias e larvas de camarões é o de microalgas
pertencentes ao gênero Chaetoceros, que são algas de fácil produção e ricas em ácidos graxos
polinsaturados, nos cultivos são geralmente encontradas em células isoladas, apresenta forma
retangular, com tamanho entre 2,0 e 13 µm (BARBIERI e OSTRENSKY, 2001).
O cultivo de microalgas apresenta um alto custo, principalmente para o fornecimento dos meios de
cultura necessários para o desenvolvimento das mesmas, porém sua aplicação é diversificada, por
exemplo, a biomassa de algas apresentam diversas moléculas que possuem atividade biológica, como
os polissacarídeos, compostos orgânicos que podem ser utilizadas em diferentes aplicações
farmacológicas possuindo propriedades antivirais, antioxidantes e antiinflamatórias a as proteínas
(RAPOSO et al., 2013).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o crescimento e rendimento de biomassa da microalga
marinha Chaetoceros muelleri com variação da fonte de nitrogênio presente no meio de cultura
Guillard F/2.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1- MICROALGA E MEIO DE CULTURA

O estudo foi realizado no Laboratório de Tecnologias Aquícolas (LTA), do Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) – Campus Aracati. A microalga foi cultivada
inicialmente em tubos de ensaio e mantida em meio Guillard F/2, salinidade 20 ppt, posteriormente
foram realizadas repicagens para adquirir um volume de 3.500 mL de inóculo, necessário para iniciar
ao experimento. Trabalhou-se com uma proporção de 700 mL de inóculo acrescidos de 2.300 mL de
meio de cultivo, apresentando um total de 3 L de volume, para cada repetição.

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132
Cultivo Da Microalga Marinha Chaetoceros Muelleri Com Depleção Da Fonte De Azoto E Análise De Rendimento De Biomassa

O experimento durou sete dias, e considerou três tratamentos, sendo T1, T2 e T3, para analisar a
influência do nitrato presente no meio de cultura com variações de 75 mg. L⁻¹, 50 mg.L⁻¹ e 25 mg.L⁻¹,
respectivamente, sobre o crescimento e o rendimento de biomassa seca da microalga. Cada
tratamento apresentou cinco repetições, com condições semelhantes de aeração e iluminação
constante de 7.000 lux e temperatura a 24°±1 C.
Os materiais utilizados durante o experimento foram autoclavados a 121° C por 15 minutos, em
seguida preparou-se o meio de cultura Guillard F/2, variando somente o nitrato.
O cultivo foi estacionário e o crescimento das microalgas foi determinado por densidade ótica
(DO700nm) por espectrofotometria e relacionada com o peso seco.
Quando o cultivo atingiu a fase estacionária de crescimento, as microalgas foram separadas do meio
de cultura por floculação química, utilizando hidróxido de sódio (NaOH 2N). Após a floculação a
biomassa foi para secagem em estufa a 60° C durante 24 horas, posteriormente, o peso foi
determinado em balança analítica.

2.2 - ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Os dados obtidos foram submetidos ao teste t de Student, com nível de significância 5%, utilizando o
programa BioEstat 5.0.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 representa a curva de crescimento ao final dos três tratamentos, demonstra um melhor
desempenho de crescimento da microalga C. muelleri no tratamento (T1), o segundo tratamento (T2)
e terceiro tratamento (T3) obtiveram menores resultados, o que pode estar relacionado com a
redução da fonte do nutriente de nitrogênio, segundo Lu et al., (2017), o carbono e o nitrogênio são
nutrientes essenciais para o crescimento das microalgas.
Borges, (2014), cita que a concentração dos nutrientes presentes no cultivo de microalgas, pode sofrer
alterações, visto a necessidades específicas exigidas durante os processos metabólicos. Diante disto,
a fonte de nitrogênio no tratamento 2 (T2) e tratamento 3 (T3), mesmo em concentrações menores
quando comparadas com o tratamento 1 (T1) foi capaz de suprir as necessidades metabólicas das
células presente nos cultivos, o que explica o crescimento exponencial nos dois primeiros dias de
cultivo. No decorrer do cultivo devido ao consumo dos nutrientes nos processos metabólicos a
disponibilidade do nutriente a qual houve a variação foi ficando reduzida ocasionando uma limitação
no crescimento celular.

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133
Cultivo Da Microalga Marinha Chaetoceros Muelleri Com Depleção Da Fonte De Azoto E Análise De Rendimento De Biomassa

Figura 1: Média da absorbância obtida durante os 7 dias de cultivo. Onde T1: meio de cultivo com 75
mg.L⁻¹ de nitrato, T2: meio de cultivo com 50 mg.L⁻¹ de nitrato e T3: meio de cultivo com 25 mg.L⁻¹ de
nitrato.

A tabela 1 demonstra que o tratamento (T1) utilizando meio de cultivo com 75 mg.L⁻¹ de nitrato
apresentou melhor resultado de rendimento de biomassa, resultando em uma média de 4,64 g.L⁻¹.
Enquanto a biomassa obtida no tratamento utilizando meio de cultivo com 50 mg.L⁻¹ de nitrato (T2)
apresentou um peso médio de 2,59 g.L⁻¹ e no tratamento (T3) com meio de cultivo com 55 mg.L⁻¹ de
nitrato obteve peso médio de 1,90 g.L⁻¹.
O melhor rendimento de biomassa algal observado no T1, está diretamente ligado a concentração de
nitrogênio ofertado. Por se tratar de um nutriente essencial ao organismo cultivado, por estar
diretamente ligado aos processos metabólicos intracelular, a oferta em concentrações inferiores limita
o crescimento algal, consecutivamente o rendimento de biomassa se. Daliry et al., (2017), afirmam
que a limitação de fonte de nitrogênio leva a um aumento da produtividade de lipídios, mas tem um
efeito inibidor na concentração em biomassa. O que explicaria o resultado notável do T1 em
comparação ao T2 e T3.
Segundo Yang et al. (2011), a composição bioquímica dessa biomassa, sofre influência dos nutrientes
contidos no meio de cultura utilizado e das condições abióticas empregadas nos cultivos, no presente
trabalho as condições de luminosidade e aeração eram semelhantes, então a relação de biomassa
adquirida pelo T2 e T3 é resultado da depleção da fonte de nitrogênio no meio de cultura Guillard F/2.

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Cultivo Da Microalga Marinha Chaetoceros Muelleri Com Depleção Da Fonte De Azoto E Análise De Rendimento De Biomassa

Tabela 1: Média da biomassa seca obtida durante os 7 dias de cultivo para cada tratamento: T1 (75
mg.L⁻¹ de nitrato), T2 (50 mg.L⁻¹ de nitrato) e T3 (25 mg.L⁻¹ de nitrato).

Parâmetros T1 T2 T3

Nitrato de sódio (mg/L-1) 75 50 25

Biomassa (g/L-1) 4,64 2,59 1,90

4- CONCLUSÃO

Constata-se que ao final do experimento, os resultados demonstraram que a microalga marinha


Chaetoceros muelleri apresentou rendimento de biomassa seca satisfatório quando cultivada com
meio de cultivo Guillard F/2 composto por 75 mg.L⁻¹ de nitrato (T1).

105
135
Cultivo Da Microalga Marinha Chaetoceros Muelleri Com Depleção Da Fonte De Azoto E Análise De Rendimento De Biomassa

REFERÊNCIAS

BARBIERI, J.R.C.; OSTRENSKY, A.N. Camarões marinhos reprodução, maturação e larvicultura. Viçosa:
Aprenda Fácil, 2001. 152p.

BORGES, W. DA S. Produção de bio-óleo empregando microalgas em diferentes meios de cultivo. [s.l.]


Tese (Doutorado em Engenharia Química), Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2014.]

DALIRY, S., HALLAJISANI, A., ROSHANDEH, J. M., NOURI, H., & GOLZARY, A. Investigation of optimal
condition for Chlorella vulgaris microalgae growth. Global J. Environ. Sci. Manage, v. 3, n. 2, p. 217–
230, 2017.

FRANCESCHINI, I.M.; BURLIGA, A.L.; REVIERS, B. de; PRADO, J.P.; RÉZIG, S.H. Algas: uma abordagem
filogenética, taxonômica e ecológica. Porto Alegre: Artmed, 2010. 38p.

LOURENÇO, S. de O. Cultivo de Microalgas Marinhas: Princípios e Aplicações. Brasil: RiMa, 2006. 26p.

LU, L., WANG, J., YANG, G., ZHU, B., & PAN, K. Heterotrophic growth and nutrient productivities of
Tetraselmis chuii using glucose as a carbon source under different C/N ratios. Journal of Applied
Phycology, v. 29, n. 1, p. 15–21, 2017.

RAPOSO, M.F.J.; MORAIS, M.R.C.; MORAIS, A.M.B. Bioactivity and Applications of Sulphated
Polysaccharides from Marine Microalgae. Marine Drugs. 233-252p., 2013.

YANG, J; XU, M.; ZHANG, X.; HU, Q.; SOMMERFELD, M.; CHEN, Y. Life-cycle analysis on biodiesel
production from microalgae: Water footprint and nutrientes balance. Bioresource Technology. v. 102,
p. 159-165. 2011.

106
136
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 11
10.37423/200601139

RENDIMENTO DE BIOMASSA DA MICROALGA


MARINHA NANNOCHLOROPSIS OCULATA
SUBMETIDA A PROCESSO DE DEPLEÇÃO DA
FONTE DE NITROGÊNIO EM SEU MEIO DE
CULTURA

Illana Beatriz Rocha de Oliveira

Ana Cláudia Teixeira Silva

Susana Félix Moura dos Santos

José Lucas da Silva Oliveira

Francisco Rafael Moreira dos Santos

Vitória Lima Damasceno

Maria Jackeline Barbosa dos Santos

Mariana Luzia Monteiro Silva

Dilliani Naiane Mascena Lopes

José William Alves da Silva


BIOMASS INCOME OF MARINE MICROALGAE Nannochloropsis Oculata SUBMITTED TO A NITROGEN SOURCE DEPLETION PROCESS
In The Culture Media

RESUMO: A microalga marinha Nannochloropsis oculata é uma das mais adotadas na indústria
aquícola devido sua facilidade de cultivo, tamanho pequeno, velocidade de crescimento acentuado e
alto teor de proteínas e ácidos graxos poli-insaturados. O objetivo deste trabalho foi avaliar o
crescimento e rendimento de biomassa da microalga marinha Nannochloropsis oculata com variação
da fonte de nitrogênio na preparação de seu meio de cultura. A pesquisa foi desenvolvida no
Laboratório de Tecnologias Aquícolas (LTA), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará (IFCE) – Campus Aracati. O experimento foi realizado em três tratamentos, nos quais foi avaliada
a influência do nitrato presente no meio de cultura Guillard F/2 (variações de 25 mg.L-1, 50 mg.L-1 e 75
mg.L-1) sobre o crescimento da microalga e o rendimento de sua biomassa. A microalga N. oculata,
oriunda de cepário do próprio laboratório, foi cultivada em meio Guillard F/2 com salinidade 20 ppt,
numa proporção de 500 mL de inóculo acrescidos de 4.500 mL de meio de cultivo (totalizando 5 L de
volume, cada repetição). Cada tratamento conteve cinco repetições, dispostas em condições similares
de aeração e iluminação constante de 7.000 lux e temperatura a 24 °C. O cultivo foi estacionário e
para avaliar o crescimento foram realizadas absorbâncias utilizando um espectrofotômetro a 680 nm
e relacionada com o peso seco. Ao atingirem a fase estacionária de crescimento, as microalgas foram
floculadas com hidróxido de sódio (NaOH 2N), sendo posteriormente levadas à estufa a 60 °C com
circulação forçada de ar durante 24 horas. A biomassa seca foi determinada com o auxílio de balança
analítica. Os resultados mostraram que a microalga Nannochloropsis oculata cresceu melhor quando
cultivada com meio de cultivo Guillard F/2 composto por 75 mg.L-1 de nitrato (T1). Além disso,
apresentou melhor rendimento de biomassa, resultando em uma média de 2,65 g.L-1. Enquanto a
biomassa obtida no tratamento utilizando meio de cultivo com 50 mg.L -1 de nitrato (T2) apresentou
um peso médio de 2,47 g.L-1, e a biomassa obtida no tratamento utilizando meio de cultivo com 25
mg.L-1 de nitrato (T3) apresentou um peso médio de 2,38 g.L-1.

Palavras-chave: Microalga marinha; Crescimento; Biotecnologia.

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BIOMASS INCOME OF MARINE MICROALGAE Nannochloropsis Oculata SUBMITTED TO A NITROGEN SOURCE DEPLETION PROCESS
In The Culture Media

1 INTRODUÇÃO

Microalgas são organismos unicelulares e microscópicos, eucariontes e procariontes que possuem


clorofila e realizam a fotossíntese, processo pelo qual fixam o carbono atmosférico, produzem a maior
parte do oxigênio da atmosfera e convertem a luz solar natural em energia química armazenada em
várias formas químicas (polissacarídeos, proteínas, lipídios e hidrocarbonetos). Além disso, as
microalgas têm sido amplamente utilizadas na aquicultura como alternativa alimentar para artêmias,
moluscos, zooplâncton e larvas de crustáceos e de peixes (LOURENÇO, 2006).
A espécie Nannochloropsis oculata é uma das mais adotadas no setor aquícola devido sua facilidade
de cultivo, tamanho pequeno (com diâmetros menores que 5 μm), velocidade de crescimento
acentuado e alto teor de proteínas e ácidos graxos poli-insaturados (SCAGLIONI et al., 2014). devido
às elevadas concentrações de PUFA (ácidos graxos poli-insaturados) produzidos por essa microalga,
ela tem sido utilizada na aquicultura como alimento para diversos organismos aquáticos nas fases
iniciais de cultivo (BELETTINI et al., 2011) e na criação de fármacos para a prevenção e tratamento de
doenças e distúrbios humanos, além de serem reconhecidas como suplementos nutricionais
importantes (ZITELLI et al., 1999).
Porém, mesmo com tantos benefícios, a viabilidade do cultivo de microalgas em larga escala passa
pela solução de problemas tecnológicos e a redução dos custos de produção (NORSKER et al., 2011).
Para que isso ocorra, estudos são realizados constantemente com o intuito de definir os melhores
métodos de cultivo e geração de metabólitos, a colheita da microalga e também definições de meios
de cultivos mais viáveis economicamente (SALES e ABREU, 2014).
Neste trabalho foram avaliados crescimento e rendimento de biomassa da microalga marinha
Nannochloropsis oculata com variação da fonte de nitrogênio presente no meio de cultura Guillard
F/2.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 MICROALGA E MEIO DE CULTIVO

A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Tecnologias Aquícolas (LTA), do Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) – Campus Aracati. O experimento contou com três
tratamentos (T1, T2 e T3), nos quais foi avaliada a influência do nitrato presente no meio de cultura
(variações de 25 mg.L-1, 50 mg.L-1 e 75 mg.L-1) sobre o crescimento da microalga e o rendimento de

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BIOMASS INCOME OF MARINE MICROALGAE Nannochloropsis Oculata SUBMITTED TO A NITROGEN SOURCE DEPLETION PROCESS
In The Culture Media

sua biomassa. Cada tratamento teve cinco repetições, dispostas em condições similares de aeração e
iluminação constante de 7.000 lux e temperatura a 24 °C.
A microalga N. oculata, obtida no cepário do próprio laboratório, foi cultivada inicialmente em tubos
de ensaio, sob iluminação artificial e submetida a fotoperíodo de 16 h de claro e 8 h de escuro. Após
passar por repicagem, a cepa foi mantida com meio Guillard F/2 (LOURENÇO, 2006) em salinidade 20
ppt, até alcançar um volume de trabalho de 2.500 mL de inóculo (para cada tratamento) necessário
para dar início ao experimento. Trabalhou-se com uma proporção de 500 mL de inóculo acrescidos de
4.500 mL de meio de cultivo (totalizando 5 L de volume, cada repetição).
O material utilizado no experimento foi devidamente esterilizado, sendo autoclavado a 121 °C.
Posteriormente, o meio de cultura foi preparado com as seguintes soluções-estoque: nitrato de sódio
(1 mL/L-1 de cultivo), fosfato monobásico de sódio (1 mL/L-1 de cultivo), silicato de sódio (1 mL/L-1 de
cultivo), metais traços (1 mL/L-1 de cultivo) e vitaminas (0,5 mL/L-1 de cultivo).

2.2 ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO DAS MICROALGAS

O cultivo foi estacionário e o crescimento das algas monitorado através de medida de densidade ótica
(DO680 nm) por espectrofotometria e relacionado com medida de peso-seco. Alíquotas de
aproximadamente 5 mL eram coletadas uma vez ao dia para acompanhar a multiplicação celular nos
cultivos.
Após o final do experimento, os resultados obtidos nas absorbâncias foram usados para montar a
curva de crescimento de cada tratamento.

2.3 RENDIMENTO DE BIOMASSA

Ao entrar na fase estacionária de crescimento, as microalgas foram floculadas com hidróxido de sódio
(NaOH 2N), sendo posteriormente levadas à estufa a 60 °C com circulação forçada de ar durante 24
horas. A biomassa seca foi determinada com o auxílio de balança analítica.

2.4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Os dados foram submetidos a uma análise de variância (ANOVA) e, quando foi observada diferença
significativa, utilizou-se o teste de Tukey para comparação de médias ao nível de 5%, utilizando a
função estatística do programa Microcal Origin versão 6.0.

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BIOMASS INCOME OF MARINE MICROALGAE Nannochloropsis Oculata SUBMITTED TO A NITROGEN SOURCE DEPLETION PROCESS
In The Culture Media

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 estão representadas as curvas de crescimento da microalga N. oculata cultivada com


variações na fonte de nitrogênio (em mg.L-1) contida no meio de cultura, durante o período de oito
dias. Nos três primeiros dias de cultivo, o tratamento com meio de cultura com menor quantidade de
nitrato de sódio (25 mg.L-1) apresentou crescimento melhor que os demais. Segundo PAES et al.
(2016), a disponibilidade de maiores concentrações de nutrientes tende a gerar um crescimento mais
rápido, especialmente se as culturas forem fornecidas com fontes de carbono. Porém os resultados
obtidos a partir da realização desse experimento mostram que a depleção de nitrato de sódio fez a
microalga N. oculata crescer mais rapidamente.

Figura 1: Absorbância média obtida ao longo de oito dias de cultivo. Onde T1: meio de cultivo com 75
mg.L -1 de nitrato, T2: meio de cultivo com 50 mg.L -1 de nitrato e T3: meio de cultivo com 25 mg.L -1
de nitrato.

T1 T2 T3

4,0
Rendimento de biomassa (em g/L)

3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
1 2 3 4 5 6 7 8
Dias de cultivo

Fonte: Dados do trabalho


Isso pode ser justificado pelo fato de que o nitrogênio desempenha um papel essencial no controle da
produtividade desses organismos e existe uma certa concentração de nitrogênio na qual a produção
de biomassa e lipídios pode ser maximizada e acumular energia na forma de lipídios, sob estresse de
reduzir a fonte de nitrogênio (DE LA HOZ et al., 2011). Pois apesar do rápido crescimento, o
rendimento final da biomassa foi inferior ao tratamento com meio de cultura com maior quantidade
de nitrato de sódio (75 mg.L-1).

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BIOMASS INCOME OF MARINE MICROALGAE Nannochloropsis Oculata SUBMITTED TO A NITROGEN SOURCE DEPLETION PROCESS
In The Culture Media

A Tabela 1 apresenta os valores do rendimento de biomassa em g/L, considerando os três


tratamentos. E, embora a curva de crescimento de T1 tenha sido mais discreta em relação à T3, o
tratamento com meio de cultura em maior quantidade da fonte de nitrogênio (75 mg.L -1) apresentou
melhor relação final de biomassa em g/L.
Tabela 1: Rendimento de biomassa com depleção de nitrato no meio de cultura

Nitrato de sódio (mg.L-1) 25 50 75

Biomassa (g/L-1) 2,38 2,47 2,65

Fonte: Dados do trabalho


Foi observado que o tratamento utilizando meio de cultivo com 75 mg.L-1 de nitrato (T1) apresentou
melhor rendimento de biomassa, resultando em uma média de 2,65 g.L-1. Enquanto a biomassa obtida
no tratamento utilizando meio de cultivo com 50 mg.L-1 de nitrato (T2) apresentou um peso médio de
2,47 g.L-1, e a biomassa obtida no tratamento utilizando meio de cultivo com 25 mg.L-1 de nitrato (T3)
apresentou um peso médio de 2,38 g.L-1.

4 CONCLUSÃO

Ao final do experimento, os resultados mostraram que a microalga marinha Nannochloropsis oculata


cresceu melhor e apresentou uma taxa de rendimento de biomassa satisfatório quando cultivada com
meio de cultivo Guillard F/2 composto por 75 mg.L-1 de nitrato (T1).

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142
BIOMASS INCOME OF MARINE MICROALGAE Nannochloropsis Oculata SUBMITTED TO A NITROGEN SOURCE DEPLETION PROCESS
In The Culture Media

REFERÊNCIAS

BELETTINI, F.; DERNER, R. B.; LA VINATEA. Utilização das microalgas Thalassiosira weissflogii e
Nannochloropsis oculata no cultivo de Litopenaeus vannamei em sistemas de berçários, sem
renovação de água. Atlântica, 33: p. 101-114, 2011.

DE LA HOZ SIEGLER, H.; BEN-ZVI, A.; BURRELL, R. E.; McCAFFREY, W.C. The dynamics of heterotrophic
algal cultures. Bioresource Technology, 102 (10): p. 5764-5774, 2011.

LOURENÇO, S. de O. Cultivo de Microalgas Marinhas: Princípios e Aplicações. Brasil: RiMa, 2006.

NORSKER, N. H.; BARBOSA, M. J.; VERMUË, M. H.; WIJFFELS, R. H. Microalgal production – a close look
at economics. Biotechnol Adv., 29: p. 24-27. 2011.

PAES, C. R. P. S.; FARIA, G. R.; TINOCO, N. A. B.; CASTRO, D. J. F. A.; BARBARINO, E.; LOURENÇO, S. O.
Growth, nutrient uptake and chemical composition of Chlorella sp. and Nannochloropsis oculata under
nitrogen starvation. Lat. Am. J. Aquat. Res. 44 (2): p. 275-292, 2017.

SALES, R.; ABREU, P. A. Use of natural pH variation to increase the flocculation of the marine
microalgae Nannochloropsis oculata. Appl Biochem Biotechnol., p. 1-8, 2014.

SCAGLIONI, P. T.; DE SOUZA, T. D.; SCHMIDT, C. G.; BADIALE-FURLONG, E. Availability of free and bound
phenolic compounds in rice after hydrothermal treatment. Journal of Cereal Science, v. 60, p. 526-532,
2014.

ZITTELLI, G. C.; LAVISTA, F.; BASTIANINI, A.; RODOLFI, L.; VINCENZINI, M.; TREDICI, M. R. Production of
eicosapentaenoic acid (EPA) by Nannochloropsis sp. cultures in outdoor tubular photobioreactors. J
Biotechnol., 70: p. 299-312, 1999.

112
143
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 12
10.37423/200601151

A FAUNA ACOMPANHANTE CAPTURADA NA


PESCARIA DO MAPARÁ (HYPOPHTHALMUS
MARGINATUS) NO MUNICÍPIO DE LIMOEIRO DO
AJURÚ, PARÁ

Flávia Roseira

Ádria Vulcão

Silmara Tavares

Laudiceia Costa

Adimilson Pereira

Bruno Ferreira

Carlos Holanda
A Fauna Acompanhante Capturada Na Pescaria Do Mapará (Hypophthalmus Marginatus) No Município De Limoeiro Do Ajurú,
Pará

O mapará (Hypophthalmus marginatus) é uma espécie comercialmente importante na região do baixo


Tocantins, mais especificamente na cidade de Limoeiro do Ajurú, onde a abertura da pesca é
reconhecida como patrimônio cultural e imaterial do Pará de acordo com o projeto de Lei n° 26/2017.
Este evento acontece no final do período de defeso da espécie, que vai de novembro ao final de
fevereiro. Junto com a espécie alvo capturada, vem uma quantidade considerável de fauna
acompanhante que merece destaque. Este trabalho objetivou a caracterização da fauna
acompanhante na pescaria do mapará (Hypophthalmus marginatus), no município de Limoeiro do
Ajurú. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas em órgãos municipais e acompanhamento
da abertura da pesca para observação. A captura é feita em forma de cerco chamado popularmente
de ‘borqueio’, com técnica de mergulho, sendo as embarcações utilizadas denominadas de rabetas. O
comprimento padrão da rede é de 200 metros, diâmetro da malha de 20 mm e abertura de malha de
5 cm, obtendo uma produção total de 84.051 kg. Cerca de 87,81% (73.805 kg) foram de captura do
mapará (Hypophthalmus marginatus) e 12,19% (10.246 kg) das espécies capturadas foram fauna
acompanhante, onde as que tiveram destaque na pescaria foram: tainha (Mugil brasiliensis)
(30,44%)(3.119 kg), Pescada Branca (Plagioscion squamosissimus) (4,67%)(478 kg), Sarda (Pellona
castelnaeana) (51,67%)(5.294 kg), Dourada (Brachyplatystoma flavicans)(9,71%) (995 kg) e Filhote
(Brachyplathystoma filamentosum) (3,51%) (360 kg), capturadas em sete áreas de manejo que são
comunidades com acordo de pesca cujos nomes são: Ilha Araraim, Amorosa, Ilha Saracá, Ilha Prainha,
Rio Piquiatuba, Rio Tucumanduba e Acordo Meio. Estas espécies tem importância comercial na região,
por isso são comercializadas. Juntamente com a espécie alvo capturada, outras espécies também de
relevante valor comercial para a região são retiradas, como a sarda (Pellona castelnaeana) e a pescada
branca (Plagioscion squamosissimus) que são igualmente aceitas e comercializadas nas feiras livres da
região.

Palavras-chave: Pesca, caracterização, baixo Tocantins.

113
145
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 13
10.37423/200601165

ISOLAMENTO DE FUNGO DO GÊNERO


CURVULARIA EM SISTEMA DE AQUICULTURA
MARINHA EXPERIMENTAL

Gabriel Domingos Carvalho

Flávia Regina Spago

André Batista de Souza

Henrique David Lavander


Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

RESUMO: Os sistemas intensivos de criação aquícola voltados para a piscicultura marinha têm sido
muito demandados para atender ao crescente aumento da cadeia produtiva de pescado para
alimentação humana. Sendo assim, a aquicultura marinha vem se destacando como uma possibilidade
de produzir pescado de qualidade para a população sem causar pressão sobres estoques pesqueiros
marinhos. Com a intensificação do cultivo de peixes, tem aumentado a observação de ocorrência de
doenças nesses organismos, o que além de comprometer a saúde desses animais, resulta em prejuízos
econômicos em função das mortes de indivíduos no plantel ou da diminuição da performance
zootécnica. Os fungos do gênero Curvularia são conhecidas por serem ubíquos, podendo ser isolados
a partir do solo, por serem saprófitos em diferentes substratos vegetais e muitas espécies são
fitopatogênicas. Entretanto, um pequeno número de espécies desse gênero pode, raramente, originar
doenças em animais, inclusive nos humanos. Em um sistema de aquicultura experimental registramos
a ocorrência de fungos do gênero Curvularia causando lesão cutânea em beijupirá (Rachycentron
canadum). Os peixes que apresentaram lesão com aspecto clínico sugestivo de lesão fúngica foram
isolados para coleta de material para análise microbiológica. A amostras foram cultivadas em estufa
de crescimento microbiológico à 25oC e todas as placas apresentaram crescimento fúngico com
aspecto e coloração semelhantes. Para a observação microscópica, foram coletadas amostras do
micélio, coradas e observadas ao microscópio de luz para identificação da morfologia das estruturas
reprodutivas. Após o isolamento microbiano e identificação microscópica, confirmou-se a suspeita
clínica de ser uma infecção fúngica. Apesar de pouco frequentes, as micoses causadas por fungos
Curvularia sp. devem ser consideradas dentre as dermatopatias fúngicas em peixes.

Palavras-chave: aquicultura, beijupirá, ictiopatologia.

114
147
Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

1. INTRODUÇÃO

O peixe é um dos alimentos de origem animal mais comercializados em todo o mundo. A pesca e a
aquicultura são importantes fontes de renda, alimento e nutrição para centenas de milhões de pessoas
ao redor do planeta. Organizações internacionais destacam o grande potencial e importância dos
oceanos e águas interiores, na provisão de alimento para uma população global esperada de 9,7
bilhões até 2050 (FAO, 2016).
A produção mundial de pescado foi de aproximadamente 178,5 milhões de toneladas em 2018, tendo
a pesca contribuído com 96,4 milhões de toneladas e a aquicultura com 82,1 milhões de toneladas,
representando aproximadamente 46% do total desta produção e apresentando um crescimento de
527% nos últimos 28 anos (FAO, 2020).
O Brasil se destaca na produção mundial de alimentos de origem animal e, cada vez mais os mercados
consumidores buscam alimentos seguros (ROSSI et al., 2014). Dentre os países com maior potencial
para pesca e aquicultura, o Brasil tem papel de destaque, em especial por sua disponibilidade hídrica,
clima favorável e ocorrência natural de espécies aquáticas que compatibilizam interesse zootécnico e
mercadológico (BRASIL, 2013). Apesar de seus níveis relativamente baixos de consumo de peixe, as
pessoas nos países em desenvolvimento têm uma maior participação de proteína de peixe em suas
dietas do que nos países desenvolvidos (FAO, 2018).
O pescado é um dos alimentos mais comercializado no mundo atual. Em 2016, cerca de 35% da
produção mundial de pescado entrou no comércio internacional em várias formas para consumo
humano ou fins não comestíveis, sendo o consumo aumentou, sendo estimado em 20,3 kg per capta
(FAO, 2018). O pescado é uma fonte de proteína de alto valor biológico, rica em ácidos graxos
insaturados e vitaminas, apresenta baixo teor de colesterol, constituindo uma opção de consumo mais
saudável do que as outras carnes (GONÇALVES, 2011).
De acordo com Luque (2004), houve um considerado aumento da relevância dos estudos relacionados
aos patógenos de organismos aquáticos, principalmente daqueles hospedeiros com potencial para o
cultivo e para a comercialização, mediante ao crescente aumento da aquicultura no Brasil e no mundo.
O conhecimento sobre as enfermidades piscícolas e os agentes causadores de infecções, e o estudos
das respostas que estes agentes produzem no hospedeiro é de grande importância para a produção
aquícola e a economia dos países produtores (BARROS et al., 2006).
O princípio básico da sanidade dos animais aquáticos continua sendo a consideração sobre as
interações entre hospedeiro, patógeno e ambiente. No entanto, estudos emergentes oferecem novas

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

formas de observar a interatividade dos patógenos com outros micro-organismos, que influencia ou
direciona na ocorrência de doenças nos peixes (STENTIFORD et al., 2017).

2. OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM SISTEMAS DE CULTIVO DE PEIXES

Os peixes podem ser acometidos por vários agentes causadores de doenças, tanto de origem
bacteriana, viral, fúngica e/ou parasitária, podendo colocar em perigo a saúde humana, haja vista que
algumas delas, especialmente as parasitárias, são zoonoses (OLIVEIRA, 2005). Em muitas doenças que
acometem os peixes, as manifestações clínicas são muito semelhantes entre si, raramente havendo
um quadro clínico bem caracterizado que seja indicativo de uma determinada doença (DE PÉREZ,
1999).
A ocorrência de doenças em peixes aumenta de forma relevante quando as densidades de estocagem
são elevadas ou quando as condições higiênico sanitárias são insuficientes. Desta maneira, os animais
ficam expostos ao estresse tornando-os debilitados e suscetíveis às doenças que podem vir
acompanhadas de elevada mortalidade (DE PÉREZ, 1999).
Para a instalação de doenças infectocontagiosas em um plantel, há necessidade de que seja deflagrado
um fator estressante desencadeador e esse quadro tem maior gravidade quanto mais debilitados
estiverem os animais. Embora a mortalidade seja o principal indicador de uma doença, esta vem
precedida de um quadro clínico de menor ou maior duração (DE PÉREZ, 1999).
Muitos dos fungos que afetam os peixes são considerados oportunistas, atacando-os quando estes
estão estressados ou imunocomprometidos, devido a condições ambientais desfavoráveis ou
secundariamente a infecções bacterianas ou virais, ou ainda quando perdem a proteção do muco
devido a trauma ou manuseio excessivo. Se algum desses fatores enfraquece o organismo dos peixes
ou lhes causa algum dano tecidual, os fungos podem infectar os peixes ou causar danos a sua saúde
(KLINGER e FRANCIS-FLOYD, 1996).

3. CULTIVO EXPERIMENTAL DE BEIJUPIRÁ

O beijupirá (Rachycentron canadum) é uma espécie pelágica migratória que ocorre em águas tropicais
e subtropicais (SHAFFER e NAKAMURA, 1989), sendo cultivada com sucesso em países como Taiwan
há algum tempo (LIAO et al., 2001). A atenção da aquicultura se voltou para essa espécie, pois ela
demonstrou se adaptar ao cultivo em tanques rede e apresenta boas desovas tanto naturais quanto
induzidas (FRANKS et al., 2001; ARNOLD et al., 2002), além disso apresenta uma alta taxa de
crescimento (CHOU et al., 2001), resistência a doenças e boa aceitação a dietas comerciais (SCHWARZ

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

et al., 2004), sendo considera a espécie mais promissora para piscicultura marinha (TRUSHENSKI et al.,
2011).
De acordo com Nunes, Madrid e Pinto (2014), o beijupirá é a espécie nativa que reúne um grande
número de características comuns a outras espécies aquáticas cultivadas comercialmente no Brasil.
Em função da grade área potencial para cultivo e do clima favorável, o Brasil se destaca como um país
com um enorme potencial para piscicultura marinha. Várias pesquisas têm sido realizadas para avaliar
o potencial para cultivo no Brasil, e o cultivo do beijupirá tem despertado o interesse de empresas
privadas nesta atividade, uma vez que essa espécie possui um pacote tecnológico já desenvolvido, o
que elimina várias etapas de pesquisas preliminares, passando a atenção para as adequações
necessárias à realidade brasileira (SAMPAIO et al., 2010).
O cultivo experimental de beijupirá no Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes Campus Piúma, é
realizado no Laboratório de Nutrição e Produção de Organismo Aquáticos (Lanpoa/Ifes - Campus
Piúma), sendo os exemplares juvenis de beijupirá (Figura 01) adquiridos de empresa comercial de
produção de alevinos de peixes marinhos, localizada no Estado de São Paulo.

Figura 01. Exemplares juvenis de beijupirá (Rachycentron canadum) em sistema de


cultivo experimental no Ifes Campus Piúma.

Os animais adquiridos são transportados em caixas próprias de transporte de peixes vivos, do Estado
do São Paulo até o Espírito Santo e, chegando ao Ifes - Campus Piúma, são aclimatados as condições
do laboratório e à alimentação experimental por aproximadamente uma semana.
O sistema de cultivo experimental é conduzido em 12 caixas circulares de polietileno com capacidade
de 1.000 litros, em um sistema de recirculação contínua e fechada contendo caixas para a filtragem
da água (através de processos físicos e biológicos), inclusive com sistema de filtro UV. O fluxo da água
(110 litros/hora em cada caixa) é mantido de forma constante, visando manter elevado o teor de
oxigênio e evitar possíveis mudanças bruscas na qualidade da água. Os parâmetros da água

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

(salinidade, oxigênio dissolvido (mg/L), temperatura (ºC), amônia (mg/L), pH e alcalinidade mg/L) são
monitorados e controlados diariamente, sendo consideráveis aceitáveis para a espécie, com uma
salinidade de 36±2, oxigênio dissolvido 6,76±0,22 mg/l, temperatura 26±0,5ºC, amônia 0,11±0,06
mg/l, pH 7,9±0,2 e alcalinidade 190±10 mg/L.
Ao término da aclimatação, os peixes são homogeneizados por peso e em seguida distribuídos em
unidades experimentais com 19 peixes cada. Os peixes são alimentados até a saciedade duas vezes
por dia. Para os procedimentos de biometria os peixes são anestesiados com eugenol e em seguida
pesados em uma balança analítica (±0,001g) e medidos com auxílio de paquímetro (± 0,01mm).
Foi observado, em alguns animais, o aparecimento de pequenas lesões individuais e circulares (1 a 2
mm), de caráter erosivo, na região dorsal, com aspecto clínico sugestivo de lesão fúngica (Figura 02).
Os animais, em fase inicial de criação, foram transferidos do tanque em que estavam para um aquário
de isolamento para coleta de material para análise microbiológica.
A amostragem retirada do plantel onde está implantado o quadro clínico, pode orientar o diagnóstico
ou assegurá-lo, baseando-se sempre nos parâmetros do meio ambiente (fatores físicos, químicos e
biológicos) e nos conhecimentos patológicos antecedentes deste plantel (DE PÉREZ, 1999).

Figura 02. Exemplar juvenil de beijupirá (Rachycentron canadum) apresentando, na região dorsal,
lesão circular com aspecto erosivo.

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

4. ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DO FUNGO CURVULARIA SP.

O diagnóstico de uma doença em piscicultura deve ser associado aos dados obtidos na anamnese e no
exame externo, ou por meio de necropsia e colheita de materiais para realização de exames
bacteriológicos, virológicos, micológicos, histopatológicos, hematológicos e parasitológicos, segundo
a suspeita clínica (DE PÉREZ, 1999).
Os animais em fase inicial de criação que estavam em isolamento apresentaram uma evolução clínica
da lesão em apenas 3 a 4 dias, lesões circulares ulcerativas (05 a 10mm), apresentando ao centro
material necrosado (Figura 03). Quatro animais foram selecionados para coleta de material para
análise microbiológica, sendo estes anestesiados com eugenol e, com o auxílio de um swab estéril, foi
feita a coleta de material diretamente sob a lesão.

Figura 03. Exemplar juvenil de beijupirá (Rachycentron canadum) apresentando, na


região dorsal, lesão circular ulcerativa, com região central com aspecto necrosado .

De acordo com De Pérez (1999) o diagnóstico de micoses em peixes pode ser feito utilizando-se
material das lesões superficiais que pode ser examinado a fresco, ou por meio de isolamento e o
cultivo utilizando-se meios seletivos adicionados de agentes antibacterianos.
As amostras coletadas diretamente dos peixes foram inoculadas em placas de Petri com meio de
cultura Ágar Batata Dextrose - BDA (Fórmula em gramas por litro de água destilada: Dextrose 2g;
infusão a partir de batatas 4g; ágar bacteriológico 15g. pH 5,6±0,2 a 25ºC). Foram feitas duas placas
para cada animal coletado. A amostras foram cultivadas em estufa de crescimento microbiológico à

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

25oC. Após 72h de cultivo, todas as placas já apresentaram crescimento de colônias com aspecto e
coloração semelhantes, com textura lanosa e coloração variando do verde escuro ao preto-
acinzentado (Figura 04). Para a observação microscópica das formas reprodutivas do fungo, as colônias
permaneceram em estufa de crescimento microbiológico à 25oC por mais de uma semana.
A morfologia de fungos do gênero Curvularia é realizada por observações macroscópicas e
microscópicas. As observações macroscópicas podem ser feitas em culturas incubadas a 25 °C ±1°C
em meio BDA, em placas de Petri por sete dias, para a observação da presença de conídios nos isolados
(MOURÃO et al., 2017).
Para a observação microscópica, foram coletadas amostras das colônias maduras, as quais foram
transferidas para lâminas de vidro, sendo fixadas por flambagem rápida sob a chama de uma
lamparina. Algumas lâminas foram coradas com solução de azul de toluidina a 1% e outras com solução
de lugol 5%, sendo visualizadas em microscópio de luz. A identificação do patógeno foi realizada por
meio da observação morfológica das estruturas reprodutivas do fungo. A análise microscópica revelou
a presença de hifas e conidióforos eretos, não ramificados (Figura 05) e conídios com de aspecto
ovoide, assimétricos, com septos e coloração escura (acastanhada) (Figura 06).

Figura 04. Placas de cultivo com colônias fúngicas de aspecto e textura lanosa, com
coloração variando do verde escuro ao preto-acinzentado, 72 horas (imagem à esquerda)
e uma semana (imagem à direita) após o cultivo.

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

Figura 05. Estruturas fúngicas de hifas e conidióforos eretos coradas com azul de
toluidina 1%. Aumento de 100X.

Figura 05. Estruturas fúngicas coradas com Lugol 5%, com conidióforos eretos, não ramificados
e conídios com de aspecto ovoide, assimétricos, com septos e coloração escura. Aumento de
400X.

Após o isolamento microbiano, confirmou-se a suspeita clínica de ser uma infecção fúngica. As
características macroscópicas das colônias que proliferaram nas placas, bem como as características
microscópicas das estruturas fúngicas observadas são compatíveis com as descritas em literatura para
os fungos do gênero Curvularia. A identificação desse agente é baseada principalmente na observação
de suas características morfológicas, macroscópicas e microscópicas, levando-se em consideração as

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

características das colônias, os aspectos dos micélios, morfologia das hifas, formas e tamanho dos
conídios (MOURÃO et al., 2017).
De acordo com Lima e Furtado (2007), o reconhecimento das principais características morfológicas
do gênero Curvularia é relativamente fácil, no entanto, a identificação em nível de espécie pode ser
complicada pelas descrições vagas e ausência de ilustrações em trabalhos mais antigos, inconstância
de características morfológicas e microscópicas dos conídios.
A caracterização morfológica das colônias é feita com base no aspecto cotonoso do micélio, bordos
das colônias (regulares), coloração da colônia escura (preto, verde musgo ou cinza), reverso da colônia
com pigmentação escura, presença ou ausência de micélio sob o meio de cultura e também presença
ou ausência de conídios em BDA, após sete dias de cultura, sendo a caracterização microscópica é
realizada pela observação dos conídios (FERREIRA, 2010; MOURÃO et al., 2017).
Com relação à caracterização morfológica ao microscópio, a presença do hilo pode variar entre os
isolados, assim como o número de septos pode variar de dois a três, sendo que os conídios apresentam
o formato curvado (MOURÃO et al., 2017). Estudos realizados por Ferreira (2010), empregando uma
série de isolados de Curvularia, mostrou que algumas características do gênero, tais como conídio liso
ou verrugoso; hilo (presente, ausente ou indistinto), quatro ou cinco células; conídio elipsoide
cilíndrico, curvado ou não, e a formação de clamidósporos, sugeriram a existência de diferentes
espécies, intergrupos e intragrupos. Dessa forma, Ellis (1971) apud Mourão et al. (2017) descreveu a
espécie Curvularia lunata com as seguintes características: conidióforos eretos com coloração
marrom, podendo ser simples ou ramificados, em linha reta ou curva, apresentando conídios na parte
apical e lateral do conidióforo, 3 a 4 células com duas células centrais, coloração marrom, curva maior
nas penúltimas células, e hilo presente na maioria das vezes (MOURÃO et al., 2017).
O diagnóstico clínico e anatomopatológico de doenças fúngicas raramente são específicos porém,
permitirem a intervenção do médico veterinário para propor medidas terapêuticas ou profiláticas de
emergência (DE PÉREZ, 1999). Dos quatro animais cujas amostras foram obtidas para o cultivo e
isolamento fúngico, dois foram tratados com banho único de solução de formol 1:4000, durante 30
minutos e dois foram tratados com banho único de solução azul de metileno por 60 minutos. Mesmo
com a tentativa de tratamento, os animais não resistiram e vieram a óbito em 24-48h depois dos
banhos terapêuticos. Outros dois animais não tratados também evoluíram naturalmente para o óbito
em aproximadamente sete dias após os primeiros sinais clínicos. Ribeiro et al. (2014) consideram que
beijupiras cultivados em condições de salinidades mais baixas desenvolvem sinais de infecção por
fungos resultando em mortalidades após o 10º dia.

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

Segundo Sivanesan (1987) apud Lima e Furtado (2007) os fungos do gênero Curvularia Boedijn, 1933,
constituem um grupo com elevado número de espécies identificadas, sendo a maioria dos táxons
conhecida como saprófitos em diferentes substratos vegetais e no solo, sendo muitas espécies
fitopatogênicas, sobretudo em gramíneas de regiões de clima tropical e subtropical. Raramente os
fungos deste gênero podem ocasionar doenças em animais, incluindo os humanos, causando
infecções cutâneas, córneas (onicomicoses), problemas respiratórios e, raramente, problemas
sistêmicos (CARTER e BOUDREAUX, 2004). Antoniassi et al (2010) relataram a ocorrência de infecção
oportunista cutânea (feohifomicose) em um equino que apresentava dois nódulos cutâneos, um deles
ulcerado, cujo cultivo micológico revelou o crescimento fúngico de Curvularia sp.

5. OCORRÊNCIA DE CURVULARIA SP. EM SISTEMA DE CULTIVO DE PEIXES

Estudos realizados por Refai et al. (2010) com exemplares nativos de tilápia (Oreochromis sp.) e bagre-
africano (Clarias gariepinus), coletados em diferentes regiões do Egito, possibilitou o isolamento de
fungos pertencentes aos gêneros Saprolegnia, Aspergillus, Fusarium, Mucor, Penicillium, Rhizopus,
Scopulariopsis, Paeciliomyces e Curvularia.
No Nordeste do Brasil, no Estado do Piauí, estudos realizados por Nunes et al. (2015) isolaram fungos
dos gêneros Alternaria, Aspergillus, Cladosporium, Curvularia, Eurotion, Fusarium e Penicillium em
amostras de tilápias (Oreochromis sp.) cultivadas em viveiros de água doce. Os autores consideraram
que os fungos encontrados poderiam ser de origem ambiental ou por meio de contaminantes da
ração, sendo os fungos do gênero Curvularia também isolados na água e no substrato dos viveiros
(NUNES et al., 2015).
Araújo et al. (2010) identificaram a ocorrência de fungos de campo e de armazenamento em
ingredientes e ração para tambaqui (Colossoma macropomum), dentre eles fungos dos gêneros
Trichoderma, Curvularia e Cladosporium contaminam os grãos durante o cultivo, proliferam em maior
intensidade na massa de grãos no período pós-colheita.
Fungos do gênero Curvularia são cosmopolitas e podem estar associados às espécies vegetais na forma
saprofítica, endofítica ou parasitária. Espécies deste gênero são responsáveis por diversas doenças em
plantas cultivadas, inclusive o milho (MOURÃO et al., 2017), sendo possível essa relação de
contaminação da matéria prima da ração dos peixes por esse fungo (ARAÚJO et al., 2010), o qual que
pode proliferar no ambiente aquático de cultivo como relatado por Nunes et al. (2015).
A contaminação da água dos viveiros pode refletir a contaminação fúngica nos peixes cultivados e no
substrato possui maiores contagens de fungos do sistema de cultivo, provavelmente pela deposição

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

de resíduos vegetais e de ração na parte inferior dos viveiros. A dinâmica das águas pela ventilação
natural ou pela aeração mecânica pode favorecer a distribuição dos fungos no sistema de cultivo.
Outro fator que deve ser levado em consideração na contaminação fúngica é a utilização de
equipamentos entre viveiros de fases diferentes. A contaminação por fungos varia conforme as
características individuais de manejo de cada propriedade, portanto, não é possível estabelecer um
comportamento padrão (NUNES et al., 2015).
Alguns autores consideram que, embora a maioria dos fungos isolados de peixes seja considerada por
vários autores como uma micoflora normal, muitos destes fungos podem causar infecções naturais,
sendo possível confirmar pela presença de elementos fúngicos nas lesões dos peixes infectados (REFAI
et al., 2010).
Segundo Tortora et al. (2012), os peixes podem conviver com patógenos sem que eles causem doença,
porém em condições estressantes, o que geralmente ocorre nas instalações de cultivo, o sistema
imunológico do peixe pode ser comprometido e haver um desequilíbrio entre as defesas naturais do
animal e as características do micro-organismo de produzir doença.
É recomendado para as etapas iniciais de desenvolvimento do beijupirá, que os animais sejam
mantidos em tanques de cultivo com regime de recirculação de água constante, em sistema fechado
ou semiaberto. Em estudos realizados por Nunes et al. (2014), foi observado que fortes e frequentes
trocas de água, em regime aberto, possui um potencial risco de introdução de patógenos no sistema
de cultivo, estressando os animais e ainda que, a matéria orgânica acumulada, também deve ser
considerada como medida para evitar uma deterioração dos parâmetros de qualidade de água e
potencial fonte de doenças e estresse para os animais.
Outro fato a se considerar, de acordo com Souza (2017), é que quando os exemplares juvenis de
beijupirá são submetidos a qualquer restrição alimentar, estes vão apresentar perdas significantes no
peso e não vão apresentar ganho compensatório quando as condições normais forem estabelecidas,
o que pode deixá-los mais susceptíveis.
Doenças de etiologia bacteriana, fúngica e viral já foram reportadas em beijupirá (McLEAN et al., 2008)
mas, não há registros de processos patológicos com fungos do gênero Curvularia. Apesar de pouco
frequentes, as micoses causadas por fungos Curvularia sp. devem ser consideradas dentre as
dermatopatias fúngicas em peixes de cultivo.
O beijupirá, como qualquer outra espécie aquática cultivada, é susceptível a doenças de ordem
bacteriana, fúngica, viral e parasitária (ARAÚJO et al., 2014). Andrade et al. (2014) destacam que há
uma maior incidência de doenças parasitárias em beijupirá, que pode ser explicada pelo fato de que

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

existe uma alta diversidade de parasitas que ocorrem em águas pelágicas e que usam a comunidade
zooplanctônica como hospedeiro intermediário. Esta espécie também é susceptível a ação de agentes
etiológicos não infecciosos, de origem nutricional, os quais podem comprometer o desempenho
zootécnico dos animais, influenciar indiretamente a patogenia de doenças infecciosas ou ainda causar
perdas diretas aos cultivos (ARAÚJO et al., 2014). As características e os sintomas das doenças
infecciosas e não infecciosas no beijupirá são semelhantes, sendo necessário mais de um método para
obter o diagnóstico definitivo (ANDRADE et al., 2014).
Como o beijupirá é um recente candidato à piscicultura, há dificuldades para cultivá-lo relatadas nas
áreas de diagnóstico de doenças, prevenção, controle de patógenos e pesquisas sobre sanidade do
peixe (CAVALLI et al., 2011). Andrade et al. (2014) consideram que uma das razões apontadas para a
de desistência de investimentos em projetos pilotos de cultivo de beijupirá deve-se ao aparecimento
de enfermidades e a ausência do conhecimento dos patógenos específicos, destacando a importância
para o desenvolvimento de protocolos de boas práticas de manejo, biossegurança, desinfecção e
melhoramento dos reprodutores livres de enfermidades especificas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em sistemas de cultivo intensivo as condições devem ser muito bem monitoradas pois, em função das
características inerentes a esse tipo de criação, os animais se tornam mais suscetíveis ao
acometimento por organismos patogênicos. O meio aquático é propício para a ocorrência de muitos
agentes patogênicos para os peixes, o que representa um ponto crítico devido aos riscos que podem
ser gerados na saúde animal. Apesar de pouco frequentes, as micoses causadas por fungos Curvularia
sp. devem ser consideradas dentre as dermatopatias fúngicas em peixes de cultivo.
O conhecimento sobre boas práticas de manejo, biossegurança e a identificação dos riscos envolvidos
com à ocorrência de doenças em peixes é extremamente necessário em sistemas de criação,
principalmente em sistemas de cultivo intensivo. Os profissionais que trabalham diretamente com o
cultivo aquícola, seja com a finalidade de produção de pescado ou experimentalmente - para fins de
ensino ou pesquisa científica, devem conhecer as particularidades e singularidades do sistema de
produção intensiva e identificar os pontos de críticos e de risco para a ocorrência de doenças nos
peixes, bem como conhecer as ferramentas ideias para identificação e diagnóstico de patógenos.

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Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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127
160
Isolamento De Fungo Do Gênero Curvularia Em Sistema De Aquicultura Marinha Experimental

NUNES, Lourena Paz Soares; CARDOSO FILHO, Francisco das Chagas; COSTA, Amilton Paulo Raposo;
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128
161
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 14
10.37423/200601166

PRINCIPAIS CAUSAS DE ACIDENTES DE


TRABALHOS EM PESCADORES ARTESANAIS DO
RIO MARACAPUCÚ - PALMAR, ABAETETUBA-PA

Welbert Souza
Principais Causas De Acidentes De Trabalho Em Pescadores Artesanais Do Rio Maracapucú Palmar, Abaetetuba-Pa.

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo diagnosticar as principais causas de acidentes de trabalho
em pescadores e pescadoras artesanais do rio Maracapucú Palmar no município de Abaetetuba-PA.
Foram incluídos neste estudo 47 trabalhadores da pesca artesanal, sendo 31 homens e 16 mulheres.
Para aquisição dos dados foram aplicados formulários semi estruturados individuas com perguntas
relacionadas aos acidentes sofridos por estes trabalhados durante suas atividades laborais. O local foi
escolhido pelo fácil acesso e pelo fato da comunidade ser bastante acessível e solicita às pesquisas.
Pôde-se observar que mais da metade dos trabalhadores envolvidos nos estudos já sofreram algum
tipo de acidente de trabalho e que, de maneira geral buscaram apenas tratamento alternativo à
procura de atendimento mais especializado. As excessivas jornadas de trabalho e a falta do uso de
equipamento de proteção individual e coletivo aumentam os riscos e dificultaram a minimização das
consequências desses acidentes. Observou-se que os acidentes ainda se apresentam com bastante
frequência entre os trabalhados da pesca artesanal nesta comunidade prejudicando assim a saúde dos
mesmos e o bom desenvolvimento de suas atividades.

Palavras-Chave: Saúde; Trabalhadores; Pesca.

129
163
Principais Causas De Acidentes De Trabalho Em Pescadores Artesanais Do Rio Maracapucú Palmar, Abaetetuba-Pa.

1- INTRODUÇÃO

No Brasil os acidentes de trabalho continuam sendo um dos grandes problemas em empresas e


ambientes de trabalho, configurando sérios problemas de saúde e comprometimento da produção.
Desta forma, em 2013 a Organização Internacional do Trabalho (OIT), identificou que 2,3 milhões de
pessoas morrem por ano em decorrência de acidentes de trabalho e 860 mil pessoas sofrem algum
ferimento no trabalho todos os dias. Os custos dessas ocorrências são alarmantes, sendo estimados
em 2,8 trilhões de dólares por ano. A OIT destaca o Brasil como um país que contribui
significativamente para essa estatística, com mais de 700 mil acidentes e adoecimentos relacionados
ao trabalho por ano - o país ocupa o quarto lugar do ranking mundial de acidentes de trabalho com
óbito, ficando atrás apenas da China, Estados Unidos e Rússia. Esses acidentes trazem consequências
para o trabalhador, famílias e a economia do país onerando os cofres púbicos com tratamentos,
pagamento de seguros, benefícios e aposentadorias por invalidez.
A pesca é uma das atividades laborais mais desgastantes e perigosas, em especial a industrial devido
ao longo tempo nas atividades e a complexidade de seus equipamentos, bem como a fiscalização
inadequada e falta de treinamento e capacitação mais eficiente dos trabalhados, além das longas
jornadas de trabalho. Mesmo que em uma menor escala quando comparada com a pesca industrial, a
pesca artesanal também apresenta esses mesmos problemas. A poluição das águas, a pesca
extrativista indiscriminada, desrespeito aos períodos de defeso dificultam o acesso aos recursos
naturais. Essas alterações no ambiente se mostram como um importante fator de risco para a
ocorrência de acidentes na categoria (NETO et al., 2005).
O local deste estudo esta incluído na região das ilhas de Abaetetuba e faz parte da secretaria da
colônia de pescadores Z14. Ainda de acordo com o público alvo deste estudo a alguns anos atrás era
possível viver somente da pesca, porém, nos dias de hoje isso se tornou muito difícil para maioria. A
pressão cada vez maior sobre os estoques pesqueiros, pesca indiscriminada, métodos e equipamentos
de pesca não seletivos exigem um maior esforço e consequentemente maior tempo e gastos nas
pescarias, aumentando inclusive os custos de produção do produto, podendo tornar em alguns casos
a atividade inviável para alguns,. Portanto o objetivo deste trabalho é identificar as causas mais
frequentes de acidentes de trabalho em pescadores e pescadoras artesanais do Rio Maracapucú
Palmar, Abaetetuba-PA,

2- MATERIAL E MÉTODOS

130
164
Principais Causas De Acidentes De Trabalho Em Pescadores Artesanais Do Rio Maracapucú Palmar, Abaetetuba-Pa.

A decisão na escolha dos pescadores e pescadoras do Rio Maracapucú Palmar para fazerem parte
deste estudo ocorreu devido ao fato de possuir muitos trabalhadores da pesca artesanal, pelo fácil
acesso a esta comunidade e maior aproximação com as pessoas desta localidade, visto que sempre
que solicitados contribuíram com pesquisas de maneira geral. A metodologia utilizada foram
entrevistas através de formulários semi estruturados individuais e adaptados na metodologia de Neto
et al (2005).
A pesquisa teve a participação dos alunos do curso Técnico em Pesca do IFPA-Campus Abaetetuba
com coleta e tratamento dos dados bem como confecção dos gráficos e analise dos resultados. O
Período de coleta foi de 7 a 9 de fevereiro de 2013. Foram envolvidos neste estudo 47 trabalhadores,
sendo 16 pescadoras e 31 pescadores e para tratamento dos dados foi utilizado o Microsoft Excel.

3- RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 1 mostra os valores percentuais das causas de acidentes de trabalho em pescadores e


pescadoras da comunidade do Rio Maracapucú Palmar em Abaetetuba-PA para o ano de 2013. Dos 47
pescadores e pescadoras e envolvidos na pesquisa 27 sofreram um ou mais acidentes durante suas
atividades laborais totalizando 39 acidentes no total. Destes, observa-se na figura que 53,8% dos casos
corresponderam a ferrada por arraias. As arraias, em especial as de água doce, vivem no fundo dos
rios e costumam se defender quando pisadas ou seguradas de maneira inadequada. Os rios da região
de Abaetetuba são caracterizados por possuir águas barrentas e pouco transparentes devido a grande
quantidade de sedimentos presentes, dificultando assim a visualização desses animais pelos
pescadores, portanto os acidentes em geral ocorrem no momento em que precisam entrar na água
para o lançamento ou retirada de apetrecho de pesca como redes, malhadeiras, matapí, entre outros.
Uma maneira de minimizar este problema seria, em algumas situações, o uso de botas adequadas,
além do ato de andar arrastando os pés dentro d’água para evitar pisar em cima do animal e ser
atingido pelo ferrão.

131
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Principais Causas De Acidentes De Trabalho Em Pescadores Artesanais Do Rio Maracapucú Palmar, Abaetetuba-Pa.

Ferrada de Arraia
Causas dos Acidentes de Trabalho (%)
2,6 2,6
Outro animal
aquático

Queda na
embarcação
28,2
Corte ou furada
(faca, facão, anzol,
53,8 tala, etc.)
Afogamento
5,1

7,7 Queimaduras

Figura 1. Causas de acidentes de trabalho em pescadores artesanais do Rio Maracapucú Palmar,


Abaetetuba-PA.

Segundo relatos dos próprios pescadores, geralmente eles não procuram ajuda médica quando
atingidos por ferrão de arraia devido a distância e dificuldade de chegar na cidade, associados ainda
as dificuldade do acesso ao serviço de saúde pública eles preferem tratamento alternativos feito em
casa. No entanto atitudes como estas podem causar seria sequelas devido à possibilidade de necrose
do membro atingido e sua possível amputação. De acordo com Sá-Oliveira et. al., (2011), num
trabalho sobre acidentes com arraia em quatro comunidades da Área de Proteção Ambiental-APA do
rio Curiaú, Macapá-AP, 77,28% das vítimas procuraram atendimento médico, porém nenhuma delas
sabe informar se seus casos foram notificados pela unidade de saúde que foram atendidas.
Depois se observa, com 28,2% dos casos, os acidentes com cortes ou furadas de faca, facões, anzóis e
talas, equipamentos que frequentemente são utilizados pelos pescadores e pescadoras e que na
maioria das vezes sem a utilização de equipamentos de proteção como luvas, por exemplo, que
minimizaria as consequências desses acidentes. Acidentes com outros animais aquático
corresponderam a 7,7% dos casos. Segundo os próprios pescadores eles nunca receberam nenhum
tipo de treinamento de prevenção de acidentes e uso correto de equipamentos de proteção por parte
dos órgãos competentes e prefeitura. Caso isso ocorresse poderia diminuir o numero de acidentes
sofrido por estes trabalhadores.
Em quarto lugar em número de acidentes foram as quedas na embarcação com 5,1% dos casos. Em
geral o piso das embarcações é improvisado, a iluminação das mesmas inadequadas e sem lugar
definido para o armazenamento dos apetrechos de pesca que ficam espalhados pelas embarcações e

132
166
Principais Causas De Acidentes De Trabalho Em Pescadores Artesanais Do Rio Maracapucú Palmar, Abaetetuba-Pa.

área de circulação e assim aumentando o risco de escorregões e quedas. Outro fator que contribui
para o aumento dessa causa de acidentes são as águas agitadas dos rios da região em determinados
momentos de fortes precipitações e situações de tempestades provocadas pela comum presença de
sistemas atmosféricos de grande escala na região no período chuvoso, mas também com ocorrências
ocasionais no período menos chuvoso provocados por fortes precipitações geralmente oriundas de
efeitos locais.
Em menor número de ocorrências podemos observar os acidentes de afogamento e queimaduras,
ambos com 2,6% dos casos. O primeiro geralmente decorrente de queda na água em diversas
situações já citadas, além do uso de bebidas alcóolicas em excesso e drogas ilícitas com argumento de
ajudar a enfrentar longas jornadas de trabalho. As queimaduras, em geral provenientes de fontes de
calor desprotegidas como, por exemplo, as partes do motor da embarcação e cozinha improvisadas e
em situação precária. A maioria dos entrevistados enfatizou também que as longas jornadas de
trabalho geram cansaço e contribuem para ocorrência destes acidentes.
A figura 2 mostra os valores percentuais das partes do corpo mais atingidas pelos acidentes de
trabalho sofridos por pescadores e pescadoras do Rio Maracapucú Palmar, em que podemos observar
que 63% dos indivíduos que fizeram parte da pesquisa tiveram os membros inferiores atingidos por
esses acidentes. Podemos associar este resultado ao fato de os casos mais frequentes de acidentes
terem sido a ferrada de arraia, que em geral ocorrem nos membro inferiores pelos motivos já
explicados na figura 1. Segundo Calazans et. al., (2018), em estudo sobre acidentes de trabalho em
Pescadores Artesanais do Litoral de Alagoas as regiões anatômicas mais atingidas pelas lesões,
segundo os entrevistados, foram os membros superiores e os principais causados desses acidentes
foram os bagres, mostrando que os resultados de estudos similares podem variar de acordo com o
local estudado e espécies existentes.
Em segundo lugar observam-se os membros superiores como os mais atingidos com valor de 22%,
podendo também ser explicado e associado com resultado mostrado na figura 1, visto que cortes ou
furadas com faca, fação, anzol e tala apareceram em segundo lugar como causas dos acidentes de
trabalho. Como estes objetos são normalmente utilizados com as mãos e geralmente sem o uso de
equipamentos de proteção, esses membros claramente estarão mais vulneráveis durante a execução
destas ações.

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167
Principais Causas De Acidentes De Trabalho Em Pescadores Artesanais Do Rio Maracapucú Palmar, Abaetetuba-Pa.

Região do Corpo Atingida (%)

Membros inferiores
11,1
3,7
Membros
superiores

Cabeça
22,2

63,0
Outros

Figura 2. Partes do corpo mais atingidas pelos acidentes.

Com 11, 1% aparecem as outras regiões do corpo atingidas por estes acidentes. Podemos citar, por
exemplo, o peito, costas, pescoço, entre outros, que nestes casos podem ocorrer devido queda na
embarcação durante as pescarias ou em caso de mar agitado devido ao piso escorregadio e
deslocamento dos trabalhadores na embarcação, associados a objetos e apetrechos de pesca
armazenados em locais inadequados e o não uso de botas antiderrapantes, por exemplo, aumentando
ainda mais os riscos de acidentes. E em menor número observa-se como membro atingido pelos
acidentes a cabeça com apenas 3,7%.

4- CONCLUSÃO

Conclui-se que a maiorias dos trabalhadores entrevistados do Rio Maracapucu Palmar já sofreram
algum tipo de acidentes de trabalho e que em geral não procuram assistência medica especializada,
sendo a principal causa a ferrada de arraia e os membros inferiores como mais atingidos.
As longas jornadas de trabalho e a falta do uso de equipamentos de proteção contribuíram para
ocorrência destes acidentes, além da falta de treinamento de prevenção de acidentes e uso correto
de equipamentos de proteção por parte dos órgãos competentes e prefeitura.
O uso excessivo de bebidas alcoólicas e de drogas ilícitas contribuiu com ocorrência de acidentes,
assim como precariedade de instalações nas embarcações como falta de proteção de motor e cozinhas
improvisadas.

134
168
Principais Causas De Acidentes De Trabalho Em Pescadores Artesanais Do Rio Maracapucú Palmar, Abaetetuba-Pa.

5- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CALAZANS E.M., SILVA E.M., LIRO J.S., SAMPAIO C.L.S. 2018. Pescadores Artesanais do Litoral de
Alagoas: Socioeconomia e Acidentes de Trabalho Envolvendo Organismos Marinhos. Revista Portal:
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NETO. D. G; CORDEIRO. R. C; JR. V. H. Acidentes do trabalho em pescadores artesanais da região do


Médio Rio Araguaia, Tocantins, Brasil. Caderno de Saúde Pública, 2005, Rio de Janeiro, v. 21 n.3, p 795-
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Genebra: OIT; 2013.

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2, p. 74-78, 2011.

135
169
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 15
10.37423/200601173

PERFIL SOCIECONÔMICO DOS PESCADORES DE


MONTE ALEGRE, PARÁ

Edvane de Lourdes Pimentel Vieira

Arthur Cássio de Sousa Cardoso

Charles Hanry Faria Junior


Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi caracterizar o perfil socioeconômico dos pescadores das
comunidades de Pariçó, Jussarateua e Jurunduba, Monte Alegre, Pará, de forma a fornecer subsídios
para a compreensão da organização e importância da atividade pesqueira nessa região. O estudo foi
conduzido de dezembro de 2015 a dezembro de 2016. Os dados foram coletados durante entrevistas
com o auxílio de formulários semi-estruturados e analisados com técnicas da estatística descritiva.
Foram entrevistados o total de 74 pescadores, predominantemente do gênero masculino, com idades
que variam entre 23 a 81anos, onde 59,72% declararam atuar na pesca desde os 6 aos 17 anos. Em
todas as comunidades o grau de escolaridade predominante dos entrevistados é o Ensino
Fundamental incompleto e a pesca é a principal fonte geradora de renda dos entrevistados, em
conjunto com atividades como a agricultura e pecuária ou beneficiamento de produtos provenientes
destas atividades, sendo a maior média de renda familiar constatada na comunidade Pariçó. Conclui-
se que sendo a atividade da pesca indicada como a maior fonte de renda por todos os entrevistados,
mudanças ambientais ou econômicas com impacto sobre a atividade tornam os pescadores mais
vulneráveis, dado que a dependência econômica dos pescadores é considerável, principalmente
daqueles que atuam exclusivamente na pesca.

Palavras-chave: Pesca; Amazônia; Idade; Escolaridade; Fonte de renda.

136
171
Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

INTRODUÇÃO

Na Amazônia a pesca artesanal representa uma das atividades mais tradicional desse território,
desempenhando papel importante na economia e no processo de ocupação humana na região sendo,
portanto um elemento de notável expressão da cultura regional e depositária de informações
essenciais sobre a dinâmica das relações dos envolvidos na atividade pesqueira e o ambiente aquático
explorado (SANTOS e SANTOS, 2005; LIMA e BATISTA, 2012).
A pesca artesanal pode ser definida como atividade comercial efetivada pelo pescador profissional
que trabalha de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção
próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de pequeno
porte (BRASIL, 2009; OLIVEIRA e SILVA, 2012). A atividade pesqueira na Amazônia brasileira
movimenta cerca de 400 milhões de reais (ALMEIDA et al., 2004), com o envolvimento de
aproximadamente 368 mil pescadores e uma produção estimada em 166.477 toneladas (t) de
pescado. Salienta-se ainda que a pesca comercial e a pesca de subsistência representam a maior fonte
de geração de empregos do setor (McGRATH et al., 2004).
O conhecimento do perfil sócio-econômico dos pescadores artesanais e a estrutura organizativa da
pesca em pequenas comunidades quase sempre são negligenciados nas pesquisas pesqueiras,
entretanto, tais estudos são relevantes para implementação de medidas de manejo dos estoques,
assim como para o desenvolvimento econômico destas populações (WALTER, 2000; SILVA et al., 2009).
Há a necessidade de integração do pesquisador com a comunidade de pescadores, pois não se pode
analisar o instrumento de captura separado de quem o utiliza, dado que a retirada de biomassa pela
atividade pesqueira não é um processo meramente tecnológico e também não é independente de
variáveis culturais (SILVA et al., 2009). A falta de informações a respeito das comunidades pesqueiras
dificulta consideravelmente o estabelecimento de uma efetiva política pública de ordenamento da
atividade (FURLAN et al., 2016). Esses trabalhos têm grande relevância para o entendimento da pesca
na Bacia Amazônica, no entanto, há uma lacuna de informações sobre a importância socioeconômica
desta atividade para as comunidades ribeirinhas que dependem diretamente deste recurso.
No tocante à alimentação, Cerdeira et al. (1997) ao realizar um estudo sobre o consumo de pescado
em comunidades de Monte alegre, Pará, constatou que os ribeirinhos apresentam um dos mais altos
valores de consumo do pescado, entre 380 e 600 gramas per capita por dia, principalmente para
famílias com membros de pescadores. Na geração de renda, onde a maioria se dedica em tempo
integral ou parcial, a pesca tem fator determinante na relação desses ribeirinhos com o meio em que
vivem (DIEGUES, 2000).

137
172
Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

A rede hidrográfica do Município de Monte Alegre é composta pela bacia do Rio Maicuru, além do rio
Amazonas, os rios de menor porte como o Cauaçu somente navegável na época das cheias, por
embarcações de pequeno porte. O rio Gurupatuba, percorrendo a cidade de Monte Alegre pelo lado
sul, é desaguadouro do lago do mesmo nome. O rio Gurupatuba é navegável em toda época do ano
para embarcações de pequeno e médio portes, além de ser muito utilizado pela população local, para
atividades de pesca (SILVA, 2008). As comunidades Pariçó, Jurunduba e Jussarateua, assim como
muitas comunidades ribeirinhas da Amazônia, se estabeleceram próximo aos principais corpos
hídricos como forma de conjugar as atividades de subsistência com o território ocupado (LIRA e
CHAVES, 2015). Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi levantar informações que
caracterizem o perfil socioeconômico dos pescadores das comunidades de Monte Alegre, Pará, e que
possam fornecer subsídios para a compreensão da organização e importância da atividade nessa
região.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi conduzido de dezembro de 2015 a dezembro de 2016, em três comunidades: Pariçó,
Jussarateua e Jurunduba (Figura 1), situadas no município de Monte Alegre, localizado na porção
noroeste do Estado do Pará (Figura 2), mais especificamente na Mesorregião do Baixo Amazonas.

Figura 1 - Imagem de satélite das comunidades Pariçó, Jurunduba, Jussarateua em Monte Alegre,
Pará. Fonte: Google Earth.

138
173
Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

Figura 2- Imagem de satélite do município de Monte Alegre, Pará. Fonte: Google Earth.
A identificação dos participantes da pesquisa (e o recrutamento desses sujeitos) aconteceu conforme
a técnica metodológica conhecida como “Bola de Neve” ou, ainda, como “cadeia de informantes”
(PENROD et al., 2003). O contato inicial nas comunidades foi executado através de visitas informais
nas residências dos entrevistados, com o intuito de esclarecer os objetivos da pesquisa, conhecer as
famílias e identificar os pescadores residentes. Em seguida, foram realizadas entrevistas auxiliadas por
formulários semi-estruturados para a obtenção dos dados primários relativos ao perfil
socioeconômico dos pescadores (sexo, idade, naturalidade, estado civil, escolaridade, tempo de
profissão, renda familiar, número de dependentes e outras atividades desenvolvidas como forma de
complementação de renda). Os dados coletados foram armazenados em planilha eletrônica e
posterior análise dos dados, sendo os resultados apresentados mediante o emprego de ferramentas
da estatística descritiva (REIS, 1998; MILONE, 2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistados 75 pescadores distribuídos nas comunidades Pariçó, Jussarateua e Jurunduba


com idades que variam entre 23 a 81 anos, média de 48,05 ± 13,57, com amplitude e média variando
entre as comunidades (Tabela 1). Quando a idade do pescador é cruzada com tempo que atua na
pesca, foi possível observar a inserção desde os 6 anos de idade (1,38%), com pico aos 10 anos (9,72%).
Se analisadas dos 6 aos 17 anos, representam 59,72% do universo amostral. Essa grande amplitude na
faixa etária e o tempo que atua na pesca (média entre 23,67 e 35,06) indicam que a atividade é

139
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Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

exercida por diferentes gerações, e sugere que a transferência de aprendizado da atividade é passada
de pai para filho (SANTOS et al., 2011).
Entre os entrevistados predominam homens (91,90 %), porém na comunidade de Jurunduba se
observa uma maior participação feminina (26,67%) (Tabela 1), esta diferença pode estar relacionada
não com a quantidade efetiva de pescadoras atuantes na atividade, e sim com a indicação pelo método
“Bola de neve”, pois pescadores das comunidades Jussarateua e Pariçó têmuma visão mais
conservadora sobre a atividade e indicaram mais informantes do sexo masculino. Esta observação
também foi constatada no Distrito de Icoaraci (Belém, Pará), no qual Anderson (2007) verificou que
quando ocorre a participação da mulher em atividades produtivas, elas assumem o caráter de
complementares às tarefas masculinas, cuja “ajuda” se dá tanto em ganho de dinheiro como em
economia de gastos. Para a autora, as ocupações femininas aparecem como invisíveis, especialmente
no setor pesqueiro, pois essa perspectiva se apoia nas reflexões de gênero que concebem ao homem
a responsabilidade de arcar com as despesas do grupo doméstico.

140
175
Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

1. Tabela de dados socioeconômicos de pescadores das comunidades Pariçó, Jussarateua e Jurunduba.

A Constituição de 1988 trouxe alguns avanços nos direitos das mulheres pescadoras, que puderam tirar
o RGP (Registro Geral da Pesca), mas somente com a Lei da Pesca de 2009 (BRASIL, 2009) é que o
Estado reconhece para fins de direitos, o trabalho das mulheres na cadeia produtiva da pesca. Esse
reconhecimento legal de sua existência é confirmado com a Lei nº 10.779 de 25 de novembro de 2003
(BRASIL, 2003) que define as normas para a implementação do Seguro Defeso, ao qual elas passaram
a ter direito, por entender que a mesma trabalha em regime de produção familiar (SCHERER, 2016).

141
176
Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

Em todas as comunidades o grau de escolaridade predominante dos entrevistados é o Ensino


Fundamental incompleto (59,45%), ocorrendo casos de analfabetismo na comunidade mais antiga
(Pariçó) e ocorrência de níveis de escolaridades mais elevados na comunidade Jussarateua.
Geralmente os moradores das comunidades Jussarateua e Jurunduba são filhos, netos e etc., dos
moradores de comunidades mais antigas, como o Pariçó, e, portanto são informantes mais jovens e
que tiveram mais oportunidades de estudo. Os principais motivos relatados pelos entrevistados que
não conseguiram concluir os estudos foi a dificuldade de conciliá-lo com o trabalho da roça e da pesca
visto que eram atividades de subsistência extremamente exaustivas e que prejudicavam a
permanência nos estudos, além do que geralmente as escolas ficavam muito distantes da comunidade
e demandavam horas de caminhada a pé, ás vezes de barco ou a cavalo.
A predominância do nível de escolaridade relatado neste trabalho é similar ao constatado por outros
estudos em demais localidades da Amazônia (ALVES et al., 2015; DAADDY et al., 2015) e outras regiões
do Brasil (ALENCAR e MAIA, 2011). A baixa escolaridade, por consequência, coloca a atividade da pesca
não como uma opção, mas como única alternativa de trabalho capaz de garantir a sobrevivência,
devido à falta de qualificação para o exercício de outras atividades mais bem remuneradas (CARDOSO
e FREITAS, 2006). Contudo, assim como o constatado por Silva et al. (2007), isso não significa que eles
não tenham outros níveis de conhecimento em áreas como: construção civil, carpintaria, lavra, dentre
outras, adquiridos que podem auxiliá-los na complementação da renda familiar caso não possam atuar
com tanta intensidade na atividade pesqueira em algum período, como na época do defeso.
Ainda de acordo com a Tabela 1, constatou-se que a maioria dos entrevistados de todas as
comunidades são casados (56,71%) e, de acordo com as declarações e conversas informais com os
entrevistados, com a união conjugal e consequente formação do núcleo familiar, forma-se também um
círculo de cooperação maior entre as famílias aparentadas pela união, culminando em parcerias tanto
na atividade pesqueira, como também em outras atividades. Este fato foi constatado por
pesquisadores durante a elaboração do Plano de manejo do Parque Estadual Monte Alegre (PARÁ,
2009). Eles descrevem que nas comunidades de Monte Alegre “Uma única família ou grupo doméstico
não pode proteger e cuidar sozinho do gado. A malha de laços de parentesco que liga os membros das
comunidades locais é fortalecida em função do gado. Muitos casamentos são realizados através da
doação de gado.” Os autores ainda destacam que “Na estação seca quem tem gado manda as reses
para a várzea, onde não há cercas, lá uma família cuida do gado vivendo em abrigos em troca da
compra do produto da pesca, da oportunidade de caçar e recebendo cestas básicas dos proprietários.
Na estação das chuvas o gado retorna para a terra firme, onde vive isolado por cercas” (PARÁ, 2009).

142
177
Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

Em todas as comunidades a pesca é a principal fonte geradora de renda dos entrevistados (71,62%),
em conjunto com atividades como a agricultura e pecuária ou beneficiamento de produtos
provenientes destas atividades, como, por exemplo, a produção em pequenos volumes de manteiga,
queijo, biscoitos, embutidos, entre outros. Há relatos de trabalhos informais por curtos períodos de
tempo como a exemplo vendedor, ajudante de pedreiro, cantor, e etc. Outros informantes também,
apesar de ainda ativos na atividade pesqueira, são aposentados e deste auxílio detém sua maior fonte
de renda. Assim como o constatado por Zacardi (2015), a pesca se estabelece naturalmente na região,
em virtude desta atividade ocorrer próximo às residências, por não impor limites de idade,
escolaridade e de não exigir altos investimentos, e a combinação desta com outras atividades justifica
uma estratégia para a manutenção de fontes diversificadas de rendimentos devido às incertezas e aos
baixos rendimentos da atividade pesqueira (PORTO, 2011).
A maior média de renda familiar constatada na comunidade Pariçó pode estar relacionada com a
localização e consolidação dos seus residentes na área, pois a localização geográfica da comunidade
margeia o rio Gurupatuba (Figura 2), permitindo a prática de atividades agrícolas e a pecuária, além
de facilitar, devido ao acesso, a prática da atividade pesqueira. Além disso, foi observado que os
moradores possuem demarcação de terras mais amplas na região, tradicionalmente herdadas de seus
familiares, que servem tanto para a criação de gado quanto para o cultivo de mandioca, melancia e
demais hortifrutis que complementam a renda em boa parte do ano.
Vale ressaltar que apesar de todas as comunidades apresentarem valores que representam em torno
de 1 salário ou menos (913,85±571,51) como renda média mensal, a diferença entre os períodos de
safra e entressafra da produção pesqueira, característica amazônica, pode influenciar na renda dos
pescadores, demonstrando forte variação sazonal na pesca local. Essa flutuabilidade na renda de
pescadores de algumas comunidades ribeirinhas da Amazônia permitiu identificar rendas de até
R$ 5.000,00/mês na safra do pescado,porém em baixa temporada, somente R$ 50,00/mês (LIMA et
al., 2012).

CONCLUSÃO

O grupo de pescadores das comunidades Pariçó, Jussarateua e Jurunduba, em sua maioria são
indivíduos do sexo masculino com baixo nível de instrução escolar e com grande variação de idade e
tempo de atuação na pesca, sugerindo o repasse da atividade de geração em geração. Salienta-se ainda
que sendo a atividade da pesca indicada como a maior fonte de renda por todos os entrevistados,
mudanças ambientais ou econômicas com impacto sobre a atividade tornam os pescadores mais

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178
Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

vulneráveis, dado que a dependência econômica dos pescadores é considerável, principalmente


daqueles que atuam exclusivamente na pesca.

AGRADECIMENTOS

À agência de fomento, Fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Pará (FAPESPA), pela bolsa
concedida. À Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) pelos auxílios concedidos, e aos
pescadores de Monte Alegre pela paciência e carinho em contribuir com este trabalho.

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179
Perfil Socieconômico Dos Pescadores De Monte Alegre, Pará

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147
182
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 16
10.37423/200601175

ETNOCONHECIMENTO DE PESCADORES DE
TRES COMUNIDADES DO MUNICÍPIO DE MONTE
ALEGRE, PARÁ, BRASIL

Arthur Cássio de Sousa Cardoso

Edvane de Lourdes Pimentel Vieira

Charles Hanry Faria junior


Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

RESUMO: O trabalho analisou o conhecimento ecológico sobre mudanças na composição e


abundância, bem como o habito alimentar dos recursos pesqueiros explorados pelos pescadores de
comunidades do município de Monte Alegre, Pará. O estudo foi realizado no município de Monte
Alegre, Pará, nas comunidades Jurunduba e Jussarateua e Pariçó. A coleta dos dados foi feita a partir
de entrevistas, auxiliadas por formulários semiestruturados. De forma individual, por comunidade,
todos os pescadores de Jurunduba acham que houve diminuição na quantidade de peixes disponíveis
nos ambientes que utilizam para a pesca, em Jussarateua 55% e em Pariço 94%. Os pescadores
listaram 10 grupos de espécies, onde as mais citadas quanto a sua diminuição foram o tambaqui
(Colossoma macropomum), o pirarucu (Arapaima gigas) e curimatã (Prochilodus sp). Os pescadores
foram enfáticos em afirmar que os lagos são mais produtivos e são os ambientes que tem maior
quantidade de espécies diferentes (78%), seguido dos rios (12%). Quando questionados sobre seus
conhecimentos a respeito dos hábitos alimentares dos peixes encontrados nestas comunidades, foi
verificado que estes pescadores possuem um amplo conhecimento sobre o tipo de alimento que cada
espécie consome, isso mostra que os pescadores artesanais possuem um detalhado conhecimento
sobre a ecologia das espécies de peixes exploradas e do meio ambiente em que vivem, e que esse
conhecimento influencia suas decisões sobre as estratégias. Assim, é verificado que existe uma forte
relação intrínseca destes moradores com os recursos naturais, que servem de base para a sua
convivência nestes ambientes.

Palavras-chave: Ecossistema; Pesca; Etnociência.

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Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

INTRODUÇÃO

Os ecossistemas aquáticos amazônicos apresentam uma grande heterogeneidade ambiental e uma


alta diversidade de espécies de peixes associados que demandaram estratégias de captura
diferenciada e, portanto, contribuíram para a característica multiespecífica da atividade pesqueira
regional (NAVY e BHATTARAI, 2009). Porém, o processo de desenvolvimento tecnológico das artes de
pesca, a intensificação da atividade e o uso desordenado de aparelhos de maior poder de captura
tornaram a atividade pesqueira uma das principais causas de impactos, mudanças ambientais e perda
de biodiversidade nos ecossistemas aquáticos (JACKSON et al. 2001; ANTICAMARA et al., 2011).
Nessa visão, os níveis de captura e esforço de pesca são bem diferenciados de acordo com a categoria
de pesca e de pescadores (DIEGUES, 1995; FURTADO, 1993). A pesca tradicional, geralmente realizada
por ribeirinhos em complementação à atividade agrícola, é frequentemente apresentada como uma
atividade de baixa produtividade, baixa taxa de rendimento (FAO, 1975) e classificada como de
subsistência. Porém, essa classificação possui interpretações diferentes (SCHUMANN e MACINKO,
2007), pois mesmo apresentando baixa produtividade, possui um potencial para reduzir a
biodiversidade e esgotar os recursos pesqueiros (PINNEGAR e ENGELHARD, 2007), o que demanda
investigação científica para seu melhor entendimento.
No âmbito científico, o estudo dos saberes das populações locais vem sendo intensamente realizado
a partir da etnociência, que “parte da linguística para estudar o conhecimento das populações
humanas sobre os processos naturais, de forma a descobrir a lógica subjacente ao conhecimento
humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totais” (DIEGUES, 2004). Um importante
exemplo da aplicação da etnociência são os estudos sobre o conhecimento local (CEL) de populações
humanas acerca de seus recursos, onde recentemente tem recebido bastante atenção na literatura
cientifica na área de ecologia, manejo e conservação (BROOK e MCLACHLAN, 2008; HUNTINGTON,
2011).
Os estudos sobre o conhecimento das populações locais acerca dos recursos naturais estiveram
inicialmente relacionados à investigação dos conceitos e classificações, em grande parte,
desenvolvidos com povos indígenas (POSEY, 1987). E como as populações ribeirinhas mantêm contato
direto com o ambiente natural e exploram a natureza com base num conjunto de crenças e saberes
no uso dos recursos naturais, fundado nas tradições culturais e na relação empírica com o meio
ambiente (THÉ, 2003), o conhecimento local passou a ter função chave no fornecimento de
informações cruciais para o manejo dos recursos pesqueiros locais e ações conservacionistas (CORTEZ,
2010).

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185
Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

Principalmente quando entendemos como o homem se apropria de maneira peculiar dos ambientes
produtivos e do mundo em que vive, através do conhecimento que tem da natureza que explora para
sobreviver e do seu trabalho. O que dá a grupos de pescadores um conhecimento acurado e
compatível com o conhecimento ictiológico acadêmico (MALDONADO, 1986; MARQUES, 2001).
Desta forma, as informações sobre a etnoecologia passaram a ser importantes para o manejo dos
recursos pesqueiros, porém ainda são insuficientes, apesar do grande esforço para obtenção de dados
sistematizados de pesquisadores e instituições de pesquisa, (BEGOSSI et al., 2006). Nessa ótica, este
trabalho apresenta uma análise do conhecimento ecológico que pescadores de comunidades do
município de Monte Alegre, Pará, possuem sobre o recurso explorado.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi realizado no município de Monte Alegre (Fig. 1), localizado na porção noroeste do Estado
do Pará (OLIVEIRA JÚNIOR, 1999), mais especificamente nas comunidades Jurunduba e Jussarateua e
Pariçó, localizadas à margem esquerda do rio Gurupatuba, que banha a cidade de Monte Alegre
(FURTADO et al., 1998).

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Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

Figura 1. Localização da área de estudo, município de Monte Alegre, estado do Pará, Brasil. Fonte:
Pallos, et al. (2016).

COLETA DE DADOS

Primeiramente foram feitas visitas informais nas residências de pescadores nas comunidades
elencadas para o estudo, com o intuito de esclarecer os objetivos da pesquisa, conhecer as famílias
dos pescadores, seu cotidiano e, identificar o número de pescadores residentes em cada comunidade
e definir estratégias para a coleta de dados.
Para a coleta foram realizadas entrevistas, mediante o uso de formulários semiestruturados para a
obtenção dos dados relativos a pesca, aspectos biológicos e ecológicos da ictiofauna conhecida pelos
pescadores, dados socioeconômicos, tempo dedicado a pesca, tecnologia e estratégias de pesca
utilizadas, como descrito por Rebelo (2008). Como procedimento complementar, foram realizadas
observações diretas e o registro fotográfico.

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Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

Os dados coletados foram armazenados em planilha eletrônica na base de dados Access 2010 para
consulta e posterior análise dos dados, sendo os resultados apresentados mediante o emprego de
ferramentas da estatística descritiva (REIS, 1998; MILONE, 2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistados 75 pescadores, sendo 15 da comunidade Jurunduba, 27 de Jussarateua e 33 de


Pariçó, com idades entre 23 a 81 anos. Quando perguntado aos pescadores das comunidades se houve
a diminuição da quantidade de peixes nos locais de pesca, 61 (81%) relataram ter observado uma
diminuição nos estoques pesqueiros nestas regiões.
De forma individual, por comunidade, todos os pescadores de Jurunduba acham que houve diminuição
na quantidade de peixes disponíveis nos ambientes que utilizam para a pesca, em Jussarateua 55% e
em Pariço 94%.
Os pescadores listaram 10 grupos de espécies (contêm uma ou mais espécies com a mesma
denominação), onde as mais citadas quanto a sua diminuição foram o tambaqui (Colossoma
macropomum), o pirarucu (Arapaima gigas) e curimatã (Prochilodus sp) (Fig. 2).

Figura 2. Diminuição da quantidade de peixes nos locais de citadas pelos entrevistados.

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Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

Os pescadores exploram comercialmente 22 grupos de espécies, das quais, nove são bagres e 13
peixes de escama. Entre os bagres: acari (Loricariidae), cujuba (Oxydoras niger), dourada
(Brachyplatystoma rousseauxii), filhote (Brachyplatystoma filamentosum), jaú (Zungaro zungaro),
mapará (Hypophthalmus spp.), piramutaba (Branchyplatystoma vaillant), pirarara (Phractocephalus
hemioliopterus), surubim (Pseudoplatystoma spp.). Entre os peixes de escama: aracú (Anostomidae),
aruanã (Osteoglossum spp.), braquinha (Curimatidae), carauaçú acará-açu (Astronotus), curimatã
(Prochilodus nigricans), jaraqui (Semaprochilodus spp.), jatuarana (Brycon spp.), pirapitinga (Piaractus
brachypomus), pacú (Mylossoma spp.; Myleus spp.), pescada (Plagioscion spp.), sarda (Pellona spp.),
tambaqui (Colossoma macropomum) e tucunaré (Cichla spp.). Esses grupos de espécies também são
comumente capturadas em Santarém (ISAAC et al., 1996; LIMA et al., 2016), o que mostra a
abrangência e importância dessas espécies para o mercado local e regional.
Os pescadores das comunidades de Jurunduba e Jussarateua exploram 20 grupos de espécies
enquanto os da comunidade de Pariçó exploram somente 10 grupos, mostrando que os pescadores
dessa comunidade são aparentemente mais especializados. Quando arguidos sobre o melhor período
sazonal para se realizar a atividade de pesca, a maioria dos pescadores de Jurunduba indicaram como
os melhores períodos são a cheia (40%) e a enchente (40%), na comunidade Jussarateua os melhores
períodos são a enchente e a vazante (100%) e o período da vazante (71%) em Pariço. Esse maior
destaque observado para os períodos e enchente e de vazante se deve ao conhecimento do
comportamento de mobilidade das espécies de peixes migradoras têm ao longo da subida das águas,
por parte dos pescadores, que sabem quando e por onde os peixes se deslocam para os ambientes
alagados para proteção e alimentação durante a enchente, assim como no momento de vazante,
quando os peixes saem desses ambientes em função da redução do nível das águas, aproveitando para
otimizar as capturadas (CUNHA, 2011).
Em relação aos piores períodos para a pesca, os pescadores das comunidades de Jurunduba (86%) e
Jussarateua (55%) destacam o período de seca, enquanto os de Pariço mencionaram a cheia como
pior época para se pescar (46%). De acordo com Soares et al. (2009), o aumento da área alagada
permite a ampliação de habitats e, assim, os peixes encontram refúgio tornando-se menos vulneráveis
a pesca. No período da seca a retração das águas e concentração dos peixes nos poços e igarapés
facilita a pesca, porém, isto não é observado pelos comunitários das comunidades de Jurunduba e
Jussarateua, o que pode estar relacionado com a pequena quantidade de espécies residentes (não
migradoras - sedentárias) exploradas nestes locais e o maior número de espécies migradoras
exploradas.

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Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

Nas três comunidades o melhor turno para a realização das atividades de pesca é o noturno. A
preferência por esse período se deve ao maior número de espécies disponíveis no ambiente, uma vez
que a grande maioria das espécies possuem hábitos crepusculares ou noturnos para caçar suas presas.
Os ambientes mais utilizados para a pesca são os lagos (78%), seguido dos rios (12%). Resultado que
demonstra o conhecimento que os pescadores têm acerca da distribuição das espécies que exploram,
uma vez que estes locais possuem águas ricas em nutrientes e partículas em suspensão (JUNK, 1984),
possuindo uma grande diversidade de espécies que são amplamente utilizadas para a subsistência
quanto para o comercio (LOWE-MCCONNEL, 1999). Tais áreas constituem um dos mais importantes
sistemas aquáticos amazônicos em termos de biodiversidade de peixes e valor comercial (SIOLI, 1984).
Os lagos de várzeas desempenham um papel fundamental no ciclo de vida de várias espécies
migradoras, atuam como área de berçário essencial para a sobrevivência de larvas, como fonte de
alimento e abrigo para várias espécies (COX-FERNANDES e PETRY, 1991; LOWEMCCONNEL, 1999),
além destes ambientes favorecem a atividade pesqueira, sendo esta a atividade responsável pela
principal fonte de proteína e renda para muitas comunidades ribeirinhas (QUEIROZ e CRAMPTON,
2004).
Apesar de não conhecerem cientificamente que estes ambientes são fundamentais para o
desenvolvimento de muitas espécies de peixe, uma vez que possuem alto teor de nutrientes que são
constantemente renovados, favorecendo a diversidade de espécies de vegetação que contribuem na
alimentação dos peixes (JUNK, 1986), os pescadores foram enfáticos em afirmar que os lagos são mais
produtivos e são os ambientes que tem maior quantidade de espécies diferentes.
Quando questionados sobre seus conhecimentos a respeito dos hábitos alimentares dos peixes
encontrados nestas comunidades, foi verificado que estes pescadores possuem um amplo
conhecimento sobre o tipo de alimento que cada espécie consome (Tab. 1). Resultados semelhantes
foram verificados por Rebelo (2008), concluindo que as comunidades ribeirinhas possuem
conhecimentos consistentes e condizentes com resultados científicos de analises de conteúdo
estomacal.

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Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

Tabela 1. Espécies de peixes frequentemente encontradas e seus hábitos alimentares, segundo a


observação dos comunitários da comunidade de Jurunduba, Jussarateua e Pariço.

Isso mostra que os pescadores artesanais possuem um detalhado conhecimento sobre a ecologia das
espécies de peixes exploradas e do meio ambiente em que vivem, e que esse conhecimento influencia
suas decisões sobre as estratégias de pesca em função dos hábitos alimentares das espécies, padrões
de deslocamentos dos peixes e do conhecimento sobre os diferentes ambientes existentes nos rios
(SILVANO, 2004; LEME e BEGOSSI, 2004).

CONCLUSÃO

Os habitantes destas três comunidades do município de Monte Alegre mostraram ter um grande
conhecimento sobre a dinâmica do ambiente em que estão inseridos, e de todos os seus processos
ecológicos. Esta intrínseca relação com os recursos naturais permitiu a população acumular

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Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

conhecimentos que os auxiliam em suas atividades do cotidiano e principalmente como forma de


sobrevivência.

AGRADECIMENTOS

À agência de fomento, Fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Pará (FAPESPA), pela bolsa
concedida. À Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) pelos auxílios concedidos, e aos
pescadores de Monte Alegre pela paciência e carinho em contribuir com este trabalho.

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Etnoconhecimento De Pescadores De Tres Comunidades Do Município De Monte Alegre, Pará, Brasil

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Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 17
10.37423/200601178

EFEITOS DO CONFINAMENTO NA
VARIABILIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE
TAMBAQUI CULTIVADOS NO NORDESTE DO
BRASIL

Claudivane de Sá Teles Oliveira

Joemille Silva dos Santos

Leydiane da Paixão Serra

Maria Vanderly Andrea

Ricardo Franco Cunha Moreira

Soraia Barreto Aguiar Fonteles

Norma Suely Evangelista-Barreto


Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

RESUMO: O tambaqui (Colossoma macropomum) é uma espécie nativa da região amazônica brasileira
que mais tem se destacado no setor aquícola nacional. O monitoramento genético de estoques
reprodutores cultivados de tambaqui tem aumentado nos últimos anos, pois está diretamente ligado
ao gerenciamento e conservação do material genético desta espécie. A variabilidade genética em três
populações de tambaqui cultivados em dois Estados do Nordeste do Brasil foi avaliada usando
marcadores moleculares ISSR. As amostras foram coletadas de forma aleatória com um total de 110
indivíduos; sendo estes de 2 cultivos da estatal Bahia Pesca, na Bahia (33 espécimes da estação
Rodolpho von Ihering em Cachoeira-BA e 31 da estação Joanes II em Dias d’Ávila-BA) e 46 espécimes
da estação de piscicultura do DNOCS em Pentecoste-CE. Foram utilizados 13 primers ISSR para a
análise da diversidade e estrutura genética. Dos 193 loci obtidos, 170 eram polimórficos (p < 0,05). As
taxas de polimorfismo variaram entre as pisciculturas em Cachoeira (54,55%) e Dias d’Ávila (61,96%).
Os índices de Heterozigosidade (H) variaram entre 0,1662 e 0,1772 e o Índice de Shannon (I) 0,2606 a
0,2732 não apresentou diferença entre as populações. A análise da estrutura genética por meio da
Análise de Coordenadas Principais (PCoA) mostrou que há baixa miscigenação entre as populações,
havendo maior variação entre as populações que dentro destas. Os resultados sugerem que a
informação acerca das características genéticas dos estoques aliado ao manejo apropriado dos
exemplares devem ser utilizadas como subsídio para aumentar a variabilidade genética dos estoques
promovendo cruzamentos previamente delineados.

Palavras chave: Aquicultura, Colossoma macropomum; Diversidade genética.

160
197
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, o cenário aquícola tem apresentado um crescimento promissor com a produção total da
piscicultura alcançando 507,1 mil toneladas em 2016, representando um aumento de 0,57% a.a. entre
os anos de 2014 a 2018 (FAO, 2018). No ano de 2018 registrou-se pequeno crescimento de produção
no Nordeste (0,6%) com participação relevante na produção nacional (24,9%), ainda que isso
represente um desempenho negativo ao analisar a produção entre os anos de 2014 a 2018 (-1,18%)
(IBGE, 2019). Este baixo desempenho se deve possivelmente pela ocorrência de problemas
enfrentados na região, como as secas prolongadas. Entretanto, esta região possui recursos hídricos
bastantes favoráveis às práticas aquícolas e deve receber incentivos a fim de aumentar ainda mais a
produção de peixes nacionalmente (VIDAL, 2016).
O tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier, 1816), é uma espécie nativa dos rios Amazonas e
Orinoco (ARAUJO-LIMA; GOULDING, 1998). No Nordeste, o primeiro cultivo de tambaqui foi realizado
por volta de 1970, com peixes oriundos de algumas matrizes selvagens (AGUIAR et al., 2018), e com
grande probabilidade que este estoque tenha sido fundado com um número de indivíduos
insuficientes para refletir a verdadeira composição genética das populações de origem
(CALCAGNOTTO; TOLEDO-FILHO, 2000; AGUIAR et al., 2018).
Estudar a variabilidade genética em locais que trabalham com a distribuição de alevinos é primordial,
pois pesquisas indicaram que o estoque com baixa variabilidade genética ao longo das gerações pode
induzir endogamia, reduzir a adaptabilidade, sobrevivência de progênies e perdas de potencial
genético (POVH et al., 2008; LOPERA-BARRERO et al., 2016). Esses fatores acarretam perda de
produtividade nas pisciculturas.
Em decorrência do importante papel que o tambaqui vem ocupando no cenário aquícola nacional e
dado o aumento em seu consumo e produção nas últimas décadas, avaliar a variabilidade genética de
populações de tambaqui torna-se importante para o gerenciamento e manutenção dos planteis para
melhorias em programas de conservação e manutenção dos estoques (JACOMETO et al., 2010;
OLIVEIRA et al., 2012; LOPERA-BARRERO et al., 2016) especialmente em unidades de distribuição de
alevinos que disseminam essa espécie por grande parte da região Nordeste.
A avaliação da variabilidade genética em espécies aquáticas é possível e viável com uso de marcadores
moleculares, e sua aplicação tem aumentado cada dia, seja para a conservação das mesmas ou no
enfoque de melhoramento genético (JACOMETO et al., 2010; VITORINO et al., 2015; RIBEIRO et al.,
2016). Assim, o presente estudo ao utilizar marcadores moleculares ISSR, buscou avaliar a diversidade

161
198
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

genética em populações da espécie tambaqui cultivadas em três pisciculturas nos Estados da Bahia e
Ceará

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletados 46 indivíduos na estação de piscicultura Rodolpho von Ihering do Departamento


Nacional de Obras Contra Secas-DNOCS, localizada em Pentecoste-CE (primeira piscicultura a realizar
o confinamento do tambaqui com fins aquícolas), 64 foram coletados da estatal Bahia Pesca S/A,
sendo 33 da piscicultura Rodolpho von Ihering em Cachoeira-BA e 31 da estação Joanes II em Dias
d’Ávila-BA (Tabela 1). A escolha destes cultivos ocorreu em virtude da responsabilidade que possuem
na distribuição de alevinos (via doação ou venda), tendo assim um papel de suma importância para a
aquicultura na região Nordeste do Brasil.
Tabela 1. Descrição de localização dos estoques de tambaqui e número de indivíduos amostrados.

O material biológico amostrado foi obtido da região da nadadeira caudal, tecido considerado de baixo
risco (não causam danos ao animal) e conservado em tubo tipo eppendorf contendo etanol absoluto
(99,5%). As amostras foram levadas ao Laboratório de Genética de Organismos Aquáticos – LAGOA,
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB e armazenadas sob refrigeração para extração
de DNA genômico.

2.1EXTRAÇÃO DE DNA

As extrações de DNA foram realizadas segundo protocolo de Fenol-Clorofórmio (SAMBROOK et al.,


1989). Após extração, a integridade do DNA foi verificada por meio de eletroforese em gel de agarose
1%, corado por brometo de etídio (0,5 μg mL-1), a 70 volts por 60 min, em solução tampão TBE 1X
(500 mmol.L-1 Tris-HC1, 60 mmol.L-1 de ácido bórico, 83 mmol.L-1 EDTA) sendo registrados por meio
do sistema de fotodocumentação L-PIX (Loccus Biotecnologia®) para medir a concentração e qualidade
dos fragmentos e verificar a integridade do material genético extraído.

162
199
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

2.2 AMPLIFICAÇÃO DOS MARCADORES ISSR

As reações de PCR foram realizadas em alíquotas de 25μL da amostra diluída, usando 20-30 ng de DNA,
1X Tris-KCl, 2 mmol.L-1 MgCl2, 0,46 μmol.L-1 de iniciadores, 0,2 mmol.L-1 de cada dNTP, 1U de Platinum
Taq DNA Polymerase (Invitrogen®, Carlsbad, EUA). As condições iniciais de amplificação foram:
desnaturação a 94 °C durante 4 min, seguido por 35 ciclos de 40s a 94 °C. Para a seleção de iniciadores
de ISSR foram usados 29 primers com temperatura de anelamento variando entre 45 ºC a 65 ºC
durante 1 min, alongamento a 72 ºC durante 2 min e alongamento final a 72 ºC durante 10 min. Dentre
os 29 primers ISSR testados foram escolhidos aqueles que apresentaram melhor grau de polimorfismo
e maior nitidez dos padrões de bandas.
O produto gerado pela amplificação dos marcadores ISSR foram separados por meio de eletroforese
em gel de agarose 2 e corado com brometo de etídio (0,5 μg.mL-1). Foram utilizados 20μL do produto
amplificado juntamente com 3μL de corante azul de bromofenol (0,03% xileno cianol, 60% glicerol, 60
mM EDTA). Como padrão foi usado o marcador DNA Ladder 100bp. A corrida se deu em cuba de
eletroforese horizontal, preenchida com tampão TBE 1X (45 mmol.L-1 Tris e 1 mmol.L-1 EDTA) a 70
volts durante 2 h. Os padrões de bandas separados via eletroforese foram foto documentados em
transiluminador UV L-PIX (Loccus Biotecnologia®), esse material foi analisado sendo registrado a
presença (1) e ausência (0) das mesmas no produto amplificado.

2.3 ANÁLISE DOS DADOS

A partir dos padrões de bandas reprodutíveis gerados pelos primers foi calculado o número total de
bandas amplificadas e o número de bandas polimórficas. O poder discriminatório dos primers foi
avaliado por meio de parâmetros básicos: O conteúdo de Informação Polimorfica (PIC) foi calculado
pela fórmula PIC= 1 – Σ= 𝑃1𝑖𝑗2𝑛𝑗, para expor a eficiência de primers utilizados. O MI, uma medida de
eficiência global de uma técnica de marcadores moleculares foi obtido pela multiplicação do PIC médio
com a relação Multiplexa Efetiva (POWELL et al., 1996). A razão multiplex efetiva (EMR) é o produto
do número de locus polimórficos por iniciador (n) e a fração de fragmentos polimórficos (β). A matriz
de dados de presença (1) /ausência (0) resultante da leitura dos padrões de bandas de cada iniciador
foi encaminhada para análise no programa POPGENE versão 1.32 (YEH et al., 1997) para estimar o
nível de diversidade genética através de parâmetros da genética de populações.
O dendrograma foi construído a partir da distância genética de Nei (1978) com o método par a par de
médias ponderadas (UPGMA), com 10000 permutações de bootstrap utilizando o programa MEGA
6.06 (TAMURA et al., 2013). A análise de variância molecular (AMOVA; EXCOFFIER et al., 1992) foi

163
200
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

realizada pelo programa ARLEQUIN 3.01 (EXCOFFIER et al., 2005), para avaliar a variação significativa
entre e dentro das populações dos reprodutores. A análise de coordenadas principais (PCoA) foi
realizada no programa DARwin 6 (PERRIER; JACQUEMOUD-COLLET, 2006). O critério utilizado para a
definição do número de grupos foi calculado com auxílio do pacote “NbClust” (pseudo-t2) do
programa R (CHARRAD et al., 2014)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. MARCADORES ISSR

Dos 13 primers selecionados foram obtidos 193 loci e destes 170 foram polimórficos (p < 0,05). O
primer ISSR 17 apresentou maior número de loci apresentando 80% de polimorfismo, em
contraposição o primer ISSR 18 apresentou o menor número de loci sendo este 100% polimórfico
(Tabela 2).
O uso de marcador ISSR tem sido registrado em estudos de peixes neotropicais, Vitorino et al. (2015)
estudando populações naturais de Arapaima gigas descreveram a ocorrência de 168 loci, dos quais
165 foram polimórficos. Queiroz et al. (2016) examinando populações cultivadas de C. macropomum
obtiveram 152 loci dos quais 146 foram polimórficos, demonstrando que esse marcador por
apresentar um alto grau de polimorfismo tem se mostrado eficiente em análises genéticas para
populações de peixes.
Tabela 2. Primers selecionados para amplificação de DNA no estudo de diversidade genética de tambaqui em
três estações de piscicultura no Nordeste do Brasil.

Ta: temperatura de anelamento; PB: gama dos fragmentos amplificados; N: número de bandas; EMR:
Razão Multiplex Efetiva; MI: Índice do marcador; PIC: Conteúdo de Polimorfismo; P(%) percentual de
bandas polimórficas.

164
201
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

3.2. DIVERSIDADE E ESTRUTURAÇÃO GENÉTICA DAS POPULAÇÕES

A variação entre as três populações de C. macropomum foi analisada por observação direta das
estimativas de polimorfismos. Conforme a Tabela 3, os dois estoques mais contrastantes em termos
de percentual de loci polimórficos (%) foram os estoques de Cachoeira (P= 54,55%) e Dias D’Ávila (P=
67,68 %).
Lopera-Barrero et al. (2015) ao avaliarem populações cultivadas de reprodutores de tambaqui no
Nordeste do Brasil com marcador RAPD encontraram valores similares de fragmentos polimórficos,
entre 62,50 a 64,38%. Estes valores podem ser considerados como razoavelmente baixos quando
comparados aos achados de Jacometo et al. (2010) que avaliaram com o mesmo marcador populações
cultivadas na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Estes autores relataram valores entre 72,92 a
83,33%, e juntamente com outros parâmetros estatísticos (diversidade de Nei, índice de Shannon,
índice de fixação e número de migrantes) consideraram as populações com alta variabilidade genética e
baixa diferenciação e distância genética entre si. A facilidade de renovação dos planteis nestas regiões
possivelmente tenha influenciado um maior grau de polimorfismos entre os estoques.

Tabela 3 Parâmetros de diversidade: número de alelos observados, número efetivo de alelos,


diversidade genética de Nei (1973), índice de informação de Shannon, número de loci polimórfico e
percentual de loci polimórficos em três estoques de tambaqui via marcadores ISSR.

H = diversidade genética de Nei (1973); I = índice de informação de Shannon; NLP: Número de loci
polimórfico; PLP: Percentual de loci polimórfico.

O percentual de polimorfismo encontrado nesta análise foi inferior aos resultados de Lopera-Barrero
et al. (2015) e Jacometo et al. (2010), refletido possivelmente pela baixa diferenciação apresentada
entre os indivíduos. Acredita-se que o gargalo genético que ocorre desde a formação dos estoques
fundadores deve ser a principal causa da baixa diferenciação encontrada entre os indivíduos que

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202
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

compõem os estoques reprodutores das populações. Este fato tem sido observado em pisciculturas,
visto que a alta prolificidade dos peixes e a limitada estrutura física nas pisciculturas, tem levado a
utilização de um pequeno número efetivo de reprodutores, promovendo, com o passar das gerações,
um afunilamento genético (efeito bottlencke) e consequentemente levando a redução da variabilidade
genética (POVH et al., 2006).
Com base na frequência alélica, a maior diferença na heterozigosidade genética (H) foi observada
entre as populações de Dias d’Ávila (H= 0,1662) e Pentecoste (H= 0,1772). Deve-se levar em
consideração que o plantel de Pentecoste foi um dos primeiros em todo o território nacional, fundado
a mais de 50 anos (SANTOS et al., 2016). Assim é possível que esse estoque venha sofrendo com a
baixa renovação em seu plantel reprodutor no decorrer dos anos.
Os valores encontrados neste estudo são inferiores aos citados por Queiroz et al. (2016) que
apresentaram média de H = 0,336 para três populações de tambaqui cultivados. Sendo H uma medida
da variação gênica de uma população, pode-se supor que dentro dos estoques estudados o processo
de confinamento e falta de planejamento nas reproduções influenciaram na diminuição da variação
genética das mesmas.
O índice de Shannon prevê a proximidade genética entre indivíduos e quanto menor seu valor menor
a diversidade populacional (McMANUS et al., 2011). O valor encontrado para este parâmetro variou
entre as populações de Cachoeira (0,2606) e Pentecoste (0,2732) (Tabela 3), ou seja, as três
populações estudadas apresentam baixa diversidade intrapopulacional. Valores contrários foram
relatados por Ribeiro et al. (2016), (0,313 a 0,382) e Queiroz et al. (2016) (0,419 a 0,439), ao estudarem
populações cultivadas de tambaqui na região Norte do Brasil. Deste modo, compreende-se que as três
populações estudadas apresentaram uma diversidade populacional baixa, sendo inferior às
populações estudadas na região Norte.
Em relação ao índice de diferenciação populacional (GST) (Tabela 3), este valor foi superior ao descrito
por Lopera-Barreto et al. (2008) e Lopes et al. (2008) ao estudarem alevinos de Prochilodus lineatus
para repovoamento (0,043 e 0,084 respectivamente). Ainda segundo os autores o baixo valor de GST
indica uma pequena diferenciação genética nos estoques. Portanto, sugere-se que existe uma
diferenciação genética entre as populações em estudo, apesar de partilharem o mesmo estoque
fundador.

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203
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

Tabela 4. Estimativa de diversidade genética, diferenciação populacional (GST) e fluxo gênico (Nm) para as
populações de tambaqui em três estações de piscicultura no Nordeste do Brasil.

*HT = diversidade total; HS = diversidade esperada; GST = diferenciação populacional; Nm = estimativa


do fluxo gênico

O número de migrantes ou fluxo gênico (Nm) nas populações estudadas resultou em uma média de
0,9989 (Tabela 4). Isto se deve ao efeito da distância geográfica e
do confinamento nos estoques estudados, fatores que impossibilitam a troca de material genético
entre as pisciculturas. Este valor infere um fluxo de genes quase inexistente entre as populações, uma
vez que o número estimado de migrantes é uma maneira indireta de estimar o fluxo de genes entre
os estoques.
Valores inferiores a 1 também foram encontrados por Vitorino et al. (2015) ao estudarem populações
naturais de Arapaima gigas (0,18 a 1,24). Para os autores, as populações pelo seu isolamento
perderam a diversidade genética, tendendo a atingir altos níveis de homozigose mais rápido do que
as grandes populações, o que pode explicar os baixos valores esperados de heterozigosidade
encontrados para algumas populações. O mesmo se aplica ao presente estudo onde o isolamento
afetou diretamente a diversidade genética interpopulacional.
O grau de variabilidade genética nos estoques de reprodutores depende da origem, do número de
reprodutores utilizados (estoque fundador e reprodutor), do manejo reprodutivo adotado e da
diversidade genética dos peixes que formaram os estoques (LOPES et al., 2008). A perda de
variabilidade genética apresentada em populações de cativeiro está diretamente relacionada ao
tamanho dos estoques reprodutores e ao aumento da endogamia nas pisciculturas ao longo das
gerações. Assim, o tempo de isolamento dessas populações (número de gerações desde o início do
estoque) contribuiu para a perda de heterozigosidade.
Na Tabela 5, pode-se observar a comparação de identidade e distância genética (distância genética =
0 e similaridade genética = 1). O valor máximo estimado da identidade genética ocorreu entre as
populações de Pentecoste e Cachoeira (0,9256), e o valor mínimo estimado entre Pentecoste e Dias
D’Ávila (0,7851).

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204
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

Tabela 5. Identidade genética de Nei (1972) (diagonal superior) e distância genética (diagonal
inferior) entre as três populações cultivadas de tambaqui.

O grau de identidade entre estas estações se justifica principalmente por dois fatores: Pentecoste foi
a fundadora das outras duas pisciculturas, o que a torna próxima a de Cachoeira. Dias D’Ávila renovou
minimamente o seu plantel de reprodutores, o que contribuiu para uma maior diferença quando
comparada a Cachoeira. Por outro lado, o valor máximo observado da distância genética está entre as
populações de Dias d’Ávila e Pentecoste (0,2419) e o valor mínimo observado entre as populações de
Cachoeira e Pentecoste (0,0773) (Tabela 5). Valores próximos a 0 são um forte indício para sustentar
a teoria que as três populações tiveram um mesmo estoque fundador.
O dendrograma (Figura 1) obtida após analise com marcadores ISSR, confirma a similaridade genética
entre as populações de Cacheira e Pentecoste com a separação da população de Dias d’Ávila das
demais. Esta diferenciação tem grande possibilidade de ter ocorrido, pois esta piscicultura de Dias
d’Ávila teve em seu plantel uma pequena renovação (com peixes selvagens), o que lhe deu a
possibilidade de formação de um estoque reprodutor com diferença em seu estoque fundador.

Figura 1. Dendrograma gerado pelo método UPGMA (Unweighted pair group method, arithmetic
mean), três pisciculturas no Nordeste.

168
205
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

A análise de coordenadas principais (PCoA) e os resultados da estrutura genética dos estoques


cultivados de tambaqui permitiram a identificação de grupos com baixa relações genéticas dos 110
indivíduos analisados com a utilização dos marcadores ISSR (Figura 2).
Verifica-se que houve uma pequena miscigenação entre as Pisciculturas de Pentecoste e Cachoeira e
uma distinção da piscicultura de Dias d’Ávila (Figura 2). O tempo de isolamento e a diminuição do
tamanho da população é citada como a principal causa do aumento da taxa de endogamia e na
consequente perda de variabilidade genética da população de Pentecoste (SANTOS et al., 2012).
Populações cativas de espécies ameaçadas perdem a diversidade genética devido ao gargalo genético
encontrado (FRANKHAM et al., 2008). Essa é uma das possíveis causas de se encontrar uma baixa
diversidade genética em populações com baixo fluxo gênico ainda que oriundos de um mesmo plantel.

Figura 2. Análise de coordenadas principais (PCoA) de 110 tambaquis amostrados de três


pisciculturas no Nordeste.
A estrutura genética populacional é determinada pela frequência de genes e as forças (migração,
mutação, seleção e deriva genética) que afetam suas frequências, sendo, portanto, resultado direto
da ação e interação de uma série de mecanismos ecológicos e evolutivos (TURCHETTO-ZOLET et al.,
2013). Quando esses indivíduos são domesticados, confinados e reproduzidos artificialmente há uma
limitação quanto a forças evolutivas que agirão nestes, acarretando em danos em futuras gerações.

169
206
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

A análise comparativa nas diferentes populações indicou que o maior percentual de variação foi
encontrado entre os grupos que dentro deles. A única comparação entre populações que apresentou
maior variação dentro das populações foi Pestecoste (PE) x Cachoeira(CA) e que apresentou o menor
valor dde FST desta analise (Tabela 6).
Tabela 6. Análises de variância molecular (AMOVA), fonte de variação (FV), soma de quadrados (SM),
coeficiente de variação (CV), porcentagem de variação (V %), índice de fixação (FST) em grupos de
reprodutores de tambaqui.

PE: Pentecoste-CE; CA: Cachoeira-BA; DD: Dias d’Ávila-BA; EP: Entre populações, DP: dentro das
populações.
Wright (1978) propôs um guia geral para interpretar os valores de FST, valores entre 0 a 0,05 indica
pequena diferenciação populacional; 0,05 a 0,15 indica moderada diferenciação populacional; 0,15 a
0,25 indica grande diferenciação populacional e acima de 0,25 indica uma forte diferenciação
populacional. Santos et al. (2012; 2016) relataram forte estruturação genética no estoque de
Pentecoste e nas pisciculturas que obtiveram seu plantel fundador originário da mesma. Este fator
deve ser levado em consideração ao avaliarmos as populações da Bahia Pesca S/A que partilham esse
mesmo princípio.
As análises comparativas realizadas com a população de Dias d’Ávila (PExDD e CAxDD) revelaram maior
variação entre as populações que dentro delas. Na literatura, isto tem sido pouco registrado em estudo
genéticos com populações de peixes. O alto grau de diferenciação confirmado com altos valores de
FST associado ao alto grau de distancia de Nei (1972) (Tabela 6) possibilita condicionar os problemas
causado pelo efeito “gargalo” e pelo confinamento e a falta de monitoramento genético dos
reprodutores nessas populações à sua baixa variabilidade genética. Alguns fatores devem ser levados
em consideração em atividades aquícolas: o isolamento leva a mudanças nas frequências gênicas das

170
207
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

populações, a pressão por seleção condiciona que o acúmulo de novas mutações não seja
compartilhadas pelo processo de fluxo gênico. A baixa variabilidade genética está correlacionada
negativamente com o potencial de adaptação às mudanças nas condições ambientais (RASHID et al.,
2012). O sucesso da atividade piscícola está associado à gestão e manutenção da variabilidade
genética em progênies e reprodutores, apoiada por reproduções planejados que promovem a
melhoria contínua da produtividade. Torna-se notável a estruturação dentro das populações
(principalmente dentro dos grupos) comprovando o efeito do isolamento na deriva genética dos
plantéis. A falta de manejo reprodutivo associado a influência do gargalo genético nas populações
poderá afetar diretamente a capacidade adaptativas dos espécimes causando baixa produtividade na
mesma. As três pisciculturas estudadas apresentaram diversidade genética baixa, deste modo propõe-
se a inserção de espécimes com pedigree e composição genética diferente da existente no local, com
a finalidade de melhoramento dos planteis. A introdução de um material genético diferenciado deverá
conduzir a formação de novos genótipos nas populações melhorando a sua diversidade.

4. CONCLUSÃO

Os marcadores moleculares ISSR se mostraram eficientes na detecção da variabilidade genética em


populações cativas de tambaqui. Os resultados do presente estudo revelaram a perda da variabilidade
genética em todos os estoques e apontaram para importância da renovação dos planteis de
reprodutores, ao mostrar que a população de Dias d’Ávila por ter tido seu estoque renovado,
apresentou maior variabilidade que as demais populações estudadas, indicando que a renovação
eficiente do plantel de reprodutores proporciona melhorias na genética dos indivíduos

5. AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Sr. Paulo Reis, Sr. Felipe Vieira e Sra. Socorro Chacon de Mesquita, pelo suporte ao
possibilitar a coleta das amostras biológicas de Tambaqui nas estações de piscicultura. O apoio
financeiro foi concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia e a Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia.

171
208
Efeitos Do Confinamento Na Variabilidade Genética De Populações De Tambaqui Cultivados No Nordeste Do Brasil

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174
211
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 18
10.37423/200601181

ESTUDO DA VARIABILIDADE GENÉTICA DE


TAINHA, MUGIL CUREMA (VALENCIENNES, 1836),
EM DUAS ÁREAS PESQUEIRAS DA BAHIA

Joemille Silva dos Santos

Leydiane da Paixão Serra

Vitória Lacerda Fonseca

Claudivane de Sá Teles Oliveira

Marcelo Carneiro de Freitas

Ricardo Franco Cunha Moreira

Soraia Barreto Aguiar Fonteles


Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

Resumo : A espécie Mugil curema, popularmente conhecida como tainha, paratis e curimãs é uma das
espécies mais exploradas no litoral brasileiro pela pesca artesanal, ocorrendo em águas tropicais e
subtropicais de todo o mundo, principalmente na região costeira estuarina. O presente trabalho
caracterizou a diversidade genética de duas populações da espécie M. curema, por meio do marcador
molecular ISSR. Foram amostradas em diversos pontos pesqueiros, um total de 60 indivíduos em
Canavieiras-BA e 30 indivíduos em Jaguaripe-BA. Oito primers foram utilizados para analisar a
diversidade e estrutura genética. Foi gerado um total de 137 fragmentos, sendo 117 polimórficos
(85,5%). A média do Índice de Conteúdo Polimórfico (PIC) foi 0,86 e mostrou-se efetivo por apresentar
em todos os primers valor superior a 0,5. Para os parâmetros de diversidade genética, a percentagem
de bandas polimórficas foi de 85,4%, o Índice de Shannon variou entre as populações de Canavieiras
0,3506(σ±0,2187) e Jaguaripe 0,4984(σ±0,2109). Entre as populações, a média da identidade genética
de Nei foi 0,7832 e a média da diversidade genética 0,2444, o número de migrante por geração foi 1,7.
A AMOVA forneceu uma estimativa que grande parte da variabilidade genética está concentrada
dentro das populações (53,14%), com índice FST de 0,47 indicando uma forte estruturação genética.
Estes resultados moleculares evidenciam que estes organismos partilham poucos alelos em comum,
indicando baixo fluxo gênico entre as populações evidenciando uma variabilidade genética
intrapopulacional. Assim para o aumento da variabilidade genética desta espécie recomenda-se
redução da exploração nesses estuários, para um desenvolvimento mais sustentável da pesca até que
os níveis de variabilidade genética sejam considerados satisfatórios.

Palavras-chave: Conservação, variabilidade genética, sustentabilidade e pesca artesanal.

185
213
Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

INTRODUÇÃO

A pesca é uma das atividades mais antigas do mundo, no qual o homem realiza capturas para seu
sustento, além disto apresenta uma importância social gerando um número significativo de empregos
nas comunidades costeiras (IBAMA, 2008). No estado da Bahia, a pesca é majoritariamente artesanal
e/ou de subsistência, explorando ambientes próximos à costa, utilizando embarcações tradicionais,
artes de pesca confeccionadas pelo pescador, com produção destinada ao mercado local (BAHIA
PESCA, 2009). Dentre os organismos capturados pela pesca artesanal no litoral brasileiro estão os
mugilídeos, popularmente conhecidos como tainhas (DIAS-NETO; DIAS, 2015).
A tainha da espécie Mugil curema, é a mais abundante no nordeste brasileiro, entre os mugilídeos,
representando 96% das capturas (CASTRO et al., 2015), dos quais os mais capturados são os indivíduos
que ainda não atingiram a idade reprodutiva (NASCIMENTO et al., 2016) interferindo diretamente na
variabilidade genética.
Estudos sobre a relação ambiente-espécie são importantes para a conservação de um recurso
pesqueiro, pois geram conhecimentos sobre as características de habitat essenciais para uma pós-
dinâmica de populações, principalmente relacionados aos parâmetros de crescimento do estoque,
aliado aos fatores bióticos e abióticos, contribuem para os estudos de avaliação do estoque (CUTRIM;
BATISTA, 2005).
Nota-se uma considerável importância da utilização de marcadores moleculares em estudos de
caracterização da diversidade genética populacional em peixes nativos e cativos, uma vez que permite
uma análise e descrição da estruturação entre e dentro das populações permitindo elaborar
estratégias de monitoramento, assim como inferir sobre o manejo adequado com o intuito de
aumentar ou conservar a variabilidade genética presente em populações que são de importância para
o setor pesqueiro. A utilização desta ferramenta de caracterização e reconhecimento de estoques
pesqueiros, tem se mostrado eficiente (LOPERA-BARRERO et al., 2015). Neste contexto, este trabalho
buscou verificar a distribuição da variabilidade genética, com objetivo caracterizar a diversidade
genética de duas populações da espécie M. curema, na RESEX de Canavieiras-BA e no estuário de
Jaguaripe–BA, por meio do marcador molecular ISSR.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado em duas áreas pesqueiras do estado da Bahia, localizadas no município de
Canavieiras (latitude 15º40’40” Sul e longitude 38º56’56” Oeste) conforme dados do IBGE (2010) e de
Jaguaripe (latitude13º 06' 48" S e longitude: 38º 53' 44" W). O município de Canavieiras está localizado

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214
Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

no sul da Bahia, limitando-se ao norte com o município de Una, a noroeste com Santa Luzia, ao sul
com Belmonte, a oeste com Mascote e ao leste com o Oceano Atlântico.
Em Canavieiras encontra-se a Reserva Extrativista de Canavieiras com uma área de 100.726,36
hectares, localizada nos municípios de Canavieiras, Belmonte e Una no estado da Bahia. O município
de Jaguaripe está localizado no baixo sul da Bahia, bioma de Mata Atlântica pertencente ao sistema
costeiro-marinho, margeado pelo rio Jaguaripe.
A foz do rio Jaguaripe faz parte do Plano de Ação Nacional para Conservação das Espécies Ameaçadas
e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal - PAN Manguezal. O PAN Manguezal tem
como objetivo conservar os manguezais brasileiros, reduzindo a degradação e protegendo as espécies
focais do PAN, preservando suas áreas e usos tradicionais, a partir da integração entre as diferentes
instâncias do poder público e da sociedade, incorporando os saberes acadêmicos e tradicionais
(ICMBio, 2015).
Nas áreas de estudo, no período de 2017 e 2018, os exemplares de tainha da espécie Mugil curema,
foram capturados com a colaboração de um pescador local, utilizando a tarrafa como arte de pesca.
Em cada ponto de coleta foi registrado às coordenadas geográficas, com auxílio de um gps manual. No
momento da coleta os exemplares foram identificados e os dados morfométricos de comprimento e
peso foram anotados em planilhas, além de outras informações, como dia e local de coleta.
Dos exemplares de tainha coletados, retirou-se uma pequena porção da nadadeira caudal com uma
tesoura de ponta fina esterilizada, sendo a amostra estocada em tubo eppendorf contendo álcool
etílico absoluto (99,7º), devidamente identificado. Um total de 90 amostras da nadadeira caudal foi
coletada, sendo 60 amostras na RESEX Canavieiras e 30 amostras em Jaguaripe, que foram levados
para análises ao Laboratório de Genética de Organismos Aquáticos – LAGOA, da Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia.

EXTRAÇÃO E AMPLIFICAÇÃO DO DNA

Em laboratório o DNA foi extraído seguindo o protocolo de Aljanabi e Martinez (1997), com
adaptações. A quantificação e a análise de integridade foram realizadas por eletroforese em gel de
agarose a 1% e foram registradas utilizando o sistema de fotodocumentação L-PIX (Loccus 98
Biotecnologia®). A mistura de reação em cadeia de polimerase foi realizada com reagentes nas
seguintes proporções: 3μL DNA diluído em água ultra pura, 2,5 μL de tampão (10x), 2,5μL MgCl2
(50mM), 5μL dNTPs (100mM), 2,5μL de primer (50μM) e 0,2μL Taq Dna Polimerase e 14,25μL água

187
215
Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

ultrapura Milli-Q. O primer 2 amplificou com alguns ajustes no volume de MgCl2 aumentando para
3μL e diminuindo o volume de água para 13,75 μL.
Oito primers ISSR foram selecionados para desenvolvimento deste trabalho por apresentarem boa
amplificação. As amplificações de PCR foram conduzidas em termociclador Veriti (Applied Biosystems)
e consistiram numa etapa inicial de desnaturação do DNA a 94°C por 4 minutos; seguido por 35 ciclos,
cada um apresentando 40 segundos de desnaturação a 94°C; 30 segundos para o pareamento do
iniciador a temperatura específica °C de cada primer; 2 minutos de extensão do fragmento do DNA a
72°C; seguido de uma extensão final por 7 minutos; e 4°C ∞.
Tabela 1: Iniciadores selecionados na análise de variabilidade genética entre as duas populações da
espécie M. curema, suas características moleculares.

T= temperatura; NLP= número de loci polimórficos; NLM= N° de loci monomórficos; TF= gama de
fragmentos amplificados; P(%)= percentual de polimorfismo; PIC= conteúdo de Polimorfismo; EMR=
razão multiplex efetiva; MI= índice do marcador.

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Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

ANÁLISE ESTATÍSTICA

O poder discriminatório dos iniciadores foi avaliado por meio dos seguintes parâmetros: Conteúdo de

Informação Polimórfica (PIC) foi calculado pela fórmula PIC= 1 para verificar a eficiência
de primers utilizados. O MI (Índice de marcador) mede a eficiência global de uma técnica de
marcadores moleculares, foi obtido pela multiplicação do PIC médio com a relação Multiplexa Efetiva
(POWELL et al., 1996). A razão multiplex efetiva (EMR) é o produto do número de locus polimórficos
por iniciador (n) e a fração de fragmentos polimórficos (β) (OLIVEIRA et al., 2019). O MI é uma medida
eficiente de marcadores moleculares, obtido pela multiplicação do PIC médio com a relação multiplexa
efetiva (POWELL et al., 1996).
A matriz de distância genética em pares entre indivíduos foi obtida pelo complemento aritmético do
coeficiente de Jaccard e agrupamento (UPGMA) e a partir da matriz de dissimilaridade foi feito a
análise de coordenadas principais (PCoA) através do programa Darwin 6.06 (PERRIER e JACQUEMOUD-
COLLET, 2006) usando 1023 permutações. E a análise de estrutura populacional, foi realizada através
do programa PopGene 1.32 (Yeh, et al. 1999).

RESULTADOS

Os oito iniciadores geraram um número total de 137 fragmentos de bandas, sendo 117 polimórficos
(85,5%) (Tabela 1), com tamanho de pares de base variando entre 100 pb e 2072 pb, onde a maior
amplitude alélica ou tamanho dos fragmentos foi identificada para o locus ISSR 1 (210–2072 pb) e a
menor, para o ISSR 21 (100–1100 pb). O número total de loci variou de acordo com os iniciadores,
sendo o maior número de loci produzidos pelo ISSR 10 e o menor pelo ISSR 20. Para os loci avaliados,
o PIC variou de 0,72 para o ISSR 6 à 0,94 para o ISSR 3, com média de 0,86 (Tabela 8). Assim, foi possível
observar valores do PIC acima de 0,5 conforme a Tabela 1.

ESTRUTURA POPULACIONAL E DIVERSIDADE GENÉTICA DAS POPULAÇÕES

Os resultados mostraram que a média para comparação da identidade genética de Nei (1972) foi de
0,7788 e a média para comparação da distância genética foi de 0,2501. Quando analisado os dados
para o índice de Shannon (I), número de alelos observados, e o número efetivo de alelos observou-se
uma variação da diversidade genotípica entre as populações, assim como na média de diversidade
genética de Nei, conforme a Tabela 2.

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Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

Tabela 2: Diversidade genética entre as populações de M. curema coletadas na RESEX de Canavieiras–


BA e Jaguaripe-BA.

*Na=número de alelos observados; *Ne=número efetivo de alelos; *H=diversidade genética de Nei


(1972); *I=índice de informação de Shannon; NLP=número de loci polimórficos; PLP=percentual de loci
polimórficos

A média da diversidade genética total (HT) para as populações foi 0,3582 (σ±0,0189) e a média de
diversidade esperada 0,2774 (σ±0,0150). A diferenciação genética estimada pela média GST resultou
em 0,2257 e o número de migrantes nas populações indicado pelo fluxo gênico, resultou em
Nm=1,7148 (Tabela 3).
Tabela 3: Estimativa de diversidade genética, diferenciação populacional (GST) e fluxo gênico (Nm)
para as populações da espécie M. curema.

HT = diversidade total; HS = diversidade esperada; *GST = diferenciação populacional; *Nm=


estimativa do fluxo gênico.

As medidas para a comparação de identidade genética de Nei (1972) e distância genética,


apresentaram como resultados 0,7832 (diagonal superior) e 0,2444 (diagonal inferior)
respectivamente (Tabela 4).
Tabela 4: Mensuração da Identidade genética de Nei (1972) (diagonal superior) e distância genética
(diagonal inferior) entre as populações de tainha.

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Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

Segundo a AMOVA e o índice de fixação (FST), verificou-se diferenciação significativa entre as


populações (Tabela 5). A análise de variância molecular forneceu uma estimativa que a maior parte da
variabilidade genética está concentrada dentro das populações (53,14%), com menor porcentagem
entre eles (46,86%), gerando um índice FST de 0,47 indicando uma forte estrutura genética entre as
duas populações.
Tabela 5: Análise molecular de variância (AMOVA) dentro e entre as populações da espécie M. curema.

Grau de Liberdade (GL); Soma de quadrados (SQ); Coeficiente de variação (CV); porcentagem de
variação (PV%); Média de quadrados observados (MS); Estimativa de variação (EV), PhiPT: Proporção
de variância genética total entre indivíduos dentro das populações.

Baseado em 1.023 permutações.

O dendrograma, a análise de coordenadas principais (PCoA) e a análise de estrutura populacional,


foram usadas para descrever espacialmente as similaridades genéticas entre os indivíduos (Figura 2
‘a’, ‘b’ e ‘c’).

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Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

Figura 2: a) Dendrograma gerado pelo método UPGMA (Unweighted Pair Groupmethod,


Arithmeticmean) da tainha baseado na distância genética de Nei (1972). b) Análise de Coordenadas
Principais (PCoA). c) Análise estrutural de duas populações de tainha oriundas de ambiente naturais.

Os marcadores moleculares ISSR mostraram-se úteis para esta análise, pois foi possível observar alta
porcentagem de polimorfismo evidenciando uma variabilidade genética intra-populacional (53,14%)
(Tabela 5). O IBAMA (2008) informa que há um considerado aumento na exploração de exemplares
maiores de mugilídeos e consequentemente modificando perfis biológico-populacionais nos últimos
anos. Assim a atividade de pesca nestes locais, possivelmente, já está comprometendo a variabilidade
genética da tainha, pois desde a década de 80 a sobrepesca vem afetando este recurso (MENDONÇA;
BONFANTE, 2011) e consequentemente diminuindo a variabilidade genética. Deste modo, essas
populações merecem uma atenção especial por meio de medidas efetivas de manejo e gestão
pesqueira, como a redução da exploração nestes estuários com o objetivo de aumentar os níveis de
variabilidade genética que, de acordo com os valores do índice de Shannon encontrados, foram
considerados baixos (Tabela 2).
Utilizou-se 8 primers e foram obtido 117 bandas polimórficas (Tabela 1) nos 90 indivíduos estudados.
A utilização dos marcadores ISSR neste estudo foi considerada satisfatória. O índice de informação
polimórfica (PIC) mostrou-se efetivo por possuir em todos os primers analisados valor superior a 0,5
conforme tabela 1. Deste modo, os loci foram considerados muito informativos comprovando a
eficiência dos primers neste estudo.
Na análise de diversidade genética, as populações apresentaram percentuais de loci polimórficos (P)
e número de alelos (Na) semelhantes. Em Canavieiras-BA a percentagem de locus polimórficos (PLP)

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220
Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

foi 98,88% e número de alelos (NA=1,9888) e Jaguaripe (PLP=96,63 e Na=1,9663) (Tabela 2) tendo
maior resultado obtido em Canavieiras. Diferentes resultados foram descrito por Xu et al. (2010) que
observaram valores de número de alelos por locus, variando de 2 a 11 utilizando microssatélites em
populações naturais para M. cephalus no Mar da China Oriental. A partir dos resultados podemos
supor que por partilharem poucos alelos em comum, possivelmente trata-se da existência de
metapopulações de M. curema. O distanciamento entre as populações seria possivelmente resultante
do isolamento reprodutivo. O isolamento entre essas populações não seria total, por ser uma espécie
migradora. Contudo, podemos inferir que provavelmente há uma barreira eficiente que impede
homogeneização genética das populações nestes locais.
O índice de Shannon (I) variou entre as populações, onde o maior valor foi para a população de
Jaguaripe (0,498) e menor em Canavieiras (0,351) (Tabela 2). Este índice pode variar de 0 a 1, no qual
a menor diversidade genética é representada por valores mais próximos de zero.
As taxas de variabilidade genética, calculadas pelo índice de Shannon (I) junto com a porcentagem de
locus polimórficos (PLP%) confirmam a forte estruturação e baixa variabilidade genética entre as
populações. Isto pode ser explicado pela distância geográfica entre as áreas estudadas.

A diversidade genética total (HT), pelo índice de Nei (1973), atingiu uma média estimada de 0,3582
(Tabela 3) o que demonstra elevada heterozigosidade nas populações estudadas. A proporção da
diversidade genética entre as populações (GST) foi de 0,2257, indicando que a variabilidade entre e
dentro das populações contribuiu com 22,57% e 77,43% da diferenciação total, isto ocorre porque, os
exemplares possivelmente não compartilham áreas comuns de reprodução por conta de alguns
fatores (sedimentação despejada pelo rio, variação de salinidade, temperatura, etc.) que poderiam
levar a separação destas populações e configurá-las como metapopulações.
O número de migrantes (Nm) foi de 1,7148 (Tabela 3) valor baixo considerando que para um fluxo
gênico contrapor os efeitos de deriva genética, este valor precisa ser maior do que quatro migrantes
(SLATKIN, 1987). Há uma correlação entre a variação genética e a distância geográfica (mesmo sendo
pouca) com o fluxo gênico detectado entre os locais estudados, pois devido a alguns possíveis
obstáculos ambientais naturais elas não compartilham altos níveis de diversidade genética. Sendo a
restrição geográfica maior do que por sua capacidade de dispersão. Outros valores refletindo altos
níveis de fluxo gênico foram observados para outras espécies de mugilídeos por Ghaneh et al. (2011)
5,05, apud SAEDI, 2014 Ghodsi et al. (2011) 5,1 apud SAEDI, 2014 e Saedi et al, (2014) 3,470.
Níveis elevados de diversidade genética são frequentemente observados em peixes migratórios com
grandes populações, porque em grandes populações, altas taxas de migração minimizam os efeitos da

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Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

deriva genética (SANTOS et al., 2007). Neste estudo, apesar da capacidade migratória a distribuição
destes organismos pode ser explicada pela possibilidade de algum barramento natural (diferentes
correntes marítimas, massas de água, diferença de salinidade, temperatura ou a própria distância
geográfica) que funcionam como uma barreira física eficiente (construções antrópicas ou até mesmo
poluição/lixo levado pelas correntes).
O PhiPT é uma medida que comprova o número de populações do agrupamento, com valor obtido de
0,389 (Tabela 5). Para a análise de estruturação populacional, os valores de FST que se encontram entre
0 e 0,05 configuram baixa estruturação genética, entre 0,05 e 0,15, estruturação moderada, entre 0,15
e 0,25, estruturação alta e acima de 0,25, forte estruturação genética. A AMOVA considera a
distribuição da variabilidade genética nas populações originais e neste estudo demonstrou que esta
se encontra maior dentro das populações do que entre eles. Isto evidencia uma forte diferenciação
entre as populações (FST 0,46857) e dentro das populações de (Canavieiras FST 0,46943 e Jaguaripe
FST 0,46685). Assim os nossos resultados apresentaram baixo fluxo gênico e forte diferenciação
genética. Um valor semelhante (0,46) foi encontrando por Magdy et al. (2016) utilizando marcadores
co-dominantes em M. cephalus, no Egito.
Deste modo, nossos resultados estão de acordo com o observado por Saedi et al., (2014) de FST 0,70
e 0,69 em duas de 3 populações de Mugilídeos indicando também uma forte estruturação genética
com FST > 0,25. Segundo este autor, isso pode ocorrer em consequência de processos evolutivos e
conclui que as populações de M. curema encontram-se em um franco processo de diversificação,
sugerindo um possível complexo de espécies sob a denominação M. curema. Também foi obervado
por Shen et al., (2011) uma significativa diferenciação (FST 0,973, P<0,001) entre algumas linhagens de
M. cephalus utilizando marcadores co-dominantes.
Dias Neto e Dias (2015), abordam indícios de estruturação genética de populações de M. liza, com
características biológicas distintas ao longo de sua área de ocorrência no Brasil. Estes mesmos autores
relatam que as distâncias genéticas estimadas (FST) demonstram que existe maior fluxo genético entre
as populações que habitam o sul do Brasil e a Argentina, enquanto a população localizada no extremo
norte da distribuição da espécie (Rio de Janeiro) foi significativamente diferente das demais. Uma
significativa estruturação genética foi observada por Gao et al., (2014) em populações de Liza
haematocheilus, uma espécie de Mugilideo, na China e águas costeiras japonesas.
O dendrograma (Figura 2a), o gráfico PCoA (Figura 2b) e a análise de estrutura populacional (Figura
2c), apresentam a formação e a distância genética de dois grupos, nos quais demonstraram que a
maior parte da variabilidade genética ocorre dentro das populações (53,14%). Isso significa que se

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Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

houver necessidade para montar um estoque fundador de reprodutores, os mesmos poderão ser
escolhidos em ambas as localidades.
Esses resultados mostram que possivelmente a pesca artesanal com a captura de indivíduos que ainda
não atingiram maturidade sexual, está restringindo à transmissão da variabilidade genética
apresentada pela espécie para sua prole. Assim para a RESEX de Canavieiras-BA e Município de
Jaguaripe-BA são recomendadas ações de redução da pesca, instituição do tamanho mínimo de
captura, uma intensificação na fiscalização, como também a promoção de trabalhos de
conscientização ambiental evitando sobre-explotações a fim de conservar a variabilidade genética
existente em cada local.

CONCLUSÃO

A técnica ISSR foi eficiente para análise da variabilidade genética da espécie M. curema, na qual
apresentou alto nível de polimorfismo, baixo fluxo gênico e forte estruturação genética. Para o
aumento da variabilidade genética das populações, recomenda-se redução da exploração nesses
estuários, assim como uma conscientização ambiental nas comunidades pesqueiras, para um
desenvolvimento sustentável da pesca até que os níveis de variabilidade genética sejam considerados
satisfatórios.

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223
Estudo Da Variabilidade Genética De Tainha, Mugil Curema (Valenciennes, 1836), Em Duas Áreas Pesqueiras Da Bahia

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197
225
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 19
10.37423/200601182

REVOLUÇÃO AZUL: O DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA
SUL-OCIDENTAL.

Carlos Henrique Profirio Marques

Rafael Lustosa Maciel

Suzete Roberta da Silva

Ana Luzia Assunção Claudio Araújo


Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

RESUMO: As mudanças climáticas, os desmatamentos e queimadas da Amazônia estão em pauta


geopolítica, por isso precisamos entrar em um consenso entre a importância da preservação da nossa
floresta e a produção de alimento de origem animal. Mundialmente a procura de protéina de origem
animal está cada vez maior pelo pescado, entre 1961 e 2016, o aumento anual medio do consumo
mundial de pescado foi de 3,2% superando o aumento do consumo de carne de todos os animais
terrestres somados que foi de 2,8%. No Brasil o consumo per capita de carne bovina é de 42,12
kg/hab/ano e o consumo nacional de pescado está em torno de 9,5 kg/hab/ano. A proteína animal
mais produzida no mundo também é o pescado, a aquicultura é o setor de produção de alimentos de
origem animal que mais cresce no mundo, no período entre 2000 e 2016 a produção aquícola mundial
cresceu a uma taxa média de 5,8% ao ano, a bovinocutura produz mundialmente algo em torno de
71,4 milhões de toneladas, porém no Brasil, a produção anual de carne bovina é de 10,96 milhões de
toneladas equivalente carcaça (TEC), e a piscicultura no Brasil produz apenas 722,56 mil toneladas
anualmente. O objetivo do presente trabalho é elaborar um position paper sobre a pecuária na
Amazônia Sul-Ocidental, destacando informações sobre a bovinocultura em comparação a piscicultura,
e assim contribuir para a tomada de decisões em relação a produção de alimento de origem animal no
estado do Acre. As informações fornecidas por orgãos responsáveis pela publicação de dados da
pecuária no Brasil e no Mundo foram examinadas, organizadas e aplicadas de forma comparativa com
o Vale do Juruá, microrregião localizada no extremo oeste do no estado do Acre. Também foi relatado
os desafios para o desenvolvimento sustentável e o potencial de crescimento da pecuaria na Amazônia
Sul-Ocidental, explorando seus principais indicadores técnicos, as infraestruturas de produção, o
tamanho dos empreendimentos , produtividade e consumo per capita de carne. E de forma
contextualizada e resumida faremos um posicionamento sobre as ativividades de criação de boi e de
peixe no Acre, fornecendo ideias próprias e argumentos para auxiliar o desenvolvimento da pecuária
na região. A aquicultura tem atraído o interesse dos pequenos e grandes produtores, a ‘‘Revolução
Azul’’, nome dado ao crescimento da produção de pescados em cativeiro. No estado do Acre
percebemos que existe uma predominância, dentre as atividades da pecuária, pela bovinocultura,
porém a piscicultura cresceu 21,08% nos últimos 3 anos. Porém a criação de peixe no Acre ainda
necessita de assistência técnica e ações de extensão aquícola, devido à falta de conhecimento e
experiência dos produtores, principalmente dos que estão iniciando a atividade. Caso ocorra subsídios,
treinamentos e capacitações, incentivo à pesquisa e extensão e difusão de tecnologia a produção de
pescado oriundos da piscicultura poderá dar um grande salto na Amazônia Sul-Ocidental e assim ter

175
227
Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

um superávit na balança comercial de pescado, trazendo resultados socioeconômicos positivos,


gerando emprego e renda, fornecendo uma alimentação saudável, seguro e sustentável.

Palavras-chave: Piscicultura, Acre, Sustentabilidade.

176
228
Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

1. INTRODUÇÃO

O crescimento populacional faz com que seja necessário estudos relacionados tanto para a segurança
alimentar e nutrição como também do uso racional dos recursos naturais pelo setor da pecuária, para
que seja possível garantir o desenvolvimento em termos econômico, sociais e ambientais juntamente
com o aumento de produção de alimento de origem animal.
As mudanças climáticas, os desmatamentos e queimadas da Amazônia estão em pauta geopolítica,
por isso precisamos realizar o desenvolvimento sustentável da região amazônica e entrar em um
consenso entre a importância da preservação da nossa floresta e a produção de alimento de origem
animal (VERÍSSIMO e PEREIRA, 2014).
Mundialmente a procura está cada vez maior pelo pescado, a média mundial saltou de 9,0
kg/hab/ano em 1961 para 20,5 kg en 2016 kg/hab/ano, entre 1961 e 2016, o aumento anual medio
do consumo mundial de pescado foi de 3,2% superando o aumento do consumo de carne de todos
os animais terrestres somados que foi de 2,8%, em 2015 o pescado representava mais de 17% da
proteína animal consumida pela população mundial (FAO, 2018).
Porém no Brasil, o primeiro lugar está com a carne de frango com consumo per capita de 42,7
kg/hab/ano, em segundo lugar a carne bovina com 42,12 kg/hab/ano, em terceiro lugar a carne suína
14,7 kg/hab/ano e o consumo nacional de pescado está em torno de 9,5 kg/hab/ano (ABIEC, 2019;
FAO, 2018; PEIXE BR, 2019; ABPA, 2018).
A proteína animal mais produzida no mundo com 170,9 milhões de toneladas é o pescado, sendo
90,9 milhões de toneladas oriundas da pesca e 80 milhões toneladas provenientes da aquicultura, a
Aquicultura é o setor de produção de alimentos de origem animal que mais cresce no mundo, no
período entre 2000 e 2016 a produção aquícola mundial cresceu a uma taxa média de 5,8% ao ano,
em segundo e terceiro lugar, praticamente empatados, vem a avicultura e a suinocultura com
aproximadamente 130 milhões de toneladas cada, e em quarto lugar a carne bovina com algo em
torno de 71,4 milhões de toneladas, porém no Brasil, a liderança da produção de proteina animal fica
com aves com 13,5 milhões de toneladas, em segundo lugar a carne bovina com 10,96 milhões de
toneladas equivalente carcaça (TEC), em terceiro lugar estão os suinos com 3,75 milhões de
toneladas, a piscicultura no Brasil produz apenas 722,56 mil toneladas (ABIEC, 2019; ABIEC, 2018;
ABPA, 2018; OCDE, 2016; FAO, 2018; PEIXE BR, 2019).
O objetivo do presente trabalho é elaborar um position paper sobre o desenvolvimento sustentável
para a pecuária na Amazônia Sul-Ocidental, destacando informações sobre a bovinocultura em
comparação a piscicultura, e assim contribuir para a tomada de decisões em relação a produção de

177
229
Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

alimento de origem animal no estado do Acre.

2. METODOLOGIA

As informações fornecidas por orgãos responsáveis pela publicação de dados da pecuária no Brasil e
no Mundo foram examinadas, organizadas e aplicadas de forma comparativa com a microrregião do
Vale do Juruá, localizada no extremo oeste do no estado do Acre.
Para isso foi incluído as características das atividades da pecuaristas de bovinocultura e piscicultura
no Acre em comparação com o Brasil e o mundo. Também foi relatado os desafios para o
desenvolvimento sustentável e o potencial de crescimento da pecuaria na Amazônia Sul-Ocidental,
explorando seus principais indicadores técnicos, as infraestruturas de produção, o tamanho dos
empreendimentos , produtividade e consumo per capita de carne.
E de forma contextualizada e resumida faremos um posicionamento (position paper) sobre as
ativividades de criação de boi e de peixe no Acre, fornecendo ideias próprias e argumentos para
solucionar o problema do desenvolvimento da pecuária na região.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Infelizmente o desenvolvimento da Amazônia, em geral, tem sido realizado pelo “boom-colapso”,


madeireiros realizam a extração ilegal da madeira, com o tempo a atividade madeireira entra em
declínio, posteriormente os bovinocultores iniciam as queimadas para “limpar” o terreno e produzir
pasto para a criação de gado e ao final os pastos entram em processo de degradação e a área é
abandonada, e o crescimento da atividade econômica, geração de emprego, renda, e impostos que
ocorria no começo finaliza com o colapso da economia da região, com o aumento do desemprego e
diminuição da renda (RODRIGUES et al., 2009; SCHNEIDER et al., 2000). Nos anos 80 o começamos a
perceber que os recursos naturais extraídos dos ecossistemas, possuem um limite (threshold), em
2012 o desmatamento da Amazônia já tinha atingido 19% do território e muitos cientistas alertam
que se o desmatamento da Amazônia atingir 40% se inicie um processo irreversível em para a região
se tornar uma savana, e não será possível recuperá-la, trazendo consequências catastróficas para o
aquecimento do planeta, ciclos hidrológicos no Brasil, biodiversidade e seus 24 milhões de
habitantes, dentre os quais mais de 450 mil são indígenas. (VERÍSSIMO, 2012 apud TRIGUEIRO, 2012;
VERÍSSIMO et al., 2011).
A aquicultura tem feito pecuaristas se manter no agronegócio, a ‘‘Revolução Azul’’, nome dado ao
desenvolvimento da produção de pescados em cativeiro em todo o mundo, tem atraído o interesse

178
230
Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

dos pequenos e grandes produtores, essa ideologia empresarial aquícola tem se apresentado e
materializado há duas décadas na Ásia, América do Sul e África e tem o objetivo de: (a) melhorar a
segurança alimentar; (b) gerar emprego e renda; (c) atenuar ou eliminar a superexploração dos
recursos pesqueiros; (d) aumentar a produção de pescado e (e) diminuir a degradação ambiental
(RAMALHO, 2015).
Segundo dados da ABIEC (2019), o Brasil possui um rebanho estimado em 214,69 milhões de cabeças
de gado distribuídos em uma área de pasto de 162,19 milhões de hectares, e produziu 10,96 milhões
de toneladas equivalente carcaça (TEC), um aumento de 12,8% para 2018 em relação a 2017, carcaça
é a soma da carne com o osso, descontado o restante do animal, como a cabeça, entranhas e couro,
o peso médio das carcaças estão em torno de 244,77 kg e o rendimento médio carcaça para o zebu
é em média de 52,8%. Se fizermos uma análise da área utilizada para pastagem em relação a
produção de carne em TEC a produtividade no Brasil fica em torno de 67,57 kg/ha/ano
A produção de pescado no Brasil, produzidas através da piscicultura, foi de 722,5 mil toneladas, um
aumento de 4,5% para 2018 em relação a 2017, dentre as dezenas espécies de peixes cultivadas no
Brasil, a Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) tem se destacado, estando líder no ranking da
piscicultura nacional com aproximadamente 400 mil toneladas, seguida pelo Tambaqui (Colossoma
macropomum), peixe nativo da região amazônica, com 287,9 mil toneladas (FAO, 2018; PEIXE BR,
2019).
Em relação ao o rebanho bovino do Acre, existem aproximadamente 2,8 milhões de cabeças de gado,
em torno de 1,31% em relação do rebanho total do Brasil, o crescimento do rebanho nos últimos 10
anos no estado é de 21,21%, sendo 91,04% destinados a corte, ou seja, 2,55 milhões de cabeças,
porém, em Rio Branco, a capital, o rebanho estimado é de 365.726 cabeças, com crescimento do
rebanho em 10 anos de -4,43 % (ABIEC, 2019). Ou seja, o crescimento do rebanho está diminuído na
capital e indo para o interior, confirmando o “boom-colapso”. A área de pastagem no Acre, de acordo
com o censo realizado em 2017, está em 1,4 milhões de hectares, em tordo de 0,86% em relação a
área destinada a pastagem no país, com 22.640 estabelecimentos espalhados pelo estado e fazendo
uma relação entre a produção em TEC por área de pastagem temos uma produtividade de 94,28
kg/ha/ano (ABIEC, 2018; ABIEC, 2019; ABPA, 2018).
Em relação a produção de proteína de origem animal no Acre, no ano de 2018, o primeiro lugar estão
os bovinos com um valor estimado de 132 mil TEC, aproximadamente 1,36% da produção nacional,
em segundo lugar suinos com 37 mil toneladas, aproximadamente 0,1% da produção nacional, e em
terceiro lugar a produção de peixe em cativeiro com 8,5 mil toneladas, aproximadamente 1,17% da

179
231
Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

produção nacional (ABIEC, 2018; ABPA, 2018; PEIXE BR,2019). No estado do Acre percebemos que
existe uma predominância, dentre as atividades da pecuária, pela bovinocultura, porém a piscicultura
cresceu 21,08% nos últimos 3 anos, possuindo 10.210 (2,24%), de um total de 455.541
estabelecimentos de aquicultura no Brasil (PEIXE BR, 2019). Há perspectivas para o crescimento da
pecuaria na região amazônica, e a criação de peixe é o ramo da pecuária que tem apresentado melhor
rentabilidade e crescimento, segundo estudo realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA, 2018; LIMA et al., 2019).
A Região Norte utiliza o peixe como umas das principais fontes de proteina animal, o consumo acriano
de pescado está acima da média nacional, sendo o estado do Acre, localizado na Amazônia Sul-
Ocidental, um dos maiores consumidores de pescado do Brasil com 12,52 kg/hab/ano, atendendo a
recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere o consumo de pescado seja de
12 kg por pessoa ao ano (IBGE, 2010; FAO, 2018). Segundo a FAO (2018) o consumo de pescado vem
aumentando ano após ano, porém se utilizarmos os valores do consumo per capita anual de pescado
no Acre informado pelo IBGE em 2010 e multiplicarmos pela população acriana estimada para 2019
pelo ultimo censo do IBGE de 2017, que é de 881,9 mil habitantes, a demanda de pescado para o
estado seria de 11 mil toneladas, ou seja, um defict de aproximadamente 1 mil tonelada de pescado
comparando com a produção total de pescado em 2018, se houvesse um dado mais atual de consumo
o defict poderia aumentar ainda mais, ou seja, a pesca e aquicultura não estão suprindo a demanda
de pescado do estado, isso utilizando um consumo de pescado per capita de 2010, isso tem feito com
que o Acre tenha que importar pescado de estados vizinhos como por exemplo de Rondônia, onde
em 2018 a piscicultura produziu 72,8 mil ton de peixe, aproximadamente 9 vezes a produção do Acre
(BRASIL, 2009; IBGE 2010, IBGE, 2017; PEIXE BR, 2019).
Segundo SÁ e colaboradores (2008) os piscicultores do Acre utilizam basicamente três sistemas de
produção: o extensivo, utilizado por 88% dos produtores; o semi-intensivo, utilizado por
aproximadamente 10% e, o intensivo, praticado por apenas 2% dos produtores, com área média
ocupada por cada produtor em média de 1 hectare de lâmina de água. A produtividade do cultivo de
peixes em viveiros escavados em sistemas semi-intensivos pode variar de 6 ton/ha/ano a 12
ton/ha/ano, e desde 2005, de acordo com o extinta Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca
(SEAP/PR), mesmo com a predominância de sistemas extensivos, a produção da piscicultura acriana
ultrapassou a produção da pesca, e de 2005 até 2018 essa produção cresceu mais de 366%, sendo
em 2005 a produtividade da piscicultura no estado de aproximadamente 842 kg/ha/ano (BRASIL,
2009; PEIXE BR, 2019; SÁ et al., 2008).

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232
Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

No Vale do Juruá, extremo oeste do estado do Acre, utilizando as imagens do satélite Sentinel-2 em
27 de julho de 2018, foi visualizado aproximadamente 3.514 viveiros escavados com tamanho médio
de 0,23 hectares por viveiro, totalizando 808 hectares de lãmina d`água (SOUZA et al., 2019). Sendo
que o sistema semi-intensivo tem apresentado uma tendência de crescimento, fazendo a relação
entre a área de lâmina d`água disponível no Vale do Juruá em 2018 com a produtividade máxima
para cada hectare de lâmina d`´agua em sistemas intensivos, a produção anual da região poderia
chegar a ser de aproximadamente 9,6 mil ton/ano, ou seja, se tornar quase que equivalente a
produção total de pescado (pesca e aquicultura) do Acre que foi de aproximadamente 10 mil
toneladas em 2018 (BRASIL, 2009; PEIXE BR, 2019).
A piscicultura no Acre pode aumentar sua produção e produtividade, sem a necessidade de aumentar
a quantidade de viveiros, e consequentemente, sem gerar mais desmatamentos e queimadas para a
região amazônica, utilizando um exemplo do Distrito Federal em 2017, onde a piscicultura é
considera modesta e com apenas 140 hectares de área inundada produziu cerca de 1,5 mil toneladas
obtendo uma produtividade 10,7 ton/ha/ano (PEIXE BR, 2018).

4. CONCLUSÕES

A pesca não supre mais a demanda de pescado do estado do Acre a mais de 10 anos, por isso a
piscicultura acreana vive uma ‘‘revolução azul’’, a imensa rede hidrográfica, clima propício,
rentablidade do negócio e alto consumo de peixe local faz com que a atividade apresente
crescimento ano após ano, e com perspectivas de mais crescimento para os próximos anos.
Porém a criação de peixe no Acre ainda necessita de assistência técnica e ações de extensão aquícola,
devido à falta de conhecimento e experiência dos produtores, principalmente dos que estão iniciando
a atividade.
Atualmente a região do Vale do Juruá possui muitos viveiros escavados desativados, e os que estão
ativos, possuem uma baixa produtividade, mostrando que a piscicultura na região ainda tem sido
praticada, na maioria dos empreendimentos aquícolas, com aplicação de sistemas extensivos,
desenvolvidos próximo aos centros consumidores e com baixo grau de severidade e impacto
ambiental.
Caso ocorra subsídios, treinamentos e capacitações, incentivo à pesquisa e extensão e difusão de
tecnologia a produção de pescado oriundos da piscicultura poderá dar um grande salto na Amazônia
Sul-Ocidental e assim ter um superávit na balança comercial de pescado, trazendo resultados
socioeconômicos positivos, gerando emprego e renda, fornecendo uma alimentação saudável,

181
233
Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

seguro e sustentável.

5. AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Acre – IFAC e do Grupo de Pesquisa e Extensão em Educação Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável (GPEEADS) do IFAC, Campus Cruzeiro do Sul. Nº SÉRIE 002.

182
234
Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

6-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Revolução Azul: O Desenvolvimento Sustentável Da Pecuária Na Amazônia Sul-Ocidental.

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236
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 20
10.37423/200601186

ESTUDO ECOLÓGICO DE MACRÓFITAS


AQUÁTICAS EM AMBIENTES DE ÁGUA PRETA NA
AMAZÔNIA CENTRAL

Maria Anete Leite Rubim

Diogo Campos Cardoso


Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

Resumo: O presente estudo teve como objetivo avaliar os fatores que influenciam a estrutura e
distribuição de macrófitas aquáticas em um trecho do rio Ariaú, um rio de águas pretas, afluente do
rio Negro no estado do Amazonas. Foram estudados seis pontos amostrais, em áreas protegidas como
lago e braço do rio e com fluxo intenso, como o rio. As variáveis físicas e química da água foram medidas
in loco e analisadas em laboratório. Foram encontradas 21 espécies pertencentes a 16 famílias, sendo
que a espécie Salvinia auriculata, esteve presente em todos os ambientes. Observou-se variação na
riqueza, composição e abundância das espécies nos diferentes locais. As áreas próximas a um povoado
apresentaram maior riqueza, aliada aos maiores teores de fósforo total, enquanto que nos locais com
menor influência antrópica, a riqueza e abundância foram menores. Nossos resultados confirmam que
a ocorrência de espécies de macrófitas aquáticas nos ambientes do rio Ariaú, se deve a interferências
antrópicas na área estudada, já que as características das águas pretas, com pouca disponibilidade de
nutrientes e ácidas, restringem o estabelecimento de macrófitas aquáticas.

Palavras chave: ação antrópica; herbáceas aquáticas; rio Ariaú; variáveis limnológicas.

213
238
Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

INTRODUÇÃO

A bacia amazônica é caracterizada pela existência de planícies de inundação relacionada ao ciclo


hidrológico previsível, com fases distintas de seca e cheia (Junk et al., 1989). A amplitude do nível da
água atinge em média 10 m, podendo chegar a 14 m entre os picos de inundação (fase aquática) e seca
(fase terrestre).
Na planície de inundação, as plantas herbáceas aquáticas e semi-aquáticas colonizam uma variedade
de habitats aquáticos e de transição (Piedade & Junk, 2000) e em resposta a essa dinâmica, as plantas
precisam alternar seus ciclos de vida devido à forte influência que o pulso de inundação têm sobre a
estrutura e a composição florística desses ecossistemas (Worbes et al., 1992; Wittmann et al., 2002).
Essas plantas são altamente produtivas e diversificadas, e ocorrem em vários habitats incluindo os
lagos, canais e rio principal da Amazônia (Piedade & Junk, 2000).
A diversidade, biomassa e a produção primária das comunidades de plantas herbáceas aquáticas e
terrestres apresentam diferenças marcantes entre as planícies fluviais de água preta e água branca.
Enquanto na planície inundada pelos rios de água branca (várzea) a biomassa e produção primária
chegam a 80–100 t ha-1ano-1 (Piedade et al., 1991), nas águas pretas (igapó) os valores são
considerados inexpressivos.
As águas pretas do rio Negro e da maioria de seus afluentes são caracterizadas por pequenas
quantidades de material dissolvido em suspensão, um baixo nível de nutrientes e baixos valores de pH.
Tais características podem sofrer alterações devido algum tipo de impacto humano, que afetará
diretamente os habitats e as comunidades aquáticas.
Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo, investigar a ocorrência de macrófitas aquáticas
em um trecho do rio Ariaú, um rio de águas pretas e os fatores que influenciaram na estrutura,
composição e distribuição das espécies.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado em um trecho do rio Ariaú, município de Iranduba, localizado a 34 km de


Manaus, Amazonas. A área amostral caracteriza-se pela presença de espécies de macrófitas aquáticas,
árvores e arbustos característicos de igapó, assim como pela coloração escura da água.
A coleta de dados foi realizada entre os meses de abril e maio de 2019, no período de cheias do ciclo
hidrológico (Figura 1), quando as macrófitas aquáticas têm maior desenvolvimento.

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239
Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

Figura 1. Período de cheia na área de estudo do rio Ariaú (lago) com ocorrência de macrófitas
aquáticas, com profundidade média de 8 metros.
Durante a fase seca, entre os meses de setembro a novembro, os ambientes secam completamente
deixando à mostra o sedimento que passa a ser colonizado por plantas terrestres (Figura 2) e, em
dezembro, um novo ciclo se inicia com o início da enchente. Entre uma fase e outra, a profundidade
nos locais estudados pode variar mais de 8 metros.

215
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Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

Figura 2. Período de seca na área de estudo do rio Ariaú (lago) com ocorrência de plantas terrestres.

Foram selecionados seis pontos amostrais com características distintas em um trecho do rio Ariau. Os
pontos amostrados (em triplicata) foram em locais, com fluxo de água baixo (lago, porto e braço do
rio), na floresta alagada (igapó), na conexão entre rio e lago (canal) e com fluxo alto, nas margens do
rio Ariaú (Tabela 1), sendo que o lago e braço do rio estão situados próximos a um povoado.

Tabela 1. Localização dos pontos amostrais no trecho do rio Ariaú.

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Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

Em cada ponto foram amostrados seis transectos de 10 quadrados (0,25m2), em locais com bancos de
macrófitas. A abundância foi estimada visualmente pela área (%) da cobertura vegetal de cada espécie
e utilizada a escala numérica de Domin-Krajina. Foram determinadas a riqueza, equitabilidade (Pielou)
e diversidade (Shannon-Weaver). As espécies de macrófitas foram identificadas de acordo com Pott &
Pott (2000) e por meio de consulta a especialistas. As espécies foram classificadas de acordo com os
tipos ecológicos (submersas livres, fixas emergentes, flutuantes livres), segundo Sculthorpe (1967),
Pott & Pott (2000) e Thomaz & Esteves (2011).

VARIÁVEIS FÍSICAS E QUÍMICAS DA ÁGUA

Os valores de pH, condutividade elétrica e oxigênio dissolvido foram estimados com aparelho digital
(marca YSI, modelo F-1100, marca YSI, modelo 550A respectivamente) e transparência (com disco de
Secchi) foram medidos perto das formações de macrófitas em cada ponto amostral. A profundidade
da água foi registrada (com corda métrica, com peso na extremidade) no local das formações de
macrófitas. A localização das coordenadas foi validada por meio da utilização de imagens de satélite
na plataforma google earth engine, com precisão associada relativa ao uso de GNSS a partir de código
C/A, em torno de 10m por ponto, considerando uma estimativa conservadora de erros. Amostras para
análise da concentração de fósforo total (em mg/L) foram coletadas a 20 cm de profundidade em cada
local de amostragem e analisados em laboratório segundo APHA (1995).

ANÁLISE DOS DADOS

Para verificar a existência de correlações entre os dados bióticos e abióticos relacionados aos fatores
espaciais (tipos de ambientes), foi realizado o teste de Mantel com correlação de Pearson utilizando
duas matrizes simétricas, uma contendo as distâncias bióticas e outra as distâncias abióticas. A
primeira foi determinada através das distâncias euclidianas e a segunda pelo índice quantitativo de
Bray-Curtis.

Para verificar a diferença espacial (entre os ambientes) na composição de espécies de macrófitas


aquáticas foi realizado uma Análise permutacional – perMANOVA (Anderson & Walsh, 2013) com
dados de abundância numérica. Posteriormente um escalonamento multidimensional não-métrico
(NMDS) foi realizado com o objetivo de permitir a visualização dos padrões espacial das abundancias
numéricas das macrófitas aquáticas. Todas as análises foram realizadas na plataforma R.

217
242
Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total, foram encontrados 21 táxons de macrófitas aquáticas, pertencentes a 16 famílias, 20 gêneros


e 21 espécies (Tabela 2). Entre as espécies, Salvinia auriculata foi comum a todos os locais, mostrando
a grande capacidade de adaptação que possui, tolerando águas ácidas e com poucos nutrientes
(Rubim & Camargo, 2001).

Tabela 2. Famílias e espécies encontradas na área de estudos. Tipos ecológicos FiF = Fixa flutuante; LiF
= Livre flutuante; FiE = Fixa emergente; FFf = fixa com folhas flutuantes; LiS = Livre submersa. Abd =
Abundância relativa, TE = Tipo ecológico e PAO = Pontos amostrais de ocorrências.

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Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

Foram observadas 8 espécies ocorrendo cada uma, em apenas um dos pontos amostrais, indicando
que fatores ambientais podem estar afetando sua ampla distribuição. Foram identificados 5 tipos
ecológicos (Tabela 2) sendo 9 livres flutuantes; 7 fixas emergentes; 1 livre submersa; 1 fixa com folhas
flutuantes e 3 fixas flutuantes. É comum plantas fixas a algum tipo de substrato se romperem e partes
de sua estrutura ficarem flutuando na superfície.
O teste de Mantel não evidenciou a existência de correlação entre as matrizes dos dados bióticos e
abióticos, relacionados aos fatores espaciais (tipos de ambientes) (r = -0,272; P = 0,959, a partir de 999
permutações), apoiando assim a hipótese nula de falta de relação entre os dados bióticos e abióticos.
A perMANOVA, não apresentou diferenças significativas entre os ambientes utilizando as abundâncias
numéricas das macrófitas aquáticas (pseudo-F = 2.497, df = 1,4, p < 0.05). Na NMDS foi possível
verificar no primeiro eixo a separação dos ambientes porto, igapó e canal dos ambientes de lago e
braço, enquanto no segundo eixo não ficou clara essa discriminação entre os ambientes, com exceção
para o ambiente rio que discriminou dos demais ambientes. No primeiro eixo do lado positivo foi
possível verificar o agrupamento da maioria das espécies de macrófitas aquáticas, ficando associadas
aos ambientes de lago e braço (Figura 3).
A separação dos ambientes (Figura 3) e sua relação com a presença de macrófitas aquáticas pode estar
relacionada a vários fatores que influenciam na estrutura e distribuição das plantas nos ambientes que
compõem a paisagem do rio Ariau. Os ambientes lênticos como o lago e o braço do rio apresentaram
maior ocorrência de espécies, enquanto nos lóticos, com maior fluxo de água, como os rios, a presença
das plantas aquáticas foi reduzida.

219
244
Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

Figura 3. Ordenação do escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS) das espécies de


macrófitas aquáticas e tipos de ambientes.

A velocidade de fluxo da água é um fator importante que influencia a composição de espécies de


plantas nos diferentes tipos de habitat aquático. Autores como Bornette & Puijalon (2011) consideram
que o movimento da água é uma das variáveis ambientais mais importantes no estabelecimento de
macrófitas nos habitats aquáticos lênticos e lóticos.
Nas áreas com menor fluxo de água, lago e braço de rio, a riqueza (S) foi de 17 e 14 espécies
respectivamente, enquanto que nas margens dos rios, com fluxo maior de água, foi observada a
presença do capim Paspalum repens, restrito às áreas litorâneas, onde nesses habitats é comum a
colonização predominante de espécies emergentes. Também foi encontrada a espécie Salvinia
auriculata, espécie flutuante, no meio da população de capins, que permanecem protegidas do fluxo
de água. As duas espécies têm ocorrência registrada nas águas pretas e brancas. As variações de pH,
oxigênio dissolvido, transparência e condutividade (Figura 4) observadas nos diferentes ambientes,

220
245
Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

parece não ser um fator limitante para a ocorrência das duas espécies, já que colonizam diferentes
locais da área amostral, mas podem ser restritivas àquelas de rara ocorrência.

Figura 4. Valores de pH, oxigênio dissolvido, transparência, condutividade elétrica, fósforo total e
riqueza de espécies nos pontos amostrais.
Os habitats como igapó, onde a floresta permanece inundada por 5 a 6 meses, tendem a apresentar
baixa riqueza (S = 1), devido a cobertura vegetal afetar a disponibilidade de luz, essencial para a
realização do processo fotossintético.

221
246
Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

Piedade et al. (2010) citam que a densidade de plantas herbáceas é extremamente baixa nos igapós
de águas pretas, devido à baixa qualidade nutricional do substrato. Importante destacar que a área de
igapó, durante o período de cheias, é intensamente utilizada por pequenas embarcações para prática
de turismo ou para o transporte de ribeirinhos. Esse aspecto pode ter interferido no deslocamento de
macrófitas flutuantes e ocasionado a presença de Salvinia auriculata no local.
A riqueza (S) total encontrada nos pontos do porto, rio e canal apresentam valores baixos e podem
estar relacionados a pouca disponibilidade de nutrientes como fósforo, cujos teores são reduzidos
nesses locais (Figura 4). Esse fato pode explicar a presença de Victoria amazônica em um único local
(porto), com poucos indivíduos. Ao contrário, os pontos amostrais com maior riqueza de espécies (lago
e braço de rio) ficavam próximos às áreas com influência antropogênica, de um pequeno centro
urbano onde não há coleta e tratamento de efluentes domésticos, que são lançados nos corpos
hídricos. Como consequência, o aporte de nutrientes nessas áreas é maior, como observado para os
teores de fósforo (Figura 4). Biudes & Camargo (2006) e Del Pozo et al. (2011) consideram que as
atividades antrópicas favorecem o crescimento de macrófitas, principalmente de espécies
emergentes.
Os valores encontrados de diversidade e de equitatividade foram respectivamente, 2,69 e 0,89. Estes
valores podem mostrar, para este estudo um padrão de homogeneidade das espécies de macrófitas e
as condições ambientais, avaliadas no rio Ariaú. Macêdo et al. (2012) avaliando macrófitas aquáticas
como indicadoras do status de conservação no estudo de caso feito no açude Itans (Caicó-RN)
encontrou valor de diversidade próximo de 1,0 e equitabilidade em torno de 0,8.
Segundo Noleto et al (2019) em um trabalho realizado em reservatório no rio Tocantins, as espécies
submersas de macrófitas apresentaram, em particular, alta frequência, cobertura e riqueza. A
transparência da água é provavelmente um fator ecológico fundamental por trás desses padrões, uma
vez que a radiação é um fator limitante para espécies submersas. Nesse estudo a presença de uma
única espécie submersa Utricularia foliosa em apenas um local (lago), evidencia que a transparência
pode ter limitado a ocorrência dessa espécie. Macrófitas aquáticas emergentes são bastante comuns
nos ambientes aquáticos amazônicos. Paspalum repens, Hymenachne amplexicaule, Oryza
glumaepatula e Leersia hexandra compõem a família Poaceae, o segundo grupo mais expressivo em
termos de riqueza e cobertura. Noleto et al (2019) também encontraram resultados similares, com as
espécies emergentes formando estandes multiespecíficos em áreas muito rasas, com diversidade
decrescente ao longo do gradiente de profundidade. Os autores citam que nos habitats rasos, os
táxons emergentes têm vantagem competitiva sobre espécies submersas e flutuantes, porque suas

222
247
Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

folhas permanecem expostas a intensa radiação enquanto seus sistemas radiculares captam
nutrientes diretamente do sedimento.
A ocorrência de espécies livres flutuantes como Pistia stratiotes e Eichhornia está intimamente
relacionada ao status trófico do ecossistema aquático (Hoveka et al., 2016; Lacoul & Freedman, 2006),
corroborado pelos teores de fósforo. Aliado a isso, a condutividade elétrica pode ser considerada uma
medida indireta das concentrações de nutrientes dissolvidos na água (Cometti et al., 2008), com um
aumento dessa variável nos ambientes com influência antrópica.

CONCLUSÃO

Nas águas pretas, a ocorrência de macrófitas aquáticas está associada a ambientes alterados por
atividades antrópicas, já que as características naturais das águas, com pouca disponibilidade de
nutrientes e acidez, limitam sua ocorrência. As espécies livres flutuantes foram o grupo com maior
riqueza e cobertura, seguida das espécies emergentes. O ciclo hidrológico muda a paisagem dos
habitats que compõem a paisagem do rio Ariaú, como as áreas com menor fluxo de água como lago e
braço de rio e aquelas com maior fluxo como as margens do rio. Esse aspecto é o que regula a
distribuição e composição das macrófitas, fazendo com que as mesmas desapareçam na fase seca, e
possibilitando o estabelecimento da nova geração na fase de cheia.

223
248
Estudo Ecológico De Macrófitas Aquáticas Em Ambientes De Água Preta Na Amazônia Central

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225
250
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 21
10.37423/200601187

ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E
ESTRUTURAIS DA PESCA NO MUNICÍPIO DE
MONTE ALEGRE, BAIXO AMAZONAS, PARÁ

Anderson Araújo dos Santos

Elizabete de Matos Serrão

Diego Maia Zacardi


Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

RESUMO: O objetivo do trabalho foi investigar os aspectos socioeconômicos dos pescadores e


caracterizar a atividade pesqueira praticada no município de Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará. Os
dados foram coletados durante o primeiro semestre de 2017 por meio de metodologia participativa,
com entrevistas e aplicações de formulários semiestruturados aos pescadores locais, e as informações
foram analisadas utilizando-se estatística descritiva. Os resultados revelaram que a maioria deles são
do sexo masculino, com idades entre 20 a > 60 anos, escolaridade referente ao ensino fundamental
incompleto, sendo a maioria depende exclusivamente da pesca, sendo o pescado direcionado para a
comercialização. A frota local atuante é composta por embarcações de madeira que variam de 5 a 12
metros de comprimento e exploram como principais áreas de pesca o lago Grande de Monte Alegre e
trechos do rio Amazonas. A malhadeira foi citada como o principal apetrecho utilizado nas pescarias e
junto com outras artes e métodos capturam cerca de 22 categorias de peixes, com destaque para os
maparás (Hypophthalmus spp.), os aracus (Schizodon fasciatus e Leporinus sp.) e o fura-calça
(Pimelodina flavipinnis). Portanto, a pesca realizada em Monte Alegre tem caráter artesanal, praticada
diariamente e suspensa apenas durante o período de defeso. Neste cenário, torna-se imprescindível
o desenvolvimento de políticas públicas que levem em consideração a questão econômica, social e
cultural desta atividade produtiva na região, e por isso, aponta-se a necessidade de programas de
alfabetização, de cursos e capacitações que ajudem a agregar valor ao pescado, ações e estratégias
participativas de manejo sustentável dos recursos pesqueiros e atuação intensiva dos órgãos
competentes na fiscalização da pesca visando a melhoria da qualidade de vida dessa classe de
trabalhadores locais.

Palavras-chave: Pesca artesanal; Sociocognição; Recursos pesqueiros; Sustentabilidade; Amazônia.

198
252
Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

INTRODUÇÃO

A pesca na região do Baixo Amazonas envolve pessoas de diferentes estratos sociais que, de alguma
forma, se relacionam com a exploração dos recursos pesqueiros, tanto com fins de subsistência quanto
comerciais. Essa atividade possui um importante papel socioeconômico no emprego de mão-de-obra,
geração de renda e oferta de alimentos para grande parcela da população, além de estabelecer uma
vasta diversidade cultural (SILVA e BRAGA, 2016; LAURIDO e BRAGA, 2017; SERRÃO et al., 2019a;
COELHO et al., 2020).
Em geral, as pescarias são exercidas por pescadores autônomos que executam a atividade de forma
individual ou em parcerias, empregam múltiplas artes de pesca e utilizam embarcações de madeira
sem instrumentos de navegação e com pouca autonomia, explorando diferentes ecossistemas
aquáticos de acordo com suas especificidades, além de considerar as variedades e hábitos das
espécies, a sazonalidade de ocorrência e estratégias de captura (ZACARDI et al., 2017; VAZ et al., 2017;
SERRÃO et al., 2019a,b; ZACARDI e SILVA, 2020). Normalmente, comercializam diretamente o produto
em feiras e mercados da região, como também para intermediários gerando emprego e renda (CRUZ
et al., 2015; CORRÊA et al., 2018; ZACARDI, 2020a). De acordo com Camargo e Petrere (2004) o
entendimento operacional e organizacional da pesca é de extrema importância, pois representam base
fundamental para avaliação de aspectos sociais, econômicos e ambientais na atividade.
A precariedade da estatística pesqueira e a ausência da informação sobre a abundância das espécies
de peixes em nível regional é crítica, sofrem de uma carência generalizada de dados biológicos e
especialmente socioeconômicos, o que compromete uma avaliação do estado de sua conservação, e
também inviabiliza, no mínimo parcialmente, a projeção potencial do uso de seus recursos e seu
manejo sustentável (ISAAC et al., 2008; SILVA-JUNIOR et al., 2017). É notório, na região do Baixo
Amazonas, a carência de infraestrutura, gestão administrativa adequada e políticas públicas que
garantam o uso sustentável dos recursos pesqueiros e atendam aos anseios dos usuários que
escassamente são considerados nos processos de tomada de decisão (SERRÃO et al., 2019b; ZACARDI,
2020a).
Para que as medidas de manejo pesqueiro possam ser traduzidas em resultados efetivos, tanto para
os recursos naturais como para os núcleos humanos que deles dependem, são necessárias
informações sobre as características da pesca artesanal. Neste contexto, o trabalho fornece dados em
relação ao perfil socioeconômico dos pescadores e caracteriza a estrutura operacional da atividade
pesqueira no município de Monte Alegre, situado na região oeste do Pará.

199
253
Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

A cidade de Monte Alegre está localizada à margem esquerda do rio Amazonas, na região oeste do
estado do Pará (latitude 02º00'28" S e longitude 54º04'09"W), situada a 84,15 km de distância de
Santarém (Figura 1) e faz parte, junto com outros nove municípios, da mesorregião do Baixo Amazonas.
O clima na região é tipicamente quente e úmido, apresentando precipitação sazonal com períodos
chuvoso e seco, e temperatura média anual de 26,8 °C (JESUS et al., 2018).

Figura 1. Localização do município de Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará, Brasil.

COLETA DE DADOS

O trabalho teve caráter analítico-descritivo, com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados por
meio de entrevistas individuais de maneira fracionada e aleatória por intermédio de aplicação de
formulários semiestruturados direcionados aos pescadores e demais atores sociais envolvidos na
prática da pesca local, no período de janeiro a julho de 2017, com a intenção de obter informações
referentes a fatores sociais e econômicos dos pescadores e conhecer a estrutura técnica e operacional
da atividade pesqueira.

200
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Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

Além disso, foram realizadas observações participativas que consistia no acompanhamento da rotina
e envolvimento nas atividades de interesse dos pesquisadores (conversas informais, assembleias e
reuniões nas sedes e núcleos de base da colônia de pescadores e pescadoras - CPP), estabelecendo
maior aproximação a fim de conhecer melhor a atividade por eles praticada (VERDEJO, 2010).
A técnica utilizada para a pesquisa dos dados foi a snowball sampling, também conhecida como
método “bola-de-neve” (HANDCOCK e GILE, 2011), se trata de uma amostragem não probabilística em
que um pescador, no caso, culturalmente conhecido na região de estudo e competente, recomenda
outro de competência similar, repetindo-se o processo a partir dos novos incluídos até que o
pesquisador tenha abrangido a maior parte dos pescadores. Levou-se em consideração os locais
(quatro bairros na área urbana) de maior concentração de pescadores atuantes, de acordo com dados
cedidos pela CPP-Z11, de forma a assegurar a representatividade.

ANÁLISE DOS DADOS

Todos as informações foram dispostas em planilha eletrônica com a plotagem de dados em gráficos e
tabelas, analisados por meio de estatística descritiva, com cálculo de frequência de ocorrência e
obtenção de medida de tendência central (média) e de dispersão dos dados (desvio padrão) como
descrito por Triola (2005) e Fonseca e Martins (2008).
As espécies foram anotadas pelos seus nomes vulgares e quando similares foram agrupadas em
categorias de nomes vulgares. Dessa forma, entre a categoria designada “pescadas” incluíram-se todas
as capturas das espécies da família Sciaenidae, ou sob o título de “piranhas” e “pacus” foram agrupadas
várias espécies de peixes da família Serrasalmidae, que possuem essa denominação.
A Frequência de Ocorrência (%) foi calculada pela fórmula: Fo = (Ta x 100) / TA, Onde: Ta é o número
de vezes que a espécie foi citada e TA é o total de entrevistados. A escala empregada como critério
para determinação das principais espécies capturadas na região foi determinada de acordo com o
Zacardi et al. (2014): > 70 % muito frequente; 70 – 40 % frequente; 40 – 10 % pouco frequente e < 10 %
esporádica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil socioeconômico dos pescadores


Os resultados mostram que entre os pescadores a idade média correspondente a 39 anos (±12,25),
com amplitude variando de 20 a 64 anos, e muitos declararam que iniciaram as pescarias ainda na
adolescência, aprendendo o ofício com o pai ou alguém próximo à família. A maioria deles são do sexo

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Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

masculino, com ensino fundamental incompleto (74%), nascidos na própria cidade (70%) e associados
a CPP Z-11.
A dependência econômica foi declarada pela maior parte dos pescadores que possuem na atividade
pesqueira sua única ocupação, voltada para a comercialização (94%), conseguindo uma renda média
mensal de 1 salário mínimo ou mais (Tabela 1), com valor de R$ 937 em 2017, mas informaram ocorrer
uma variação sazonal na renda em determinados períodos do ano, vinculado ao ciclo hidrológico local,
dificultando a pescaria durante as águas mais altas, além da determinação e legalização das normativas
dos períodos de proibição da pesca, os chamados “defesos” estabelecidos pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que buscam garantir a renovação dos
estoques naturais, a perpetuação e a sustentabilidade das espécies de peixes.

Tabela 1. Participação relativa (%) do perfil socioeconômicos dos pescadores artesanais atuantes no
município de Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará.

Pescadores entrevistados (N =34) (%)


Masculino 94
Sexo
Feminino 6
Fundamental incompleto 74
Fundamental completo 9
Escolaridade
Médio incompleto 12
Médio completo 5
Monte Alegre 70
Santarém 9
Prainha 9
Origem Almerim 3
Altamira 3
Itaituba 3
Tucuruí 3
Filiados a colônia Sim 76
Não 24
20-35 38
Faixa etária 36-50 35
51-75 27
<1 salário mínimo 24
Rendimento mensal 1 salário mínimo 29
>1 salário podendo chegar a 3 47
Subsistência 6
Finalidade da captura
Comercialização 94
<3 20
Membro familiar (%) 4-5 59
>5 21

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Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

A elevada idade constatada, em conjunto, com a baixa representatividade das mulheres na atividade,
o baixo grau de escolaridade, o grande número de membros da família, refletem a realidade social dos
pescadores atuantes no Baixo Amazonas e que não se diferencia das demais regiões da Amazônia
(LIMA et al., 2012; ZACARDI et al., 2014; ZACARDI et al., 2017; LAURIDO e BRAGA, 2018; CORRÊA et al.,
2018, ZACARDI e SILVA, 2020), em que muitos jovens participam da pesca desde de muito cedo e que
inúmeras vezes precisa optar entre os estudos e a atividade (objetivando o complemento da renda
familiar), situação que acaba limitando a prática de outras atividades melhor remuneradas, o que
justificaria a pesca ser a única oportunidade de emprego e renda para estes pescadores. E mesmo com
idades avançadas, diversos pescadores, ainda estão ativos no exercício da atividade, buscando nos
lagos e rios da região o meio de sustento para suas famílias, contribuindo efetivamente para a
economia local
De acordo com Zacardi (2020a), a renda média dos pescadores é modulada pela sazonalidade das
águas locais, condicionada a dinâmica do rio Amazonas, alcançando os maiores valores de renda
durante as fases de vazante e seca (período de safra na região), e os menores valores na enchente e
cheia, coincidindo com o período defeso e a expansão dos ambientes aquáticos, momento que dificulta
a captura dos recursos pesqueiros e torna a atividade menos produtiva principalmente no rio.
Segundo os pescadores os lucros obtidos com as pescarias são reinvestidos na atividade, mesmo com
baixos rendimentos, por isso pescam o máximo possível para aumentar a lucratividade, mas a baixa
renda é o fator que limita e impede o aumento do esforço de pesca e reinvestimentos para aumentar
a capturabilidade.
A consolidação dos pescadores artesanais como uma categoria social, objeto de políticas públicas,
promoveu algumas conquistas deste grupo social. Mas, as definições e critérios de enquadramentos
destas políticas assumem um caráter normativo, próprio da necessidade de se aplicar um “recorte” ao
público alvo, no sentido de definir, entre um universo de potenciais beneficiários, aqueles que terão
acesso a essas políticas (FRIZZO e ANDRADE, 2005).
Para muitos, a identificação enquanto pescador artesanal é estratégico e permite a esse grupo valer-
se das políticas públicas direcionadas a esta categoria, situação vivenciada por inúmeras comunidades
e que levam ao agravamento de conflitos (SCHIMITI et al., 2013). No entanto, esse aumento do número
de indivíduos cadastrados para obter acesso ao auxílio dos programas, acabam por afetar
negativamente a sustentabilidade dos recursos pesqueiros, comprometendo os estoques naturais. Já
que a maior parte do benefício estaria sendo “utilizada” e “investida” nas pescarias, o que proporciona

203
257
Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

maior poder de compra de arreios e outros materiais, com implicação no possível aumento do esforço
de pesca (PEREIRA e MOTA, 2012).

GENERALIDADES SOBRE A ATIVIDADE PESQUEIRA

A pesca é realizada na maior parte das vezes em dupla, num universo em que 80% dos entrevistados
eram proprietários e pescadores, e apenas 20% classificados como ajudantes. Nesse caso, a renda
arrecadada é dividida 2/3 para o proprietário da embarcação e 1/3 para o ajudante, caracterizando um
sistema de parceria que fortalece o relacionamento entre aqueles diretamente e indiretamente
envolvidos com a pesca.
Foram registrados três tipos de embarcação: canoas motorizadas - CAM (n=14), bajaras - BAJ (n=14) e
geleiras - GEL (n=2) (Tabela 2), sendo 96% delas não cadastradas em nenhum órgão ou instituição do
setor.
Tabela 2. Tipo e características das embarcações utilizadas pela frota pesqueira no município de Monte
Alegre, Baixo Amazonas, Pará.

Tipo Casco Convés Casaria Comp. (m) Propulsão Combustível


CAM Madeira Ausente Ausente 5,0 - 8,5 Motor rabeta Gasolina
BAJ Madeira Ausente Ausente 8,8-10,0 Motor de centro Diesel
GEL Madeira Fechado Presente 12 Motor de centro Diesel
A predominância de canoas motorizadas (rabetas) e bajaras pode ser explicada pela versatilidade
dessas embarcações que possuem motores propulsores, mas também podem ser deslocadas com a
utilização de remos. Dessa forma, aumenta a possibilidade de explorar diversos ambientes e se
locomover por dentro da floresta de várzea que sofrem oscilações do nível de água e apresentam
corpos d’água com grandes extensões de bancos de macrófitas flutuantes, além de favorecer a
utilização de variadas técnicas de pesca que demandam um meio de transporte “diferenciado”
(ZACARDI et al., 2020b).
De acordo com Almeida et al. (2009), as embarcações da região amazônica são bastante homogêneas
em relação a tecnologia. Além disso, as embarcações de pequeno porte exploram maior diversidade
de espécies do que os barcos maiores tanto em termos numéricos quanto na proporção de captura
total.
O pequeno número de barcos “geleiras” na região, deve-se ao fato deles não atuarem diretamente na
captura de pescado, são definidos apenas como mecanismo de transporte e conservação do pescado,
pois possuem caixas ou urnas com gelo, em que transportam o pescado para os centros urbanos para
comercialização nos mercados, ou até mesmo exportando para outros estados (ZACARDI et al., 2016).

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Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

Além disso, essas embarcações atuam como base para a frota de embarcação menores, como as
canoas e bajaras (ZACARDI et al., 2020a)
Apenas 21% dos pescadores relataram usar coletes salva-vidas (não frequentemente), entretanto o
principal equipamento citado e de uso frequente foram as lanternas (por canoas e bajaras) e holofotes
(geleiras) uma vez que auxiliam na navegação durante o período noturno.
A frequência de ocorrência das citações quanto aos ambientes mais explorados pelos pescadores
foram os lagos (81%), seguido pelo rio Amazonas (29%). O lago Grande de Monte Alegre recebeu
destaque com mais de 50% dos pescadores, indicando esse ambiente lacustre como principal área de
pesca. Essa realidade já foi documentada em diversos trabalhos na região do Baixo Amazonas (LIMA
et al., 2016; LAURIDO e BRAGA, 2017; VAZ et al., 2017; SERRÃO et al., 2019b), que destacaram os lagos
de várzea como locais de extrema importância para as pescarias, com as capturas direcionadas para o
tambaqui, maparás e o pirarucu.
Entretanto, para diminuir o esforço de pesca nos lagos de várzea e manter a produtividade do
ambiente, um número crescente de comunidades ribeirinhas tem elaborado acordos de pesca e regras
informais com normas que envolvem uma ou várias restrições sazonais ou permanentes. Essa
particularidade é responsável por diversos conflitos enfrentados entre os pescadores comerciais e os
moradores das comunidades ribeirinhas que consideram os lagos como área privada e de pesca
exclusiva (ISAAC et al., 1996). Cenário que aponta a necessidade de um conhecimento sistemático das
pescarias, uma forma de melhor compreender e intervir gerencialmente na atividade, como proposto
por Brelaz et al. (2018).
Em relação as artes de pesca, observou-se que a região conta com múltiplos apetrechos. Entretanto,
a malhadeira (rede de emalhar) predominou com 91%, entre os demais, seguida pelo espinhel (12%),
arpão (9%), caniço (6%) e linha comprida (3%) e tarrafa (3%). Algumas especificações sobre os
apetrechos utilizados estão expostas na tabela 3.

Tabela 3. Características dos apetrechos de pesca mais utilizados em Monte Alegre, Baixo Amazonas,
Pará.

Malhadeiras ou rede de emalhar


Ambiente Quantidade Altura (m) Comprimento (m) Tamanho da malha
utilizado por pescador (mm)
Lago 12- 20 1,5-3,5 45-100 35-60
Rio 6-20 3,0-6,0 50-70 50-90
Espinhel
Ambiente Quantidade Altura (cm) Comprimento (m) Distância entre anzóis
utilizado por pescador (m)

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Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

Rio 3-6 60-130 50-200 5-10


Arpão
Ambiente Quantidade Tamanho do arpão (cm) Tamanho da arte
utilizado por pescador
Lago 1-2 10-15 2,5-3,0
Caniço
Ambiente Quantidade Tamanho (m) Nº do fio Nº anzol
utilizado por pescador
Lago 3 2,0-2,5 0.80 2-6
Linha comprida ou linha de mão
Ambiente Quantidade Tamanho (m) Nº do fio Nº do anzol
utilizado por pescador
Rio e lago 2 100 0.100 3
Tarrafa
Ambiente Quantidade Altura (m) Comprimento (m) Tamanho da malha (m)
utilizado por pescador
Rio e lago 1 2 5 40

De acordo com Zacardi (2020a), as malhadeiras geralmente são de mono e multifilamento (algodão e
náilon), retangulares com diferentes tamanhos de malha (entrenós), possuem maior poder de captura
e, portanto, são as mais usadas para explorar peixes e “bichos de cascos” (quelônios). Essas redes
podem ser utilizadas fixas em estacas de madeira, na vegetação marginal ou flutuante – macrófitas ou
à deriva, suspensas somente por flutuadores ou anexadas as embarcações, está última recebe o nome
de “bubuieira”. As malhas variam em tamanho e espessura de fios, dependendo do tamanho do peixe,
recebendo inclusive denominações específicas, como por exemplo, “isqueira”, “charuteira”,
“jaraquizeira”, “pacuzeira”, “curimatazeira”, “maparazeira” e “pirarucuzeira”.
A predominância do uso das malhadeiras pode ser atribuído a inúmeras vantagens do uso desse
apetrecho, dentre elas estão: a versatilidade, ao pouco trabalho que exige, a divisão do tempo entre
várias atividades produtivas, emprego de outros apetrechos (a utilização de outros apetrechos em
conjunto), disponibilidade para poder tratar de outros interesses, integrar as pescarias com outras
atividades e capturar grande quantidade e diversidade de espécies em curto período de tempo
(ZACARDI, 2015; ZACARDI et al., 2017) e são largamente utilizadas em outras comunidades (ZACARDI
et al., 2014; SILVA e BRAGA, 2016; RABELO et al., 2017; BRELAZ et al., 2018). Ressalta-se que a escolha
do método de pesca empregado está relacionada às características dos ambientes aquáticos, a
variedade e hábitos das espécies.
Quando indagados sobre a produção diária (kg/dia), 71% afirmaram capturar até 50 kg/dia, além disso,
65% citaram como os melhores períodos para a pesca, os meses de julho a dezembro, considerado o
período de safra na região, sendo a maior parte da produção comercializada “in natura” (62%).
Geralmente, cada pescador possui um atravessador específico (parceria), responsável pelo transporte

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260
Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

do pescador até a área de pesca, obtendo como garantia o fornecimento do pescado capturado, com
preço fixado, criando um elo assimétrico de poder econômico entre pescadores e atravessadores.
Esse sistema é conhecido como “aviamento” e se caracteriza pela prestação de adiantamentos
financeiros aos pescadores a serem pagos com a entrega da produção, constituindo o principal sistema
de crédito dessa categoria social. Disso decorre o compromisso de entrega do pescado a preços fixados
pelo atravessador, que atua a montante e a jusante no processo de pesca, gerando um diferencial de
poder a favor desse agente (CAPELLESSO e CAZELLA, 2013). Para Garcez e Sanchez-Botero (2005) a
existência do intermediário é um fator indispensável para o fluxo do produto pesqueiro por meio da
comercialização.
Dessa maneira os pescadores na região de estudo podem ser considerados profissionais. Porém,
diferem-se da proposta de Campos e Chaves (2016), que define pescadores profissionais como aqueles
que pescam para a subsistência de suas famílias, mas conseguem gerar excedentes que são
comercializados no mercado (gerando rendimentos monetários), pescam por conta-própria, ajudados
frequentemente por membros da família não remunerados. Essa definição não se aplica aos
pescadores da região, pois não comercializam apenas o excedente, mas sim toda a produção destinada
ao atravessador, geralmente, os barcos geleiros deste e de outros munícipios.
A pesca no município, segundo a citação dos pescadores, explora cerca de 22 categorias de peixes
(Tabela 4), por possuírem maior disponibilidade nos ambientes aquáticos, serem amplamente
utilizados na alimentação e constituírem a renda local. As categorias mais frequentes foram os
maparás (Hypophthalmus edentatus, H. marginatus e H. fimbriatus), os aracus (Schizodon fasciatus,
Leporinus sp.) e o fura-calça ou furinha (Pimelodina flavipinnis). Pode-se perceber que as capturas
mostram maior incidência de Siluriformes (bagres e peixes lisos) e Characiformes (peixes com escama).

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Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

Tabela 4. Categorias de espécies e frequência de ocorrência. ESP = Esporádicas, PFR = pouco


frequentes, FRQ = Frequentes e MFR = Muito frequentes.

Os maparás são comercialmente importantes para a região Amazônica, sobretudo no trecho baixo do
rio Amazonas (RUFFINO et al., 2006), constituindo-se como importante fonte de emprego e renda para
as população ribeirinhas, que devido a qualidade sensorial de sua carne e elevado rendimento cárneo
faz com que este grupo de espécies seja muito apreciada pelas indústrias de pesca. Porém, da mesma
forma que outros peixes lisos, o consumo local é baixo, devido a tabus alimentares, sendo a maioria
da produção comercializada para outros países e estados do Brasil (CUTRIM e BATISTA, 2005; RIBEIRO
et al., 2008).
Grande parcela dos pescadores cita que a atividade vem piorando com o aumento do número de
pescadores (concorrência), pela diminuição da quantidade de pescado ocasionada pela captura
desenfreada e sem qualquer controle, com reduções significativas, principalmente de espécies como
o tambaqui (Colossoma macropomum) e o pirarucu (Arapaima gigas), pela degradação dos lagos
(desmatamento e assoreamento), pela falta de fiscalização no período de defeso das espécies, pela

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262
Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

utilização no uso de apetrechos inadequados, como a prática de arrastão e a desorganização estrutural


do setor.
Embora haja o reconhecimento e relevância da atividade pesqueira para o desenvolvimento
socioeconômico do estado, observa-se o descaso e a falta de políticas por parte dos órgãos
responsáveis pelo setor, enfraquecendo o sistema, a classe de pescadores e comprometendo a
melhoria da qualidade de vida (ZACARDI et al., 2017). Portanto, torna-se indispensável o
desenvolvimento de políticas públicas, ações de gestão e ordenamento pesqueiros que levem em
consideração a realidade social dos pescadores da região.

CONCLUSÃO

As particularidades das embarcações, dos apetrechos e da finalidade da pesca permitem classificar a


atividade como de caráter artesanal praticada principalmente por embarcações de pequeno e médio
porte variando de 5 a 12 m, realizada por pescadores com dedicação exclusiva e produção destinada a
comercialização, utilizando multiplicidade de apetrechos para explorar cerca de 22 categorias de
peixes, com decréscimo constatado na produção de alguns destes recursos (tambaqui e pirarucu), nos
últimos anos.
A região de Monte Alegre apresenta potencial pesqueiro, pois além de suprir a sua necessidade local
ainda exporta o produto, por meio das geleiras, para outros municípios da região. Assim, sugere-se
que haja maior organização da classe de pescadores por meio de seus representantes para buscar
alavancar e garantir ações de políticas públicas que impulsione a produção do setor pesqueiro regional
de forma coerente e sustentável, objetivando um desenvolvimento socioeconômico pautado na
sustentabilidade.
Diante da importância social, econômica e cultural da pesca artesanal e das funções ecológicas dos
ecossistemas locais, os quais oferecem diversos benefícios para sociedade. Recomenda-se: (1)
implantação de programas de alfabetização, (2) iniciativas educativas como palestras, oficinas, cursos
e capacitações enfatizando à importância do uso de equipamentos individuais e que os ajudem a
agregar valor ao pescado, (3) ações e estratégias participativas de extensão em conjunto com
instituições, ONGs e outros órgãos, de forma a garantir e nortear o manejo adequado e sustentável
dos recursos pesqueiros, e (4) atuação intensiva dos órgãos competentes na fiscalização da pesca
visando a conservação do ambiente e a melhoria da qualidade de vida dessa classe de trabalhadores
locais.

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263
Aspectos Socioeconômicos E Estruturais Da Pesca No Município De Monte Alegre, Baixo Amazonas, Pará

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212
266
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 22
10.37423/200601189

CAPACITAÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES


PARA DESENVOLVIMENTO DE PISCICULTURAS
NO MUNICÍPIO DE ALENQUER, OESTE DO PARÁ

Suzete Roberta Silva

Marcella Costa Radael


Capacitação De Agricultores Familiares Para Desenvolvimento De Pisciculturas No Município De Alenquer, Oeste Do Pará

Resumo: O Brasil possui um grande potencial na aquicultura, porém comparado com as grandes
potências mundiais aquícolas está muito aquém. O estado do Pará se destaca em ser o quarto maior
produtor nacional de espécies nativas, mas sua produção proveniente principalmente de cultivo
extensivo com pouco manejo aplicado na produção dificultando o desenvolvimento da região neste
setor. Este trabalho teve como objetivo formar recursos humanos, capacitar produtores, difundir
conhecimento e conscientizar sobre a importância de práticas corretas no manejo da aquicultura.
Inicialmente se fez um levantamento das pisciculturas locais, observou-se que as técnicas de cultivo
eram muito incipientes e por isso o trabalho manteve seu foco em realização de capacitações nas quais
os produtores teriam uma visão melhor de planejamento de um cultivo de peixes. Em seguida, fez-se
levantamento de literatura para elaboração de um manual com linguagem simples para disponibilizar
ao produtor durante as capacitações. Foram promovidos cursos de capacitação, evento voltado para
produtores, com palestras, mesa redonda, minicursos e atividades práticas.
Muitos dos pequenos produtores capacitados possuem tanques apenas para estocar peixes para
consumo próprio. Embora haja o desejo de se implementar o cultivo comercial, existem entraves que
precisam ser superados. A necessidade de acompanhamento e orientações técnicas traz dúvidas aos
produtores no início e durante os seus cultivos. Essa carência reflete no desempenho e na permanência
do produtor da atividade. Muitos pequenos produtores da região não seguem critérios técnicos para
construção dos seus tanques, poucos fazem algum monitoramento e controle dos seus cultivos. Além
disso, os produtores se deparam com dificuldades para legalização de seu empreendimento
considerando que a região norte possui muitas áreas de conservação o que exige lei especifica para
regularização destes além da documentação de posse da terra que muitos não possuem. Porém com
as capacitações houve uma mudança de perspectiva de como eles devem conduzir seus cultivos,
alguns deles perceberam que podem aumentar sua produção e alguns já começaram a investir na
construção de novos tanques, tecnicamente mais adequados bem como passaram a ter maior
entendimento do comportamento do animal em uma condição adversa, e passaram a entender o
motivo de grandes mortalidades de peixe em momentos isolados nas suas propriedades. A região
possui grande potencial para o crescimento da aquicultura e desse modo acredita-se que trabalhos de
extensão são de suma importância, pois há interesse por parte dos produtores, faltando melhor
conhecimento técnico sobre a atividade, conhecer profissionais capacitados, além de se resolver
problemas locais como a infraestrutura pública para o escoamento da produção por exemplo. E nos
eventos de extensão há a interação dos principais atores, produtor, universidade, poder público.
Palavras-chave: desenvolvimento, aquicultura, alimento, sustentabilidade, peixe.

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Capacitação De Agricultores Familiares Para Desenvolvimento De Pisciculturas No Município De Alenquer, Oeste Do Pará

1- INTRODUÇÃO

O Brasil, por sua grande extensão territorial e disponibilidade hídrica, tanto de águas continentais
quanto marinhas, possui grande potencial aquícola, assim, ganhando destaque para produção de
organismos aquáticos. Embora com as condições abióticas extremamente favoráveis para produção
de pescado, a produção aquícola nacional ainda apresenta números baixos quando comparados a
outros produtores do topo da lista mundial (FAO, 2016; FAO, 2018).
O aumento significativo da demanda mundial por pescado nos últimos anos, fez com que a produção
de pescado através da aquicultura se tornasse uma alternativa mais viável para continuar aumentando
a oferta de pescado, considerando que a produtividade pesqueira está estacionada (FAO, 2016).
A piscicultura continental, a carcinicultura e a malacocultura são os ramos mais desenvolvidos da
aquicultura brasileira, baseadas principalmente em espécies exóticas ou não nativas, sendo praticadas
em diversos ambientes, modalidades e estratégias de produção (MPA, 2013; BRABO et al., 2016).
Alguns estados apresentam cadeias de produção em estágios mais avançados de estruturação, sendo
autossustentáveis no que diz respeito aos insumos básicos e na capacidade de beneficiamento,
enquanto outros são menos competitivos e necessitam de maiores investimentos. O estado do Pará
se enquadra no segundo grupo, mesmo apresentando condições naturais privilegiadas para o
desenvolvimento das mais diversas modalidades aquícolas (BRABO, 2014; BRABO et al., 2014). A
criação de peixes de água doce é a principal atividade aquícola do Pará, estando presente em todos os
seus 144 municípios (BRABO et al,2016), em especial porque dentre suas características naturais, se
destaca a extensa rede hidrográfica, constituída por cursos d’água das bacias Amazônica, Araguaia-
Tocantins e Atlântico Nordeste Ocidental, além de 562 km de litoral, que propiciam a prática de
diversas modalidades de pesca e de aquicultura (BRABO, 2014).
A aquicultura no Pará está mais fortemente voltada para piscicultura e é praticada em açudes
particulares, viveiros de barragem, viveiros escavados, tanques, tanques-rede, gaiolas flutuantes e
canais de igarapé, sendo os principais organismos cultivados o tambaqui Colossoma macropomum, a
pirapitinga Piaractus brachypomus, alguns híbridos como tambacu Colossoma macropomum x
Piaractus mesopotamicus, a tambatinga Colossoma macropomum x Piaractus brachypomus, o
pirarucu Arapaima gigas e o curimatã Prochilodus spp., são as principais espécies produzidas (MPA,
2013; PEIXE BR, 2019). O Estado conta ainda com alguma produção de camarões marinhos e ostras,
estes empreendimentos comerciais estão concentrados na mesorregião Nordeste do Pará e contam
ainda com poucas iniciativas (BRABO et al., 2014).

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O Estado do Pará, possui 1,25 milhão de quilômetros quadrados (15% do território nacional), sendo o
segundo maior estado em extensão territorial do país, acompanhada de uma vasta diversidade
socioeconômica, cultural e sobretudo a ambiental. (BRABO et al., 2015). Apresenta uma população
estimada em 8 milhões de habitantes que tem como base da sua economia a agropecuária, o
extrativismo mineral e vegetal, a indústria e o turismo.
A região da Calha Norte Paraense está dividida em nove municípios da mesorregião do baixo
Amazonas (Alenquer, Almeirim, Curuá, Faro, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Prainha e Terra Santa)
e tem cerca de 270 mil quilômetros quadrados, abarcando cerca de 321 mil pessoas (com grande
percentual no meio rural) o que representa uma densidade populacional de apenas 1,19 habitante por
quilômetro quadrado, uma das menores do país. Importante mencionar que nesta região cerca de
82% do território é formado por um conjunto de Unidades de Conservação (federais e estaduais),
Terras Indígenas e Terras Quilombolas, onde há grande potencial para estabelecer uma economia de
base florestal a partir do manejo sustentável do uso das florestas e dos bens produtivos.
Concomitantemente, percebe-se que por mais abundante em biodiversidades e recursos, nesta região
a maior parcela da população centra-se num padrão econômico de autoconsumo e com excedentes
de baixo valor agregado.
E quando o assunto é a produção de pescado, o cenário não é muito diferente, sendo o foco da região
a produção de pescado através da pesca extrativista artesanal, baseada principalmente em algumas
espécies que estão em estado de sobrepesca. Neste contexto, um modelo de desenvolvimento
sustentável na Amazônia voltado para a produção de pescado através da aquicultura sustentável é
uma oportunidade de alavancar o setor, sendo de grande relevância para este tipo de iniciativa a
realização de trabalhos de extensão com os quais se divulga conhecimento, e se levanta as principais
demandas de cada grupo alvo trabalhado. Assim, este trabalho buscou fomentar a aquicultura na
região através de ações concretas para capacitação bem como para estimular a produção de forma
mais expressiva de peixe na região, e desse modo, colaborar com melhores condições de vida na
Amazônia e em especial na região da Calha Norte Paraense através da capacitação de agricultores
familiares da região do Oeste do Pará usando o ensino, a pesquisa, extensão.

2- MATERIAL E MÉTODOS

Foram realizados estudos de ampla abrangência no que se refere a aquicultura sustentável na


Amazônia. Diferentes ações voltadas para diagnóstico e capacitação de interessados em trabalhar com
piscicultura no município de Alenquer-PA.

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270
Capacitação De Agricultores Familiares Para Desenvolvimento De Pisciculturas No Município De Alenquer, Oeste Do Pará

Inicialmente foi feito um diagnóstico sobre os cultivos de peixes na região, e sobre o que os
agricultores sabiam sobre a atividade de piscicultura. Após o diagnóstico, foi realizada visita in loco na
região para sistematização cientifica dos contextos e problemas regionais, para então desenvolver
métodos apropriados para que o presente projeto pudesse contribuir efetivamente para o
desenvolvimento da piscicultura em Alenquer-PA.
Entrevistas (Figura 1) foram conduzidas para levantamento de dados sobre o conhecimento dos
agricultores a respeito de aquicultura de forma geral, das potencialidades locais para aquicultura e
como esse público alvo gostaria de trabalhar com produção de organismos aquáticos, além do perfil
dos agricultores familiares tais como: nível de escolaridade, idade, se já tem alguma experiência com
piscicultura, entre outros. Esses dados subsidiaram a tomada de decisão quanto à abordagem que
seria realizada nas visitas subsequentes.

Figura 1. Aplicação dos questionários para levantamento das demandas dos agricultores rurais
interessados na capacitação em aquicultura.
Na segunda etapa do projeto foram apresentadas as principais formas de piscicultura desenvolvida no
país e feitas sugestões das formas mais adequadas para região de Alenquer-PA.
Também foram conduzidos cursos, oficinas e palestras voltados para melhor compreensão da
aquicultura e suas potencialidades.
Ao final, foi avaliado o projeto através de entrevista com os participantes alvos do projeto afim de
verificar a aceitação deles quanto à metodologia utilizada, as necessidades ainda existentes e possíveis
necessidades de remodelar o projeto para atender de forma mais eficaz a população.

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Capacitação De Agricultores Familiares Para Desenvolvimento De Pisciculturas No Município De Alenquer, Oeste Do Pará

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da aplicação do questionário semiestruturado viu-se que os produtores de forma geral


possuem grandes dificuldades para estabelecer metodologias de cultivo de peixes por não ter
qualquer conhecimento técnico sobre o assunto.
Devido ao grande número de produtores rurais, foram escolhidos para execução desse trabalho, os
produtores de uma organização social do município de Alenquer – PA. Dos associados 15% se
disponibilizaram a responder o questionário. Todos do sexo masculino com idade variando de 30 a 60
anos. Foram entrevistados produtores de sete diferentes comunidades de Alenquer-PA.
Ao pergunta-los sobre o que entendiam por aquicultura, termo utilizado para cultivo de organismos
aquáticos, apenas 31% souberam responder de forma objetiva.
Todos os entrevistados já participaram de pelo menos um tipo de associação. Dos entrevistados,
aproximadamente 54% nunca participaram de qualquer tipo de capacitação que pudesse ajuda-los
nas suas atividades rurais, aproximadamente 31% assistiram palestras promovidas por instituições
como Emater e Ufopa, 15 % tiveram alguma capacitação através de minicursos e 7% não responderam.
Ao serem questionados sobre quais tipos de informações técnicas eles gostariam de receber nas
capacitações, aproximadamente 40% dos entrevistados citaram que gostariam de aprender sobre
qualidade de água aplicada à cultivo de peixes, 40% citaram gostariam de conhecimentos sobre os
sistemas de produção de peixes, 30% não especificaram o tema das capacitações, mas justificaram
que qualquer curso que pudesse ajuda-los seria aceito pois estavam tentando se inserir na atividade
da piscicultura. Na entrevista também foi perguntado aos produtores rurais se eles acreditavam que
a região oeste do Pará poderia ser um potencial produtor de pescado da aquicultura e 100% dos
entrevistados afirmaram que sim e quando foi levantado os motivos pelos quais a piscicultura não é
bem desenvolvida na região 46% citou a falta de políticas públicas para estimular o desenvolvimento
da atividade, 30,77% citaram a falta de interesse individual em investir na atividade, 53,85% citaram a
falta de conhecimento técnico sobre piscicultura, 23% citaram problemas com furto dos peixes
cultivados e 7,7% citaram a contaminação da água por “veneno” aplicado nas plantações. Ao
questioná-los sobre o acesso a programas de crédito rural, apenas 15,4% nunca tiveram algum tipo de
financiamento, e dos que citaram que já tiveram acesso ao crédito rural, 91% foram beneficiados com
o Pronaf.
Foi levantado também se, entre os entrevistados, algum deles já cultivava peixes e qual espécie na
opinião deles teria melhor aceitação no mercado de Alenquer para venda. Quanto ao peixe que eles
identificam como mais aceito para venda destacaram-se: tambaqui (Colossoma macropomum),

230
272
Capacitação De Agricultores Familiares Para Desenvolvimento De Pisciculturas No Município De Alenquer, Oeste Do Pará

tambatinga (C. macropomum (fêmea) x Piaractus brachypomus (macho), pirarucu (Arapaima gigas),
bocó (tambaqui na forma juvenil), pintado (Pseudoplatystoma sp.) e matrinxã (Brycon sp.).
Com base nesses resultados foram elaborados cinco minicursos, duas palestras, e organizada uma
visita técnica na busca de melhorar o conhecimento dos produtores rurais em relação a piscicultura
(Figuras 2 e 3). Cada minicurso, palestra e visita técnica tiveram em média 20 participantes, entre
produtores associados, outros produtores não associados, estudantes de graduação da área da
administração e engenharia de aquicultura. No último encontro planejado com os produtores, uma
visita técnica numa fazenda de larvicultura foi feita para que os produtores rurais pudessem ver uma
estrutura adequada de cultivo de peixes, com tanques construídos para se obter uma produção
eficiente e desta forma visualizar o que haviam aprendido na teoria nos minicursos e palestra.

Figura 2. Minicursos e palestras levadas até os produtores rurais de Alenquer-Pa.

Figura 3. Atividade prática dos minicursos de qualidade de água para aquicultura e de manejo em
aquicultura.
O período de contato com os participantes do projeto propiciou verificar que dentre muitos entraves
enfrentados pela aquicultura na região, falta de capacitação entre os produtores rurais Interessados

231
273
Capacitação De Agricultores Familiares Para Desenvolvimento De Pisciculturas No Município De Alenquer, Oeste Do Pará

em produzir peixes, políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do setor, a falta da oferta de
insumos, como a ração e a energia elétrica com preço elevado, são fatores preponderantes para o
baixo desenvolvimento do setor.
Os problemas da piscicultura paraense atravessam todos os elos e ambientes da cadeia, desde a
produção de insumos até o ambiente institucional, como: baixa qualidade genética e falta de
regularidade no fornecimento de formas jovens; preço elevado da ração comercial; rações sem
balanceamento e/ou processamento; ausência de responsáveis técnicos nos empreendimentos;
construções irregulares, sem consulta a especialistas; insuficiência de assistência técnica; dificuldade
de legalização dos empreendimentos; burocracia no acesso ao crédito rural; organização social
deficiente dos piscicultores; falta de escalonamento na produção; e concorrência com os peixes
procedentes do extrativismo (BRABO, 2014; BRABO et al., 2014).
O pescado proveniente da aquicultura comercializado na região é principalmente importado de outros
estados como Mato Grosso, Rondônia e Manaus. Todas estas questões impulsionam e culminam na
necessidade de maior incentivo e melhor formação básica dos piscicultores, sobretudo na região
Norte. Esta região é coberta em sua totalidade pelo bioma amazônico, condição que lhe confere
restrições legais ambientais maiores do que as outras regiões brasileiras (BRASIL, 2012).
Sendo assim, iniciativas de extensão associadas a pesquisa e a ensino podem ser uma das alternativas
para estimular e aquecer o setor piscícola, tornando a região em um futuro não muito distante uma
grande produtora de peixes do país e elevando a posição do Pará da 13° colocação para posições como
Rondônia (2° colocado na produção nacional de peixes) (PREIXE BR, 2019).

4- CONCLUSÃO

A dificuldade de deslocamento na região amazônica e sua extensão se configurou como um agente de


dificuldade para a execução do trabalho. Durante a duração deste, ficou evidente a necessidade de
maior capacitação e apoio técnico às pessoas que ensejam se inserir no setor piscícola. O objetivo
inicial de levar capacitação e despertar o interesse pela atividade foi atingido, porém, verifica-se que
novas ações e um acompanhamento mais constante se faz necessário para obter resultados
impactantes na aquicultura local.

5- AGRADECIMENTOS

N+ADESA, Fazenda Dona Anália, Ufopa Alenquer, Ufopa Monte Alegre.

232
274
Capacitação De Agricultores Familiares Para Desenvolvimento De Pisciculturas No Município De Alenquer, Oeste Do Pará

6- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

______MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA - MPA. Censo aquícola nacional - 2008. Brasília: MPA,
2013. 336 p.

______ MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA. Boletim estatístico da pesca e aquicultura: Brasil


2010. Brasília: MPA, 2010. 128p.

BRABO, M. F. Piscicultura no Estado do Pará: situação atual e perspectivas. Acta Fish, (2)1: 1-7, 2014.

BRABO, M. F., DIAS, B. C. B., SANTOS, L. D., FERREIRA, L. A., VERAS, G. C. & CHAVES, R. A.
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extensionistas rurais. Informações Econômicas, (44)5: 1-13, 2014.

BRABO, M. F., VILELA, M. R. P., REIS, T. S., DIAS, C. L., BARBOSA, J. & VERAS, G. C. Viabilidade econômica
da produção familiar de matrinchã em canais de igarapé no Estado do Pará. Informações Econômicas,
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BRABO, M. F.; PEREIRA, L. F. S; SANTANA, J. V. M.; CAMPELO, D. A. V.; VERAS, G. C. Current scenario
of fish production in the world, Brazil and Pará State: emphasis on aquaculture Acta Fish DOI
10.2312/ActaFish.2016.4.2.50-58, v. 4, n. 2. P. 50-58, 2016.

FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. (2014). The state of world fisheries
and aquaculture: opportunities and challenges. Roma: FAO.

FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations. (2016). Fishery and aquaculture
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FAO. Food and Agriculture Organization of the United Natios. The State of World Fisheries and
Aquaculture (SOFIA). Meeting the sustainable development goals. Fisheries and Aquaculture
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KUBTIZA, F. Aquicultura no Brasil Principais espécies, áreas de cultivo, rações, fatores Limitantes e
desafios. Panorama da Aquicultura, 2015.

PEIXE BR. Anuário PeixeBR da Piscicultura, Associação Brasileira de Piscicultura, 2019. Disponível em:
<https://www.peixebr.com.br/anuario-peixe-br-da-piscicultura-2019>. Acesso em: 27 maio de 2019.

233
275
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 23
10.37423/200601191

CARACTERIZAÇÃO DAS EMBARCAÇÕES DOS


PORTOS DE MAIOR CIRCULAÇÃO NA ILHA DE
MOSQUEIRO, BELÉM – PARÁ

Alessandra Assis

Conceição Medeiros

Jessica Oliveira

Pamela Silva

Rayanne Salimos
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
Resumo: A Ilha de Mosqueiro está entre os principais municípios de Belém do Pará que recebe grande
desembarque de pesca diariamente, e isso tem como influência a grande diversidade de espécies e a
superexploração dos recursos pesqueiros nessa região. A pesca artesanal é a principal atividade
pesqueira do município, atingindo direta ou indiretamente diversas famílias que atuam ou não na
atividade pesqueira. Este trabalho teve como objetivo caracterizar o esforço de pesca (CPUE),
apetrechos utilizados e as embarcações na Ilha de Mosqueiro devido ser uma área de grande
movimentação de embarcações. Para a descrição da frota atuante na área foram utilizados formulários
obtendo informações como o tipo de embarcação, porto de origem, o comprimento total (m), a
tripulação (número de pescadores), a frequência diária das viagens, arte de pesca, data de
desembarque, área capturada, espécies desembarcadas, dias pescando e volume de captura (kg).
Registrou-se um total de 30 embarcações nas áreas monitoradas na Ilha de Mosqueiro. As categorias
presentes nas três localidades acompanhadas estão entre canoas a vela (CAN), canoas motorizadas
(CAM) e barcos de pequeno porte. Dentre os portos de origem, 43% das embarcações pertenciam ao
Cajueiro, 13% a Bacuri e 10% a Vila. Em relação à tripulação, houve diferença significativa entre as
categorias, em que os barcos de pequeno porte apresentaram um maior número de tripulantes.
Quanto aos dias de pesca, pode-se observar também uma diferença entre as embarcações, em que o
barco de pequeno porte, pelo fato de possuir uma maior autonomia de mar realiza viagens mais longas
em comparação as outras categorias. Dentre os tipos de cais utilizados por localidade foi verificado
que 55% das embarcações do Cajueiro fazem uso de cais público, enquanto que na Vila 67% usam a
praia. O método de conservação utilizado em 20% dos barcos da Baía do sol e 18% no Cajueiro é o
gelo, na Vila 80% do pescado era mantido in natura. Por meio das entrevistas pode-se verificar a
presença de apenas dois apetrechos, a rede de emalhe e a tarrafa, onde na Vila a rede de emalhe era
utilizada por todos os pescadores entrevistados. Conclui-se que os principais recursos utilizados pelos
pescadores no município tais como, os tipos de embarcações, arte de pesca, duração das pescarias e
o número de pescadores atuantes nessa atividade, isso nos mostra, que a pesca artesanal nessa região
tem um forte valor econômico e social.

Palavras – Chave: Pesca; Desembarque; Arte de Pesca.

234
277
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
INTRODUÇÃO

A captura por unidade de esforço (CPUE) constitui um importante indicador e é uma ferramenta
comumente utilizada em estudos pesqueiros como forma de entender a dinâmica e as nuances da
pesca e, consequentemente, subsidiar alternativas de manejo (Hoggart et al., 2006; Berkes et al., 2001;
Walters e Martell, 2004). A medição do esforço de pesca e da captura fornece as informações básicas
para se avaliar as mudanças em que se passa uma população submetida a pesca (FONTELES-FILHO,
1989). O esforço é definido como o emprego de certos números de apetrechos de pesca aplicados em
um espaço-tempo, com a finalidade de capturar uma ou mais espécies, de modo que a captura por
unidade de esforço (CPUE) consiste na forma mais direta de se medir os resultados da pesca, uma vez
que é proporcional a abundância relativa das espécies capturadas (OLIVEIRA, 1987).
A utilização de índices como a captura por unidade de esforço (CPUE) para estimar a biomassa de uma
população, assume a homogeneidade do poder de pesca das diferentes unidades pesqueiras
envolvidas. Isto equivale a dizer, por exemplo, que duas ou mais embarcações arrastando por um
mesmo intervalo de tempo (mesmo esforço) simultaneamente na mesma área de pesca, deveriam
capturar a mesma quantidade de determinado recurso.
Características inerentes ao método de pesca, tipo de embarcação e a habilidade da tripulação,
interferem na validade desse pressuposto e introduzem erros nas estimativas de abundância de uma
população e de seus padrões de variabilidade temporal. Através da estimativa do poder de pesca de
embarcações (ou outras unidades de pesca) pode-se padronizar o esforço empregado reduzindo os
erros introduzidos pela variabilidade das mesmas (Gulland, 1983, Sparre & Venema, 1992). Dados de
captura e esforço estão entre as informações mais importantes a serem obtidas na pesca. Muitas vezes,
ao se fazer a avaliação de um estoque pesqueiro, a captura por unidade de esforço (CPUE) é utilizada
como índice de abundância de estoque (FAO,2006).
A Ilha de Mosqueiro é um dos entrepostos pesqueiros do estuário Amazônico que merece destaque
em desembarque da frota artesanal. Cardoso (2000) destaca que a ilha é um dos principais pontos de
desembarque de pescado que abastece os principais mercados de peixes na cidade de Belém. Segundo
Sanyo Techno Marine (1998), em mosqueiro, particularmente na ponte do Cajueiro, a quantidade de
desembarque anual de pescado oscila entre 1.200 a 1.500 toneladas.

235
278
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

A Ilha de Mosqueiro localiza-se geograficamente entre as coordenadas 01° 04’ a 01° 14’ de latitude sul
e 48° 19’ a 48° 29’ de longitude oeste de Greenwich, com altitude média de 15 metros acima do nível
do mar. Uma área de aproximadamente 212 km2 de extensão, é a maior das 39 ilhas que, juntamente
com a área continental, compõem o município de Belém, capital do Estado do Pará (Figura 1), distante
apenas 44,5 km de Belém. Um típico ambiente estuarino com influências marinhas, possuindo 17 km
de praias de água doce. Sendo limitada a sudoeste pela Baia do Guajará, a oeste pela Baía de Santo
Antônio, a noroeste pela Baía do
Marajó, ao norte e nordeste pela Baía do Sol, ao sul pelo Furo do Maguari e a sudeste pelo Furo das
Marinhas. Apresenta uma população residente estimada em aproximadamente 27.000 habitantes
(IBGE, 2010).
Figura 1- A Ilha de Mosqueiro a área continental, compõem o município de Belém, capital do Estado
do Pará.

Fonte: SWBD (2003)

236
279
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
O desembarque pesqueiro na ilha de Mosqueiro tem no entreposto do Cajueiro, Baia do Sol,
Areião/Trapiche da Vila, Porto Pelé, além da ponte do Ariramba, Prainha e Furo das Marinhas, suas
principais referências, notando-se que em proporções bem menores, por força da pesca doméstica de
subsistência Baía do Sol (Leão, 2010).
• Baía do Sol
Uma área tradicional de pesca que sobrevive precariamente da pesca artesanal. Grande parte da
população economicamente ativa do local está ligada a esta atividade produtiva, principal meio de
subsistência da comunidade que, desde a década de 70, convive com a concorrência desvantajosa da
pesca industrial, estabelecendo assim um conflito de pesca no estuário amazônico.
• Cajueiro
Caracterizado com o entreposto pesqueiro, o Cajueiro é ocupado por cerca de 300 famílias, 70% das
quais constituídas por pescadores artesanais, situa-se às margens do Igarapé Cajueiro, entre a ponta
da praia de São Francisco e a de Carananduba. As adjacências da ponte abrigam o manguezal
entrecortado por pequenos córregos e estão sujeitas aos constantes influxos da maré. A localização
do Igarapé facilita o acesso imediato a Baía do Guajará, uma localização estratégica em relação a Vigia
e a ilha do Marajó. Possui como ponto de desembarque a Ponte do Cajueiro, onde situam-se barcos
para desembarque e venda de pescado. O porto do Cajueiro é considerado o mais importante da Ilha,
é beneficiado pela localização de acesso mais rápido, mais próximo à saída da Ilha, também a sua
proximidade à fábrica de gelo. A SEAP em 2006, cadastrou em torno de 450 pescadores tendo como
referência na atividade, a comunidade do Cajueiro.
• Areião/Trapiche da Vila
O trapiche da Vila fica localizado na Praia do Areião na primeira faixa de terra a passar por processo
de urbanização na ilha, perfazendo o complexo de infraestrutura local, composto ainda pelo mercado
municipal da Vila e igreja de Nossa Senhora do Ó. Este ponto de desembarque mantém relação estreita
com as áreas de pesca no Marajó, já que muitas famílias de pescadores residentes no Areião, Vila,
Bispo e Maracajá, são de origem marajoara. Hoje, seguindo a tradição, ainda é possível nestes locais
comprar peixes frescos, inteiros ou em cambadas na hora do desembarque.

COLETA DE DADOS

Foram realizadas visitas à ponte do cajueiro, que é o principal local de desembarque da pesca artesanal
comercial na Ilha de Mosqueiro. Para a descrição da frota atuante na área foram utilizados formulários
específicos (Anexo 1), obtendo informações como o nome e tipo de embarcação, porto de origem, o

237
280
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
comprimento total (m), a potência do motor (HP), a tripulação (número de pescadores), a frequência
diária das viagens e características da arte de pesca utilizada. A frota foi estratificada e descrita de
acordo com a classificação adotada pelo CEPNOR/IBAMA (Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos
Pesqueiros do Litoral Norte/ Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e
Renováveis), a saber:
• Canoa (CAN): Embarcação movida a vela a remo, com casco de madeira de pequeno porte, também
conhecida vulgarmente como bote a remo ou casquinho;
• Canoa Motorizada (CAM): Embarcação movida a motor ou motor e vela, com ou sem convés, com
ou sem casaria, comprimento até 7,99 m. Esta categoria é formada por canoa motorizada, bastardo,
lancha, rabeta e bajara;
• Barco de Pequeno Porte (BPP): Embarcação movida a motor ou motor e vela com casco de madeira,
convés fechado ou semi-fechado, com ou sem casaria, comprimento entre 8 e 11,99 m.
• Barco de Médio Porte (BMP): Embarcação movida a motor ou motor e vela, com casco de madeira
ou ferro, com casaria, convés fechado, comprimento igual ou maior que 12 m.
Para cada desembarque foram obtidas informações como nome da embarcação, data de
desembarque, área de captura, espécies desembarcadas, dias pescando, arte de pesca, volume
capturado em quilograma, preço de comercialização para cada espécie desembarcada, o localde
desembarque, nome do coletor e data de coleta.

ANÁLISE DE DADOS

Os dados coletados foram digitalizados, organizados em uma matriz que cada desembarque foi
representado por uma linha e nas colunas suas respectivas variáveis descritivas. Posteriormente,
receberam tratamento estatístico com auxílio do programa Excel 10. As pescarias foram analisadas
considerando o espaços-temporal, tipo de embarcação, esforço de pesca (número de viagem),
espécies capturadas (kg).
• CPUE
O esforço de pesca representa a ação predatória do homem sobre as populações aquáticas, através
do aparelho de pesca, causando certa mortalidade proporcional à intensidade do seu uso. Ao mesmo
tempo, o número ou peso dos indivíduos retirados por uma unidade de esforço de pesca é uma medida
relativa da abundância aparente do estoque, sob determinadas condições de equilíbrio (FONTELES
FILHO, 1989). A unidade de esforço escolhida foi o número de viagens considerando a correlação
positiva e significante entre a captura e o esforço.

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Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE

CPUE=
• IPP
O esforço de pesca realizado por toda a frota, num determinado período de tempo, será o somatório
dos esforços de cada embarcação, devidamente padronizados através do IPP correspondente, e
expressos na unidade padrão.

RESULTADOS

EMBARCAÇÕES E PESCARIAS

Um total de 30 embarcações foi registrado nas áreas monitoradas na Ilha de Mosqueiro. As categorias
presentes nas três localidades acompanhadas estão entre canoas a vela (CAN), canoas motorizadas
(CAM) e barcos de pequeno porte (Figura 1).
Figura 2- Percentual das categorias de embarcações estimadas para as localidades monitoradas na Ilha
de mosqueiro, CAN: Canoa; CAM: Canoa motorizada; BPP: Barco de pequeno porte.

Fonte: Elaborado pelos autores.


Dentre os portos de origem, 43% das embarcações pertenciam ao Cajueiro, 33% não informaram, 13%
a Bacuri e 10% a Vila.

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Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
Figura 3- Relação entre os portos de origem e as localidades monitoradas.

Fonte: Elaborado pelos autores.


As embarcações monitoradas que operam na Ilha de mosqueiro estão descritas nas categorias a
seguir:
Canoa (CAN) – Embarcação a vela e/ou remo, sem convés. A tripulação variou de 2 a 3 pescadores. A
conservação do pescado é realizada utilizando gelo, as viagens têm duração de 1 a 4 horas, e a
frequência com que realizam as pescarias é diária. A produção varia de 11kg a 15 kg por dia. (Figura
3).
Figura 4- Embarcação atuante na Ilha de Mosqueiro caracterizada como canoa (CAN).

Fonte: Acervo pessoal.


CAM (Canoa motorizada) – Embarcação movida a motor ou motor e vela, com ou sem convés. A
tripulação é composta por 2 a 4 pescadores. Essas embarcações realizam uma viagem por dia, a

240
283
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
frequência mensal das viagens é diária. A conservação do pescado se dá por meio da utilização de gelo,
a produção é de em média 74 kg por viagem (Figura 4).
Figura 5- Embarcação atuante na Ilha de Mosqueiro caracterizada como canoa motorizada (CAM).

Fonte: Acervo pessoal.


BPP (Barco de pequeno porte) – Todas as embarcações acompanhadas possuem casco de madeira,
motor ou motor e vela. A tripulação variou entre dois a cinco pescadores, as viagens possuem duração
de um a sete dias. A frequência mensal de viagens é de um a três. A conservação do pescado em 35%
dos barcos é realizada com gelo, e 59% utilizam urna, a produção por viagem é de em média 156,81
kg (Figura 5).
Figura 6- Embarcação atuante na Ilha de Mosqueiro caracterizada como barco de pequeno porte
(BPP).

Fonte: Acervo pessoal.

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Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
Os pescadores foram perguntados sobre a utilização de embarcações arrendadas, em sua maioria na
Baía do sol (60%) afirmaram possuir barcos próprios. No Cajueiro 73% disseram serem donos de
embarcações, por outro lado na localidade da Vila 67% relataram ter embarcações próprias.
Em relação a tripulação, houve diferença significativa entre as categorias, em que os barcos de
pequeno porte apresentaram um maior número de tripulantes.
Quanto aos dias de pesca, pode-se observar também uma diferença entre as embarcações, em que o
barco de pequeno porte pelo fato de possuir uma maior autonomia de mar realiza viagens mais longas
em comparação as outras categorias (Figura 6).
Figura 7- Percentual de viagens realizadas pelas embarcações categorizadas.

Fonte: Elaborado pelos autores.


Dentre os tipos de cais utilizados por localidade foi verificado que 55% das embarcações do Cajueiro
fazem uso de cais público, enquanto que na Vila 67% usam a praia (Tabela 1).
Tabela 1- Percentual dos tipos de cais utilizados nas três locais.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
O método de conservação utilizado em 20% dos barcos da Baía do sol e 18% no Cajueiro é o gelo, na
Vila 80% do pescado era mantido in natura (Tabela 2).
Tabela 2- Métodos de conservação do pescado para as três localidades analisadas.

Fonte: Elaborado pelos autores.


*In natura não sei se pode ficar maiúsculo

APETRECHO DE PESCA

Por meio das entrevistas pode-se verificar a presença de apenas dois apetrechos, a rede de emalhe
(Figura 8A) e a tarrafa (Figura 8B), onde na Vila a rede de emalhe era utilizada por todos os pescadores
entrevistados. (Tabela 3).
Figura 8- (A)Redes de emalhe utilizadas na Ilha de Mosqueiro. (B) Pescadores fazendo uso da tarrafa.

A)

Fonte: Acervo pessoal.

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286
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
Tabela 3 - Apetrechos de pesca por localidade.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A Pesca realizada pelos barcos da Baía do sol era direcionada ao camarão (40%), no Cajueiro 22% à
dourada, e na Vila 66% à pescada (Tabela 4).
Tabela 4 - Espécies que possuem uma pesca direcionada por área.

Fonte: Elaborado pelos autores.


Nas três localidades acompanhadas foi possível verificar que a maioria dos pescadores não exerciam
nenhuma outra atividade a não ser a pesca. (Tabela 5).
Tabela 5- Principais atividades realizadas pelos entrevistados.

Fonte: Elaborado pelos autores.

PESQUEIROS

No total seis áreas de pesca foram registradas no censo realizado junto as embarcações, onde 60%
dos pescadores da Baía do sol ficava na própria localidade, no Cajueiro 31% pescavam na região do
Marajó, e 66% dos barcos da Vila pescavam na região denominada de "frente de mosqueiro" (Tabela
6).

244
287
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
Tabela 6- Pesqueiros frequentados pelas embarcações monitoradas.

Fonte: Elaborado pelos autores.

CPUE

Os valores de CPUE e esforço foram calculados para cada embarcação. A canoa apresentou uma menor
CPUE média assim como esforço, em contrapartida o barco de pequeno porte apresentou valores mais
altos tanto em CPUE quanto para o esforço (Figura 9).
Figura 9- Esforço e CPUE médio por embarcação

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288
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE

Fonte: Elaborado pelos autores.


Considerando os apetrechos de pesca a rede de emalhe apresentou uma CPUE média de 191 kg/1.000
m rede-dia. A tarrafa apresentou CPUE de 9 kg/tarrafa-hora (Figura 10).
Figura 10 - CPUE e esforço médio para rede de emalhe e tarrafa

Fonte: Elaborado pelos autores

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Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
DISCUSSÃO

De modo geral as embarcações amostradas em Mosqueiro são predominantes artesanais, todas as


embarcações possuem casco de madeira, armazenamento do pescado in natura, em urna com gelo
ou caixa de isopor com gelo, reduzido número de pescadores e produção de baixa escala (PINHEIRO,
2005; QUEIROZ, 2004).
Na localidade de Cajueiro a predominância das embarcações foram de barcos de pequeno porte, na
Baia do sol e na vila canoas motorizadas. Corroborando com (PINHEIRO, 2005), que obteve como
resultado no município de Vigia canoas motorizadas representando 32,4% e para os barcos de
pequeno porte houve uma representatividade de 50,1%.
Dentre os portos de origem, o porte de cajueiro foi o que obteve maior representatividade. Resultados
similares foram obtidos por (OLIVEIRA, 2007), cujo 45% dos barcos tem origem no porto do cajueiro.
Ao aplicar os questionários foi visível essa preferência.
Para a arte de pesca houve duas malhas, tarrafa e rede de emalhe, a segunda com uma maior
predominância. Na ilha de Mosqueiro é efetuada a pesca principalmente por rede de emalhar. A pesca
de rede é uma atividade que vem sendo intensamente desenvolvida pelos pescadores artesanais na
Amazônia (MOREIRA; ROCHA, 1995). Na ilha foi possível observar que os pescadores emendam as
redes umas a outras, o recolhimento das redes é braçalmente.
Dentre as espécies que mais se destacaram para comercialização estão pescada branca (Plagioscion
squamosissimus), dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), as duas espécies foram apontadas como
espécies alvos pelos pescadores devido a sua maior procura, aceitação e valorização para a
comercialização. No Pará, a pescada branca possui alto valor comercial, tanto na pesca de água doce
como estuarina. Entretanto no mercado de Manaus sua contribuição não ultrapassa 2% da produção
pesqueira (BATISTA et al.,2004; SANTOS et al.,2006). A importância comercial da dourada no alto da
bacia Amazônica não é tão elevada para o consumo interno, entretanto para as indústrias de pesca,
que exportam a espécie, e para o consumo interno na região estuarina, sua importância econômica é
bastante elevada (VIANA, 2006).
Para CPUE das embarcações apresentou uma maior CPUE para barcos de pequeno porte e uma menor
para canoa. Segundo (OLIVEIRA, 2007) para as categorias de barcos acompanhadas na ilha de
mosqueiro (CAM e BPP), a CAM apresentou uma captura por unidade de esforço (34,347 kg/viagem)
inferior a BPP (42,652 kg/viagem). Um dos principais aparelhos-de-pesca utilizados no estado é a rede-
de emalhar, responsável pela captura de 64,23 % do pescado (Brito et al., 2004), considerando os

247
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Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
apetrechos de pesca na ilha de mosqueiro a rede de emalhe houve maior representatividade em
relação a tarrafa.

CONCLUSÃO

A ilha de Mosqueiro está entre os principais municípios de Belém do Pará que recebe grande
desembarque de pesca diariamente, e isso tem como influência a grande diversidade de espécies e a
superexploração dos recursos pesqueiros nessa região. A pesca artesanal é a principal atividade
pesqueira do município, atingindo direta ou indiretamente diversas famílias que atuam ou não na
atividade pesqueira na ilha de Mosqueiro.
O estudo mostrou os principais recursos utilizados pelos pescadores no município tais como, os tipos
de embarcações, arte de pesca, duração das pescarias e o número de pescadores atuantes nessa
atividade, isso nos mostra, que a pesca artesanal nessa região tem um forte valor econômico e social.
Segundo os resultados, o porto do Cajueiro apresentou mais desembarques em relação aos demais,
dentre as artes de pesca utilizadas, a rede de emalhe mostrou-se em maior percentual, assim como,
barcos de pequeno porte (BPP), que caracterizam a maior parcela das embarcações, mostrando-nos
que barcos de pequeno porte apresentaram maior valor de CPUE e esforço de pesca.

248
291
Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

NA ILHA DE
REFERÊNCIAS

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Caracterização Das Embarcações Dos Portos De Maior Circulação Na Ilha De Mosqueiro, Belém – Pará

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250
293
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 24
10.37423/200601197

PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À


ATIVIDADE PESQUEIRA COMERCIAL EM
MANAUS, AMAZONAS

Glenda Katherine de Souza Dias

Lucirene Aguiar de Souza


Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

Resumo: O objetivo deste trabalho foi investigar os problemas de saúde dos pescadores comerciais
relacionados à atividade pesqueira. A pesquisa de campo foi realizada entre os meses de agosto de
2015 a junho de 2017 na Feira da Panair, situada em Manaus. Foram entrevistados 80 pescadores por
meio de entrevistas semiestruturadas, sobre a sua rotina de trabalho e cuidados com a saúde enquanto
embarcados. A análise dos dados foi feita mediante estatística descritiva. Os resultados obtidos
revelam que o uso de EPIS (Equipamentos de Proteção Individual) pelos pescadores foram em 79% de
calça comprida, 90% de camisa de manga comprida e apenas 63% usam luvas. Entre os entrevistados
56% se acidentaram com o pescado, das quais as espécies frequentes causadoras dos incidentes foram
a piranha (Serrasalmidae) e a piramutaba (Pimelodidae). 94% dos pescadores alegam fazer
movimentos repetitivos, 69% sentem dores musculares, dos quais 67% se localizavam nas costas.
Outros sintomas constantes que os entrevistados enfrentam são o cansaço na vista (39%) e dificuldade
de enxergar (30%). Constatou-se ainda que 65% dos entrevistados trabalham mais de 9 horas expostos
ao Sol. É necessário a disponibilização de EPIs e o incentivo de uso deste por meio de legislação e de
medidas informativas, de modo que os pescadores entendam a importância do uso dos mesmos para
a prevenção de acidentes. Dentre os pescadores 54% são fumantes e 46% consomem bebidas
alcóolicas. O problema de saúde mais frequente relatado foram as dores musculares, principalmente
na região lombar, além disso, foram relatados casos de problemas de visão decorrente da alta
exposição à claridade do Sol e sua luz refletida na água. Os esforços físicos repetitivos podem causar
LER (Lesão por Trauma Cumulativo) nos pescadores em longo prazo e a alta exposição ao Sol pode
causar graves doenças de pele. Há necessidade de medidas efetivas que melhorem as condições de
trabalho do pescador e assistência para a sua seguridade e bem-estar social.

Palavras chave: pescadores; trabalho embarcado; saúde no trabalho.

251
295
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

INTRODUÇÃO

A busca do homem em encontrar formas de subsistência sempre foi algo natural do ser humano, e
este encontrou na pesca umas das formas mais práticas para adquirir seu alimento (DIEGUES, 1999).
Estudos arqueológicos, antropológicos e históricos afirmam que os primeiros assentamentos humanos
se estabeleceram em regiões próximas a mares e rios (BARROS, 1994). Dessa forma, buscavam garantir
tanto a água doce, como os produtos pesqueiros, o que destaca o papel da atividade da pesca no
sustento das sociedades primitivas (COSTA, 1979; DALL’OCA, 2004).
Na Amazônia, onde se encontra a maior bacia hidrográfica de água doce do mundo (FARIAS, 2012), a
pesca não poderia deixar de ser algo de grande valor para as populações residentes. Esta atividade faz
parte da tradição dos moradores, é fundamental na alimentação da população e tem grande
participação na atividade econômica da região (SOUZA, 2003). A quantidade de peixe consumida pelos
ribeirinhos corresponde uma das maiores já registradas no mundo, refletindo sua forte relação com
este recurso (SOBREIRO et. al, 2006). A atividade pesqueira comercial no Amazonas é uma pesca
artesanal com finalidades comerciais, destinada ao abastecimento dos 9 principais centros urbanos
regionais (IBAMA, 1999).
O pescador é uma figura fundamental para o abastecimento do pescado na região, ainda assim,
segundo Barroco et al. (2016), não existem muitos estudos que abordem questões relativas à saúde,
comuns e inerentes à atividade, e que podem prejudicar os envolvidos. A pesca é considerada uma das
atividades mais perigosas, colocando os pescadores em risco de morte, mais do que trabalhadores de
outros segmentos (ROSA e MATTOS, 2010). Dentre questões que implicam na saúde do pescador, estão
a intensa exposição ao Sol ou ruídos prejudiciais, além do consumo excessivo de bebidas alcoólicas,
fumo e uso de drogas, reflexo do enfrentamento das condições de trabalho (PIMENTA e VIDAL, 2000;
RIOS 2011).
No intuito de conhecer melhor a situação do pescador esta pesquisa teve como objetivo identificar os
principais problemas de saúde relatados por pescadores, conhecendo sua forma de trabalho e
condições à que estão submetidos, verificamos as principais queixas de doenças e buscamos identificar
o que causa no sujeito esses sintomas.

MATERIAL E MÉTODOS

O ponto de coleta de dados foi a Feira da Panair (3°8'45"S 60°0'38"W.), localizada no bairro Educando,
zonal Sul de Manaus. A escolha deste local se deu por ser o principal ponto de desembarque de

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Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

pescado na cidade, concentrando a maior parte dos pescadores comerciais da região e pela
proximidade com a Colônia de Pescadores.
A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário semiestruturado (ANEXO I), o qual foi
submetido ao Comitê de ética e aprovado (44065815.9.0000.5020), aplicados com 80 pescadores na
Feira da Panair, dentre os meses de agosto de 2016 a junho de 2017. Coletamos informações sobre as
condições de trabalho e principalmente saúde durante atividades pesqueiras comerciais no Estado do
Amazonas.
A análise dos dados foi feita mediante estatística descritiva dos dados obtidos nas entrevistas. A
estatística descritiva tem como objetivo básico sintetizar uma série de valores de mesma natureza,
permitindo que se tenha uma visão global da variação desses valores. Neste tipo de estatística, os
dados são descritos de três maneiras: por meio de tabelas, de gráficos e de medidas descritivas (ZAR,
1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 80 pescadores entrevistados, a maioria (79%) trabalha a mais 10 anos, nesse grupo foi observado
que se tratava de pessoas de classe etária mais velha, assim como para Dall’oca (2004), que constatou
que 79% dos pescadores exerciam a atividade mais de 10 anos eram de mais idade e possivelmente
tornaram-se pescadores muito cedo, portanto eram mais experientes. O maior número de pessoas
nessa classe etária também foi observado por Barroco et al. (2016).
A grande maioria dos entrevistados (60%) têm jornadas de trabalho excessivas, 12 horas. Maiores
valores foram encontrados por Barroco et al. (2016), que verificou que boa parte dos pescadores
trabalham 14 horas por dia, diferente de Trabuco (2015) e Freitas e Rodrigues (2015) que constataram
uma jornada de trabalho em média de 8 horas por dia. Alguns pescadores (21%) relataram ainda que
não há pausas durante o trabalho. Mesmo maioria dos entrevistados que relataram haver pausas
durante o trabalho, estes acrescentaram que nem sempre isso ocorre, isso se deve ao caráter da
atividade, pois férias e pausas implicam na perda da produção de trabalho (FREITAS e RODRIGUES,
2015).
A maioria dos pescadores (92%) relatam que trabalham independentemente das condições climáticas,
inclusive períodos de até 9 horas expostos ao Sol (65%). Resultados similares foram obtidos por
Bushatsky et al. (2016) na qual os pescadores ficam expostos ao Sol até 16 horas por dia. A alta
exposição aos raios do Sol é um fator de risco, pois, pode causar câncer de pele, queimaduras, cansaço
nos olhos e, a exposição à luz refletida do sol tem grandes chances de causar a forma mais comum de

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297
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

catarata (BORGES et al., 2016). Rios (2011) relata em seu estudo com pescadores que houveram casos
de displasia epitelial (alterações na pele) e lesões, na qual foi resultante da alta exposição aos raios do
Sol. Como os pescadores ficam expostos ao Sol nos horários mais críticos, como prevenção se faz
necessário a utilização de EPIs, como chapéu, óculos escuros e protetor solar com fator de proteção
15 ou mais (BUSHATSKY et al., 2016).
Sobre a atividade pesqueira, os entrevistados alegaram que são uma classe desfavorecida e que não
tem apoio do poder público, uma parte dos pescadores (22,5%) relataram a necessidade de um
frigorífico para o armazenamento do pescado, pois há um grande gasto na compra de caixas de gelo
para conservação do peixe, assim como alegaram (17,5%) a necessidade de um local para venderem o
mesmo em um porto adequado e organizado. Existe um terminal pesqueiro na Panair, porém até o
momento não se encontra em funcionamento. Souza et al. (2007) já relatou sobre as condições de
trabalho ruins na feira da Panair e que o local de desembarque do pescado é inadequado.
Os pescadores relataram que exposição ao Sol é a principal causadora de deterioração da saúde, assim
como o tempo que passam na água, pois a luz do Sol refletida causa incômodo na visão. Relataram
ainda outros problemas como as poucas horas de sonos, as posturas de trabalho desconfortáveis, que
causam dores na coluna, e o uso de tabaco na embarcação e até mesmo drogas ilícitas por outros
pescadores. A reclamação mais recorrente entre os entrevistados foi a falta de infraestrutura e a
poluição no Porto da Panair, para eles isto também é prejudicial à saúde por conta da exposição ao
lixo, tanto na balsa como nas margens do rio.
Quanto ao uso de EPIs (Equipamento de Proteção Individual) (Figura 15), foi possível observar que a
maioria dos pescadores tomam certos cuidados no seu trabalho diário, com uso de: calça comprida
(79%), camisa de manga comprida (90%), chapéu (91%), luvas (63%), óculos de sol (29%) e protetor
solar (21%). Em sua pesquisa, Ribeiro (2013) constatou que 28,6% disseram não utilizavam EPI’s e que
71,4% usavam luvas ou botas. Ribeiro et al. (2016) constatou que a maioria dos pescadores não
utilizava protetor solar, um dos principais motivos foi por acreditarem não ser importante e pelo alto
preço do produto, que é acima do que poderiam pagar com a renda que ganham, o mesmo se dá ao
uso de óculos. Neste estudo o protetor solar foi o EPI menos utilizado e isso provavelmente se deve ao
preço do produto e por não haver uma preocupação em seu uso. O uso de protetor solar é uma
recomendação do Ministério do Trabalho, assim como o uso de óculos escuros, uma vez que mesmo
com uso do chapéu, a luz do Sol refletida na água pode provocar queimaduras no rosto e nos olhos
(PETRAZZINI, 2017).

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298
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

Figura 1- Frequência relativa (%) dos Equipamentos Proteção Individual (EPI) que os pescadores
afirmam usar durante a atividade pesqueira. PS= protetor solar.

Quanto a acidentes com apetrechos de pesca, uma minoria sofreu acidentes (5%) e um pouco mais da
metade (56%) se acidentaram com o pescado, resultados similares obtidos por Neto et al. (2005). Dos
que se acidentaram com o pescado, as espécies causadoras de acidentes mais frequente (n=12) foram
a piranha (Serrasalmidae) e a piramutaba (Pimelodidae), seguida (n=4) por mandi (Pimelodus spp.) e
raia (Potamotrygonidae), dentre as outras (n=1) estão:, bodó (Locaridae), pirarucu (Arapaima gigas),
jaraqui (Semaprochilodus spp.), dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), piaba (Astyanax
bimaculatus), tucunaré (Cichla spp.), curimatã (Prochilodus nigricans).
Os pescadores consideram que a frequência de ocorrência de acidentes com o pescado é alta (37%).
Edilson et al. (2016) comenta que na maioria das vezes esses acidentes são decorrentes da falta de uso
de EPIs quando o pescador está manipulando o pescado ou no momento da retirada do apetrecho.
Muitos dos acidentes relatados pelos entrevistados tiveram as mãos como membro mais prejudicado,
o que mostra a necessidade do uso de luvas, e ainda assim, como visto anteriormente, muitos não as
usam.
Uma parte dos pescadores alegam não serem vacinados contra o tétano (20%), esse número pode ser
considerado alto, visto que a vacina antitetânica é indispensável, sendo assim, é necessário promover
campanhas para atingir o 100% de imunização desses trabalhadores. Relacionando essa informação
com a ocorrência de sinistros, Borges et al. (2016) comenta que acidentes com apetrechos de pesca

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299
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

deteriorados ou com peixes, podem infeccionar, necrosar e provocar tétano, com isso, fica evidente
que a vacinação contra o tétano se faz necessária.
A maioria dos pescadores (63%) nunca ouviram falar sobre Segurança e Saúde do Trabalhador. A OIT
(2007) diz que o Governo deve assegurar uma legislação e formas para abordar as questões de
segurança e saúde, bem como promover medidas de educação sobre segurança e saúde a bordo dos
barcos de pesca, o que difere dos dados aqui apresentados, pois, mostram que a maioria dos
pescadores nunca recebeu qualquer tipo de informação sobre Segurança e Saúde do Trabalhador.
Poucos foram os entrevistados que relataram terem participado de algum evento, como palestras que
abordassem esse tema, mostrando a necessidade de promover esses conhecimentos para que mais
pescadores sejam alcançados.
Os pescadores em sua maioria (61%) consideram baixo o nível de ruído da casa de máquinas da
embarcação e não se incomodam (94%), consequência costume com o barulho, como explicado pelos
mesmos, ainda que seja um risco que leva a perda de audição. Heupa et al. (2011) obteve resultados
diferentes, relata que a maioria dos pescadores (78,84%) consideraram o ruído de forte intensidade.
O Guia Trabalhista recomenda ruídos aceitáveis até 85 decibéis, acima disso, o ruído do motor pode
ocasionar perda de audição, dores de cabeça, irritabilidade, fadiga, distração e outros problemas ao
pescador (BORGES et al., 2016).
Grande parte dos pescadores (94%) relatam que realizam movimentos repetitivos e sentem dores
musculares diariamente (69%). Essas queixas são consequências da sobrecarga na atividade laboral e
mostra que a atividade pesqueira é um trabalho exaustivo, colocando os pescadores nos limites físicos
corporais, com movimentos repetitivos e posturas extremamente inadequadas. O esforço físico
extenuante adicionado a movimentos repetitivos também pode provocar LER (Lesão por Trauma
Cumulativo) aumentando em até 16,6 vezes a probabilidade de o pescador a desenvolver, além de
aumentar a em 29,4 vezes a chances de desenvolver tenossinovite (inflamação da bolsa sinuvial que
contorna o tendão, atingindo principalmente os dedos e artelhos) com (TRABUCO, 2015; BORGES et
al., 2016).
Sobre sintomas recorrentes (Figura 2), as dores nas costas foi a queixa mais frequente (67%), além de
dores no pescoço (35%), cansaço na vista (39%) e dificuldade de enxergar (30%). Dados parecidos
foram obtidos por Rosa e Mattos (2005), no qual o problema de saúde mais comum foram dores
muculares nas costas e joelhos. Otal et al. (2013) em seu trabalho também constataram que o
problema de coluna predominou em 27% sobre as demais doenças, mas câimbras, problemas de visão,

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300
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

dor de cabeça, gripe e doenças de pele também foram outros sintomas encontrados dentre os
entrevistados.
Os pescadores não costumam ir ao médico (68%) quando apresentam algum sintoma (Figura 3), isso
pode estar relacionado ao fato de os pescadores considerarem mais rápido tratamentos populares
(remédios caseiros, automedicação, etc.) ou devido a jornada de trabalho não permitir que tenham
tempo de agendar consultas no SUS (Sistema Único de Saúde). Ribeiro (2013) também constatou que
a maioria dos pescadores (58,8%), que tiveram queixas de algum problema de saúde, não fizeram
tratamento. Para Prosenewicz e Lippi (2012) na saúde pública há muita dificuldade e demora na
requisição de exames, o que resulta na perda do dia ou dias de trabalho e quando o pescador não
consegue, espera melhorar e volta ao trabalho.
Alguns dos entrevistados (35%) já se ausentaram do trabalho por motivos de doenças e dentre as
enfermidades apresentadas, a malária foi a mais frequente (9 casos). Outros motivos foram: dengue,
acidentes de trabalho, dores musculares, queimaduras na pele pela alta exposição ao Sol, apendicite,
pneumonia, hepatite, câncer, problemas na coluna com fortes dores e até desvio e houve um caso de
hérnia de disco provavelmente em consequência do trabalho extenuante.
Muitos dos pescadores (54%) são fumantes e consomem bebidas alcóolicas (46%). A maioria dos
pescadores (65%) afirmam ser permitido consumir bebida alcóolica na embarcação. Sobre a
quantidade de fumantes e/ou que consumem bebida alcoólica na embarcação, alguns relataram (33%)
que pelo menos de 1 a 5 pessoas são fumantes e entre 6 a 10 pessoas ingerem bebida alcóolica. Rios
(2011) obteve resultados parecidos no qual 38,4% consumiam álcool e de 32% fumavam, já Ribeiro
(2013) relata que 57,1% dos entrevistados fumavam e 88,6% ingeria bebida alcoólica, para Couto
(2012) 21,1% os entrevistados disseram fazer uso de bebida alcoólica pelo menos uma vez por semana.
O uso das drogas lícitas e do álcool, de acordo com alguns pescadores, é recorrente na atividade
pesqueira e representa um momento de desestresse, uma diversão após a árdua jornada de trabalho.
Além disso, essas drogas são usadas inicialmente por influência dos outros pescadores que fazem uso,
uma espécie de tradição dentro da atividade pesqueira. A bebida alcoólica acaba se tornando uma
saída para os pescadores, servindo de gancho para ter coragem e enfrentar situações de risco e de
medo durante o trabalho (RIBEIRO et al., 2017; NETO et al., 2005; OTAL et al., 2013).

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Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

Figura 2- Frequência relativa (%) de sintomas diversos atestados pelos e seu nível de pescadores entrevistados incidência.

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Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

Figura 3- Frequência relativa (%) dos pescadores que procuram ou não assistência médica para
solucionar problemas de saúde.

Quanto a aposentadoria, a maioria (59%pretende se aposentar cedo. Questionados se estes recebiam


algum tipo de auxílio quando se afastavam da atividade pesqueira, o “não” foi quase unânime, até
mesmo quando se trata de acidente ou doença grave, o pescador se sustenta por conta própria, alguns
chegam a recebem aposentadoria se cadastrados na Colônia de Pescadores e, em raros casos, o
próprio dono da embarcação ajuda. A falta de seguridade social para os pescadores já foi observada
por Barrroco et al. (2016). O pescador é amparado por Leis que garantem os seus direitos, como o da
aposentadoria e a OIT (2007), diz que seguridade social é a garantia de proteção concedida ao
trabalhador que está em situação de vulnerabilidade econômica ou social decorrente de doenças,
invalidez, idade avançada, acidentes de trabalho, etc. A classe dos pescadores desconhece seus
direitos pela falta de informação ou quando sabem, não tem documentação necessária para tal,
alegam ter muita burocracia no processo, entre outros fatores (LOURENÇO et al., 2006).

CONCLUSÕES

O número de acidentes com o pescado mostra que é necessário o incentivo do uso de EPIs por meio
instruções, de forma que os pescadores entendam a importância do uso dos mesmos para a prevenção
de acidentes. Medidas como: a obrigação aos donos de barco a possuírem caixa de primeiros socorros
e disponibilizarem EPIs para todos os pescadores embarcados; vinculação da obtenção de carteira de
pescador ao comprovante de vacinação contra o tétano; palestras sobre saúde, segurança e primeiros
socorros a bordo são vitais para promover o mínimo de salubridade para essa atividade.

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Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

O problema de saúde mais frequente entre os entrevistados foram as dores musculares sentidas
principalmente na região lombar, outra queixa recorrente foi problemas de visão devido à alta
exposição à claridade do Sol e sua luz refletida na água. Os esforços físicos extenuantes e repetitivos
podem ocasionar LER nos pescadores em longo prazo e a alta exposição ao Sol pode causas graves
doenças de pele e como consequência da vida exaustiva que o pescador leva. Estes encontram
“refúgio” no uso de bebidas alcoólicas e tabaco, o que também pode levar a deterioração de sua
saúde.

As medidas ofertadas pelo Governo ainda não são suficientes para resguardar a saúde desse
trabalhador, que está exposto grandes riscos de saúde no dia-a-dia. O atraso do seguro defeso além
de afetar os recursos pesqueiros atinge socioeconomicamente a família do pescador, força esse
trabalhador a voltar a sua atividade em período ilegal, que envolve aumento dos riscos da atividade
pela tensão a que fica submetida a tripulação, o que pode levar ao aumento do consumo de
substâncias químicas. É importante lembrar que o pescador vem ganhando mais atenção das Leis e
com isso garantindo aos poucos seus direitos, mas a falta de acesso à informação e a burocracia do
sistema faz o pescador desistir de seus direitos.

260
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Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

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262
306
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

ANEXO I

Modelo de questionário a ser utilizado para a entrevista com os pescadores.

ENTREVISTA

1. Nome:____________________________________________________

2. Função exercida na embarcação: ______________________________

3. Há quanto tempo você trabalha como pescador?


( ) Menos de um ano ( ) 1 -5 anos ( ) 5 -10 anos ( ) Mais de 10 anos

4. Relação de trabalho:
( ) Registro em carteira de trabalho ( ) Sociedade ( ) Conta própria
( ) Cooperativa ( ) Outros

5. Condições de vida no trabalho:


Local das refeições: ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
Qualidade das refeições: ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
Local de sanitários: ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim

6. Que fatores importantes, em sua opinião, poderiam melhorar as suas


condições de trabalho?______________________________________________
________________________________________________________________

7. Quais são os seus apetrechos de trabalho?


( ) Rede; ( ) Anzol; ( ) Tarrafa; ( ) Barco.
( ) Outros. Quais?
________________________________________________________________

8. Você já se acidentou através de algum apetrecho de pesca? ( )Sim ( ) Não


Se sim, qual? ___________________________________________________________

263
307
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

9. Esse acidente causou alguma lesão permanente? ( ) Sim ( ) Não

10. Já ocorreu algum acidente com a captura do pescado?


( ) Sim ( ) Não
Se sim, o ferimento infectou?_____________________________________________
Quantos dias ficou afastado?______________________________________________
11. Qual era a espécie?
_____________________________________________________________________

12. Qual é a ocorrência de os trabalhadores se ferirem ao manusearem as capturas?


( ) Alta
( ) Média
( ) Baixa

13. Em seu ambiente de trabalho existe alguma coisa que prejudique a sua saúde?
( ) Não ( ) Sim, o que?____________________________________________

14. No caso de embarcado, qual seria o nível do ruído da casa de máquinas?


( ) Muito alto
( ) Alto
( ) Mediano
( ) Baixo

15. Você se sente incomodado com o ruído?


( ) Bastante ( ) Nem tanto ( ) Não se incomoda

16. Em seu trabalho braçal, você costuma fazer movimentos muito repetitivos?
( ) Sim ( ) Não

17. Costuma sentir muitas dores musculares? ( ) Sim ( ) Não

18. Em relação a exposição ao clima, você trabalha constantemente exposto a climas


adversos?

264
308
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

19. Você já esteve afastado por doença no trabalho?


( ) Sim ( ) Não
Se sim porquê? _____________________________________________________

20. Por quanto tempo? _______________________________________________

21. Indique com que frequência você apresenta os sintomas descritos abaixo? Coloque o
número correspondente obedecendo aos seguintes critérios:
(1) Sempre; (2) Algumas vezes; (3) Raramente; (4) Nunca
( ) Dores no pescoço e ombros ( ) Dores nas costas ( ) Dor de cabeça
( ) Cansaço na vista ( ) Câimbras ( ) Dificuldade para enxergar ( ) Dificuldade para ouvir.
Outros. Quais?___________________________________________________________

22. Procurou assistência médica para esses problemas?


( ) Não ( ) Sim,
Porque?__________________________________________________________

23. Quantas horas por dia, aproximadamente, você fica debaixo de sol?
Menos de 1 hora
( ) 1 a 3 horas
( ) 3 a 5 horas
( ) 5 a 8 horas
( ) Mais de 9 horas

24. Usa algum equipamento de proteção? ( ) luvas ( ) chapéu ( ) óculos


( ) protetor solar ( ) Camisa de manga comprida ( ) Calça comprida

25. Você sabe alguma coisa sobre Segurança e Saúde do Trabalhador?


( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco

26. Você já tomou vacina contra tétano? ( ) Sim ( ) Não

27. Você fuma? ( ) Sim ( ) Não

265
309
Problemas De Saúde Relacionados À Atividade Pesqueira Comercial Em Manaus, Amazonas

28. Quantas pessoas na embarcação fumam?

29. Ingere bebida alcoólica? ( ) Sim ( ) Não

30. É permitido beber enquanto embarcado?

31. Quantas pessoas na embarcação costumam a ingerir bebida alcoólica?

32. Tem algum problema de saúde que exige tomar periodicamente algum remédio?

33. Você conhece alguém que se saiu da pesca por invalidez? Qual o problema apresentado?

34. Com relação ao trabalho, pretende se aposentar cedo?


( ) Sim ( ) Não

35. Quantas horas por dia, em média, você trabalha?

36. Você realiza pausas durante as atividades realizadas ? ( ) Sim ( ) não

37. Qual a última vez que você procurou atendimento médico? ____________meses

38. Quando o (a) pescador (a) precisa se afastar do trabalho, como se sustenta?

266
310
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 25
10.37423/200601199

CARACTERIZAÇÃO TRÓFICA DA ICTIOFAUNA DO


LAGO ITANDÉUA, CURUÁ PARÁ.

David Salomão Teixeira Melo

Keid Nolan Silva Sousa


Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

Resumo: O estudo sobre a alimentação, inclui a dieta e atividade alimentar, auxiliando o


entendimento do funcionamento do ecossistema e suas dinâmicas, possibilitando o conhecimento
sobre a exploração de recursos alimentares pelas espécies. Dentro desse contexto, o objetivo do
trabalho é analisar a comunidade ictiológica presente sob a ótica da separação por grupos alimentares
e verificar a riqueza e abundância de cada e a influência do ciclo hidrológico. As capturas foram
realizadas em dois períodos do ciclo hidrológico (seca e cheia), utilizando baterias de malhadeira com
140 m² de área cada, armadas por um período de 24 horas com malha variando de 20 a 80 mm. Os
peixes capturados foram armazenados em bombonas contendo formol 10%, identificados a nível de
espécie e classificados por grupos alimentares. Paralelamente, houve a dissecação e fixação dos
estômagos em formol 10% e conservação em álcool 70% para análise da dieta dos mais abundantes
através do Índice de Importância Alimentar (Iai %) e determinação do grau de repleção. Foram
capturados 236 exemplares, sendo 161 no período de seca e 75 na cheia, pertencentes a 32 e 23
espécies, respectivamente. O período de cheia foi o que apresentou maior número de indivíduos com
o grau de repleção 4. Os grupos alimentares predominantes em riqueza no período de seca foram os
piscívoros. Com relação a abundância os insetívoros foram os principais. Já no período de cheia, o
grupo alimentar predominante em riqueza e abundância foi o piscívoro, correspondendo a 45% e
47,89%, respectivamente. O segundo grupo mais representativo em abundância foi o herbívoro, com
23%. De acordo com o IAi%, as espécies foram classificadas em insetívoros, herbívoros e frugívoros.
As espécies Pachypops fourcroi, Plagioscion Squamosissimus, Triportheus albus e Pristobrycon
striolatus apresentaram hábito insetívoro. Anadoras wendelli e Schizodon fasciatus apresentaram
hábito alimentar herbívoro. A espécies Triportheus albus alterou a sua dieta no período de cheia,
consumindo principalmente itens de origem vegetal, seguido por inseto. Catoprion mento, qual é
classificado como lepidófaga, apresentou as frutas de várzea como principal item alimentar no período
de cheia, devido à sua grande oferta. Pelo exposto, conclui-se que as espécies pertencentes ao grupo
piscívoro são as predominantes em ambientes de várzea tanto no período seco quanto no cheio. Já as
herbívoras tiram proveito do segundo período, devido à maior oferta do seu item alimentar preferível,
sendo esse mesmo período mais favorável para a alimentação da comunidade ictiológica.

Palavras-chave: Várzea; Pesca; Ciclo hidrológico; Lago.

267
312
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

1. INTRODUÇÃO

A pesca na região amazônica se destaca sobre as demais regiões brasileiras, seja pela diversidade de
espécie, abundância, e a dependência da população tradicional a essa atividade (BARTHEM e FABRÉ,
2003), demonstrando grande importância econômica e social, e necessitando de medidas
conservacionista em prol da sustentabilidade.
As planícies de inundação são as áreas de maior produtividade biológica, o que influencia que estas
também possuam as maiores diversidades e abundâncias ictiicas da bacia Amazônica (HENDERSON e
CRAMPTON, 1997), o que é favorecido pela conectividade anual entre ambiente lótico e lêntico, sendo
isso influenciado pelo regime anual de chuvas (MACEDO et al., 2015).
O pulso de inundação, que Junk et al. (1989) definiu como a incidência de chuvas ao longo de toda a
bacia de drenagem, somada ao degelo decorrente do verão andino, é o grande responsável pelo
alagamento e abertura sazonal de grandes áreas denominadas por várzea ou igapó, o que para Freitas,
et al. (2010) é essencial para explicar a composição e a estrutura da biota aquática.
A grande produtividade está associada ao fato de que na época de cheia ocorre a frutificação de um
grande número de espécies de árvores de várzea (KUBITZKI & ZIBURSKI, 1994), e nesse mesmo
período, ocorrer o transbordamento dos canais de rios de águas brancas, invadindo assim essas áreas,
quais são utilizadas pelos organismos aquáticos como fonte de alimento, abrigo e reprodução
(AQUINO, et. al, 2009).
A Preservação das características naturais do ambiente exerce grande influência sobre os recursos
pesqueiros. Perdas de biodiversidade ao nível de ecossistemas ocorrem quando habitats distintos,
assembleias de espécies e processos naturais são diminuídos ou degradados em qualidade (BOYCE e
HANEY, 1997).
O avanço das tecnologias, urbanização, uso inconsciente de recursos naturais associado ao
grande avanço econômico também geram grande ameaça a biodiversidade (DIAS, 1998). Primack e
Rodriguês (2001) destacam a destruição de habitats como sendo a maior responsável pela extinção de
espécies.
A partir de 1980, em termos mundiais, a atividade de construção de reservatórios, através do
represamento de grandes rios, foi intensificada (ALVES, 1997). Um efeito do represamento para a
comunidade de peixes é a alteração na sua composição e abundância, com a proliferação de algumas
espécies ou eliminação de outras, como o zooplanctófago filtrador, Mapará Hypophthaumus
edentatus que aumentou de forma relevante a sua abundância, influenciado pelo incremento de
biomassa zooplanctônica devido ao represamento do rio Paraná, tornando- se a espécie mais

268
313
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

abundante durante os primeiros anos de formação do reservatório de Itaipu (AGOSTINHO, et. al.,
1992).
Outra ação antrópica que degrada os ambientes de várzea é o desmatamento, visando a exploração
de madeira ou a atividade agrícola, motivados pelo fato de esses serem os solos amazônicos mais ricos
em nutrientes (GOLDING, et. al., 1996). Esse fator afeta diretamente a comunidade ictiológica, pois o
consumo de frutos e sementes de várzea são fonte energética importante para a alimentação de
peixes (GOUDING, 1980).
A busca pela manutenção da biodiversidade é uma meta prioritária com relação ao desenvolvimento
sustentável (BARLETTA, 2010), sendo necessário, para a elaboração de projetos de manejos, o
conjunto de informações sobre o recurso explorado, que é formado principalmente pelo
conhecimento biológico da espécie (WALTERS, 1986).
O estudo sobre a sua alimentação, inclui a dieta e atividade alimentar, auxiliando o entendimento do
funcionamento do ecossistema e suas dinâmicas, possibilitando o conhecimento sobre a exploração
de recursos pelas espécies (ALVES, 2007). Segundo Oliveira, et al. (2013), conhecer o hábito alimentar
dos organismos de uma comunidade, além de colaborar para sua conservação visa também a
educação ambiental.

Dentro desse contexto, o objetivo do trabalho foi analisar a comunidade ictiológica presente em um
lago de várzea sob a ótica da separação por grupos alimentares, verificando a riqueza e abundância
de espécies dentro de cada grupo, influência do ciclo hidrológico na composição das espécies, da dieta
das espécies mais abundantes e do Grau de repleção dos indivíduos agrupados por período.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O local selecionado para a captura das amostras foi o Lago Itandéua (2°01’14.5”S de latitude e
55°07’30.8”W de longitude) no município de Curuá/PA, pertencente a microrregião de Santarém. Este
está localizado em um ambiente de várzea, local que recebe diretamente influência do pulso de
inundação.
As capturas foram realizadas em dois períodos do ciclo hidrológico (seca e cheia), sendo as amostras
coletadas utilizando baterias de malhadeira com 140 m² de área cada, com malha variando de 20 a 80
mm. As redes foram armadas por um período de 24 horas, sendo alocadas em diferentes ambientes.
Os peixes capturados foram armazenados em bombonas contendo formol 10%, transportados
fluvialmente para a cidade de Santarém e conduzidos ao Laboratório de Geoinformação Aquática da
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).

269
314
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

Os peixes foram primeiramente identificados a nível de espécie, em parceria ao Laboratório de


Coleção Ictiológica, da mesma Instituição, e classificados por grupos alimentares, permitindo analisar
os mais representativos em riquezas e abundâncias em cada período. Paralelamente a isso, houve a
dissecação e retirada dos estômagos, identificação, fixação em formal 10% e conservação em álcool
70%, com o intuito de selecionar os estômagos pertencentes as espécies com maior abundância para
análise da dieta. Já a determinação do Grau de Repleção (GR) qual mostra a quantidade de alimento
no estômago dos indivíduos, foi feita utilizando todos os exemplares capturados, e segundo (SANTOS,
1978) com adaptações de Gavilan-Leandro (2003), sendo estes definidos em 4 valores: 1 (vazio), 2
(pouco alimento),
3 (quase cheio) e 4 (Totalmente cheio). O GR foi utilizado agrupando os indivíduos por período, e
verificando em qual houve maior ou menor consumo.
Para análise da dieta foi feita a identificação dos itens alimentares e obtenção do seu volume, com
auxílio de Estereomicroscópio e provetas graduadas, respectivamente. Para a sua determinação, foi
utilizado o que foi proposto por Hyslop (1980), qual sugeriu a utilização simultânea de pelo menos
duas metodologias de análises, sendo uma de frequência de ocorrência e outra volumétrica, sendo
que essas foram integradas na determinação do Índice de importância alimentar (IAi %) sendo isso
importante para verificar a importância dos itens alimentares (KAWAKAMI & VAZZOLER, 1980).

3.RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram capturados 236 exemplares, sendo 161 no período de seca e 75 no período de cheia,
pertencentes a 32 e 23 espécies, respectivamente (Tabela 1). A menor quantidade de indivíduos no
segundo período pode ser explicada pela expansão do ambiente aquático, o que faz com que tenha
baixa produtividade (CARDOSO e FREITAS, 2007).
O período de cheia apresentou maior número de indivíduos com o grau de repleção 4. Já no período
de seca a maior quantidade foi verificada nos graus 1 e 3 (Tabela 2), demonstrando ser no período
cheio o maior consumo alimentar, integrando todos os grupos.
Os grupos alimentares predominantes em riqueza no período de seca foram os piscívoros, seguido
pelos insetívoros. Com relação aos mais abundantes houve inversão, tendo os insetívoros como
principal, seguido pelos piscívoros, o que pode ser explicado pela grande quantidade da insetívora
Anadoras wendelli, sendo essa responsável por 16,15% das capturas nesse período (Tabela 3).
Com relação ao período de cheia, o grupo alimentar predominante em riqueza e abundância foi o
piscívoro, correspondendo a 42,9% e 45,3%, respectivamente. O segundo grupo mais representativo

270
315
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

em espécie foi o herbívoro e o insetívoro, com 14,3% das espécies, cada grupo, já em abundância o
herbívoro foi superior, com 22,7% (Tabela 4), o que pode ser explicado pelo alagamento e cobertura
da vegetação de várzea nesse período, aumentando a disponibilidade dessa fonte alimentar.
A predominância dos piscívoros em planícies inundáveis corrobora com o que está disposto na
literatura (ANJOS et al., 2008). Freitas et al. (2010) destacaram a importância da piscivoria na regulação
da diversidade em lagos de várzea, sendo que mais da metade das espécies são de topo de cadeia.
As espécies submetidas ao IAi foram: Plagioscion Squamosissimus, Pachypops fourcroi, Anadoras
wendelli, Schizodon fasciatus e Triportheus albus no período de seca, correspondendo a 63,35% dos
indivíduos capturados; Triportheus albus, Pristobrycon striolatus e Catoprion mento no período de
cheia, sendo responsável por 53,33% das capturas no período (Tabela 5). Observa-se que pela
quantidade de exemplares com alimento no estômago, a T. albus pôde ser analisada nos dois períodos.
De acordo com o IAi%, as espécies capturadas foram classificadas em 3 grupos alimentares:
insetívoros, herbívoros e frugívoros.
A espécie Pachypops fourcroi apresentou hábito insetívoro, com insetos representando quase a
totalidade dos itens consumidos, e com camarão e escamas como complemento. Já o P.
squamosissimus também apresentou elevado consumo de inseto, e uma pequena quantidade de
camarão e peixe (Tabela 5).
A espécie Triportheus albus consumiu preferencialmente inseto no período seco, seguido por vegetal.
Já no período cheio houve inversão, sendo que os vegetais predominaram nos estômagos analisados
da espécie (Tabela 5). Essa mudança de preferência alimentar nos permite inferir que a espécie é
oportunista, dentro da definição de (GERKING, 1994), devido ela ter tirado proveito de uma fonte
alimentar abundante nesse período.
A Pristobrycon striolatus apresentou elevado consumo de inseto, seguido por frutas e vegetais (Tabela
5), sendo que essa preferência por insetos também foi relatada por Machado- Allison e Garcia (1986)
em uma planície de inundação na Venezuela, qual encontrou insetos e crustáceos como principais
itens consumidos pela espécie.
Anadoras wendelli apresentou hábito alimentar herbívoro com tendência a carcinofagia, o que ocorre
devido ela ser uma espécie bentônica, estando de acordo com Freitas (2007), que destacou a
dependência da ictiofauna bentônica por material de origem vegetal.
Outro herbívoro foi o Schizodon fasciatus, qual demonstrou elevada preferência por alimento de
origem vegetal (Tabela 5), com esse apresentando IAi de 99,22%. Santos (1981) encontrou resultado

271
316
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

semelhante no lago Janauacá-AM, porém, utilizando o método dos pontos, e comparando indivíduos
em diferentes classes de comprimento.
A espécie Catoprion mento, qual foi descrita como lepidófaga (VIEIRA e GÉRY, 1979), apresentou as
frutas de várzea como principal item alimentar no período de cheia, devido à sua grande oferta. O
peixe foi o segundo principal item consumido pela espécie (Tabela 5).

Tabela 1. Lista de espécies capturadas em dois períodos do ciclo hidrológico e seu respectivo grupo
alimentar.

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317
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

*não possui descrição de hábito alimentar.

Tabela 2. Grau de repleção do agrupamento das espécies no período de cheia e seca.

Tabela 3. Classes alimentares das espécies capturadas durante o período de seca.

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318
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

Tabela 4. Classes alimentares das espécies capturadas durante o período de cheia.

Tabela 5. Indíce de Importância Alimentar (Iai) e classificação das principais espécies capturadas no
Lago Itandéua durante dois períodos do ciclo hidrológico (cheia e seca) (C=carne; D=detrito;
E=escama; F=frutas; I=inseto; MD=material digerido; P=peixe; V=vegetal).

4.CONCLUSÃO

O grupo alimentar piscívoro é predominante nos dois períodos e os demais grupos disputam a posição
de principal alimento para eles. Esses demais sofrem grande influência do nível da água, aumentando
ou reduzindo em diversidade e abundância conforme as suas fontes alimentares expandam ou fiquem
escassas. Com relação ao grau de repleção, pode -se indicar que o período de cheia exerce grande
influência positiva na alimentação da comunidade ictiológica.

274
319
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

5. AGRADECIMENTOS

A UFOPA através da PROPIT pela concessão da bolsa de iniciação científica; ao Laboratório de Coleção
Ictiológica pelo auxílio na identificação das espécies.

275
320
Caracterização Trófica Da Ictiofauna Do Lago Itandéua, Curuá- Pará.

6.REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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277
322
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 26
10.37423/200601201

DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE DE
OSTREICULTURA NO POVOADO DE AREINHAS,
MUNICÍPIO DE PRIMEIRA CRUZ – MA

Thalison Lima

Hugo Gomes

Thaís Freire

Derykeem Amorim

Ana Karolina Sousa

Ícaro Antonio
Desenvolvimento Da Atividade De Ostreicultura No Povoado De Areinhas, Município De Primeira Cruz – Ma

Resumo:A produção de ostras nativas é uma atividade geradora de renda, que pode contribuir na
conservação dos estuários, diminuindo a pressão sobre os estoques naturais e promovendo uma
exploração mais sustentável. A ostreicultura tem se comprovado como uma importante ferramenta
para a diminuição da pobreza através da geração de emprego, renda e alimento. Sendo assim, o
trabalho teve como objetivo implantar uma unidade demonstrativa de cultivo de ostras nativas
(Crassostrea gasar) no povoado de Areinhas em Primeira Cruz – MA. As atividades foram desenvolvidas
contando com a participação dos pescadores e marisqueiras do povoado de Areinhas, os quais
passaram por capacitação técnica através de oficinas para implantação do cultivo de ostras. Além disso,
foi determinado o perfil socioeconômico dos marisqueiros da comunidade. O cultivo das ostras foi
realizado através de um sistema fixo denominado “cama”, confeccionada com cano de PVC. O
povoamento foi realizado com juvenis de C. gasar coletados do estuário com altura média de 45 mm.
Foram utilizadas três densidades de estocagem de 80 (T1), 150 (T2) e 200 (T3) ostras, com 4 repetições
cada, estocados em uma área de 0,325 m². Durante o cultivo foi medida a temperatura da água
próximo da superfície utilizando um termômetro, a salinidade através de um refratômetro e a
transparência com o auxílio de um disco de Secchi. A sobrevivência após um mês de experimento foi
aproximadamente 73% (T1), 70% (T2) e 81% (T3). Os resultados deste trabalho permitem concluir que
a ostreicultura se apresenta como um empreendimento promissor para economia local, visto que após
o cultivo experimental pode-se obter resultados positivos para o desenvolvimento dessa atividade.
Vale ressaltar que com as oficinas ministradas pela equipe, as famílias do povoado de Areinhas,
Primeira Cruz – MA encontram-se capacitadas para operar no cultivo de ostras, contribuindo assim
para o desenvolvimento da aquicultura no munícipio.

Palavras Chave: Povoamento, Densidade, Cultivo de ostra, Marisqueiros.

278
324
Desenvolvimento Da Atividade De Ostreicultura No Povoado De Areinhas, Município De Primeira Cruz – Ma

1-INTRODUÇÃO

O cultivo de organismos aquáticos sob condições controladas para benefícios econômicos ou sociais é
conhecido como aquicultura (VALENTI, 2002). A implantação da aquicultura utilizando espécies
nativas pode diminuir a pressão sobre as populações naturais e, consequentemente, elevar a
produtividade das áreas costeiras. Além de gerar ingresso econômico às comunidades, a atividade
beneficia os pescadores artesanais, promovendo a sua fixação no local de origem através da geração
de emprego e renda (VÉLEZ, 1974; PEREIRA et al., 2000; BUITRAGO et al., 2005 apud SOUZA, 2015).

Segundo Accioly et al. (2012), parte integrante da aquicultura, a maricultura tem ênfase na prática da
utilização de espécies nativas e a mesma vem sendo apontada como importante alternativa,
considerando que as comunidades costeiras vêm perdendo sustentabilidade gradativa quando se
observa as questões referentes às perdas de território, principalmente ligadas à redução da
produtividade pesqueira. Além disso, os autores ressaltam que entender o processo de crescimento
das espécies nativas na prática da ostreicultura, percebendo os fatores de relevância para o bom
desenvolvimento dos cultivos (ambiente, sistemas adotados, fatores ambientais) configuram
elementos importantes nas questões de manejo, produção e consumo.

O cultivo de organismos aquáticos no estado do Maranhão ainda não apresenta índices


representativos, apesar de ter clima tropical e áreas favoráveis para o desenvolvimento da maricultura
(PEREIRA, 2010). Ao longo do litoral maranhense, observam-se áreas estuarinas potencialmente
favoráveis às atividades de ostreicultura. A ostra nativa (Crassostrea gasar) é naturalmente
encontrada nos estuários do estado do Maranhão. A extração desse molusco é uma fonte de alimento
e renda para muitos pescadores, sendo seus estoques já bastante explorados nos estuários
maranhenses (FURTADO, 2001).

Por apresentar características ambientais favoráveis para o cultivo de ostras, a comunidade de


Areinhas, município de Primeira Cruz – Maranhão foi escolhida para o desenvolvimento do estudo.
Essa área foi determinada através do Plano Local de Desenvolvimento da Maricultura (PLDM) que foi
um estudo sócio, técnico e econômico de escala local utilizado para o planejamento e identificação de
áreas propícias para o desenvolvimento da maricultura. O PLDM foi instituído através da INSTRUÇÃO
NORMATIVA Nº 17, DE 22 DE SETEMBRO DE 2005, a qual foi editada pela Secretaria Especial de
Aquicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR), pelo extinto Ministério da Pesca e
Aquicultura (MPA) (PLDM, 2009).

279
325
Desenvolvimento Da Atividade De Ostreicultura No Povoado De Areinhas, Município De Primeira Cruz – Ma

A atividade de ostreicultura mostra-se como um mecanismo alternativo na geração de renda, visto


que a comunidade em sua grande maioria depende economicamente da pesca e mariscagem. Segundo
Santos (2013), a ostreicultura apresenta vantagens do ponto de vista ambiental, principalmente com
relação à preservação dos estoques naturais e proteção dos manguezais. Desta maneira, o presente
trabalho tem como objetivo implantar uma unidade demonstrativa de cultivo de ostras nativas
(Crassostrea gasar), em Areinhas, Primeira Cruz – MA, com intuito de gerar uma alternativa de renda,
melhorar qualidade de vida e bem-estar social da comunidade.

2- MATERIAL E MÉTODOS

A comunidade de Areinhas, está situada ao Norte do estado do Maranhão, região Nordeste do Brasil,
a qual Primeira Cruz está enquadrada pelas coordenadas geográficas 02º 30’ 36” de latitude Sul e 43º
26’ 18” de longitude Oeste (Figura 1).

Figura 1 - Mapa de localização do povoado de Areinhas, Primeira Cruz –MA.

Fonte: Núcleo Geoambiental-NuGeo, UEMA, (2017)


As capacitações e a implantação do cultivo foram realizadas durante o período de 6 meses no
município de Primeira Cruz. Durante a capacitação foram abordados os seguintes pontos: ecologia dos
moluscos, tipos de cultivos, métodos de mariscagem, maricultura (com ênfase na malacocultura),
aproveitamento integral dos moluscos e gerenciamento dos cultivos (com noções de associativismo e
cooperativismo). Foram realizadas oficinas de confecção das estruturas do cultivo (cama) juntamente

280
326
Desenvolvimento Da Atividade De Ostreicultura No Povoado De Areinhas, Município De Primeira Cruz – Ma

com a comunidade. E ao decorrer das atividades foram aplicados questionários semiestruturados com
questões do tipo aberta e/ou fechadas.

Cada cama foi instalada mediante a fixação no solo de 10 (dez) canos de PVC de 100mm, com 1,5m
(um metro e meio) de comprimento cada, dispostos paralelamente em pares, formando 5 pares de
linhas formando as 10 estacas, distando 1,25m entre os pares, que serão interligados com canos de
PVC de 50mm. Após a etapa dos canos sobrepostos a estrutura de suporte recebeu uma tela de
polietileno com abertura de malha 9mm, largura 1,25m e comprimento de 12m a qual se dobrou,
servindo de envoltório para as ostras. Cada cama mede 6m de comprimento, 1,25 de largura e 1,5m
de altura.

Para o povoamento das camas foram utilizadas ostras nativa (Crassostrea gasar) oriundas da região
de Primeira Cruz. Foram estocadas 1720 ostras em tratamentos com densidades de 80 (T1), 150 (T2)
e 200 (T3), com quatro repetições cada, numa área 0,325m² por densidade, visando determinar a
melhor densidade de estocagem para o cultivo.

A salinidade foi mensurada com utilização de um refratômetro portátil, a temperatura da água foi
aferida próximo à superfície com o auxílio de um termômetro com precisão de 0,5°C. Já a
transparência foi medida com o auxílio de um disco de Secchi próximo às camas com maré baixa.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da análise dos questionários foi possível verificar que a mariscagem representa para 27% dos
entrevistados sua principal atividade e fonte de renda, enquanto para a parcela restante (73%) esta
atividade consiste em um adicional a renda de suas famílias. A parcela da população que não sobrevive
exclusivamente de mariscar, buscam alternativas financeiras, tais como: pesca, venda do camarão
beneficiado, produção de artesanato com as conchas dos organismos capturados. Algumas das
famílias dos marisqueiros são beneficiárias de programas sociais do governo federal.
Quanto a escolaridade observou-se que 15% dos entrevistados são analfabetos, 70% apresentam
ensino fundamental incompleto, 5% fundamental completo, 5% ensino médio completo e 5% ensino
médio incompleto. Esses dados corroboram com outros estudos que afirmam que área pesqueira
apresenta baixa escolaridade (PACHECO, 2006; PEDROSA, 2007; SANTOS et al., 2011), o fato está
diretamente relacionado a necessidade de trabalho e a busca pelo auto sustento, onde muitos acabam
deixando os estudos para trabalhar com pesca. Os que possuem o ensino médio completo são mais
jovens com predominância na faixa etária de 20 a 30 anos.

281
327
Desenvolvimento Da Atividade De Ostreicultura No Povoado De Areinhas, Município De Primeira Cruz – Ma

Quanto a produção, 45% relataram que a metade dela é destinada ao consumo, enquanto 25% disse
que consome toda a produção, vendendo apenas por encomenda, já 15% diz que consome um terço
da produção e outros 15% dois terços. O destino dos mariscos capturados pela comunidade está
direcionado a venda para atravessadores, consumo próprio e para atender encomendas dos
consumidores locais e de outras regiões.
Sobre a implantação do cultivo de moluscos em Areinhas 90% disseram que seria viável na região, pois
ajudaria como fonte de renda da comunidade e serviria de atrativo para grandes compradores,
consequentemente mais saída do produto e mais dinheiro. Apenas 10 % disseram que não, pois
relataram que seria mais viável o cultivo de camarão, sururu ou implantação de piscicultura.
Durante as entrevistas também foi perguntado sobre o interesse de participação do cultivo de ostra,
dos entrevistados 60% disseram que tinham interesse já que seria algo novo na localidade e que essa
atividade poderia melhorar a fonte de renda e 40% disseram que não, pois relataram que não teriam
tempo para se dedicar ao cultivo e outros por conta da idade já avançada.
Durante os dois meses de cultivo a salinidade oscilou entre 30 no primeiro mês e 20 no segundo mês.
Para a temperatura dos meses de abril e maio constatou-se uma variação de 30°C a 24°C,
respectivamente. A transparência variou entre 45cm para o mês de abril e 42cm para o mês de maio
(Figura 2).
Figura 2 - Valores absolutos da salinidade, temperatura e transparência na água.

Os baixos valores de salinidade estão diretamente ligados a intensas precipitações que ocorreram no
mês de abril e maio, apesar disso ainda estavam dentro do padrão aceitável. Segundo GOMEZ et al.
(1995), para seleção de área adequada para o cultivo de ostras, a salinidade da água deve estar entre
25 e 35 UPS (Unidade Prática de Salinidade).
Para primeira biometria foi realizada uma amostragem de 50 ostras escolhidas aleatoriamente, cujo
valor médio foi de 44 mm de altura, 25 mm para comprimento, 12 mm de largura e peso de 9,1g.

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Desenvolvimento Da Atividade De Ostreicultura No Povoado De Areinhas, Município De Primeira Cruz – Ma

As análises dos dados de comprimento em um mês de cultivo indicam um crescimento satisfatório no


primeiro mês, o que fortalece ainda mais a ideia de que o local é ideal para o desenvolvimento da
ostra nativa (Crassostrea gasar). A amostragem final foi de 20 organismos por repetição, onde foi
possível obter médias para altura de 48 mm (T1), 46 mm (T2) e 45 mm (T3). Para o comprimento da
concha o tratamento com densidade de 80 (T1) apresentou melhor resultado com média de 25 mm.
Para o peso os resultados foram de 12,2g, (T1) 14,8g e (T3) 14,1g.
Foi observado crescimento das ostras durante 1 mês de cultivo, fato este que deixou os produtores
entusiasmados, garantindo assim as suas permanências na atividade. O crescimento médio das ostras
entre o mês de abril e maio foi importante para manter a comunidade na atividade. A sobrevivência
das ostras foi verificada a partir da percentagem de exemplares e/ou indivíduos vivos em relação às
ostras armazenadas inicialmente nos tratamentos e entre os tratamentos, considerando sempre a
densidade atribuída para cada repetição. A sobrevivência entre os tratamentos (T1), (T2) e (T3) ficou
de 73%, 70% e 81%, respectivamente (Figura 3).
Figura 3 - Taxa de Sobrevivência da Crassostrea gasar em 1 mês de cultivo.

No presente trabalho foram utilizados para o povoamento das camas ostras de tamanho média de 45
mm de altura, consideradas juvenis. MODESTO et al. (2010) encontraram sobrevivência final em três
meses de cultivo de 44,6%, 27,6% e 16,6 % nas densidades de 250 ostras/m 2, 500 ostras/m2 e 750
ostras/m2, respectivamente, o que pode correlacionar provavelmente com os resultados do final do
cultivo da ostra em estudo.

4- CONCLUSÃO

A implantação de cultivos dessa natureza, demonstra que a ostreicultura se configura como um


importante instrumento de desenvolvimento sustentável, visto que o cultivo de ostras em Areinhas
pode contribuir para aumentar a renda local, fixando o pescador no seu local de origem, além de ser

283
329
Desenvolvimento Da Atividade De Ostreicultura No Povoado De Areinhas, Município De Primeira Cruz – Ma

uma atividade que produz alimento saudável que pode contribuir para diminuir a pobreza, além de
promover a segurança alimentar e nutricional.
O local estudado para o cultivo de ostras se mostra viável, pois o experimento apresentou uma boa
taxa de sobrevivência, e as variáveis ambientais se mostraram dentro do padrão para cultivo de
moluscos bivalves. Vale ressaltar que com as oficinas ministradas pela equipe, as famílias do povoado
de Areinhas, Primeira Cruz – MA encontram-se capacitadas para operar no cultivo de ostras,
contribuindo assim para o desenvolvimento da aquicultura no munícipio.

284
330
Desenvolvimento Da Atividade De Ostreicultura No Povoado De Areinhas, Município De Primeira Cruz – Ma

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331
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 27
10.37423/200601204

APRESENTAÇÃO DO PESCADO E ESPÉCIES


MAIS COMERCIALIZADOS EM SUPERMERCADOS
DE SÃO LUÍS- MA

Henrique Silva

Hugo Gomes

Aleff França

Márcio Junior

Lucilia Conceição
Apresentação Do Pescado E Espécies Mais Comercializados Em Supermercados De São Luís-Ma

Resumo: O pescado é um alimento muito perecível in natura, o que requer uma maior atenção na
forma de ser exposto para o consumidor, desta forma existem métodos para sua conservação e maior
durabilidade. Mediante o exposto, o trabalho objetivou-se em avaliar o modo de exposição do pescado
e caracterizar as espécies comercializadas em supermercados do município de São Luís - MA. Para
realização do trabalho foram realizadas visitas nos estabelecimentos de duas grandes redes de
supermercados localizados em São Luís - MA, que no trabalho serão mencionados de “A” e “B”, no
qual foi realizado três visitas para cada rede entre o final do mês de maio e começo de junho. Para a
coleta de dados foi realizada a observação in loco e por meio de registros fotográficos. Foram
registradas 21 espécies de peixes comercializados nas duas redes de supermercados, sendo que destas
11 ocorreram em todas as filias. Além de inteiro in natura, as redes comercializam o pescado
beneficiado apresentando-o, como, filetado, tratado, sem cabeça, peixe seco e carcaça, assim
atendendo públicos distintos. Para as duas redes de supermercados, todas as filiais apresentaram em
comum alguns meios para exposição, como: gôndolas, bancadas e expositores fechados. Ficando sobre
gelo, expostos ao ambiente e sem nenhum controle de temperatura. As duas redes de supermercados
avaliadas não se enquadram dentro das normas que são recomendadas. A rede “A” é a que contém
menos erros, e a rede “B” utiliza-se formas diferentes de exposição.
Palavras- chave: Normas. Peixe. Qualidade.

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333
Apresentação Do Pescado E Espécies Mais Comercializados Em Supermercados De São Luís-Ma

1. INTRODUÇÃO

A pesca é uma atividade econômica de bases muito simples, tanto no que se refere aos seus métodos
quanto nos recursos exigidos. Em virtude disso, é praticada pelo homem desde a antiguidade, com
lanças, flechas, peneiras, redes, anzóis e linhas, evoluindo com o tempo para ferramentas e processos
mais sofisticados, com o objetivo de aumentar a escala de produção (WALMART BRASIL, 2009).
O crescimento da população mundial e consequente elevação da demanda por alimentos tornou o
pescado a recente proteína animal consumida em grade escala pelo homem (FAO, 2018). A
Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo de 12 kg per capta por ano de
pescado. Entre 2012 e 2014 foi constatado o aumento no consumo per capta de pescado no Brasil, de
9,9 kg por ano para 11,1 kg (JESUS; SANTOS; CARVALHO, 2018). Ainda abaixo do recomendado pela
(OMS), mas dentro desse cenário, os estados do nordeste apresentam consumo superior, alcançando
17,3 kg per capta por ano.
O Nordeste Brasileiro foi o maior produtor de pescado com 415.723 toneladas, e o Maranhão ficando
como terceiro estado de maior consumo e o quinto entre os mais consumidores do País (MPA,
2010). O Estado do Maranhão dispõe de aproximadamente 640 km2 de zona costeira, a segunda do
Brasil em extensão, oferecendo uma enorme variedade de espécies de pescado de importância
comercial, com um grande potencial de crescimento, tanto na pesca quanto na aquicultura
(MARANHÃO, 1999).
Sendo um alimento perecível in natura, o pescado necessita de técnicas de conservação até chegar ao
consumidor. Nos dias atuais, a indústria de pesca tem crescido consideravelmente, tanto pelo
aumento da demanda de consumo, como pelas inovações tecnológicas pela qual a indústria está
passando, porém é necessário implementar melhoria nos programas de inspeção de qualidade e de
processamento (ARGENTA, 2012). Visando à melhoria da qualidade dos produtos da pesca, é
importante ressaltar o uso constante de boas práticas de manipulação, procedimentos padrão de
higienização e análise de perigos e pontos críticos de controle, sendo assim é preciso compreender os
fatores externos que podem comprometer a segurança em consumir este tipo de produto (DUARTE
et al., 2010).
Este trabalho tem como objetivo avaliar o modo de exposição do pescado e caracterizar as espécies
comercializadas em supermercados do município de São Luís – MA.

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Apresentação Do Pescado E Espécies Mais Comercializados Em Supermercados De São Luís-Ma

2. METODOLOGIA

Foram realizadas três visitas a cada rede de supermercado durante os meses de maio e junho de 2019.
Os dados foram obtidos por meio de observação in loco e por registros fotográficos com câmera. Os
estabelecimentos visitados fazem parte de duas grandes redes de supermercados instalados no
município de São Luís – MA (Figura 1), que no decorrer do trabalho serão mencionados de “A” e “B”.
Ressalta-se que as filiais visitadas da rede A, foram: A1(São Cristóvão), A2(Divinéia) e A3(Anjo da
Guarda); e da rede B: B1 (São Cristóvão), B2(Cidade Operária) e B3(Cohatrac).
Figura 1. Localização do município de São Luís – MA.

Fonte: COSTA & MACIEL, 2020.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para as duas redes de supermercados, todas as filiais apresentaram em comum alguns meios para
exposição, como: gôndolas, bancadas e expositores fechados (Figura 2). No qual o pescado fica
exposto ao ambiente sobre gelo, no caso de gôndola e bancada sem controle específico de
temperatura para pescado fresco ou congelado, sendo considerado inseguro de acordo com as normas
regidas pelo art. 439 do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal

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Apresentação Do Pescado E Espécies Mais Comercializados Em Supermercados De São Luís-Ma

do Ministério da Agricultura (RIISPOA), no qual é recomenda que o pescado "resfriado" deve ser
devidamente acondicionado em gelo e mantido em temperatura entre -0,5ºC e -2ºC, enquanto que o
pescado "congelado" é tratado por processos adequados de congelamento, em temperatura não
superior a - 25ºC (BRASIL, 1997).

Figura 2. Alguns expositores das redes de supermercados visitadas.

Fonte: SILVA & GOMES, 2019.

Quando comparadas, observou-se que a rede de supermercados “B”, especificamente a filial


B3(Cohatrac), utiliza-se dos mesmos meios expositores e forma que os supermercados “A”. Nas filiais
B1(São Cristóvão) e B2(Cidade Operária), além do uso dos meios utilizados na rede “A”, tem seu
pescado exposto em tampas de polietileno sobre caixas do mesmo material, no qual ficam sobre o
gelo expostos ao ambiente, sem identificação de condição “fresco” ou “congelado”, além de freezer
com congelamento dos peixes a princípio “dentro da temperatura”. BRASIL et al., (2016), ao visitar um
supermercado que fica na região da Cidade Operária, mesma região deste trabalho (B2), encontrou
peixe fresco exposto em balcão sem refrigeração, separados por espécies em caixas térmicas tipo
isopor, sob risco de contaminantes físicos e biológicos. Nesse seguimento, ANVISA (2008), sugere que
o pescado "congelado", aquele tratado em temperatura não superior a -25°C ou mantido em câmara
frigorífica a -15°C, uma vez descongelado não pode retornar à câmara frigorífica. O pescado

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336
Apresentação Do Pescado E Espécies Mais Comercializados Em Supermercados De São Luís-Ma

comercializado fresco deve apresentar temperatura interna próximo de zero, nunca superior a 4,4°C
e ser armazenado sobre gelo triturado (FRAZON, 2011). Logo o modo de exposição do pescado
relatado no referente trabalho pode estar em desacordo com as normas estabelecidas.
Em relação as espécies de peixes comercializadas nas duas redes de supermercado, foram registradas
cerca de 21 espécies (Tabela 1), na qual 11 espécies foram comuns em todas as filias, sendo estas:
Brycon spp. (Matrinxã), Colossoma macropomum (Tambaqui), Cynoscion acoupa (Pescada Amarela),
Arius proops (Uritinga), Mugil cephalus (Tainha), Pangasius spp. (Panga), Pomatomus saltatrix
(Anchova), Piaractus mesopotamicus (Pacu), Oreochromis niloticus (Tilápia), Prochilodus spp.
(Curimatã), e Bagre bagre (Bandeirado). As espécies com maior valor comercial in natura foram
Pomatomus saltatrix (R$19,99 kg) e Brycon spp. (R$18,10 Kg). Já o pescado
beneficiado, Cynoscion acoupa e Arapaima gigas, foram as que apresentaram o maior valor
comercial, R$49,99 Kg e R$27,19 Kg, respectivamente. LOPES (2016), ao relatar o diagnóstico de
comercialização de pescado em feiras de Boa Vista – Roraima, constatou que as formas de
apresentação do pescado atendem a públicos distintos; pirarucu seco, filé de tambaqui, filé de peixes
de couro (principalmente filhote e dourada), são os produtos de valores mais altos para venda, tais
formas para consumidores que possuem mais recursos financeiros. Segundo YASHIRO (2007), existem
dois tipos de consumidores de pescado: os de baixa renda que habitam as regiões ribeirinhas ou
litorâneas; e os de alta renda, que vêm buscando no pescado uma fonte alternativa de alimentos diet,
soft e light, afim de manter uma dieta rica em nutrientes e com baixo teor energético. A partir do
levantamento realizado, observa-se que há uma grande variedade de espécies de peixes dulcícolas e
marinhas comercializadas em supermercados localizados no município de São Luís - MA.

Tabela 1. Espécies encontradas nas redes de supermercados.

Nome popular Espécies


Anchova Pomatomus saltatrix
Arraia Dasyatis guttata
Acará Cichlasoma bimaculatum
Bandeirado Bagre bagre
Corvina Plagioscion spp.
Curimatã Prochilodus spp.
Guaravira Trichiurus lepturus
Matrinxã Brycon spp.
Pacu Piaractus mesopotamicus
Palombeta Chloroscombrus chrysurus
Panga Pangasius spp.
Pescada Amarela Cynoscion acoupa
Pescadinha Cynoscion leiarchus

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Apresentação Do Pescado E Espécies Mais Comercializados Em Supermercados De São Luís-Ma

Piau três pintas Leporinus friderici


Pirarucu Arapaima gigas
Surubim Pseudoplatystoma fasciatum
Tainha Mugil cephalus
Tambaqui Colossoma macropomum
Tilápia Oreohromis niloticus
Traíra Hoplias spp.
Uritinga Arius proops

Referente a comercialização, foi observado que além de inteiro in natura, as redes comercializam o
pescado beneficiado apresentando-os como filetado, tratado, sem cabeça, peixe seco e carcaça,
atendendo dessa forma públicos distintos. Segundo SILVA et al., (2012), ao avaliarem o perfil do
consumidor de pescado no município de São Luís (MA) constataram que o preço como sendo a
principal razão para a não aquisição e consumo deste tipo de produto em algumas ocasiões. A
disponibilização de uma gama de pescado beneficiado não é uma característica apenas local, e sim
uma tendência nacional em decorrência do aumento de consumidores de pescado.
GRANDA (2010), ao estudar o mercado do pescado na região metropolitana de Manaus relata que as
principais redes de supermercados que comercializam o pescado na região, não o apresentam (ou
vendem) apenas na forma in natura, mas também com algum tipo de beneficiamento. BARROSO
(2010), com estudos na região metropolitana do Rio de Janeiro descreve a evidência do papel que os
supermercados se apresentam como “vitrine” para as mercadorias, uma vez que o pescado é
oferecido em diversas apresentações (congelado, fresco, beneficiado etc.), o que colabora para um
grande volume de venda de pescado.

4. CONCLUSÕES

A partir do levantamento realizado, nota-se uma grande variedade de espécimes dentro das redes de
supermercados, assim como sua demanda de valores diferenciado para atender todas as classes de
pessoas. Ressalta-se ainda que o modo de exposição do pescado de nenhuma das redes de
supermercados apresentadas neste trabalho se enquadra dentro das normas da ANVISA.
É importante destacar que além das normas sanitárias, devem ser observadas as normas de direito
do consumidor, ou seja, vendendo um produto de qualidade e protegendo o bem jurídico da saúde
pública.

400
338
Apresentação Do Pescado E Espécies Mais Comercializados Em Supermercados De São Luís-Ma

5.REFERÊNCIAS

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339
Apresentação Do Pescado E Espécies Mais Comercializados Em Supermercados De São Luís-Ma

YASHIRO, D. S. Qualidade do pescado em feira livre. 2007. 33f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Especialização) - Universidade Castelo Branco, São Paulo, 2007.

402
340
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 28
10.37423/200601209

CARACTERIZAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE PEIXES


DO LAGO ITANDÉUA, CURUÁ PARÁ.

David Salomão Teixeira Melo

Marcos José de Freitas Lima

Raúl Rocha Silva

Keid Nolan Silva Sousa


Caracterização Da Assembléia De Peixes Do Lago Itandéua, Curuá-Pará.

Resumo: Tendo em vista que os trabalhos de composição da ictiofauna possibilitam a criação de planos
de manejo sustentáveis, auxiliam na tomada de decisões, identificam novos recursos a serem
explorados e geram dados sobre a diversidade dos ambientes aquáticos, este trabalho teve por
objetivo determinar a composição ictitica do Lago do Itandéua, e sua modificação influenciada pelo
ciclo hidrológico. O local onde foram realizadas as amostragem foi o Lago Itandéua (2°01’14.5”S de
latitude e 55°07’30.8”W de longitude) no município de Curuá/PA, pertencente a microrregião de
Santarém, este constitui um ambiente de várzea (planície aluvial de inundação). As capturas foram
realizadas em dois períodos do ciclo hidrológico (seca e cheia), sendo que para a coleta das amostras
utilizou-se três baterias de malhadeira com 150 m de comprimento cada, com malhas variando de 20
a 80 mm entre nós opostos, as redes foram armadas por um período de 24 horas, sendo alocadas em
diferentes ambientes. Os indivíduos capturados foram anestesiados em solução eugenol
(concentração100 mg/L), a posteriori foram fixados em formol 10% e transportadas fluvialmente para
a cidade de Santarém e conduzidas ao Laboratório de Geoinformação Aquática da Universidade
Federal do Oeste do Pará (UFOPA), onde foram lavados, triados e identificados ao menor grupo
taxonômico, com auxílio das bibliografias correntes da área. Para cada indivíduo foram obtidos o
comprimento padrão (cm) e peso total (g) com auxílio de ictiômetro e balança analítica com precisão
0,1, respectivamente. Durante o período de estudo foram capturados 232 indivíduos, classificados em
6 ordens, 18 famílias, 34 gêneros e 45 espécies. As ordens Characiformes e siluriformes foram as mais
representativas em número de família, espécie e indivíduos capturados, sendo que em conjunto estas
contribuíram com 73,68% das famílias, 80 % das espécies e 78,81% das capturas, compondo o grupo
de maior abundância numérica. Com relação a abundância, os Characiformes permaneceram
dominantes (53,42%), seguido dos siluriformes (25,21%) e Perciformes (14,96%), entretanto foi
observado variação entre os períodos, sendo que no período de cheia, a ordem mais abundante foi
dos Characiformes (55,34%), seguida dos Perciformes (31,10%) e siluriformes (10,68%); já no período
de cheia, os Characiformes mantiveram o predomínio (51,91%), seguidos pelos siluriformes (36,64%)
e Cicliformes (4,58%). A ordem que mais contribuiu em termos de biomassa foram os Characiformes
(10.610,8g), seguido dos Siluriformes (5.204g) e Perciformes (3.151g), sendo que apesar da grande
variação, em comparação aos dois períodos, não houve mudança no predomínio. Os resultados
mostram a existência de variação sazonal na abundância e diversidade de peixes no Lago Itandéua,
sendo que a riqueza de espécies presentes, demonstra a importância do Lago para a pesca. Entretanto,
consideramos que a diversidade do Lago precisa ser mais explorada, sobretudo nos outros períodos

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342
Caracterização Da Assembléia De Peixes Do Lago Itandéua, Curuá-Pará.

(enchente e vazante), permitindo assim compreender melhor os padrões de distribuição das espécies
em ambientes de várzea.

Palavras-chave: Composição; Várzea; Ciclo hidrológico; Lago.

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343
Caracterização Da Assembléia De Peixes Do Lago Itandéua, Curuá-Pará.

1- INTRODUÇÃO

Existem aproximadamente 35.249 espécies de peixes no mundo (FRICKE et al., 2019). Na região
Neotropical são registradas algo em torno de 5.400 espécies com estimativas que variam entre 8.000
a 9.000 espécies (REIS et al. 2016), sendo que o Brasil é o país com a maior fauna de peixes de água
doce do mundo, onde já foram registradas um total de 2.587 espécies válidas (BUCKUP et al., 2007).
A bacia Amazônica brasileira contribui significativamente para esse expressivo valor, apresentando
uma riquíssima ictiofauna, com ocorrência de pelo menos 1.443 espécies de peixes dulcícolas (BUCKUP
et al., 2007).
A região amazônica dispõe de uma grande diversidade e abundância de peixes na qual atua como local
de berçário essencial para sobrevivência de larvas e juvenis e como fonte de alimento e abrigo (COX-
FERNANDES e PETRY, 1991; LOWE-MCCONNELL, 1999). A elevada riqueza de peixes da bacia
Amazônica, se dá pela dimensão e diversidade de sua rede hídrica, assim como, à variabilidade de
características físico-químicas atribuídas aos diferentes tipos de águas (SIOLI, 1967; JUNK, 1973;
SANTOS e FERREIRA, 1999). De acordo com a classificação de Sioli (1985) existem três grupos de rios
na bacia amazônica, são rios de águas brancas, águas pretas e águas claras. Estes últimos são
originários de formações geológicas mais antigas, nos escudos cristalinos, pobres em sedimentos e
suspensão para serem carreados pelas águas.
Os ecossistemas aquáticos estão organizados de acordo com a teoria do Rio Contínuo proposto por
(VANNOTE et al., 1980), onde ele diz que a estrutura e função das comunidades aquáticas acompanha
os gradientes abióticos, principalmente em função do processamento de matéria orgânica e por meio
de diferentes padrões tróficos, ao longo do gradiente longitudinal. Esta relação estabelece uma forte
dependência com a floresta que circunda seu leito para a manutenção dos organismos aquáticos e da
cadeia trófica (CARVALHO, 2008).
Em lagos da planície amazônica, alguns autores indicam que durante o período de águas altas ocorre
um aumento considerável da diversidade de peixes, grande parte desta diversidade é consequência
de migrações tróficas e/ou reprodutiva que algumas espécies realizam do canal do rio para os lagos
(GOULDING, 1996; CLARO-JR, 2004). No período de águas baixas os ambientes ficam restritos a região
central do lago, diminuindo drasticamente a quantidade de micro habitats, ocasionando uma
concentração de presas neste local, favorecendo a presença de predadores. Muitas
espécies durante este período migram do lago para o canal principal para evitar a predação (JUNK, et
al., 1989; LOWE- MCCONNELL, 1999).

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Caracterização Da Assembléia De Peixes Do Lago Itandéua, Curuá-Pará.

Em lagos de várzea a composição dos peixes tende a mudar drasticamente entre os períodos do ciclo
hidrológico, motivado principalmente pela precipitação e pulso de inundação (GOULDING et al., 1988).
Estes ambientes são considerados de vital importância para a região do baixo Amazonas, pois
fornecem alimento e renda para populações urbanas e comunidades ribeirinhas (ISAAC et al., 1996).
A fauna íctica destes lagos constitui-se de um grupo taxonômico relevante para avaliação destes
ambientes, e podem ser consideradas como eficientes indicadores da estabilidade e integridade dos
habitats aquáticos (KARR, 1981; KARR e CHUC, 1998).
Tendo em vista que os trabalhos de composição da ictiofauna possibilitam a criação de planos de
manejo sustentáveis, auxiliam na tomada de decisões, identificam novos recursos a serem explorados
e geram dados sobre a diversidade dos ambientes aquáticos, este trabalho tem por objetivo
determinar a composição ictiológica do Lago do Itandéua, e sua modificação influenciada pelo ciclo
hidrológico.

2- MATERIAL E MÉTODOS

O local selecionado para a captura das amostras foi o Lago Itandéua (2°01’14.5”S de latitude e
55°07’30.8”W de longitude) (Figura 1) no município de Curuá/PA, pertencente a microrregião de
Santarém. Este está localizado em um ambiente de várzea (planície aluvial de inundação).

As capturas foram realizadas em dois períodos do ciclo hidrológico (seca e cheia), sendo as amostras
coletadas utilizando baterias de malhadeira com 150 m² de área cada, com malhas variando de 20 a
80 mm. As redes foram armadas por um período de 24 horas, cada, sendo alocadas em diferentes

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Caracterização Da Assembléia De Peixes Do Lago Itandéua, Curuá-Pará.

ambientes. Posteriormente, os indivíduos capturados foram anestesiados com solução eugenol


(concentração100 mg/L), a posteriori foram fixados em formol 10% e transportadas fluvialmente para
a cidade de Santarém e conduzidas ao Laboratório de Geoinformação Aquática da Universidade
Federal do Oeste do Pará (UFOPA), onde foram lavados, triados e identificados ao menor grupo
taxonômico, com auxílio das bibliografias correntes da área. Após a identificação das espécies, para
cada indivíduo foram obtidos o comprimento padrão (cm) e peso total (g) com auxílio de ictiômetro e
balança analítica com precisão 0,1, respectivamente.
A composição da assembleia de peixes foi obtida através da abundância numérica em número de
indivíduos e biomassa.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período de estudo foram capturados 232 indivíduos, classificados em 6 ordens, 18 famílias,
34 gêneros e 45 espécies. As ordens Characiformes e Siluriformes foram as mais representativas em
número de família, espécie e indivíduos capturados, sendo que em conjunto estas contribuíram com
73,7% das famílias, 80 % das espécies e 78,8% das capturas, compondo o grupo de maior abundância
numérica.
A principal ordem foi a de Characiformes, que apresentou um total de 23 espécies pertencentes a 9
famílias. Segundo Nelson (2006) e Moreira (2007), o número de famílias de Characiformes varia entre
14 e 18, qual pode ser superior ao encontrado no Lago Itandéua devido a maior quantidade de coletas
adotadas, sendo que no presente estudo foram realizadas apenas duas coletas uma correspondendo
ao período de águas baixas (seca) e outra correspondendo ao período de águas altas (cheia).
Dentro dos Characiformes, os Serrasalmidae apresentaram maior riqueza, com 12 espécies. Já a menor
riqueza foi encontrada nas famílias Curimatidae, Erythrinidae, Prochilodontidae e Acestrorhynchidae,
ambas com uma espécie.
Já os siluriformes constituíram 13 espécies e 5 famílias, com a maior e menor riqueza encontrada nas
famílias loricaridae e Callichthyidae, respectivamente (Tabela 1).
A dominância de Characiformes e Siluriformes nas assembleias de peixes em lagos corrobora com
outros estudos realizados e que estão disponíveis na literatura (LOWE-McCONNELL, 1987; MAZZONI,
1998; CASTRO, 1999; FARIAS, 2017). A elevada diversidade entre esses dois grupos está de acordo com
o indicado para os lagos de várzea da Amazônia Central (JUNK et al., 1983; YAMAMOTO, 2004).
As espécies mais abundantes não variaram conforme o período de coleta, sendo que no período de
cheia foram Pochypops fourcroi, Pygocentrus nattereri, Pristobrycon striolatus, Plagioscion

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Caracterização Da Assembléia De Peixes Do Lago Itandéua, Curuá-Pará.

squamosissimus e Triportheus albus. Já no período de seca: Anadoras wendelli, Triportheus albus,


Pygocentrus nattereri, Pochypops fourcroi e Plagioscion squamosissimus (Tabela 1). Observa-se que 9
espécies ocorreram nos dois períodos, sugerindo que estas são comuns em lagos de várzea (Tabela 1).
A maioria das espécies ocorreram em apenas um período (36), podendo isso ser explicado pela
flutuação do nível da água, aumentando ou reduzindo a disponibilidade de habitats para os peixes
(SAINT-PAUL et al., 2000).
A família Hemiodontidae só foi capturada no período de seca, sendo neste também capturado a
maioria dos Anostomidae, qual reduziu consideravelmente no período de cheia, o que pode ter
ocorrido devido à grande área alagada, permitindo a dispersão das espécies dessas famílias , que
formam cardumes e realizam migração (BARTHEM e GOULDING, 1997; SOARES e YAMAMOTO, 2005).
Com relação a abundância, os characiformes permaneceram dominantes (53,4%), seguido dos
siluriformes (25,2%) e perciformes (15%). Entretanto foi observado variação entre os períodos, sendo
que no período de cheia, a ordem mais abundante foi dos characiformes (55,3%), seguida dos
perciformes (31,1%) e siluriformes (10,7%); já no período de cheia, os characiformes mantiveram o
predomínio (51,9%), seguidos pelos siluriformes (36,6%) e cicliformes (4,6%) (Tabela 2).
O grupo que mais contribuiu em biomassa também foram os characiformes (10.610,8g), seguido pelos
siluriformes (5.204g) e perciformes (3.151g), sendo que apesar da grande variação, em comparação
aos dois períodos, não houve mudança no predomínio (Tabela 3).

Tabela 1. Lista de espécies de peixes capturados nos dois períodos amostrados, cheia e Seca
respectivamente.

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4- CONCLUSÃO

O conhecimento do ambiente e os seus padrões de diversidade servem de subsídios para adequados


planos de manejo pesqueiro. Os resultados mostram que existe variação sazonal na abundância e

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Caracterização Da Assembléia De Peixes Do Lago Itandéua, Curuá-Pará.

diversidade de peixes no Lago Itandéua. Também é observado a riqueza de espécies presentes,


demonstrando a sua importância para a pesca. Contudo, consideramos que a diversidade do Lago
precisa ser mais explorada, sobretudo nos outros períodos (enchente e vazante), permitindo assim
compreender melhor os padrões de distribuição das espécies em ambientes de várzea.

5- AGRADECIMENTOS

A UFOPA através da PROPIT pela concessão da bolsa de iniciação científica; ao Laboratório de Coleção
Ictiológica pelo auxílio na identificação das espécies.

294
350
Caracterização Da Assembléia De Peixes Do Lago Itandéua, Curuá-Pará.

6- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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296
352
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 29
10.37423/200601210

ELABORAÇÃO DE MASSA DE MACARRÃO


ENRIQUECIDA COM FARINHA DE PEIXE
(CURIMATA CYPRINOIDES)

Leudiane Pinheiro

Haeliton Setubal

Gleyciane Pereira

Francielle Passos

Luana Quaresma

Marcos Bomfim

Christian Flaker

Adriana Bordignon
Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

Resumo: O Brasil acompanha as mudanças no perfil nutricional da população mundial em busca de


uma alimentação mais saudável, ocasionando o desenvolvimento de produtos de forma mais
elaborada que possibilita alto valor proteico, nutricional e aumento da vida útil do produto. A tapiaca
ou branquinha, é uma espécie de pequeno porte capturada no rio Turiçu - MA, muito apreciada pela
comunidade local e de baixo valor comercial sendo muito abundante na região da Baixada
Maranhense. O presente trabalho teve como objetivo elaborar uma massa de macarrão enriquecida
com farinha de peixe obtida a partir da tapiaca (Curimata cyprinoides).
A massa de macarrão foi elaborada com a inclusão de farinha da tapiaca nas proporções de 10%, 30%
e 50%. Foram realizadas análises de composição centesimal e sensorial (ordenação, aceitação e perfil
de atributos). Os resultados foram submetidos a análise de variância e comparação de médias pelo
teste de Tukey, ao nível de significância de 5%. As amostras de macarrão enriquecidas apresentaram
valores decrescentes de umidade, extrato etéreo e carboidratos com o aumento na concentração de
farinha de peixe; entretanto, o teor de matéria mineral e proteína bruta aumentaram com o aumento
da concentrações de farinha de pescado de 10% para 50%. No teste de ordenação a amostra com a
proporção de 10% de farinha de peixe foi classificada como sendo a “melhor”, embora
estatisticamente não houve diferenças significativas entre as três amostras avaliadas. Para o teste de
aceitação os julgadores avaliaram a formulação 10% com a nota de 6,59±1,33 “gostei ligeiramente”,
as formulações 30% e 50%, obtiveram as notas 6,13±1,87 e 5,56±1,83, sendo classificadas como
“indiferente”. Para o teste de atributos a formulação com 10% foi julgada como sendo a amostra de
melhor a aparência e cor , sendo classificada no escore “bom”. O enriquecimento da massa de
macarrão com a farinha de peixe mostra-se muito importante para se obter um produto com maior
teor proteico, podendo dessa forma melhorar a qualidade nutricional desse alimento, e oferece uma
alternativa para o uso da tapiaca em produtos de valor agregado.

Palavras-chave: Massa alimentícia; Processamento do pescado; Qualidade nutricional.

297
354
Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

1. INTRODUÇÃO

A microrregião da Baixada Maranhense pertence à mesorregião norte maranhense, situada às


margens do Golfão Maranhense, apresentando características naturais extraordinárias e com
diferentes ecossistemas integrados. Formada por um relevo plano a suavemente ondulado com
extensas áreas rebaixadas que são alagadas durante o período chuvoso, originando extensos lagos
interligados, associados aos baixos cursos dos rios Mearim, Grajaú, Pindaré e Pericumã. A região da
Baixada Maranhense é considerada uma Área de Proteção Ambiental, por meio do Decreto Estadual
nº 11.900, de 11 de junho de 1991 e nessa região encontram-se alguns dos principais rios que nascem
no estado, como o Aurá, Maracu, Mearim, Pericumã, Pindaré e Turi (BRAGA, 2017).
O rio Turiaçu nasce entre a Serra do Tiracambu e Serra da Desordem, região que pertence ao município
maranhense Zé Doca, situado nas proximidades da área indígena do Alto Turiaçu. O rio Turiaçu integra
de forma secundária a Bacia do rio Pindaré onde no trecho a jusante do rio Pindaré-Mirim apresenta
relevo baixo, plano e sujeito a inundações, existindo também muitas lagoas marginais, sendo que no
período das cheias ele é interliga com os rios e lagos da Baixada Ocidental Maranhense. Desde sua
nascente até a foz, o rio Turiaçu, atravessa diversos municípios do estado do Maranhão, tais como: Zé
Doca, Santa Luzia do Paruá, Nova Olinda, Araguanã, Pedro do Rosário, Presidente Sarney, Santa
Helena, Turilândia, Serrano do Maranhão, Bacuri e Turiaçu (SILVA, 2014).
O Rio Turiaçu ainda é o principal meio subsistência para muitas famílias que moram em municípios
margeados por ele e também comunidades ribeirinhas que sobrevivem da pesca artesanal que é
realizada diariamente (SILVA, 2014). A pesca artesanal é praticada como forma de sustento para as
famílias que habitam o entorno do rio e por pescadores artesanais que comercializam esse pescado
em feiras municipais de cidades vizinhas. A pesca artesanal apresenta grande importância econômica
e social para muitos municípios maranhenses, devido à predominância do trabalho familiar ou
realizado por grupos de vizinhos locais. (LEAL, 2009).
Dentre as muitas espécies de peixes capturados nas margens do rio Turiaçu, encontrasse uma espécie
muito apreciada pela comunidade local e de baixo valor comercial, conhecida vulgarmente como
Tapiaca (Curimata cyprinoides). Trata-se de uma espécie muito abundante na região da Baixada
Maranhense, principalmente no município de Santa Helena. A Tapiaca é uma espécie de porte
pequeno, apresenta cerca de 20 cm de comprimento e peso médio de 120g, organiza-se em cardumes
numerosos durante a época reprodutiva, podendo ser facilmente capturada com redes ao longo das
margens, onde a vegetação densa é inundada. Alimenta- se de detritos orgânicos, organismos
bentônicos, e perifíton (SOARES, 2013). A tapiaca costuma ser comercializada fresca, eviscerada e

298
355
Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

descamada, seu preço de comercialização é muito baixo, varia de R$ 1,50 a R$ 5,00 o kilo, durante a
época de maiores capturas entre os meses de julho, agosto e dezembro. Apresenta muitos espinhos
intramusculares difíceis de serem removidos e sua carne apresenta um sabor muito semelhante a
carne do lambari (Astyanax bimaculatus). Por ser uma espécie de baixíssimo valor comercial e
apresentar porte pequeno, pode ser uma espécie de grande potencial para ser explorado no
desenvolvimento de novos produtos. O aproveitamento integral dessa espécie, que hoje está sendo
desvalorizada, pode vir atender a demanda dos consumidores e pescadores artesanais por produtos
de alta qualidade, algumas alternativas de aproveitamento são: elaboração de produtos marinados ou
em conserva, utilização da CMS e sua aplicação no desenvolvimento de produtos, elaboração da
farinha para a sua inclusão na elaboração de novos produtos enriquecidos com teores elevados de
proteína.
O pescado é um alimento que se destaca nutricionalmente quanto à quantidade e qualidade das suas
proteínas, à presença de vitaminas e minerais e, principalmente, por apresentar ácidos graxos
essenciais ômega-3 eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA). O consumo desses lipídios é
associado à redução do risco de doenças cardiovasculares e a funções importantes nas fases iniciais
do desenvolvimento humano (SARTORI, 2012). O valor nutricional do pescado e a divulgação de
estudos que o associam com melhorias para a saúde têm causado, nos últimos anos, um aumento de
interesse por esse alimento (SARTORI, 2012).
De acordo com Stansby (1973) a carne de peixe pode ser incluída na dieta porque é um alimento de
baixo teor de gordura (incluindo o colesterol) e alto teor protéico, além de ser uma fonte de
componentes nutricionais, como as vitaminas e minerais, e de ácidos graxos poliinsaturados.
O Macarrão ou Massa Alimentícia é um dos alimentos mais consumidos no mundo e também no Brasil,
é um produto não fermentado, apresentado sob várias formas, recheado ou não, obtido pelo empasto,
amassamento mecânico de farinha de trigo comum e ou sêmola/ semolina de trigo e ou farinha de
trigo integral ou derivados de cereais, leguminosas, raízes ou tubérculos, adicionado ou não de outros
ingredientes e acompanhado ou não de temperos e ou complementos, isoladamente ou adicionados
diretamente à massa (ANVISA, 2000). O consumo per capita de macarrão no Brasil é em média 5,7 Kg
por pessoa/ano, o qual vem crescendo de forma expressiva nos últimos anos. No entanto, em termos
de valor nutricional, este alimento é deficitário, uma vez que se destaca pela sua riqueza em
carboidratos e deixa a desejar em termos de quantidade e qualidade proteica (NICOLETTI, 2007).
O processamento do pescado vem atender as necessidades de agregação de valor, estendendo a vida
útil de armazenamento e garantindo a composição nutricional do produto final (NETTO, 2010). O

299
356
Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

desenvolvimento de uma massa de macarrão enriquecida com proteína do peixe, a partir da farinha
elaborada com a tapiaca (Curimata cyprinoides), é uma alternativa viável para aumentar a sua
comercialização e também mostra-se como uma forma diferente de agregar valor comercial a essa
espécie usando tecnologias inovadoras da industria de alimentos, como forma de melhorar o valor
nutricional do alimento e fornecer um produto de boa qualidade ao consumidor (COSTA, 2009).
O objetivo desse estudo foi elaborar farinha de peixe a partir da tapiaca (Curimata cyprinoides) e sua
inclusão na massa de macarrão para enriquecê-la com proteína.

2. MATERIAL E MÉTODOS

1. LOCAL DE ESTUDO

A microrregião da Baixada Maranhense está localizada a latitude 01°59' - 04°00’S e longitude 44°00' -
45°33’W a oeste do estado do Maranhão e possui a maior bacia lacustre do nordeste formada pelos
rios Mearim, Pindaré, Pericumã, Aurá e Turiaçu e destaca-se por apresentar duas estações bem
definidas: seis meses de chuvas, período conhecido como inverno e seis meses de seca, período de
verão. É uma região pertencente ao bioma amazônico e apresenta uma fauna e flora riquíssima em
recursos naturais. As tapiacas (Curimata cyprinoides) foram capturadas por pescadores artesanais no
Rio Turiaçu, situado na região da Baixada Maranhense.
Foram adquiridos 90 peixes diretamente com os pescadores e acondicionadas em caixas isotérmicas
e transportados até o Laboratório de Tecnologia e Processamento do Pescado - LATEPPE, da
Universidade Federal do Maranhão/ Campus Pinheiro.

2. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS E ELABORAÇÃO DA FARINHA DE PEIXE

Os peixes foram lavados, descamados, decapitados, eviscerados e pesados. Na sequencia os filés


foram colocados em bandejas e levados para uma estufa de secagem e esterilização com circulação
de ar forçado, onde permaneceram por aproximadamente 4 dias a 55º C. Após a secagem, os filés
foram retirados e pesados novamente (Figura 1-A). Os filés secos foram triturados até a obtenção de
uma farinha grossa, e na sequência essa farinha foi peneirada para obtenção de um produto com
granulometria uniforme (Figura 1-B). A farinha obtida foi acondicionada em sacos de polietileno tipo
zip-lock fechados e estocados sob congelamento até o momento de sua utilização. Foram realizados
alguns testes preliminares para ajustes das formulações, onde foi estabelecido a inclusão de 10%, 30%
e 50% de farinha da tapiaca nas três formulações desenvolvidas, codificadas como 124, 538 e 951,

300
357
Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

respectivamente (Figura 1-C). Para o preparo da massa de macarrão foi utilizado a farinha de trigo
peneirada, ovos e farinha da tapioca, na proporção de 1 ovo para 100g de farinha. Na sequência os
ingredientes foram misturados e homogeneizados antes da massa ser moldada em trefila com formato
de talharim. Após a moldagem, a massa foi acondicionada numa bandeja em estufa de secagem e
esterilização com circulação de ar forçado a 55º C até a secagem total da massa.

Figura 1. Fotografias de (A) filés de tapiaca após secagem em estufa, (B) farinha de tapiaca, e (C)
massa de macarrão enriquecida com 10, 30 e 50% de farinha de tapiaca, da esquerda para direita,
respectivamente.

3. METODOLOGIA DAS ANÁLISES

Para a análise da composição centesimal da farinha e da massa de macarrão enriquecida foram


retirados algumas gramas de amostras e condicionadas em sacos zip-lock, e transportadas até o
Laboratório de Nutrição Animal do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais UFMA/ Campus
Chapadinha - MA. Foram realizadas análises de umidade, matéria mineral, proteína, extrato etéreo e
carboidratos, em triplicata, seguindo a metodologia AOAC, 2005. A análise sensorial foi realizada no
Laboratório de Tecnologia e Processamento do Pescado UFMA/ Campus Pinheiro -MA, onde 40
avaliadores não treinados escolhidos aleatoriamente avaliaram as 3 amostras de massa de macarrão,
que foram cozidas em água fervente por aproximadamente 20 minutos e apresentadas em um prato
com códigos aleatórios em cada amostra para evitar qualquer indução ao provador.
A analise sensorial constitui na aplicação de teste de perfil de atributos, aceitação e ordenação. Para
a realização do teste de aceitação foi fornecido aos julgadores uma ficha contendo uma escala
hedônica de nove pontos estruturados variando de 1= Desgostei extremamente a 9 = Gostei
extremamente, segundo a ABNT (1998), na qual cada julgador pode expressar a sensação percebida.
No teste de ordenação por preferência, foi solicitado a cada julgador para verificar a ordem de
preferência das amostras de macarrão, e ordená-las em ordem crescente de preferência, onde (1)
Melhor, (2) Médio e (3) Ruim. No teste de Perfil de atributos, usado para avaliar o perfil sensorial das
amostras, considerou aparência, cor, odor, sabor, e textura, com o uso da escala verbal e numérica,

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Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

onde 1= péssimo 2 = regular, 3 = bom, 4 = muito bom e 5 = excelente. A análise dos dados foi feita
através da comparação dos valores obtidos em cada atributo, para cada amostra analisada.

4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados de composição centesimal, testes de aceitação e perfil sensorial foram submetidos a


análise de variância (ANOVA) e, quando detectadas diferenças significativas, as médias comparadas
pelo teste Tukey em nível de 5% de probabilidade. A análise dos resultados do teste de ordenação foi
feita pelo teste de Friedman, utilizando-se a Tabela de Newel e MacFarlame (ABNT, 1994).

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi obtida uma farinha grosa com coloração escura e odor característico de pescado. A elaboração de
farinha de peixe pode melhorar a composição nutricional do produto fabricado, uma vez que ela
mantém as características da sua matéria-prima, como baixo valor calórico, proteína de alta qualidade,
minerais e ácidos graxos poliinsaturados em especial, os da série ômega-3. Comparando a composição
nutricional da farinha de peixe com a farinha de trigo, milho, e láctea é notável e expressivo os teores
de proteína bastante elevados (CHAMBO, 2018).
estatísticas entre as três composições de massa de macarrão investigadas, como apresentado na
Tabela 1. A umidade foi mais elevada (2,06%) na formulação de 10% em relação as demais
formulações. A matéria mineral apresentou valores mais elevados (41,95%) para a amostra com 50%
de inclusão de farinha de peixe, estando dentro dos valores esperados, devido a elevada concentração
de minerais presentes no músculo dos peixes.
O teor de proteína também foi coerente com a literatura, uma vez que a medida que houve um
aumento da inclusão da farinha de peixe nas formulações (10, 30 e 50%) houve um aumento
considerável na porcentagem de proteína (21,13; 30,64 e 41,95%). Esses valores foram considerados
satisfatórios e superiores aos índices mínimos de proteína exigidos pela legislação para massas que é
de 8% (ANVISA, 2000). Neste trabalho encontraram-se valores superiores de proteínas quando
comparados com resultados de massa de macarrão utilizando farinha de trigo (12,7%) e semolina
(14,03%) (CHANG e FLORES, 2004).
Os valores de extrato etéreo e carboidratos diminuíram a medida que houve um aumento na inclusão
da farinha de peixe nas formulações, passando de 75,81% para 53,15% nas formulações de 10 e 50%,
respectivamente, resultado coerente pois a quantidade de carboidratos quantificada no corpo dos
peixes representa menos de 1% (CONTRERÁS-GÚSMAN 1994).

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Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

Tabela 1. Composição centesimal média das formulações de macarrão enriquecido com 10, 30 e 50 %
de farinha de peixe, codificado respectivamente como 124, 538 e 951.

NOTA: Letras diferentes na mesma coluna representam diferenças significativa pelo teste de Tukey
(p<0,05).
Nas análises sensoriais, o teste de ordenação não apresentou diferenças significativas entre as três
amostras avaliadas, entretanto a formulação com 10% de farinha de peixe foi classificada pelos
julgadores como sendo a “melhor” em relação as outras formulações. No teste de aceitação (Tabela
2), os julgadores avaliaram a formulação 10% com a nota de 6,59±1,33 como sendo “gostei
ligeiramente”, as formulações 30% e 50%, obtiveram as notas 6,13±1,87 e 5,56±1,83, sendo
classificadas como “indiferente”. Para o teste de atributos a formulação com 10% foi julgada como
sendo a amostra de melhor a aparência e cor, sendo classificada no escore “bom” enquanto as
amostras 30% e 50% ficaram classificadas mais próximas do escore “regular".
Tabela 2. Valores médios dos testes de perfil de atributos sensoriais e aceitação das formulações de
macarrão enriquecido com 10, 30 e 50 % de farinha de pe, codificado respectivamente como 124, 538
e 951.

NOTA: Letras diferentes na mesma coluna representam diferenças significativa pelo teste de Tukey
(p<0,05).NS, representa que não houve diferenças significativas entre as formulações no atributo
analisado. Aparência, cor, odor, sabor e textura – utilizado uma escala de 5 pontos, 5 = excelente.
Aceitação – utilizado uma escala hedônica de 9 pontos, 9 = gostei muitíssimo.

Na Figura 2 é possível observar os atributos de aparência, cor, odor, sabor e textura

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Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

Representados em gráfico-aranha. Neste teste, a escala utilizada compreende a seguinte disposição:


notas entre 1 e 3 padrão inaceitável de qualidade, entre 3 e 4 padrão aceitável de qualidade e superior
a 4 padrão excelente de qualidade. Como pode ser observado na Figura 2, a formulação de 10% de
inclusão de farinha, com relação à aparência, cor e textura apresentou média superior a 3 e
encontram-se dentro dos padrões aceitáveis de qualidade, embora os atributos de odor e sabor a
média ficou abaixo de 3, demonstrando que esses dois atributos não agradaram os julgadores. Os
resultados indicaram que há necessidade de melhorar essas características no produto final. Para as
formulações de 30 e 50% os atributos analisados encontram-se abaixo dos padrões aceitáveis, com
média 2, havendo necessidade de realizar um treinamento sensorial com os julgadores. A maioria dos
julgadores eram alunos do curso de Engenharia de Pesca, muitos deles manifestaram o hábito de
consumir peixe fresco frequentemente, e uma minoria tem o hábito de consumir produtos
processados de pescado.

Figura 2. Gráfico-aranha dos atributos sensoriais das formulações de macarrão enriquecido com 10,
30 e 50 % de farinha de peixe, codificado respectivamente como 124, 538 e 951. Escala de 5 pontos,
5 = excelente, 1 = péssimo.

SOUZA et al. (2017) realizou uma pesquisa para traçar o perfil dos consumidores de pescado na Feira
Municipal de Pinheiro -MA, onde os consumidores foram questionados sobre o interesse em consumir
produtos inovadores à base de pescado (pescado salgado, bolinho empanado, linguiça e hambúrguer,
pré-temperados e prontos) os consumidores entrevistados não demonstraram boa aceitação por
esses produtos, devido ao perfil da população do município de Pinheiro que apresenta o hábito do

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Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

consumo do peixe inteiro e outras formas de produtos processados a partir de pescados, são
desconhecidas pela população local.
A baixa renda per capita deusa grande parte da população brasileira é um fator que pode reduzir o
consumo de produtos de maior valor agregado (FILHO e SCHLINDWEIN, 2007). Segundo o SEBRAE
(2015), as tendências de consumo estariam relacionadas ao ritmo acelerado das grandes cidades
brasileiras que impacta no mercado da alimentação. Esse contexto diverge ao perfil encontrado no
município de Pinheiro. AQUERETTA et al. (2002), desenvolveram patês com carne de cavala e fígado
de atum, relatando notas inferiores no teste de perfil de características aos deste estudo, os atributos
odor e gosto de peixe foram considerados muito fortes, especialmente nas formulações que
continham maior quantidadede fígado de atum. BORDIGNON et al. (2006), encontrou padrões de
qualidade de aceitável a excelente para patês cremosos de tilápia e pacu, resultados que divergem
desse estudo.

5. CONCLUSÃO

O enriquecimento da massa de macarrão com a farinha de peixe na proporção de 50%, demonstrou


ter sido a formulação que apresentou maiores teores de proteína na massa, porém com pouca
aceitação dos julgadores, entretanto, a análise sensorial da amostra enriquecida com 10% de farinha
de peixe demonstrou ter sido a amostra preferida pela maioria dos julgadores.
A inclusão da farinha de peixe na massa de macarrão enriqueceu nutricionalmente o produto além de
agregar valor aos produtos desenvolvidos a partir de espécies de peixes baixo valor comercial,
amplamente comercializados e consumidos na região da Baixada Maranhense.

305
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Elaboração De Massa De Macarrão Enriquecida Com Farinha De Peixe (Curimata Cyprinoides)

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Nutricional, Campinas, v. 19, p. 83-93, fevereiro 2012. ISSN 2.

SOARES, É. D. C. Peixes do Mearim . São Luís: Plural, v. 10, 2013.

SOUZA, V. E; PEREIRA, K.C.M; SANTOS, C. E; LOPES, D.F.C; MOURA. R.S.T; BOR DIGNON, A. C. Perfil do
consumidor de pescado no Município de Pinheiro, Maranhão,BRASIL In: CONGRESSO XX CONBEP,
2017, Florianópolis. Anais... Florianópolis: XX CONBEP, 2017.

307
364
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 30
10.37423/200601211

IDENTIFICAÇÃO DA PROPORÇÃO SEXUAL E


ESTÁGIOS DE MATURAÇÃO DA OSTRA NATIVA
CRASSOSTREA GASAR NO MUNICÍPIO DE
RAPOSA-MA

Ana Karolina Sousa

Adriano Sousa

Hugo Gomes

Ícaro Antonio
Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

Resumo: A Crassostrea gasar é uma das espécies encontradas no litoral brasileiro que possui maior
interesse econômico, relacionando a sua exploração comercial. O presente estudo teve como objetivo
identificar a proporção sexual e os estágios de maturação da ostra nativa Crassostrea gasar, e
estabelecer a relação com os fatores ambientais. A biologia reprodutiva da espécie foi avaliada
mensalmente durante julho de 2014 a maio de 2015 no município de Raposa-MA através de análise
histológica do desenvolvimento gonadal e proporção sexual, sendo também mensurada no local da
coleta a salinidade e temperatura da água; a temperatura do ar e o índice pluviométrico foram obtidos
junto ao Núcleo de Geoprocessamento-UEMA. A determinação dos estágios de desenvolvimento
gonadal foi realizada utilizando a escala descrita por Lubet (1959), com uma modificação, onde se
agruparam os estágios IIIA1 e IIIA2 em um único estágio IIIA. A proporção sexual durante todo o
período de estudo foi de 1,30:1 (fêmea:macho) e de acordo com teste de qui-quadrado não ocorreu
uma diferença significativa entre a proporção de machos e fêmeas (α=5,0%). O estágio IIIB (desova)
foi observado durante todos os meses amostrados, o que indica a possibilidade de se coletar sementes
de ostras durante todo ano. Entretanto a maior porcentagem de indivíduos no estágio de desova foi
verificada entre os meses de dezembro a março. Esses valores foram diretamente relacionados ao
momento do ano com a maior queda de salinidade e aumento da precipitação, indicando que estas
variáveis apresentam uma relação com a indução a liberação de gametas de ostras no ambiente
natural. O conhecimento sobre as épocas de liberação de gametas de ostras nos auxilia na
determinação de medidas de gestão sobre a extração nos bancos naturais e também na determinação
dos melhores momentos do ano para a colocação de coletores artificiais para a obtenção de sementes
para o cultivo.

Palavras-chave: Ostreicultura; Reprodução; Moluscos; Maranhão.

308
366
Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

1-INTRODUÇÃO

A Crassostrea gasar é uma das espécies de ostras encontradas no litoral brasileiro que possui maior
interesse econômico, relacionando a sua exploração comercial (Castilho-Westphal, 2012). No
conhecimento da biologia de qualquer organismo, é essencial conhecer a reprodução. Através do
conhecimento dessas informações dos animais se podem fornecer ferramentas para aplicação de um
manejo e cultivo adequado, principalmente para invertebrados que têm interesse econômico (Maciel,
2011).
Conhecer as características sexuais e as ambientais que regem a maturação gonadal e a liberação dos
gametas é importante para subsidiar a exploração comercial dos moluscos (Lenz, 2008), já que
evidenciam picos de reprodução e o recrutamento de larvas nas áreas em estudo (Castilho-Westphal,
2012).
Devido sua importância econômica e ampla distribuição geográfica, as ostras têm sido estudadas mais
exaustivamente que qualquer outro invertebrado marinho. O cultivo de ostras está implantado no
conceito de atividade voltada ao desenvolvimento sustentável e a gestão ambiental, porque prioriza
o uso do recurso ambiental como fonte produtora de alimento e não apenas como recurso para
extração desordenada (Anacleto et al., 2007).
Segundo Sousa (2015), a atividade auxilia na renda das famílias do município de Raposa, sendo assim
o presente estudo teve como objetivo identificar a proporção sexual e os estágios de maturação da
ostra nativa Crassostrea gasar, e estabelecer a relação com os fatores ambientais.

2-MATERIAL E MÉTODOS

O estudo de biologia reprodutiva foi realizado no município de Raposa-MA, tendo suas coletas entre
julho de 2014 e maio de 2015. Foram coletados 20 (vinte) espécimes de C. gasar e levadas para o
processamento na Universidade Estadual do Maranhão. No Laboratório de Fisioecologia, Reprodução
e Cultivo de Organismos Marinhos, foi realizada a biometria, consideradas as medidas de altura
(máxima dimensão entre o umbo e a borda oposta da concha), comprimento (máxima dimensão entre
a região antero-posterior) e largura (máxima dimensão entre as duas valvas).
Os estágios de maturação foram estabelecidos através da análise histológica do tecido gonadal. Para
isto se fixou em uma solução de Davidson salino a secção de carne compreendida entre os palpos
labiais e a cavidade pericárdica durante aproximadamente 24 horas. Esta secção foi conservada em
álcool 70º, para posteriormente realizar a desidratação mediante banhos sucessivos em álcool de
diferente graduação. A eliminação dos restos de álcool foi realizada em xilol e posteriormente foram

309
367
Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

incluídas em parafina. Os blocos de parafina, mantidos a 4ºC foram cortados em duas profundidades
em secções de 5 µm utilizando um micrótomo. As secções resultantes se montaram sobre lâminas e
foram tingidas com a coloração de Hematoxilina e Eosina (HE). Posteriormente foi feita à montagem
da lâmina com meio sintético (Entellan). Para cada indivíduo foi analisado utilizando um microscópio
óptico. A identificação do sexo dos indivíduos foi realizada através de procedimento histológico. A
proporção sexual (sex-ratio), estabelecida como a relação do número total de machos e fêmeas, foi
comparada em cada amostragem e como a média total durante o período de estudo, aplicando-se o
teste não paramétrico de χ² com um nível de significância α = 5%. A determinação dos estágios de
desenvolvimento gonadal foi realizada utilizando a escala descrita por Lubet (1959), com uma
modificação, aonde se agruparam os estágios IIIA1 e IIIA2 em um único estágio IIIA. Foram descritos
cinco estágios gonadais para machos e fêmeas da Crassostrea gasar:
Estágio II (gametogênese) – A foliculogênese e a gametogênese são intensas, chegando a aparecer os
primeiros gametas maduros (espermatozoides e ovócitos).
Estágio IIIA (maturação) – Período no qual os gametas maduram estando no final desta fase aptos para
serem liberados ao meio externo.
Estágio IIIB (desova – esvaziamento total ou parcial) – Uma vez alcançada a maturação existem as
primeiras liberações de gametas que enchem os gonodutos, deixando espaços intrafoliculares.
Estágio IIIC (restauração entre desovas sucessivas) – O tamanho dos folículos diminui, ficando com a
aparência de comprimidos. O número de células em desenvolvimento aumenta, enquanto os gametas
maduros diminuem.
Estágio IIID (fim da estação de reprodução) – Depois da ultima desova da estação, os folículos estão
pequenos e praticamente vazios, restando uns poucos gametas maduros (ovócitos ou
espermatozoides), com sinais de citólise. Os folículos são invadidos internamente e eternamente por
hemócitos, com provável função degenerativa.
As análises das variáveis ambientais foram realizadas durante a coleta dos organismos, sendo a
salinidade mensurada através da utilização de um refratômetro óptico manual, a temperatura da água
(°C) com o auxílio de um termômetro de mercúrio. Os dados da precipitação e temperatura do ar
foram adquiridos junto ao Núcleo Geoambiental (NUGEO) pertencente a Universidade Estadual do
Maranhão.

310
368
Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

3-RESULTADOS E DISCUSSÃO

IDENTIFICAÇÃO DOS SEXOS E ESTÁGIOS DE MATURAÇÃO

A proporção sexual durante todo o período de estudo foi de 1,30:1 (fêmeas:machos) e de acordo com
teste de qui-quadrado (α=5,0%) não ocorreu diferença significativa entre a proporção de machos e
fêmeas. A proporção sexual dos indivíduos analisados foi de 45,5% de machos e 54,5% de fêmeas
(Figura 1). No mês de maio, foi obtida a maior diferença entre machos e fêmeas (2,6:1), ainda não
tendo diferença significativa entres sexos (P>0,05, qui-quadrado). Esse resultado foi semelhante a
outros estudos realizados com ostras do mesmo gênero Crassostrea em outros estados como Lenz
(2008) em Camamu-BA e Christo (2006) na Baía de Guaratuba-PR, ambos com Crassostrea rhizophorae
e Paixão (2012) no litoral paraense, com C. gasar.
Figura 1. Proporção sexual de ostras entre os meses de julho de 2014 a maio de 2015, no município
de Raposa-MA.

As ostras cultivadas em Raposa-MA apresentaram um rápido desenvolvimento gonadal, sendo


verificados indivíduos em estagio II (gametogênese) em apenas uma porcentagem pequena entre
fêmeas (Figura 2) e machos (Figura 3). Nos machos foi observado este estágio nos meses de julho,
onde obteve o maior valor (28,57%) e novembro a janeiro, entre as fêmeas a gametogênese foi
observada apenas no mês de agosto. O estágio de maturação (IIIA) foi observado em todos os meses
entre os sexos, com exceção do mês de dezembro para as fêmeas.

311
369
Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

Figura 2. Estágios de desenvolvimento gonadal de Crassostrea gasar (fêmeas) em porcentagem de


julho de 2014 a maio de 2015 no município de Raposa-MA: (II) gametogênese; (IIIA) maturação; (IIIB)
desova; (IIIC) restauração.

100

80
Porcentagem

60

40

20

0
jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai
II IIIA IIIB IIIC

O estágio de desova parcial ou total (IIIB), identificado pelas primeiras liberações de gametas que
enchem os gonodutos, deixando espaços intrafoliculares, foi observado na maioria dos meses do ano,
não sendo observado apenas no mês de agosto e março, em fêmeas e macho, respectivamente. Em
todo o período de estudo foram observados indivíduos em estágio de liberação de espermatozoides
ou ovócitos, ocorrendo os valores mais baixos nos meses de agosto (12,5%) e abril (14,29%) para
machos. Para fêmeas os valores de percentuais foram maiores, o valor mínimo foi registrado no mês
de setembro com 33,33%. O estágio IIIC, que representa as ostras que liberaram gametas e iniciaram
um novo ciclo gametogênico, foi observado principalmente entre setembro e novembro em fêmeas,
já em machos não foi verificado. Em regiões tropicais, os organismos tendem a apresentar uma
reprodução contínua, com picos de eliminação de gametas, em períodos mais quentes (Christo, 2006).
Nos estados do Norte e Nordeste se verificaram que a eliminação de gametas é contínua durante o
ano, não registrando um período de repouso sexual (Lenz, 2008; Paixão, 2012; Sousa, 2015).

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Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

Figura 3. Estágios de desenvolvimento gonadal de Crassostrea gasar (machos) em porcentagem de


julho de 2014 a maio de 2015 no município de Raposa-MA: (II) gametogênese; (IIIA) maturação; (IIIB)
desova; (IIIC) restauração.

100
90
80
Porcentagem (%)

70
60
50
40
30
20
10
0
jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai
II IIIA IIIB

VARIÁVEIS AMBIENTAIS

A temperatura da água obteve uma pequena variação no decorrer do ano, onde a menor temperatura
ocorreu no mês de março de 2015 com 28,2°C e a maior no mês de abril com 32°C. A temperatura do
ar foi ainda mais constante que a temperatura do mar, onde a máxima foi obtida nos meses de outubro
e dezembro de 2014 com 27,8 °C e mínima no mês de março com 26,1 °C (Figura 4). De acordo, Christo
(2006) e Castilho-Westphal (2012), o ciclo sexual de ostras do gênero Crassostrea, está relacionado à
variação da temperatura, assim influenciando a reprodução. No atual estudo foi observada a liberação
de gametas em todos os meses coletados, onde a pouca variação de temperatura pode ser
considerado a causa desse fator, como foi registrado também por Paixão (2012), com a espécie C.
gasar, no litoral paraense.

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Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

Figura 4. Evolução da temperatura do ar e da água nos meses de julho de 2014 a maio de 2015 em
Raposa-MA.

33
Temperatura (ºC) 32
31
30
29
28
27
26
25
24
23

TEMPERATURA TEMPERATURA - AR

Ocorreu uma pequena variação na salinidade, onde foi observado o valor máximo no mês de setembro
com 38. A partir do mês de dezembro notou-se uma queda na salinidade até o mês de março, onde
foi encontrado o valor mínimo (32) entre todos os meses coletados, repetido também esta mínima no
mês de maio (Figura 5).
Figura 5. Evolução da salinidade e da precipitação pluviométrica nos meses de julho de 2014 a maio
de 2015, no município de Raposa-MA.

40 350
300 Precipitação (mm)
38
250
Salinidade

36 200
34 150
100
32
50
30 0

SALINIDADE PRECIPITAÇÃO

No presente estudo a temperatura apresentou-se constante, porém obtendo médias elevadas, em


contrapartida a salinidade apresentou uma flutuabilidade devido a fatores como a precipitação e a
entrada de descarga fluvial. O aumento da frequência de ostras em liberação de gametas (estágio IIIB)
no inicio do período chuvoso (dezembro – março) pode estar relacionada com a redução da salinidade
no ambiente, e elevação do índice pluviométrico, estas variáveis ambientais também foram observada
no nordeste paraense e na Ilha do Maranhão (Paixão, 2012; Sousa, 2015).

314
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Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

4-CONCLUSÃO

Os moluscos estudados em Raposa – MA possuem proporção sexual de fêmeas maiores que de macho,
porém não significativa. As ostras estão sempre em processo de maturação, liberando gametas, sem
período de repouso sexual, devido às condições favoráveis do ambiente, com temperaturas altas e
constantes. Este resultado é confirmado através da presença de indivíduos no estágio de desova em
praticamente todos os meses coletados, possibilitando a obtenção de sementes em todos os meses
do ano. Esta situação colabora positivamente no desenvolvimento da Malacocultura no Maranhão,
atividade de grande potencial de crescimento no estado.

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373
Identificação Da Proporção Sexual E Estágios De Maturação Da Ostra Nativa Crassostrea Gasar No Município De Raposa-Ma

5-REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ANACLETO, A.; PERIN E. J.; SILVA F. C.; DESCHERMAUYER S. R. O declínio da pesca artesanal e a
ostreicultura como alternativa econômica sustentável. Instituto de Biociências da Universidade de São
Paulo. Departamento de Zoologia. 2009.

CASTILHO-WESTPHAL, G.G. Ecologia da ostra do mangue Crassostrea brasiliana (Lamarck, 1819) em


manguezais da Baía de Guaratuba-PR. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
2012.

CHRISTO, S.W. Biologia reprodutiva e ecologia de ostras do gênero Crassostrea (Sacco, 1897) na Baía
de Guaratuba (Paraná – Brasil): um subsídio ao cultivo. Tese (Doutorado) Universidade Federal do
Paraná, Curitiba. 2006.

LENZ, T.M. Biologia reprodutiva da ostra-do-mangue Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828)


(Bivalvia: Ostreidae) como subsídio à implantação de ostreicultura na Baía de Camamu (BA).
Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus. 2008.

LUBET, P. Recherches sur le cycle sexual et l’emission des gametes chez le Mytilides et les Pectinides
(mollusques bivalves). Rev. Trav. Inst. Pêches Marit. 23: 387-548. 1959.

MACIEL, D.C. Biologia Reprodutiva e Efeitos do Tributilestano sobre a Mytellacharruana e


Mytlopsisleucophaeta (Bivalvia – Mollusca) do Estuário do Rio Capibaribe, Pernambuco. Dissertação
(Mestrado) - Universidade Federal do Pernambuco, Recife. 2011.

PAIXÃO, L.F. Estudo da Biologia Reprodutiva de Crassotrea gasar (Adanson, 1757), no nordeste
paraense. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Estado do Pará. Belém – PA. 2012.

SOUSA, A.K.R. Biologia reprodutiva da “ostra nativa” Crassostrea rhizophorae na ilha do Maranhão –
MA. Dissertação (Monografia) - Universidade Estadual do Maranhão, São Luís. 2015.

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374
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 31
10.37423/200601215

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DO ACARI ZEBRA


HYPANCISTRUS ZEBRA EM LABORATÓRIO

Atos Fábio Santos

Ozeas Henrique Araújo

Luciano Jensen

Michelle Midori Sena Fugimura


Preferência Alimentar Do Acari Zebra Hypancistrus Zebra Em Laboratório

Resumo: O objetivo deste estudo foi verificar a preferência alimentar do peixe ornamental
Hypancistrus zebra, assim como o seu desenvolvimento (peso e comprimento), visando contribuir com
futuras formulações de dietas mais adequadas para manutenção desta espécie em laboratório. Foram
testados quatro diferentes alimentos para o H. zebra: ração de peixes ornamentais comercial, ração
artesanal úmida, mexilhão e dieta mista composta pelos três alimentos (ração comercial, ração
artesanal úmida e mexilhão). A taxa de arraçoamento dos peixes foi calculada de acordo com os dados
biométricos dos exemplares, sendo equivalente a 3 % da biomassa total de cada aquário (80 litros). O
estudo foi realizado durante quinze dias no Laboratório Múltiplo para Produção de Organismos
Aquáticos (LAMPOA) da Universidade Federal do Oeste do Pará, localizado no município de Santarém
– PA. Diariamente, a coleta e quantificação de resíduos dos alimentos fornecidos aos peixes foi
realizada através do processo de sifonagem, secagem da ração em mufla (60° C) e posteriormente
pesagem de todos os resíduos em balança analítica. Ao final do período experimental, os índices de
ganho de peso, ganho de comprimento e consumo alimentar dos peixes de cada tratamento foram
analisados e verificou-se a preferência alimentar dos acaris zebras pela dieta constituída
exclusivamente pela ração úmida artesanal (p<0,05), seguido pela dieta mista. Além disso, uma
elevada correlação positiva foi encontrada entre o peso e comprimento final dos acaris zebras ao final
do estudo (89 %). Quanto ao ganho de peso dos peixes, um maior ganho de peso ocorreu nos peixes
que foram alimentados com ração úmida artesanal, enquanto os menores foram registrados para os
alimentados com ração comercial e mexilhão (p<0,05). Portanto, recomenda-se a ração úmida como
uma boa fonte alimentar e de fácil elaboração para a alimentação de H. zebra.

Palavras-chave: Acari zebra, Piscicultura ornamental, Preferência alimentar

317
376
Preferência Alimentar Do Acari Zebra Hypancistrus Zebra Em Laboratório

1. INTRODUÇÃO

Os peixes loricarídeos, conhecidos como cascudos ou acaris, distinguem-se pela grande variedade de
formas e padrões de coloração, o que tem atraído grande interesse sobre os representantes desta
família para o aquarismo (CAMARGO e GHILARDI, 2009). Segundo Alves et al. (2011), entre os 10
peixes mais comercializados pelo mercado da aquicultura ornamental, 8 são espécies de acaris.
Uma das espécies da família dos locarídeos, o Hypancistrus zebra (ISBRUCKER e NIJISSEN, 1991),
conhecido popularmente como acari zebra, destaca-se por apresentar exuberância e coloração
diferenciada (CARVALHO JÚNIOR et al., 2009). Esta espécie é considerada endêmica, ocorrendo na
região denominada de Volta Grande no Rio Xingu, localizado no estado do Pará. O H. zebra encontra-
se no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção desde o ano de 2008 (ROSA e LIMA,
2008), entretanto sabe-se que mesmo protegida por lei, a espécie sofre com a captura e venda ilegal,
devido ao seu alto valor no mercado. Além disso, a construção e o funcionamento da Usina Hidrelétrica
de Belo Monte, ameaça ainda mais a conservação do acari zebra, já que essa provocou alterações na
vazão de água na região de distribuição natural da espécie (IBAMA, 2008).
A produção em cativeiro de peixes ornamentais, a aquicultura ornamental, é praticada em vários
países, sendo responsável por movimentar economias no mundo todo (SOUTO, 2001). Segundo
Camargo et al (2004) esta atividade econômica é uma estratégia importante, não apenas pelo
abastecimento regular dos mercados, como também por permitir uma diminuição da pressão de pesca
sobre estoques nativos de peixes. Apesar da importância econômica e ameaça de extinção, ainda não
existe tecnologia estabelecida para diversas espécies de interesse ornamental, que possibilite a
produção pela aquicultura no Brasil (FUJIMOTO et al., 2014).
Dentro deste contexto, um organismo aquático pode ser considerado apto para a produção pela
aquicultura ao ser possível a realização de sua manutenção em condições de laboratório,
considerando diversos fatores, entre eles, a capacidade de alimentação adequada (PAIXAO, 2014).
Entretanto, um dos principais erros cometidos na manutenção de peixes é generalizar a alimentação
e comportamento das diferentes espécies (FUJIMOTO, 2012). Normalmente, são fornecidos resíduos
de ração de outros peixes e vegetais como alimento para acaris ou estes são destinados
exclusivamente ao consumo de algas em aquários. Portanto, os testes de preferência alimentar
permitem definir as condições ideais de criação em decorrência das necessidades dos próprios peixes,
substituindo o comportamento de imposição por parte do criador pela ausência de conhecimentos, e
consequentemente aumentando o bem-estar dos animais criados (VOLPATO, 2007).

318
377
Preferência Alimentar Do Acari Zebra Hypancistrus Zebra Em Laboratório

Existe um reduzido número de informações científicas sobre o comportamento alimentar do H. zebra.


Desta forma, a obtenção de informações sobre a preferência alimentar do acari zebra é essencial para
a sua manutenção adequada em condições de laboratório. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar
a preferência alimentar do H. zebra em laboratório e verificar o efeito de diferentes alimentos sobre
o seu crescimento.

2- MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado durante quinze dias no Laboratório Múltiplo para Produção de Organismos
Aquáticos (LAMPOA) da Universidade Federal do Oeste do Pará, localizado no município de Santarém
– PA. Os acaris zebras utilizados foram obtidos através de doação do IBAMA ao laboratório (Termo de
Doação no. 491710).
Os peixes foram inicialmente anestesiados com eugenol (140 mg/L) (RAMOS et al., 2015a) para a
realização da identificação macroscópica do sexo (ROSA e LIMA, 2008) e aferição do peso e
comprimento total de cada indivíduo, com auxílio de uma balança digital de precisão (0,1 g) e um
ictiômetro (cm). Após a biometria, os acaris zebras (4,24±1,32 g e 7±0,64 cm) foram estocados
aleatoriamente em aquários de vidro com volume de 80 L. Em cada unidade experimental, dois
exemplares de H. zebra foram estocados. As unidades experimentais foram mantidas com aeração
mecânica em um sistema de recirculação de água, contendo filtro mecânico e biológico, no interior de
uma sala climatizada (em torno de 30° C). A agua utilizada no experimento foi obtida de poço
artesiano, previamente tratada com cloro (30 ppm), declorada através de aeração e com pH corrigido
para aproximadamente 7, através da adição de bicarbonato de sódio.
Para a realização dos testes de preferência alimentar do acari zebra, foram avaliados quatro
tratamentos, constituídos de diferentes alimentos: 1) ração comercial; 2) ração úmida artesanal
(patê); 3) mexilhão; 4) dieta mista composta pelos três diferentes alimentos (ração comercial, ração
úmida artesanal e mexilhão), com duas repetições cada. No tratamento composto pela dieta mista, os
alimentos foram fornecidos alternadamente durante os dias do período experimental. A ração úmida
contendo diversos ingredientes, como peixe, camarão, cenoura, couve, alho e sal, foi feita com a
utilização de um aparelho liquidificador e armazenada em refrigerador.
A taxa de arraçoamento foi definida com base nos dados biométricos dos exemplares, sendo
equivalente a 3 % da biomassa total dos peixes de cada aquário (RAMOS et al., 2015b). A quantidade
total diária de alimento foi dividida em dois horários de alimentação (09:00 e 17:00 h).

319
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Preferência Alimentar Do Acari Zebra Hypancistrus Zebra Em Laboratório

A observação de existência e quantificação de resíduos dos alimentos foi realizada diariamente (08:00
h). Os resíduos foram retirados das unidades através do processo de sifonagem, com auxílio de uma
cânula plástica e uma tela. Após esse processo, as fezes e restos de alimentos eram separados com o
auxílio de uma pinça. Os resíduos de ração comercial passaram inicialmente por um processo de
secagem em mufla (60° C). Posteriormente os resíduos de todos os alimentos foram pesados em
balança analítica (0,0001 g).
Ao final do período experimental, uma outra biometria dos peixes foi realizada para cálculo dos índices
de ganhos de peso e de comprimento. Após verificada a normalidade e homocedasticidade dos dados,
os índices de ganho de peso, ganho de comprimento e consumo alimentar dos peixes de cada
tratamento foram analisados através de Análise de Variância (ANOVA) one-way, identificado as
diferenças entre as médias através do teste LSD, a nível de 5 % de significância.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através do controle do consumo alimentar durante o período experimental, verificou-se a preferência


alimentar dos acaris zebras pela dieta constituída exclusivamente pela ração úmida artesanal (p<0,05),
seguido pela dieta mista. Enquanto não foi observada diferença entre o consumo alimentar dos peixes
alimentados exclusivamente com ração comercial e mexilhão (p>0,05) (Tabela 1). Esses resultados
corroboram com Geurden et al (2005) que afirmam que cada animal é capaz de selecionar um
determinado alimento ou uma mistura de alimentos que atenderão às suas necessidades nutricionais.
Tabela 1. Consumo alimentar (média±desvio padrão) de Hypancistrus zebra alimentados com
diferentes fontes alimentares em laboratório durante quinze dias
Tratamentos Consumo alimentar (g)
TRUA 0,295±0,14b
TRC 0,067±0,03a
TM 0,066±0,01a
TDM 0,258±0,00ab

TRUA, tratamento ração úmida artesanal (patê); TRC, tratamento ração comercial; TM, tratamento
mexilhão; TDM, tratamento dieta mista. Letras minúsculas subscritas diferentes indicam diferenças
significativas pelo teste LSD (P<0,05).
Verificando-se a relação entre o peso e comprimento final dos acaris zebras ao final do estudo, pode
ser observada a existência de uma forte correlação positiva entre estes parâmetros de crescimento
para a espécie (Figura 1). O coeficiente de determinação (r2) indica que a variação do peso corporal
pode ser explicada quase em sua totalidade (89 %) pela variação do comprimento corporal para os

320
379
Preferência Alimentar Do Acari Zebra Hypancistrus Zebra Em Laboratório

indivíduos de H. zebra. Essa relação também foi encontrada em estudos com outras espécies de
peixes, como a carpa (Cyprinus carpio) (ROCHA et al., 2005) e o tambaqui (Colossoma macropomum)
(SÁ et al., 2000).

8
y = 1,8257x - 8,5336
R² = 0,8892
7

6
Peso (g)

2
6 6,5 7 7,5 8 8,5 9

Comprimento total (cm)


Figura 1. Relação peso e comprimento total de Hypancistrus zebra alimentados com diferentes fontes
alimentares em laboratório durante quinze dias
Em relação ao peso, um maior ganho dos peixes foi observado para os alimentados com ração úmida
artesanal, enquanto os menores ganhos de peso foram registrados para os alimentados com ração
comercial e mexilhão (p<0,05). Já em relação ao ganho de comprimento dos acaris zebras, a
alimentação não influenciou este parâmetro no presente estudo (p>0,05) (Tabela 2).
Tabela 2. Média e desvio padrão do ganho de peso (g) e de comprimento (cm) de Hypancistrus zebra
alimentados com diferentes fontes alimentares em laboratório durante quinze dias.

Tratamentos Ganho de peso (g) Ganho de comprimento (cm)


TRUA 1,425b 0,60a
TRC 0,125a 0,35a
TM 0,275a 0,30a
TDM 0,6ab 0,50a

TRUA, tratamento ração úmida artesanal (patê); TRC, tratamento ração comercial; TM, tratamento
mexilhão; TDM, tratamento dieta mista. Letras minúsculas subscritas diferentes indicam diferenças
significativas pelo teste LSD (P<0,05).

321
380
Preferência Alimentar Do Acari Zebra Hypancistrus Zebra Em Laboratório

O ganho de peso dos acaris zebras seguiu a mesma tendência observada para o consumo alimentar,
sendo o maior ganho de peso encontrado para os peixes que consumiram o alimento com maior
preferência (ração úmida artesanal).
O consumo de um alimento depende da palatabilidade percebida por cada animal, à qual é
diretamente relacionada aos alimentos fornecidos, favorecendo a ingestão da quantidade de
nutrientes necessária para o crescimento, desenvolvimento e manutenção dos animais (KASUMYAN e
DOVIN, 2003). Desta forma, acredita-se que a ração úmida artesanal deve ter sido o alimento mais
palatável para o acari zebra. Este fato provavelmente deve-se a constituição diversificada da ração
úmida, com diferentes fontes proteicas vegetal e animal.

4- CONCLUSÃO

Conclui-se por meio dos resultados obtidos no trabalho que a ração úmida artesanal, composta por
ingredientes como peixe, camarão, cenoura, couve, alho e sal, pode ser indicado como uma boa fonte
alimentar para a alimentação dos acaris zebras H. zebra. Além disso, esta ração úmida apresenta a
vantagem relacionada a facilidade de confecção em diferentes locais.

5- AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem as bolsas de PIBIC e PIBIC EM ao primeiro e segundo autor, respectivamente.


Além do auxílio financeiro para execução do estudo ao primeiro autor pelo edital PROFIC, concedidos
pela PROPPIT-UFOPA.

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381
Preferência Alimentar Do Acari Zebra Hypancistrus Zebra Em Laboratório

6- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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383
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 32
10.37423/200601216

ANÁLISE DO CONTEÚDO ESTOMACAL DE


LARVAS DE MATRINXÃ BRYCON AMAZONICUS
(SPIX E AGASSIZ, 1829) EM ÁREAS ADJACENTES
A RESERVA MAMIRAUÁ, AMAZÔNIA CENTRAL

Darliane Santos

Dávia Talgatti

Diego Zacardi
Análise Do Conteúdo Estomacal De Larvas De Matrinxã Brycon Amazonicus (Spix & Agassiz, 1829) Em Áreas Adjacentes A Reserva
Mamirauá, Amazônia Central

Resumo: O estudo teve como objetivo analisar o conteúdo alimentar de larvas de matrinxã (Brycon
amazonicus) capturadas no trecho médio do rio Solimões e baixo rio Japurá, em áreas adjacentes a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas. O material biológico foi obtido
através de coletas em 16 pontos de amostragem durante o ano de 2011, utilizando uma rede de
plâncton de 300 µm. Foram avaliados o conteúdo estomacal de 67 indivíduos, em diversos estágios de
desenvolvimento (pré-flexão, flexão e pós-flexão), com auxílio de um estereomicroscópio. No estágio
mais inicial de desenvolvimento os itens alimentares mais ingeridos foram fragmentos vegetais (80%),
em indivíduos em flexão foram microcrustáceos (67%) e em indivíduos em estágios de
desenvolvimento mais avançados (pós-flexão) foram encontradas larvas de Characiformes (67%),
indicando diferenças nos constituintes alimentares ligados a variabilidade ontogenética da espécie. A
dieta revelou preferência por alimentos provenientes tanto de origem vegetal quanto animal com
tendência a onivoria-carnivoria, reforçando a importância das áreas de inundação para a sobrevivência
de B. amazonicus com ofertas de alimentos e formação de habitats que auxiliam no desenvolvimento
da espécie.

Palavras-chave: Dieta; Variabilidade; Itens alimentares; Desenvolvimento ontogenético; Área de


inundação; Baixo Solimões.

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Análise Do Conteúdo Estomacal De Larvas De Matrinxã Brycon Amazonicus (Spix & Agassiz, 1829) Em Áreas Adjacentes A Reserva
Mamirauá, Amazônia Central

INTRODUÇÃO

A alimentação das espécies de peixes durante as primeiras fases de vida é bastante diferenciada da
fase adulta, uma vez que, a captura de alimentos é fortemente influenciada pelas variações
ontogenéticas ocorrentes durante todo o período larval (SUIBERTO et al., 2009). Essas mudanças estão
relacionadas às alterações morfológicas como, o aperfeiçoamento da capacidade de locomoção,
habilidades sensoriais e demanda energética adequada para cada estágio de desenvolvimento
(ABELHA et al., 2001; MAKRAKIS et al., 2005).
O principal fator determinante na sobrevivência das larvas de peixes em ambiente natural, está
relacionado a transição da alimentação endógena para exógena, pois é considerado um dos períodos
cruciais e de maior mortalidade natural (FUIMAN, 2002; YÚFERA e DARIAS, 2007). Nessa fase os
indivíduos apresentam o tamanho do corpo reduzido, boca e trato digestivo em formação e pouca
habilidade natatória, necessitando de uma fonte de alimento adequada que esteja disponível no
ambiente aquático (SANTIN et al., 2015). No entanto, algumas larvas alimentam-se de maneira a
reduzir os custos de captura de presas (energia e tempo) selecionando a presa mais abundante
(PONTON e MULLER, 1990; MAKRAKIS et al., 2008).
Essas características de desenvolvimento podem ser a chave para o entendimento da dieta logo no
primeiro ciclo de vida dos peixes, uma vez que definem a forma como é realizada a exploração e a
determinação do que pode servir como alimento (LIMA et al., 2013). De acordo com Santin et al. (2005)
essa relação de interação com suas respectivas presas e o alto consumo de alimento pode até exceder
a própria biomassa.
A espécie foco do estudo é o Brycon amazonicus, conhecida popularmente na Amazônia como
matrinxã, possui grande importância comercial e sua carne é bastante apreciada pelas populações
tradicionais (LEITE, 2004). As mudanças ontogenéticas na dieta de larvas de B. amazonicus já havia
sido abordada no trabalho de Leite e Araújo-Lima (2002) que revelou a preferência alimentar por
zooplâncton e larvas de outras espécies de peixes, porém, o conhecimento acerca dos aspectos que
envolvem a ecologia trófica dessas larvas ainda é insuficiente. Contudo, as informações sobre a
ecologia alimentar dos estágios larvais de peixes, podem ser avaliadas a partir da análise de seus
respectivos conteúdos gastrintestinais (RÉ, 1999).
Compreender a dieta e o comportamento alimentar dos peixes, sobretudo, durante a fase inicial de
desenvolvimento e de maior vulnerabilidade, ajuda a elucidar alguns dos fatores que afetam a
mortalidade larval no ambiente natural e seu papel no recrutamento (SÁNCHEZ-VELASCO, 1998).
Neste contexto, o trabalho tem como objetivo descrever o comportamento alimentar em ambiente

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Análise Do Conteúdo Estomacal De Larvas De Matrinxã Brycon Amazonicus (Spix & Agassiz, 1829) Em Áreas Adjacentes A Reserva
Mamirauá, Amazônia Central

natural de larvas de B. amazonicus no trecho médio do rio Solimões e baixo Japurá, em áreas
adjacentes a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - RDSM.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está situada no trecho médio do rio Solimões e baixo rio Japurá, no entorno da
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - RDSM, nas proximidades da cidade de Tefé,
Amazonas. A reserva é a maior unidade de conservação brasileira dedicada a proteger exclusivamente
o ambiente de várzea amazônica, constituída por uma área de aproximadamente 1.124.000 ha de
florestas alagáveis, marcada por uma grande diversidade de habitas aquáticos e terrestres que sofrem
constantemente modificações sazonais devido ao ciclo hidrológico local (QUEIROZ, 2005).

Figura 1. Localização das estações de coleta, nos trechos do médio rio Solimões e baixo Japurá, no
entorno da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) - Amazônia Central, Brasil.

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Análise Do Conteúdo Estomacal De Larvas De Matrinxã Brycon Amazonicus (Spix & Agassiz, 1829) Em Áreas Adjacentes A Reserva
Mamirauá, Amazônia Central

COLETA E PROCESSAMENTO DO MATERIAL

O material biológico foi coletado em 16 pontos amostrais, durante quatro momentos do ciclo
hidrológico de 2011 (enchente, cheia, vazante e seca), em ciclos de amostragem diurnas e noturnas,
por meio de arrastos horizontais na subsuperfície da coluna d’água com auxílio de rede de plâncton
do tipo cônico-cilíndrica com malhagem de 300 µm sob embarcação motorizada obedecendo a um
tempo estabelecido de cinco minutos. As amostras foram acondicionadas em frascos de polietileno
contendo formalina a 10% e transportadas ao laboratório, onde foram triadas, quantificadas e
identificadas.
Na ocasião foram capturados 296 indivíduos, os quais foram separados de acordo com o grau de flexão
da notocorda, segundo a terminologia descrita por Nakatani et al. (2001): pré-flexão, flexão e pós-
flexão (Figura 2). Ressalta-se que para a análise do conteúdo estomacal foram utilizados 67 indivíduos
(5 em pré-flexão, 57 em flexão, e 5 em pós-flexão).

Figura 2: Larvas de B. amazonicus em três diferentes estágios de desenvolvimento, pré-flexão, flexão


e pós-flexão.

ANÁLISE DO CONTEÚDO ESTOMACAL

Os itens alimentares foram identificados e agrupados por categorias como: larvas de peixes e/ou
fragmentos, larvas e fragmentos de insetos, microcrustáceos, algas, ovos de invertebrados, detritos,
fragmentos vegetais e organismos não identificados, na sequência foi aplicado a frequência de
ocorrência (%), que consiste em analisar quantitativamente os itens alimentares presentes em relação
a cada fase dos estágios de desenvolvimento larval de B. amazonicus.
Para retirada e análise dos itens alimentares utilizou-se microscópio estereoscópio para melhor
visualização do procedimento de incisão da cavidade abdominal e trato digestivo com auxílio de
bisturi. A retirada do conteúdo estomacal ocorreu por meio de seringas sobre lâminas, com acréscimo
de água destilada espalhando-os uniformemente, em seguida o material foi coberto por lamínulas e
fixadas com esmalte incolor. O material foi identificado até o menor nível taxonômico possível,
utilizando bibliografia especializada, e posteriormente armazenado em ambiente refrigerado.

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Mamirauá, Amazônia Central

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O maior valor da taxa de atividade alimentar encontrada nos conteúdos estomacais de larvas de
matrinxã, está associado ao estágio de pré-flexão com mais 80% dos itens identificados e que estão
dentro da categoria de fragmentos vegetais (pedaços de folhas e raízes), além da contribuição de
microcrustáceos. Os microcrustáceos, as larvas de insetos e fragmentos foram os itens que mais
predominaram nos estômagos das larvas em estágios de flexão, enquanto larvas de peixes da ordem
Characiformes e fragmentos foram os itens mais consumidos pelas larvas de matrinxã em estágios
mais avançados de desenvolvimento (Figura 3).

Figura 3. Frequência de ocorrência (FO%) das categorias alimentares encontradas nos tratos digestivos
de larvas de B. amazonicus nos diferentes estágios de desenvolvimento.

É esperado que as espécies consumam os alimentos que estiverem disponíveis e abundantes no


ambiente, o que poderia explicar os dados que indicam características onívoras das larvas em estágios
mais iniciais de desenvolvimento (pré-flexão). Diferindo dos resultados de Leite e Araújo-Lima (2002)
que analisaram o conteúdo estomacal de larvas de Brycon na Amazônia Central e constataram a
participação de zooplâncton se sobrepondo as outras categorias e ocorrendo em todos os estágios de
desenvolvimento. Contudo, sabe-se que em lagos de inundação, onde foi realizado o estudo, há uma
grande produção de organismos zooplanctônicos durante o período de inundação, oportunizando a
alimentação e predação desses organismos, haja vista, que esse é o momento de maior plasticidade
alimentar.
A presença de ovos de invertebrados e larvas/fragmentos de insetos também foi notada por Leite e
Araújo-Lima (2000) que analisaram conteúdo estomacal de larvas de pacus (Mylossoma aureum e M.
duriventre), o aparecimento desses itens associados ao primeiro estágio larval é comum, uma vez que
as mesmas precisam de elementos que possam saciar as necessidades energéticas. Não existindo uma
seleção das presas pelos predadores e sim uma necessidade de saciedade.
Além das mudanças no trato digestivo devido seu desenvolvimento (crescimento das larvas), existem
outros fatores que tornam limitante a forma de alimentação nos primeiros dias de vida dos peixes

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Mamirauá, Amazônia Central

como, a abertura da boca que limita o tamanho da presa a ser consumida, diferenças na anatomia oral
que está relacionado com a posição da boca para a captura dos alimentos, dentes e rastros branquiais
Makrakis et al. (2008). Assim, todas essas modificações morfológicas podem definir a dieta de uma
determinada espécie caracterizando a forma de exploração e a escolha do alimento (LIMA et al., 2013).
As observações sobre a dieta de larvas de B. amazonicus corroboram os dados de Abelha et al. (2001)
onde a dieta de uma mesma espécie pode ser distinta de acordo com o grau de desenvolvimento entre
os indivíduos, isso acontece porque cada estágio exige uma demanda energética diferenciada e
possivelmente pelas limitações das estruturas morfológicas. Essa diferença é notada na dieta de B.
amazonicus nos três estágios, apesar das larvas em estágios mais iniciais (pré-flexão) apresentar a
estrutura corporal pouco desenvolvida o número de itens com características intactas é maior,
justamente pela pouca capacidade de digestibilidade associada ao conjunto de órgãos em
desenvolvimento, possibilitando a demora na assimilação dos componentes alimentares.
Larvas de B. amazonicus em estágios mais avançados de desenvolvimento (pós-flexão) registraram a
presença de larvas de peixes e fragmentos, além de organismos zooplanctônicos. A ausência dos
demais itens podem ser explicada pelo o grau de digestão e pelo fato da estrutura morfológica já
conter características semelhantes ao peixe adulto, todos os órgãos funcionais facilitando a ingestão
e exigindo o consumo maior e mais rápido de alimento. Pode-se observar o aspecto relacionado a
frequência dos itens ingeridos e o estágio de desenvolvimento larval que apresentou o maior consumo
desses itens.
A diversificação na dieta também está relacionada com a necessidade energética da espécie, isto é,
durante o seu crescimento, as larvas tentam ingerir o máximo de nutrientes necessários para o seu
desenvolvimento, mas também tentam manter o balanço entre a energia ganha pela ingestão da presa
e a energia gasta para capturá-la (PUVANENDRA et al., 2004).
De acordo com Makrakis et al. (2008) a competição pode ser especialmente importante durante os
estágios iniciais do desenvolvimento, quando a sobrevivência larval é extremamente dependente do
tamanho. As larvas maiores são mais resistentes à fome, têm maior capacidade natatória e melhor
acuidade visual e, portanto, são melhores forrageiras, além de serem menos vulneráveis à predação e
mortalidade.
O início da alimentação exógena caracterizou-se por apresentar uma maior plasticidade das larvas em
relação a variedade de alimentos provenientes tanto de detritos, de itens de origem animal e vegetal.
A dieta das larvas de peixes está relacionada diretamente ao forrageamento executado nas áreas
marginais dos rios ou da planície de inundação situadas na extensão da RDSM que proporcionam

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Mamirauá, Amazônia Central

condições favoráveis a sobrevivência e crescimento nos primeiros estágios (PONTE et al., 2017). Assim,
as larvas de B. amazonicus analisadas tiveram dieta e reserva energética com alimentos provenientes
de origem animal.

CONCLUSÃO

A dieta inicial de B. amazonicus é composta principalmente por fragmentos vegetais, microcrustáceos,


insetos aquáticos e larvas de peixes, contudo, houve uma variação intraespecífica entre os itens
preferenciais, assim como no número de presas consumidas ao longo do seu desenvolvimento.
Deste modo, as larvas analisadas sugerem um enquadramento na categoria trófica como espécie
onívora com tendência a carnivoria ao longo de seu desenvolvimento, ingerindo com maior frequência
fragmentos vegetais durante as primeiras fases larvais, seguido pela ingestão de microcrustáceos,
durante o estágio de flexão e de larvas de outras espécies de peixes (Characiformes) e de insetos como
quironomídeos (Diptera) no estágio de pós-flexão. Esta variação indica uma forte relação entre a
ontogenia e a composição da dieta.
O avanço do desenvolvimento morfológico provavelmente permitiu o aumento da exploração do
ambiente e, consequentemente, da seleção dos itens alimentares. Recebendo a contribuição das áreas
de várzea com a oferta desses itens na composição da dieta ao longo do seu desenvolvimento inicial.

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Análise Do Conteúdo Estomacal De Larvas De Matrinxã Brycon Amazonicus (Spix & Agassiz, 1829) Em Áreas Adjacentes A Reserva
Mamirauá, Amazônia Central

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333
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Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 33
10.37423/200601218

CRIAÇÃO DO CAMARÃO MACROBRACHIUM


AMAZONICUM EM DIFERENTES DENSIDADES DE
ESTOCAGEM COM A TECNOLOGIA BFT

Gleika Tamires Jordão Reis

Alícia Maria de Andrade Siqueira

Elissandro Cardoso Costa Silva

Luciano Jensen

Michelle Midori Sena Fugimura


Criação Do Camarão Macrobrachium Amazonicum Em Diferentes Densidades De Estocagem Com A Tecnologia Bft

Resumo: O objetivo principal deste estudo foi avaliar o efeito de duas densidades de estocagem de
camarões Macrobrachium amazonicum na qualidade de água e desempenho zootécnico da espécie
em criação com a tecnologia de bioflocos (BFT) e em água clara. Para tanto, um experimento com
delineamento inteiramente causalizado em esquema fatorial 2x2, sendo os fatores avaliados: sistema
de produção (água clara e BFT) e a densidade de estocagem (33 e 66 camarões/m²), através de quatro
tratamentos com seis repetições cada. O estudo foi realizado com camarões M. amazonicum
(10,35±3,45 g) em dois sistemas de recirculação com unidades experimentais (25 L) e uma caixa de
300 L, durante 60 dias no Laboratório Múltiplo para Produção de Organismos Aquáticos da UFOPA. O
monitoramento da qualidade de água foi feito através da aferição da temperatura, concentração de
oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica, amônia total e nitrito. A alimentação foi realizada duas
vezes ao dia e com taxas de arraçoamento baseadas nas biometrias dos camarões a cada 10 dias e na
observação do consumo alimentar. Após a análise estatística dos dados, observou-se que em relação
a qualidade de água, somente a temperatura, amônia total e nitrito não apresentaram diferença
estatística entre os sistemas de criação de M. amazonicum (p>0,05). Em relação aos demais
parâmetros, todos foram superiores no sistema BFT comparado ao sistema de água clara (p<0,05).
Enquanto para o desempenho zootécnico dos camarões, a biomassa final e a produtividade de
camarões diferiram significativamente ao analisarmos a densidade de estocagem isoladamente e
também a densidade em conjunto com o sistema de produção (p<0,05), sendo superiores para o M.
amazonicum criados na densidade de 66 camarões/m² e com a mesma densidade em conjunto com o
sistema de água clara. Portanto, o BFT não contribuiu para a melhoria do desempenho zootécnico dos
camarões. Desta forma, recomenda-se o sistema em água clara com densidade de 66 camarões/m²
para criação do camarão-da-Amazônia.

Palavras-chave: Bioflocos; Camarão-da-Amazônia; Carcinicultura.

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Criação Do Camarão Macrobrachium Amazonicum Em Diferentes Densidades De Estocagem Com A Tecnologia Bft

1 - INTRODUÇÃO

A carcinicultura, criação de crustáceos, é considerada uma das principais atividades dentro da


aquicultura devido ao elevado valor econômico do seu principal produto, o camarão (FAO, 2020). Além
de atividade econômica relevante no Brasil, a carcinicultura apresenta ainda importância social ao
gerar oportunidade de empregos nas regiões em que se desenvolve (HELDT et al., 2012).
Entre os sistemas de produção de camarões, apresenta destaque a com a tecnologia de bioflocos
(BFT), por ser considerado um modelo mais sustentável de produção pela aquicultura (SCHRYVER et
al., 2008). Este é um sistema de produção aquícola fechado, ou seja, sem renovação de água durante
a produção e que consiste no estímulo da formação de bioflocos ou agregados microbianos
(WASIELESKY et al., 2006). Os bioflocos são constituídos por vários micro-organismos, partículas,
coloides, polímeros orgânicos e células mortas, através do estímulo provocado pela adição de uma
fonte de carbono orgânico a água do sistema de produção (CRAB et al., 2009).
A tecnologia BFT apresenta diversas vantagens em relação ao sistema de produção convencional,
como a manutenção de qualidade de água adequada, à qual é possível pelo processo de remoção de
nitrogênio inorgânico da água e sua transformação em biomassa bacteriana; a possibilidade de
produção intensiva ou super intensiva com elevada produtividade; a atuação dos bioflocos como
suplementação alimentar para os camarões e também a ação como probiótico pelos micro-
organismos presentes nos bioflocos, que torna os animais criados na aquicultura mais saudáveis
(EMERENCIANO et al., 2012; HARGREAVES, 2006).
A produção pela carcinocultura é representada em sua maioria por espécies de camarão marinhas ou
eurialinas, sendo a mais representativa o Litopenaeus vannamei (FAO, 2020). Entretanto, a produção
de camarões de água doce é um dos setores da aquicultura que apresenta potencial de
desenvolvimento (VALENTI, 2002). A maioria das espécies de camarão de água doce de interesse
comercial pertencem ao gênero Macrobrachium. E dentre estas, encontram-se o Macrobrachium
nipponense e o Macrobrachium rosenbergii como as espécies mais produzidas pela carcinocultura de
água doce no mundo (FAO, 2020).
A produção em sistema BFT tem sido mais estudada para as espécies exóticas e mais produzidas, o
camarão marinho L. vannamei (EMERENCIANO et al., 2013; XU e PAN., 2014) e o camarão de água
doce M. rosenbergii (ASADUZZAMAN et al., 2008; CRAB et al., 2010). Entretanto, o Macrobrachium
amazonicum, conhecido popularmente como camarão-da-Amazônia, representa uma espécie de água
doce com potencial para a produção aquícola na região Amazônica, visto que apresenta fácil
reprodução e outras características zootécnicas favoráveis, como rusticidade e adaptabilidade ao

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Criação Do Camarão Macrobrachium Amazonicum Em Diferentes Densidades De Estocagem Com A Tecnologia Bft

sistema de produção em ambiente confinado (ARAUJO e VALENTI, 2011; MORAES-VALENTI e


VALENTE, 2010).
O camarão-da-Amazônia vem sendo estudado em relação a diversos aspectos, entre os quais
destacam-se, o comportamento social (IBRAHIM, 2011), estruturas populacionais (FREIRE et al., 2012),
biologia reprodutiva (COSTA e SILVA, 2014), hábito alimentar (HELDT, 2016) e desempenho na
produção aquícola (DUTRA et al., 2016; SILVA et al., 2014; SOEIRO et al., 2016). Portanto, apesar
do potencial da produção do camarão-da-Amazônia pela carcinocultura, esta espécie encontra-se
sendo pouco pesquisada, principalmente em relação a viabilidade de sua produção em sistema de
bioflocos. Sendo assim, o presente estudo visa contribuir para o desenvolvimento da produção de M.
amazonicum, através de informações sobre o efeito de densidades de estocagem na qualidade de
água e o desempenho zootécnico da espécie em criação com sistema BFT e em água clara.

2- MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado durante um período de 60 dias no Laboratório Múltiplo para Produção de
Organismos Aquáticos (LAMPOA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), localizado no
município de Santarém, estado do Pará.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2, os fatores
testados foram o sistema de produção (água clara e com bioflocos) e a densidade de estocagem (33 e
66 camarões/m²), totalizando os quatro tratamentos a seguir: sistema com água clara e densidade de
33 camarões/m² (ACD33); sistema com água clara e densidade de 66 camarões/m² (ACD66); sistema
com bioflocos e densidade de 33 camarões/m² (BD33) e sistema com bioflocos e densidade de 66
camarões/m² (BD66), com seis repetições cada.
Cada sistema (água clara e BFT) foi montado com recirculação de água entre as unidades
experimentais e uma caixa de polietileno de 300 L, à qual foi preenchida com água e mantida com uma
bomba submersa. As unidades experimentais foram caixas plásticas com volume útil de 25 L, área de
fundo igual a 0,12m² e mantidas com aeração constante.
A formação dos bioflocos foi estimulada inicialmente nos primeiros dias de estudo através da adição
de melaço de cana-de-açúcar e farelo de arroz na água do sistema BFT, buscando atingir uma relação
de C:N de 20:1 (CRAB et al., 2010). No sistema BFT, a fertilização orgânica com melaço de cana-de-
açúcar foi realizada com base nas análises das concentrações de amônia total. Quando registradas
concentrações de amônia total ≥ 1 mg/L, a adição de melaço foi feita na proporção de 6 g de carbono
para cada 1 g de amônia total (AVNIMELECH, 1999).

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Criação Do Camarão Macrobrachium Amazonicum Em Diferentes Densidades De Estocagem Com A Tecnologia Bft

Exemplares de M. amazonicum, com peso médio inicial de 10,35±3,45 g, foram adquiridos junto a
pescadores artesanais da região e transportados para o laboratório. Após o período de aclimatação de
15 dias, os camarões foram pesados em balança de precisão (0,1 g) e estocados aleatoriamente nas
unidades experimentais.
Durante todo o período experimental, realizou-se diariamente o controle de qualidade de água e
manejo alimentar dos camarões. Todas as manhãs, coletas de amostras de água foram feitas para a
análise dos parâmetros físicos e químicos da água, com o auxílio de equipamento multiparâmetro,
aferindo-se a temperatura (°C), concentração de oxigênio dissolvido (mg/L), pH e condutividade
elétrica (μS/cm) da água da caixa de 300 L de cada sistema (água clara e BFT). Além disso, amostras de
água foram coletadas três vezes por semana para a determinação das concentrações de amônia total
(mg/L) e nitrito (mg/L).
A alimentação dos camarões foi realizada duas vezes ao dia (08:00 e 16:00 h) com ração comercial
para camarão marinho contendo 35 % de proteína bruta. A taxa de arraçoamento inicial foi igual a
0,05 % da biomassa total de camarões de cada unidade experimental, e posteriormente foi ajustada
para 0,015 %, conforme a observação do consumo alimentar. A cada dez dias, os camarões de cada
unidade experimental foram coletados para a biometria, sendo realizada a aferição do peso de todos
para o ajuste da taxa de arraçoamento.
Ao final do experimento, todos os camarões foram pesados para análise do desempenho zootécnico
através do cálculo da sobrevivência, ganho de peso, conversão alimentar aparente, produtividade e
biomassa final dos camarões.
Quanto a análise estatística dos parâmetros zootécnicos, a normalidade e a homogeneidade dos dados
foram analisadas através do teste de Shapiro-Wilk e Cochran, respectivamente. Os parâmetros em
percentagem (sobrevivência e taxa de crescimento específico) foram transformados em arco-seno da
raiz quadrada antes de serem analisados. Posteriormente, os parâmetros zootécnicos e físicos e
químicos da água foram analisados pela ANOVA – two way. As diferenças entre as médias dos
tratamentos foram identificadas através do teste de Tukey, e consideradas significativas em nível de
5 % de probabilidade.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entre os parâmetros físicos e químicos de água registrados durante a criação de M. amazonicum,


somente a temperatura, as concentrações de amônia total e nitrito não apresentaram diferenças

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Criação Do Camarão Macrobrachium Amazonicum Em Diferentes Densidades De Estocagem Com A Tecnologia Bft

estatísticas significativas entre os sistemas de água clara e BFT durante o período experimental
(p>0,05).

Quanto ao pH, foi observada uma queda neste parâmetro tornando a água mais ácida em ambos os
sistemas de criação de M. amazonicum (Figura 1), sendo esta menos acentuada no sistema com
bioflocos (p<0,05). A queda do pH durante a produção com BFT é normalmente observada pela ação
das bactérias heterotróficas e nitrificantes presentes nos bioflocos, que consomem a alcalinidade ao
transformarem os resíduos nitrogenados em biomassa microbiana (EBELING et al., 2006).

Figura 1. Variação do pH da água durante a criação de Macrobrachium amazonicum em sistemas de


água clara e bioflocos por um período de 60 dias.
Com relação a condutividade elétrica da água, também houve diferença significativa entre os sistemas,
com maiores valores encontrados no sistema BFT (Figura 2) (p<0,05). Os maiores valores de
condutividade elétrica possivelmente foram devido a presença dos bioflocos, os quais são
responsáveis pelo aumento da concentração de sólidos em suspensão, turbidez e diminuição da
transparência (SCHRYVER et al., 2008).

Figura 2. Variação da condutividade elétrica da água durante a criação de Macrobrachium


amazonicum em sistemas de água clara e bioflocos por um período de 60 dias.

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Quanto as concentrações de oxigênio dissolvido da água, as concentrações médias também foram


superiores no sistema BFT (p<0,05). Este fato ocorreu devido à necessidade de manter os bioflocos
em suspensão na coluna d’água através de uma aeração mais elevada e também buscando atender as
necessidades de consumo de oxigênio pelos microrganismos e camarões (WASIELESKY et al., 2006;
SCHRYVER et al., 2008; WASIELESKY et al., 2013). Portanto, a maior aeração nas unidades
experimentais do sistema BFT possivelmente favoreceu as maiores concentrações de oxigênio
dissolvido registradas neste sistema no presente estudo.

Apesar das diferenças estatísticas, a concentração média de oxigênio dissolvido para o sistema com
água clara e bioflocos foi de 4,54±0,31 e 4,44±0,29 mg/L, respectivamente, e mantiveram-se dentro
do adequado para a espécie em ambos os sistemas. Visto que a concentração mínima aceitável em
relação a este parâmetro para a criação de camarão é de 3,0 mg/L (RIBEIRO e LOGATO, 2002) e durante
o período experimental não foi verificada nenhuma concentração igual ou inferior a este valor (Figura
3).

Figura 3. Variação da concentração de oxigênio dissolvido na água durante a criação de


Macrobrachium amazonicum em sistemas de água clara e bioflocos por um período de 60 dias.

Em relação a interação dos fatores densidades de estocagem e sistemas de produção, os parâmetros


zootécnicos ganho de peso, e sobrevivência não diferiram estatisticamente (p>0,05) (Tabela 1).
Quanto à sobrevivência dos camarões, mesmo não havendo diferenças estatísticas significativas
(p>0,05), provavelmente o maior valor deste parâmetro foi o que provocou a superioridade da
biomassa final e produtividade de camarões observadas no sistema de água clara com densidade de
66 camarões/m².

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Criação Do Camarão Macrobrachium Amazonicum Em Diferentes Densidades De Estocagem Com A Tecnologia Bft

Tabela 1. Desempenho zootécnico (média±desvio padrão) de Macrobrachium amazonicum criados


em sistemas de água clara e bioflocos com diferentes densidades de estocagem, por um período de
60 dias.

Tratamentos
Parâmetros Zootécnicos
ACD33 ACD66 BD33 BD66
a a a
Ganho de Peso (g) 0,95±1,27 0,35±0,25 0,51±0,18 0,24±0,14a
Sobrevivência (%) 50,0±0,0a 71,87± 21,3a 68,75±23,93a 62,50±0,0a
a b a
Biomassa final (g) 4,6±2,42 10±2,51 4,22±1,31 7,77±1,01ab
a b a
Produtividade (g/m²) 38,33 83,33±20,98 35,20±10,97 64,79±8,48ab
Conversão alimentar aparente 0,96±0,26a 0,94±0,16a 0,92±0,14a 1,05±0,08a
Médias seguidas por letras subescritas distintas entre as colunas diferem entre si estatisticamente
(p<0,05); Tratamentos: ACD33: Sistema de recirculação com água clara e densidade de 33
camarões/m²; ACD66: Sistema de recirculação com água clara e densidade de 66 camarões/m²; BD33:
Sistema de recirculação com bioflocos e densidade de 33 camarões/m²; BD66: Sistema de recirculação
com bioflocos e densidade de 66 camarões/m².

A biomassa final depende diretamente do número dos indivíduos e da massa de cada um deles
(VALENTI e NEW, 2000). Este desenvolvimento individual dos camarões varia, por sua vez, com a
densidade de estocagem em que são criados (WILLIS e BERRIGAN, 1997; MARCIEL e VALENTI, 2009).
Visto que a competição por espaço entre os animais pode aumentar o gasto de energia, reduzindo
assim o crescimento e, consequentemente a produtividade ao final do ciclo de produção (HELDT et
al., 2012). Entretanto, a maior densidade de estocagem avaliada neste trabalho não afetou
negativamente o desempenho zootécnico dos camarões M. amazonicum.

A produção intensiva de camarões afeta diretamente o desenvolvimento dos animais, sendo que a
adoção de baixas densidades de estocagem pode resultar na produção de animais de porte superior,
porém com uma menor produtividade. Enquanto que a intensificação, como observada para M.
amazonicum neste estudo, geralmente gera animais de porte inferior, mas com uma maior
produtividade nos sistemas (WILLIS e BERRIGAN, 1997; MACIEL e VALENTI, 2009; RODRIGUES, 2011).
Em relação ao fator densidade de estocagem avaliado isoladamente, assim como observado para
interação dos fatores analisados, a biomassa final dos camarões apresentou diferença estatística
significativa (p<0,05), sendo esta superior na densidade de 66 camarões/m² (8,89±2,13 g) em relação
a densidade de 33 camarões/m² (4,28±1,69 g). O mesmo ocorreu em relação a produtividade dos
camarões obtidas nas diferentes densidades (p<0,05) (Tabela 2).

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Criação Do Camarão Macrobrachium Amazonicum Em Diferentes Densidades De Estocagem Com A Tecnologia Bft

Tabela 2. Desempenho zootécnico (média±desvio padrão) de Macrobrachium amazonicum criados


em diferentes densidades de estocagem por um período de 60 dias.

Parâmetros zootécnicos Densidades


D33 D66
Ganho de Peso (g) 0,70±0,78a 0,29±0,19a
Sobrevivência (%) 60,71±19,66a 67,2±14,84a
Biomassa final (g) 4,38±1,69a 8,89±2,13b
Produtividade (g/m²) 36,54±14,11a 74,06±17,82b
Conversão alimentar aparente 0,94±0,18a 1±0,13a
Médias seguidas por letras distintas entre as colunas diferem entre si estatisticamente (P<0,05); D33:
Densidade de 33 camarões/m²; D66: Densidade de 66 camarões/m².

Quanto aos sistemas de produção, os parâmetros zootécnicos dos camarões não apresentaram
diferenças significativas (p>0,05) (Tabela 3). Portanto, ao contrário do observado para outras espécies
de camarão (ASADUZZAMAN et al., 2008; CRAB et al., 2010; EMERENCIANO et al., 2013; XU e PAN,
2014), o sistema BFT não contribuiu para um melhor desempenho do camarão-da-Amazônia.

Tabela 03. Desempenho zootécnico (média±desvio padrão) de Macrobrachium amazonicum criados


em diferentes sistemas de produção por um período de 60 dias.

Tratamentos
Parâmetros zootécnicos
Água clara Bioflocos
Ganho de Peso (g) 0,60±0,82 0,38±0,21
Sobrevivência (%) 62,5±19,09 65,62±16,02
Biomassa final (g) 7,68±3,66 6±2,18
Produtividade (g/m²) 64,04±30,57 49,99±18,23
Conversão alimentar aparente 0,95±0,19 0,98±0,12

4- CONCLUSÃO

A adoção do sistema de recirculação com água clara e densidade de 66 camarões/m² é o mais


recomendado para criação de M. amazonicum, visto que é um sistema de menor custo de implantação
e maior facilidade de adoção.

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402
Criação Do Camarão Macrobrachium Amazonicum Em Diferentes Densidades De Estocagem Com A Tecnologia Bft

5- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Macrobrachium rosenbergii de Man in ponds. Proceedings of the World Mariculture Society. 8, p.251-
264, 1977.

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405
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 34
10.37423/200601221

QUALIDADE DE ÁGUA NA RECRIA DE TAMBAQUI


(COLOSSOMA MACROPOMUM) EM SISTEMA DE
BIOFLOCOS

Sara Joane Cruz Nobre

Maria Rosalba de Alcântara Farias

Rita de Cássia Campos Imbiriba

Gleika Tamires Jordão Reis

Luciano Jensen

Michelle Midori Sena Fugimura


Qualidade De Água Na Recria De Tambaqui (Colossoma Macropomum) Em Sistema De Bioflocos

Resumo: A qualidade de água é considerada um dos elementos mais importantes na produção de


organismos aquáticos. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade da água
durante a recria de tambaqui (Colossoma macropomum) em sistema de bioflocos. O experimento foi
realizado no Laboratório Múltiplo para a Produção de Organismos Aquáticos, durante 30 dias com os
seguintes tratamentos: água clara (controle, sem bioflocos) -TAC; bioflocos iniciado sem reuso de água
de BFT - TBFT0; bioflocos iniciado com 25 % de reuso da água de um sistema BFT maturo - TBFT25 e
bioflocos iniciado com 50 % de reuso da água de um sistema BFT maturo - TBFT50, com três repetições
cada. As aferições dos parâmetros físicos e químicos da água (pH, temperatura, oxigênio dissolvido,
condutividade elétrica, amônia total e nitrito) e volume de bioflocos foram feitas periodicamente
durante o estudo. Diferenças estatísticas significativas foram encontradas somente para a
condutividade elétrica, nitrito e volume de bioflocos entre as águas dos tratamentos (p<0,05). Conclui-
se que a recria de tambaqui em BFT pode ser uma alternativa sustentável de produção, sendo
recomendado o manejo adotado de reuso da água neste sistema de produção.

Palavras-chave: BFT; piscicultura; sustentabilidade.

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407
Qualidade De Água Na Recria De Tambaqui (Colossoma Macropomum) Em Sistema De Bioflocos

1. INTRODUÇÃO

A necessidade de aumento na produção de alimentos para garantir a segurança alimentar da


população mundial tem sido bastante divulgada pela Organização das Nações Unidas para alimentação
e agricultura (FAO), apontando que em 2050 a população será de 9,8 bilhões de habitantes e precisará
de um aumento de 70% na produção de alimentos. Somam-se a isso as exigências da população
humana por uma alimentação mais saudável e produzida utilizando fontes ambientalmente
sustentáveis (FAO, 2018).
Na aquicultura um dos maiores desafios é a criação de organismos considerando-se o grande uso de
água e a necessidade de uma melhor eficiência da utilização deste recurso natural. A eficiência é
possível pela redução na demanda do uso da água e o controle ou reuso dos efluentes gerados
(OLIVEIRA et al. 2015). Desta forma, diversas soluções foram desenvolvidas para diminuir esses
impactos gerados, como a tecnologia de bioflocos – BFT (Biofloc Tecnology), um sistema fechado de
produção que surgiu para reduzir os impactos os efluentes, com a técnica de reuso da água por
diversos ciclos de produções (AVNIMELECH, 1999, ZIMMERMANN, 2017).
Neste contexto, o sistema de bioflocos baseia-se no crescimento de microrganismos que irão
desempenhar a manutenção da qualidade da água, competição com patógenos, além de servir como
suplemento alimentar de alto valor proteico (AZIM; LITTLE, 2008; EMERENCIANO et al, 2013),
possibilitando então a redução das taxas de arraçoamento assim como dos níveis de proteína bruta
nas rações, e consequentemente, a diminuição dos custos de produção aquícola (AVNIMELECH, 1999).
Diversos estudos demonstram resultados positivos quanto à produção de peixes em sistema bioflocos
quando comparados aos sistemas convencionais (KUBITZA, 2011; AVNIMELECH, 2007; AZIM; LITTLE,
2008), porém quando se trata de espécies nativas poucos ainda são os estudos voltados diretamente
com a adoção desta tecnologia. Entre as espécies nativas de peixes, o tambaqui (Colossoma
macropomum) apresenta um conjunto de características que o tornam interessante para criação com
este tipo de sistema, principalmente pela sua capacidade de filtrar a água para se alimentar, o que
possibilita o aproveitamento dos bioflocos e a economia na oferta de rações, além de sua rusticidade
em relação a variações de parâmetros físicos e químicos da água, como o oxigênio dissolvido na água
(SANTOS, 2018).
O tambaqui desponta como um dos mais importantes entre as espécies nativas na piscicultura
brasileira (IBGE, 2015), por apresentar características como: rusticidade, fácil obtenção de juvenis,
excelente qualidade de carne, fácil manejo em cativeiro, plasticidade alimentar, poder ser cultivado o
ano todo, rápido crescimento e apresentar boa conversão alimentar (ARAÚJO- LIMA; IZEL et. al., 2004.,

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408
Qualidade De Água Na Recria De Tambaqui (Colossoma Macropomum) Em Sistema De Bioflocos

GOMES et al., 2006). Além disso, existe a possibilidade de aumentar a produção dessa espécie usando
a tecnologia de bioflocos (PEREIRA JUNIOR, 2013; SANTOS 2018).
O controle da quantidade e da qualidade do alimento, bem como a manutenção da qualidade
adequada de água, são de fundamental importância para em um sistema de produção aquícola
(PEREIRA, 2005). Desta forma, o controle das características físicas, químicas e biológicas da água na
aquicultura contribui para a manutenção de níveis adequados de qualidade da água, melhorando
então o desenvolvimento desta atividade, assim como o desempenho das espécies criadas
(MERCANTE et al., 2012).
Portanto, pensando no potencial da criação de tambaqui com a tecnologia de bioflocos e na
importância da manutenção da qualidade da água na piscicultura para o sucesso econômico da
atividade, o presente trabalho buscou avaliar a qualidade de água na recria do tambaqui em BFT com
a adoção de diferentes níveis de reuso da água.

2- MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Laboratório Múltiplo para Produção de Organismos Aquáticos


(LAMPOA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Santarém - PA, durante um período de
30 dias.
Os parâmetros de qualidade da água foram avaliados em doze unidades experimentais de volume útil
de 20 L, sendo os quatro tratamentos correspondentes a recria de juvenis de tambaqui (11,95±1,91 g)
em: água clara (controle, sem bioflocos) -TAC; bioflocos iniciado sem reuso de água de BFT - TBFT0;
bioflocos iniciado com 25 % de reuso da água de um sistema BFT maturo - TBFT25 e bioflocos iniciado
com 50 % de reuso da água de um sistema BFT maturo - TBFT50, com três repetições cada.
As unidades experimentais foram estocadas com uma densidade de 250 peixes/m³, sendo os juvenis
de tambaqui alimentados duas vezes ao dia (manhã e tarde) com ração comercial contendo 36% de
PB e com uma taxa de arraçoamento correspondente a 2,5% da biomassa total de cada unidade
experimental.
Os parâmetros físicos e químicos de qualidade da água analisados foram pH, oxigênio dissolvido
(mg/L), temperatura da água (°C), condutividade elétrica (μSm/cm), com uma sonda multiparâmetro,
e amônia (mg/L) e nitrito (mg/L), com auxílio de um kit colorimétrico. O registro dos dados de
qualidade da água foi realizado diariamente, com exceção da amônia analisada em dias alternados,
enquanto o nitrito foi verificado a cada 10 dias durante o estudo. O volume dos bioflocos nos
tratamentos BFT foi aferido uma vez por semana, através do cone Imhoff.

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Qualidade De Água Na Recria De Tambaqui (Colossoma Macropomum) Em Sistema De Bioflocos

Nas unidades experimentais dos tratamentos BFT não foram feitas renovações de água durante todo
o período experimental. Quando se observou valores ≥ 1 mg/L de amônia total, foram realizadas
renovações de cerca de 50% do volume de água nas unidades do TAC, enquanto no BFT, realizou-se a
fertilização orgânica na proporção de 6 g de C: 1 g de nitrogênio amoniacal total com o melaço de cana-
de-açúcar, como fonte de carbono (AVNIMELECH, 1999).
Para realização da análise estatística, a normalidade dos resíduos e a homogeneidade das variâncias,
premissas da Análise de Variância, foram analisadas pelos testes Shapiro-Wilk e Cochran,
respectivamente. Posteriormente, os dados dos parâmetros físicos e químicos da água foram
analisados pela ANOVA – one way. As diferenças entre as médias dos tratamentos foram identificadas
através do teste de Tukey, e consideradas significativas em nível de 5 % de probabilidade.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

O controle dos parâmetros físicos e químicos da água apropriados para a criação de uma determinada
espécie proporcionam condições favoráveis para um bom desenvolvimento zootécnico dos animais
confinados e quando conectados às boas práticas de manejo são fundamentais para o sucesso da
atividade piscícola (SANT´ANA DE FARIA et al. 2013).
Entre os parâmetros de qualidade da água da criação de tambaqui em sistema BFT, somente a
condutividade elétrica, o nitrito e o volume de bioflocos apresentaram diferença estatística
significativa entre os diferentes sistemas de produção de juvenis de tambaqui avaliados no presente
estudo (p<0,05) (Tabela 1).
Tabela 1. Valores (média ± desvio padrão) dos parâmetros físicos e químicos de qualidade de água na
recria de tambaqui (Colossoma macropomum) em diferentes sistemas de produção durante 30 dias.
TRATAMENTOS
PARÂMETROS
TAC TBFT0 TBFT25 TBFT50
pH 6,81 ± 0,01 6,75 ± 0,02 6,44 ± 0,32 6,40 ± 0,14
Oxigênio dissolvido (mg/L) 6,38 ± 0,09 6,05 ± 0,13 6,24 ± 0,12 6,32 ± 0,33
Temperatura (°C) 26,08 ± 0,45 26,03 ± 0,49 26,06 ± 0,49 26,34 ± 0,07
Condutividade
115,14 ± 0,52b 122,09 ± 3,03a 123,39 ± 4,16a 126,26 ± 0,79a
elétrica(µS/cm)
Amônia total (mg/L) 0,92 ± 0,15 1,56 ± 0,68 1,19 ± 0,10 1,07 ± 0,08
Nitrito (mg/L) 1,83 ± 0,19a 1,56 ± 0,49ab 0,63 ± 0,32bc 0,53 ± 0,33c
Volume dos bioflocos (mL/L) 0±0c 7,68±2,22b 11,28±0,25a 10,06±1,18ab
TAC, recria de tambaqui em água clara (controle, sem bioflocos); TBFT0, em bioflocos sem reuso de
BFT; TBFT25, em bioflocos iniciado com 25 % de reuso da água de um sistema BFT maturo; TBFT50,
em bioflocos iniciado com 50 % de reuso da água de um sistema BFT maturo. Médias seguidas por
letras subscritas distintas entre as colunas diferem entre si estatisticamente (P <0,05).

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Qualidade De Água Na Recria De Tambaqui (Colossoma Macropomum) Em Sistema De Bioflocos

Segundo REBOUÇAS et al (2014), o pH desejável para o melhor desempenho de peixes tropicais varia
entre 6,5 e 8,5. Desta forma, os valores de pH neste experimento alcançaram valores médios, dentro
da faixa recomendável. Os tratamentos TBFT25 (6,44± 0,32) e TBFT50 (6,40 ± 0,14) apresentaram
valores menores de pH em relação a água dos TAC e TBFT, sendo necessária a correção com
bicarbonato de sódio (NaHCO3) na água destes tratamentos durante o estudo. Este fato corrobora
com Suita (2009), que afirmou que nos sistemas BFT é normal ao longo do experimento ocorrerem
reduções no pH da água, sendo necessário o monitoramento e correções para ajustar e manter o pH
em nível ideal.
Os valores de oxigênio dissolvido, não apresentaram diferença significativa na água dos tratamentos
ao longo do estudo, estando dentro dos valores recomendados entre 4 e 8 mg/L para a criação de
juvenis de tambaqui (IZIEL; MELO, 2004). Os valores de temperatura da água variaram com mínima
de 25,54° C (TAC) e máxima de 26,41° C (TBFT50) entre os diversos tratamentos, mantendo-se uma
temperatura média de 26,12° C. Portanto, as temperaturas registradas não tiveram amplitudes de
variação significativas, sendo propícias para a criação de peixes tropical e considerada como
temperaturas ótimas para crescimentos de juvenis de tambaqui (REBOUÇAS et al., 2014).
A condutividade elétrica também foi um dos parâmetros que apresentou diferenças, sendo superiores
nestes (BFT0, BFT25 e BFT 50) em relação ao sistema de água clara (p<0,05). Os valores de
condutividade elétrica no presente trabalho foram menores que os encontrados por Silva (2018) para
tambaqui, com valores mínimos de 128,2 µS/cm e máximos de 163,46 µS/cm, os quais não
interferiram no desempenho zootécnico da espécie, que segundo Rodrigues (2013), define
condutividade elétrica como a responsável por conduzir corrente elétrica e fornecer informações
sobre o metabolismo do tanque, o qual ajuda a identificar fontes poluidoras no sistema e avaliar a
disponibilidade de nutrientes nos ecossistemas aquáticos.
As concentrações de amônia total no tratamento TAC (0,92±0,15 mg/L) apresentaram os menores
valores em virtude da troca regular de água. Já os tratamentos com bioflocos, o tratamento TBFT0%
apresentou o maior valor de amônia (1,56±0,68 mg/L), como já era esperado para o sistema que não
reutilizou água de uma produção anterior em BFT se comparado aos tratamentos TBFT25 (1,19±0,10
mg/L) e TBFT50 (1,07±0,08 mg/L) os quais já tinham uma grande quantidade de bactérias. Segundo
Suita, (2009), para estudos de concentração de amônia em sistema BFT é normal ocorrer picos nos
primeiros dias e a estabilização no decorrer da produção, visto que este tipo de sistema é
fundamentado na reciclagem de nutrientes, o qual estimula o crescimento das bactérias
heterotróficas que convertem amônia em biomassa microbiana (KUBITZA, 2011).

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Qualidade De Água Na Recria De Tambaqui (Colossoma Macropomum) Em Sistema De Bioflocos

O nitrito é um produto intermediário da transformação da amônia em nitrato, e pode ser tóxico para
peixes (FRANCES et al., 1998). Neste trabalho, as concentrações de nitrito foram superiores nas águas do
tratamento água claras (TAC) e inferiores no sistema de bioflocos iniciado com um reuso de água igual a
50 % de um sistema de bioflocos anterior (TBFT50) (p<0,05). Portanto, os resultados obtidos refletem
uma das características da produção com a tecnologia BFT, a reciclagem de nutrientes, à qual é
promovida pelas bactérias heterotróficas e nitrificantes presentes na composição dos bioflocos,
convertendo a amônia excretada pelos peixes em biomassa microbiana e diminuindo assim as
concentrações destes nitrogenados tóxicos na água de criação (NOOTONG; PAVASANT, 2011).
As concentrações ideais de sólidos totais sedimentáveis (STS) ainda precisam ser estudadas para a
produção de tambaqui. A concentração de STS é uma das variáveis utilizadas para quantificar o volume
de bioflocos na produção com BFT. Os STS apresentaram variação estatística significativa entre os
tratamentos neste estudo, sendo a média inferior para o iniciado sem reuso de água (TBFT0 = 7,68±2,2
mL/L) e superior para o BFT iniciado com reuso igual a 25% de um sistema anterior de bioflocos
(TBFT25 = 11,28±0,25 mL/L) (p<0,05).
Acredita-se que no presente estudo, os parâmetros de qualidade de água em sistema BFT
permaneceram dentro do adequado para a criação de juvenis de C. macropomum (BALDISSEROTTO;
GOMES, 2010; REBOUÇAS et al. 2014).

4- CONCLUSÃO

A produção de tambaqui com a tecnologia de bioflocos pode ser uma alternativa mais sustentável para a
recria da espécie. Além disso, o manejo de utilização de reuso da água de uma produção anterior com
BFT para produção de C. macropomum com a tecnologia de bioflocos é recomendada, com o intuito
de garantir a manutenção de baixas concentrações de nitrogenados mais precocemente.

350
412
Qualidade De Água Na Recria De Tambaqui (Colossoma Macropomum) Em Sistema De Bioflocos

5- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Qualidade De Água Na Recria De Tambaqui (Colossoma Macropomum) Em Sistema De Bioflocos

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414
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 35
10.37423/200601223

ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS


DE MAPARÁ (HYPOPHTHALMUS SPP.) E
DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

Mila Katrielle de Sousa Marinho

Ellen Kaline Miranda de Figueiredo

Ana Rízia Nascimento Marinho

Waldinete de Fátima Freitas Lobato

Hérlon Mota Atayde


ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

Resumo: Nessa pesquisa, verificaram-se os índices de contaminação microbiológica em massa


muscular e fishburguer obtidos a partir de carcaças de mapará (Hypophthalmus spp.). A carcaça
utilizada foi proveniente do fileteamento efetuado por um frigorífico da cidade de Santarém/PA. Esses
resíduos tiveram a massa muscular retirada manualmente e esta foi utilizada na produção de um
produto derivado destinado ao consumo humano - o fishburguer (unidades de 80g) – após adição de
diversos ingredientes. Posteriormente, amostras de cada produto foram submetidas às análises
microbiológicas (coliformes, Staphylococcus coagulase positivo. e Salmonella sp.) previstas na
legislação brasileira, que também apontam os limites máximos permitidos. Todos os resultados
apresentaram índices de contaminação suficientes para que as amostras fossem consideradas “em
condições satisfatórias para o consumo humano”. Os resíduos de mapará oriundos dos frigoríficos de
Santarém podem ser utilizados na produção de derivados comestíveis, como exemplo o fishburguer,
que diminuirá o descarte inadequado na natureza e propiciará uma alternativa de consumo e renda
para a população.

Palavras-chave: Bactérias, Contaminação, Pescado; Produto, Fishburguer.

353
416
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

ASPECTOS GERAIS SOBRE O PEIXE MAPARÁ – BIOECOLOGIA, BENEFICIAMENTO E


CONSEQUÊNCIAS – E QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE PESCADO

O mapará (Hypophthalmus spp.) é um peixe da ordem Siluriformes de porte médio, pertencente à


família sul-americana Pimelodidae; estão presentes nas águas costeiras do Pará (foz do Amazonas) até
o Suriname. São peixes reofílicos, pois dependem da correnteza do ambiente natural para realizar suas
funções reprodutivas, as quais se intensificam nos períodos mais chuvosos da região, cujo aumento
do volume de água e maior velocidade de corrente dos rios proporcionam o cenário ideal para sua
reprodução (FERREIRA et al., 2016).

A crescente demanda por pescado, impulsionada pelo crescimento populacional e busca de


alimentos saudáveis, associada à preservação ambiental, acarreta a busca por alternativas de
aproveitamento dos resíduos de pescado (os quais correpondem à aproximadamente 60% do
exemplar inteiro) (PINTO et al., 2017). Estes resíduos podem ser divididos em dois grupos, sendo um
destinado à produção animal e o outro para uso na alimentação humana. Os resíduos destinados à
alimentação humana incluem a carcaça com carne aderida após a retirada do filé, denominada
popularmente como espinhaço (PIRES et al., 2014).

A viabilidade de aproveitamento dos resíduos do peixe visando à produção de alimentos para o


consumo humano depende, fundamentalmente, da qualidade da matéria-prima, tendo em vista que
a perecibilidade do tecido dos peixes é maior que a de outras espécies animais. Além disso, a
qualidade está diretamente relacionada aos cuidados na manipulação e conservação do peixe a
baixas temperaturas, em toda a cadeia produtiva e com a aplicação de procedimentos adequados de
limpeza e sanitização da planta processadora (PINTO et al., 2017).

Os entrepostos e as indústrias de beneficiamento de pescado se constituem em uma das principais


atividades econômicas em nível mundial (BRASIL, 2014). Pelo processamento adequado do pescado,
inclusive aproveitando esses resíduos, podem surgir novos produtos capazes de significar nova opção
de renda para os empreendedores, aumentando a lucratividade e reduzindo o volume do descarte
de resíduos gerados pelo processamento (FAO, 2016).

No entanto, para utilização desses resíduos como matérias-primas de alimentos comestíveis pelo
homem (por exemplo, o fishburguer), é necessário atestar que a contaminação microbiana dos
mesmos não extrapole os índices considerados seguros. Esse cuidado é necessário porque, segundo

354
417
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

Almeida (2016), uma das consequências da proliferação microbiana é a possível excreção de


enterotoxinas resistentes a tratamentos térmicos e que, se ingeridas, imprimem alterações deletérias
ao consumidor.

Destaca-se que os agentes biológicos envolvidos na contaminação de alimentos incluem bactérias,


vírus e parasitas, os quais podem causar distúrbios que vão de uma gastroenterite leve até casos mais
sérios, com possível risco de morte. Alguns desses patógenos estão presentes naturalmente no
ambiente aquático, enquanto outros podem ser introduzidos a partir de esgotos contaminados com
fezes humanas e de animais. A maioria dos surtos diarreicos tem sido relacionado à ingestão de
alimentos com boa aparência, sabor e odor normais, sem qualquer alteração sensorial visível.
Significa que a manifestação de uma doença transmitida por alimento (DTA) não necessita que o
alimento ingerido apresente alterações perceptíveis (SANTIAGO et al., 2013)

Os coliformes termotolerantes, a Salmonella e o Staphylococcus estão entre os microrganismos


causadores de DTA, com análise exigida pela legislação brasileira para pescado e derivados (Brasil,
2001).

A Escherichia coli é uma bactéria do grupo dos coliformes termotolerantes considerada a principal
causadora de doenças diarreicas via ingestão de água e alimentos contaminados; tem como habitat
primário o trato intestinal de animais de sangue quente e sua presença indica contaminação fecal,
assim como a Salmonella, que apresenta sorotipos capazes de desencadear infecções sérias ao
indivíduo afetado (SANTIAGO et al., 2013).

Staphylococcus é uma bactéria amplamente distribuída no meio ambiente, podendo ser encontrada
frequentemente no ar, em fezes, esgotos, alimentos e, principalmente, na mucosa nasal do homem
e de animais, e sua síndrome é caracterizada por vômito, dor abdominal e diarreia, que podem
ocorrer de 2-6 h após a ingestão do alimento contaminado (SANTIAGO et al., 2013). Diante dessa
situação, é primordial a determinação das características microbiológicas dos resíduos de espécies
amazônicas e seus produtos antes de sua utilização para fins comestíveis, pois indica ao
empreendedor a possibilidade da utilização desses produtos como matérias-primas, assegurando a
manutenção da saúde do consumidor.

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418
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

ESTUDOS MICROBIOLÓGICOS APLICADOS NOS RESÍDUOS DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA PESQUEIRA


E SEU DERIVADO

1– Amostras: Resíduos do fileteamento de mapará (Hypophthalmus spp.) - constituídos por cabeça e


coluna vertebral contendo massa muscular aderida - foram coletados em frigorífico de pescado
sediado na cidade de Santarém, em outubro de 2018 e levados ao Laboratório de Ensino
Multidisciplinar de Recursos Aquáticos, do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas, da
Universidade Federal do Oeste do Pará. Esses resíduos foram lavados com água tratada, tiveram a
massa muscular retirada manualmente com auxílio de instrumentos perfurocortantes (CALDAS, 2017)
e esta massa foi utilizada na produção de um produto derivado destinado ao consumo humano – o
fishburguer (unidades de 80g).

Imagem 1. Produto derivado (Fishburguers crus).

Fonte: Autores (2019).

2– Análises microbiológicas: No laboratório supracitado, amostras analíticas da massa de resíduos de


mapará como na imagem 2 e seu produto derivado, o fishburguer, em condições assépticas e em
triplicata, foram separadamente submetidas às análises microbiológicas (coliformes, Estafilococos
coagulase positiva e Salmonella sp.) determinadas como obrigatórias para pescado e derivados
(BRASIL, 2001).

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419
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

Imagem 2. Resíduos do mapará.


Fonte: Autores (2019).

Todas as amostras foram separadamente submetidas à diluição e inóculo em meios líquidos ou


sólidos, segundo a metodologia específica para cada grupo de microrganismo, conforme detalhado
em Silva et al. (2010) e International Commission on Microbiological Specifications for Foods - ICMSF
(2015).

Para coliformes totais e termotolerantes foi utilizada a técnica de quantificação em tubos múltiplos,
com base nas combinações de resultados positivos (formação da bolha de gás no interior do tubo de
Durhan invertido contido em tubos contendo, respectivamente, Caldo Verde Brilhante ou Caldo
Escherichia coli), sendo estas comparadas com aquelas contidas na tabela de NMP. O resultado foi
expresso em Número Mais Provável por grama de produto (NMP/g).

A confirmação da contaminação de origem fecal foi efetuada pelas características da colônia


bacteriana desenvolvida na superfície do meio Ágar Eosina Azul de Metileno previamente distribuído
em placa de Petri conforme Brasil (2001) recomenda. A presença de colônias típicas de E. coli
(nucleadas com centro preto, coloração verde com ou sem brilho metálico) na superfície desse meio
de cultura foi considerada confirmativa dessa contaminação.

Para Estafilococos coagulase positiva foi utilizada a técnica de contagem padrão das colônias típicas
(colônias pretas com ou sem formação de halo) desenvolvidas na superfície de ágar Baird– Parker
(BP) após inóculo spread plate, sendo a. Amostras de cada tipo de colônia (com e sem formação de
halo) foram submetidas a provas bioquímicas confirmativas. O índice percentual dessas colônias

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420
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

confirmadas como Estafilococos coagulase positiva foram relacionados à quantificação inicialmente


efetuada e o resultado foi expresso em Unidades Formadoras de Colônia por grama de produto
(UFC/g).

Para a contaminação por Salmonella sp. foram utilizados meios seletivos diferenciais, conforme a
técnica de detecção da presença ou ausência de colônias típicas desse microrganismo em 25 gramas
de cada amostra.

2– Interpretação dos resultados: Os dados obtidos foram comparados aos limites máximos
estabelecidos pela legislação brasileira vigente (BRASIL, 2001) que permitem determinar se a massa
muscular extraída do resíduo e o fishburguer eram próprios ou impróprios para consumo humano.

PERCEPÇÕES QUANTO AOS RESÍDUOS DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA PESQUEIRA E SEU DERIVADO


APÓS AS ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS

Os resultados obtidos nessa pesquisa estão presentes na Tabela 1.

A massa do resíduo e o fishburguer apresentavam condições satisfatórias para o consumo humano,


pois a contaminação detectada foi menor que o limite máximo estabelecido pela legislação brasileira
vigente (BRASIL, 2001).

Tabela 1. Análises da massa do resíduo do mapará e derivados para segurança e qualidade


microbiológica de coliformes totais e termotolerantes, Staphylococcus coagulase positiva e Salmonella
sp.

Análises efetuadas
Amostras Coliformes Totais e
Staphylococcus spp Salmonella sp.
Termotolerantes
Massa do Resíduo <10 NMP/g <10 UFC/g Ausente em 25g

Fishburguer <10 NMP/g <10 UFC/g Ausente em 25g

* Limites estabelecidos pela legislação brasileira (BRASIL, 2001) para amostras indicativas: Coliformes
totais e termotolerantes – sem indicação - 102 UFC/g; Staphylococcus coagulase positiva - 5x102
UFC/g; Salmonella sp.- ausência em 25 g.

Resultados semelhantes a estes foram encontrados em pesquisa realizada por Nora et al. (2012), que
analisaram filés de pescado oriundo de diferentes indústrias pesqueiras do estado do Rio Grande do
Sul e verificaram ausência de Staphylococcus aureus coagulase positivo em todas as amostras. Soares

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ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

et al. (2014) verificou ausência de Staphylococcus aureus coagulase positivo e quantidades não
significativas de coliformes totais e termotolerantes em filés de tilápia do Nilo, provenientes de um
frigorífico da região oeste do Paraná, o que indica boas condições higiênico sanitárias da água e
adoção de boas práticas durante o processamento.

Os resultados para Salmonella foram semelhantes a de Caldas (2017), onde não foi encontrada
presença em patê de resíduos de dourada provenientes de um frigorífico do Pará.

Resultados encontrados no trabalho de Fogaça et al. (2015) mostrou metodo semelhante de


armazenamento da Carne Mecanicamente Separada (CMS) e submetido a mesma analise com
resultados satisfatorios onde ocorreu ausencia de Salmonella sp. em 25g do alimento; coliformes a
45 ºC em níveis de até 102 g-1; estafilococos coagulase positiva em níveis de até 5x102 g-1
mostrando-se dentro dos padrões microbiologicos exigidos pela legislação brasileira da ANVISA
(2001).

Dessa forma, constata-se que resíduos oriundos de unidades frigoríficas são viáveis para a produção
de novos produtos além de Ahmed (1991) salientar que o pescado é um veiculo de Salmonelose
muito menos frequente do que outros produtos alimentares. Os índices de contaminação microbiana
obtidos para a massa de resíduos nessa pesquisa reiteram essa viabilidade.

Nessa pesquisa, todos os cuidados operacionais tomados no beneficiamento dos resíduos e na


produção dos derivados foram suficientes para assegurar a qualidade desses produtos. Significa que
todos os efeitos adversos pela presença de coliformes termotolerantes, Salmonella spp. e
Staphylococcus spp. em alimentos não afetarão o consumidor de fishburguers elaborados a partir da
massa de resíduos adequadamente manipulados. Adicionalmente, apontam a viabilidade do uso de
resíduos produzidos nas indústrias santarenas para a elaboração de novos produtos, sem afetar
negativamente a saúde dos consumidores.

RECOMENDAÇÕES QUANTO AOS RESÍDUOS DA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA PESQUEIRA E SEU


DERIVADO

Os resíduos de mapará oriundos dos frigoríficos de Santarém estão de acordo com os padrões legais
vigentes, ou seja, podem ser utilizados na produção de derivados comestíveis, como exemplo o
fishburguer, que também estava próprio para consumo humano. O uso desses resíduos na produção
de derivados diminui seu descarte inadequado na natureza e propicia uma alternativa de consumo e

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422
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

renda para a população.

AGRADECIMENTOS

Ao Edifrigo Comercial e Industrial, pela doação dos resíduos. À Universidade Federal do Oeste do
Pará, pela infra-estrutura. À Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação Tecnológica (Proppit) da
Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e
Pesquisas do Estado do Pará (Fapespa), pela concessão de bolsa de iniciação científica. Ao programa
Capes Fapespa, acordo Capes/Fapespa, pelo financiamento do projeto concessão
88887.159117/2017-00 referente ao Edital Nº 006/2015 - Apoio a Doutor Recém Contratado.

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423
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Fogaça, Fabiola Helena dos Santos ; OTANI, F. S. ; PORTELLA, C. G. ; Gonzaga, L. ; SANTANA, L. S. .


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ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DOS RESÍDUOS DE MAPARÁ (Hypophthalmus Spp.) E DERIVADO PARA CONSUMO HUMANO

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362
425
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 36
10.37423/200601277

ESTRUTURA TRÓFICA DE PEIXES EM IGARAPÉS


URBANOS DA CIDADE DE MANAUS, AMAZONAS -
BRASIL

Thaynara Sofia Gomes Vieira

Eder Cruz Junior

Catarina Lima Oliveira

Luana Simas Montenegro

Hélio Daniel Beltrão Anjos

Kedma Yamamoto
Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

Resumo: A bacia Amazônica apresenta uma complexa e densa rede de pequenos riachos,
denominados regionalmente como igarapés. A vegetação ripária é a base da cadeia trófica nesses
ecossistemas, pois os invertebrados aquáticos dos quais os peixes se alimentam consomem a matéria
orgânica carreada da vegetação. Tendo como objetivo caracterizar a estrutura trófica das assembleias
de peixes presentes nos sistemas de igarapés do Campus da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM). As coletas foram realizadas entre 11/2017 à 06/2018 em três igarapés do fragmento florestal
do campus da UFAM, Manaus, Amazonas. Os apetrechos utilizados foram: rapichés e peneiras. A
determinação da dieta foi efetuada através da análise do conteúdo estomacal, utilizando os métodos
da frequência de ocorrência (F.O) e volume relativo, e combinados no Índice de importância alimentar
(IAi), já a atividade alimentar foi avaliada através do Grau de Repleção. Foram coletados 208
exemplares distribuídos em 5 ordens, pertencentes a 9 famílias, 13 gêneros e 14 espécies. A ordem
Characiformes foi a mais abundante em número de espécies seguida pelos Perciformes e
Cyprinodontiformes. As ordens Gymnotiformes e Synbranchiformes tiveram apenas uma espécie
coletada. Foram analisados um total 206 estômagos. Os itens alimentares encontrados nos estômagos
foram insetos, material vegetal, material digerido, frutos e sementes e detritos. Dentre estes, os itens
insetos, material digerido e detritos foram os mais frequentes e abundantes. O N total de estômagos
que foram utilizados para gerar os resultados desta pesquisa foram 185. As espécies analisadas foram:
Apistogramma agassizii (N=20), Crenuchus spilurus (N=11), Copella nigrofasciata (N=70),
Hyphessobrycon aff.melazonatus (N=23), Acarichthys heckelii (N=61). No índice de importância
alimentar, as espécies analisadas apresentaram uma relativa dependência da floresta ripária, já que as
espécies capturadas neste ambiente alimentam-se basicamente de material de origem alóctone. Os
períodos seco e chuvoso não influenciam diretamente a alimentação de espécies pois os estômagos
em sua maioria estavam cheios ou parcialmente cheios. A guildas tróficas são: onívoras e insetívoras.

Palavras-chaves: Igarapés de terra firme, Estrutura trófica, Guilda trófica.

363
427
Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

INTRODUÇÃO

A Bacia Amazônica possui uma extensa rede de pequenos riachos, nomeados regionalmente como
igarapés (JUNK, 1983). Os igarapés são cursos d’água de pequeno porte que apresentam como
principais características elevada concentração de oxigênio dissolvido e águas mais ácidas
(MENDONÇA et al., 2005). O clima da região apresenta dois períodos sazonais: um de maior
intensidade de chuva que inicia no mês de novembro e termina no mês de maio e, outro, de chuva
escassa ou de estiagem, de junho a outubro. O regime hidrológico dos igarapés sofre forte influência
do tipo de solo, da geomorfologia e das chuvas da região, representando os períodos de seca e cheia
que são bem diferenciados (MELLO & MOURA, 1990).
Os igarapés de terra firme são deficientes em nutrientes devido ao sombreamento das árvores que
impede a penetração de luz solar na superfície da água, reduzindo assim a produção primária
autóctone (ANJOS & ZUANON, 2007). Por conta deste fator, as cadeias alimentares são dependentes
de material alóctone oriundo da vegetação ripária, como frutos, sementes, folhas e, principalmente,
insetos (MENDONÇA, 2001). Além disso, a floresta é de suma importância para que os igarapés
mantenham seus fluxos mesmo em períodos de escassez de água (KIROVSKY, 2001).
Os riachos da Amazônia Central têm sido alvo de pesquisas que abordam alimentação, composição e
estrutura das comunidades ícticas em geral e sua relação com o ambiente (MENDONÇA et al., 2005;
CARVALHO, 2008; ESPÍRITO-SANTO et al., 2009). A diversidade das espécies nativas de peixes denota
como uma ampla área de estudo, tendo em vista que tais animais apresentam uma dinâmica alimentar
diversa (RODRIGUES et al., 2008).
Alvo de diversos estudos e em um dos maiores fragmentos urbanos de floresta nativa do Brasil com
quase 600 ha de terra-firme localiza-se o campus da UFAM, onde estão presentes quatorze igarapés
(doze de primeira ordem e dois de segunda ordem) distribuídos entre os setores Norte e Sul da
Universidade (NERY et al., 2004). Ao longo dos anos a região vem sofrendo forte pressão dos bairros
adjacentes, principalmente através de supressão de áreas de floresta, caça e poluição da rede de
igarapés primários que recortam a área (GOULART & CALLISTO 2003), o que torna a pesquisa dos
efeitos antrópicos sobre a comunidade de organismos aquáticos de extrema relevância no aspecto
científico-social. Neste contexto, o objetivo geral deste estudo foi caracterizar a estrutura trófica das
assembleias de peixes presentes nos sistemas de igarapés do Campus da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM). E como objetivos específicos caracterizar a composição taxonômica das
assembleias de peixes nos igarapés; avaliar a dieta das assembleias de peixes durante o período

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

chuvoso e seco nos igarapés do Campus universitário; e classificar as assembleias de peixes em guildas
tróficas de acordo com a composição alimentar.

MATERIAL E MÉTODOS

AMOSTRAGENS

Os exemplares de peixes utilizados neste estudo foram provenientes de coletas realizadas em três
igarapés de terra firme localizados no fragmento florestal do campus da Universidade Federal do
Amazonas – UFAM (03º04’34”S, 59º57’30”W), que possui aproximadamente 600 ha, localizado na
cidade de Manaus (Vasconcelos, 2008), (Figura1).

Figura 01. Mapa de localização dos pontos de coleta dos três igarapés no campus da
UFAM.

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

As coletas foram realizadas durante duas campanhas no período seco e duas campanhas no período
chuvoso. Após as coletas os peixes foram identificados através de chaves de identificação e com a
ajuda de especialistas.
Foram utilizados dois equipamentos para as capturas: peneiras de tela de aço e rapiché. As peneiras
sendo usadas para capturar indivíduos de maior porte e o rapiché para os de menor porte e
formadoras de cardumes, estes aparelhos foram utilizados por um período de 2 horas em cada sítio
amostral.
Após a despesca os peixes foram etiquetados, fixados em formol a 10% e transportados ao laboratório
de Ictiologia na UFAM. Os peixes foram pesados, medidos e lavados em água corrente para serem
preservados em álcool a 70%. Após este processo os peixes foram identificados através de chaves de
identificação e com a ajuda de especialistas.
Através de uma incisão ventral nos peixes, os estômagos foram retirados, pesados e seu conteúdo
examinado em placa de Petri sob microscópio estereoscópico. Os itens alimentares foram
identificados até o nível taxonômico mais inferior possível, com auxílio de literatura especializada para
cada grupo.

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO ALIMENTAR

A determinação da dieta foi efetuada através da análise do conteúdo estomacal, utilizando os métodos
da frequência de ocorrência (F.O) e do volume relativo. A frequência de ocorrência foi calculada
conforme a fórmula: F.O = i.100/ N onde, F.O= Frequência de ocorrência, i = Número de estômagos em
que cada item alimentar foi identificado, N = Número de estômagos analisados com alimento. Os
resultados individuais de ambos métodos foram combinados no Índice Alimentar (IAi) (Kawakami &
Vazzoler, 1980) e expressos em percentagem. Foi calculado o IAi(%) para cada item, adotando a
expressão: IAi = Fi*Vi/Σ(Fi*Vi) onde, i = item alimentar , F = freqüência de ocorrência (%) do
determinado item, V= volume (%) de determinado item.
Avaliou-se também a atividade alimentar através da identificação do Grau de Repleção dos estômagos
conforme a escala utilizada por Yabe & Bennemann (1994): 0% (vazio), 25%, 50%, 75% e 100% (cheio).

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

RESULTADOS E DISCUSSÃO

COMPOSIÇÃO TAXONÔMICA DAS ASSEMBLEIAS DE PEIXES NOS IGARAPÉS

Foram coletados 208 exemplares distribuídos em 5 ordens, pertencentes a 9 famílias, 13 gêneros e


14 espécies. A ordem Characiformes foi a mais abundante em número de indivíduos seguida pelos
Perciformes e Cyprinodontiformes. As ordens Gymnotiformes e Synbranchiformes tiveram apenas
uma espécie coletada. (Figura 02).

Figura 02. Ordens dos estômagos dos peixes analisados no presente estudo
igarapés.

Resultados semelhantes foram encontrados por (BÜHRNHEIM e COX-FERNANDES, 2001) em igarapés


da bacia do Rio Urubu mostrando a dominância de indivíduos das ordens Characiformes e Perciformes.
O predomínio de assembleias de peixes pertencentes a ordem Characiformes observados no estudo
segue o padrão já esperado para igarapés Neotropicais (LOWE-McCONNELL, 1987; BELTRÃO, 2007).
Os resultados que seguem abaixo, sobre o conteúdo estomacal dos peixes de igarapés urbanos de
Manaus, referem-se às análises das espécies mais abundantes no período seco e chuvoso e, onde
houve o maior número de estômagos analisados para classificar sua dieta com confiabilidade. Neste
estudo os indivíduos considerados abundantes foram o que apresentaram o número de estômagos
maior que 10. O N total de estômagos que foram utilizados para gerar os resultados desta pesquisa
foram 185. As espécies analisadas foram: Copella nigrofasciata (N=70), Acarichthys heckelii (N=61),
Hyphessobrycon aff.melazonatus (N=23), Apistogramma agassizii (N=20), Crenuchus spilurus (N=11).

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

Figura 03: Espécies mais abundantes da coleta em igarapés urbanos de Manaus nos
períodos seco e chuvoso.

ATIVIDADE ALIMENTAR

A atividade alimentar foi avaliada através da identificação do grau de repleção estomacal, de acordo
com este índice as espécies mais abundantes no período seco (Figura 04) apresentaram a maior parte
dos estômagos parcialmente cheios e cheios (25% - 75%).

Figura 04: Grau de repleção dos estômagos analisados das espécies mais abundantes durante o
período seco em igarapés urbanos de Manaus.

Já no período da chuvoso o grau de repleção das espécies abaixo citados apresentaram a maior parte
dos estômagos vazios ou distendidos (0% -100%).

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

Figura 05: Grau de repleção dos estômagos analisados das espécies mais abundantes
durante o período chuvoso em igarapés urbanos de Manaus.

Pode ser observado que tanto no período seco como no chuvoso essas assembleias de peixes não
passaram por períodos restrição alimentar. Mostrando que houve disponibilidade de alimentos
durante os dois períodos do ano (seco e chuvoso). Em estudos realizados sobre a ictiofauna de
igarapés de terra firme tropicais (SABINO & ZUANON, 1998; ARAÚJO-LIMA et al., 1999; MARTINS,
2000), mostram que essas assembleias de peixes são dependentes principalmente em níveis tróficos
do material de origem alóctone, que são provenientes das florestas adjacentes. Os insetos
principalmente de origem terrestre foram extremante importantes na dieta da ictiofauna desses
igarapés, ressaltando ainda mais a importância do material alóctone como base da cadeia trófica em
igarapés de terra firme (WALKER, 1987).

ÍNDICE DE IMPORTÂNCIA ALIMENTAR (IAI)

A composição da dieta dos peixes coletados nos igarapés urbanos de Manaus foi composta por seis
itens alimentares, sendo eles: Peixes (P), constituídos por escama ctenóides; Insetos (IN),
representados pelas larvas, ovos, restos de insetos como asas, pupas, pernas e cabeça e por último
insetos adultos, estes foram identificados ao nível taxonômico mais próximo possível, onde se
destacaram a presença de insetos das ordens como Hemiptera (percevejo), Diptera (moscas e
mosquitos), Hymenoptera (vespas e formiga), representando a maior parte de conteúdo alimentar
encontrado; Seguido de Material Vegetal (MV), Frutos e Sementes (FS), por fim os Detritos (DE),
ocorreram em maior quantidade (Figura 06).

369
433
Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

Figura 06: Conteúdo estomacal encontrado dos peixes analisados. A-Escama ctenóide
B- Hymenoptera (Formigas) C-Diptera (Moscas e Mosquitos) D-Hemiptera:
Notonectidae (Percevejos Aquáticos) E-Coleoptera (Besouros) e F- Sementes.

Os itens alimentares dos peixes de riachos podem ser classificados de acordo com sua origem em duas
grandes categorias: autóctone (oriundo do ambiente aquático), onde estão inseridos: algas,
macrófitas, insetos aquáticos, pupas e larvas de insetos terrestres, além de crustáceos e outros peixes;
e alóctone (de origem terrestre), como, insetos adultos, fragmentos de folhas, sementes e frutos que
caem na água (BÜHRNHEIN, 2002; ANJOS, 2005; MENDONÇA et al.2008). Foi possível observar neste
trabalho que as comunidades de peixes dos igarapés estudados apresentaram uma relativa
dependência de alimentos provenientes de materiais de origem alóctone um padrão que parece
consistente para igarapés da Amazônia brasileira (ANJOS, 2005; CARVALHO, 2008).

A espécie Apistogramma agassizii, ocorreu apenas no período seco. Sua dieta foi bem diversificada,
explorando insetos de origem autóctone, material vegetal com pequenas folhas e principalmente
material digerido (Figura 07). De acordo com sua dieta e morfologia a espécie A. agassizii é classificada
na guilda como onívora, resultado semelhante ao publicado no Guia de peixes da reserva Adolpho
Ducke (ZUANON et. al., 2015) e por (GALVIS et al., 2006) onde os exemplares de A. agassizii consumiam
em maior quantidade alimentos de origem autóctone, como detritos e invertebrados aquáticos

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

Figura 07: Índice alimentar de Apistogramma agassizii durante o período seco nos igarapés do
Campus da Universidade Federal do Amazonas-UFAM.

A dieta do Crenuchus spilurus, foi bem restrita explorando tanto no período seco como no período
chuvoso insetos de origem alóctone e autóctone e em maior quantidade material digerido (Figura 08).
De acordo com sua dieta e morfologia a espécie Crenuchus spilurus pode ser classificada na guilda
como insetívora, resultado semelhante ao trabalho de (DUTRA, 2010) que verificou a alimentação de
assembleias de peixes associadas a bancos de herbáceas em áreas de várzea e ao publicado no Guia
de peixes da reserva Adolpho Ducke (ZUANON et. al., 2015).

Figura 08: Índice alimentar de Crenuchus spilurus durante o período seco e chuvoso
nos igarapés do Campus da Universidade Federal do Amazonas-UFAM.

A espécie Copella nigrofasciata ocorreu tanto no período seco como no chuvoso, sua dieta foi bem
diversificada. No período seco explorando insetos de origem alóctone e autóctone, frutos e sementes,
material digerido e em maior quantidade detrito. No período chuvoso explorando em maior
quantidade insetos de origem alóctone e autóctone, material vegetal e material digerido (Figura 09).
De acordo com sua dieta a espécie C. nigrofasciata pode ser classificada na guilda como onívoro

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

(CARVALHO, 2008) determinou a espécie na categoria trófica dos insetívoros alóctones. Resultado
semelhantes ao de (SILVA at. al., 2015) que classificou a espécie como onívoro com tendência para um
hábito invertívoro.

Figura 09: Índice alimentar de Copella nigrofasciata durante o período seco e chuvoso
nos igarapés do Campus da Universidade Federal do Amazonas-UFAM.

A espécie Hyphessobrycon aff.melazonatus ocorreu tanto no período seco como no chuvoso, sua dieta
foi bem diversificada. No período seco explorando em maior quantidade insetos de origem alóctone
e detrito, em menor quantidade material vegetal, material digerido. No período chuvoso explorando
em maior quantidade insetos de origem alóctone e autóctone, e em menor quantidade material
vegetal e material digerido e detrito (Figura 10). De acordo com sua dieta a espécie Hyphessobrycon
aff.melazonatus pode ser classificada na guilda como insetívora, resultado semelhantes ao encontrado
por (BARROS, 2012; CARVALHO, 2008) em estudos realizados em riachos de pequeno porte.

Figura 10: Índice alimentar de Hyphessobrycon aff.melazonatus durante o


período seco e chuvoso nos igarapés do Campus da Universidade Federal do
Amazonas-UFAM.

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436
Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

A espécie Acarichthys heckelii, ocorreu apenas no período chuvoso. Sua dieta baseou-se pela maior
ingestão de insetos de origem alóctone e autóctone, material digerido e detrito (Figura11). De acordo
com sua dieta a espécie Acarichthys heckelii pode ser classificada na guilda como insetívora. Estes
resultados corroboram com o proposto por outros trabalhos para peixes do mesmo grupo. Em estudos
feitos sobre ecomorfologia trófica de três espécies da família cichlidae nas reservas de
desenvolvimento sustentável de Anamã e Mamirauá (LINS, 2011) a espécie A. heckelii apresentou duas
categorias de itens na dieta: crustáceos e insetos, classificando-a como: insetívora/carnívora.

Figura 11: Índice alimentar de Acarichthys heckelii durante o período seco e


chuvoso nos igarapés do Campus da Universidade Federal do Amazonas-UFAM.

Com os resultados obtidos podemos descrever que as espécies capturadas apresentam grande
dependência de material alóctone (Tabela03) como os insetos, material vegetal e frutos e sementes,
oriundo da floresta ripária adjacente, já que estes locais são áreas de baixa produtividade primária.

Poucos estômagos das espécies analisadas apresentaram grau de repleção (0%) o que indica que tanto
no período seco e chuvoso há muita disponibilidade de alimentos para as espécies que habitam os
igarapés (Tabela 02).

373
437
Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

Tabela 02: Ocorrência dos itens alimentares nos estômagos das espécies estudadas. NT= Número total de espécies coletadas em cada período
seco e chuvoso; Peso(g)= Média dos pesos em gramas dos peixes; NA= Número de estômagos analisados; IN= Insetos; P= Peixes; FS= Frutos e
sementes; MV= Material Vegetal; MD= Material digerido; DE= Detrito.

SECO CHUVOSO
IAi IAi
Ordens, famílias e espécies NT Peso(g) NA IN P FS MV MD DE NT Peso(g) NA IN P FS MV MD DE
Ordem Characiformes
Família Crenuchidae
Crenuchus spilurus (Günther, 1863) 3 0,266 3 3 2 8 0,75 3 2 3
Família Lebiasinidae 42 0,192 33 24 3 27
Copella nigrofasciata (Meinken, 1952) 28 0,196 26 22 1 9 22 7 0,242 5 3 1 3
Copella collolepis (Regan, 1912) 0
Ordem Characidae
Hyphessobrycon melazonatus (Durbin, 1908) 11 0,309 10 8 1 2 7 12 0,416 12 12 1 7 2
Bryconops cf. caudomaculatus (Günther,
1864) 3 0,3 8 2 2 0
Família Erythrinidae
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) 0 1 15,8
Família Curimatidae
Psectrogaster amazonica (Eigenmann, 1889) 1 0,5 1 1 0
Ordem Perciformes
Família Cichlidae
Apistogramma agassizii ( Steindachner,
1875) 20 0,465 14 3 1 13 4 0
Crenicichla inpa (Ploeg, 1991) 1 3,9 1 1 1 1 15,2 1 1 1
Aequidens pallidus (Heckel, 1840) 3 9 3 2 1 2 1 1 8,4 1 1 1 1
Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) 0 61 0,126 39 36 22 3
Ordem Cyprinodontiformes
Família Rivulidae
Anablepsoides micropus (Steindachner,
1863) 3 0,6 3 1 2 1 0

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

Ordem Gymnotiformes
Família Gymnotidae
Gymnotus coropinae (Hoedeman, 1962) 0 1 0,2
Ordem Synbranchiformes
Família Synbranchidae
Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795) 1 0,1 0
Total 74 15,636 69 41 1 1 3 29 40 134 41,326 94 79 0 0 6 64 5

Tabela 3: Ocorrência dos itens alimentares nos estômagos das espécies estudadas. NT= Número total de espécies coletadas em cada período seco e chuvoso;
ALO= Alóctone; AUT= Autóctone; NA= Número de estômagos analisados; HYM= Hymenoptera; P= Peixes; COL= Coleoptera; ODO= Odonata; DIP= Diptera(Fase
larval aquática); ONI= Origem não identificada; RI= Restos de insetos; RV= Restos de vegetais.

ALO AUT ONI


Ordens, famílias e espécies NT NA HYM P COL ODO DIP RI RV
Ordem Characiformes
Família Crenuchidae
Crenuchus spilurus (Günther, 1863) 11 6 2 1 3
Família Lebiasinidae
Copella nigrofasciata (Meinken, 1952) 70 59 5 1 1 2 47 3
Copella collolepis (Regan, 1912) 7 5 2 1 1 1
Ordem Characidae
Hyphessobrycon melazonatus (Durbin, 1908) 11 10 1 1 1 6 1
Bryconops cf. caudomaculatus (Günther,
1864) 3 2 2
Família Erythrinidae
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) 1 1
Família Curimatidae
Psectrogaster amazonica (Eigenmann, 1889) 1 1 1
Ordem Perciformes
Família Cichlidae
Apistogramma agassizii ( Steindachner, 1875) 20 14 1 1 12

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

Crenicichla inpa (Ploeg, 1991) 2 2 2


Aequidens pallidus (Heckel, 1840) 4 4 2 1 1 1
Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) 61 39 1 1 35
Ordem Cyprinodontiformes
Família Rivulidae
Anablepsoides micropus (Steindachner,
1863) 3 3 2 1
Ordem Gymnotiformes
Família Gymnotidae
Gymnotus coropinae (Hoedeman, 1962) 1 0
Ordem Synbranchiformes
Família Synbranchidae
Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795) 1 0
Total 196 146 13 1 3 4 4 112 7

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Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

CONCLUSÃO

Com os resultados apresentados neste trabalho podemos concluir que as comunidades de peixes dos
igarapés estudados apresentaram uma relativa dependência da floresta ripária, já que as espécies
capturadas neste ambiente alimentam-se basicamente de material de origem alóctone (insetos, frutos
e sementes e material vegetal). Os períodos seco e chuvoso não influenciam diretamente a
alimentação de espécies de peixes de igarapés de terra firme. As guildas tróficas são: onívoras e
insetívoras.

377
441
Estrutura Trófica De Peixes Em Igarapés Urbanos Da Cidade De Manaus, Amazonas - Brasil

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380
444
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 37
10.37423/200601470

ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA PRINCIPAL REGIÃO


PESQUEIRA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Severino Adriano Oliveira Lima

Ana Júlia Rufino Freitas

Carlos Henrique Sales Mota


Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

Resumo: O município de Itapissuma é conhecido por ter como principal fonte de renda a atividade
pesqueira, sendo que aproximadamente 70% da população estão ligadas à pesca de forma direta ou
indireta. Portando o objetivo do trabalho visa analisar a pesca no município de Itapissuma, levando em
consideração as principais categorias de pescado desembarcadas, as artes de pesca que atuam nesta
região e uma análise econômica, apresentado como destaque espécies de pequenos pelágicos
situados nesta localidade, para gerar respostas que contribuam para o melhoramento das amostras
empregadas na geração de dados e na gestão sustentável dos recursos pesqueiros deste local. Os dados
analisados foram extraídos dos relatórios publicados nos boletins do Centro de Pesquisa e Gestão de
Recursos Pesqueiros do Nordeste (IBAMA/CEPENE, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006).
Foram realizadas análises estatísticas descritivas das capturas estratificadas pelos fatores ano, mês e
tipo de apetrecho utilizado na pesca. Testes não paramétricos de Kruskal-Wallis foram utilizados para
identificar possíveis diferenças (α = 0,05) entre as capturas observadas nos diversos níveis de
determinado fator com testes posteriores de comparação múltipla nos casos em que indicou a
presença de diferenças importantes. O município contribuiu com uma média de 27,8% do total
desembarcado entre os anos de 1999 a 2006 em Pernambuco. A menor contribuição foi no ano de
2001 e a maior contribuição aconteceu no ano de 2006 com mais de 35% do total desembarcado. A
grande captura efetuada, deve-se quase que inteiramente ao Canal de Santa Cruz, sendo este local o
maior complexo estuarino do estado de Pernambuco. O desembarque no município foi crescente e em
maior parte composto por peixes, devido a maior parte das pescarias concentrarem-se em zona
estuarina, onde os peixes são os principais integrantes da macrofauna. Agregado todos os meses dos
anos estudados em Itapissuma não ocorreu diferença estatística nos desembarques ( ). O
desembarque mensal em peso é bastante semelhante, contudo, não se tem uma ideia do
comportamento das diferentes categorias de pescado que são típicas desta localidade e qual o
comportamento sazonal com dominância específica de uma categoria ou com sobreposição. As
categorias específicas que mais contribuíram em renda para o município foram: sururu, camarões,
manjuba e siri. A manjuba apresentou uma contribuição percentual na renda da atividade pesqueira
do município maior do que 10% na maioria dos anos avaliados. Apesar da sua contribuição percentual
de renda não refletir o grande desembarque desta categoria pelo seu baixo preço de compra, as
capturas substanciais proporcionam uma quantia considerável e de extrema importância para os
pescadores da localidade. A pesca em Itapissuma para os anos analisados foi inteiramente artesanal,
sendo o município e talvez ainda seja o mais representativo em capturas para o estado de Pernambuco,
com destaque para a manjuba que é um recurso pesqueiro importante socialmente e economicamente

381
446
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

para o município, pois muitas famílias a utilizam como fonte de renda e de subsistência, contudo o
monitoramento deficitário deste pode ter gerado confusões de identificação da espécie o que poderia
comprometer os estoques em avaliações futuras.

Palavras-chave: Pesca artesanal; Opisthonema oglinum; Recurso pesqueiro.

382
447
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

1. INTRODUÇÃO

O município de Itapissuma é uma comunidade conhecida por ter como principal fonte de renda a
atividade pesqueira, sendo que aproximadamente 70% da população deste município estão ligadas à
pesca de forma direta ou indireta (MOURA, 2009). A atividade pesqueira nesta localidade tem grande
importância econômica e social, sendo caracterizada por ser hereditária, onde os pescadores de
Itapissuma demonstram um conhecimento acurado sobre a biodiversidade do ambiente estuário-
manguezal e a importância destes recursos naturais para a produção pesqueira, refletindo uma
bagagem cultural que é transmitida aos descendentes (CARNEIRO et al., 2008). A pescaria em
Itapissuma se destaca em relação aos outros municípios da região, por ser o local de maior
desembarque de pescado de todo litoral de Pernambuco. A atividade pesqueira de Itapissuma ocorre
quase que inteiramente no complexo estuarino Canal de Santa Cruz (CSC).
O CSC é o maior complexo estuarino do estado de Pernambuco, com área de aproximadamente 824
km² com um canal principal que se estende por 22 km (MOURA, 2009). A região apresenta grande
diversidade de fauna e flora (VASCONCELOS FILHO et al, 1994). A grande abundância de recursos
pesqueiros no CSC sustenta diversas pescarias, como as realizadas com rede de emalhe para captura
de pequenos peixes pelágicos (ANDRADE e SILVA, 2013). A pesca de pequenos pelágicos tem grande
importância econômica e social não só para o município de Itapissuma, mas para toda a região. Apesar
da referência, as pescarias realizadas no CSC não têm sido acompanhadas de forma contínua. Os dados
existentes se restringem a tabelas e boletins estatísticos publicados pelo IBAMA (IBAMA/CEPENE,
2006). Para que as informações dadas pelo IBAMA possam ser realizadas para diagnósticos das
pescarias com fins de auxílio no processo de tomada de decisões para contribuir para a gestão dos
recursos disponíveis é necessário que elas sejam devidamente analisadas.
Portando o objetivo do trabalho visa analisar a pesca no município de Itapissuma, levando em
consideração as principais categorias de pescado desembarcadas, as artes de pesca que atuam nesta
região e uma análise econômica, apresentado como destaque espécies de pequenos pelágicos
situados nesta localidade, para gerar respostas que contribuam para o melhoramento das amostras
empregadas na geração de dados e na gestão sustentável dos recursos pesqueiros deste local.

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448
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

2- MATERIAL E MÉTODOS

DADOS E ÁREA DE ESTUDO

Os dados analisados foram extraídos dos relatórios publicados nos boletins do Centro de Pesquisa e
Gestão de Recursos Pesqueiros do Nordeste (IBAMA/CEPENE, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004,
2005 e 2006). Os dados disponíveis nesses boletins foram obtidos por amostragens baseadas no
sistema de coleta do Programa ESTATPESCA, descrito em Ibama (1995).
O município de Itapissuma, localizado na Zona da Mata úmida de Pernambuco fica a 40,5 km do centro
do Recife, fazendo parte da Região Metropolitana da capital do estado. O local é limitado ao norte
pelo município de Goiana, ao sul e a oeste pelo município de Igarassu e a leste pelo município de
Itamaracá.

ANÁLISE DOS DADOS

Análises estatísticas descritivas das capturas estratificadas pelos fatores ano, mês e tipo de apetrecho
utilizado na pesca. Estas descrições são baseadas em cálculos de sumários básicos de medidas de
centro e de dispersão e em inspeções de gráficos explanatórios. Testes não paramétricos de Kruskal-
Wallis foram utilizados para identificar possíveis diferenças (α = 0,05) entre as capturas observadas
nos diversos níveis de determinado fator (e.g mês) com testes posteriores de comparação múltipla
nos casos em que indicou a presença de diferenças importantes.
A riqueza numérica atrelada a diversidade levou em consideração o número de espécies ou categorias
encontradas no local ao longo de um ano. Também foi realizada uma análise econômica com base nos
preços que constam no relatório do Ibama (2008). O preço estimado para 2006 que é o último da série
de dados foi a base do cálculo.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

O município de Itapissuma contribuiu com uma média de 27,8% do total desembarcado entre os anos
de 1999 a 2006 em Pernambuco (Figura 1). A menor contribuição foi no ano de 2001 e a maior
contribuição aconteceu no ano de 2006 com mais de 35% do total desembarcado. A grande captura
efetuada no município de Itapissuma, deve-se quase que inteiramente ao Canal de Santa Cruz, sendo
este local o maior complexo estuarino do estado de Pernambuco e fonte de grande biodiversidade
(MOURA, 2009).

384
449
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

Figura 1. Desembarque percentual do município de Itapissuma em relação aos outros municípios do


litoral de Pernambuco.

A pesca no município de Itapissuma foi crescente ao longo dos anos estudados, apresentando um
grande aumento a partir de 2004 com máximo no ano de 2006 de 5148,4 t e mínimo no de 2001
(Figura 2A). O grupo composto por peixes foram os mais desembarcados em todos os anos analisados,
com exceção de 2005 (Figura 2B). O grande desembarque no ano de 2006 no município de Itapissuma
foi um reflexo do aumento das capturas dos crustáceos e moluscos. O grupo dos peixes apresentou
desembarques maiores, pois a pescaria no município de Itapissuma ocorre em zona estuarina, em que
os peixes constituem o componente dominante da macrofauna (MARTINO e ABLE, 2003). A exceção
para o ano de 2005, em que os desembarques de crustáceos e moluscos dominaram, dificilmente seria
um reflexo das capturas e abundâncias no local, mas possivelmente estaria ligado a subestimativas
desses dois grupos, principalmente as espécies capturadas manualmente (LIMA e ANDRADE, 2018a).

Figura 2. Desembarque em toneladas da atividade pesqueira no município de Itapissuma nos oito anos
estudados (A) e desembarque em toneladas por grupo no município de Itapissuma nos oito anos
estudados (B).
Agregado todos os meses dos anos estudados em Itapissuma não ocorreu diferença estatística nos
desembarques ( ) (Figura 3). O desembarque mensal em peso de Itapissuma é bastante semelhante,
contudo, não se tem uma ideia do comportamento das diferentes categorias de pescado que são

385
450
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

típicas desta localidade e como elas se comportam sazonalmente com dominância específica de uma
categoria ou com sobreposição.

Figura 3. Diagramas de caixa com as representações da mediana, dos quartis e de valores extremos
incluindo discrepantes (círculos abertos) dos desembarques mensais realizados nos oito anos
amostrados.
No total foram identificadas 42 categorias específicas, excluindo-se a categoria “outros”, sendo 36 de
peixes, três de moluscos e três de crustáceos (Tabela 1). O coeficiente de variação foi menor na captura
de camarões que é um recurso de alto valor comercial, sendo no geral uns dos sistemas com renda
mais alta em Pernambuco, entretanto um dos mais danosos ao meio ambiente (LESSA et al., 2011).

As categorias específicas mais desembarcadas que foram respectivamente, manjuba, ostra, siri e
sururu têm como características serem organismos tipicamente de base de cadeia. Os pequenos
pelágicos registrados no CSC, no qual se incluiu a manjuba, utilizam este local como berçário. A
categoria específica manjuba apresenta um grande problema, pois já foi classificada como sendo a
espécie Anchoa filifera (CARNEIRO et al., 2008) e de acordo com o IBAMA (2008) seriam apenas
espécies da família Engraulidae, porém sabe-se que a espécie da família Clupeidae Opisthonema
oglinum que também utiliza o CSC como berçário é o principal componente das pescarias de redes de
emalhar do local (ANDRADE e SILVA, 2013; LIMA e ANDRADE 2018b), assim os indivíduos juvenis dessa
espécie que são realmente enquadrados na categoria específica manjuba (Lessa et al., 2008).

Nas pescarias artesanais em todo Brasil, predomina o livre acesso, o que tem levado em Pernambuco,
ao crescimento desordenado do setor, caracterizado pela deficiência de dados estatísticos e/ou
científicos (LESSA et al., 2011). Estas deficiências poderiam estar ocasionando diversos problemas,
entre eles os correlacionados aos nomes vulgares das diferentes espécies que possuem ampla

386
451
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

distribuição no Brasil o que dificulta, pois quanto maior a área de abrangência geográfica maior a
diversidade de nomes vulgares para uma mesma espécie (SZPILMAN, 2000).

O número de categorias específicas encontradas foi maior no ano de 2002 com 28 e o menor aconteceu
no ano de 2005 com 19. Os anos de maiores produções pesqueira em Itapissuma não foram reflexo da
diversidade de categorias encontradas, embora ocorra uma grande dificuldade de analisar a evolução
da diversidade pesqueira neste munícipio e consequentemente o entendimento da sua fauna aquática,
contudo a diversidade no local é maior do que as apresentadas neste trabalho, pois já foram listadas
145 espécies de peixes (VASCONCELOS FILHO e OLIVEIRA, 1999), sem considerar moluscos e
crustáceos. As categorias da ictiofauna capturada foram as mais subestimadas nos boletins por serem
compostas na maioria das vezes por duas ou mais espécies.

Tabela 1. Principais categorias desembarcadas no município de Itapissuma, com média, coeficientes


de variação (c.v.) nos oito anos amostrados e a frequência de ocorrência anual (FR.)

Categoria Taxón 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média c.v. FR. (%)
Peixes
Hyporhamphus
sp/Strongylura
Agulha marina 2,5 1,6 0 0,2 0 1,6 0 0,4 0,79 1,15 62,5
Albacora 0 0 0 0 0 0 0,4 0 0,05 2,65 12,5
Arabaiana Seriola spp. 0 0 0 0 0 0 0,4 0,2 0,08 1,86 25
Aracimbora Caranx latus 0 0 0 0 0 0 0,1 0 0,01 2,65 12,5
Lutjanus
Ariaco synagris 0,2 0 0,9 0 0 0,1 1,3 0,7 0,4 1,17 62,5
Arraias 15,7 13,5 4,5 6,1 26,5 16,6 0,9 12,5 12,04 0,63 100
Bagres Bagre spp. 5 1,5 0 1,2 0 1,1 0 0,4 1,15 1,36 62,5
Bicuda Sphyraena tome 0,1 0 0 0 0 0 0 0 0,01 2,65 12,5
Haemulon
Biquara plumieri 0 0 0 0 0 0 1 0,5 0,19 1,86 25
Larimus
Boca torta breviceps 143,2 138,9 0 0 0 0 0 0 35,26 1,73 25
Bonito Auxis thazard 0,1 0 0 0 0 0 0 0,9 0,13 2,36 25
Budião Sparisoma spp. 11 15,8 0,4 4,2 3,1 19,2 0,1 8,2 7,75 0,86 100

Cações 0 0,1 0 0,2 0 0,2 0 0 0,06 1,37 37,5


Haemulon
Cambuba flavolineatum 5,4 0 6,8 18,2 11,1 7,9 3,1 4,7 7,15 0,73 87,5
Centropomus
Camurim spp. 6,2 6,4 6,4 15,2 6,3 20,9 1,5 9,4 9,04 0,64 100
Cangulo Balistes spp. 0,1 0 0,4 0,6 0,1 0 0 0 0,15 1,41 50
Diapterus
Carapeba auratus 0 0,1 0,9 0 0 2,9 0 0,9 0,6 1,58 50
Scomberomurus
Cavala cavala 0,1 0,4 0 0 0 0 0 0 0,06 2,11 25
Cioba Lutjanus analis 0 0 1,9 0,6 0 0 0 0 0,31 2,02 25
Coryphaena
Dourado hippurs 0 0 0 1 0 0 0 0 0,13 2,65 12,5
Trichiurus
Espada lepturus 25 22,2 21,1 28,5 0,6 0 0 0 12,18 1 62,5

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452
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

Galo Selene spp. 0,2 0 2,4 6,9 1,4 0 0 0 1,36 1,65 50


Garajuba Caranx crysos 0 0 0,1 0 0 0 0 0 0,01 2,65 12,5
Ocyurus
Guaiuba chrysurus 0 1,2 0 0 0 0 0 0 0,15 2,65 12,5
Manjuba Engraulidae 339,6 364,3 266,2 748,8 922,1 463,6 63,7 1713,2 610,19 0,8 100
Pampo Trachinotus spp 0 0 0 0 0 0 1,1 0,6 0,21 1,83 25
Lutjanus
Pargo pupureus 0,2 0 0 0 0 0 0 0 0,03 2,65 12,5
Pescada Cynoscion spp. 6 7,6 4,9 7,9 1,9 1,8 0 0,6 3,84 0,77 87,5
Rabo de fogo 0 0 0 131,1 242 258,4 33,4 142,1 100,88 1,01 62,5
Sapuruna 0,1 0 0 0,6 1,5 0 0 0 0,28 1,82 37,5
Pseudupeneus
Saramunete maculatus 0 0 0 0,2 0 0 0 0 0,03 2,65 12,5
Sardinha Clupeidae 3,1 0 11,1 38,9 5,8 7 13,3 23,3 12,81 0,93 87,5
Sauna Mugil spp. 44,9 76,4 66 96,3 120,4 0 232,4 209,8 105,78 0,71 87,5
Serra Scombridae 0,2 0 1,5 0,6 0,4 0 0 0 0,34 1,44 50
Tainha Mugil spp. 121,3 31,1 19,1 66,8 13,6 197,3 113,2 78,2 80,08 0,73 100
Xaréu Caranz hippos 3,4 4,6 0 0,2 1 19,1 0 8,2 4,56 1,34 75
Crustáceos
Camarões Penaeidae 174,6 127 70,8 93 78,9 99,9 224,8 189,1 132,26 0,4 100
Caranguejo Callinectes spp. 0 0,1 0 3,8 0,3 0 0 0 0,53 2,37 37,5
Siri Callinectes spp. 0 12,8 1,9 6,3 21,8 82,2 1123,7 805 256,71 1,62 87,5
Moluscos
Marisco Veranidae 0 0 1,2 295,7 14,8 227,2 0 227,2 95,76 1,27 62,5
Crassostrea
Ostra spp. 698,6 42,5 0,8 5,4 25,5 371,9 658,3 696,7 312,46 0,99 100
Sururu Mytilus falcata 0,5 44,4 66,5 6,5 13,9 323,6 736,9 619,3 226,45 1,24 100
Outros 136,7 162,5 139,6 200 97,7 211,2 191,3 396,3 191,91 0,44 100

Em média 92,8% da pesca de manjuba no estado de Pernambuco aconteceu no município de


Itapissuma, sendo o ano de maior contribuição o de 2002 (Figura 3), ou seja, o comportamento sazonal
desta categoria em Itapissuma é um claro reflexo da pescaria realizada em Pernambuco.

Figura 3. Desembarque percentual da categoria específica manjuba no município de Itapissuma em


relação aos outros municípios do litoral de Pernambuco.

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Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

Durante os oito anos estudados da pescaria da manjuba, a captura mensal não apresentou diferença
significativa ( p  0,98 ) em seu desembarque (Figura 4). Apesar dos maiores picos na captura terem
ocorrido nos meses de fevereiro, março e abril do ano de 2006, o desembarque da manjuba teve um
melhor pico constante nos meses de 2002 e 2003 e o pior nos meses de 2005.

Figura 4. Desembarque da categoria específica manjuba no litoral de Pernambuco ao longo dos oito
anos amostrados

Foram utilizados nove apetrechos nas pescarias no município de Itapissuma no período de 1999 a 2006
(Tabela 2). As produções dos meios de captura apresentaram diferença significativa ( p  1,07  10 8 ),
sendo que os apetrechos mangote, manual e rede de espera não apresentam diferença estatística
entre si, mas foram distintos em relação aos demais. Os apetrechos utilizados na pesca de pequenos
pelágicos são representados pelo mangote, rede de espera, sauneira e a tanheira.
O sistema pesqueiro de Itapissuma é atuante quase que totalmente em ambiente estuarino. No
estado de Pernambuco foram identificados 17 sistemas de pesca (LESSA et al., 2011), sendo que em
Itapissuma foram achados oito similares aos descritos (Mangote, Tapagem, Baiteiras, Linha, Camarão,
Caranguejo, Siri e Marisqueiras), entretanto o ambiente no qual ocorrem às capturas nos sistemas
Baiteras, Linha e Camarão distinguem do de Lessa et al. (2011) que citam estes sistemas como sendo
de ambiente costeiro.

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454
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

Tabela 2. Desembarques dos apetrechos de pesca utilizados no município de Itapissuma, com


médias e coeficientes de variação (c.v.) nos oito anos amostrados
Apetrecho 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média c.v.
Mangote 699,9 712,8 193,7 835,4 1118,5 812 296,7 2042,9 838,99 0,63
Manual 699,1 99,8 70,4 300,3 61,2 840,1 2518,9 2121 838,85 1,07
Rede de espera 283,8 199,4 421,7 624,9 388,1 497,1 582,8 669,6 458,42 0,34
Linha de vara 0 0 0 4,7 20,1 82,2 1125,2 804,6 254,60 1,64
Linhas 20,9 20,6 9,1 6,3 26,5 19,4 2,4 15,4 15,07 0,52
Curral 40,5 43,7 0 0 0 0 0 0 10,52 1,73
Sauneira 0 0 0 0 0 0 0 46 5,75 2,64
Tanheira 0 0 0 0 0 0 0 26,4 3,30 2,64
Rede de cerco 0 0 0 0,2 0 0 0 0 0,02 2,64

O crescimento dos desembarques a partir de 2004, acarreta também em crescimento na arrecadação


do município de Itapissuma (Figura 5A). Os peixes apresentaram uma maior contribuição para o total
desembarcado do ano de 1999 a 2004, já nos anos de 2005 e 2006 com o acréscimo da captura de
moluscos e crustáceos, estas duas categorias passaram a ter uma contribuição maior que a de peixes,
gerando mais divisas para o município de Itapissuma (Figura 5B).

Figura 5. Rendimento em milhões de reais da atividade pesqueira no município de Itapissuma nos oito
anos estudados (A) e rendimento em milhões de reais por grupo no município de Itapissuma nos oito
anos estudados (B)

As categorias específicas que mais contribuíram em renda para o município de Itapissuma foram:
sururu, camarões, manjuba e siri (Tabela 3). A pesca destinada ao camarão neste município também
foi um grande destaque.

390
455
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

Tabela 3. As dez principais categorias específicas em termos de rendimento no município de


Itapissuma, com seu valor em Kg de acordo com o IBAMA (2008), média de rendimento dos oito anos
amostrados, valores máximos e mínimos

Categoria Preço Média Máximo Mínimo


Sururu R$ 6,00 R$ 1.358.700,00 R$ 4.421.400,00 R$ 3.000,00
Camarões R$ 7,50 R$ 991.968,75 R$ 1.686.000,00 R$ 531.000,00
Manjuba R$ 1,00 R$ 610.187,50 R$ 1.713.200,00 R$ 63.700,00
Siri R$ 2,00 R$ 513.425,00 R$ 2.247.400,00 R$ 0,00
Tainha R$ 4,70 R$ 376.352,50 R$ 927.310,00 R$ 63.920,00
Rabo de fogo R$ 3,00 R$ 302.625,00 R$ 775.200,00 R$ 0,00
Sauna R$ 2,76 R$ 291.939,00 R$ 641.424,00 R$ 0,00
Ostra R$ 0,36 R$ 112.486,50 R$ 251.496,00 R$ 288,00
Camurim R$ 8,29 R$ 74.920,88 R$ 173.261,00 R$ 12.435,00
Boca torta R$ 1,91 R$ 67.351,38 R$ 273.512,00 R$ 0,00

A categoria manjuba apresentou uma contribuição percentual na renda da atividade pesqueira do


município de Itapissuma, maior do que 10% na maioria dos anos avaliados Figura 6. Apesar da sua
contribuição percentual em termos de renda não refletir o grande desembarque desta categoria por
causa do seu baixo preço de compra, as capturas em grandes quantidades proporcionam uma quantia
considerável e de extrema importância para os pescadores de Itapissuma.

Figura 6. Rendimento percentual da categoria específica manjuba no município de Itapissuma em


relação as outras categorias desembarcadas nos oito anos estudados

4- CONCLUSÃO

A pesca no município de Itapissuma para os anos analisados foi inteiramente artesanal, sendo que
este município foi e talvez ainda seja o mais representativo em capturas para o estado de Pernambuco,
com destaque para categoria manjuba que corresponde a um recurso pesqueiro importante
socialmente e economicamente para o município de Itapissuma, pois muitas famílias utilizam deste
recurso como fonte de renda e de subsistência, contudo o monitoramento deficitário deste pode ter

391
456
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

gerado confusões de identificação da espécie o que poderia comprometer os estoques em avaliações


futuras.

392
457
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

5- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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393
458
Análise Da Evolução Da Principal Região Pesqueira Do Estado De Pernambuco

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394
459
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 38
10.37423/200601475

EUGENOL COMO ANESTÉSICO PARA A ESPÉCIE


ACARA PRETO (CICHLASOMA BIMACULATUM)

Luis Farias

Carlos Riedel

Erivania Teixeira
Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

Resumo: Avaliou-se o do óleo de cravo em Acará-preto (Cichlasoma bimaculatum). Foram testadas as


concentrações de 10, 20, 30, 40 e 50 mg/L do anestésico, exposição individual para cada animal por
dosagem e cinco repetições para cada concentração. Foram realizados ensaios com exemplares de
Acará-preto para determinar a dose adequada de anestesia para diferentes procedimentos na
aquicultura, como a biometria, triagens, transportes, coleta de sangue; para analisar se baixas
concentrações do anestésico induzem a sedação; e se o comportamento e a sobrevivência dos peixes
são afetados pelo anestésico. O eugenol é um agente anestésico que apresenta baixo custo de
aquisição, baixa toxicidade que não representa riscos ao meio ambiente nem para os manipuladores
já que não representa risco aparente de intoxicação , assim, avaliou-se a eficiência anestésica do
eugenol, estimando-se a dose ideal, (através dos tempos para indução e recuperação anestésica), as
concentrações letais e o tempo de concentração letal. Os testes se basearam em banhos de imersão.
Os tempos de indução à anestesia e da recuperação foram registrados. Não ocorreram mortalidades
durante e 72 h após o experimento. As concentrações de 40 e 50 mg/L de óleo de cravo testadas,
induziram os acaras à anestesia profunda. A concentração de 10mg/L foi a menos eficiente em levar
os espécimes a um estado de anestesia mais adequado. A concentração de 50mg/L provocou em
alguns casos respostas adversas o que talvez possa ser atribuído a pureza do álcool utilizado.

Palavras-chave: Anestésico. Concentrações. Cichlassoma Bimachulatum. Eugenol.

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Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

1 INTRODUÇÃO

Adaptados exclusivamente ao meio aquático, os peixes compreendem cerca de 25.000 espécies, um


número maior do que o somatório de todas as espécies de vertebrados terrestres conhecidos (ZAHL
et al., 2009). Desse montante, apenas umas poucas espécies são viáveis para o cultivo utilizadas na
produção aquícola.
Atualmente, nos modernos sistemas de aquicultura intensiva e super intensiva, os peixes são criados
em altas densidades utilizando grandes quantidades de ração. Sob estas condições eleva-se a
concentração de amônia e produtos oriundos do metabolismo, provinda dos excrementos ou da
excreção de nitrogênio, concomitantemente com a diminuição dos níveis de oxigênio dissolvido
(WAGNER et al., 2009).
Desde a década de 1970, estudos envolvendo o estresse dos peixes têm sido frequentemente
realizados no campo da fisiologia (ROSS; ROSS, 2008). No ambiente, a resposta ao estresse pode ser
vista como a capacidade dos peixes mobilizarem as reservas de energia de forma a evitar ou vencer
imediatamente situações de ameaça (IWAMA et al., 1994). Em piscicultura intensiva, a situação de
estresse está constantemente presente e pode afetar o desempenho produtivo dos peixes,
prejudicando o estado de saúde e aumentado a suscetibilidade a doenças (VIDAL et al., 2008)
Com o objetivo de minimizar possíveis efeitos desfavoráveis que as técnicas para a obtenção de uma
alta produtividade possam provocar aos animais, recomenda-se o uso de produtos atenuantes ou
anestésicos, de forma que seu uso atenda as diversas questões éticas que visam a prevenir ou evitar
o sofrimento dos organismos aquáticos nas diferentes fases de manejo (HANAWA et al., 1998; ROSS,
2009).Vários estudos demonstram que o uso de produtos anestésicas reduz os efeitos do estresse e
por consequência a liberação de corticoides e lactato na corrente sanguínea durante o manejo,
atuando no eixo hipotálamo-hipofise-inter-renal e mitigando as respostas do organismo ao estresse
(IWAMA et al., 2010).
O anestésico selecionado deve atender a critérios como a eficácia do produto para a espécie em
questão, custo e disponibilidade de aquisição, segurança no uso tanto para quem administra quanto
para o organismo a ser administrado, possíveis efeitos colaterais, grau de toxicidade e se o mesmo
não será bio acumulado no organismo ministrado (IVERSEN et al., 2003). Por conseguinte, e deveras
necessário, identificar quais as concentrações e qual anestésico se adequa melhor a cada espécie e a
cada estágio de desenvolvimento da mesma, evitando assim alterações metabólicas que possam
ocasionar o óbito do organismo em questão ou interferir em seu crescimento e reprodução, além de

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Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

evitar superdosagens e o desperdício do produto usado minimizando os custos na produção


(ROUBACH; GOMES, 2001).
Muitas são as substâncias utilizadas como anestésicos para peixes. No Brasil não há legislação que
regulamente o uso de anestésicos em organismos aquáticos por isso são adotadas as diretrizes da
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no que concerne ao uso de
anestésicos sendo que a mesma libera o uso de MS222 em peixes destinados ao consumo
(CHATZIFOTIS et al., 2010).
O objetivo geral deste trabalho buscará obter informações sobre a eficácia do anestésico eugenol (óleo
de cravo) em Cichlasoma bimaculatum.
Os objetivos específicos buscarão analisar os tempos/estágios de indução e recuperação anestésicos
nas diferentes concentrações testadas, determinar a concentração ideal de eugenol para a espécie
selecionada e por fim, contribuir com informações do uso de eugenol como anestésico para peixes.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 LOCAL DO EXPERIMENTO E PERÍODO PRÉ-EXPERIMENTAL

Os peixes foram mantidos em período pré experimental em um sistema de recirculação, composto de


caixas d’agua com capacidade de 300 litros. Sistema o qual faz parte do LARAQUA – Laboratório de
reprodução de organismos aquáticos, localizado na fazenda escola da Universidade Estadual do
Maranhão campus Paulo VI em São Luís. Este estudo decorreu no âmbito de pesquisas realizadas com
a espécie Cichlassoma bimaculatum, utilizados em diferentes pesquisas no laboratório.
Os espécimes foram selecionados de acordo com seu peso e tamanho, para que todos os peixes a
passar pelo processo de indução tivessem tamanho e peso aproximados, resultando em um peso
médio de59,8g e um comprimento médio de 8,3cm. Os espécimes foram mantidos em um tanque
retangular de alvenaria com capacidade de 1000L, no período de uma semana antes do experimento
propriamente dito, sistema aberto com renovação parcial de água e bons parâmetros de aeração.
Durante este período os parâmetros físico-químicos da água foram aferidos sendo o pH da água em
torno de 6,0 considerado dentro da faixa ideal para a espécie, índices de oxigênio dissolvido e
salinidade também se mantiveram normais. Os peixes foram alimentados duas vezes por dia até
atingirem a saciedade, com ração comercial com fator proteico de 32%. Antes de cada etapa de
indução os grupos de peixes passaram por um período de jejum de 24hs.

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Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

2.2 ANESTÉSICO

O anestésico utilizado foi o eugenol, com grau de purificação de 99,9% da marca maquira tendo todas
as características esperadas da substancia observadas. As diferentes concentrações do anestésico
foram misturadas diretamente na água a qual os banhos de imersão foram preparados, o pH da
solução estoque manteve-se em 9,2 parâmetro medido com o Medidor Multiparâmentro HANNA – HI
9828. Devido a sua baixa solubilidade em água o eugenol teve de ser diluído em álcool numa razão de
1 para 10 ou seja, uma parte de eugenol para dez de álcool, o álcool utilizado nas dissoluções do
eugenol foi o álcool absoluto com pureza 100. Por precaução foram realizados testes preliminares,
para averiguar se por si só o álcool 100 induzia os espécimes a algum estágio anestésico, ou por si só
poderiam afetar de alguma forma o comportamento dos peixes.

2.3 INDUÇÃO E RECUPERAÇÃO DO ANESTÉSICO

Os espécimes de Cichlassoma bimaculatum, foram capturados do tanque de aclimatação com ajuda


de uma rede e mantidos em uma caixa de isopor de 15 litros com temperatura de 28C e aeração
provida por um soprador com capacidade de 5 L por minuto. Para testar cada concentração de
anestésico foram utilizados um peixe para cada concentração estudada. As induções foram realizadas
em Becker com capacidade de 1L, estes com aeração constante e temperatura média variando entre
27 a 30 graus celcius.
Cada indução individual foi observada e registrada, tendo o tempo sido cronometrado. Todos os
espécimes foram monitorados a cada segundo no decorrer da indução. O tempo definido máximo para
cada indução foi de 10 minutos de acordo com 30 parâmetros estabelecidos por ROSS e ROSS, sendo
a observação suspensa após este período. Após o peixe atingir o estágio máximo no intervalo de tempo
foi removido a mão e colocado em um aquário com capacidade de 10L com água limpa e aerada para
ser observada a recuperação. O tempo de recuperação também foi aferido e registrado ate o peixe
recuperar seus movimentos natatórios e operculares considerados normais.

2.4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Os resultados foram observados como médio de desvio padrão. Todas as concentrações foram
incluídas na análise de regressão de variância simples (one way ANOVA). A análise de recuperação foi
realizada entre a dose e o tempo de recuperação, de forma a determinar o fator de regressão (R2). A
distribuição normal dos resultados foi testada através do teste Kolmogorov-Smirnov’s e a
homegeneidade através do teste Levene’s. Para a comparação dos níveis de glicose foi efetuada uma

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464
Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

análise de variância simples (One Way ANOVA) com um nível de significância de α=0.05. Quando se
verificaram diferenças significativas utilizou-se o teste Duncan post hoc. Na comparação de glicose
entre os grupos foi utilizado uma análise não paramétrica, Kruskal-Wallis, uma vez que o pressuposto
de homogeneidade das variâncias não foi atingido após a aplicação. A análise estatística foi realizada
com o auxílio do software Bioestat de licença livre.

3 RESULTADOS

3.1 INDUÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ANESTESIA

Após a análise dos dados pode-se verificar que a concentração de 10mg/L falhou em 65,7% das vezes
em induzir os C. bimaculatum a o estágio V (anestesia profunda) no tempo estipulado de dez minutos.
Porém, esta mostra-se segura para outras práticas, visto que ainda assim ela provocou a maioria dos
estágios esperados no que se espera para o transporte, no entanto, concentrações mais baixas que
10mg/L podem ser mais indicadas nesses casos. Em alguns espécimes pode-se notar a reação a
estímulos quando na concentração de 10mg/L, já outros não apresentaram perda do equilíbrio.
As concentrações de 20mg/L e 30mg/L induziram os acaras a anestesia profunda, podendo-se verificar
de forma clara e bem definida a passagem por cada estágio de indução, chegando a anestesia profunda
em um tempo médio de oito minutos aproximadamente. Notou-se que em um tempo de até cinco
minutos em média 90% dos espécimes atingiram em sua maioria estágios de anestesia profunda, já
apresentando perda do equilíbrio e batimentos operculares lentos.
O estágio de anestesia cirúrgica só foi alcançado pelas concentrações de 40mg/L e 50mg/L, tendo sido
alcançado em um período anterior aos cinco minutos em média. Observou-se que os peixes
apresentaram um tanto quanto diferente em comparação com as induções anteriores, apresentando
espasmos e em alguns casos uma elevada produção de muco.
Na indução e recuperação de anestesia do eugenol dos acaras observou-se que o tempo de indução é
diretamente proporcional ao aumento na concentração do anestésico, ou seja, o tempo decresce a
medida que a concentração do anestésico aumenta. O tempo de recuperação, no entanto aumenta
quanto maior a concentração do anestésico eugenol, indicado por uma curva polinomial.
As concentrações de 20mg/L e 30mg/L mostraram-se seguras para os espécimes, sendo que estas
demonstraram um índice menor de reações como espasmos ou produção excessiva de muco ao
processo de indução e um período de recuperação moderadamente curto. Tendo estas concentrações

407
465
Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

causado perda de equilíbrio e ausência de respostas a estímulos externos. Houve parada dos
movimentos das barbatanas porem os movimentos operculares foram ainda perceptíveis.
O tempo de indução das concentrações de 40mg/L e 50mg/L, concentrações consideradas elevadas
para os acaras,são considerados similares e ambos considerados aceitáveis apesar das reações
adversas apresentadas. Os espasmos apresentados por alguns espécimes e a elevada produção de
muco não foram considerados fatores adversos ou de impedimento na eficácia do anestésico visto sua
ocorrência deu-se em casos isolados apenas.
A ação do óleo de cravo parece ser mais eficiente quando em medias concentrações, alcançando o
estádio de anestesia profunda em um período de tempo mais curto. Por outro lado, o tempo de
recuperação variou entre 6.37 e 8.18 minutos para as diferentes concentrações de óleo de cravo, ao
passo que para as baixas concentrações esse tempo foi menor, variando entre 3.77 e 6.78 minutos.
As concentrações de 40 mg/L e 50 mg/L de óleo de cravo utilizadas durante a biometria mostraram-
se eficazes, uma vez que induziram a anestesia profunda (atingindo o estágio de anestesia profunda
em 3 minutos e recuperando em 10 minutos) nos acaras preto os mesmos não exibiram qualquer
reação quando manipulados.

3.2 EFEITOS FISIOLÓGICOS DA EUGENOL

As amostras de sangue foram extraídas através de punção caudal totalizando cerca de sessenta
amostras, uma para cada espécime anestesiado mais dez para cada espécime do grupo controle e a
glicose foi aferida utilizando-se o medidor de glicemia accu-chek active. Na análise dos valores da
glicose verificou-se uma grande variabilidade dentro dos diferentes grupos de concentrações
utilizados. Sendo assim, os valores foram analisados através de um teste não paramétrico (teste
mediana) onde não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos. Contudo, o valor
médio da glicose no grupo de controle foi de 40 mg/mL.

4 DISCUSSÃO

O presente estudo demonstrou que o eugenol é eficaz como anestésico para o acara preto. Nas
concentrações mais recomendadas, o anestésico induz a anestesia cirúrgica em um intervalo de tempo
considerado seguro que seria por volta dos 5 minutos com recuperação na faixa dos 3 minutos o que
também é aceitável.Com estes estudos pode-se observar que as concentrações de anestésico e sua
eficácia é afetada diretamente pela temperatura, pelo peso do peixe mostrando que os efeitos variam

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466
Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

mesmo dentro da mesma espécie, o que demonstra a necessidade de estudos mais aprofundados para
assim determinar qual a concentração indicada no caso de novas espécies.
As pesquisas com óleo de cravo onde este é usado como anestésico (MYLONAS et al., 2005; WEBER et
al., 2006; GHANAWI et al., 2015), pode-se verificar que em relação a outros anestésicos as
concentrações de eugenol utilizadas são sempre em média 10 vezes menor, indicando o quanto o
eugenol é eficaz ou mesmo que este apresenta um mecanismo de ação mais apropriado e menos
agressivo. O fato do eugenol afetar diferentes receptores pode vir a explicar sua eficácia mesmo em
pequenas doses se comparado com outras substâncias anestésicas.
O tempo máximo indicado para a indução anestésica em peixes é em média 10 minutos, fato
observado visto que substâncias ou concentrações que excedam este período de tempo podem vir a
resultar em lesões aos espécimes anestesiados, seja pela baixa oxigenação e danos neurológicos, seja
pelo acúmulo da substancia em seu organismo. No entanto o anestésico deve proporcionar um tempo
de recuperação de até três minutos, sendo essa considerada uma recuperação rápida, o que é ideal
nesses casos, deve deixar baixos resíduos nos tecidos, não apresentar riscos para os utilizadores, assim
como ter um baixo custo e uma fácil aquisição e disponibilidade no mercado (WEBER et al., 2009;
SEREZLI et al., 2012).
Na pesquisa desenvolvida as concentrações de 40mg/L e 50mg/L atuaram dentro do tempo máximo
aceitável, uma vez que anestesia profunda dos acaras foi atingida em menos de 10 minutos. Contudo
as concentrações de 10mg/L e 20mg/L demonstração menos efeitos adversos e uma transição mais
sutil entre as etapas o que indica estas concentrações para o transporte. Seguindo este critério as
concentrações mais baixas produzem um efeito de letargia nos acaras o que por sua vez geraria uma
menor taxa de estresse em um eventual transporte, contudo a prolongada exposição ao anestésico,
mesmo em baixas concentrações, deve ser estudada e seus efeitos observados no médio e longo
prazo.
A indução de anestesia, o tempo de recuperação e as concentrações dos anestésicos (óleo de cravo)
necessários para atingir os diferentes estágios, em acara preto, exibiram algumas similaridades e
disparidades em relação a outras espécies de peixes induzidas com o mesmo anestésico. Para o
eugenol, a indução de anestesia resultou numa relação exponencial negativa entre a concentração e
o tempo de indução, ao passo que o tempo de recuperação seguiu uma função polinomial onde as
concentrações mais altas resultam no aumento do tempo de recuperação.
O eugenol foi eficaz com concentrações 10 vezes menor do que o observado em outros anestésicos.
Esta é uma das maiores vantagens observadas no óleo de cravo, uma vez que isso o torna mais barato

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Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

para a aquicultura e minimiza a contaminação ao meio ambiente visto que o eugenol trata-se de um
composto vegetal, o que por sua vez espera-se que venha a garantir sua decomposição de forma mais
rápida em relação a substancias sintéticas (SOTO; BURHANUDDIN, 1995; MYLONAS et al., 2005).
Embora existam benefícios no uso de anestesia durante as rotinas práticas em aquicultura, os
anestésicos também podem causar respostas negativas de stress (IWAMA et al., 1989; ORTUÑO;
ESTEBAN; MESEGUER, 2002; ROSS; ROSS, 2008). Para procedimentos de rotina, a sedação (sem perda
de equilíbrio) (i.e. 100 mg/L de eugenol de acordo com Shaluei et al., (2012) ressaltando-se que os
valores e concentrações mudam de acordo com a espécie, é mais aconselhada do que a anestesia
profunda, sendo utilizadas doses menores de anestésico, poupando o ambiente e os custos. Os
espécimes de acara preto apresentaram sinais de estresse quando submetidos a dosagens mais altas
que as estudadas, comportamento errático e irrequieto bem como movimentos bruscos, quando são
expostos a grandes doses de anestesia, comparado com as situações em que não se usa anestesia,
sugerindo um aparente efeito de stress ao próprio anestésico.

CONCLUSÕES

A partir desta pesquisa pode concluir-se que o eugenol pode ser usado como anestésico em acara
preto. As concentrações mais adequadas para atingir a anestesia profunda à temperatura de 28ºC são
de 40 mg/L para o eugenol sendo que as concentrações 10 mg/L e 20mg/L para o óleo de cravo
mostraram-se mais indicadas atividades de manejo. Estas concentrações são também aceitáveis para
a espécie Cichlasoma bimaculatum.
A concentração adequada de anestésico para a sedação deve reduzir a atividade do peixe, facilitando
os procedimentos de manuseamento e permitir a rápida recuperação, acelerando assim os
procedimentos de rotina. Assim, para induzir a sedação de acara preto durante um transporte (60-120
minutos) ou para procedimentos de triagem podem ser utilizados 10 mg/L ou 20mg/L de eugenol.
Todos os paramentos testados levaram em consideração condições ambientais normais sendo a
temperatura ambiente e da agua na qual encontravam-se os espécimes na faixa de 27 a 30 graus
Celsius.

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468
Eugenol Como Anestésico Para A Espécie Acara Preto (Cichlasoma Bimaculatum)

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412
470
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 39
10.37423/200601476

“PERMEABILIDADE DE DIFERENTES SOLOS EM


TANQUES DE PISCICULTURA DO IFRR - CAMPUS
- AMAJARI, RR.”

CLÉTINA RODRIGUES
Permeabilidade De Diferentes Solos Em Tanques De Piscicultura Do Ifrr - Campus - Amajari, RR

Resumo: A Região Norte tem uma vocação natural para a aquicultura, devido à abundância de água
doce e diversidade aquática. O município do Amajari, localizado no Estado de Roraima, possui fatores
favoráveis para a produção da piscicultura na região, principalmente o clima. Contudo, uma das
maiores preocupações dos piscicultores do município, especialmente os pequenos, é manter os níveis
de água dos tanques semi-escavados no período seco. O objetivo do estudo foi avaliar a
permeabilidade do solo para seleção de áreas para a construção de viveiros semi-escavados. O
trabalho foi conduzido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima - Campus
Amajari (IFRR-CAM). Foram realizadas duas coletas, em setembro de 2018 e abril de 2019, uma
deformada, nos perfis de solo (Latossolo Amarelo - LA e Gleissolo Háplico - GX) localizados nas áreas
próximos aos viveiros, a fim de caracterizar a granulometria do solo, e uma indeformada, para análise
de macro e microporosidade, volume total de poros (VTP), e com o auxílio do infiltômetro de anel foi
verificada a velocidade de infiltração básica (VIB) dos viveiros ‘124’ (GX) e Experimental (LA). A partir
dos resultados das análises realizadas, verificou-se que solo do viveiro ‘124’ apresenta VIB média (5,98
mm/h), enquanto o solo do viveiro ‘Experimental’ (LA) VIB alta (26,64 mm/h). Ambos os solos possuem
granulometria apropriada para a construção dos tanques, contudo, é importante considerar possíveis
métodos de obstrução dos poros e ou compactação que reduzam a permeabilidade observada.

Palavras-chaves: Aquicultura. Porosidade. Água.

415
472
Permeabilidade De Diferentes Solos Em Tanques De Piscicultura Do Ifrr - Campus - Amajari, RR

1. INTRODUÇÃO

A atividade da aquicultura, definida como o cultivo de organismos aquáticos, é um dos setores que
mais cresce no mundo (FAO, 2018). Até pouco tempo atrás, era vista como uma atividade
desnecessária devido à abundância de pescado existente.
A Região Norte tem uma vocação natural forte para a aquicultura, devido à abundância de água doce
e diversidade aquática da fauna, que facilita a coleção de matrizes selvagens, para o cultivo dos peixes,
e para a indústria de peixes ornamentais (ROUBACH,2003). A atividade cresceu e vem se consolidando
em todos os estados da região. O Estado de Roraima, possui fatores de suma importância para a
produção da piscicultura na região, principalmente o clima que favorece ao bom desenvolvimento do
pescado e o município do Amajari, configura-se como uma das regiões de maior potencial no Estado
Todavia, uma das dificuldades que mais preocupa os piscicultores do município, especialmente os
pequenos produtores, é manter a produção no período seco, pois há problemas crônicos ou sazonais
de abastecimento de água, oriundos da inadequada provisão da demanda hídrica, (ONO; KUBITZA,
2005).
Diante das restrições hídricas, muitos empreendimentos devem rever suas estratégias e metas de
produção, além de investir na contratação de profissionais, na infraestrutura, na disponibilidade de
água e na análise de solo, que são imprescindíveis para o sucesso de uma piscicultura.
Variáveis do solo devem ser estudadas, como instrumento para minimizar essas perdas de água,
favorecendo o uso racional desses recursos naturais (SILVA, 2009).
Sabendo-se que o custo de construção depende das características da área (topografia, tipo de solo,
cobertura vegetal e necessidade de drenagem), do design e da estratégia de construções e instalações,
de fatores climáticos, dentre outros, para minimizar esses custos é necessário estudo do ambiente,
adequado planejamento das ações e das etapas de implantação do empreendimento (ONO; KUBITZA,
2002).
Visando maior compreensão das características dos solos, onde estão implantados a maioria dos
projetos de psicultura do Amajari, objetivou-se avaliar a permeabilidade e característica física de dois
viveiros semi-escavados no IFRR, Campus – Amajári, RR. Assim, possibilitando maiores informações
aos produtores de pescado da Região.

416
473
Permeabilidade De Diferentes Solos Em Tanques De Piscicultura Do Ifrr - Campus - Amajari, RR

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar a permeabilidade do solo para seleção de áreas para a construção de viveiros semi-escavados.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Determinar a composição granulométrica do solo nos locais onde estão instalados os viveiros
semi -escavados;
• Avaliar Velocidade de Infiltração Básica - VIB
• Verificar a porosidade do solo em um viveiro semi-escavado e um viveiro experimental.

3.REVISÃO DE LITERATURA

3.1 SELEÇÃO DE ÁREA PARA CONSTRUÇÃO AQUÍCOLAS

A piscicultura assume diversas formas: intensiva, semi-intensiva e extensiva, até mesmo superficial
destinada ao consumo próprio do produtor rural e sua família. Os viveiros podem apresentar várias
formas que irão depender de sua utilização dentro dos diversos sistemas de cultivo, como maturação
para reprodução, larvicultura, alevinagem, pós-larvas e engorda (ROCHA, 2019).
Do ponto de vista da engenharia, a seleção dos locais para a construção de viveiros deve ser baseada
na compatibilidade dos solos que servirão como fundação. A identificação do solo deverá ocorrer
desde do início do processo de classificação, realizada tanto em campo quanto no laboratório,
precedendo a todo e qualquer local que se pretenda realizar a construção aquícola, é aconselhável
primeiro um estudo sobre o solo, sendo assim este estudo pode ser feito através de testes visuais e
tácteis, rápidos e específicos conforme a cada tipo de solo (ALMEIDA, 2005).
Nas obras de engenharia civil em que o solo participa como principal material de construção, existem
situações em que os mesmos não se apresentam com todos os requisitos necessários para a aplicação
desejada, necessitando-se, para aproveitamento do solo local, empregar algum processo de
estabilização, como por exemplo, a mistura solo-cimento (BASSO et al. 2003).
Segundo Silva (2009) a densidade, umidade ótima e compactação do solo são peças fundamentais na
construção de viveiros escavados. A densidade do solo é influenciada pelo volume dos espaços (poros)
presentes no solo. Solos com baixa densidade geralmente são solos grosseiros, onde predominam
cascalho e areia. A densidade do solo pode ser alterada pela compactação proporcionada pelo rodado
dos pneus dos tratores, caminhões e moto-“scrapers”, por rolos compactadores e, com uma menor

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Permeabilidade De Diferentes Solos Em Tanques De Piscicultura Do Ifrr - Campus - Amajari, RR

eficiência, pela esteira de alguns maquinários. Além do equipamento utilizado, o grau de compactação
alcançado depende da pressão imposta sobre o solo, da espessura da camada a ser compactada e da
umidade do solo no momento da compactação.
Para Silva (2009) a compactação do fundo do viveiro é de importância considerável, uma vez que se
relaciona diretamente com o volume de água disponível; a contaminação do lençol freático com
resíduos e dejetos dos animais ali confinados, e estruturação física dos viveiros, onde as ações devem
ser bem planejadas, depende da sustentabilidade do sistema e a permeabilidade é uma das grandezas
pedológicas que mais diz respeito aos processos dinâmicos nos vazios do solo.

3.2 SOLO PARA CONSTRUÇÃO AQUÍCOLA

O solo representa o conjunto de partículas sólidas (minerais e orgânicas) e de espaços ou poros


(ocupados pelo ar e pela água) (ONO; KUBITZA, 2005). As partículas sólidas que compõem o solo
variam quanto à composição mineral, tamanho, formato, granulometria, entre outras características.
A análise granulométrica do solo consiste na determinação da distribuição do tamanho das partículas
em classes denominadas de areia, silte e argila. (EMBRAPA, 2009). Trata-se da característica de extrema
importância para as propriedades físicas do solo, com aplicações práticas nos estudos de drenagem,
erosão, adsorção de nutrientes e pesticidas, e no zoneamento agrícola (EMBRAPA, 2006)
Segundo Pádua, (2003) o solo ideal para construções aquícolas deve ter uma percentagem de:
- Argila = 15% até 30%;
- Silte = 5% a 10%;
- Areia = 80% a 60%, respectivamente;
- Solos com pouco gradiente fino (argila/silte) abaixo de 12%, não é apropriado para aquicultura. Este
autor já identificou solo com construção de barragens ou viveiros, numa percentagem de argila, em
torno de 35 – 60%, com no máximo 20% de areia.

Para Ono; Kubitza, (2005) solos com menos de 12% de partículas finas (argila e silte) não são
apropriados para a construção dos viveiros, a não ser quando misturados com outros solos mais finos.
Do ponto de vista físico, a estrutura do solo se apresenta tão importante quanto à textura, pois, solos
argilosos bem estruturados podem mostrar maiores taxas de permeabilidade, ou seja, infiltração. Pois
com estrutura instável, o solo sofre dispersão quando umedecidos ou submetidos a algum agente
desagregador, que são representados principalmente pela matéria orgânica e pelos óxidos de Fe e Al
(FAGUNDES, 2012).

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A permeabilidade, ou seja, a infiltração é o movimento da água dentro da superfície do solo. O


movimento da água através do solo é realizado pelas forças de gravidade, e de capilaridade. Em solo
saturado, esse movimento ocorre através dos grandes poros fundamentado pela gravidade, enquanto
em um solo não saturado ocorre principalmente pela capilaridade. A velocidade de infiltração tem
sido determinada de numerosas maneiras (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2012).
Os primeiros estudos do coeficiente de permeabilidade foram realizados em 1857, pelo engenheiro
francês Henry Darci, que constatou o grau de facilidade do escoamento de água pelos vazios de um
meio poroso (FRANCIS, 1980). Em homenagem a este estudioso o coeficiente de permeabilidade é
calculado pela lei de Darcy.
Recentemente, outros métodos têm sido desenvolvidos para se obter a capacidade de infiltração do
solo. Dentre eles pode-se destacar o método do infiltômetro de anel, por ser simples e de fácil
execução (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2012). O solo pode ser classificado em velocidade de infiltração
básica em: > 30 mm/h (VIB muito alta), de 15-30 mm/h (VIB alta), 5-15 mm/h (VIB média) e < 5mm/h
(VIB baixa). Percebe-se que ao longo do teste a infiltração acumulada (Ia) aumenta com o tempo, e a
velocidade de infiltração (VI) diminui, até o valor se aproximar de uma estabilidade (FAGUNDES et al.,
2012).
Lâmina = valor medido em milímetro de água infiltrada;
Δ tempo = tempo anterior – tempo correspondente;

Δ Lâmina = lâmina anterior – lâmina correspondente;


Taxa = Δ Lâmina/ Δ tempo
Velocidade = taxa.60s, milímetro/minuto.
A porosidade refere-se à proporção de espaços ocupados pelos líquidos e gases em relação ao espaço
ocupado pela massa do solo. O volume de poros, em condições médias, representa a metade do
volume do solo, em geral os solos com textura mais fina, possuem maior porosidade, os arenosos
apresentam menor percentual de porosidade (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2012).

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 LOCAL DE ESTUDO

O estudo foi conduzido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima – Campus
Amajari – IFRR-CAM, localizado no município do Amajari, distante aproximadamente 150 km da capital
Boa Vista, pertencente a microbacia do Rio Amajari, tributário da margem direita do Rio Branco. O

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clima da região, segundo a classificação de Köppen é do tipo Aw, com duas estações: uma seca, de
setembro a abril e uma chuvosa de maio a agosto, a precipitação pluvial variando entre 1700 a 2000
mm/ano, temperaturas entre 20 a 32 ºC. A coleta do material de estudo foi realizada no período de
setembro do ano 2018 a abril de 2019.
Os viveiros de piscicultura dos IFRR – CAM estão localizadas entre as coordenadas geográficas 03° 38’
10,37390’’, 03° 38' 08,22384'' (Norte), -61° 24’ 40,87463’’, -61° 24' 42,24792'' longitude (Oeste),
Datum: SIRGAS 2000 (Figura 1).

Figura 1. Localização dos viveiros dos 124 e Experimental do IFRR-CAM

Fonte: Daniel Dias.

Na área destinada ao laboratório de aquicultura, onde foram construídos os viveiros de piscicultura do


IFRR – CAM, se encontra diferentes solos: caracterizado como Latossolo Amarelo (LA) viveiro
experimental, e o Gleissolo Háplico (GX), o viveiro 124, conforme tabela 1.

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Tabela 1 – Descrição das classes de solo (VALE JÚNIOR; SCHAEFER, 2010)

4.2 AMOSTRAGEM

A amostragem do solo foi realizada em duas etapas. A primeira etapa consistiu em coleta de solo
deformada em perfis localizados nas áreas próximos aos viveiros, a fim de caracterizar a granulometria
do solo. Após esta etapa, preparou-se a Terra Fina Seca ao Ar (TFSA) (Figura 2), sendo encaminhada ao
Laboratório de Solo do Núcleo de Pós-Graduação do Centro de Ciência Agrárias da Universidade
Federal de Roraima – NUPAGRI – CCA – UFRR para análise.
Figura 2- Preparação do material coletado para análise granulométrica TFSA.

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Permeabilidade De Diferentes Solos Em Tanques De Piscicultura Do Ifrr - Campus - Amajari, RR

Fonte: Luciana Barros.

A segunda etapa de amostragem consistiu em coleta de solo em dois viveiros semi-escavados: o


primeiro viveiro experimental, localizado na área de Latossolo Amarelo e segundo, viveiro 124 nas
áreas de Gleissolo Háplico (GX).
A amostragem foi realizada nos fundos de viveiros, sendo realizada 24 amostragens indeformadas em
cada viveiro, em pontos aleatórios em zig-zag, em duas camadas distintas, 12 amostras da camada de
0 a 20 cm e 12 amostras da 20 a 40 cm, utilizando-se para tanto, os anéis volumétricos (100 cm³) para
análise de porosidade (Figura 3).

Figura 3 – Materiais utilizados para coleta de solo indeformada para análise de porosidade.

Fonte: Luciana Barros.

Foi também realizada a determinação da capacidade de infiltração, o primeiro viveiro experimental,


localizado na área de Latossolo Amarelo e segundo, viveiro 124 nas áreas de Gleissolo Háplico (GX). O

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equipamento utilizado foi Infiltrômetro de anel, composto por dois anéis (50 e 25 cm de diâmetro e 30
cm de altura), que são instalados de forma concêntrica e enterrados a 15 cm (Figura 4).

Figura 4 - Materiais utilizados na determinação da capacidade de infiltração de água.

Fonte: Luciana Barros.


Estes viveiros são destinados para o cultivo de peixes, quer seja em fase de alevinagem, final ou plantel
de reprodutores. Possuem como característica secarem completamente nos períodos secos.

4.3 ANÁLISE FÍSICA DO SOLO

Foi realizada análise granulométrica ou textural, utilizando-se o método da pipeta (EMBRAPA, 2009)
(Figura 5A) e determinação de macro e microporosidade, pelo método do anel volumétrico (OLIVEIRA,
1976), a partir das amostras indeformadas e determinação da capacidade de infiltração pelo método
do infiltômetro de anel (Figura 5B).

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Figura 5- A- Análise granulométrica no Laboratório de Análise de Solo da UFRR e B - Determinação da


capacidade de infiltração de água.

Fonte: Luciana Barros.

4.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados da porosidade foram submetidos à análise de variância, e a comparação entre as médias


foi feita pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade de erro, utilizando o Sistema de Análise Estatística
– R.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA

A partir da amostragem de solo realizada no viveiro 124, localizado na área de Gleissolo Háplico (GX)
verificou-se que apresentam característica franco argilo- arenosa a franco-arenosa, conforme tabela 2.

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Tabela 2 – Características morfológica e física do Gleissolo Háplico – Viveiro 124.

No tanque experimental da mancha de Latossolo Amarelo (LA) apresentou característica arenosa a


franco-argilo-arenosa, conforme tabela 3.

Tabela 3 – Características morfológica e física do Latossolo Amarelo – Viveiro Experimental.

Segundo Pádua, (2003) o solo ideal para construções aquícolas deve ter uma percentagem de argila
15% até 30%; silte 5% a 10%; areia 80% a 60%, respectivamente. Solos com menos de 12% de partículas
finas (argila e silte) não seriam apropriados para a construção dos viveiros, a não ser quando
misturados com outros solos mais finos. Contudo, Silveira (1966) afirma que os solos arenosos e
pedregulhosos, com cerca de 10% a 35% da fração silte e argila, podem ser favoráveis desde que
estabilizados com cimento.

5.2 TESTE DE PERMEABILIDADE

Os resultados do teste de permeabilidade estão apresentados tabela 4.


Tabela 4. Dados de permeabilidade do solo (k), ou seja, infiltração, dos viveiros.

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De acordo com a tabela de Bernardo et al., (2006) em relação à velocidade de infiltração básica (VIB)
o solo do viveiro ‘124’ apresenta VIB média (VIB média 5 - 15 mm/h) enquanto o viveiro experimental
VIB alta (15 – 30 mm/h).
Segundo Fagundes et al., (2012) estes resultados confirmam os dados encontrados na análise
granulométrica de ambos os solos, onde os valores de VIB segundo a textura do solo pode ser: arenosa
quando de 25 a 250 mm/h; franco arenosa de 13 a 76 mm/h; franco-argilo-arenosa (5 a 20 mm/h).
Os solos arenosos, são também considerados materiais de boa qualidade, havendo apenas maior
dificuldade para a compactação e o acabamento.

5.3 POROSIDADE

De acordo com a tabela 4. Observa-se que existe diferença significativa entre volume total de poros
(VTP) nas classes de solo, confirmando mais uma vez os dados encontrados na análise granulométrica
de ambos os solos, entretanto não existe diferença entre macroporosidade (MAP) e microporidade
(MIP) entre as classes de solo e nem entre camadas.

Tabela 5 – Valores médios do Volume Total de Poros (VTP); macroporosidade (MAP) e


microporosidade (MIP) e densidade do solo (DS) dos solos dos viveiros.

Médias seguidas de mesma letra, minúscula na linha e maiúscula na coluna, não diferem
significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
Contudo, verifica-se por meio da análise de densidade de solo (DS) das classes em estudo, que a
camada 0 – 20 cm do GX encontra-se compactada (2,23 g.cm-3), apresentando diferença significativa

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Permeabilidade De Diferentes Solos Em Tanques De Piscicultura Do Ifrr - Campus - Amajari, RR

em relação a mesma camada do LA, contribuindo desta maneira para a redução de infiltração da água.
Este resultado pode ser devido à ação de máquinas por ocasião da construção do viveiro que pulveriza
o horizonte, promovendo desagregação, aumentando a densidade de acomodação do solo
(GONÇALVES; MORAES, 2012).
Embora as condições dos solos estudados apontem para possível uso para a construção viveiros semi-
escavados, é importante considerar os custos de implantação, uma vez que requerem técnicas de
acabamento. Podendo-se considerar a utilização da adubação orgânica para obstrução dos poros do
solo, promovendo, desta maneira, a redução da infiltração de água nos viveiros. Também pode ser
recomendado uma leve compactação com um solo mais fino para reduzir a velocidade de infiltração
da água. Ressaltando-se a possibilidade da seleção de solos com características físicas (granulometria)
mais apropriadas a construções aquícolas.

6. CONCLUSÃO

Conforme os resultados das análises realizadas, verificou-se que os solos onde estão localizados os
viveiros semi-escavados do IFRR-CAM apresentam permeabilidade adequada, porém deve ser
considerado métodos de obstrução de poros e ou compactação que reduzam a velocidade de
infiltração da água.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela força que me tem dado, pois nada seria sem este ser supremo;
Agradeço ao meu esposo (in memória) Edmilson Martins Rodrigues, grande parceiro que sempre me
apoiou nas horas mais difíceis;
Agradeço aos meus filhos pela troca de saberes, a paciência a qual eles possuem para comigo, nesta
era digital;
Agradeço a equipe de docentes desta instituição de ensino, porque cada um com sua metodologia, me
ajudou a compreender várias formas de pesquisas, voltadas para a área científica;
Agradeço de modo especial a minha orientadora, professora Luciana da Silva Barros, pois não mediu
esforço, em todos os momentos esteve ao meu lado;
Agradeço ao professor Raphael Henrique Siqueira meu coorientador, principalmente na avaliação dos
dados estatísticos;
Agradeço ao professor Daniel Dias Rodrigues pelo conhecimento cartográfico inserido na pesquisa;

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Agradeço aos meus colegas da turma, pois tivemos muitas dificuldades e obtivemos conquistas, mas
os obstáculos me fizeram ir avante;
Agradeço aos colegas de turma Boaz Ramos Raposo e Genilson Tabosa Wanderley, pelo trabalho árduo
realizado na coleta de materiais para as análises laboratoriais;
Agradeço a equipe do laboratório de análise física de solo da UFRR, especialmente a jovem Taline
Oliveira;
Enfim, Agradeço a todos de maneira especial, gestores, docentes, discente e colaboradores desta
instituição de ensino, IFRR-CAM, pois o fruto deste trabalho em equipe foi maravilhoso para mim.
Muito obrigada.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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430
487
Permeabilidade De Diferentes Solos Em Tanques De Piscicultura Do Ifrr - Campus - Amajari, RR

8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

431
488
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 40
10.37423/200601483

DESENVOLVIMENTO DE NUGGETS DE PEROÁ


(BALISTES CAPRISCUS): ANÁLISE FÍSICO-
QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA

Betsy Gois Santos

Carolina de Souza Moreira

Mariana Rodrigues Lugon Dutra

Paula Zambe Azevedo

Leandro da Silva Presenza

Marcelo Giordani Minozzo


Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

Resumo: Devido ao baixo consumo de pescado, comparado ao recomendado pela Organização


Mundial da Saúde (OMS), faz-se necessário o desenvolvimento de novas formas de apresentação de
produtos provenientes desta carne ao consumidor. Como forma de valorizar a espécie Balistes
capriscus, conhecida como peroá, considerada de boa qualidade, saborosa, nutritiva e de baixo custo
no mercado, o presente estudo tem como objetivo elaborar nuggets de peroá e avaliar sua
composição físico-química e microbiológica. Todos os experimentos e processos para as análises dos
nuggets foram desenvolvidos nos laboratórios de transformação do pescado, microbiologia e química
do Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Piúma. As formulações de nuggets desenvolvidas
atenderam aos padrões microbiológicos preconizados na legislação vigente e as diferentes proporções
dos ingredientes utilizados alteraram sua composição centesimal apenas em relação ao teor lipídico,
faz-se necessário mais estudos referentes às formulações desenvolvidas. Contudo, os nuggets de
peroá apresentaram-se como uma forma de agregar valor à carne do pescado, sendo de fácil preparo
e promissora a ser ofertada ao consumidor.

Palavra-chave: Pescado. Novos produtos. Empanado. Composição centesimal. Qualidade.

432
490
Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

1- INTRODUÇÃO

A espécie Balistes capriscus, conhecida como peroá, possui a carne considerada de boa qualidade,
saborosa e nutritiva, além de custo mais acessível no mercado (DIAS; CLEMENTE; KNOFF, 2009). Tem
incidência em todo o litoral brasileiro, presente do sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, sendo bastante
comum na costa do Espírito Santo (BERNARDES, 1988; CASTRO, 1998; CASTRO, 2000; CASTRO et al.,
2005). Trata-se de uma espécie importante economicamente nas regiões de ocorrência (ATALIBA;
CASTRO; CARNEIRO, 2009).
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) no Brasil, o
consumo de peixe per capita aumentou de 4 para 9 kg/ano nos últimos oito anos. Porém, ainda assim
é baixo diante do valor considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 12
kg/ano. O crescimento significativo do consumo de pescado pode ser um reflexo da preocupação da
população em adotar hábitos alimentares mais saudáveis. Uma das alternativas para o aumento no
consumo do pescado é a diversificação através do desenvolvimento de novos produtos de pescado e
a base de pescado, oferecendo ao consumidor mais opções de escolha (FAO, 2016).
Produtos provenientes da pesca compreendem uma parte popular da linha de produtos refrigerados
e mais pessoas estão recorrendo aos peixes como uma alternativa saudável à carne que são vendidos
de diferentes formas (JACK e READ, 2008).
Como meio de agregar valor à carne branca do pescado, alguns pesquisadores têm estudado a
produção de empanados e reestruturados, que geralmente apresentam grande aceitação. Os
produtos reestruturados oferecem inúmeras vantagens por serem desossados, possuírem tamanho e
formato apropriado, proporcionarem menor perda durante o cozimento e melhor aproveitamento
dos músculos que seriam subutilizados, além de serem fáceis de aquecer e servir, por serem
empanados e pré-fritos. O empanamento prolonga a vida útil dos produtos pela diminuição do
processo oxidativo, além de proteger a carne da desidratação e queima pelo frio durante o
congelamento (LEMOS, 2000; NUNES, 2003).
Conforme as diretrizes da Instrução Normativa nº 06 de 15 fevereiro de 2001 do Ministério de
Agricultura Pecuária e Abastecimento, entende-se por empanados os produtos que são submetidos à
industrialização, onde contém em sua formulação obrigatória proteína animal, acrescidos de outros
ingredientes opcionais, não excedendo o limite de 4% de proteína não cárnea na forma acrescentada.
Tratando-se de um produto cru, semi-cozido, cozido, semi-frito, frito ou outros (BRASIL, 2001b).
Produtos empanados tipo nuggets podem ser elaborados em uma grande variedade de carnes.
Geralmente são processados com o músculo moído e refletem a preferência do consumidor local

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491
Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

(KEETON, 2001). Trata-se de uma alternativa viável para diversificação de produtos na linha de
processamento do pescado, com potencial de consumo no mercado interno, principalmente, para
pessoas que não dispõem de tempo no seu dia a dia para a preparação das refeições (EVANGELISTA-
BARRETO et al., 2016).
Deste modo, objetivou-se elaborar nuggets de peroá, a partir da carne do filé do pescado, com
proporções distintas de proteína não cárnea e amido de milho, analisando sua composição físico-
química e microbiológica.

2- MATERIAL E MÉTODOS

Fluxograma simplificado do processo produtivo dos nuggets com as etapas mais relevantes do
processo descritas sucintamente.

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Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

Os experimentos e processos para as análises dos nuggets foram desenvolvidos nos laboratórios de
transformação do pescado, química e de microbiologia do Instituto Federal do Espírito Santo – Campus
Piúma. A matéria prima utilizada foi obtida em indústria de processamento local e os demais
ingredientes em supermercado. Preparou-se três formulações codificadas aleatoriamente com
diferentes proporções de proteína concentrada de soja e amido de milho (Tabela 1). Os filés de peroá
obtidos foram triturados em multiprocessador, em seguida todos os ingredientes foram pesados
separadamente em balança semi-analítica e misturados até a obtenção de uma massa homogênea.
Antes da moldagem a massa foi mantida sob refrigeração durante uma hora para que o empanado
adquirisse a consistência desejada. O processo de empanamento compreendeu três etapas. Na
primeira, a porção foi submetida a uma imersão chamada de predust, que consistiu em envolver as
porções com uma fina camada de farinha de trigo, antes de aplicar o batter (segunda fase), que se
trata de uma mistura de farinha de trigo, leite em pó, água e sal, formando um líquido viscoso com o
objetivo de cobrir uniformemente as porções e promover a adesão da farinha de cobertura. Uma vez
o produto coberto pelo batter, procedeu-se a terceira fase - empanamento (breading), pulverizando
as porções com farinha de rosca.
Tabela 1 – Formulações de nuggets desenvolvidas.

As análises da composição centesimal foram realizadas em triplicata e o resultado sendo expresso pela
média dos valores. A análise de umidade foi realizada através de secagem em estufa a 105°C até peso
constante. A determinação de resíduo mineral fixo foi estabelecida através da incineração da amostra
em mufla a 550°C, até formação de cinzas claras. A quantificação de proteína foi realizada através do
método Kjeldahl modificado. O teor de lipídios foi determinado pelo método de Soxhlet, com éter de
petróleo como solvente (AOAC, 2005). O teor de carboidratos foi obtido por diferença, subtraindo-se
do teor da matéria seca a soma dos demais componentes (proteína bruta, lipídios totais, resíduo

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Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

mineral fixo). O valor energético foi calculado a partir dos fatores de conversão para carboidratos (4
kcal/g), proteínas (4 kcal/g) e lipídios (9 kcal/g) (BRASIL, 2003).
Os resultados das análises físico-químicas dos nuggets de peroá foram submetidos à análise de
variância com 5% de significância (ANOVA) e Teste de Tukey para comparação de médias.
As análises microbiológicas do produto seguiram a metodologia segundo Silva, Junqueira e Silveira
(1997) para Salmonella sp., Staphylococcus coagulase-positiva, Escherichia coli. Os outros
microrganismos foram analisados de forma quantitativa, sendo os resultados expressos com presença
ou ausência em 25g do produto para Salmonella sp., Número Mais Provável por grama (NMP/g), para
Escherichia coli e Unidades Formadoras de Colônias por grama (UFC/g), para os demais.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS

A expressão dos resultados das análises pode ser observada na Tabela 2.


Tabela 2 – Composição centesimal realizada em triplicata das amostras 823, 225 e 101.

Médias na mesma linha seguida de letras distintas diferem (P < 0,05) pelo Teste de Tukey.
A adição da gordura hidrogenada e o processo de pré-fritura contribuem para o aumento do teor
lipídico dos nuggets de peroá. O processo de fritura chega a aumentar o teor de gordura em até 4%,
quando comparado aos nuggets crus (FUKUSHIMA et al., 2014). O percentual de lipídios encontrado
nas amostras do presente estudo apresentou diferença significativa a nível de 5% entre as
formulações, o que pode ser atribuído à influência das diferentes concentrações utilizadas de proteína
não cárnea e amido de milho, onde quanto menor a proporção de proteína concentrada de soja, maior
a proporção de amido de milho nas formulações, sendo a formulação 225 a com maior teor lipídico.
Esses resultados mostraram-se superiores aos de Hosda, Nandi e Grasselli (2013), que encontrou na
elaboração de nuggets de filé e CMS de tilápia com adição de sálvia e alecrim valores próximos a 14%
de lipídios para as formulações desenvolvidas, o que pode estar relacionado com a não realização do

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494
Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

processo de lavagem da carne e a etapa de pré-fritura, sendo essas consideradas etapas opcionais no
processo de desenvolvimento.
A Instrução normativa n° 6, de 15 de fevereiro de 2001 do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, estabelece um padrão mínimo de composição proteica para produtos reestruturados
empanados de 10% (BRASIL, 2001b), sendo constatados nos resultados deste trabalho que as três
formulações não atenderam a esta especificação, conforme apresentado na Tabela 2. Ao observar o
resultado obtido para proteína nas formulações de nuggets desenvolvidas, encontrou-se valores
inferiores aos constatados por Silva, Bonnas e Silva (2015), onde foram obtidos valores acima de
13,38% no desenvolvimento de nuggets de resíduos gerados no processamento de postas de surubim,
isso pode ser explicado ao fato das diferentes partes, espécies e concentrações de peixes utilizadas
nas formulações. De acordo com Veit et al. (2011), o valor proteico do pescado pode variar
dependendo do estado biológico do peixe, bem como o teor de gordura pode sofrer influência por
fatores como período biológico, tipo de alimentação, idade e estado nutricional.
Os valores de umidade observados foram inferiores aos de Bordignon et al. (2010) que ao elaborar
croquetes a partir de CMS e aparas do corte em ‘V’ de tilápias do Nilo, observou 57% de umidade após
o processo de pré-fritura. Tal fato pode estar relacionado com a quantidade de matéria prima utilizada
na formulação, sendo 20% a mais do que neste estudo, pois a carne do peixe é considerada úmida em
relação a outras.
O teor de resíduo mineral fixo (cinzas) das amostras de nuggets do presente estudo foram
semelhantes aos resultados obtidos por Bordignon et al. (2010), onde analisando valores de cinza para
os croquetes elaborados com CMS e aparas de tilápia do Nilo encontrou valores de 3,36 a 3,95%.
Para os carboidratos totais não houve diferença significativa entre as formulações, tendo em vista que
o filé in natura possui pouca quantidade desse nutriente. As formulações apresentaram-se dentro do
padrão exigido pela legislação brasileira, que preconiza um teor máximo de 30% (BRASIL, 2001b). Veit
et al. (2011) em seu estudo sobre a caracterização centesimal e microbiológica de nuggets de mandi-
pintado (Pimelodus britskii) obteve um percentual de 16,43% em sua formulação, valor superior ao
encontrado pelo presente estudo, podendo estar relacionado com o tipo de empanamento utilizado.
Na elaboração de nuggets de sororoca (Scomberomorus brasiliensis) sem glúten e saborizados com
manjericão e alecrim, Evangelista-Barreto et al. (2016) obteve um teor de 10% de carboidrato em sua
formulação. Valor aproximado ao encontrado nas formulações desenvolvidas.
Com relação ao valor energético encontrado, observa-se que é diretamente proporcional ao teor de
lipídios na formulação, tendo em vista que este parâmetro é o nutriente que mais contribui para o

437
495
Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

aumento do valor calórico do produto (9kcal/g). O valor energético total determinado no presente
estudo variou entre 406 a 413 kcal/100g para os nuggets de peroá, resultados que são superiores aos
encontrados por Silva, Bonnas e Silva (2015) que calculou valores entre 203 e 208 kcal/100g para
nuggets de resíduos do processamento de surubim. A explicação para essa diferença pode ser devido
às diferentes partes, espécies e processamento das matérias primas utilizadas nos estudos e com isso,
a desconformidade nos parâmetros observados.
A RDC / ANVISA nº 269, de 22 de setembro de 2005, trata do Regulamento Técnico sobre a Ingestão
Diária Recomendada (IDR), que trata a respeito da quantidade de proteína, vitaminas e minerais que
devem ser ingeridos diariamente para atender as necessidades nutricionais (BRASIL, 2005). Para
adultos, o regulamento recomenda a ingestão de pelo menos 50g de proteína por dia. De acordo com
a recomendação, sugere-se a ingestão de aproximadamente 4 unidades de 25g de nuggets de peroá
em uma refeição, essa quantidade representa em torno de 72 % de proteína da IDR. O uso de proteína
não cárnea em formulações, em conjunto com a proteína de origem animal, além de melhorar a
aparência, aumentar o valor nutricional, palatabilidade e a textura do empanado, permite uma
redução de custos do produto (CORTEZ NETTO et al., 2010).

3.2. ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS

Os resultados encontrados para as análises microbiológicas estão apresentados na Tabela 3.


Tabela 3 – Resultados das análises microbiológicas.

Conforme determina a Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001 do Ministério da Saúde, sobre
os padrões microbiológicos para alimentos (BRASIL, 2001a), a análise dos microrganismos foi realizada
de forma quantitativa e, apresenta-se dentro das normas de qualidade exigidos pela legislação
vigente, sendo assim, o produto se encontra apto para consumo.
A ausência de Salmonella e a baixa contagem de Staphylococcus coagulase-positiva confirmam que os
procedimentos higiênicos sanitários foram corretamente seguidos durante as etapas do

438
496
Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

desenvolvimento. O indício da presença desses microrganismos pode significar provável


contaminação fecal podendo ocorrer durante todo o processo desde a captura ou comercialização da
matéria prima utilizada até o desenvolvimento do produto final. A adoção de medidas corretas
higiênico-sanitárias durante o processamento é de muita importância para que se tenha redução dos
níveis de contaminação (LEITÃO, 1977).
Esses resultados corroboram com os encontrados por Veit et al. (2011) na produção de nuggets de
mandi-pintado (Pimelodus britskii), onde não foram encontrados microrganismos que pudessem pôr
em risco a saúde do consumidor, sendo um produto apto a ser consumido.

4- CONCLUSÃO

Os nuggets de peroá (Balistes capriscus) elaborados de forma empírica, apresentam-se como uma
alternativa viável para a diversificação de produtos provenientes do pescado, com possível potencial
para inserção no mercado consumidor, principalmente para as pessoas que não dispõem de tempo
em seu cotidiano para o preparo de refeições. Conclui-se que as formulações de nuggets
desenvolvidas a partir da carne do filé de peroá (Balistes capriscus) atenderam aos padrões
microbiológicos preconizados na legislação vigente. As diferentes concentrações de proteína não
cárnea e amido de milho adicionadas às formulações alteraram significativamente apenas os teores
de lipídios da composição centesimal das formulações. Os valores proteicos apresentaram-se abaixo
do ideal, sendo necessários mais estudos referentes a modificações nas formulações, aumento da
proporção de peixe para consequentemente elevar o teor de proteínas no produto. Os nuggets de
peroá (Balistes capriscus) apresentaram-se como uma forma promissora e de fácil preparo a ser
ofertada ao consumidor, além de agregar valor à matéria prima, bastante apreciada no litoral sul do
Espírito Santo.

439
497
Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

5- REFERÊNCIAS

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Desenvolvimento De Nuggets De Peroá (Balistes Capriscus): Análise Físico-Química E Microbiológica

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441
499
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 41
10.37423/200601487

CRESCIMENTO DE JUVENIS DO CAMURIM,


CENTROPOMUS UNDECIMALIS (BLOCH, 1792)
EM LABORATÓRIO NA AMAZÔNIA ORIENTAL-
ESTUDO DE CASO

RAIMUNDO SOUZA

ALEX SOUZA

ARAÚJO JANAÍNA

GABRIEL PASSINI

CARVALHO CRISTINA
Crescimento De Juvenis Do Camurim, Centropomus Undecimalis (Bloch, 1792) Em Laboratório Na Amazônia Oriental-Estudo De Caso

Resumo: Este estudo foi realizado no Centro de Tecnologia de Recursos Marinhos – CETEMAR (Curuçá-
Pará), pertencentes à Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Foram estocados em
densidades de 0,8 alevinos/L. A dieta utilizada na nutrição dos animais foi à base de ração comercial,
ofertada 6 vezes ao dia. Foram analisados parêmetros de crescimento como taxas de crescimento
específico (TCE), taxas de crescimento absoluto (TCA) e taxas de crescimento relativo (TCR). Os
resultados obtidos foram que o C. undecimalis consegue sobreviver em grande amplitude de
salinidade, no entanto com um baixo crescimento durante os 6 meses de experimento

Palavras–chave: Piscicultura marinha, crescimento, Estuário.

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Crescimento De Juvenis Do Camurim, Centropomus Undecimalis (Bloch, 1792) Em Laboratório Na Amazônia Oriental-Estudo De Caso

1. INTRODUÇÃO

O Centropomus undecimalis são peixes marinhos e de hábitos em águas salobras de manguezais,


estuários, baías e região costeira. São diádromos, estenotérmicos, eurihalinos (VOLPE, 1959; CHAVES,
1963; MOTA ALVES, 1981; GILMORE et al., 1983; TUCKER Jr. et al., 1985; RIVAS, 1986; TUCKER Jr. 1987;
MENDONÇA, 2004), com hábito alimentar carnívoro composto por peixes e crustáceos, mas são
considerados predadores oportunistas que variam a alimentação de acordo com a disponibilidade de
alimento (CHAVES, 1963; BLEWETT et al., 2006; ANNI; PINHEIRO, 2009; NORA et al., 2012; LIRA et al.,
2017). E que se distribuem no Atlântico ocidental; compreendendo sul da Flórida, costa sudeste do
golfo do México, grande parte das costas das Antilhas e do Caribe, da América Central e do Sul,
estendendo-se até o Rio de Janeiro (Brasil) (ROBINS; RAY, 1986; CERVIGON et al., 1992). O
aproveitamento da região costeira para produção de peixes marinhos, é uma alternativa na produção
de alimentos e na geração de renda para as comunidades litorâneas (SANCHES et al., 2006). O robalo-
flecha, Centropomus undecimalis é um peixe com grande potencial para a piscicultura marinha
(CERQUEIRA, 2004; ALVAREZ-LAJONCHÈRE; TSUZUKI, 2008; WINNER et al., 2010), possui carne nobre,
grande aceitação no mercado consumidor, além do elevado valor comercial (SOUZA-FILHO;
CERQUEIRA, 2003; CERQUEIRA, 2005;LIEBL et al,, 2016).O robalo-flecha pode atingir peso médio de
725 g em 15 meses (TUCKER JÚNIOR,1987). Mas parcos são os registros de criação dessa espécie no
Brasil e nenhuma citação na região amazônica.

O objetivo da pesquisa foi observar o desempenho dos juvenis de C. undecimalis em laboratório criado
em águas estuarinas com grande variação de salinidade e ricas em sedimentos.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida no município de Curuçá-PA-Brasil, na Amazônia Oriental, sob as


coordenadas geográficas: 00º43'44" S e 47º50'53" W, estando a uma altitude de 37m, no Centro de
Tecnologia de Recursos Marinhos-Cetemar, na Comunidade de Beira-Mar, localizada sob as
coordenadas de 00°44”23,00’S e 47°56”0,27’W (Figura 1).

443
502
Crescimento De Juvenis Do Camurim, Centropomus Undecimalis (Bloch, 1792) Em Laboratório Na Amazônia Oriental-Estudo De Caso

Figura 1 – Localização da pesquisa, no Centro de Tecnologia de Recursos Marinhos, na Comunidade


Beira mar-Curuçá-Pará

O abastecimento de água para o laboratório foi proveniente do rio Muriá por meio de bombeamento
e armazenada em caixa d’água de 5.000 litros. Em seguida a água passou por um filtro mecânico
granular antes de chegar nos tanques de polietileno com capacidade de 500 litros contendo os peixes.
A aeração dessas caixas foi feita através de um compressor radial de ½ CV.
A água drenada dos tanques contendo os peixes passava por uma canaleta que se dirigia a um filtro
de brita, areia grossa, areia fina e carvão ativado para depois retornar ao ambiente natural.
Os juvenis chegaram ao Centro de Tecnologia de Recursos Marinhos – CETEMAR (Curuçá-Pará) com
30 dias de idade, adquiridos junto ao Laboratório de Piscicultura Marinha (LAPMAR) da Universidade
Federal de Santa Catarina, através de desova induzida, com peso médio de 1,3 g e comprimento total
de 4,7 cm. Os alevinos embalados em sacos plásticos foram adaptados e aclimatados por 20 minutos
com a mistura lenta da água contida no interior dos sacos plásticos com a água dos tanques de
polietileno, para evitar o choque térmico e choque osmótico
No Laboratório, após a aclimatação os juvenis foram distribuídos e mantidos em 10 tanques d’água
com volume de 100 litros e densidades de 0,8 peixes/l, mantendo aeração e fluxo contínuo durante
um período de seis meses (184 dias). Os peixes foram alimentados ad libitum com ração importada

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503
Crescimento De Juvenis Do Camurim, Centropomus Undecimalis (Bloch, 1792) Em Laboratório Na Amazônia Oriental-Estudo De Caso

para peixes marinhos, INVE Nurse com 55%PB, e realizadas as biometrias mensalmente em 30
indivíduos de cada tanque utilizando paquímetro. Os exemplares foram anestesiados com benzocaína
a uma concentração de 1ml /l de água, a partir de uma solução estoque (100 g/ l de álcool a 70%) e
pesados em balança semi-analítica Ohaus com precisão de 0,001 g.
As análises de água dos tanques no laboratório realizadas a cada quinze dias, foram compostas de
salinidade medida através de refratômetro Instrutherm, temperatura (ºC) com termômetro
convencional de intervalos de 0,1 ºC, pH medido com peagâmetro de bolso Hanna, o oxigênio
dissolvido (mg L-1) com medidor eletrométrico de campo DO Eco, turbidez (UNT) com turbidímetro de
campo Hanna, e sólidos totais dissolvidos (mg L-1) com medidor eletrométrico de campo marca Hanna.
Para a avaliação do crescimento dos peixes em cativeiro, foram calculados a relação
peso/comprimento, cujos valores de peso total (Pt) e comprimento total (Ct) dos indivíduos
amostrados foram observados a partir de um gráfico de dispersão. Sendo o comprimento total a
variável independente (X) e o peso como a variável dependente (Y), de acordo com Santos (1978).
Para cada tratamento foi calculado: taxas de crescimento específico (TCE), através da equação
ln(𝑃𝑓)−ln(𝑃𝑖) 𝑥 100
segundo Ricker (1975) e Weatherley (1972), 𝑇𝐶𝐸 (%) = , taxas de crescimento
∆𝑡
𝑃𝑓−𝑃𝑖 𝑃𝑓−𝑃𝑖
absoluto 𝑇𝐶𝐴 = , e taxas de crescimento relativo 𝑇𝐶𝑅 = 𝑥 100 , segundo Hopkins
∆𝑡 𝑃𝑖

(1992). A Conversão alimentar aparente (CAA) correspondeu ao alimento consumido/ganho de peso.)


Enquanto, a taxa de sobrevivência (S) foi calculada a partir da expressão: S= N° de peixes
despescados/N° de peixes estocados x 100.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os juvenis de camurins se aclimataram muito bem, com renovação de água e aeração constante,
apesar da grande diferença de salinidade entre a origem e o destino dos peixes.
Na tabela 1 se observa os dados de qualidade de água encontrados nos tanques contendo os juvenis
de camurins durante os seis meses no laboratório.

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Crescimento De Juvenis Do Camurim, Centropomus Undecimalis (Bloch, 1792) Em Laboratório Na Amazônia Oriental-Estudo De Caso

Tabela 1 – Variáveis de temperatura, salinidade, pH, turbidez, sólidos totais, dissolvidos e oxigênio
dissolvido da água em 184 dias (julho a dezembro/2014) de cultivo no laboratório.
Variáveis Mínimo Máximo Méd. ± Dp
Temperatura (ºC) 28,8 29,3 29,0 ± 0,1
Salinidade 3,3 32,5 22,8 ± 11,5
pH 7,3 8,6 8,1 ± 0,2
Turbidez (UNT) 2,0 88,0 27,7 ± 17,6
STD* (mg L-1) 19,4 25,5 23,3 ± 1,7
OD** (mg L-1) 2,7 4,4 3,7 ± 0,4
*STD= sólidos totais dissolvidos; **OD= oxigênio dissolvido. Fonte: Pesquisa

Observa-se que a temperatura da água ocorreu pouca variação, ficando dentro de uma faixa de
temperatura adequada para o robalo-flecha. Oliveira et al. (2013), obteve maior desempenho para o
Centropomus parallelus a uma temperatura de 28ºC.
Com relação a salinidade, houve grandes alterações. O transporte dos peixes foi realizado em
salinidade 14 e aclimatados para a salinidade 3,3 (salinidade mínima) quando chegaram no CETEMAR
em Curuçá-Pa, e a máxima encontrada no período foi de 32,5. Os peixes suportaram bem as variações
de salinidade diante do período menos chuvoso na região, o que reforça os relatos de Rocha et al.
(2005); Ostini et al. (2007), e Farias et al. (2017) de que são eurihalinos.
O pH encontrado manteve-se dentro da faixa para peixes marinhos. Souza-Filho;Cerqueira, (2003),
encontraram valores entre 7,8 e 8,4 para o robalo-flexa cultivado em tanques de fibra de vidro em
densidades bem menores.
É possível observar na tabela 1 que os dados de turbidez variaram e os maiores valores foram
consequência das altas variações de marés do período chuvoso, confirmando a citação de Alvarez-
Lajonchère (2004), de que o camurim suporta elevada turbidez.
Os sólidos totais dissolvidos (STD) atingiram os valores elevados durante o período chuvoso, causado
pelas fortes correntes e o transporte de partículas da camada superficial das áreas de mangue,
provocado pela lavagem do solo das altas marés.
O oxigênio dissolvido recomendado por Cerqueira (2013) é de 6 a 7, e embora tenham sido encontrado
baixos valores, nessas concentrações os peixes se comportaram bem, quanto a sua movimentação e
alimentação. Valores superiores foram encontrados por outros pesquisadores (SOUZA-FILHO;
CERQUEIRA, 2003; LIEBL et al., 2016).

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Crescimento De Juvenis Do Camurim, Centropomus Undecimalis (Bloch, 1792) Em Laboratório Na Amazônia Oriental-Estudo De Caso

Sousa et al.(2016), estudando a qualidade da água no cultivo desse juvenis no período de 24 horas,
observaram ao longo da pesquisa que correram variações da qualidade da água nos tanques, e que
podem influenciar o crescimento dos peixes.
A figura 2 mostra a relação peso/comprimento do camurim utilizando dados agrupados de machos e
fêmeas, representada por um crescimento linear, explicado em 76% pela equação.

20
18 Pt = 0,3617Ct + 6,6514
R² = 0,7673
16
14
Peso total (g)

12
10
8
6
4
2
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Comprimento total (cm)

Figura 2 – Crescimento linear da relação peso total x comprimento total do camurim em laboratório
utilizando dados agrupados. Fonte: Pesquisa

O desempenho zootécnico dos peixes durante 6 meses de cultivo no laboratório, são encontrados na
tabela 2.

Tabela 2 – Dados médios de peso total (PT), biomassa total (BT), conversão alimentar aparente (CAA),
taxa de crescimento específico (TCE), crescimento absoluto (TCA), taxa de crescimento relativo (TCR),
e taxa de sobrevivência (S) em 184 dias de criação de juvenis de robalo-flecha no laboratório.

MÊS PT (g) BT (g) CAA TCE (%) TCA TCR (%) S (%)
Ago 3,482 4874,69 7,5 0,75 0,023 0,261 97
Set 4,543 6359,93 6,42 0,89 0,034 0,305 97
Out 5,982 8375,47 3,74 0,92 0,048 0,317 95
Nov 7,569 9083,04 2,96 0,76 0,053 0,265 95
Dez 9,763 1171,96 2,67 0,85 0,071 0,29 94
Fonte: Pesquisa

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Crescimento De Juvenis Do Camurim, Centropomus Undecimalis (Bloch, 1792) Em Laboratório Na Amazônia Oriental-Estudo De Caso

Observa-se que o peso final do robalo-flecha obtido no laboratório no período foi de 9,76 g,
considerando uma elevada densidade (0,8 peixes/l), água rica em sedimentos, e larga amplitude de
salinidade, inferior ao encontrada por Souza-Filho,Cerqueira (2003), com juvenis selvagens mantidos
em caixas de 5.000 litros e densidades bem inferiores.
A biomassa final encontrada, está próxima ao que foi relatada por outros pesquisadores utilizando
densidades menores (SOUZA-FILHO; CERQUEIRA, 2003; LIEBL et al., 2016)
A conversão alimentar aparente foi elevada, provavelmente em parte devido as perdas. Esta
conversão alimentar aparente foi pior à encontrada por Tsuzuki;Berestinas (2008) com o congênere
C. parallelus.
A taxa média de crescimento específico foi de 0,834%, aproximado ao encontrado por Tsuzuki et al.
(2008), para o C. parallelus alimentado com ração comercial para peixes com 40% de proteína bruta.
Já Souza-Filho;Cerqueira (2003) relataram para o TCE e a taxa de sobrevivência média 0,87% e 100%
respectivamente, valores estes próximos ao encontrados.

4.CONCLUSÕES

Baseado na pesquisa realizada foi possível concluir que:


- As águas estuarinas do rio Muriá em Curuçá-Pará (Amazônia Oriental) é favorável para cultivo de
juvenis de robalo-flecha em laboratório.
- Rápida aclimatação dos juvenis em laboratório.
- Resistência dos juvenis de camurim em laboratório.
- Influência da sazonalidade na variação dos parâmetros abióticos da água.
- Elevada conversão alimentar em laboratório.
- Baixo desenvolvimento.

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Crescimento De Juvenis Do Camurim, Centropomus Undecimalis (Bloch, 1792) Em Laboratório Na Amazônia Oriental-Estudo De Caso

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451
510
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 42
10.37423/200601488

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DAS ÁGUAS DO


RIO PACIÊNCIA: UM DOS PRINCIPAIS RIOS DA
ZONA LESTE DA ILHA DE UPAON-AÇU, MA.

Marcelo Victor Rodrigues Da Silva

Izabela Alves Paiva

Vitorya Mendes da Silva Monteiro

Camila Magalhães Silva

José de Ribamar Silva Barros


Qualidade Microbiológica Das Águas Do Rio Paciência: Um Dos Principais Rios Da Zona Leste Da Ilha De Upaon-Açu, Ma.

Resumo: Os ambientes aquáticos são utilizados em todo o mundo com distintas finalidades. No
entanto, nas últimas décadas, esse recurso vem sendo ameaçado pelas ações indevidas do homem. O
rio Paciência é o principal curso d’água da região centro-oriental da ilha de São Luís, sendo utilizado
desde o início da ocupação do interior da ilha por ser uma das maiores e por abrigar diversos bairros
de São Luís e dos municípios de São José de Ribamar e de Paço do Lumiar. O presente trabalho justifica-
se pela relevância da análise do nível de contaminação da água do rio Paciência, importante fonte para
o abastecimento de água da cidade e municípios adjacentes. O objetivo foi analisar a qualidade da
água do rio Paciência no perímetro urbano do município de São Luís. A pesquisa teve início realizado,
no mês de junho de 2018 e ainda está em andamento. O método empregado para a análise das
amostras para determinação de coliformes totais (CT) e fecais (CF) foi o de Número mais Provável
(NMP) e a técnica foi a de tubos múltiplos baseados nos recomendados pela Associação Americana de
Saúde Pública adotado no manual prático de análises de água da Fundação Nacional de Saúde. Os
resultados mostraram que a água está contaminada por coliformes fecais e, portanto, imprópria para
consumo e balneabilidade.

Palavras-chave: Rio, Qualidade microbiológica, Coliformes.

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512
Qualidade Microbiológica Das Águas Do Rio Paciência: Um Dos Principais Rios Da Zona Leste Da Ilha De Upaon-Açu, Ma.

1. INTRODUÇÃO

Os ambientes aquáticos são utilizados em todo o mundo com distintas finalidades, dentre as quais se
destacam: o abastecimento de água, a geração de energia, a irrigação, a navegação, a aqüicultura e a
harmonia paisagística. No entanto, nas últimas décadas, esse precioso recurso vem sendo ameaçado
pelas ações indevidas do homem, o que acaba resultando em prejuízo para a própria humanidade
(MORAES; JORDÃO, 2002).
As ocupações populacionais ao longo das regiões costeiras aumentam o risco de contaminação dos
recursos hídricos por esgotos domésticos e outros agentes poluentes, incluindo organismos
patogênicos, substâncias orgânicas, metais pesados e elementos traço, possuindo desta forma efeitos
diretos ou indiretos sobre os ecossistemas e organismos aquáticos, propagando doenças através da
água e dos alimentos contaminados (TORRES, 2004). Na Ilha do Maranhão, composta por diversas
bacias hidrográficas, este processo acelerou- se, sobretudo a partir da segunda metade do século XX,
quando se intensificou o investimento no setor industrial e habitacional nos municípios nela
assentados sendo a bacia do rio Paciência uma das mais impactadas.
O rio Paciência tem 32,03 km e é o principal curso d’água da região centro-oriental da ilha, sendo
utilizado desde o início da ocupação do interior da ilha por ser uma das maiores e por abrigar diversos
bairros de São Luís e dos municípios de São José de Ribamar e de Paço do Lumiar (BEZERRA, et al.
2012), e já foi um dos principais responsáveis pelo abastecimento de água de grande parte da cidade
de São Luís e pelo sustento de centenas de famílias de pescadores e agricultores. Porém, após anos
de crescimento urbano, o processo de assoreamento e poluição do rio se intensificou, prejudicando
principalmente as comunidades ribeirinhas, como por exemplo, o povoado de Porto do Mocajutuba
que tem sua origem a partir da ocupação por pescadores das áreas próximas ao canal de maré, na foz
rio Paciência, e tem como principal atividade econômica a pesca e a agricultura de subsistência.
A poluição do meio ambiente tornou-se de interesse público em todo o mundo, já que muitos países
vêm sendo afetados por seus graves impactos sendo que um dos principais problemas ambientais é a
utilização dos rios como principal receptor de esgotos, seja de origem doméstica ou industrial
(TORRES, 2004) o que acarreta graves problemas de saúde pública. A crescente expansão demográfica
e industrial observada nas últimas décadas trouxe como consequência o comprometimento das águas
dos rios, lagos e reservatórios, sendo estes afetados por diversos poluentes. Desse modo, a água pode
trazer riscos à saúde em face de sua má qualidade, servindo de veículo para vários agentes biológicos
e químicos (CETESB, 2010).

453
513
Qualidade Microbiológica Das Águas Do Rio Paciência: Um Dos Principais Rios Da Zona Leste Da Ilha De Upaon-Açu, Ma.

Os microrganismos são introduzidos no organismo humano por via cutânea ou por ingestão de água
contaminada, pelo contato primário com águas de recreação e ainda por ingestão de líquidos ou de
alimentos contaminados durante o preparo de alimentos ou em seu ambiente de origem. Mais de 100
organismos patogênicos entéricos podem ser encontrados nos esgotos, como vírus, parasitas e
bactérias (YAMAGUCHI et. al., 2013).
A qualidade da água é avaliada através de indicadores de contaminação fecal. Os indicadores
geralmente utilizados incluem coliformes totais, coliformes fecais, Escherichia coli e enterococci sendo
a Escherichia coli a principal indicadora de contaminação fecal recente por se tratar de uma bactéria
termo tolerante e com sua origem exclusivamente fecal (SHIBATA et al., 2004). As águas quanto ao
uso/consumo, pode ser estabelecida nas categorias "PRÓPRIA" ou "IMPRÓPRIA" para recreação de
contato primário, de acordo com a Resolução nº 357 do CONAMA para balneabilidade (BRASIL, 2000).
Além do monitoramento da água é importante acompanha os sedimentos do corpo hídrico que está
se estudando, pois o sedimento é parte integrante de ciclos biogeoquímicos que, dependendo da
composição química e características de adsorção, podem ter alta capacidade de acumular
contaminantes orgânicos e inorgânicos.
A preocupação com a qualidade das areias das praias e sedimento de corpos aquáticos tem crescido,
pois embora as pesquisas relacionadas à exposição à areia sejam escassas e os efeitos à saúde devido
à exposição e ingestão sejam pouco estudados, sabe-se que existem riscos pela presença de
microrganismos patogênicos nesta matriz (ALMEIDA et al, 2018). Pois, as mudanças das condições
ambientais podem facilmente disponibilizar os contaminantes para o sistema aquático.
Frente a este quadro, o objetivo deste trabalho é monitoramento microbiológico de águas superficiais
e de sedimentos, pois se apresenta como uma importante ferramenta de gestão para garantir o
abastecimento de água com qualidade para a população.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foram realizadas 9 coletas semanais de água e de sedimento planejadas respeitando os períodos de


chuva e de seca, perfazendo um total de 18 amostras de água de superfície no rio e 18 amostras de
sedimento, durante os meses de junho e novembro de 2018. As coletas foram realizadas em 2 pontos
distintos do rio Paciência: P1- Porto do Timbuba e P2 - O Xeriff Pescados ambos localizados no
município de Paço do Lumiar e a 19km de distância um do outro.

454
514
Qualidade Microbiológica Das Águas Do Rio Paciência: Um Dos Principais Rios Da Zona Leste Da Ilha De Upaon-Açu, Ma.

A água foi coletada a uma profundidade de aproximadamente 30 cm abaixo da superfície da água, em


garrafas âmbar previamente esterilizadas e o sedimento foi coletado com um coletor de sedimento e
armazenado em saco “ziplock” estéril.
As amostras foram transportadas, em caixas isotérmicas, até o laboratório de Microbiologia Geral
situado no prédio do Laboratório de Genética e Biologia Molecular Warwick Kerr - LABWICK./UEMA.
O método empregado para a análise das amostras para determinação de coliformes totais (CT) e fecais
(CF) foi o do Número mais Provável (NMP) e a técnica foi a de tubos múltiplos baseados nos métodos
do livro Compendium of Methods for the Microbiological Examination of Foods (VANDERZANT;
SPLITTSTOESSER, 1992), adotado no manual prático de análises de água da Fundação Nacional de
Saúde (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2006).
Os resultados obtidos com o presente trabalho, foram confrontados com o Conselho Nacional do Meio
Ambiente- CONAMA e suas modificações nas resoluções 410 de 2009 e 430 de 2011, (CONAMA, 2005).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises microbiológicas das amostras de água e sedimento coletadas no Rio
Paciência nos dois pontos do perímetro urbano do município de Paço do Lumiar, Maranhão, estão
expressos na tabela 1.
Tabela 1- Índice de Coliformes Fecais (CF) nas amostras de água e sedimento de dois pontos distintos
do Rio Paciência, Ma nos meses de junho e novembro de 2018.
COLETAS / MÊS P1 P2
H20 (NMP/mL) SEDIMENTO H2O (NMP/mL) SEDIMENTO
(NMP/g) (NMP/g)
1 (junho) 23 23 < 3,0 3,6
2 (junho) < 3,0 3,6 > 1.100 3,0
3 (junho) 21 < 3,0 < 3,0 15
4 (junho) 21 15 7,2 20
5(junho) > 1.100 > 1.100 > 1.100 >1.100
6 (nov) < 3,0 < 3,0 < 3,0 < 3,0
7(nov) 3,6 460 460 28
8(nov) 11 210 35 460
9(nov) 36 75 > 1.100 > 1.100
*NMP (Número Mais Provável)

Os coliformes totais e coliformes termotolerantes, são bactérias que sobrevivem tanto na presença
como na ausência de oxigênio (aeróbicas e anaeróbicas facultativas), que apresentam morfologia em
forma de bastão, com parede celular do tipo gram-negativa, não apresentam esporos e são

455
515
Qualidade Microbiológica Das Águas Do Rio Paciência: Um Dos Principais Rios Da Zona Leste Da Ilha De Upaon-Açu, Ma.

encontradas frequentemente na microbiota intestinal do ser humano e em animais de sangue quente


(BRASIL, 2013).
O coliforme termotolerante é um dos patógenos amplamente utilizados no monitoramento da
qualidade microbiológica da água em que se deseja constatar contaminação fecal recente ou de
condições sanitárias insatisfatórias (SILVA et al., 2006), sendo que Escherichia coli é a principal
indicadora de contaminação fecal humana (BRASIL, 2013; BARROS et al., 2015).
Comparando os índices de NMP/100 ml obtidos nas amostras dos dois pontos observa-se que no mês
de junho 3 amostras de água apresentaram valores acima dos estabelecidos pela Resolução nº 357 do
CONAMA para balneabilidade (BRASIL, 2000) para água doce que apresenta salinidade igual ou inferior
a 0,5, que é de 1000CF/ 100 mL.
No entanto, no mês de novembro apenas uma de água do ponto P2 se encontrava acima dos valores
preconizados na resolução vigente, caracterizando estes pontos como impróprios neste mês. De
acordo com a legislação, a definição da qualidade da água faz referência ao tipo de uso ao qual se
destina, e estipula os padrões de qualidade na resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente-
CONAMA e suas modificações nas resoluções 410 de 2009 e 430 de 2011, (CONAMA, 2005).
Os parâmetros são definidos em limites aceitáveis das substâncias presentes de acordo com o uso da
água. Percebe-se que embora sejam distintos os locais de coletas não há um padrão de contaminação
entre as amostras, evidenciando assim que não existe um nível de poluição homogêneo em todo o
curso do rio.
As prováveis causas da má qualidade da água estão relacionadas com o crescimento populacional,
desacompanhado de investimento em saneamento, a contaminação por fontes industriais, atividades
agropecuárias e a mineração. A disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos, também é
indicada como umas das fontes poluidoras dos corpos hídricos através da disposição inadequada ou
carregamento pelas águas pluviais (YASUI, 2015).
Das amostras de sedimento analisadas, apenas 4 amostras (2 de junho e 2 de novembro) foi superior
a >1.100, o que pode estar relacionados com o descarte de esgoto nas proximidades do ponto de
coleta.
Não existe legislação brasileira que leve em conta o monitoramento bacteriológico de sedimentos de
regiões entre-marés (SANTOS, KOLM; SAUTTER, 2013). Entretanto estas áreas são intensivamente
utilizadas para trabalho (cultivos de ostras, atividades de pesca, pintura de barcos, entre outros) e
lazer (SANTOS, KOLM; SAUTTER, 2013). Além disto, devido às condições climáticas locais, observa-se

456
516
Qualidade Microbiológica Das Águas Do Rio Paciência: Um Dos Principais Rios Da Zona Leste Da Ilha De Upaon-Açu, Ma.

que as pessoas geralmente exercem suas atividades usando pouca roupa e descalças e, portanto,
vulneráveis a eventuais infecções.
A falta de parâmetros para coliformes em sedimento pode acarretar problemas, pois é um meio de
contaminação tanto para água como para os organismos bentônico ou filtradores. Portanto, é
essencial o monitoramento por completo dos recursos hídricos.
O alto índice do NMP de coliformes fecais nas amostras de água e sedimento do P2 sugere que possa
haver lançamento de esgotos e resíduos no rio a montante e no meio do perímetro urbano da cidade,
o que acarreta maior contaminação neste ponto, além disso, esse período de coleta coincide com o
fim do período chuvoso e início do período seco. A diminuição das águas pode aumentar a
concentração de coliformes fecais segundo Lima (2008), o que também pode justificar os elevados
índices encontrados.
Para garantir uma boa qualidade de água e dentro dos padrões de potabilidade o Ministério da Saúde
exige que as análises microbiológicas e físico-químicas sejam realizadas com frequência, possibilitando
que a água fornecida sempre esteja nos padrões exigidos pela legislação e que nos casos de falhas no
sistema, o mesmo possa ser identificado e corrigido o mais rápido possível, reduzindo os danos à
população (YASUI, 2015).

4. CONCLUSÃO

De acordo com os resultados das amostras realizadas até o momento pode-se dizer que o Ponto 2 que
fica próximo ao “Xeriff” Pescado encontra-se contaminado por Coliformes Fecais em uma quantidade
superior ao que estabelece a Resolução para classificar água de contato primário como Própria de
qualidade satisfatória, já que na redondezas do rio ocorre o lançamento de esgoto e dejetos de
pescado.
A poluição deste corpo hídrico pode ser mitigada com uma ação do poder público minimizando os
impactos causados pela descarga de efluentes neste corpo hídrico, visando também à educação
ambiental das pessoas que moram no entorno daquela área, pois os mesmos possuem uma parcela
de responsabilidade no impacto causado na no Rio
Paciência, uma vez que uma possível fonte de poluição deste corpo hídrico são descartes feitos pelos
próprios moradores daquela localidade, servindo de proliferação de vetores naquela área.

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517
Qualidade Microbiológica Das Águas Do Rio Paciência: Um Dos Principais Rios Da Zona Leste Da Ilha De Upaon-Açu, Ma.

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519
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 43
10.37423/200601493

ASPECTOS REPRODUTIVOS DA CAMBUBA,


HAEMULON PARRA (DESMAREST, 1823)
(PERCIFORMES: HAEMULIDAE) CAPTURADA NO
LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO

Yúri Marins

Sidney Andrade

Pollyana Roque

Sara Loebens

Danielle Lima

Paulo Oliveira
Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

Resumo: A cambuba, Haemulon parra, é uma espécie que habita áreas de recifes presentes em toda
a costa nordeste. No entanto, devido a sobreexploração de espécies tradicionalmente capturadas na
região e ao aumento da demando por consumo de pescado, espécies com pouca importância para os
pescadores, a exemplo da Cambuba, passaram a ser alvo de capturas direcionadas para atender a
demanda. Contudo, os aspectos reprodutivos dessa espécie ainda são poucos conhecidos no nordeste
do Brasil. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os aspectos reprodutivos da Cambuba
capturada no litoral norte de Pernambuco. Entre os meses de janeiro de 2011 a junho de 2019, um
total de 614 espécimes foram obtidos mensalmente na colônia de pesca Z-11, na Ilha de Itamaracá.
Desse total, foram contabilizados 312 (50,8%) machos e 302 (49,2%) fêmeas, com proporção sexual
1:1, com diferenças estatisticamente significativas apenas dos meses de agosto e outubro (p < 0,05).
O comprimento total (CT) variou entre 6,8 cm a 44,5 cm, com tamanho médio de 26,6 (± 4,5) cm,
sugerindo um crescimento alométrico negativo para a espécie. O índice gonadossomático (GSI)
sugerem que as fêmeas se reproduzem durante todo o ano, com pico de maior atividade entre os
meses de agosto-setembro. O tamanho de primeira maturação (L50) foi estimado em 19,2 cm CT para
machos e 18,5 cm CT, para fêmeas.

Palavras-chave: Biologia reprodutiva, Haemulidae, IGS, pesca artesanal, L50.

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Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

INTRODUÇÃO

A cambuba (Haemulon parra) é uma espécie marinha que ocorre no oceano Atlântico Ocidental, desde
o Cabo Canaveral, costa leste da Flórida, até Santa Catarina, no sul do Brasil (Humann & DeLoach,
2002), incluindo as ilhas oceânicas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas. A espécie se alimenta
de invertebrados bentônicos, pequenos peixes e algas, geralmente associada a fundos coralíneos,
rochosos, próximo a substratos arenosos ou cascalho (Cervigón, 1993; Garcia Júnior et al., 2010).
Bastante abundante na região nordeste do Brasil, a cambuba compõe as capturas artesanais para o
consumo das comunidades locais, juntamente com outras espécies de Haemulídeos que habitam
áreas de recifes presentes ao longo da costa nordeste (Carvalho et al., 2013). Além disso, outras
espécies de peixes que não tinham elevado valor econômico, a exemplo das famílias Acanthuridae,
Scaridae, Mullidae e Lutjanidae, passaram a ser alvo das pescarias, devido não só ao aumento da
demanda por consumo de pescado, como também a sobreexploração dos estoques que eram
comumente capturados na região nordeste (Ribeiro, 2006; Marques & Ferreira, 2010; Ivo et al., 2010;
Cunha et al., 2012; Carvalho et al., 2013).
Diante do crescente incremento nos esforços de captura, se fazem necessários a realização de estudos
que elucidem aspectos da biologia e ecologia do H. parra, tais como reprodução, alimentação e
crescimento. No entanto, no Brasil, trabalhos relacionados aos aspectos reprodutivos da espécie em
questão escassos, se restringindo apenas aos estados do Rio Grande do Norte (Nakamura et al., 2015)
e Ceará (Filho et al., 2015). Estudos voltados ao comportamento reprodutivo das espécies são de
extrema importância, pois geram informações sobre o período reprodutivo e tamanho de primeira
maturação sexual, por exemplo, dados esses extremamente relevantes para a elaboração de medidas
visam auxiliar a conservação e gerenciamento dos estoques pesqueiros. Neste contexto, o objetivo do
trabalho foi prover informações sobre os aspectos da biologia reprodutiva do H. parra capturado no
nordeste do Brasil, fornecendo subsídios para o manejo e conservação da espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Os espécimes de H. parra foram provenientes da pesca artesanal efetuadas por pequenas


embarcações entre os meses de janeiro de 2011 a dezembro de 2014, e de julho de 2016 a junho de
2019. Os indivíduos foram capturados com uso de armadilhas do tipo covo, com dimensões
aproximadas de 50 cm de altura, 115 cm de largura, 170 cm de comprimento e abertura de entrada
de 35 cm. A atividade pesqueira foi realizada na Ilha de Itamaracá (7° 44´ 52” S e 34° 49´ 33” O),
localizada no litoral norte do estado de Pernambuco.

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Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

Para todos os indivíduos, foram mensurados os comprimentos total (CT) e padrão (CP), além de serem
aferidos os pesos total (PT) e eviscerado (PE). Posteriormente, foi realizada a extração das gônadas
através de um corte na região ventral, para determinação dos estágios de maturação macroscópicos
dos machos e das fêmeas. Os ovários e testículos foram mensurados quanto ao comprimento, largura
e peso. Os estágios maturacionais foram classificados de acordo escala proposta por Vazzoler (1996)
e Brown-Peterson et. al. (2011), a saber: imaturo, em maturação, maduro, ejaculando e ejaculado,
para os machos. Seguindo os mesmos autores, as fêmeas foram classificadas nos seguintes estágios:
imatura, em maturação, madura, desovando e desovada.
A proporção sexual foi calculada através da frequência de machos e fêmeas capturados durante o
estudo. Para verificar se existiram diferenças estatisticamente significativas entre o montante de
machos e fêmeas capturados, foi aplicado o teste não paramétrico qui-quadrado (χ²; α = 0,05). A
distribuição do comprimento foi baseada na frequências de comprimento total (CT), organizados em
classes e considerando sexos separados e agrupados, sendo determinada através de M = 0,9 √ n, onde:
n = número de comprimentos obtidos (CT).
A relação entre o peso eviscerado e o comprimento total foi estimada para machos e fêmeas
separadamente através da equação PE = aCTb, onde:
a = coeficiente linear, relativo a forma do corpo e b = é o coeficiente angular, que indica o tipo de
crescimento. Parâmetros a e b foram estimados após transformação logarítimica dos dados. Uma
relação é considerada alométrica negativa quando b < 3, alométrico positivo quando b > 3 e isométrica
quando b = 3.
A avaliação do período reprodutivo do H. parra foi baseada na frequência relativas dos estágios de
maturação das gônadas e nos valores de Índice Gonadossomático (GSI) obtidos através da fórmula
proposta por Vazzoler (1996):
GSI = (PG/PT - PG) x 100, no qual PT = peso total e o PG = peso da gônada.
Para estimar o tamanho em que metade da população (50%) está apta a se reproduzir, ou a entrada
dos indivíduos jovens nos estoques adultos, o tamanho de primeira maturção sexual (L 50), foram
utilizados os indivíduos adultos baseados nas classes de comprimento. Posteriormente os valores
foram ajustados para uma curva logística através da fórmula: Pi = 1 / (1 + e-r (Li-L 50), onde Pi =
proporção de adultos para cada classe i, Li = comprimento total em cada classe i, L 50 = comprimento
total de 0,5 (50%) da proporção de adultos e r = inclinação da curva logística (King, 2007).

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Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

RESULTADOS

O total de 614 indivíduos foram capturados, sendo 312 machos (50,8%) e 302 fêmeas (49,2%),
resultando em uma proporção sexual de ♀1:1♂, sem a predominância nas capturas de machos e
fêmeas ao longo dos meses, com exceção dos meses de agosto (p = 0,047) e outubro (p = 0,009), com
diferença estatística significativa entre os sexos (Tab. 1).
O comprimento total dos espécimes mensurados variou entre 6,8 cm a 44,5 cm, com a moda nas
classes de 27,2 |- 29,9 cm e média de 26,6 (± 4,5) cm. Os machos e fêmeas apresentaram um
comprimento total médio de 26,9 (± 4,6) cm e 26,3 (± 4,4) cm, respectivamente (Fig. 1).
Quanto a relação entre o PE e o CT da cambuba, os resultados indicaram que a espécie apresenta um
crescimento do tipo alométrico negativo para ambos sexos. Os machos apresentaram valores de b =
2,87; r² = 0,966 e as fêmeas b = 2,85; r² = 0,965 (Fig. 2).
A distribuição dos estágios de maturação ao longo do período estudado indicou a presença de machos
e fêmeas maduros e desovando/ejaculando em todos os meses do ano (Fig. 3), sendo esses os estágios
os de maior frequência ao longo do ano. Machos maduros e ejaculando representaram,
respectivamente, 26,0% e 26,6%, enquanto as fêmeas maduras e desovando corresponderam a 38,8%
e 22,4%, respectivamente. Para os demais estágios, os machos representaram: 7,4% de imaturo,
19,6% em maturação e 20,5% ejaculado. Já para as fêmeas, os demais estágios observados foram:
imatura (5,4%), em maturação (20,8%) e desovada (9,3%). A maior atividade de desova para as fêmeas
ocorreu entre os meses de fevereiro, março, abril e maio e no período de agosto a setembro, tendo
no mês de agosto o maior valor de IGS = 2,79. Já os machos apresentaram o maiores valores no meses
de dezembro, janeiro e abril, sendo o mês de dezembro o mês de maior valor de IGS = 0,64 (Fig. 4).
O tamanho de primeira maturação sexual (L50) para o H. parra foi estimado em 19,16 cm (CT) para os
machos e para as fêmeas, em 18,5 cm de CT (Fig. 5).

DISCUSSÃO

A captura de espécies de peixes recifais como fauna acompanhante de outras espécies alvo da pesca,
como por exemplo a lagosta, já ocorre desde a década de 1930 no litoral de Pernambuco (Coelho et
al., 1996). Entretanto, com o aumento dessas capturas nos últimos anos devido a demanda do
mercado de consumo e da sobre-exploração dos recursos alvo da atividade pesqueira (Marques &
Ferreira, 2010; Cunha et al., 2012; Carvalho et al., 2013), se fazem necessários a realização de estudos
para avaliar os impactos sobre essas populações.

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Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

No litoral norte de Pernambuco, na Ilha de Itamaracá, o comprimento total máximo do H. parra foi de
44,5 cm, com média de 26,6 (± 4,5) cm, sendo similar ao comprimento encontrado no Rio Grande do
Norte: 42,0 cm com uma média de comprimento de 29,4 (± 4,5) cm (Nakamura et al., 2015). Essa
semelhança se deve, possivelmente, em decorrência da reduzida seletividade dos aparelhos de pesca
utilizados, covo e rede de espera, que são capazes de capturarem tanto indivíduos juvenis, como
adultos. As variações nos tamanhos dos indivíduos capturados, podem ser influenciadas não só pela
arte de pesca empregada, como também por características ecológicas de cada ambiente (Frédou et
al., 2009). Ainda, foi observado no presente estudo que embora os machos e fêmeas apresentaram a
maior quantidade de indivíduos nas classes de comprimento 27,2 |- 28,9 cm, os machos possuíram
maiores comprimentos do que as fêmeas. Possivelmente, isso se deve ao fato de que as fêmeas
precisem concentrar parte de sua energia para o desenvolvimento das gônadas, que apresentam
grande volume e tamanho durante a maturidade, investindo menos energia no crescimento somático
(Shinozaki-Mende et al., 2013).
A proporção sexual entre machos e fêmeas de H. parra, de modo geral, foi equilibra na razão de (1:1),
com excessão apenas nos meses de agosto e outubro (p <0,05). Essa variação nos meses citados,
podem estar relacionados ao comportamento da espécie no ambiente em que se encontram, uma vez
que dados sobre proporção sexual fornecem informações sobre a dinâmica da populacão em um dado
ambiente (Eduardo et al., 2018) e/ou indicam quais parcelas da população (jovens e adultos) estão
sujeitas a migração reprodutiva (Filho et al., 2015).
A relação entre peso eviscerado e comprimento total, indicou um cresmcimento alométrico negativo
para a espécie estuda, ou seja, o peso e o comprimento do corpo aumentam simultaneamente, porém
o aumento no ganho de peso possui uma taxa de incremento (ganho de peso) menor que a do
comprimento (Froese, 2006).
Os valores de GSI relacionados com a distribuição dos estágios de maturação das gônadas ao longo
dos meses, sugerem que as fêmeas se reproduzem ao longo de todo o ano, com indicações de
atividade de desova menos intensa entre os meses de fevereiro – março e abril – junho, e período de
atividade mais intensa entre agosto – setembro e novembro - dezembro, sendo o maior valor de GSI
registrado durante o mês de agosto (GSI = 2,79%). Nakamura et al.(2015), encontrou para o H. parra
resultados semelhantes no Rio Grande do Norte, sendo os períodos com maior atividade reprodutiva
durante os meses de abril – julho e dezembro. A presença de indivíduos maduros e em maturação ao
longo de todo o ano indica que essa espécie utiliza as circunvizinhanças das áreas onde são instalados
os covos, ao longo do seu período reprodutivo (Eduardo et al., 2018).

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A determinação do tamanho de primeira maturação sexual é uma importante ferramenta para a


gestão de recursos pesqueiros, para determinação de tamanho mínimo de captura de uma espécie,
por exemplo (Fonteles-Filho, 2011). No presente trabalho, os valores de L50 para H. parra (19,2 cm CT
- machos e 18,5 cm CT – fêmeas), foram menores aos encontrados para a mesma espécie no estado
do Rio Grande do Norte: 27,1 cm CT para machos e 26,3 cm CT para fêmeas (Nakamura et al., 2015).
No entanto, os resultados do presente estudo são semelhantes aos observados por Filho et al., (2015)
no estado do Ceará, onde o autor sugere que existe uma a migração reprodutiva de indivíduos jovens
a partir de 15 cm, impulsionada pelo amadurecimento gonadal. Aparentemente, a diferença dos
valores de L50 em diferentes estados do nordeste pode estar relacionada ao aumento da exploração
da população em uma determinada classe de comprimento (Fonteles-Filho, 2011), uma vez que o
esforço de pesqueiro que incide sobre a espécie vem sendo incrementado ao longo dos anos.
Assim como outras espécies de peixes recifais capturados pela pesca com armadilhas no litoral de
Pernambuco, o Haemulon parra também passou a ser alvo das pescarias com armadilhas, inicialmente
destinadas a pesca da lagosta (Ribeiro, 2004; Ribeiro, 2006). Entretanto, a regulamentação e medidas
de proteção aplicadas à pesca de armadilha ainda se restringem exclusivamente as capturas de lagosta
(Coelho et al., 1996), o que ressalta a importância da ampliação da gestão dessa atividade para todos
as espécies já exploradas na região, e para as demais que podem se tornar espécies alvo em potencial
(Oliveira et al., 2015). Esse cenário reforça a importância da elaboração de programas de
monitoramento e manejo das pescarias com armadilhas, devido à importância social e econômica que
a atividade pesqueira exerce na região nordeste do Brasil. O presente estudo forneceu informações
essenciais para o entendimento da biologia do H. parra, que servem de base para a elaboração de
medidas de manejo e uso sustentável do recurso, como tamanho mínimo de captura e estações
reprodutivas para criação de períodos de defeso no litoral norte de Pernambuco.

AGRADECIMENTOS

Somos gratos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela suporte
e financiamento ao programa de Pós-graduação em Recursos Pesqueiros e Aquicultura. A colônia de
Pescadores Z11, da Ilha de Itamaracá, pelo esforço de captura e armazenamento dos espécimes
destinados ao projeto Ecologia de peixes costeiros do litoral do estado de Pernambuco (ECOPEC) e aos
integrantes do Laboratório de Etologia de Peixes (LEP) e Laboratório de Oceanografia Pesqueira (LOP)

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Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

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Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

Tabela 1. Proporção sexual para Haemulon parra capturado no litoral norte de Pernambuco entre
janeiro de 2011 a dezembro de 2014, e de julho de 2016 a junho de 2019. (* indica diferença
significativa; p = 0,05).

Month Female Male Total ♀% ♂% χ² p-value


Jan 27 27 54 50,0 50,0 0,00 1,000
Feb 27 29 56 48,2 51,8 0,07 0,894
Mar 28 32 60 46,7 53,3 0,27 0,606
Apr 22 24 46 47,8 52,2 0,09 0,768
May 44 43 87 50,6 49,4 0,01 0,915
Jun 40 41 81 49,4 50,6 0,01 0,912
Jul 22 21 43 51,2 48,8 0,02 0,879
Aug 15 28 43 34,9 65,1 3,93 * 0,047
Sep 15 16 31 48,4 51,6 0,03 0,858
Oct 24 9 33 72,7 27,3 6,82 * 0,009
Nov 12 16 28 42,9 57,1 0,57 0,450
Dec 26 26 52 50,0 50,0 0,00 1,000
Total 302 312 614 49,2 50,8 0,16 0,687

Figura 1. Distribuição das classes de comprimento total do Haemulon parra capturado no litoral norte
de Pernambuco entre janeiro de 2011 a dezembro de 2014, e de julho de 2016 a junho de 2019. (Linha
tracejada indica a classe de comprimento onde se encontra o L50). N = 614.

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Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

Figura 2. Relação peso eviscerado x comprimento total para Haemulon parra capturado no litoral norte
de Pernambuco entre janeiro de 2011 a dezembro de 2014, e de julho de 2016 a junho de 2019. A -
Female (N = 302) e B – Male (N = 312).

Figura 3. Distribuição dos estágios de maturação gonadal para Haemulon parra capturado no litoral
norte de Pernambuco entre janeiro de 2011 a dezembro de 2014, e de julho de 2016 a junho de 2019.
Letra: A – Machos (N = 312) e B – Fêmeas (N = 302)

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Aspectos Reprodutivos Da Cambuba, Haemulon Parra (Desmarest, 1823) (Perciformes: Haemulidae) Capturada No Litoral Norte De Pernambuco

Figura 4. Distribuição dos valores de GSI (Gonadossomatic index) para Haemulon parra capturado no
litoral norte de Pernambuco entre janeiro de 2011 a dezembro de 2014, e de julho de 2016 a junho
de 2019. (N = 614)

Figura 5. Tamanho de primeira maturação sexual para Haemulon parra capturado no litoral norte de
Pernambuco entre janeiro de 2011 a dezembro de 2014, e de julho de 2016 a junho de 2019. Female
(N = 302) and Male (N = 312).

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Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 44
10.37423/200601504

ONDE ESTÃO OS TUBARÕES DO RECIFE?


UTILIZAÇÃO DE BRUVS PARA O LEVANTAMENTO
DA ICTIOFAUNA NA REGIÃO METROPOLITANA
DE RECIFE

Natalia Bezerra

Ana Laura Corrêa

Ricardo Garla

Fábio Hazin
Onde Estão Os Tubarões Do Recife?Utilização De Bruvs Para O Levantamento Da Ictiofaunana Região Metropolitana De Recife

Resumo: Estações de Vídeo com Isca Operadas Remotamente (BRUVS, sigla em inglês) foram lançadas
pela primeira vez na Região Metropolitana do Recife (RMR), no presente trabalho, a fim de investigar
a sua eficácia para estimar a abundância relativa e diversidade de elasmobrânquios e peixes ósseos na
região. As amostragens foram realizadas em áreas com profundidades que variaram entre 5 e 30 m,
através do uso da câmera GoPro fixada a uma base de aço inoxidável em forma de trapézio, com uma
extensão, em cuja extremidade foi posicionada a isca. Todos os organismos registrados nos vídeos
foram identificados ao menor táxon possível. O tempo de primeira observação (TPO) e o número
máximo de indivíduos e de espécies observados (MaxN) em cada ponto de coleta, também foram
contabilizados. Para os elasmobrânquios, o MaxN foi calculado através do número de indivíduos
avistados por hora de gravação. Uma Análise de Variância (ANOVA) one way foi realizada com o
objetivo de avaliar possíveis diferenças na distribuição dos organismos nas diferentes profundidades.
Em novembro de 2017, foram realizados 90 lançamentos com 90 minutos de gravação cada,
totalizando 7.254 minutos (± 91,8; mín 71; máx 150), com 3.299 indivíduos, pertencentes a 29 famílias,
tendo sido registrados. Entre os 75 taxa observados, 69 foram de teleósteos, cinco de
elasmobrânquios e um de quelônio. Embora a família Clupeidae (S:2, MaxN: 1.307) tenha
predominado em número de indivíduos, representando 39,6% de todos os organismos registrados, a
ocorrência total foi relacionada a apenas duas espécies que estavam agregadas. Por outro lado, a
família Haemulidae foi a segunda com maior ocorrência registrada (MaxN: 1.081), com 32,8% do total
dos indivíduos avistados distribuídos em 11 espécies. Quanto ao número total de exemplares, os
elasmobrânquios corresponderam a apenas 0,8% (31) das avistagens. Todas as raias avistadas foram
do gênero Hypanus, incluindo H. americanus (0,14 h-1), H. marianae (0,008 h-1) e outras espécies
identificadas apenas ao nível de gênero (0,074 h-1). Os tubarões foram representados por apenas dois
indivíduos de espécies distintas, Ginglymostoma cirratum (0,008 h-1) e Carcharhinus sp. (0,008 h-1). A
maioria dos exemplares foram registrados entre 20 e 25 m (±72,3; desvio padrão= 83,8), com
diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) em relação aos demais estratos de profundidade.
Quando comparada a outras técnicas de amostragem, o uso de BRUVs se mostrou eficiente para
avaliar a fauna marinha na região, sendo uma técnica não invasiva e não destrutiva, ideal para regiões
antropicamente impactadas.

Palavras-chave: Elasmobrâquios; Peixes ósseos; Estações de Vídeo com Isca Operadas Remotamente;
RMR; Biodiversidade.

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Onde Estão Os Tubarões Do Recife?Utilização De Bruvs Para O Levantamento Da Ictiofaunana Região Metropolitana De Recife

INTRODUÇÃO

Os elasmobrânquios, subclasse representada pelos tubarões e raias, compõem um dos grupos de


vertebrados mais ameaçados mundialmente, em decorrência da história de vida e de algumas
características biológicas dessas espécies, tais como crescimento lento, maturação sexual tardia e
baixa fecundidade (Camhi et al., 1998; Dulvy et al., 2014) Sendo assim, as populações de tubarões e
raias em todo mundo vêm sendo fortemente impactadas principalmente pela mortalidade por pesca
e degradação dos seus hábitats essenciais, tais como os estuários e as zonas costeiras (Jackson et al.,
2001; Garcia et al., 2008). O declínio das populações de tubarões, animais que estão no ápice da cadeia
alimentar, pode influenciar negativamente espécies de todos os níveis tróficos subsequentes, em
razão do efeito cascata, podendo comprometer gravemente a saúde dos ecossistemas marinhos (Dent
& Clarke, 2015; Ruiz et al., 2015). É fundamental, portanto, que a redução das populações de tubarões
e os seus efeitos sejam avaliados tanto ao nível global como regional, sendo necessário, nesse sentido,
obter informações sobre a sua abundância, diversidade e distribuição (Morgan & Carlson, 2010;
Amandè et al., 2011).
Diversas técnicas de amostragem, seja por meio de observação subaquática ou através da captura de
exemplares, vêm sendo empregadas com o objetivo de avaliar e descrever a distribuição e abundância
da biodiversidade em diferentes hábitats (Myers & Worm, 2003; Cappo et al., 2004; Dennis et al.,
2005). Entre as técnicas disponíveis, o censo visual subaquático (CVS) vem sendo amplamente utilizado
para o monitoramento de assembleias de peixes em diferentes ambientes aquáticos, principalmente
por ser um método de observação pouco impactante. Entretanto, existem limitações instrinsecas ao
método, tais como a dificuldade em realizar incursões a regiões de maiores profundidades, a
variabilidade na estimativa do tamanho e identificação das espécies observadas e o fato do
mergulhador estar inserido no ambiente, o que pode modificar o comportamento natural das espécies
(Edgar et al., 2004; Meekan & Cappo, 2004). Por outro lado, métodos de captura com o uso de redes
de arrasto, armadilhas e espinhel pelágico, também comumente utilizados para avaliar a distribuição
e abundância das espécies, implicam na retirada de indivíduos do seu ambiente natural, constituindo-
se, portanto, em um procedimento impactante e com graus variáveis de letalidade (Hill & Wassenberg,
2000; Best et al., 2013).
Nesse sentido, para suprir as deficiências das outras técnicas de amostragem disponíveis, o uso de
câmeras de vídeo subaquáticas tem sido uma ferramenta importante para estudos com assembleia
de peixes, principalmente em locais remotos, onde a coleta de dados seria perigosa ou inviável para
mergulhadores (Lowry et al., 2011; Mallet & Pelletier, 2014). Recentemente, as câmeras de vídeo

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subaquáticas têm passado por processos de inovações tecnológicas que proporcionaram uma maior
autonomia aos equipamentos, permitindo o desenvolvimento dos BRUVs (sigla em inglês: Baited
Remote Underwater Videos) (Lowry et al., 2011; White et al., 2013; Struthers et al., 2015). Por ser uma
técnica de amostragem não invasiva e não destrutiva, os BRUVs vêm sendo empregado com sucesso
em estudos de identificação, abundância e estrutura populacional de tubarões e raias em todo o
mundo (White et al., 2013; Espinoza et al., 2014; Mallet & Pelletier, 2014). Em áreas marinhas
protegidas, os BRUVs têm sido amplamente utilizados por auxiliarem no monitoramento das espécies
com mínimo prejuízo ao ambiente (Espinoza et al., 2014).
Embora as zonas costeiras sejam áreas de elevada produtividade onde ocorre a agregação de diversos
organismos, existe um forte aporte de agentes poluidores nesses locais, além de outros fatores
antrópicos, que têm gerado um impacto considerável no ambiente marinho. Devido a esse fato, o
desequilíbrio dos hábitats naturais em alguns trechos da zona costeira do estado de Pernambuco, por
exemplo, acarretou em um grave surto de incidentes com tubarões no estado, demandando a adoção
de várias medidas mitigadoras na região (Hazin et al., 2008; Hazin & Afonso, 2014).
O conhecimento acerca da condição atual das populações de elasmobrânquios na plataforma
continental do Estado de Pernambuco é fundamental não apenas para assegurar a conservação dessas
espécies, mas também para garantir a saúde do ecossistema marinho de uma forma mais ampla. Nesse
contexto, o trabalho teve como objetivo estimar a diversidade e abundância de elasmobrânquios com
o uso de BRUVs em zonas costeiras do estado de Pernambuco, na expectativa de que as informações
geradas possam contribuir para avaliar a atual condição das populações destes animais nesse
ambiente.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREAS DE ESTUDO

Localizado na região nordeste do Brasil, o estado de Pernambuco (08°03'S, 34°52'O) possui cerca de
187 km de extensão costeira e uma plataforma continental com uma largura média de 33 km. O
presente estudo foi realizado nos municípios de Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes, cidades
que compõem parte da Região Metropolitana de Recife (RMR) (Fig. 1). Nas localidades citadas, os
lançamentos dos BRUVs ocorreram afastados das zonas de praia, em decorrência da problemática
relacionada aos incidentes com tubarões no estado (Hazin & Afonso, 2014).

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Figura 1: Localização geográfica do estudo: Região Metropolitana de Recife (RMR), com as respectivas
áreas de lançamento (círculos) dos BRUVs.

FUNCIONAMENTO E INSTALAÇÃO DOS BRUVS

O BRUV é uma estrutura pouco complexa que consiste na montagem de uma câmera de vídeo
compacta em caixa estanque, fixada a uma base confeccionada geralmente em forma de trapézio.
Além da câmera de vídeo, existe ainda uma extensão denominada de braço, cuja extremidade recebe
uma caixa vazada com iscas no seu interior (Fig. 2).

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Figura 2: Estrutura dos BRUVs utilizados na Região Metropolitana de Recife (RMR).


Os BRUVs foram equipados com câmeras do fabricante GoPro modelo Hero3 pré-programadas para
realizarem registros em alta definição (HD). As câmeras foram ajustadas nas estruturas em um ângulo
que permitisse garantir uma visão central da caixa com as iscas. O local onde as iscas ficaram
acondicionadas distava aproximadamente 1 m da câmera e ~1 kg de sardinha (Sardinella brasiliensis)
foi utilizado como isca, devido ao alto teor de óleo da espécie. As câmeras foram programadas para
gravarem continuamente por 90 minutos, incluindo o tempo de lançamento e recolhimento do
equipamento.
Os equipamentos foram implantados em áreas com profundidades que variaram de 5 a 30 m, tendo
sido selecionadas preferencialmente as regiões próximas a recifes de corais naturais e artificiais
(naufrágios) ou locais com pequenos montes submarinos (cabeços). Entretanto, após a escolha dos
habitats potenciais, os demais pontos onde ocorreram as amostragens foram obtidos através da
aleatorização das áreas, respeitando-se o critério de distância entre os equipamentos de 1 km (Fig. 1),
para evitar que influencias da pluma de odor entre os mesmos. Essa distância foi adotada pelo Projeto
Global FinPrint (https://globalfinprint.org) e adaptada no presente estudo.

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ANÁLISE DOS DADOS

Todos os vídeos foram analisados no programa Quicktime player versão 7 para Windows. O produto
das filmagens foi avaliado por três pesquisadores especialistas em identificação da fauna local. Após a
fixação do BRUV ao substrato, o tempo de primeira observação (TPO), que é o intervalo de tempo
decorrido até a chegada do primeiro indivíduo, foi calculado. O número máximo de indivíduos e de
espécies observados (MaxN) em cada ponto de coleta foram contabilizados. Ainda, para os
elasmobrânquios, o MaxN referente foi calculado através do número de indivíduos avistados por hora
de gravação.
Os organismos registrados foram identificados ao menor táxon possível através da observação visual.
As espécies foram classificadas quanto a sua categoria trófica (carnívoros, onívoros e herbívoros) e os
seus estados de conservação foram determinados de acordo com a Lista Vermelha de espécies
ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). As profundidades
experimentadas pelos BRUVs foram classificadas em 4 categorias em intervalos de cinco metros. Após
esse procedimento, uma Análise de Variância (ANOVA) one way foi realizada com o objetivo de avaliar
possíveis diferenças na distribuição dos organismos nas diferentes faixas de profundidade. Além disso,
foram calculados índices de diversidade de Shannon–Wiener (H') e Margalef (d) e de Equitabilidade
(J). Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa R (pacote Vegan).

RESULTADOS

Em novembro de 2017, foram realizados 90 lançamentos de BRUVs na região metropolitana de Recife


(Fig. 1). Desse total, em 11 estações de coleta não foi possível detectar a presença de espécies devido
à turbidez da água. O tempo de primeira observação (TPO) médio na RMR foi de 11,5 min.
Na RMR, 3.299 indivíduos, pertencentes a 75 taxa inseridos em 29 famílias, foram avistados durante
120,9 horas de filmagens (27,3 ind./h). Dos 75 taxa identificados nas amostras, 69 eram teleósteos, 5
elasmobrânquios e 1 tartaruga marinha. Um montante de 4,1% (135) do total de indivíduos foram
identificados apenas ao nível de gênero, totalizando 17 gêneros inseridos em 14 famílias, a exemplo
de Decapterus sp., Lutjanus sp., Calamus e dos elasmobrânquios Hypanus sp. e Carcharhinus sp. Um
total de 801 (24,2%) exemplares foram distinguidos apenas ao nível de família, sendo um Haemulidae
(1) e 800 Clupeidae, que estavam agregados em cardume. Foram visualizados 39 (1,2%) indivíduos
com caracteres morfológicos evidentes de peixe linguado (solha), mas em decorrência da camuflagem,
tamanho dos animais, distâncias das câmeras e turbidez da água, não foi possível identifica-los ao nível
de espécie ou família (Tab. 1).

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Embora a família Clupeidae (S:2, MaxN: 1.307) tenha predominado em número de indivíduos,
representando 39,6% de todos os organismos registrados, a ocorrência total foi relacionada a apenas
duas espécies diferentes que estavam agrupadas em grandes cardumes de passagem. Já a família
Haemulidae, a segunda com maior ocorrência registrada, representou 32,8% (S: 11, MaxN: 1.081) do
total dos indivíduos avistados, seguida pelas famílias Carangidae 7,7% (S: 7, MaxN: 255) e Lutjanidae
4,6% (S: 6, MaxN: 153). As demais famílias agregadas representaram 15,3% (S: 48, MaxN:503) da
amostra total (Tab. 1).
Apenas em 30 (36%) lançamentos dos BRUVs foram avistados elasmobrânquios na RMR. Com relação
ao número total de exemplares registrados, os elasmobrânquios corresponderam a apenas 0,8% (31)
das avistagens, com maior ocorrência da espécie Hypanus americana (MaxN: 17) (Tab. 1).
A abundância de todos os elasmobrânquios na amostra total (MaxN) calculada por hora, foi de 0,24 h -
1. A H. americana (Fig. 3) foi a espécie mais abundante (0,14 h-1), seguido do gênero Hypanus (0,074
h-1), G. cirratum (0,008 h-1) (Fig. 4), H. marianae (0,008 h-1) e do gênero Carcharhinus (0,008 h-1).

Tabela 1: Descrição das famílias, espécies, MaxN, Posição trófica e status de conservação segundo os
critérios da IUCN das espécies registradas pelos BRUVS na Região Metropolitana de Recife (RMR),
Pernambuco, Brasil. IUCN: Não avaliada (NE), dados insuficientes (DD), pouco preocupante (LC), quase
ameaçada (NT) e vulnerável (VU).

Familia Espécie MaxN Posição trófica IUCN


Acanthuridae Acanthurus chirurgus 1 Herbívoro LC
Acanthurus bahianus 2 Herbívoro LC
Acanthurus coeruleus 1 Herbívoro LC
Acanthurus sp 2 Herbívoro
Balistidae Balistes capriscus 28 Carnívoro VU
Balistes vetula 3 Carnívoro NT
Carangidae Chloroscombrus chrysurus 67 Onívoro LC
Caranx crysos 110 Carnívoro LC
Caranx ruber 31 Carnívoro LC
Caranx sp 11 Carnívoro LC
Carangoides bartholomaei 1 Carnívoro LC
Decapterus sp 34 Carnívoro
Seriola rivoliana 1 Carnívoro LC
Carcharhinidae Carcharhinus sp 1 Carnívoro
Chaetodontidae Chaetodon striatus 5 Herbívoro LC
Cheloniidae Chelonia mydas 6 Herbívoro VU
Clupeidae Opisthonema oglinum 507 Onívoro LC
unidentified species 800 Carnívoro LC
Dasyatidae Hypanus americanus 17 Carnívoro DD
Hypanus marianae 1 Carnívoro DD
Hypanus sp. 10 Carnívoro NE
Echeneidae Echeneis naucrates 22 Carnívoro LC

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Epinephelinae Cephalopholis fulva 14 Carnívoro LC


Epinephelus adscensionis 1 Carnívoro LC
Ephippidae Chaetodipterus faber 2 Carnívoro LC
Fistulariidae Fistularia sp 7 Carnívoro LC
Gerreidae Eucinostomus sp 42 Carnívoro LC
Gimglimostomatidae Ginglymostoma cirratum 1 Carnívoro DD
Haemulidae Anisotremus virginicus 4 Onívoro LC
Anisotremus surinamensis 2 Onívoro DD
Anisotremus moricandi 1 Onívoro LC
Conodon sp. 1 Carnívoro
Haemulidae 1 Carnívoro
Haemulon squamipinna 59 Carnívoro NE
Haemulon parra 2 Carnívoro LC
Haemulon aurolineatum 679 Carnívoro LC
Haemulon plumierii 10 Carnívoro LC
Haemulon steindachneri 267 Carnívoro LC
Orthopristis ruber 55 Carnívoro LC
Holocentridae Holocentrus adscensionis 3 Carnívoro LC
Labridae Bodianus rufus 3 Carnívoro LC
Lutjanidae Lutjanus synagris 137 Carnívoro NT
Lutjanus analis 6 Carnívoro NT
Lutjanus sp 1
Lutjanus cyanopterus 1 Carnívoro VU
Lutjanus griseus 1 Carnívoro LC
Ocyurus chrysurus 7 Onívoro DD
Monacanthidae Aluterus monoceros 38 Onívoro LC
Aluterus scriptus 4 Onívoro LC
Aluterus schoepfii 2 Herbívoro LC
Aluterus sp 1
Cantherhines sp 1
Mullidae Mulloidichthys martinicus 2 Carnívoro LC
Pseudupeneus maculatus 11 Carnívoro LC
Muraenidae Gymnothorax funebris 2 Carnívoro LC
Gymnothorax vicinus 1 Carnívoro LC
Gymnothorax sp 1 Carnívoro
Ostraciidae Lactophrys trigonus 12 Onívoro LC
Lactophrys sp 1
Acanthostracion sp 1
Pempheridae Pempheris sp 13
Pomacentridae Holacanthus tricolor 1 Herbívoro LC
Abudefduf saxatilis 17 Onívoro LC
Chromis multilineata 7 Onívoro LC
Pomacanthus paru 1 Herbívoro LC
Scombridae Scomberomorus brasiliensis 3 Carnívoro LC
Serranidae Diplectrum formosum 45 Carnívoro LC
Sparidae Calamus pennatula 5 Carnívoro LC
Calamus sp 1
Sphyraenidae Sphyraena barracuda 8 Carnívoro LC
Sphyraena picudilla 90 Carnívoro NE
Tetraodontidae Lagocephalus laevigatus 10 Carnívoro LC
Sphoeroides sp 7
Linguado 39
Teleósteos não identificados 7

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Figura 3: Registro da raia prego (Hypanus americanus) realizado pelo BRUV na RMR.

Figura 4: Tubarão lixa (Ginglymostoma cirratum) registrado pelo BRUV na Região Metropolitana de
Recife.
Com relação à categoria trófica ocupada pelas espécies identificadas, 70% (46) eram
predominantemente carnívoras, 17% (11) onívoras e 13% (9) herbívoras. De acordo com os critérios
da IUCN, a maior parte das espécies avistadas não está inserida na categoria de pouco preocupante
(76%), embora 9% tenham dados insuficientes ou não tenham sido avaliadas quanto aos seus status
de conservação e 5% tenham sido consideradas como vulneráveis (Tab. 1). A maioria dos exemplares
foram registrados entre 20 e 25 m (média= 72,3; erro padrão= 83,8), com diferenças estatisticamente
significativas quando comprados aos demais estratos [one way ANOVA; 10-15m (df=1, F=9.952,
p=0.003); 15-20m (df=1, F=13.88, p=0.0004); 25-30m (df=1, F=5.537, p=0.025)]. Seguindo a mesma
tendência, os elasmobrânquios foram observados principalmente entre 20 e 25 m de profundidade

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(Fig. 5). Na RMR, os índices de diversidade calculados corresponderam a 10,03 Margalef (d) e 3,39
Shannon (H-log) e de Equitabilidade (J) a 0,80. A riqueza média calculada por hora foi de 0,62 (S/hora).

Figura 5: Relação entre o número médio de indivíduos (barras sólidas) registrados pelos BRUVS
distribuídos nas diferentes profundidades e número de elasmobrânquios (linha) em cada extrato de
profundidade na RMR.

DISCUSSÃO

Na última década, avanços significativos têm sido alcançados no uso de metodologias não destrutivas
para o estudo de assembleias de peixes, tanto em regiões altamente impactadas, a exemplo das zonas
costeiras em centros urbanos, como em áreas com restrições para o desenvolvimento desse tipo de
trabalho, por razões de conservação, como em áreas marinhas protegidas (Awruch et al., 2008;
Strickland, 2017). Estudos com métodos não letais são especialmente recomendados para pesquisas
com elasmobrânquios, em razão deste grupo incluir algumas das espécies marinhas mais vulneráveis
(Musick et al., 2000). Neste sentido, na última década os estudos voltados para a caracterização da
biodiversidade e abundância das espécies por meio da utilização de BRUVs avançaram de forma
exponencial, demostrando a eficiência desta metodologia não destrutiva na avaliação de assembleias
de peixes em todo o mundo (Whitmarsh et al., 2016; Sherman et al. 2018).
De forma geral, o número de espécies contabilizadas neste estudo foi superior aos montantes já
registrados por outros trabalhos em que os censos visuais subaquáticos foram utilizados como
ferramenta metodológica para a avaliação da biodiversidade de peixes marinhos no nordeste do Brasil
(Chaves et al., 2010; Lippi, 2013; Ferreira, 2014). Em levantamentos ictiofaunísticos realizados através
de busca intensiva em piscinas de maré da RMR, por exemplo, foram contabilizadas 66 espécies,
número inferior ao encontrado no presente estudo, o que pode, no entanto, ser justificado em razão

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Onde Estão Os Tubarões Do Recife?Utilização De Bruvs Para O Levantamento Da Ictiofaunana Região Metropolitana De Recife

da menor profundidade (~1m) dos mergulhos realizados, além da presença humana nas coletas
(Dantas, 2013). Por outro lado, censos visuais subaquáticos realizados no parque de naufrágios de
Pernambuco, localizado em frente à RMR, detectaram a presença de 97 espécies, com uma
abundância total de 80.509 indivíduos (Fischer, 2009), número, portanto, bastante superior ao
encontrado no presente trabalho (3.299 espécies). A diferença nesse caso, contudo, pode ser atribuída
tanto à grande diferença no esforço de observação e aos locais onde ocorreram as amostragens, pois
os naufrágios são refúgios de vida marinha que funcionam como substratos consolidados, áreas de
crescimento, alimentação e de berçário para diversas espécies, e por isso são considerados como
recifes artificiais com uma elevada agregação de espécies (Faria et al., 2001; Granneman & Steele,
2014).
Na localidade, foram registrados teleósteos classificados como vulneráveis a extinção na lista
vermelha da IUCN. O uso dos BRUVs, porém, permite a observação direta, sem a necessidade da
retirada dessas espécies do seu ambiente natural, confirmando a eficácia dessa ferramenta para o
estudos de espécies crípticas, tanto em ambientes impactados, como em unidades de conservação
com restrição de uso (Espinoza et al., 2014; De Vos et al. 2015). Ainda, os elasmobrânquios registrados
na RMR foram considerados com dados insuficientes pela avaliação da IUCN, trazendo o presente
estudo informações que visam subsidiar o conhecimento sobre essas espécies.
O Programa de Monitoramento de Tubarões (PROTUBA) no litoral do Recife, que utilizou o espinhel
pelágico para captura de tubarões, no entanto, observou apenas 29 espécies de peixes em 10 anos de
pesquisa (Hazin & Afonso, 2014; Niella et al., 2017). A grande diferença entre o número de espécies
capturadas e os registros da fauna com os BRUVs se deve à seletividade do aparelho de pesca, pois
além de registrar espécies com hábitos alimentares predominantemente carnívoros e onívoros, os
BRUVs também foram capazes de atrair espécies recifais herbívoras. Esse fato indica que a utilização
dos BRUVs permite obter uma avaliação mais fidedigna da população de uma determinada área do
que por meio da captura, eliminando o viés produzido pela atratividade da isca (De Vos et al., 2014).
Os elasmobrânquios são espécies bioindicadoras de qualidade ambiental, com a sua ausência
interferindo diretamente no funcionamento da cadeia trófica do ecossistema marinho (Hammerschlag
et al., 2018). Sendo assim, embora historicamente a RMR possua um elevado número de incidentes
com tubarões, nenhuma espécie potencialmente ligada aos ataques foi registrada no presente estudo,
corroborando com os resultados descritos por outros autores no que diz respeito a reduzida
abundância desses indivíduos em águas do litoral pernambucano (Hazin & Afonso, 2014; Niela et al.,
2017). Estudos anteriores sobre elasmobrânquios na RMR registraram a ocorrência de oito espécies

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de tubarões e duas espécies de raias, sendo o tubarão flamengo (Carcharhinus acronotus) a espécie
com o maior número de capturas na região (Hazin et al., 2000). Embora o espécime de Carcharhinus
registrado pelos BRUVs tenha a morfologia similar ao C. acronotus, a reduzida visibilidade impediu a
identificação exata da espécie. Niella et al. (2017) apontaram um pico de abundância de tubarões nos
meses de maio a agosto, por isso, levantamentos adicionais com BRUVs são necessários para investigar
a presença de tubarões na RMR durante esses meses que são os de maior incidência pluviométrica.
O presente estudo, por fim, indica uma baixa densidade populacional de tubarões na região, ao
contrário do que se possa pensar em razão do surto de ataques na área desde o início de década de
1990. Quando comparada a outras técnicas de amostragem, o uso de BRUVs se mostrou eficiente para
avaliar a fauna marinha na região, sendo uma técnica não invasiva e não destrutiva, ideal para regiões
antropicamente impactadas.

AGRADECIMENTOS

O presente estudo foi financiado pela Paul G. Allen Philantropies, como parte da iniciativa global do
monitoramento de tubarões e raias, Global FinPrint. Agradecemos a Fundação de Amparo à Ciência e
Tecnologia de Pernambuco (FACEPE) pela concessão da Bolsa de Fixação de Pesquisador (BFP-0114-
5.06/17) a autora. Agradecemos a José Alexandre Carvalho e Rafael “Brutus” Muniz pela
disponibilidade e apoio logístico; ao capitão Gleicinho e aos marinheiros Paulinho e Zé da embarcação
Sinuelo pela inestimável assistência a bordo; Drausio Veras e Yuri Marins pelo auxílio na identificação
das espécies.

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544
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547
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 45
10.37423/200601516

“GESTÃO DE RISCOS: ESTUDO DE CASO EM


FAZENDAS MARINHAS DE CULTIVO DE OSTRAS”

Giselle Mari Speck

Cristhiane Guertler

Walter Quadros Seiffert

Lizandra Garcia Lupi Vergara


Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

Resumo: A gestão de riscos baseia-se em princípios e boas práticas de gerenciamento e segurança,


para auxiliar na tomada de decisões estratégicas. Envolve um processo organizado e recursivo de
documentação, avaliação e decisão durante todas as fases do ciclo de vida do projeto e do processo
produtivo. No entanto, é pouco utilizada pelas empresas em geral, apesar das ferramentas e técnicas
existentes. Assim, o artigo teve por objetivo estudar a aplicabilidade e a importância da gestão de
riscos na maricultura. A pesquisa foi qualitativa do tipo exploratória pautada na pesquisa bibliográfica
e estudo de campo em fazendas de cultivo de moluscos, considerando as formas de gestão, as etapas
do ciclo de trabalho e os fatores que representam riscos de acidentes e doenças ocupacionais para os
maricultores. Durante a pesquisa observou-se que há fragmentação do conhecimento sobre a forma
de gerenciamento dos riscos de acidentes, evidenciada através da dificuldade na caracterização dos
riscos no ambiente de trabalho e, decorrente, em parte, de diversos fatores culturais, fato
determinante para a estagnação do fluxo de informações. Percebe-se certo distanciamento entre o
planejado e o executado. Os resultados evidenciaram que os fatores de riscos atuam sobre os
trabalhadores, propiciando um ambiente desfavorável para a realização das atividades, podendo
comprometer a saúde e a vida profissional destes, assim como acarretar em prejuízos para as
empresas. As variáveis predominantes foram o ambiente e a manutenção preventiva inexistentes ou
inadequados e os equipamentos de proteção individual e coletiva inadequadamente utilizados pelos
profissionais, constrangimentos ergonômicos pela manipulação de carga e postura corporal
inadequadas na realização das tarefas, e ritmo de trabalho acelerado pela falta de recursos material e
humano. Ressalta-se que a pesquisa ofereceu um diagnóstico referente aos riscos presentes nos
ambientes de trabalho da maricultura, proporcionando a reflexão sobre um modo operatório eficaz
com menor risco de acidentes no processo de trabalho desta atividade.

Palavras-chave: Aquicultura; Cultivo de Moluscos; Segurança do Trabalho; Riscos.

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

1. INTRODUÇÃO

O atual cenário mundial é caracterizado pela globalização das economias, novas tecnologias e
emergência de expectativas individuais. Esta envolvente apresenta um conjunto de novos e complexos
fenômenos no contexto social, exigindo das empresas novas formas de ação e grande reforço para sua
capacidade competitiva, onde o binômio segurança e saúde no trabalho é tanto um forte indicador
para a qualidade e produtividade, como um diferencial para o posicionamento da empresa no
mercado.
A gestão de riscos é a identificação sistemática e a avaliação de risco na tentativa de reduzir as
incertezas e para alcançar o sucesso do projeto. Toda avaliação de risco laboral deve ser um momento
de reflexão para a otimização da atividade profissional segura, evitando-se, assim, os riscos
desnecessários, controlando da melhor forma os riscos que não podem ser eliminados (INSTITUTO
NACIONAL DE SEGURIDAD E HIGIENE EN EL TRABAJO, 2008).
Para a realização de um trabalho de gestão do risco ocupacional é necessário entender os perigos e
riscos no trabalho, assim desenvolver formas para gerenciar estas informações através de um sistema
de gestão. Os processos industriais evoluíram, pois tem-se equipamentos de alta produção realizando
o que muitas pessoas não conseguem produzir. Entretanto, mesmo com alta tecnologia, em qualquer
processo produtivo, teremos pessoas trabalhando, com isso sempre continuaremos com os riscos
ocupacionais, cabe a organização junto com seus colaboradores e principalmente sua equipe de
segurança do trabalho, diminuir ou eliminar estes riscos (BERKENBROCK e BASSANI, 2010).
A implementação de normas e exigências legais referentes a segurança do trabalho, ou a implantação
da gestão de segurança do trabalho nas empresas, é um aspecto de fundamental importância e
sucesso do empreendimento, onde devem ser envolvidos além dos aspectos normativos, a avaliação
de aspectos operacionais, a política, o gerenciamento e o comprometimento da alta administração
com o processo de mudanças e melhorias contínuas das condições de trabalho, de segurança e saúde
(ARAÚJO, 2005).
A análise de riscos e a implantação de programas de gestão de riscos são ferramentas de grande
importância para prevenção de acidentes, que, na sua maioria, apontam as etapas de antecipação,
reconhecimento, avaliação e controle dos riscos como o processo mais eficaz na busca da segurança
dos trabalhadores. Quando há um bom nível de controle da exposição aos riscos no ambiente de
trabalho a contaminação pode ser controlada e minimizada. A avaliação de riscos e a elaboração de
estratégias de controle de exposição auxiliam na adoção de boas práticas e implementação de
soluções de controle de baixo custo (KEEN, et al., 2013).

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550
Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

Um dos pontos fundamentais da nova perspectiva é a relação entre gerenciar os riscos e o processo
decisório. A novidade (não tão nova na concepção, mas na aplicação) reside no simples motivo que as
decisões sempre serão tomadas por um conjunto finito de informações escolhidas dentro de um
espectro amplo de dúvidas, logo os caminhos escolhidos precisam ter o máximo de clareza das
possíveis perdas que poderão advir da decisão (HILL e DINSDALE, 2003).
A presença de risco ocupacional no desempenho das atividades laborais do profissional de maricultura
apresenta uma visibilidade multifatorial, devido à diversidade dos fatores de riscos a que estão
expostos, dependendo da atividade realizada. Nessa vertente, verifica-se a importância da análise
destes riscos para os profissionais.
Um fator importante para a gestão da aquicultura é a padronização dos processos. Com o uso de
procedimentos operacionais padrões é possível identificar mais facilmente os pontos críticos de cada
tarefa, operação, manutenção e controle auxiliando nos processos de tomada de decisão (ALVAREZ-
LAJONCHÉRE e CITTOLIN, 2013; MCGUINNESS e UTNE, 2014). Procedimentos operacionais padrões
podem ser aplicados em qualquer processo produtivo e devem ser considerados juntamente com as
normas de biossegurança para garantir a eficiência e manter a produtividade e qualidade (FAO, 2007).
Um conjunto abrangente de códigos gerais na aquicultura foi desenvolvido pela Global Aquaculture
Alliance, sendo que a adoção de medidas de prevenção e controle de riscos ocupacionais é um dos
itens necessários para uma empresa obter a certificação de Boas Práticas em Aquicultura (GAA, 2011).
No Brasil, apesar de existir uma norma específica para o trabalho em aquicultura (BRASIL, 2005), esta
ainda é uma área incipiente quando falamos em orientação direta ao produtor. Durante muitos anos,
diversos países com produção aquícola têm ignorado a adoção de políticas aplicadas ao ambiente de
trabalho, apresentando legislação deficiente e falta de orientação aos aquicultores (ERONDU e
ANYANWU, 2005).
Desta forma, a criação de procedimentos baseados em falhas identificadas nos processos produtivos
que considerem todo o contexto da atividade pode ser uma estratégia para melhorar o desempenho
do setor (ANTÃO et al., 2008). Para isto, torna-se importante conhecer profundamente os processos
que possuam fatores com potencial de perda para que possam ser preparadas ações para controlá-
los.
Através destes estudos, a análise dos fatores de risco e dos agravos à saúde dos trabalhadores da
maricultura leva ao entendimento de quais fatores podem ser, de alguma forma, evitados ou
minimizados, reduzindo-se assim os agravos à saúde desses trabalhadores. O objetivo deste estudo
foi apresentar um modelo conceitual de gestão de riscos baseado nos estudos de campo incorporado

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

com os princípios ergonômicos, no intuito de fomentar possíveis ações que podem evitar que esses
trabalhadores tenham sua saúde prejudicada pelo exercício do trabalho.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A gestão de riscos convive com o ser humano desde os primórdios da civilização, pois o homem sempre
esteve envolvido com riscos e com decisões a respeito destes. Antes mesmo da existência dos gestores
de risco, indivíduos têm se dedicado a tarefas e funções relacionadas à segurança do trabalho e
patrimonial, proteção contra incêndios, controle de qualidade, inspeções e análises de riscos para fins
de seguro, análises técnicas de seguro e outras atividades semelhantes.
Assim, a gestão de riscos é a ciência, a arte e a função que visa a proteção dos recursos humanos,
materiais e financeiros de uma empresa. A gestão de riscos, na indústria moderna, iniciou após a
segunda guerra mundial, devido à rápida expansão das indústrias e crescimento dos riscos
incorporados. Visa aumentar a confiança na capacidade de uma organização em prever, priorizar e
superar obstáculos para, como resultado final, obter a realização de suas metas. Ao mesmo tempo em
que atua na proteção dos recursos humanos, materiais e financeiros da empresa, preocupa-se,
também, nas consequências de eventos aleatórios que possam reduzir sua rentabilidade, sob forma
de danos físicos, financeiros ou responsabilidades para com terceiros. Compreende-se, dessa forma,
que os esforços na tentativa de eliminar, reduzir, controlar ou ainda financiar os riscos, caso seja
economicamente viável, são de suma importância para o desenvolvimento salutar de uma empresa.
Dessa forma, tornou-se imprescindível garantir a proteção da empresa em relação aos riscos de
acidentes.
Além da avaliação das probabilidades de perdas, a necessidade de determinar quais são os riscos
inevitáveis, assim como, os que poderiam ser diminuídos, passaram a ser calculados frente a relação
custo e benefício das medidas de proteção a serem adotadas. Também, passou-se a considerar a
situação financeira da empresa para a escolha adequada do seu grau de proteção. Nesse contexto, os
objetivos somente seriam atingidos por meio de uma análise detalhada das situações de risco.
As reais situações de risco se configuram em meio a uma complexa elaboração de compromissos
frente às exigências da produção, por entre os padrões normativos e a variabilidade das situações, os
limites do corpo e a materialidade da produção, a própria história e a história dos que compartilham
os meios de trabalho. A diversidade das situações de trabalho configura campos de possibilidades de
gestão dos riscos também diferenciados, conforme a variabilidade das situações reais e das histórias

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

pessoais e coletivas, onde a formação e a experiência dos operadores se destacam (ECHTERNACHT e


CASTRO, 2015).
A gestão dos riscos no trabalho não se reduz à normatividade prescrita pelos saberes especializados
em Saúde e Segurança do Trabalho (SST). Ela é também real e situada, resultado da aglutinação dos
saberes construídos na história das situações de trabalho, através da experiência individual e coletiva
e das condições concretas em que a atividade se realiza (ECHTERNACHT, 2008).

3. METODOLOGIA

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

A pesquisa foi qualitativa do tipo exploratória pautada na pesquisa bibliográfica e em um estudo de


campo. A fase exploratória permitiu conhecer o ambiente de fazendas de cultivo de moluscos de
Florianópolis, as formas de gestão destas fazendas, as etapas do ciclo de trabalho e os fatores que
representam riscos de acidentes e doenças ocupacionais para os maricultores.
O delineamento deste estudo, para analisar os trabalhos e o ambiente das mariculturas, foi assim
escolhido porque considera que o trabalho descritivo procura abranger aspectos gerais e amplos de
um contexto social e possibilita desenvolver um nível de análise em que se identificam as diferentes
formas dos fenômenos, sua ordenação e classificação. É um tipo de estudo que permite ao
pesquisador obter melhor compreensão do comportamento de diversos fatores e elementos que
influenciam determinado fenômeno (OLIVEIRA, 2002).
No contexto deste estudo, também foi considerado que, na investigação qualitativa, deve-se ir a
campo com uma preocupação inicial, um objetivo central e uma questão orientadora. Para buscar
compreender a questão formulada, é necessária inicialmente uma aproximação no campo para se
familiarizar com a situação a ser pesquisada. Para tal, o pesquisador deve frequentar os locais em que
acontecem os fatos nos quais está interessado, preocupando-se em observá-los, entrar em contato
com pessoas, conversando e recolhendo material produzido por elas ou a elas relacionado. A partir
daí, ligadas à questão orientadora, vão surgindo outras questões que levarão a uma compreensão da
situação estudada (CERVO et al., 2007).
Desta forma, a pesquisa foi realizada segundo as orientações de Lakatos e Marconi (2007), Gil (2007),
Oliveira (2002), Bodgan e Biklen (1994) e Cervo et al. (2007), visando a conhecer o ambiente e as
etapas de trabalho das mariculturas, para propor um modelo conceitual de gestão de riscos
incorporado com os princípios ergonômicos.

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

Em suma, a pesquisa foi delimitada em três etapas. Em princípio foi realizada uma pesquisa
bibliográfica, que foi a base do trabalho, sendo responsável pelo seu direcionamento e
estabelecimento do contexto. Nesta etapa, foi feito um levantamento bibliográfico sobre o que existe
e de que forma estão relacionados os trabalhos voltados para a maricultura, a ergonomia, a segurança
do trabalho e a gestão de riscos. Em um segundo momento, foi realizada a pesquisa de campo, com
objetivo de observar e descrever os trabalhos, identificar os perigos, analisar e avaliar os riscos,
estimando-se a expectativa de ocorrência dos eventos e os impactos que estes causam nos ambientes
destas mariculturas. Como última etapa, foi realizada uma análise qualitativa dos dados coletados, na
qual foram confrontadas as informações da pesquisa bibliográfica com as observações de campo,
visando a direcioná-las para subsidiar a elaboração do modelo conceitual. Concluída a análise,
procede-se a avaliação e categorização dos riscos para que sejam direcionados ao tratamento
adequado (Figura 1).

Figura 1. Gestão de riscos


Fonte: CTISM, adaptado de ABNT NBR ISO 31000:2009

LOCAL DE ESTUDO

Os dados foram coletados em duas fazendas marinhas de cultivo de ostras, na localidade do Ribeirão
da Ilha, região sul de Florianópolis, pertencente ao Estado de Santa Catarina (-27º48’57.03”S; -
48º33’54.23”W). Esta região é uma das pioneiras na ostreicultura do Estado, pois reúne condições
ambientais favoráveis ao cultivo.

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO

Participaram desta pesquisa 15 maricultores. Os critérios de inclusão dos sujeitos foram: serem do
gênero masculino e atuarem no mínimo um ano na atividade, e que consentiram em participar do
estudo por meio da leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram
excluídos os trabalhadores que possuíam experiência inferior a um ano, afastamento do trabalho por
problemas de saúde, férias ou folgas por ocasião da coleta de dados.

ASPECTOS ÉTICOS

O desenho do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Carmela Dutra
sob o parecer nº 2.413.985 de 04 de dezembro de 2017, atendendo às suas exigências éticas e
científicas. Foi utilizado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para que os participantes
tomassem ciência de seus objetivos e dos procedimentos da pesquisa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos riscos tem como objetivos principais a identificação dos riscos, a avaliação do grau desses
riscos e a indicação das maneiras de gerenciamento, visando monitorá-los, e, se possível, eliminá-los,
conforme descrito por Mauro et al. (2004). Esses autores citam que a visibilidade do acidente de
trabalho não deve acontecer apenas no seu contexto, mas em conjunto com os fatores de riscos que
o predispõe. Segundo os mesmos autores, a avaliação dos riscos no local de trabalho não deve se
limitar apenas à descrição dos riscos ocupacionais a que os profissionais estão expostos.
Ressalta-se a ocorrência de uma limitação na aplicação da metodologia, devido ao curto espaço de
tempo para a realização da pesquisa, e à dimensão do campo de estudo, visto que a percepção é uma
característica individual e pode sofrer interferência do meio através do pensamento do trabalhador e
de sua demonstração nas ações práticas.
Nesse contexto, constatou-se que os principais resultados pela percepção dos participantes do estudo
sobre o setor de trabalho e as instalações foram: vestiários e banheiros insuficientes/inadequados;
sistemas inadequados de saída de emergência e prevenção de incêndios ou explosões; espaço
insuficiente para trabalhar; ventilação/climatização inadequada dos locais de trabalho.
Quanto a equipamentos, tecnologias e instrumentos utilizados pelos profissionais da maricultura
destacaram-se: manutenção preventiva inadequada ou inexistente de equipamentos, motores e
motobombas; falta de instruções de segurança; dispositivos de segurança insuficientes/inadequados,
utilização inadequada dos equipamentos de proteção individual (EPIs).

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

Em relação às substâncias e aos materiais que são utilizados e/ou manipulados pelos profissionais
relacionados a maricultura, constataram-se: exposição aos riscos biológicos; desconhecimento sobre
os riscos a que estão expostos durante o manuseio dos materiais ou substâncias; exposição aos riscos
químicos e manipulação de substâncias mutagênicas e/ou cancerígenas.
Sobre os fatores de riscos ergonômicos destacaram-se: distribuição inadequada de pessoal e/ou
equipe; conhecimento insuficiente dos princípios da ergonomia; mariculturas com ambiente
arquitetônico (layout) inadequado dos postos de trabalho; manipulação de carga inadequada; falta de
ferramentas e/ou instrumentos para a realização das tarefas; necessidade de adoção de posturas
inadequadas do corpo; espaço inadequado para a realização das atividades; mobiliário insuficiente nas
mariculturas e armazenamento inadequado de materiais; adoção de posturas corporais por período
prolongado.
Verificou-se que, sobre a organização do trabalho das mariculturas estudadas, as principais variáveis
foram: ritmo de trabalho aumentado, principalmente na alta temporada; formação contínua
insuficiente; proteção legal insuficiente em relação aos trabalhadores). Outro aspecto observado está
relacionada á percepção dos riscos no ambiente de trabalho, onde grande parte dos maricultores
acredita que riscos como quedas, cortes e choque são inerentes à atividade e o trabalhador necessita
conviver com estes riscos.
Assim, ressalta-se que os locais de trabalho, em sua grande maioria, evidenciados nesta pesquisa são
inadequados ao trabalho dos profissionais, visto que em seu ambiente físico, o espaço, a ventilação e
a temperatura não se encontram em conformidade com as Normas Regulamentadoras preconizadas.
Verificou-se, pela percepção dos participantes da pesquisa, que os ambientes internos das
mariculturas são muito quentes e com iluminação insuficiente para a realização das atividades, o que
provoca maior desgaste físico dos maricultores, coerente com Dutra (2008) ao descrever, que, devido
ao nível de iluminamento incorreto, os riscos podem predispor os profissionais a doenças, bem como
facilitar erros, comprometendo a qualidade destas empresas. Nessa vertente, ressalta-se que o
projeto de ventilação adequado destes ambientes precisa de cuidados operacionais e de fácil inspeção
para prevenir doenças e favorecer um ambiente confortável para a equipe.
Em algumas mariculturas, a improvisação acontece deixando os profissionais expostos às intempéries
e aos vetores corroborando com Dutra (2008). No quesito sobre incêndios, explosões e sistema de
emergência, verificou-se que a maioria das mariculturas possui sistemas inadequados de prevenção
de incêndios ou explosões, assim como sistemas inadequados de saída de emergência. Adiciona-se a
isto, a inexistência de um programa de treinamento de combate a incêndios, o que, em caso de

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

acidente ou incêndio, pode aumentar a magnitude do evento, veste as condições precárias dos
referidos sistemas.
Riscos elétricos podem levar o aquicultor a óbito (MYERS e DURBOROW, 2012), provocar incêndios e
explosões (MOREAU e NEIS, 2009). Em março de 2014, em Santa Catarina, cinco ranchos de cultivo de
moluscos foram completamente destruídos por um incêndio, causando prejuízos econômicos aos
maricultores. Ressalta-se que um plano de gerenciamento dos riscos de incêndio é primordial para se
compreender o sistema englobado, o processo produtivo, o ambiente físico, econômico, social e
político (DUARTE et al., 1998).
Verificou-se que, devido à falta de manutenção dos instrumentos e das ferramentas utilizados pelos
profissionais durante a realização de suas atividades, o tempo de vida útil das mesmas leva à
degradação do ambiente, o que pode favorecer a elevação da taxa de acidentes de trabalho. Assim,
as doenças do trabalho podem surgir pela ocorrência de regulação (improviso) na realização das
atividades para suprir a precariedade de instrumentos e ferramentas, ocasionando um aumento da
carga cognitiva desses profissionais; no tocante à instituição, ocorrendo um aumento dos gastos na
aquisição e/ou no reparo tardio destas ferramentas.
Constatou-se que os maricultores utilizam inadequadamente os equipamentos de proteção individual
(EPI), o que pode ser ocasionado por falta de conhecimento sobre as consequências do seu desuso ou
pela utilização errônea, corroborando o descrito por Dutra (2008). Em pesquisa realizada com
profissionais de maricultura, os trabalhadores relataram a falta de EPI e a sua má utilização, o que,
segundo a autora, são fatores que podem contribuir para o aumento do risco biológico no ambiente
de trabalho. Esses achados podem ser também pela falta de treinamento ou de desconhecimento da
legislação vigente, o que pode expor os profissionais à acidentes de trabalho e à doenças profissionais,
estando em não conformidade com a NR 06, evidenciando o descaso pelos profissionais da maricultura
na utilização de medidas de biossegurança indica uma investigação mais profunda desse fato e a
necessidade de uma educação continuada, por colocarem em risco a saúde desses trabalhadores.
Através do resultado obtido em relação às substâncias e aos materiais que são utilizados e/ou
manipulados pelos profissionais durante a realização de suas atividades, verificou-se que os mesmos
não possuem conhecimento sobre os riscos a que estão expostos durante o manuseio de materiais ou
de substâncias, apesar de encontrarem-se expostos a riscos químicos e biológicos.
Os fatores ergonômicos a que estão expostos os maricultores podem ser evidenciados devido ao seu
ambiente arquitetônico (layout), proporcionando um espaço inadequado para a realização das
atividades. Isso pode acarretar constrangimentos posturais para os profissionais, independentemente

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

das características das tarefas realizadas, pela manipulação de carga inadequada, devido à
necessidade de adoção de posturas do corpo inadequadas e algumas vezes por período prolongado
para a realização das tarefas. Esse é um fator preponderante para as lesões na coluna vertebral,
membros superiores e inferiores, dentre outros, estando em concordância com Guertler et al. (2016),
Speck et al. (2019) e Speck et al. (2020), ao citarem que os distúrbios musculoesqueléticos estão
inseridos entre as principais doenças que acometem os profissionais da aquicultura.
Destaca-se que o mobiliário insuficiente nas mariculturas e o armazenamento inadequado de
materiais podem proporcionar um aumento do gasto energético dos profissionais. Nesse sentido,
ressalta-se a importância dos investimentos financeiros para a melhora das condições de trabalho
nestes ambientes, como alterações nos postos de trabalho, aquisição de materiais, equipamentos e
mobiliários, proporcionando uma redução dos gastos com a saúde do trabalhador, prevenindo
acidentes e absenteísmos. Verificou-se que, além do exposto, as equipes não possuem número
suficiente de profissionais para a plena realização das tarefas, ocorrendo má distribuição das equipes
e, em função disso, são levados a realizar tarefas designadas a outras categorias profissionais,
aumentando sua demanda física, cognitiva e psicossocial.
A organização do trabalho é um fator determinante para a realização das atividades pelos profissionais
e a sua produtividade. Referem ainda que a base social, a solidariedade, a satisfação no ambiente do
trabalho ou a autonomia pessoal estão diretamente relacionados com a saúde no trabalho. Nesse
sentido, verificou-se que a organização do trabalho das mariculturas estudadas encontra-se
comprometida com a realização das atividades pelos profissionais com ritmo de trabalho aumentado
e com a falta de recurso material.
Um quadro complexo surge após o exame mais minucioso de uma série de riscos, incluindo a idade,
os riscos psicossociais, exigências físicas, satisfação no trabalho e equilíbrio na vida profissional.
Atualmente, a visão das organizações relativas à segurança mudaram radicalmente, porém, a questão
da organização é insuficientemente levada em conta nas ações de prevenção (GARRIGOU et al., 2007).
Preocupadas com o crescente aumento de fatores de risco, as organizações internacionais começaram
a desenvolver normas e guias abrangentes, com foco gerencial, para que as empresas passem a
implantar e a desenvolver sistemas de gestão nas suas estruturas, com objetivo de melhorar o
ambiente de trabalho e a imagem da empresa (TRIFKOVIC, 2014).
Dentre as principais normas internacionais para desenvolver um sistema de gestão, destacam-se a
OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series) (2007) e ISO 31000 (International
Organization for Standardization) (2009). A OHSAS 18001 (gestão ocupacional) foi desenvolvida em

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

compatibilidade com a ISO 9001 (gestão da qualidade) e a ISO 14001 (gestão ambiental), para que as
organizações possam manter um modelo de gestão integrada em seu empreendimento.
De acordo com a norma OHSAS 18001, um sistema de gestão ocupacional constitui uma parte do
sistema de gestão global que facilita o gerenciamento de diversos riscos associados aos negócios da
organização. Isto inclui a estrutura organizacional, as atividades de planejamento, as
responsabilidades, procedimentos, processos e recursos. Enquanto isso, a ISO 31000 tem como
objetivo servir de guia para gestão de qualquer tipo de risco, padronizando linguagem, normas e
procedimentos.
Segundo a OSHA (2013), dentre as vantagens da implantação de um sistema de gerenciamento de
riscos, destacam-se: (1) melhor reputação e credibilidade da empresa com a comunidade e com o
setor produtivo; (2) fidelização de clientes; (3) atração de melhores trabalhadores; (4) capacidade para
ganhar novos contratos; (5) aumento da produtividade e eficiência operacional; (6) diminuição de
absenteísmo; (7) diminuição de possíveis encargos trabalhistas (indenizações e processos); (8)
diminuição de custos com reparo de equipamentos e (9) diminuição de perdas por paralisação na
produção.
Eventos negativos, constituem pontos que devem ser controlados preventivamente através do
planejamento, organização e avaliação do desempenho dos controles implantados (ARAUJO et al.,
2007). Neste contexto, um dos objetivos da gestão ocupacional no empreendimento é obter um
processo de trabalho seguro, uma vez que processos seguros têm como consequência um melhor
ambiente de trabalho (ARRUDA, 2011).
O gerenciamento dos riscos é uma ferramenta essencial para auxiliar na elaboração de planos de ação
(WINDLE et al., 2008; HAVOLD, 2010; KORF e GOELLNER, 2011). Sendo assim, o desenvolvimento de
trabalhos para conhecer profundamente os processos e pontos críticos da atividade são cada vez mais
atuais. No entanto, as pesquisas sobre riscos na aquicultura são muito fragmentadas e limitadas em
todos os níveis, e como consequência existe uma incapacidade em compreender os diversos riscos da
atividade, seja ela regional, nacional ou internacional (MOREAU e NEIS, 2009).

5. CONCLUSÃO

Os riscos presentes na aquicultura podem ser controlados pelo produtor através da inserção de
programas de gestão, sendo que o conhecimento dos pontos críticos dos processos é muito
importante para que sejam realizadas melhorias no local de trabalho. Não foram encontrados relatos
na literatura de avaliações sistemáticas dos vários elementos de riscos na atividade de maricultura e

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

como eles podem se relacionar. Desta forma, estudos como o realizado nesta pesquisa, tornam-se
cada vez mais relevantes para o desenvolvimento sustentável da atividade.
É recomendável proporcionar um modo operatório eficaz com menor risco de acidentes para os
próprios profissionais e clientes através da gestão de riscos eficiente, visando a ambientes menos
insalubres e com maior satisfação na profissão, o que, para as empresas, significa um sistema mais
produtivo com visibilidade favorável, facilitando a captação de recursos materiais e humanos para as
necessidades reais da organização.
Ressalta-se que, independentemente da limitação metodológica apresentada, a pesquisa
proporcionou um diagnóstico para os maricultores concernente aos riscos ambientais presentes nos
locais de trabalho. É importante desencadear um processo de treinamento eficaz e uma avaliação do
impacto, junto aos trabalhadores, sobre os problemas levantados e a possibilidade de intervenção nos
mesmos através de um planejamento eficiente.
A metodologia aplicada neste estudo pode contribuir, de maneira efetiva, no processo de
reconhecimento dos riscos ocupacionais a que se encontram expostos os trabalhadores das áreas
aquícolas. Sugere-se reaplicar a metodologia em outras pesquisas para proporcionar o aprimoramento
e a funcionalidade na gestão de riscos ocupacionais, assim como a sua aplicabilidade em outras
categorias profissionais.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao


Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao Instituto Federal
Catarinense (IFC), ao Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM), da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) e as fazendas marinhas visitadas que viabilizaram este estudo. Agradecimentos
especiais aos maricultores das fazendas marinhas pelas preciosas informações.

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560
Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Gestão De Riscos: Estudo De Caso Em Fazendas Marinhas De Cultivo De Ostras

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500
563
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 46
10.37423/200601518

ANÁLISES DAS CARACTERÍTICAS


MORFOMÉTRICAS E MERÍSTICAS DO PLATY
(XIPHOPHORUS MACULATUS)

AMANDA RAFAELA CUNHA GOMES

YAGO BRUNO SILVEIRA NUNES

CARLOS RIEDEL PORTO CARREIRO


Análises Das Caracteríticas Morfométricas E Merísticas Do Platy (Xiphophorus Maculatus)

Resumo: O platy (Xiphophorus maculatus) é uma espécie oriunda da américa central, de


comportamento pacífico, fácil reprodução e rusticidade, habitam rios com águas calmas, assim como
em lagos e lagoas. A morfometria compõe uma das mais importantes ferramentas na quantificação
das diferenças morfológicas que refletem as adaptações ecológicas das espécies. Sendo assim, este
trabalho teve como objetivo analisar as características merísticas e morfométricas da espécie.Foram
analisados 22 exemplares de Platy foram mantidos em um recipiente contendo 20 L de água. A
oxigenação foi mantida por meio de compressor e com auxílio de uma balança analítica e um
paquímetro foram aferidos os pesos e medidas para cada indivíduo com as seguintes características
morfométricas: comprimentos comprimento total (CT), comprimento padrão (CP), comprimento da
cabeça (CCa), comprimento do focinho (CFo), altura máxima do corpo (H), diâmetro do olho (DO),
comprimento pré-anal (CPA), comprimento pré-peitoral (CPP), comprimento da nadadeira peitoral
(CNP), comprimento da nadadeira dorsal (CND), comprimento da nadadeira ventral (CNV) e
comprimento da nadadeira caudal (CNC). Observou-se que a maior frequência de comprimento total
variou entre 28 e 30 mm e não houve incidência entre 34 e 33 mm. Ao relacionar o comprimento
padrão e o comprimento da nadadeira peitoral foi verificado variações irregulares entre o menor e o
maior peixe, nos mostrando que, embora tenha maior comprimento, não significa que possua maior
nadadeira, observou-se ainda que a distância do focinho geralmente é menor que o diâmetro do olho.
As retas obtidas nas regressões lineares entre o peso e o comprimento total dos peixes, apresentaram
alometria negativa, com o coeficiente alométrico menor do que 1 (R2 = 0,99; y < 0,0138). Portanto,
mostra que os indivíduos dessa espécie tendem a crescer mais do que engordar, uma característica
comum entre os peixes ornamentais.As medições morfométricas e merísticas confirmaram a
taxonomia da espécie ornamental em estudo.

Palavras-chave: Manejo; Relação peso-comprimento; peixes ornamentais.

501
565
Análises Das Caracteríticas Morfométricas E Merísticas Do Platy (Xiphophorus Maculatus)

INTRODUÇÃO

O cultivo de peixes ornamentais no Brasil vem crescendo com o passar do tempo em decorrência da
sua rentabilidade (PIAZZA et al., 2006; TEIXEIRA, 2015). Em contra partida, o mercado consumir
apresenta uma série de exigências. Por essa razão, para os peixes serem considerados ornamentais
eles precisam apresentar características vistosas e ao mesmo tempo adaptativas, onde sua coloração
deve ser bem chamativa, suas nadadeiras, geralmente, são alongadas e coloridas, também precisam
sobreviver em aquários (FARIA et al., 2006; DINIZ et al., 2019). Os peixes normalmente são
influenciados pela sua alimentação habtual, o que pode acarreta em reflexos nas características
morfométricas e meristicas do animal (QUINÁGLIA et al., 2017). Tendo isso como base, é possível que
os peixes tenham a capacidade de explorar um ampla quantidade de recursos alimentares, como por
exemplo algumas macrófitas ou indivíduos zooplanctônicos (GÜNTZEL et al., 2012; GIODA et al., 2017).
O platy (Xiphophorus maculatus) é uma espécie oriunda da américa central, de comportamento
pacífico, fácil reprodução e rusticidade, habitam rios com águas calmas, assim como em lagos e lagoas.
A morfometria compõe uma das mais importantes ferramentas na quantificação das diferenças
morfológicas que refletem as adaptações ecológicas das espécies. Sendo assim, este trabalho teve
como objetivo analisar as características merísticas e morfométricas da espécie.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram analisados 22 exemplares de Platy, no qual, foram mantidos em um recipiente contendo 20 L


de água. A oxigenação foi mantida por meio de compressor e com auxílio de uma balança analítica e
um paquímetro foram aferidos os pesos e medidas para cada indivíduo (Figura1), com as seguintes
características morfométricas: comprimentos comprimento total (CT), comprimento padrão (CP),
comprimento da cabeça (CCa), comprimento do focinho (CFo), altura máxima do corpo (H), diâmetro
do olho (DO), comprimento pré-anal (CPA), comprimento pré-peitoral (CPP), comprimento da
nadadeira peitoral (CNP), comprimento da nadadeira dorsal (CND), comprimento da nadadeira ventral
(CNV) e comprimento da nadadeira caudal (CNC).

502
566
Análises Das Caracteríticas Morfométricas E Merísticas Do Platy (Xiphophorus Maculatus)

(Figura 1) Medidas morfométricas do peixe platy, Xiphophorus maculatus.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se que a maior frequência de comprimento total variou entre 28 e 30 mm e não houve
incidência entre 34 e 33 mm (Figura 2). O estudo dessas diferenças por métodos numéricos tem se
mostrado de grande importância para caracterização e verificação das variações morfológicas das
espécies e para a compreensão da biologia evolutiva dos organismos (BLACKITH; REYMENT, 1971).

503
567
Análises Das Caracteríticas Morfométricas E Merísticas Do Platy (Xiphophorus Maculatus)

(Figura 2) Comprimento total pela frequência relativa.

Ao relacionar o comprimento padrão e o comprimento da nadadeira peitoral foi verificado variações


irregulares entre o menor e o maior peixe, nos mostrando que, embora tenha maior comprimento,
não significa que possua maior nadadeira (Figura 3). Observou-se ainda que a distância do focinho
geralmente é menor que o diâmetro do olho. A relação peso corporal x comprimento padrão mede a
variação do peso esperado em função do comprimento e vice-versa e indica a condição do peixe
através do acúmulo de gordura, bem-estar geral e desenvolvimento gonadal (ROSSI-
WONGTSCHOWSKI, 1997).

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Análises Das Caracteríticas Morfométricas E Merísticas Do Platy (Xiphophorus Maculatus)

(Figura 3) Relação entre o comprimento padrão e o comprimento da nadadeira peitoral.

As retas obtidas nas regressões lineares entre o peso e o comprimento total dos peixes, apresentaram
alometria negativa (Figura 4), com o coeficiente alométrico menor do que 1 (R2 = 0,99; y < 0,0138).
Portanto, mostra que os indivíduos dessa espécie tendem a crescer mais do que engordar, uma
característica comum entre os peixes ornamentais. Segundo LE CREN (1951), se o valor do parâmetro
R2 na regressão linear dessa relação for próximo de 3,0 a espécie tem crescimento isométrico.

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Análises Das Caracteríticas Morfométricas E Merísticas Do Platy (Xiphophorus Maculatus)

(Figura 4) Gráfico de dispersão do Platy, entre o peso (g) e o comprimento total (mm).

CONCLUSÃO

As medições morfométricas e merísticas confirmaram a taxonomia da espécie ornamental em estudo.


O coeficiente angular evidenciou um crescimento alométrico negativo, ou seja, há um maior
incremento em comprimento do que em peso, porém, a literatura demonstra que o resultado desse
coeficiente está relacionado às características genéticas da espécie, utilizando essa informação como
fonte crucial para o melhoramento do manejo.

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Análises Das Caracteríticas Morfométricas E Merísticas Do Platy (Xiphophorus Maculatus)

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571
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 47
10.37423/200601527

CARACTERIZAÇÃO DO COMÉRCIO VAREJISTA


DE PEIXES ORNAMENTAIS NA PRAÇA DA
REPÚBLICA, MUNICÍPIO DE BELÉM, ESTADO DO
PARÁ

Leonnan Carlos Carvalho Oliveira

Ryuller Gama Abreu Reis

Bruno José Corecha Fernandes Eiras

Daniel Abreu Vasconcelos Campelo

Marcos Ferreira Brabo


Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

Resumo: No estado do Pará, o comércio varejista de peixes ornamentais ocorre geralmente em lojas
especializadas, mas pode acontecer também em espaços públicos, como é o caso da Praça da
República, no município de Belém. O objetivo deste estudo foi caracterizar o comércio varejista de
peixes ornamentais na Praça da República, identificando as espécies, suas procedências e os valores
praticados, além de avaliar os procedimentos de manejo adotados no transporte e na exposição desses
organismos para venda. A obtenção de dados foi efetuada em agosto de 2018, por meio de
observações de campo e realização de entrevistas com comerciantes varejistas de peixes ornamentais
que atuam no local. Constatou-se a comercialização de 22 espécies dulcícolas e não houve registro de
espécies marinhas. Os peixes vendidos eram provenientes de pesca ornamental no território paraense
e de empreendimentos aquícolas localizados nos estados do Pará, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
O oscar Astronotus ocellatus e a carpa Cyprinus carpio foram as espécies de maior valor comercial,
enquanto a coridora leopardo Corydoras julii e o plati Xiphophorus maculatus apresentaram os
menores valores de mercado. O transporte dos peixes era precedido de jejum de um a três dias,
ocorrendo em sacos plásticos transparentes dispostos em caixas térmicas. A exposição para venda era
realizada nas mesmas embalagens, que também eram utilizadas pelos clientes em caso de aquisição
do produto. Concluiu-se que a comercialização de peixes ornamentais na Praça da República é voltada
para aquaristas iniciantes e adota condições de manejo satisfatórias ao bem-estar dos animais.

Palavras-chave: Aquariofilia; Aquarismo; Comércio de peixes ornamentais; Peixes dulcícolas.

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

1. INTRODUÇÃO

O comércio de peixes ornamentais vem apresentando expressivo crescimento nos últimos anos, uma
vez que o aquarismo, além de estar entre os hobbyes mais populares do mundo, vem ganhando um
número cada vez maior de adeptos (RAJA et al., 2019; TELETCHEA, 2019). Estima-se que sejam
comercializadas no mundo, cerca de 5.400 espécies de peixes ornamentais, sendo 4.000 espécies de
água doce e 1.400 espécies marinhas, caracterizados com distintas cores, formas, tamanhos e
comportamentos (ZUANON et al., 2011; TELETCHEA, 2019).
O Brasil conta com uma relevante diversidade de espécies, sendo reconhecido internacionalmente
como um grande exportador de peixes ornamentais dulcícolas, tendo exportado US$ 13,5 milhões em
2014, saindo da vigésima primeira para a oitava colocação no mercado exportador mundial (FARIA et
al., 2016), devido principalmente aos milhões de peixes capturados anualmente na bacia Amazônica
(FERREIRA et al., 2020). No mercado interno, além de espécies nativas, a demanda é atendida também
por espécies exóticas produzidas em empreendimentos aquícolas (CARDOSO et al., 2012).
No estado do Pará, o foco prioritário dos comerciantes de peixes ornamentais é o mercado externo,
com destaque para os ciclídeos, os loricarídeos e as arraias, que representam uma parcela significativa
das exportações (APEX-BRASIL, 2014). Outro importante canal de comercialização são os estados de
São Paulo e Rio de Janeiro, onde essas espécies também alcançam um elevado valor comercial
(RIBEIRO, 2008). No ano de 2014, o estado do Pará apresentou destaque por ser o responsável por
mais de US$ 11,7 milhões em exportações de peixes ornamentais (FARIA et al., 2016).
O mercado local é abastecido por peixes que não atendem as exigências desses mercados e por
pequenas iniciativas de produção de espécies exóticas e algumas nativas de fácil reprodução em
cativeiro. No município de Belém, o comércio varejista de peixes ornamentais ocorre geralmente em
lojas especializadas (DE PAULA et al., 2018), mas pode acontecer também em espaços públicos, como
é o caso da Praça da República, que ganha destaque devido ao grande fluxo de pessoas durante os
finais de semana.
A comercialização é uma das etapas mais importantes na cadeia de produção de peixes ornamentais,
no entanto, apesar de sua importância, existe uma falta de informações detalhadas sobre atividades
ligadas ao comercio varejista de peixes ornamentais (FARIA et al., 2019). Diante disso, é imprescindível
a realização de estudos que permitam monitorar esta atividade, visando contribuir com informações
para administração deste setor, principalmente no estado do Pará, onde há poucos trabalhos
registrados sobre essa atividade (DE PAULA et al., 2018).

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

Assim, objetivou-se com o presente estudo caracterizar o comércio varejista de peixes ornamentais
na Praça da República, no município de Belém - Pará, identificando as espécies, suas procedências e
valores praticados, além de avaliar os procedimentos de manejo adotados no transporte e na
exposição desses organismos para venda, visando identificar limitações e possibilidades para o
desenvolvimento da atividade.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O município de Belém (01°27’18’’S 48°30’09’’W), é a capital do estado do Pará, possui uma área de
1.059,466 km² e uma população de 1.492.745 habitantes (IBGE, 2019). Belém apresenta diversos
pontos voltados ao lazer de residentes e turistas, dentre eles destaca-se a Praça da República (Figura
1), um local que ganha destaque devido ao grande fluxo de pessoas durante os finais de semana, e
onde aos domingos, no horário de 8:00 às 14:00, conta com estruturas destinadas ao comércio de
peixes ornamentais e acessórios para aquariofília, como aquários, filtros, plantas e rações.
Figura 1 – Estruturas utilizadas no comércio varejista de peixes ornamentais na Praça da República no
município de Belém, estado do Pará, Brasil.

Fonte: Autores.
A obtenção de dados foi efetuada em agosto de 2018, por meio de observações de campo e realização
de entrevistas com os quatro comerciantes varejistas que atuam no local. Nas entrevistas foi utilizado
um questionário semiestruturados com perguntas fechadas e abertas adaptado de Freitas (2012), com
a finalidade de obter informações referentes a aspectos comerciais e de infraestrutura do negócio,
como: espécies comercializadas, procedências, preços, procedimentos para transporte e exposição

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

desses organismos para venda. Para preservar o sigilo das informações fornecidas, os nomes dos
comerciantes não foram mencionados no trabalho.
Para catalogar as espécies comercializadas foi realizado um levantamento através de um censo visual
no momento das entrevistas, anotando-se o nome vulgar e algumas características dos peixes.
Posteriormente, os peixes foram identificados de acordo com as plataformas FishBase e ITIS - Sistema
Integrado de Informação Taxonômica. As entrevistas foram transcritas e as espécies listadas com seus
respectivos nomes científicos, formas de obtenção e estados de origem, bem como tiveram seus
preços comparados a fim de identificar os maiores e os menores valores praticados. A infraestrutura
disponível e o manejo praticado foram descritos e avaliados de acordo com o preconizado por Cardoso
e Balian (2018).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Constatou-se um total de 22 espécies de peixes ornamentais de água doce sendo comercializadas na


Praça da República (Tabela 1). Não houve registro de espécies marinhas. Gusmão (2015) e De Paula et
al. (2018) também relataram a predominância do comércio de peixes ornamentais dulcícolas em
estabelecimentos varejistas de Feira de Santana – BA e Belém – PA, respectivamente. No comércio
varejista dos estados de Pernambuco e Ceará, a comercialização de peixes de água doce também foi
superior ao de espécies marinhas (FREITAS, 2012). O comércio de peixes ornamentais dulcícolas
destaca-se em virtude da fácil obtenção dos espécimes, da facilidade na manutenção e baixos custos
de produção, quando comparado às espécies marinhas (COE et al., 2011). Em contrapartida, a
comercialização de peixes ornamentais marinhos possui manutenção onerosa e demora no retorno
financeiro, o que dificulta a rentabilidade da atividade (GUSMÃO, 2015), e a torna inviável aos
comerciantes da Praça da República.
Tabela 1 – Espécies de peixes ornamentais de água doce comercializadas na Praça da República,
município de Belém, estado do Pará, em agosto de 2018.
Nome vulgar Nome científico Procedência Origem
Acará bandeira Pterophyllum scalare Aquicultura Pará
Auratus comum Melanochromis auratus Aquicultura Minas Gerais
Barbo Sumatra Puntius tetrazona Aquicultura Rio de Janeiro
Betta Betta splendens Aquicultura Pará
Carpa Cyprinus carpio Aquicultura Minas Gerais
Cascudo abacaxi Pterygoplichthys pardalis Aquicultura Pará
Cascudo banjo Bunocephalus coracoideus Pesca Pará
Colisa Colisa lalia Aquicultura Rio de Janeiro
Coridora leopardo Corydoras julii Pesca Pará

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

Dojô Misgurnus anguillicaudatus Aquicultura Rio de Janeiro


Espada Xiphophorus hellerii Aquicultura Pará
Guppy Poecilia reticulata Aquicultura Pará
Ituí transparente Eigenmannia virescens Pesca Pará
Kinguio Carassius auratus Aquicultura Rio de Janeiro
Molinésia Poecilia latipinna Aquicultura Pará
Oscar Astronotus ocellatus Aquicultura Pará
Panga Pangasius hypophthalmus Aquicultura Minas Gerais
Paulistinha Danio rerio Aquicultura Rio de Janeiro
Plati Xiphophorus maculatus Aquicultura Pará
Tetra Buenos Aires Hyphessobrycon anisitsi Aquicultura Pará
Tetra negro Gymnocorymbus ternetzi Aquicultura Pará
Tricogaster Trichogaster trichopterus Aquicultura Minas Gerais
Fonte: Autores.
Os peixes provenientes de empreendimentos aquícolas correspondiam a aproximadamente 86% das
espécies comercializadas, sendo adquirido nos estados do Pará, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Enquanto que a pesca ornamental correspondeu a aproximadamente 14% das espécies
comercializadas, sendo a captura dos peixes realizada em território paraense. Segundo Assis et al.
(2014) aproximadamente 94% das espécies comercializadas no comércio varejista de Aracaju – SE
eram provenientes de empreendimentos aquícolas, enquanto que 2,25% eram oriundas de pesca
ornamental e 3,75% eram de origem desconhecida. Freitas (2012) relatou que no comércio varejista
de Pernambuco aproximadamente 88% das espécies comercializadas eram procedentes da
aquicultura, enquanto que o restante era proveniente de outras lojas. Em Feira de Santana – BA todos
os peixes comercializados pelos estabelecimentos varejistas eram provenientes de empreendimentos
de piscicultura ornamental (GUSMÃO, 2015).
Os peixes provenientes de pisciculturas ornamentais paraenses eram comprados juntamente ao
proprietário dos empreendimentos, sendo adquiridas principalmente espécies exóticas que possuem
maior facilidade de manejo como o peixe beta (Betta splendens), plati (Xiphophorus maculatus) e o
guppy (Poecilia reticulata), e algumas nativas de fácil manejo e reprodução em cativeiro como o acará
bandeira (Pterophyllum scalare), cascudo abacaxi (Pterygoplichthys pardalis) e o oscar (Astronotus
ocellatus). Para tanto, os comerciantes varejistas disponibilizam alguns insumos básicos aos
aquicultores, para que depois pudessem adquirir os peixes com preços mais acessíveis. A aquisição de
peixes em empreendimentos de piscicultura ornamental localizado no próprio estado também foi
observada por Coe et al. (2011) em Fortaleza – CE, Freitas (2012) em Pernambuco e Ceará, Assis et al.
(2014) em Aracaju – SE, Gusmão (2015) em Feira de Santana – BA e De Paula et al. (2018) em Belém –
PA.

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

Os peixes comercializados na Praça da República eram provenientes também de pisciculturas


ornamentais localizadas nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Algumas espécies como o
kinguio (Carassius auratus) e a carpa (Cyprinus carpio) eram obtidas nos respectivos estados. A
obtenção desses peixes em outros estados era realizada através de pedidos aos piscicultores, que
mandavam os peixes por meio de atravessadores até o estado do Pará. De Paula et al. (2018) relataram
que em estabelecimentos varejistas de Belém – PA os peixes eram adquiridos no estado de São Paulo,
além de Rio de Janeiro e Minas Gerais, fato este também relatado por Freitas (2012) em
estabelecimentos varejistas do estado de Pernambuco e Ceará, e Gusmão (2015) em estabelecimentos
de Feira de Santana – BA. Ressalta-se que Minas Gerais é considerado o maior polo produtor brasileiro
de peixes ornamentais, o que atrai vários comerciantes em busca de seus organismos (CARDOSO et
al., 2012).
A pesca ornamental envolve a captura de organismos que movimentam o mercado da aquariofilia,
incluindo espécies de pequeno porte, com formas exóticas e colorido exuberante (ROSSONI et al.,
2014). O cascudo banjo (Bunocephalus coracoideus), a coridora leopardo (Corydoras julii) e o ituí
transparente (Eigenmannia virescens), foram às espécies provenientes da pesca ornamental no
território paraense, sendo a obtenção dos mesmos feitos através de pedidos a atravessadores que
trazem os peixes de vários municípios do estado do Pará. Segundo Araújo et al. (2017) o estado do
Pará apresenta protagonismo no mercado de peixes ornamentais, e uma parcela significativa dos
peixes comercializados são oriundos da pesca ornamental na bacia amazônica. As espécies
comercializadas provenientes da pesca ornamental, geralmente são aquelas que não atendem as
exigências de mercados mais expressivos, como Rio de Janeiro e São Paulo, sendo assim direcionadas
ao mercado local (RIBEIRO, 2008).
Os peixes que possuíam os maiores volumes de comercialização eram o beta (Betta splendens), kinguio
(Carassius auratus), guppy (Poecilia reticulata) e o plati (Xiphophorus maculatus). Segundo os
comerciantes estes peixes correspondiam a mais de 60% do total comercializado, tendo um valor
comercial relativamente baixo e sendo indicadas principalmente para aquaristas iniciantes. Resultados
semelhantes foram encontrados por Coe et al. (2011) em Fortaleza - CE, Freitas (2012) em
Pernambuco e Ceará, Assis et al. (2014) em Aracaju – SE, Gusmão (2015) em Feira de Santana – BA e
De Paula et al. (2018) em Belém – PA, onde estas espécies juntamente com o espada (Xiphophorus
hellerii), molinésia (Poecilia latipinna), carpa (Cyprinus carpio), neon (Paracheirodon axelrodi) e acará
bandeira (Pterophyllum scalare) foram às espécies de maior volume de comercialização,

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

demonstrando o destaque de algumas espécies no mercado brasileiro de peixes ornamentais,


principalmente as exóticas.
Segundo Coe et al. (2011) o alto volume de comercialização de muitas espécies está ligado ao seu
baixo preço de venda. Fato este também relatado por Gusmão (2015), que observou uma relação
direta entre o volume comercializado e o preço de venda dos animais. Segundo este autor, as espécies
que apresentavam alto volume de comercialização no município de Feira de Santana – BA eram as
mesmas que apresentavam o menor preço de venda. Além disso, o guppy (Poecilia reticulata), plati
(Xiphophorus maculatus) e o kinguio (Carassius auratus) são considerados alguns dos peixes mais
populares na indústria de aquariofilia (FARIA et al., 2016). E a popularidade destas espécies aliada à
facilidade de obtenção e comercialização, devido ao baixo preço de venda e as variações tanto em
relação à coloração quanto em relação à forma, tornam essas espécies mais atrativas entre os
comerciantes e os aquaristas iniciantes (VIDAL JUNIOR, 2007; ASSIS et al., 2014).
Os valores comerciais dos peixes ornamentais variam de acordo com as características morfológicas,
sexo e/ou tamanho corporal (ASSIS et al., 2014). As espécies comercializadas na Praça da República de
menores valores comerciais foram a coridora leopardo (Corydoras julii) e o plati (Xiphophorus
maculatus) com valores de mercado, entre R$3,00 e R$4,00, para os indivíduos adultos dessas
espécies. No comércio varejista de Fortaleza – CE o acará bandeira (Pterophyllum scalare), molinésia
(Poecilia latipinna), espada (Xiphophorus helleri), plati (Xiphophorus maculatus) e guppy (Poecilia
reticulata) foram às espécies de menor valor comercial (COE et al., 2011). Assis et al. (2014) em Aracaju
– SE e Gusmão (2015) em Feira de Santana – BA relataram que no comercio varejista dessas cidades
as espécies de menor comercial foram o plati (Xiphophorus maculatus), paulistinha (Danio rerio),
espada (Xiphophorus helleri), guppy (Poecilia reticulata) e molinésia (Poecilia latipinna).
No comércio varejista dos estados de Pernambuco e Ceará as cinco principais espécies de menor valor
comercial foram a molinésia (Poecilia latipina), plati (Xiphophorus maculatus), guppy (Poecilia
reticulata), neon (Paracheirodon axelrodi) e espada (Xiphophorus helleri) (FREITAS, 2012). De Paula et
al. (2018) observaram que em estabelecimentos varejistas de Belém – PA os peixes de menores valores
comerciais foram a molinésia (Poecilia latipinna), guppy (Poecilia reticulata), espada (Xiphophorus
helleri) e plati (Xiphophorus maculatus), além do barbus-sumatra (Puntigrus tetrazona) e beta-fêmea
(Betta splendens), com valores de mercado entre R$3,75 e R$8,00, para os indivíduos adultos. Segundo
Prang (2007) a cadeia de valor da aquariofilia apresenta diferença de preço em cada nível de
comercialização até o consumidor final, sendo este fato observado entre os estabelecimentos
varejistas e os comerciantes da Praça da República de Belém – PA.

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

As espécies comercializadas na Praça da República de maior valor comercial foram o oscar (Astronotus
ocellatus) e a carpa (Cyprinus carpio) com valores de mercado, de R$130,00 e R$60,00 para os
indivíduos grandes, respectivamente. Coe et al. (2011) relataram que no comércio varejista de
Fortaleza - CE as espécies de maior valor comercial foram o yellow tang (Zebrasoma flavescens), goby
firefish (Nemateleotris magnifica), donzela yellow tail (Chrysiptera parasema) e peixe palhaço
(Amphiprion ssp.). No comércio varejista do estado do Ceará as espécies de maior valor comercial
foram o acará disco (Symphysodon aequifasciata), bala shark (Balantiocheilus melanopterus), botia
palhaço (Chromobotia macracanthus) e labeo bicolor (Epalzeorhynchos bicolor). E em Pernambuco as
espécies de maior valor comercial foram o acará disco (Symphysodon aequifasciata), panga (Pangasius
buchanani), oscar (Astronotus ocellatus) e pirarucu (Arapaima gigas) (FREITAS, 2012).
Em Aracaju – SE as espécies de maior valor comercial foram o acará disco (Symphysodon
aequifasciata), carpa (Cyprinus carpio), a arraia (Potamotrygon hystrix) e o híbrido (Vieja synspila x
Amphilophus citrinellus) (ASSIS et al., 2014). Em Feira de Santana – BA o hepatus (Paracanthurus
hepatus), hibrido papagaio (Cichlasoma synspilum x Cichlasoma citrinellum), venustus (Nimbochromis
venustus) e acará disco (Symphysodon aequifasciatus) foram ás espécies de maior valor de mercado
(GUSMÃO, 2015). De Paula et al. (2018) relataram que em Belém – PA os peixes de maior valor
comercial foram véu-de-noiva e kinguios, ambas linhagens da espécie Carassius auratus, com valores
de mercado, de R$33,00 e R$20,15 para os indivíduos grandes, respectivamente. Em geral, os maiores
valores podem ser decorrentes de linhagens selecionadas, espécies dificilmente capturadas no
extrativismo ou de comercialização ocasional no mercado ornamental (RIBEIRO et al., 2010; FARIA et
al., 2016).
Os comerciantes relataram que para manter os peixes saudáveis antes de serem levados para a
comercialização na Praça da República, era realizada quarentena para garantir a certificação da
qualidade sanitária dos peixes. A quarentena antes da exposição para comercialização também foi
relatada em estabelecimentos varejistas de Feira de Santana – BA (GUSMÃO, 2015). Segundo Martins
(2004), animais recém-chegados devem ser submetidos à quarentena em espaços isolados dos demais
peixes, para acompanhamento e análise periódica a fim de verificar a possível presença de parasitas.
Sampaio (2014) relatou que a quarentena para peixes ornamentais visa a reduzir o risco de entrada
de patógenos que possam promover algum tipo de desequilíbrio ao ambiente. Ressalta-se que a
informação de quarentena foi o relato dos comerciantes varejistas, e a comprovação in loco não foi
possível de ser realizada.

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

Para o transporte dos peixes até a Praça da República, eles eram submetidos a jejum de um a três dias
antes do procedimento. Sendo posteriormente colocados em sacos plásticos transparentes
preenchidos com água limpa e oxigênio puro para receberem o devido acondicionamento em caixas
térmicas (Figura 2). Segundo Kubitza (2007), o jejum é fundamental no transporte de peixes, visto que
consomem menos oxigênio, excretam menos amônia, toleram melhor o manuseio e apresentam
redução do risco de infecções, proporcionando maior sobrevivência. Ressalta-se que o tempo de jejum
é espécie-dependente e varia de acordo com a temperatura, dos hábitos alimentares e estágio de
desenvolvimento do peixe, sendo necessário o conhecimento da biologia de cada espécie para realizar
esse tipo de manejo (SILVEIRA et al., 2009).
Figura 2 – Veículo e caixas térmicas em que são acondicionados os sacos plásticos utilizados no
transporte dos peixes ornamentais comercializados na Praça da República no município de Belém,
estado do Pará, Brasil.

Fonte: Autores.
A exposição para venda era realizada nos mesmos sacos plásticos, que também eram as embalagens
utilizadas pelos clientes em caso de aquisição do produto (Figura 3). Os principais cuidados era não
expor os peixes diretamente aos raios solares, não permitir o manuseio dos indivíduos pelos
compradores antes da venda e monitorar visualmente o comportamento dos peixes. Contudo, as
embalagens não possuíam etiquetas para identificação dos peixes, e o monitoramento da qualidade
de água era ausente, sendo este um dos fatores de risco a sobrevivência dos peixes. No comércio
varejista de Fortaleza – CE (COE et al., 2011), Pernambuco e Ceará (FREITAS, 2012) e Feira de Santana
– BA (GUSMÃO, 2015) todos os estabelecimentos realizavam o monitoramento dos parâmetros físico-
químicos da água. Segundo Araújo e Pérez (2005) cada espécie possui seus parâmetros de água ideais,
e alterações nos mesmos podem ser prejudiciais ao bem-estar e sobrevivência dos peixes.

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Durante a comercialização dos peixes, os vendedores disponibilizavam informações sobre boas


práticas de manejo aos consumidores, informando acerca do manejo alimentar, da importância da
qualidade de água e até sobre a biologia da espécie. Coe et al. (2011) relataram que no comércio
varejista de Fortaleza – CE todos os estabelecimentos disponibilizam aos consumidores informações
sobre as boas práticas de manejo dos animais. Por outro lado, no comércio varejista de Feira de
Santana – BA (GUSMÃO, 2015) e dos estados de Pernambuco e Ceará (FREITAS, 2012), os
estabelecimentos não possuíam funcionários especializados para informar melhor aos clientes, sobre
os peixes e produtos. Para Valenti (2008), o sucesso de vendas depende da satisfação do consumidor,
portanto a transferência de informações pode aperfeiçoar o sistema de vendas visto que promove a
satisfação do cliente.
Figura 3 – Exposição de peixes ornamentais para venda na Praça da República no município de Belém,
estado do Pará, Brasil.

Fonte: Autores.
As principais dificuldades relatadas pelos comerciantes varejistas da Praça da República foram
relacionadas ao manejo dos peixes, a verificação correta dos parâmetros físicos e químicos da água de
acordo com as exigências de cada espécie, a carência de mão-de-obra especializada e demora no
retorna financeiro de alguns peixes. As dificuldades apontadas em alguns pontos foram semelhantes
ao trabalho de Coe et al. (2011) em Fortaleza – CE, Freitas (2012) nos estados de Pernambuco e Ceará
e Gusmão (2015) no município de Feira de Santana – BA, que apontaram ainda a falta de conhecimento
da população em relação ao manejo dos peixes adquiridos, proibição da comercialização de muitas
espécies exóticas, estrutura de venda deficiente, a pouca variedade de peixes disponíveis para venda,
as exigências da legislação ambiental, a necessidade de divulgação da aquariofilia, informalidade dos
produtores e varejistas e a necessidade de linhas de crédito bancário específico para o setor.
Por fim, os entrevistados relataram que a demanda por peixes ornamentais na Praça da República é
superior à oferta atual, visto que o local tornou-se um ponto de referência em termos de

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

comercialização do produto na cidade de Belém - PA. Porém, aspectos infraestruturais dificultam a


venda de volumes maiores. Com isso, pode-se inferir que incentivos financeiros, por parte dos
comerciantes, bem como treinamento da mão-de-obra e uma revisão das normativas aplicadas pelos
órgãos competentes, seriam significantes para o incremento desta atividade.

4. CONCLUSÕES

O comércio varejista de peixes ornamentais na Praça da República no município de Belém – PA


apresentou padrão semelhante ao observado em outros pontos de comercialização distribuídos no
território brasileiro, com o comércio sendo voltados para aquaristas iniciantes e com dominância de
espécies exóticas dentre as mais comercializadas. Além disso, os comerciantes adotam condições de
manejo satisfatórias ao bem-estar dos animais. Ressalta-se que o monitoramento da comercialização
de peixes ornamentais na Praça da República faz-se necessário para controle da atividade, gerando
também informações que possam contribuir para o desenvolvimento do setor.

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583
Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

5. REFERÊNCIAS

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Caracterização Do Comércio Varejista De Peixes Ornamentais Na Praça Da República, Município De Belém, Estado Do Pará

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585
Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 48
10.37423/200601532

REDES, BARCOS E MÉTODOS: PESCANDO NO


ESTUÁRIO DO RIO SÃO FRANCISCO

Jurandyr Reis Neto

Gianfrancisco Schork

Igor Da Mata-Oliveira
Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Resumo: Os métodos de pesca constituem uma importante fonte de expressão técnica, produtiva,
social, econômica e etnoecológica das comunidades onde ocorrem, e o seu conhecimento é de
fundamental importância para a gestão pesqueira. No estuário do Rio São Francisco, a tradicional
atividade pesqueira constitui importante pauta econômica, ocupa o maior contingente de pescadores
e embarcações da região, além de ser fonte de alimento e sustento para milhares de famílias. No
entanto, a região vem sofrendo com pressões de diversas atividades antrópicas a montante e falta de
informações básicas a décadas. O objetivo do presente trabalho é identificar os métodos de pesca, no
que diz respeito às características de composição dos aparelhos de pesca, suas operações, frota
pesqueira e principais espécies alvo comercializadas. As mais relevantes artes de pesca desta região
são as redes de emalhar: captura de pilombetas, carapebas, robalos e camurins; espinhéis: captura de
xáreu, tubarões e bagres; pituca:captura de siris; e covo: captura de camarões de água doce. Com as
informações apresentadas no presente trabalho, espera-se que este constitua-se em um importante
registro do conhecimento técnico da pesca do estuário do rio do São Francisco, contribuindo para a
gestão dessa tradicional atividade da região.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

1. INTRODUÇÃO

O Rio São Francisco é um dos maiores da América do Sul e o maior rio brasileiro inteiramente em
território nacional, com 2.700 km de extensão, abrangendo 6 estados e 521 cidades. Conhecido como
"rio da integração nacional", esse rio possui um sistema de 6 barragens em cascata ao longo de seu
curso, sendo um dos mais importantes para geração de energia elétrica, abastecimento de água e
pesca para cerca de 20 milhões de pessoas (ANA, 2017; BRITO & MAGALHAES, 2017). Os barramentos,
no entanto, inevitavelmente, causam uma série de impactos ambientais. Com isso, o Rio São Francisco
sofreu uma redução da sua magnitude da vazão, além da perda na pulsação sazonal e interanual
(MEDEIROS et al., 2011).

Na região do Baixo São Francisco, esses impactos são mais notáveis, em razão dos efeitos cumulativos
das barragens a montante, especialmente no seu trecho final, formado pelo estuário e foz. Em
particular, os maiores efeitos foram os resultantes da construção de barragens (GODINHO &
GODINHO, 2003) para a geração de energia elétrica (GISLER & VASCONCELOS, 2004). A região de
encontro da água doce – rio – com a água salgada – mar – torna esse ecossistema ecologicamente
relevante para a biota de uma forma geral. Isso porque, a presença de grandes áreas de manguezais
fornece proteção para os jovens, refúgio para alguns adultos em reprodução, além de apresentar
elevada disponibilidade de recursos alimentares (SOUZA & SÁ, 2015). Segundo Brito & Magalhães
(2017), águas de fluxo lento devido à diminuição da vazão causam salinização, com consequente
alterações na pesca e na composição das capturas, com diminuição ou mesmo desaparecimento de
peixes que são historicamente importantes para a economia local.

Cerca de vinte e seis mil pessoas vivem nessa área, distribuídas nos municípios de Piaçabuçu-AL e Brejo
Grande-SE (IBGE, 2018). Nessa região a pesca é intensa, com destaque para o município de Piaçabuçu,
que possui a maior frota pesqueira do Baixo São Francisco com mais de 800 embarcações e 2.500
pescadores cadastrados, e de grande diversidade, pois são desembarcados recursos marinhos,
estuarinos e dulcícolas. Essa grande diversidade de recursos alvo e técnicas utilizadas, comum na pesca
artesanal, é resultado da soma das diferentes características ambientais de cada local e dos
conhecimentos tradicionais adquiridos, transmitidos e transformados ao longo do tempo. Técnica ou
arte de pesca é a denominação dada para todo e qualquer instrumento ou método utilizado na captura
de organismos aquáticos. São usados conforme o objetivo do pescador, em termos de espécie e
máxima quantidade possível (MONTELES, FUNO & CASTRO, 2010).

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588
Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Segundo Seixas & Begossi (2000), para o manejo dos ecossistemas aquáticos relacionados à estoques
pesqueiros, deve-se observar o comportamento dos pescadores e as estratégias para obter os
recursos. Estudos no âmbito da ecologia humana vêm sendo utilizados como ferramenta científica na
compreensão da exploração dos recursos por comunidades, incluindo as atividades de pesca. Os
conceitos gerais da ecologia são úteis para registrar as diferentes estratégias de pesca e a interação
entre diferentes grupos de usuários dos recursos (NUNES, 2010). Destarte, marcando as
particularidades de cada comunidade, tem-se nas artes de pesca uma importante forma de expressão
de suas tradições. O conhecimento dos bens materiais e imateriais de uma comunidade tradicional
são fundamentais para preservação e valorização da sua identidade. A tecnologia utilizada se adapta
e é influenciada pelo quadro econômico local.

Dentro desse cenário, o presente trabalho apresenta uma descrição das artes e operações de pesca
utilizadas no estuário do Rio São Francisco, e com isso, registra de forma acessível o valioso
conhecimento empírico dos pescadores estuarinos, contribuindo para a gestão dessa tradicional
atividade da região.

2. METODOLOGIA

ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo compreende o rico e complexo ecossistema estuarino e foz do São Francisco,
localizado entre os Estados de Alagoas e Sergipe, que corresponde aos municípios de Piaçabuçu-AL e
Brejo Grande-SE, os últimos na bacia hidrográfica nos seus respectivos estados (Figura 1).

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589
Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Figura 1 – Área de estudo – região estuarina e foz do rio são francisco e sua
localização. Sistema de coordenadas UTM. Fonte: Adaptado de Google Earth
(2017).

COLETA DOS DADOS

As informações foram obtidas a partir de entrevistas junto aos pescadores da região estuarina do rio
São Francisco, ocorridas no principal ponto de embarque/desembarque e comercialização do pescado
da região, localizado no município de Piaçabuçu – AL..

Foram coletadas informações técnicas acerca dos: (1) apetrechos de pesca por tipo, dimensões,
confecção e principais recursos alvo; (2) tamanho e valores médios de 1ª comercialização dos recursos
alvo; (2) rotina e operações de pesca; (3) número de embarcações por modalidade de pesca.
As principais espécies alvo foram classificadas e descritas de acordo com a literatura. Foram gerados
desenhos técnicos dos aparelhos de pesca contendo a sua descrição detalhada. Em seguida, foram
descritas as rotinas de cada modalidade de pesca, e suas operações de lançamento e recolhimento.
Por fim, são apresentados os comprimentos e valores de comercialização médios dos principais
recursos.

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590
Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

RESULTADOS E DISCUSSÃO

REDE DE EMALHE

O uso de redes de emalhe pode ser considerado como uma das metodologias pesqueiras mais antigas
e difundidas ao redor do mundo. A popularidade do apetrecho decorre sobretudo da alta efetividade
de captura que apresenta e da relativa simplicidade de construção e reparação, sendo, muitas vezes,
confeccionado pelos próprios pescadores.
Pode-se encontrar desde redes de fácil manuseio com poucos metros até redes de extensos
quilômetros As redes de emalhar, em grosso modo, podem ser divididas em três partes principais:
tralha superior (parte na qual são fixados os flutuadores); tralha inferior (parte onde são fixados os
lastros); corpo da rede (constituído pelas malhas da rede). Explica-se que a utilização de flutuadores e
lastros servem para auxiliar na manutenção das malhas esticadas.
O emalhe é considerado uma arte de pesca passiva, ou seja, os peixes se prendem à rede pelo seu
próprio movimento. Desta forma, o tamanho de abertura das malhas determinará o tamanho do peixe
a ser capturado. Peixes muito pequenos em relação a abertura de malha atravessam a rede, enquanto
peixes com tamanhos muito superiores à abertura não se prendem a rede e, em alguns casos, podem
até romper o corpo da rede.

REDE DE EMALHE PARA PESCA DE PILOMBETAS

As pilombetas são pequenos peixes pelágicos pertencentes à família Engraulidae. Possuem elevada
importância para a pesca do estuário do Rio São Francisco, constituindo o principal grupo capturado
em biomassa e número pelos pescadores da região (SOARES et al., 2011). Dentre as espécies da
família, Anchoviella lepidentostole é a espécie mais representativa em volume. Essa pescaria atua
sobre organismos que variam de 83,6 mm à 118,7 mm (LIMA, 2018).
Em 2019, registrou-se que a produção média por pescador variou entre 12 e 15 kg semanais de
pilombetas. A comercialização é fortemente concentrada em atravessadores que pagam valores entre
R$13,00 e R$15,00 por quilo de pescado, sem qualquer beneficiamento.
No município de Piaçabuçu-AL são cerca de 300 embarcações são direcionadas para esse grupo. As
embarcações possuem comprimento total entre 7,50 e 7,80 m, abertura de boca de 1,15 a 1,20 m,
altura aproximada de 0,45 cm e motores de rabeta com potência média de 6,5 Hp ou 200cv.
As redes utilizadas nesta pescaria apresentam altura de aproximadamente 2 m, comprimento médio
total de 815 m na tralha superior e 800 m na tralha inferior. As malhas são confeccionadas com fios

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591
Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

de poliamida monofilamento com 0,20 mm de diâmetro e tamanho de 26 mm entre nós opostos. Já


as arcalas - responsáveis por fixarem o corpo da rede às tralhas - possuem comprimento de 5 cm, são
feitas com fios de poliamida multifilamento torcido (210/12) e podem fixar até cinco malhas cada
(Figura 2).
Os cabos de boia (tralha superior) e de lastro (tralha inferior) possuem diâmetro de 4 mm e são
confeccionados de polipropileno ou poliamida multifilamento torcido. Na tralha superior são utilizadas
boias de isopor, do tipo xaréu, para auxiliar na flutuabilidade da rede com tamanho de 6 cm no
comprimento e 4 cm na altura, em intervalos de 10 arcalas entre si, totalizando 1.630 boias. Por outro
lado, na tralha inferior são fixados chumbos de 25 g em intervalos de três arcalas.
Nas extremidades da rede são fixados cabos, denominados caloeiras, de polipropileno ou poliamida
multifilamento torcido com 4 mm de diâmetro e comprimento de 7,5 m. Em um dos cabos é fixado
uma boia de sinalização, enquanto o outro fica preso na embarcação.

Figura 2: Desenho técnico da rede de emalhe para a captura de pilombeta no estuário do Rio São
Francisco.
A faina pesqueira é realizada somente no período noturno e apresenta registros com ampla margem
de duração: entre 1:30 e 12 horas. As pescarias de curta duração, conhecidas como “boca da noite”,
acontecem após o entardecer, no período compreendido entre as 18:00 h e as 20:00 h. Já nos eventos
mais longos, denominados “pescarias de maré”, a atividade inicia ao anoitecer e perdura até as
primeiras horas da manhã.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

A busca constante pelos locais com maiores disponibilidade do recurso leva os pescadores a procurar
continuamente diferentes áreas de captura. Como resultado, as regiões de captura variam ao longo
do tempo. No ano de 2019, as pescarias ocorreram preferencialmente nos ambientes compreendidos
entre a Ilha das Negas (AL) e Barreiras (AL), região que dista apenas 20 min de navegação do porto do
município de Piaçabuçu (AL).
As operações de lançamento e recolhimento da rede sempre ocorrem pela popa da embarcação e
levam em consideração a hidrodinâmica do rio para evitar que a rede se prenda ao motor. Para os
lançamentos realizados com a proa da embarcação indicando o norte, a liberação da rede acontece
pela bochecha de boreste. Logicamente, em lançamentos com a proa voltada para o sul, a rede é
lançada na água pela bochecha de bombordo. Quanto ao recolhimento da rede, este se inicia com a
junção das tralhas superior e inferior, formando uma espécie de saco, a fim de concentrar e evitar o
escape do pescado capturado.
Apesar destas redes apresentarem elevados comprimentos, ressalta-se que as operações de pesca são
desenvolvidas pelos pescadores locais de forma individual ou em duplas.

REDE DE EMALHE PARA PESCA DE CARAPEBA

A carapeba (Eugerres brasilianus), principal alvo da pescaria, é uma espécie da família Gerreidae com
hábitos demersais que apresenta grande interação com os ambientes estuarinos, utilizando estes
locais como áreas de alimentação, refúgio e reprodução (BARBOSA, 2012; BEZERRA et al., 2001). Sua
importância econômica pode ser relacionada ao seu rápido crescimento e, considerando as espécies
da família, o maior porte dos indivíduos.
A produção média diária de cada embarcação, em 2019, foi de aproximadamente 15 kg de carapeba.
O pescado é comercializado, em sua grande maioria, por meio de atravessadores a preços que variam
entre R$10,00 e R$15,00 por quilo a depender do tamanho do pescado, sendo os maiores mais
valiosos. Já nos casos menos frequentes de vendas diretas, os valores chegam a atingir R$25,00.
As redes apresentam comprimento total de 100 m e altura de 2 m. As malhas possuem tamanho de
100 mm entre nós opostos e são confeccionadas com fios de poliamida monofilamento de diâmetro
entre 0,30 e 0,35 mm. Para a fixação do corpo da rede nas tralhas superiores e inferiores são utilizadas
arcalas com tamanho de 10 cm, que fixam duas malhas cada, e são confeccionadas com fios de
poliamida monofilamento de 0,30 mm de diâmetro (Figura 3).
Ambas as tralhas são confeccionadas com fios de poliamida monofilamento de 1,40 mm de diâmetro.
Na tralha superior, um total de 30 boias do tipo rolha com 3 cm de altura e 5,4 cm de comprimento

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

são dispostas a cada 3,30 m. Já na tralha inferior, os lastros, com 20 g cada, são fixados a cada 0,80 m,
totalizando 2,5 kg de chumbo na rede.
As boias de sinalização são fixadas nas duas extremidades da rede através de cabos conhecidos como
caloeiras. Estes cabos são confeccionados com polietileno multifilamento torcido, sendo 1,5 mm o
diâmetro mais utilizado. Predominantemente, o comprimento da caloeira é de 10 m, porém este pode
variar de acordo com a profundidade de atuação da rede.

Figura 3: Desenho técnico da rede de emalhe para a captura de carapeba no estuário do Rio São
Francisco.
A pesca da carapeba é sempre realizada durante o dia e ditada fortemente pela ação das marés, sendo
concentrada nos períodos de maré baixa e enchente. Quanto a área de pesca, essa se localiza entre o
porto de Piaçabuçu (AL) e o povoado de Saramém (SE).
Para o desenvolvimento das operações de pesca são utilizados dois pescadores: um responsável pelo
controle da embarcação e outro pelo manuseio, lançamento e recolhimento da rede. O lançamento
da rede ocorre sempre perpendicularmente à margem do rio. Dessa maneira, de acordo com a posição
da embarcação em relação à margem, o lançamento pode ocorrer por boreste ou bombordo. Em
média, essa etapa tem duração aproximada de 30 min.
O tempo de permanência do petrecho na água é influenciado diretamente pelo período da maré.
Durante a maré baixa, a rede é mantida submersa por aproximadamente 1:30 hora até o seu
recolhimento, enquanto nos períodos de maré enchente o tempo de imersão é de apenas 20 a 30 min.
Ao total, em um único dia de pescaria, podem ocorrer até cinco lançamentos da rede.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Após o recolhimento do pescado capturado, esse é armazenado no convés da embarcação, sendo


mantido sem qualquer tipo de refrigeração durante toda a pescaria. Por se tratar de uma arte de pesca
não seletiva, outras espécies de peixes – tais como robalo, tainha, camurim e xaréu – são
frequentemente capturadas como “by catch”.
Em Piaçabuçu, são aproximadamente 200 embarcações voltadas para sua pesca, colocando-a como a
segunda espécie mais importante para as capturas locais. As embarcações são do tipo bote, possuem
comprimento total de 6,80 a 7,50 m, boca de 1,10 a 1,15 m (Figura 4) e utilizam motores de rabeta
com potência não superior à 6,5 Hp (Figura 5).

Figura 4: Embarcações do tipo bote utilizadas na pesca de carapeba no estuário do Rio São Francisco.

Figura 5: Motor de rabeta com 6,5 Hp de potência utilizada para a captura da carapeba no estuário do
Rio São Francisco.

REDE DE EMALHE PARA A PESCA DE ROBALO E CAMURIM

Dentre as diversas espécies da família Centropomidae, duas são de especial relevância para as
pescarias do estuário do Rio São Francisco: o robalo (Centropomus paralellus) e o camurim
(Centropomus undecimalis). Ambas apresentam ampla distribuição na costa brasileira (RIVAS, 1986),
sendo comuns em ambientes estuarinos (DAROS et al. 2016). Como características morfométricas,

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

exibem mandíbula inferior saliente, corpo alongado e comprimido. Entretanto, diferem no tamanho e
peso que podem atingir: o robalo possui menor porte - alcança 50 cm de comprimento e 5 kg -,
enquanto o camurim, maior espécie da família, pode chegar à 1,20 m e 25 kg.
Dada as diferenças de porte das duas espécies, as redes utilizadas para suas capturas apresentam
características distintas, conforme descrito abaixo.

REDE DE ROBALO

A rede utilizada possui 300 m de comprimento total e altura de 4,20 m. A malha da rede, com tamanho
de 80 a 100 mm entre nós opostos, é confeccionada com fio monofilamento de poliamida de 0,50 mm
de diâmetro. As arcalas têm comprimento de 14 cm, cada uma fixando duas ou três malhas do corpo
da rede, e são confeccionadas com fios de poliamida multifilamento torcido de 1,50 mm de diâmetro
(210/12) (Figura 6).
As tralhas são confeccionadas com cabos de polietileno multifilamento torcido de 4 mm de diâmetro.
Para auxiliar na flutuabilidade da rede, na tralha superior são utilizadas um total de 95 boias do tipo
xaréu com 4,5 cm de altura e 7 cm de comprimento dispostas a cada 22 arcalas, ou seja, em distâncias
de 3,15 m. Já na tralha inferior, além dos tradicionais chumbos, para fundeio da rede, mantendo-a
esticada, são utilizados materiais improvisados, tais como pedras e tijolos. Estes lastros são fixados na
tralha inferior da rede a cada cinco arcalas, totalizando 136 pontos (Figura 6). Nas extremidades da
rede são adicionadas boias luminosas que indicam a sua localização na água.

Figura 6: Desenho técnico da rede de emalhe para a captura de robalos no estuário do Rio São
Francisco

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

REDE DE CAMURIM

Dada a grande amplitude de porte dos peixes capturados – registram-se na região capturas de 80 cm
até 1,20 cm – três diferentes tamanhos de malhas são utilizados nas redes: 140 mm, 160 mm e 180
mm entre nós opostos.
Quanto às características comuns, independentemente do tamanho de malha, anota-se que a maioria
das redes são confeccionadas com fios de poliamida multifilamento torcido de 5 a 8 mm de diâmetro,
têm comprimento de 800 m e altura de 4 a 5 m, e possuem boias luminosas fixadas em suas
extremidades para localização do petrecho.
Para melhor compreensão, no tocante as diferenças, ressalta-se antes os dois principais pontos.
Primeiro, logicamente, explica-se que o maior espaçamento da rede reflete a busca por indivíduos
maiores. Segundo, e por consequência do primeiro, tem-se que, enquanto a malha da rede de 140
mm é feita com apenas dois fios, as redes de 160 mm e 180 mm exigem o uso de três fios para garantir
a resistência necessária para reter organismos maiores sem a ruptura do petrecho.
Em relação aos demais detalhes, nas redes de 140 mm as arcalas possuem tamanho de 22 cm, fixando
duas malhas cada, e são confeccionadas com fios de poliamida monofilamento de 1,50 mm de
diâmetro. Na tralha superior, a cada 21 arcalas - ou seja, 4,62 m - são fixadas boias do tipo cação com
tamanho de 5 cm na altura e 8 cm no comprimento, totalizando 173 boias. Já na tralha inferior, são
utilizados um total de 303 lastros, com peso aproximado de 40 g, dispostos a cada 12 arcalas, o que
significa 2,64 m separando-os (Figura 7).
Para a montagem da panagem das redes com 160 mm e 180 mm, as arcalas apresentam um tamanho
de 26 cm, fixando duas malhas cada, e são feitas com fios de poliamida monofilamento de 1,50 mm
de diâmetro. As boias são do tipo cação, com tamanho de 6 cm de altura e 8 cm de comprimento,
sendo fixadas uma distância de 5,72 m entre si, ou seja, a cada 21 arcalas. Na tralha inferior, são fixados
lastros com peso aproximado de 50 g, dispostos a cada 12 arcalas, distando 3,12 m entre si (Figura 8).

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Figura 7: Desenho técnico da rede de emalhe de 140 mm para a captura de camurim no estuário do
Rio São Francisco.

Figura 8: Desenho técnico da rede de emalhe 160 mm e 180 mm para a captura de camurim no
estuário do Rio São Francisco
As embarcações utilizadas possuem um comprimento total de 7 m, 0,40 m de boca e 0,50 m de pontal.
Como propulsão, é observada a alternância entre o uso de velas e de motores de rabeta (6,5 Hp).

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

A pescaria ocorre sempre durante o período noturno, sendo a maré determinante para definir a área
de atuação. Em marés de sizígia, com maiores amplitudes de variação, a pesca ocorre próxima da foz
do Rio São Francisco. Já nas marés de quadratura, os pescadores procuram regiões mais internas,
entre o Povoado de Saramém (SE) e Piaçabuçu (AL) (Figura 9).

Figura 9: Áreas de pesca para a captura de camurins e robalos na região do estuário do Rio São
Francisco durantes as marés de sizígia e quadratura.
Nas operações de pesca propriamente ditas, a embarcação posiciona-se no sentido margem-calha do
rio, ou seja, com a proa voltada para o canal do rio, utilizando a vela como propulsão. Nesse momento,
um pescador fica responsável pelo lançamento da rede, realizada sempre a favor da corrente,
enquanto o outro manobra a embarcação. Durante o período em que a rede fica submersa,
aproximadamente 1:30 hora, uma de suas extremidades permanece conectada à embarcação. O
número de lances realizados em cada evento depende das condições de maré e vento, variando entre
três e cinco ao longo de uma mesma noite.
No ano de 2019, a captura média variou de 10 à 15kg de peixes por evento de pesca. Ressalta-se que
as melhores capturas ocorrem durante os períodos com noites mais escuras, sem lua, devido a menor
visibilidade das malhas da rede pelos peixes.
Após a captura, ainda no barco, os peixes são armazenados em caixas de isopor com gelo. Quanto a
comercialização, as vendas para atravessadores normalmente atingem o valor de R$ 20,00 e para os
consumidores diretos R$ 25,00.

ESPINHEL

São apetrechos de pesca constituídos de uma linha principal, conhecida como madre, de onde partem
as linhas secundárias, os estropos, que fixam em sua extremidade os anzóis (GAMBA, 1994). Os

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

espinheis podem ser utilizados em diferentes extratos da coluna de água, a depender da espécie-alvo.
No caso da região do estuário do Rio São Francisco, são observados espinheis de superfície e de fundo.

ESPINHEL GROSEIRÃO

As principais espécies capturadas por este apetrecho na região do estuário do Rio São Francisco são a
prejereba (Lobotes surinamensis) e o xaréu (Caranx hippos). A prejereba é uma espécie da família
Lobotidae que pode atingir até 80 cm de comprimento e peso total de 15 kg. No caso do xaréu,
pertencente à família Carangidae, embora a espécie possa ultrapassar 1 m de comprimento e 25 kg
(ROCHA e COSTA, 1999), os tamanhos normalmente observados na pesca são próximos de 50 cm e 5
kg. Ambas as espécies apresentam hábitos pelágicos e são facilmente encontradas em estuários e
lagoas costeiras.
O apetrecho é constituído por uma linha principal, linhas secundárias (chamadas “impu”), boias,
anzóis, chumbada e bandeira sinalizadora. A linha principal tem comprimento total variando entre
1.000 e 2.000 m, sendo confeccionada com fio poliamida multifilamento torcido com diâmetro de 3 a
4 mm. As linhas secundárias apresentam tamanho de 2,5 m e são confeccionadas de poliamida
multifilamento de diâmetro 2 mm (210/16). Os anzóis são do tipo pata ou patela, formato J, número
5/0 e 6/0 (Figura 10).
A montagem do apetrecho se inicia com a fixação das linhas secundárias à linha principal, com
distância de 1,5 m entre si. Ainda nas linhas secundárias, na extremidade oposta, são colocados os
anzóis e as chumbadas. Ao total, são utilizados 500 anzóis.
Para auxiliar na flutuabilidade do equipamento, são utilizadas 133 boias tipo cocão, com tamanho de
7 cm de altura e 10 cm de comprimento, distribuídas ao longo da linha principal a uma distância de 15
m. Nas extremidades da linha principal, são conectadas as boias de sinalização.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Figura 10: Desenho técnico do grosseirão para a captura de prejerebas e xaréus no estuário do Rio
São Francisco.

Cerca de 10 embarcações se dedicam, a depender da época do ano, a essa modalidade. As


embarcações comumente utilizadas são canoas com comprimento total de 7,5 m e motores de rabeta
com 7,5Hp.
Antes do início da pescaria, o espinhel é conferido, reparado e organizado. A organização do material
consiste em deixar todos os anzóis iscados, com pilombetas ou cascudos, e dispostos na sequência de
lançamento - arranjo importante para evitar que as linhas secundárias se enrosquem e,
consequentemente, percam sua eficiência de captura.
As operações de pesca são realizadas durante o dia, iniciam-se geralmente em torno das 5:00 horas
da manhã, e desenvolvidas por dois pescadores - um responsável pelo comando da embarcação e o
outro pelo manuseio do espinhel. O lançamento e recolhimento do apetrecho, que permanece na
água entre duas e quatro horas, ocorrem pela região da alheta e do través da embarcação. Destaca-
se que durante o recolhimento do espinhel, a embarcação fica ancorada. À medida que os anzóis são
retirados da água, os peixes capturados são armazenados no convés da embarcação ou em caixas de
isopor com gelo e os anzóis são novamente organizados para a próxima pescaria. Logicamente,
pescarias mais produtivas demandam mais tempo nessa última etapa, o que, por sua vez, influencia a
quantidade de lances diários.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

ESPINHEL DE SUPERFÍCIE PARA TUBARÕES

Tradicionalmente, os tubarões representam um importante recurso para as comunidades pesqueiras


na região da foz do Rio São Francisco, sobretudo no município de Piaçabuçu (AL). Embora seu valor de
mercado não seja tão alto, suas aparas destinadas a outros comércios podem alcançar R$ 200,00 por
cada quilo comercializado. Entre as espécies normalmente capturadas incluem-se: Rhizoprionodon sp.
e Sphyrna sp.
O material constituinte da linha principal é um cabo de polietileno multifilamento torcido com
diâmetro de 6 a 8 mm e comprimento médio de 2.500 m, mas pode ter até 3.000m. As linhas
secundárias possuem tamanho de 2 m e são constituídas pela conexão de dois materiais: 1,5 m de fios
de poliamida multifilamento torcido de 4 a 6 mm de diâmetro, chamado localmente de “miáiá” e 0,5
m de fios de aço multifilamento torcido com diâmetro de 1,2 mm. A presença desse cabo de aço na
região próxima ao anzol tem o fim de evitar que o tubarão, ao fisgar a isca, rompa a linha secundária
e escape.
A armação do espinhel inicia com a montagem da linha secundária: na extremidade feita com cabo de
poliamida será fixado o snap, engate que a prende ao cabo principal, enquanto à extremidade feita
com cabo de aço é preso um destorcedor que impede seu enrosque. Por fim, na outra ponta do cabo
de aço, oposta ao destorcedor, é preso o anzol, tipo circle hook ou J, com tamanhos entre 12/0 e 16/0
(Figura 11 e Figura 12). São utilizados cerca de 210 anzóis por espinhel.
Como boias principais são utilizados pedaços de isopor descartados. Já as boias secundárias são do
tipo cocão com 10 cm de comprimento e 7 cm de altura. Estas boias estão dispostas a cada 4,8 m. No
caso das boias principais, duas presas nas extremidades da linha principal e uma no meio de sua
extensão, adiciona-se uma haste de madeira com 3 m. Em uma das pontas de tal haste, é fixada uma
bandeira de tecido e um sinalizador luminoso. Um metro abaixo, pedaços de isopor. Por fim, na
extremidade oposta, que permanecerá dois metros submersa, uma garrafa PET cimentada com o
intuito de manter o equilíbrio da boia, não deixando-a entornar. Nesta última ponta, quando o
equipamento estiver na água, é conectada uma garateia, tipo de âncora que impede a deriva do
equipamento.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Figura 11: Desenho técnico do espinhel de superfície utilizado na captura de tubarões na região do
estuário do Rio São Francisco.

Figura 12: Diferentes modelos de anzóis utilizados para a captura de tubarões na região do estuário
do Rio São Francisco, sendo “a” Anzol Circle Hook e “b” Anzol J.

Em Piaçabuçu, existe atualmente 12 canoas (sem cabine) de maior porte com relação à média local.
Possuem cerca de 8m de comprimento e 1,2 a 1,5 m de largura. São 12 embarcações desse tipo, que
se dedicam ao uso de espinhéis artesanais, das quais 10 utilizam grosseirão e apenas 2 atualmente
utilizam espinhel para tubarões no “verão”, voltando seu esforço para o uso de redes de emalhar
(carapeba, robalos) no restante do ano. Utilizam motores de baixa potência do tipo rabeta com

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

potência entre 6 e 9 Hp (Figura 13). O tempo de viagem para a área de pesca é de 3 a 4 h a partir da
foz.
A saída das embarcações ocorre a partir do porto de Piaçabuçu ao amanhecer, próximo das 5:00 horas
da manhã. A área de pesca fica localizada a uma distância de cerca de 3:00 horas de viagem, mar
adentro, a partir da foz do Rio São Francisco. Ao chegar ao ponto escolhido, inicia-se então a operação
de pesca, dividida em duas etapas.
A primeira etapa consiste no uso de uma groseira específica para a captura das iscas, sobretudo
tainhas, que depois serão fisgadas nos anzóis do espinhel para atrair os tubarões, verdadeiro foco da
pescaria. Anota-se que caso o número de iscas capturadas seja elevado, excedendo o necessário para
o dia de pesca, essas são armazenadas para uso posterior, otimizando assim a próxima operação
pesqueira. Ao total, esse procedimento inicial tem duração de cerca de 4:00 horas.
Já a duração da segunda etapa é de aproximadamente 3:00 horas. Basicamente, as iscas são dispostas
no espinhel e esse é lançado na água. Durante o lançamento, um dos pescadores fica responsável pela
manobra da embarcação, enquanto o outro pelo manuseio do apetrecho. À medida que o espinhel é
liberado, os seus componentes são conectados e lançados sequencialmente. Em primeiro lugar, por
meio de um snap, fixa-se a boia principal, e sua respectiva garateia, à extremidade da linha principal
do espinhel. O próximo passo é a fixação das linhas secundárias ao cabo principal, também com snaps,
a cada 10 braças (17,6 m).
Terminado o lançamento, os pescadores encerram a empreitada diária, retornando à área de pesca
para recolhimento do espinhel apenas no dia seguinte. Por fim, destaca-se uma interessante
particularidade dessa pescaria: os tubarões capturados não são embarcados, mas, sim, rebocados até
o porto.
A captura média no ano de 2019 foi de 120 kg por pescaria. O quilo do tubarão comercializado foi
registrado entre R$ 8,00 e R$ 12,00.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Figura 13: Embarcação do tipo bote “a” e boia principal “b” utilizada no espinhel para a captura de
tubarões na região do estuário do Rio São Francisco.

ESPINHEL DE FUNDO PARA BAGRES

Os denominados bagres marinhos ou estuarinos são um grupo de peixes demersais pertencentes a


família Ariidae. As principais características desses peixes são a ausência de escamas, sendo envoltos
por uma pela espessa, e a presença de pares de barbilhões nas maxilas (BRITSKI, 1981). Estes peixes
normalmente são encontrados em regiões rasas com fundos arenolodosos, próximos a
desembocaduras de rios (FIGUEIREDO e MENEZES, 1978).
O apetrecho é constituído por três tipos de cabos: um cabo principal com comprimento de 1.920 m,
feito de polietileno multifilamento torcido de 6 a 8 mm de diâmetro, de linhas secundárias com 0,8 m
de comprimento, confeccionadas com poliamida monofilamento de 2 a 3 mm diâmetro, e cabos de
boia de polietileno multifilamento torcido com 32 m de comprimento e 4 mm de diâmetro. Os demais
materiais compreendem: anzóis J 6/0 e 7/0 fixados nas linhas secundárias, tijolos de alvenaria para
lastro do cabo principal, duas boias principais e duas garateias – peso de ferro que mantém o cabo de
boia esticado e impede a deriva do cabo principal (Figura 14).
Assim como já detalhado no petrecho anterior, a boia principal é composta por uma haste de madeira
de 3 m, bandeira com sinalizador luminoso, pedaços de isopor e uma garrafa PET com cimento.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Figura 14: Desenho Técnico de Espinhel de Fundo para captura de bagre no estuário do Rio São
Francisco.
Anotam-se aqui as mesmas características supracitadas para o espinhel de superfície para a captura
de tubarões: comprimento médio de 7,30 m, abertura de boca de 1,5 metro e motores de rabeta com
potência entre 6 e 9 Hp.
A operação de pesca é dividida em duas etapas: captura de iscas e captura de bagres. Para a primeira,
a metodologia segue o mesmo procedimento antes descrito no espinhel de superfície para tubarões.
Evidentemente, buscando atender especificamente as preferências alimentares dos bagres, a iscas
visadas são diferentes, no caso, pilombetas. Consequentemente, altera-se também o ponto de pesca,
que dista aproximadamente 2:00 horas de viagem do porto de Piaçabuçu (AL).A segunda etapa inicia
perto das 8:00h da manhã com a iscagem das pilombetas nos anzóis e segue com o lançamento do
espinhel na água, que ocorre sempre pelo bordo de boreste da embarcação e com vento a favor.
Sequencialmente, todos os equipamentos que compõe o espinhel são conectados e lançados. A boia
principal, juntamente com a garateia, são os primeiros. Em seguida, fixado a estes, seguem o cabo
principal e, alternadamente, as linhas secundárias - distribuídas a uma distância de duas braças (3,20
m) – e os tijolos de alvenaria - a cada 20 linhas secundárias.
O recolhimento do apetrecho é realizado após um período de 2 horas de submersão, sendo realizado
pelo bordo de bombordo. No barco, os peixes capturados são armazenados em caixas de isopor e gelo.
As capturas em 2019 tiveram a média de 60 kg por pescaria. O preço de mercado variou entre R$ 7,00
e R$ 9,00 por quilo.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

PITUCA

Pituca é o nome popular dado pelos pescadores da foz do Rio São Francisco para um tipo de armadilha
artesanal de simples fabrico e manuseio direcionada a captura de siris.
A pescaria visa a captura de siris (Callinectes ornatos), crustáceos decápodes que habitam o fundo de
ambientes estuarinos e baías, até 75 m de profundidade (MELO, 1996). Ressalta-se que a espécie
também representa importante parcela da fauna acompanhante na pesca de arrasto de camarões-
sete-barbas na região (SANTOS et al., 2018).
Equipamento de pesca de simples confecção e funcionamento e que não necessita de embarcação,
sendo rotineiramente manuseado pelos diferentes membros da comunidade. É composto por um aro
de aço ou ferro com diâmetro aproximado de 60 cm, no qual é fixado a panagem da rede. A rede é
confeccionada com fios de poliamida monofilamento, com diâmetro entre 0,25 e 0,40 mm, e tamanho
de malha de 30 mm entre nós opostos. Servindo como lastro, na parte inferior do aparelho, são fixados
tijolos maciços ou pedras. Em três pontos distintos, ao longo do aro, são fixados cabos de polietileno
multifilamento de 3 mm de diâmetro. Estes, por sua vez, fixam-se a um cabo principal de polietileno
multifilamento de 4 de diâmetro e comprimento entre 10 e 15 m. Na extremidade superior do cabo
principal, é fixada uma boia que auxilia na localização do apetrecho (Figura 15).

Figura 15: Desenho Técnico da Pituca para captura de siris no estuário do Rio São Francisco.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

A pescaria inicia com a colocação das iscas, restos de peixe ou frango, na região central da pituca. Após
este procedimento, o equipamento é submerso, permanecendo junto ao substrato por
aproximadamente 45 minutos até que seja recolhido.
Os siris apresentam uma ampla distribuição no ambiente bentônico, sendo assim, a pituca é utilizada
em diferentes locais e profundidades, desde margens do rio até áreas com maior profundidade.
As comunidades pesqueiras da foz do Rio São Francisco utilizam os siris capturados para consumo,
venda e, inclusive, para uso como iscas de peixes.

COVO

Basicamente, covos são armadilhas cilíndricas que aprisionam os animais, mantendo-os vivos até a sua
retirada, fato que confere uma alta qualidade ao pescado capturado. Apesar da pesca com covos ser
direcionada preferencialmente para a captura de camarões do gênero Macrobrachium, inúmeras
espécies de pequenos peixes também são capturadas por este apetrecho.
Diversos materiais são utilizados para a confecção deste equipamento, tais como: cana brava – bambu
–, piaçava, PVC e garrafas PET. De forma mais detalhada, os covos de PVC são revestidos por telas de
abertura entre 14 e 20 mm, comumente utilizadas em galinheiros. No caso das garrafas PET, o bocal é
cortado e encaixado invertido ao seu sentido original.
Armadilhas de PVC ou material orgânico geralmente possuem talas com 50 cm de comprimento que
ficam espaçadas por distâncias entre 10 e 20 mm. Destaca-se que este espaçamento decorre da
legislação aplicada à época de captura: durante o período de piracema exige-se a distância de 20 mm
entre talas (Portaria IBAMA nº 50 de 2007), enquanto nos demais períodos do ano, permite-se o uso
de 10 mm (Portaria IBAMA nº18 de 2008) (Figura 16).

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

Figura 16: Desenho Técnico do Covo para captura de camarões no estuário do Rio São Francisco.
A primeira etapa da operação consiste no preparo das iscas, conhecidas na região como “bolo de
covo”, com o uso de palha de arroz, macaxeira e coco. Subsequentemente, estão são acondicionadas
no interior dos covos, ainda em terra ou já dentro das embarcações. Os apetrechos são então lançados
ao entardecer em zonas próximas às margens do rio, com águas calmas e profundidades não
superiores a 1,5 m, e recolhidos ao amanhecer.
Em relação a captura em si, no estuário do Rio São Francisco, os pescadores utilizam os covos de duas
formas distintas. Na primeira, os covos são fixados ao longo de uma linha principal, formando um
espinhel. Diferentemente, na segunda metodologia, cada petrecho é disposto de forma individual e
permanece preso a uma vara de madeira que indica a sua localização.

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Redes, Barcos E Métodos: Pescando No Estuário Do Rio São Francisco

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Engenharia de pesca: produtividade e sustentabilidade

Capítulo 49
10.37423/200601559

CARACTERIZAÇÃO DA PESCA ARTESANAL COM


LINHA DE MÃO PRATICADA COM JANGADAS
SEDIADAS NA ENSEADA DO MUCURIPE,
MUNICÍPIO DE FORTALEZA – CEARÁ

Marcelo Carneiro de Freitas


Caracterização Da Pesca Artesanal Com Linha De Mão Praticada Com Jangadas Sediadas Na Enseada Do Mucuripe, Município De Fortaleza –
Ceará

Resumo: No Ceará a pesca artesanal marinha é representada em grande maioria pelas jangadas, tendo
a linha de mão como aparelho de pesca bastante utilizado. o objetivo geral do trabalho foi caracterizar
a pesca artesanal praticada com jangadas, tendo a linha de mão como apetrecho de pesca utilizado
pelos pescadores, na enseada do Mucuripe, no município de Fortaleza. Os dados deste trabalho foram
provenientes do Programa REVIZEE SCORE/NE, com suporte técnico do Laboratório de Ciências do
Mar – LABOMAR, durante o período de março de 1999 a fevereiro de 2000. No período de estudo
foram realizadas amostragens em um total de 130 jangadas. O aparelho de pesca utilizado pelos
pescadores das jangadas foi a linha de mão, que variou de 3 a 25 linhas por viagem, com uma média
de 10 aparelhos de pesca por embarcação. No período do estudo foram identificados 4.875
exemplares, pertencentes a 21 famílias e 54 espécies de peixes. A captura total no período estudado
correspondeu a 13.309,03kg, sendo o esforço de pesca maior em março de 1999 com 257 pescador-
dia de pesca e a CPUE maior em novembro de 1999 correspondendo a 10,5kg/pescador-dia de pesca.
O presente estudo integra um importante levantamento sobre a atividade pesqueira marinha do
município de Fortaleza, no qual possui dados escassos sobre esta atividade, que poderá servir como
uma contribuição importante para gestão pesqueira da região.

Palavras-chave: Comercialização, sustentabilidade, navegação.

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1.INTRODUÇÃO

A pesca artesanal é uma atividade pesqueira milenar no qual há uma fragmentação da biomassa da
biocenose em grande número de espécies de pequena abundância individual, o que impede a
especialização dos métodos de captura e centralização dos desembarques de pescado. É uma
categoria de pesca que pouco evoluiu sob o ponto de vista tecnológico da pesca e do pescado
(FONTELES-FILHO, 2011). A existência deste sistema de pesca artesanal que predomina no nordeste
brasileiro é determinada, em parte, pelas condições ambientais próprias das regiões tropicais, com
uma diversidade de espécies de pouca abundância, aliado ao atraso econômico que implica em
precárias condições de saúde e educação e dificuldades na geração e fixação de capital nos centros
produtivos deste setor pesqueiro (FONTELES-FILHO; CASTRO, 1982).
A pesca artesanal é considerada uma das mais antigas atividades exercidas pelo homem, proporcionou
ao longo de anos que pescadores adquirissem um vasto conhecimento relacionado ao ciclo de vida
dos organismos capturados, período em que ocorre a reprodução e meios de localizar os cardumes
(DIEGUES, 2004). A pesca é uma atividade importante para gerar renda e fomentar proteína animal a
muitas famílias, com papel relevante para a conservação cultural das comunidades pesqueiras
(PEDROSA et al., 2013).
No estado do Ceará a pesca artesanal tem grande importância como atividade geradora de emprego
e renda, visto que é o setor que possui o maior número de embarcações, consequentemente
composta por grande parte da mão-de-obra volta à pesca, contribuindo com relevância com a
produção de pescado do estado (MOURA-NETO, 1994). No Ceará a pesca artesanal marinha é
representada em grande maioria pelas jangadas, feitas de madeira e propulsionadas a vela, pela ação
dos ventos, tendo a linha de mão como aparelho de pesca bastante utilizado (CASTRO E SILVA, 2004).
Para a pesca de linha são necessários dois conjuntos tecnológicos, o complexo embarcação mais o
feixe de implementos ligados diretamente à atividade de fisgar o peixe e as normas de uso desses
elementos (CHAVES, 1975).
O levantamento dos pescadores e de seus bens de produção como embarcações e aparelhos de pesca
torna-se importante para o diagnóstico e consequente planejamento da pesca artesanal,
possibilitando o controle do esforço e a estimação da capacidade de produção da região (PAIVA, 1986).
A carência de informações sobre a pesca artesanal no estado do Ceará, principalmente sobre as
embarcações, espécies capturadas, esforço de pesca, aparelhos de pesca, contribuirá para medidas
administrativas no setor pesqueiro. Diante disto o objetivo geral do trabalho foi caracterizar a pesca
artesanal praticada com jangadas, tendo a linha de mão como apetrecho de pesca utilizado pelos

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pescadores, na enseada do Mucuripe, no município de Fortaleza, com vistas à avaliação e


administração dos recursos pesqueiros explotados.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os dados deste trabalho foram provenientes do Programa REVIZEE SCORE/NE, com suporte técnico
do Laboratório de Ciências do Mar – LABOMAR, atual Instituto de Ciências do Mar, da Universidade
Federal do Ceará. O trabalho foi realizado na enseada do Mucuripe localizada no município de
Fortaleza (FIGURA 1), durante o período de março de 1999 a fevereiro de 2000, com dados coletados
em 120 dias de amostragens, com pescadores de jangadas que utilizavam a linha de mão como
apetrecho de pesca.

Figura 1. Vista aérea da enseada do Mucuripe no município de Fortaleza, Ceará.

Fonte: Elaborado pelo autor.

As amostragens foram realizadas no início da manhã, horário em que ocorria o desembarque das
jangadas. Para reduzir os vícios de amostragem, optou-se em trabalhar com a primeira jangada que
desembarcasse na praia. As espécies de peixes de cada jangada eram agrupadas na areia em “montes”,
conforme a produção de cada pescador, essa produção era marcada com um corte ou não na
nadadeira caudal, podendo estar inteiro ou com a aleta superior ou inferior ou ambas cortadas. As
espécies maiores e de interesse comercial ficavam agrupadas a parte (FIGURA 2).

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O processo de amostragem era iniciado com os peixes maiores e de interesse comercial, por serem
em menor número e os primeiros a serem submetidos à imediata comercialização, sendo possível
trabalhar sua totalidade. Porém para o processo de amostragem dos peixes menores, escolhia-se um
dos “montes” aleatoriamente e atribuía-se um percentual em relação ao total de montes existentes.

Figura 2. Desembarque na enseada do Mucuripe e a distribuição dos peixes na areia da praia.

Fonte: Autor

Para determinação dos dados de comprimento total e furcal, para os peixes que tinham furca, utilizou-
se um ictiômetro de madeira e para os exemplares maiores que este instrumento, utilizou-se uma fita
métrica (FIGURA 3). O peso total da amostra e dos peixes de maior porte foram obtidos com um
dinamômetro.

Uma entrevista com o pescador para obtenção do local de pesca era realizada após os procedimentos
de amostragem. Os dados eram anotados na ficha de amostragem no qual continha: o nome da
embarcação, a data de saída e chegada, número de pescadores, nome do pesqueiro, a profundidade
de captura, as características do aparelho de pesca, quantidade de gelo utilizada. Posteriormente os
dados das planilhas foram tabulados em planilhas Excel para análises.

Figura 3. Determinação do comprimento dos peixes utilizando o ictiômetro e o posicionamento das


medidas.

Fonte: Autor

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O peso individual dos organismos não foi possível devido a rápida comercialização do pescado, então
foram utilizadas relações peso/comprimento correspondentes a cada espécie, obtidas de Salles e
Feitosa (2000).
O peso total dos peixes maiores foi obtido através do somatório dos pesos individuais, que por ser em
menor número foi possível obter o peso. Para determinação da estimativa da produção total dos
peixes menores desembarcados utilizou-se a seguinte equação:

𝐏𝐚
𝐏𝐓 =
𝐚 𝐗 𝟏𝟎𝟎

Onde:

PT = Peso total dos peixes menores desembarcados.


Pa = Peso da subamostra dos peixes menores.
a = Percentagem da amostra em relação ao todo.

A determinação da Captura Por Unidade de Esforço (CPUE) foi mensal e total para o período,
considerando-se a seguinte equação:
𝐏
𝐂𝐏𝐔𝐄 =
𝐄
Onde:
P = Produção (kg).
E = Esforço de Pesca (Pescador-dia de pesca).

Cada exemplar foi identificado ao menor nível taxonômico possível, através de guias de identificação
(e.g. BARLETTA; CORRÊA (1992); FIGUEIREDO; MENEZES (1978, 1980, 2000); MENEZES; FIGUEIREDO
(1980, 1985); SUZUKI (1986); SZPILMAN (1992)).

A caracterização das embarcações foi baseada em censo visual, nas fichas de desembarques e nas
informações obtidas em entrevistas realizadas com pescadores, onde foram abordados aspectos
estruturais das jangadas, assim como as funções desempenhadas pelos tripulantes durante a pescaria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

DESCRIÇÃO DAS EMBARCAÇÕES

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No período de estudo foram realizadas amostragens em um total de 130 jangadas. A quantidade de


jangadas na região nordeste cresceu no período de 1991 a 2001, apesar de pequenas quedas no
período, chegando a 1.665 embarcações em 2000, sendo que o estado do Ceará teve uma média de
403 embarcações ao longo deste período (LESSA; BEZERRA JR.; NÓBREGA, 2009). Segundo Brasil
(2000) a frota artesanal de jangadas cadastradas no município de Fortaleza em 1999 era de 108
embarcações.

As jangadas de tábuas representam a grande maioria das embarcações sediadas na enseada do


Mucuripe, que aparecem como substitutas das jangadas de piúba, praticamente não mais operante
nas atividades de pesca no estado do Ceará (FIGURA 04). Braga (2013) relatou que a jangada de tábua
no Ceará apresentou um decréscimo numérico ao longo o período de 1995 a 2006, tendo maior
destaque em Fortaleza.

Com a mudança para jangada de tábuas surgiram algumas inovações, dentre elas: um novo casco
tendo em média doze jogos de cavernas, roda de proa, espelho de popa, quilha, dormentes, escoas,
cabeços, calço de bolina, laterais (PINTO, 1993). Segundo Braga (2013) as embarcações a vela do Ceará
apresentam poucas inovações tecnológicas, mas apresentam grande representação numérica e poder
de captura, econômica, por não ter gastos com combustíveis em relação às embarcações motorizadas.

As jangadas são movidas a vela, com comprimento de aproximadamente 5,9m e 2,0m de largura.
Conforme relato dos pescadores, estas embarcações são construídas em diversos tipos de madeiras,
sendo o convés, borda, popa e fundo de louro-vermelho (Ocotea rubra) ou freijó (Cordia goeldiana),
atualmente sendo reformadas com a andiroba, recobrindo um cavername delgado, que se inicia com
uma peça robusta e maciça conhecida como quilha.
Observando o convés de uma jangada de proa à popa, temos inicialmente o tolete, peça maciça que
serve para fixar a ponta inferior do mastro; o banco de vela, que serve para direcionar a posição do
mastro; a bolina, tábua móvel utilizada para dar maior estabilidade à embarcação; banco de mestre
ou de governo, utilizado como assento por quem comanda o leme, conforme o descrito em Araújo
(1985).
A caixa isotérmica para o acondicionamento do pescado era feita de madeira revestida internamente
com isopor e recoberta com zinco, algumas vezes apenas de isopor (FIGURA 4). As dimensões variavam
conforme o tamanho da embarcação. No Mucuripe as dimensões das caixas isotérmicas foram em
torno de 0,46 x 0,46 x 0,79m, podendo chegar a 0,85 x 0,80 x 1,50m, tamanho que se enquadrada no
obtido por Araújo (1985), que relatou dimensões de 0,65 x 0,70 x 0,70m, podendo ser as que se me se

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adaptam às jangadas da região. O número de barras de gelo, para conservação do pescado, variava de
acordo com o tamanho da caixa isotérmica de 4 a 20 barras.

Figura 4. Jangadas na enseada do Mucuripe e o detalhe da caixa isotérmica utilizada para armazenar
no pescado capturado.

Fonte: Autor.

O período de pesca das jangadas variou de 3 a 6 dias no mar, período maior do que o registrado no
trabalho de Fonteles-Filho (1988), que relatou um tempo de permanência de até 3 dias. O tempo
efetivo de pesca, ou seja, o período de atuação da arte de pesca variou de 6 a 24 horas. As jangadas
sediadas Mucuripe, pescavam em profundidades variando de 19 a 140 metros, com uma média de
47,7 metros durante o período estudado.

A tripulação das jangadas era composta por 3 a 5 pescadores, com uma média 4 pescadores, o mesmo
número verificado por Moura-Neto (1994). Na embarcação cada pescador desempenhava uma
função, semelhantemente ao descrito por Chaves (1975):

a) Mestre: responsável pela embarcação, orientava a tripulação e indicava o local da pescaria, se


posicionando na popa da embarcação. O pescado capturado não apresentava corte nadadeira caudal
como marcação.

b) Proeiro: substituía o mestre em alguma eventualidade, pescando na popa junto com o mestre. Era
responsável em molhar a panagem da vela da embarcação, no bordo do mar. O pescado era marcado
com um corte na parte superior da nadadeira caudal.

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c) Bico de Proa: localiza-se na frente do proeiro, sendo responsável em cozinhar e molhar a panagem
na volta do sul. O pescado era marcado com um corte nas duas pontas da nadadeira caudal.

d) Rebique: responsável em arremessar e arrear a fateixa ou peso, localizando-se na proa da


embarcação. O pescado era marcado com um corte na parte inferior da nadadeira caudal.
Fonte das figuras: Autor.

DESCRIÇÃO DO APARELHO DE PESCA

O aparelho de pesca utilizado pelos pescadores das jangadas foi a linha de mão, que variou de 3 a 25
linhas por viagem, com uma média de 10 aparelhos de pesca por embarcação. De acordo com
Nóbrega, Lessa e Santana (2009) a linha de mão pode ser de superfície, fundo ou corrico, que irão ser
utilizadas de acordo com as espécies que se pretende capturar. Estes autores ainda ressaltam que as
linhas de fundo são utilizadas simultaneamente com as de superfície, com cada pescador operando
uma linha de superfície e uma de fundo. A linha de mão é composta pelos seguintes elementos:

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a) Linha de nylon – a espessura da linha variava de acordo com o objetivo de captura. As maiores
espessuras tipo n100 a 140 eram utilizadas na captura de peixes maiores como o serigado, dentão,
cioba, dentre outros. As menores espessura tipo n50 eram utilizadas na captura de peixes menores e
de peixes geralmente utilizados como isca. Estes dados podem ser corroborados com o obtido por
Chaves (1975) no qual relata que peixes como o ariacó, biquara, cioba, entre outros, foram capturados
utilizando linha nylon n60 a 80, enquanto que peixes grandes como a cavala e a serra eram
capturados com linhas nylon n100 a 120 .

b) Anzol – eram de aço, variando no período em estudo de 4 a 32 anzóis com uma média de 15 anzóis
por viagem. Os anzóis eram identificados pelo número de especificação de acordo com seu tamanho,
variando do 2 ao 14. O anzol menor tinha maior número de especificação e o anzol maior tinha o
menor número de especificação. A partir disto, quanto menor o número do anzol maior era o peixe
capturado nas pescarias. Moura-Neto (1994) relatou que os anzóis de n 3 a 4 capturavam como
exemplo cavala, serra e camurupim, n°5 a 8 (cioba, garoupa, serigado), nº 9 a 13 (cavala e serra
pequenos) e n° 14 a 20 (sardinha, biquara, espada e agulha), semelhante ao verificado por Chaves
(1975) e também ao presente trabalho.

c) Chumbada – localiza-se na parte posterior da linha de mão, logo abaixo dos anzóis, com a função
fundear a linha, variando o peso conforme a profundidade que se deseja capturar os peixes. Segundo
Moura-Neto (1994) o peso pode variar entre 250g a 1kg, devido as correntes marítimas e a
profundidade no qual é lançada a arte de pesca.

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ÁREAS DE PESCA E ESPÉCIES CAPTURADAS

A área de pesca no qual as jangadas atuavam se estendia desde o mar do município de Paracuru ao
mar do município de Iguape, correspondendo às seguintes coordenadas: 343’S e 3805’W, 323’S e
3805’W, 325’S e 3848’W, 301’S e 3849’W. A referida área era setorizada pelos pescadores em
subáreas, chamados de pesqueiros, identificados por referenciais visuais, totalizando 32 pesqueiros
(TABELA 1). No período do estudo foram identificados 4.875 exemplares, pertencentes a 21 famílias e
54 espécies de peixes (TABELA 2).

Tabela 1. Nome dos pesqueiros citados pelos pescadores de jangadas da enseada do Mucuripe,
Fortaleza, Ceará.

 Beirada das pedras  Mar do cassuí  Ponta d’água


 Buracão  Mar do meio  Rego da volta
 Buraco da preaca  Mar do Mucuripe  Seco 21
 Butija  Mar do Pacheco  Seco de riba
 Cabeça do Oliveira  Mar do Paracuru  Sequinho
 Caldeirão  Mar do Pecém  Serra pelada
 Canais  Mar do picú  Serra pelada
 Caracanga  Nos altos  Volta da barranca
 Mar da Taíba  Pedra funda  Volta do mar da
 Mar do bornoite  Pedras Taíba
 Mar do caldeirão  Poço  Volta do
Maranguape
Fonte: Autor.

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Tabela 2. Famílias e espécies de peixes desembarcados na enseada do Mucuripe no município de


Fortaleza – CE, com seus nomes comuns, comprimentos (mínimo e máximo), número de indivíduos e
participação relativa, no período de março de 1999 a fevereiro de 2000.

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Continuação.

Fonte: Autor.

A família Lutjanidae destacou-se com maior representatividade em número de indivíduos (32%),


seguida da Pomadasydae (14%), Serranidae (12%), Holocentridae (11%), Scombridae (11%) e a demais
(FIGURA 5).
As espécies mais representativas em número de indivíduos e de importância econômica foram: a
guaiúba (Ocyurus chrysurus Bloch, 1791), a biquara (Haemulon plumieri Lacépède, 1802); a cavala
(Scomberomorus cavalla Cuvier, 1829), o dentão (Lutjanus jocu Bloch e Shneider, 1801), ariacó
(Lutjanus synagris Linnaeus, 1758) e o dourado (Coryphaena hippurus Linnaeus, 1758) (FIGURA 6). A
mariquita, Holocentrus adscensionis (Osbeck, 1765), apesar de ter representatividade em número de
indivíduos capturados não tem muito interesse comercial, por serem de pequeno porte, servindo de
isca, para o consumo próprio pescador ou comercializadas para populares de baixo poder aquisitivo.

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Figura 5. Representação gráfica das famílias de peixes capturados pela pesca de linha de mão, das
jangadas da enseada do Mucuripe, no período de março de 1999 a fevereiro de 2000.

Figura 6. Representação gráfica das espécies de peixes de maior representatividade em número de


indivíduos capturados pela pesca de linha de mão, das jangadas da enseada do Mucuripe, no período
de março de 1999 a fevereiro de 2000.

ANÁLISE DA CAPTURA POR UNIDADE DE ESFORÇO – CPUE

A captura total no período estudado correspondeu a 13.309,03kg atingindo um máximo em janeiro


com 1.947,8kg e um mínimo em abril com 504,4kg. O esforço de pesca foi maior em março de 1999
com 257 pescador-dia de pesca e o mínimo em abril de 1999 com 105 pescador-dia de pesca.

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A CPUE foi maior em novembro de 1999 correspondendo a 10,5kg/pescador-dia de pesca, enquanto


que a menor foi em julho de 1999 correspondendo a 4,7kg/pescador-dia de pesca (TABELA 3; FIGURA
7).
Tabela 3. Dados mensais da produção (kg), esforço de pesca e CPUE no período de março de 1999 a
fevereiro de 2000, dos peixes capturados com linha de mão pela pesca de jangadas, sediadas na
enseada do Mucuripe no município de Fortaleza, Ceará.

Produção Esforço de Pesca CPUE


Meses Produção (kg) Pescador-dia de pesca kg/pescador-dia de pesca
mar/99 1276,1 257 5,0
abr/99 504,4 105 4,8
mai/99 1071,4 224 4,8
jun/99 1040,3 209 5,0
jul/99 862,8 183 4,7
ago/99 987,4 179 5,5
set/99 894,3 167 5,4
out/99 551,6 116 4,8
nov/99 1297,3 182 7,1
dez/99 1728,0 165 10,5
jan/00 1947,8 211 9,2
fev/00 1147,4 124 9,3
Total 13309,03 - -

FIGURA 7. Representação gráfica dos esforços de pesca e CPUE no período de março de 1999 a
fevereiro de 2000, dos peixes capturados com linha de mão pela pesca de jangadas, sediadas na
enseada do Mucuripe no município de Fortaleza – CE.

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Na maior parte do verão, que compreende o fim de setembro até janeiro, sopra o vento nordeste, na
qual permite que os pescadores penetrem com maior tranquilidade mar adentro e atinjam a curva
mais alta de intensidade em suas pescarias. O mês de janeiro é de transição entre a grande safra e o
inverno podendo ser por isso considerado um mês “bom” ou “ruim” para a pesca dependendo das
circunstâncias de cada ano (CHAVES, 1975).
O inverno no Nordeste, que compreende a estação chuvosa, corresponde aos meses de fevereiro a
agosto, se caracteriza pela alternância dos dias de calmarias e dos dias com variações bruscas de
ventos, fazendo com que os pescadores se desorientem no mar. Os meses de julho e agosto são os
piores do ano em virtude das tempestades, registra-se nesse período os ventos chamados de sul, a
violência das tormentas atinge o ponto máximo, coincidindo com a curva mais baixa de atividades dos
pescadores (CHAVES, 1975). Esta baixa produção citada se refletiu nos dados obtidos no presente
trabalho, em que produções menores foram registradas entre julho e outubro.

4.CONCLUSÃO

As jangadas apresentam pouca inovação tecnológica, entretanto colabora com uma parcela
significativa para produção artesanal do Ceará. O apetrecho linha de mão mostrou-se eficiente na
captura de uma grande diversidade de espécies de peixes, dos variados estratos de profundidade ao
longo da coluna d’água do ambiente marinho. Através da análise da CPUE foi percebido que a
produção tende a aumentar à medida que se aproxima ao final do ano, provavelmente em decorrência
do período de calmaria dos ventos, permitindo a saída com segurança das embarcações movidas a
vela, aliado possivelmente também às questões reprodutivas de algumas espécies. O presente estudo
integra um importante levantamento sobre a atividade pesqueira marinha do município de Fortaleza,
no qual possui dados escassos sobre esta atividade, que poderá servir como uma contribuição
importante para gestão pesqueira da região.

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