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INTnODuçÃO AO PLANEJAMENTO

REGIONAL

1 - Cid. Adm. P/Íbl.;c" -- 5l


ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Por J O H NR. P. F R I E D M A N N
(U. S. Operations Mission to Brazil)

INTRODUÇÃO AO
PLANEJAMENTO REGIONAL
(Com referência especial à Região Amazônica)

Tradução de Mário Faustino

FUNDAÇÃO G~TÚLIO VARGAS


RIO DE JANEIRO
1960
o~dros da mesma ,envergadura vieram a exigir infinitamente
mais da capacidade ,e;x;ecutiva do homem. Por outro laao)
foi na década 1940-49 que ,se acentuou mais - ainda por
influência da guerra) em grande parte - a necessidade da
integração dos estudos sociais. Os ex,ecutivos esclarecidos
começaram a ,aprender que precisavam) na laina ·administr,a-
tiva diária) ,do ooncnrso aos ,antropólogos culturais) dos so-
ciólogos) dos psicólogos) dos economistas) e de outros cien-
tistas sociais. Tomou corpo ,e clvegou à maioridade um cri-
tério novoae oonvívio no trabalho) o qual injetou lormidável
dose de complexidade na tarefa executiva) e ,a que os ame-
ricanos passaram a chamar de Relações Humanas.
Por s:;-r consiaer,ado simplista e unilateral) o esquema de
Gulic1c oaiu ,em obsoZetisrno. Apesar de tudo) o POSDCORB
ainda ,serve para demarcar) grosso modo, a área funcional
do administrador ou chefe ,executivo. Digam o que disserem)
ao órgão ,executivo correspondem certas funções quase tão
própri,as dêle quanto a função de ver é própria ,dos olhos.
Seduzidos pelas sugestões das similaridades) os cultores das
ciências sociais costumam usar palavras pedidas empresta-
das ,ao vocabulário ,aas ciências naturais) notadamente da
biologia. (( Órgão))) ((função)), ((célula)), ((anatomia)), (( fisio-
logia)) e oongêner,es são ilustrações vivas da invasão da ter-
minologia biológica pelos cientistas sociais.
Para ,eleito de descrição e id,entifioação) a emprêsa hu-
mana) enti,dadeartificial, g,eralmente chamada organização,
é com freqüência oomparad.a G!O organismo) ,entidade natural.
A diferença está em qu,e} como observa Mellerowicz} orga-
nismo é um todo vivente, ,ao passo que organização é u,m
todo conv,en'Í!ente. Ora} s,e no organismo) oonjunto de órgãos
vivos} as funções distribu,em-se segundo um esquem,a lógico}
predeterminG!do pela natur,eza} na organização) conjunto de
órgãos convencionais) o equilíbrio interno somente se veri-
fica se as funções são âistribuíd.as segundo critérios igual-
ment,e lógicos.
No organismo) qu.ando um dos órgãos-por atrofia) hi-
pertrofia) degenerescência ou outra causa-se r-evela inca-
paz de cumprir a sua parte) ist,o é) de desempenhar a sua
função) a harmonia int,erna rompe-se. Qualquer alteração
de esquema natuml implica prejuízo pam a economia do
indivíduos. A natureza ,esforça-se por atenuar os efeitos da
insuficiência ou ausência de um órgão na vida ,do organismo:
tenta transferir a funçã,o oblitemda para outro órgão. O oego
vê oom o ouvido) o surd,o ouve oom os olhos p aleijado das
pernas locomove-se comas mãos - mas) em todos êssesa
função transferida de órgão é precàriamente desempenhada.
É um pobre sucedâneo) um arr,emêdo) uma oaricatur,a.

Similarmente) na organiz,ação) ,as funções devem ser


distribuídas d,e acôrdo com um esquema racional. A meio-
nalidad.e dêsse esquema há de ser baseada na observação e
análise das organizações humanas) atmvésda história.
A.8I8Ímoomo no mundo biofísico o esfôrço de adaptação
do indiv-íduo ,ao meio ,e) sobretudo) a luta pela sobrevivência)
acabam por estabdeoer uma relação de perfeita identidOide
entre ,o órgão ea função) ,assim também no mundo social o
esfârçode corresponder aos fins leva a organização a pro-
ou'nara div-isãode tmb,alhos mais adequad.a à sua índole.
A ciência .e a arte da administração já se desenvolv,eram
o suficiente para proporcionar ao homem subsídios seguros
sôbre o esquema lógico ,de funções quecumpr.e observar na
vida das organizações. Ésseesquema é tanto mais seguro,
quanto mais .diz respeito ,aos órgãos nobres, o mais hiemr-
quizado dos quais é ,a chefia executiva ou dir,eção ger,al.
Quanto às funções afins de outros órgãos integrantes de
qualquer organização) pode sobrexistir alguma dúvida. A
função de comprar mat,eriais) por ex.emplo) d.eve caber a
órgão de material delibemdamente criado e equipado pam
o seu des,empenho. Mas) ,em muitas organiZlações) ,essa função
está ajeta .ao ,a.epartamento financeiro, que a desempenha
mais ou menos a contento. Ê,s:se fato pode g-erar ,dúvidas
sôbr.e as funções que, num esquema racional ,de divisão de
trabalho, devem cOJnpctir ao órgão financeiro.
Quando se trata, porém,do órgão executivo, não há
lL!gar para dúvida. Repita-sc: tocam-lhe funções quase tão
próprias da chefia quanto a visão é própria dos olhos. A
ê:Jte r.espeit.o, o esquema funci.onal de Gulick ail"Aa é válido.
Com efeito) quais as funçõe.s próprias do administrador? Que
deve jetzcr um, chefe ex-eoutiv.o? Gu'iado pela análise funcio-
nal de Fayol) ,doada a públioo -em 1916, Gulick responaeu a
essa perg'L~nta, ,em 1937, oom -aquela palavra acróstica,
POSDCORB, ou Soeja:
P - lanning - Planejammlto
O - rganizing - Organização
S - taffing - Administração de Pessoal
D - irecting - Direção
CO ordinating - Ooordenação
R eporting - Informação
B udgeting - Elaboração Orçamentária
Como S(; vê, .o plctnejamento ,encabeça a lista doas ativi-
dades específicas dos órgãos ex,ecutivos. Cumprle esclarecer,
porém, qtloe não se trata de qualquer modalidade de planeja-
mento pCircial, jungida a aspectos particulares como, por
c;:.;emplo, .o planejarn..ent.o físico, .o planejament.o -econômioo,
o planejamento financ-eiro dc. Trata-se do planejamento
administraiiüo global, em que são sopesados todos os fatô-
resenvolvidos: .os objetiv.os, a dir-eção, os 1'Iecursos, a clien-
tela, os meios profissionais, os métodos de trabalho, o equi-
pamento} ,a oportunidade} etc.
Como tôd,a atividad,e administr,ativa) o planejam,ento é
:;u~ceptí'v.el
,die num"erosas subclGsses. Dentre estas) um.a ~
mais popular.es nos tempos atuai~ é o planejamento regional.
IVa luta universal Gontra o subdesenvolvimento) ,em que trê,~
quartas partes do mundo 81e acham empenhada~) o planeja-
mento r,eg!onal veio a ocupar posição de destaque como arma
poderosa) quase invencível. O Congo Belga) a In dia) o Mé-
xico) o Paquistã,o) Israel) o Egito) a Guiana Holandesa) a
Venezu.ela)a Colômbia} o Feru ,e vários outros países subde-
senvolvid.osacham-se ,engajados na execução de planos re-
gionais.
Chegou a vez do planejamento institucionalizado. O
planejador) mago moderno) passou a ser visto como artífice
de pmgnes8o.
O Bras·il também despertou pam as virtudes do plane-
jamento. Em seu esfôrço pam acelerar o progress.o econô-
mico e s.oei,al} o país tor'na-se maiS' ,e mais consciente da ne-
cessidade de substituir a improvisaçã.o pelo plano e .o ,empi-
rismo pelo estu,do ,e análise.
Convenha-se ,em qu,e nenhum pa·ís .of,er,eoe melhores .opor-
luni,dades para aplicação do planejamento regional do que o
Brasil. É que) nos país,és de área continental) como o noS,SIO}
o !,enôrneno do subdesenvolviment.o ,apresenta-se com extra-
ordinária var·iedade de aspectos. Se aplicássemos a classifi-
cação de Wageman às várias regiões do Brasil) certamente
se ,esgotaria o .seuesquema: tem.os desde zonas sup~rcapita­
listas, corno São PauZo e o Distrit.o Fed,eral} até zonas acapi-
talistas, Gomo oertas part,esde Mato GrOss.o e Amazonas.
Essa diversidade ,a,e graus de subdesenv.olvimento) que che-
g.a ,a extremos de subocupação da própria terra) comunica
ao planejamento regional importância suprema. As provi-
dências qUJe cumpr.e adotar) ,a fim de acelerar a marcha de
umas regiões e regularade outras) também variam quase
de Estado par.a Estado.
Sob a pressão dês&e c.onglom,erado de prob~emas coleti-
vos) forja-se) no Brasil) a consciência da necessidade de pla-
n,ejar bem e ,em larga ,escala.
Conform,e dissemos alhures) a Constituição Federal d,e
1916 consagra d,efinitivamente ,a idéia do planejam,ent.o go-
vernamental. É) por assim diz,er) uma constituição planeja-
mentista. Inplkifamente) preooniza o planejament.oem vá-
rias de suas disposições) corno) inter alia, nos a1'tigos 169
(educação) e 205 (Conselho Nacional de Eoonomia). ExpH-
citamente) p1'escreve o planejamento regional ,em doses ma-
ciças para a 80lução .ou mitigamento de problemas ,de gmnde
envergadura) com «a fixaçãod.o homem no campo)) (art. 156))
«a defesa oontra os efeitos ,da denominada sêca do Nordeste))
(art. 198)) «·a valorização ,econômica da Amazônia)) (art .
.199)) e o «aproveitament:o total das possibili.dades econômi-
cas do rio São Francisoo ,e serus afluentes)) (art. 29 das Dis-
posições Transitórias).
Por fôrçadêss.es mandamentos constitucionais) ·em oe1'-
tos casos) .ou para levar ,a ,efeito iniciativas avulsas) em
.outros) .o Govêrno F,cderal tem ,em marcha vários projetos
de desenvolvimento regional) algunsàêZes com repercussões
sôbre vastas áreas do território pátrio) como o Plano do Vale
do Rio Doce) ,o Plano de V,alorização Econômica da A mazô-
nia) e o Plano de Aproveitamento elas Possibilidades Econô-
micas do rio São Francisco ·e seus afluent,es. Trata-s.e) ,em
certos casos) de programas iniciados há mais de 30 anos c
'mantidos ininterruptamente desde .então) como o das Obras
Contra a Sêca. A criação da Superintendência do Desenvol-
vimento do Nordeste (Sudene) é o afestado mais recente
da oonfiança qu,e o Govêrno do Brasil .deposita no planeja-
m,ento como base d,e sua políticadesenvolvimentista.
Além da União) .os Estados .do Rio Gran.de d.o Sul) de
Minas Gerais e de Santa Catarina) ,entre .outros) estão ,ex·ecu-
fando ou em vias de iniciar programas de planAjamento re-
gional) oom o objetivo de aumentar os meios ,de transport,e
e a produção ,de ,energi,a ,elétrica. OutroOs Estados já lança-
ram ou estão ,em entendimentos para lançar) conjuntamente)
proOjetos de desenvolvimento de regiões que lhes são comuns)
como .o Vale do Paraíba ,e o VaZe do Paraná-Uruguai. sto
Paulo aunciou e já começou a ex,ecutar) em 1959) o Plano
de Ação do Govêrno Carvalho Pinto.

Cabe) ent",et,antoO) reconheoerque os resultados obtidos


de nossas tentativas de desenvolvimento regional nem sem-
pre têm corr,espondido aos r,ecursos empregados.
A falta de oontinuidade é o mais robusto índice de pla-
nejamento falho. A lentidão oom que se arr,astam certas
obras refZet,e) por oOut'ro lado) sintomas d.e patoZogiaadmi-
nistrativa. O Viaduto Ana Néri, no Rio) por ex,emplo) mo-
desta obra de engenharia urbana)estêveem construção du-
rante doze anos. As obras do Açude Orôs) no Estado do
Ceará) foram iniciada~ há quas,e ,quarenta anos) no gov.êrno
Epitácio Pessôa) e somente ,agora) em 1960) se estão con-
cluindo. &~ria fácil indioar muitos outros projetos governa-
mentais no Brasil que se executam a êsmo) sem calendário.
São começados ao sabor de caprichos ou vontades esporádi-
cos) e terminados quando Deus quiser, muitos anoOs e alguns
govêrnos depois.
O exame ,dos êxitos parciais .ou dos fracassos de certos
projetos) provàvelmente indicaria a falta d,e planejamento
de conjunto como causa principal. Entende-se por plane-
jamentoO de conjunto aquêles em cuja elaboração se levam
em oont'a t.odos os fatôres essenciais a um programa de de-
s,env.olvimento: as mudanças técnicas) a modificação dos
hábitos) práticas e métodos de trabalho das populações in-
t,eressadas) os recursos técnicos e financeiros, o escalonamen-
to das atividades no tempo e sua distribuição no espaço.
No momento em que começam a surgir, no Brasil, es-
forçosde plmwjamento regional de env,ergadura, é forçoso
aumentar o número de técnicos brasileiros capazes de par-
t-icipar na elaboração dos planos já em curso,ou em véspera
de lançamento. Cumpre, sobr,etu,do, familiarizar os altos
funcionários d,e órgãos públicos oomas técnicas de planeja-
mento postas à prov,a alhures, bem assim com as idéias emer-
gentes no campo da administração. Não será dem,ais repe-
tir: planejamento é uma tarefa eminentemente administra-
tiva.
Um dos meios de consecução de tal obJetivo é, sem
dúvida, a re,aliz,ação ,de cursos específicos sôbrea matéria,
cursos qu,e incluam não apenas a t,eoria e a prática de pla-
nejamento, senão também as disciplinas mais ,afins, como,
por ,exemplo, Antropologia Cultural, Geografia Econômica,
etc. Para maior eficiência de tais cursos e perf,eita conexão
da teoria com a prática, paTece indicado que êws se minis-
trem no próprio meio em que se pretende operar, propor-
cionando assimwos estudantes uma oportunidade de ver
como as noções ,e conhecimentos adquiridos se articulam, ou
não, com a realidade ambiente.
A S'uperintendência do Plano d,e Valorização Econômica
da Amazônia (SPVEA) e a Fundação Getúlio Vargas cria-
ram, por meio de acôrdo celebrado em 1955, as condições
1wcessárias para a r,ealizaçlio de um curso dêsse tipo. Sob
os auspícios conjuntos d,essas duas ent'idades, a Escola Bra-
sileira de Administração Pública organizou e realizou, de
s.elembro de 1955 a fev,erd1o de 1956, o Curso de Planeja-
mento Regional de Belém do Pará, o qual teve como centro de
interêsse e fonte de exemplos o program,a de trabalho da
SPVI$A.
O Curso foi franqueado a funcionários públicos quali-
ficados, tanto do órgão patrocinador, a SPVEA, quanto das
r,epartições federais, civis e militares, estaduais e munici-
pais, que pudessem haurir benefícios dos r,espectivos ensina-
mentos. Dos 70 candidatos 38 foram aprovados e, em con-
seqüência, matriculados no CU1'SO. P,ertenciam aos quadros
da SPVEA, do Govêrno do Estado do Pará, da Prefeitura
Municipal de Belém, do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico, do Departamento de Estradas de Rodagem do
Estado de Goiás, do Banco de Crédito da Amazônia, do Ser-
viço Especial da Zona Aérea, da Oitava Região Militar e do
Serviço de Navegação do Amazonas e Administração do
Pôrto do Pará (SNAPP).
O primeiro dêsse tipo no Brasil e, ao que supomos, no
mundo, o Curso visava, especlfricamente, a transmitiras
idéias principais e informafões ~ecentes sôbre planejamento,
administração e valorização dos recursos naturais, econô-
micos e humanos de uma 11egião. Os métodos de ensino ado-
tados incluiram conferências, seminários, discussões ,em gru-
po,análises de casos, excursões, pesquisas individuais e em
equipes, pelo que se exigiu t,empo integral de professôres,
estudantes e funcionários. O material de leitura e os casos
para estudo, preparados pela EBAP e selecionados de várias
origens, destinavam-se a proporcionar aos inter,essad08 as
mais autorizadas fontes de consulta, exonerando-os, assim,
da neoessidade de procurarem a documentação pertinente.
C.onstou .o Curso de quatro Inatérias: Introdução do Es-
tudo do Planejamento; Antropologia Cultural; Geografia
Econômica; Planejamento Regional.
A EBAP obteve a colaboração do Govêrno Americano,
através do Ponto Quatro, graças ao que um jovem planeja-
dor, John Friedmann, recém-f!gresso da Universidade de
Chicago, foi pâsto à sua disposição para ministrar o Curso
do Planejamento Regional.
As aulas então dadas a08 alunos, escritas originària-
mente em inglês, foram revistas e completadas, constituindo
.os .originaisd.o presente Caderno. Sob .o títUl.o Introduction
to Regional Planning, a versão .original inglêsa f.oi publicada
no Ri.o, em 1956, (tirag·em limitada, em mimeógrafo), pela
Divisão de Administração da Missão Americana do Pont.o
Quatro no Brasil. A tradução para o português ficou a
cargo de Mário Faustino, que já atuara, em Belém do Pará,
s.edie do Curs.o, como intérprete e tradutor do Protessor
Friedmann. A r.evisão da v.ersão português a foi feita na
EBAP por várias pessoas: o Professor Arnaldo Pessoa, o
Prof·essor Agenor Rapôso, .o Professor Jorg.e Gustavo da
C.osta) José Ribeiro Filho, e o autor desta introdução.
Com a publicação do pre8ent.e trabalho, a série de Ca-
dernos de Administração Pública incorpora substância va-
liosa) ea EBAP faz mais uma contribuição positiva para a
escassa literatura brasiZeira sôbre a grande pre.ocupação da
atualidade: o planejamento d.as atividades governamentais.
BENEDICTO SILVA

Rio, 29 de dezembro de 1959.


íNDICE

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

P PARTE - CONCEITO DE PLANEJAMENTO

I - Que é Planejamento .............. 5


H - Tipos de Planos .................. 8
IH - Inter-relação de Planos ............ 11
IV - Critério de Planejamento .......... 14
V - Planejamento e Teoria de Contrôles . . 22
VI - Planejamento e Orçamento. . . . . . . . . 25
VII - A Estrutura Institucional do Planeja-
mento Regional .................. 27

2' PARTE - CONCEITO REGIONAL DE DESENVOLVI-


MENTO ECONOMICO

VIll - Tipos de Região ................. 33


IX - Conceito de Desenvolvimento Econô-
Inico ........................... 38
X - Condições Sociais do Progresso Econô-
mico ........................... 43
Xl - A Cidlde e a Região no Desenvolvi-
mento Econômico ................ 50
XII - Fatores Nacionais do Desenvolvimento
Regional ........................ 56
XIII - Os Recursos e sua Classificação .... 58
XIV - Inter-relação na Utilização dos Recursos 64

3~ PARTE - TÉCNICAS ESPECIAIS DO PLANEJAMENTO


REGIONAL

XV - Problemas da Localização e do Desen-


volvimento Industrial ............. 71
XVI - Escala de Prioridade no Planej amen-
to Regional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
XVII - Medição do Desenvolvimento Econô-
mico Regional ................... 85
XVIII - Informações Necessárias ao Planeja-
mento Regional .................. 95
XIX - A Previsão no Planejamento. . . . . . .. 100
XX - Princípios da Análise de Custos e Be-
nefícios ......................... 115
XXI - Os Padrões do Planejamento Regional 123

BIBLIOGRAFIA .......................... 129


INTRODUÇÃO

Os caPítul,os que êste ~olume enfeixa contêm a .essência do Curs.o


de Planejamento Regional, que lecionei, de outubro de 1955 a janei-
ro de 1956, na Cidade de Belém, Estado do Pará, a serviço da Escola
Brasileira de Administração Pública d,a Fundação Getúlio Vârgas.
A maior parte do qu,e se vai ler foi preparada em ap,ostilas para
os alunos do Curso, como subsídio às aulas, seminários e pesquisas,
de que .o Curso const.ou.
Não obstante, acho que tais súmulas p.odem servir de introdução
à matéria que v,ersamos: Planejamento Regional. Caso haja interessados
em aprofundar-se no assUllto, recomendo a bibliografia anexa.
bnpõe-s,e, aqui, ést,e esclar.ecimento: preferi manter brev.es, como
estão, Ias prim.eiros capítulos do caderno, delineand.o .os princípios de
metodologia do Planejamento.
Em trabalho que estou tlltimando, essa matéria é tratada de ma-
n.eira mais extenM, e c.ompleta, ,e será public,ada br-evemente pela EBAP,
sob .o título: Introdução ao Planejamento Democrático. (*)

Rio de Janeiro, março de 1956.

JOHN FRIEDMANN

(*) O livro a que se refere o autor já foi publicado pelo Serviço Editorial
da EBAP, constituindo o volume n 9 5 da «Biblioteca de Administração
Pública». (Nota do CPqA.)

~ - CaJ. Adm. Pública - 51


PRIMEIRA PARTE

CONCEITO DE PLANEJAMENTO
I - QUE :€ PLANEJAMENTO?

A - O planejamento é uma b. Meios: Há possibilidade de


atividade universal do homem. Em afastar-se dos negócios por
maior ou menor extensão, todos três semanas; os filhos estão
nós planejamos; mas nem tôda de- em férias; o depósito bancá-
cisão pode ser tida como decisão rio disponível é de oitenta
planejada. Examinemos, por exem- mil cruzeiros.
plo, um tipo de planejamento de c. Condições limitantes: Não se
ordem particular, com o qual o deverá despender com essas
leitor, provàvelmente, estará fami- férias mais de sessenta mil
liarizado: o planejamento de um cruzeiros; tal circunstância li-
período de férias. Eis o esbôço mita a duração das férias, co-
de alguns dos estágios de plane- mo a liberdade de escolha do
jamento a percorrer, entrosados lugar onde passá-las.
com algumas das questões que po-
derão ser consideradas: 2. - Determinação de objetivos
1. - Apanhado da situação t,otal a. Alvo: Gozar férias por duas
no momento presente semanas (vejam-se, acima, as
a. Motivações: sensação de fa- condições limitantes) .
diga e desejo de mudar de b. Objetivo: Viajar para a Ci-
ares e descansar; a espôsa dade do México e, lá, perma-
vem desejando, há dez anos. necer com a família, durante
visitar a Cidade do México; duas semanas.
seria interessante dar às cri- c. Meta: Chegar à Cidade do
anças uma oportunidade edu- México por volta de 15 de
cacional, através da experiên- dezembro e regressar (para
cia decorrente de uma via- Belém do Pará) a 2 de ja-
gem ao Exterior. neiro.
6 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PlJBLICA

mos ou não conta de que estáva-


mos planejando.
a. Viajar de avião ,ou de navio. E por que planejamos? Planeja-
b. Hospedagem no México: em mos porquê:
casa de amigos ,ou em hotel.
1 - Desejamos alcançar um ou
4. - Estudo das conseqiiêncitlS de vários objetivos, dentro de
cada altern(ztiva: certo limite de tempo.
2 Dispomos de recursos limi-
a) Avião: ... . tados, quanto a dinheiro,
b) Navio: ... . tempo, energia, etc.
c) Amigos: ... . 3 - É preciso evitar desperdí-
d) Hotel: ... . cios; é preciso aumentar o
lucro que obtemos de cad.l
5. - Escolha de altcmatÍt'cls: unidade de energia despen-
dida.
a) Ir de avião
4 - Necessitamos de ordem, de
b) Hospedar-se em hotel
progresso, de equilíbrio, de
beleza e de reafirmação do
6. - Curs,o de ação:
nosso poder sôbre a natu·
a) Deixar o trabalho a ..... . reza.
(data)
b) Solicitar passaporte e vistos c - Planejamento implica fa-
a ...... (data) zer certas coisas. ~sse fazer certas
c) Escolher hotel e providenciar coisas resulta na formulação de
reservas ...... (data) planos de ,cllfão. ~ importante, por
d) Reservar passagens isso, que estabeleçamos uma dis-
(data) tinção clara entre planos e plane-
e) etc ... jamento. O planejamento é, por
vêzes, definido como sendo um
7. - Ação meio de resolver problemas de
maneira mais ou menos racional;
B - Conforme se verifica por os planos são, por outro lado,
êsse exemplo, todos já fizemos al- :tquêles documentos que dão cor-
gum planejamento, pouco impor- po a tais decisões. O planejamen-
tando que, na ocasião, nos désse- to é um processo dinâmico; os pia-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 7

nos têm características estáticas: E - Seja-me permitido, agora,


são impressos, encadernados, li- oferecer uma tentativa de defini-
dos, postos em prateleiras de bi- ção de planejamento. A defimção
bliotecas. .. O Planejamento não é minha; mas há muitas outras
pode ser "lido": é uma atividade aceitáveis e o leitor mesmo poderá
contínUJ. elaborar a sua própria. Eis a mi-
D - O Planejamento é, muita nha:
vez, confundido com "contrôlc",
isto é, com os meios utilizados pa- Planejamento é uma atividade
ra forçar pessoas a agir de certa rela qual o hom,em, agindo em
maneira predeterminada. :É ver- conjunto e através da manipula-
dade que cada plano deve tnzet çã.oe do contróle conscientes do
consigo instrumentos (ou contrô- meio ambiente, procura atingir
les) que o tornem efetivo. Exis- certos fim já anteriormente por
tem muitas e diferentes formas de é/e mesmo especificados.
contrôle; mais adiante deveremos
estudá-las em pormenor. São Definição alguma pode fazer
exemplos comuns de contrôles: Of- justiça a tôda a complexidade de
çamentos, subsídios, educação, pro- um processo de planejamento.
paganda, zoneamento, etc. Todú Mas a definição acima, pelo me-
plano deve ser estruturado em tôr- nos, sublinha alguns dos aspectos
no dos contrôles à disposição da
essenciais dêsse processo. A defI-
repartição encarregada de pôr o nição oferecida é baseada em cer-
plano em ação. Por outro lado, tos postulados de natureza filosó-
nem todo ato de contrôle é "pla- fica, como, por exemplo:
nejado". Planejamento significa
antevisão; já os contrôles são, fre- 1 - O ambiente influi signi-
<lüentemente, impostos irracional- ficativamente no destino co ho-
mente, sem cogitação do futuro, mem.
predominando os fins imediatos 2 - O homem pode determ1-
ou as vantagens pessoais. E, não nar seu destino coletivo (histórÍl)
raro, os contrôles são impostos atuando sôbre o ambiente social e
sem coordenação entre uns e ou- natural que o cerca.
tros, e a coordenação é indispen-
sável para atingir objetivos de im- 3 - O homem é um ser racio-
portância. nal, capaz de agir racionalmente.
8 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

4 - O homem é um ser social, 5 - O homem é um ser coope-


capaz de entrar em acôrdo com rativo capaz de esforços de con-
outros homens quanto aos objeti-
vos que orientam a conduta co- junto, no interêsse do progresso
letiva. social.

II - TIPOS DE PLANOS

A -- Pode-se dizer que "pla- 3. Uma Região (maior ou


nejamento" é uma tentativa de re- menor qw: um Estado) ou um
solver racionalmente os problema~ Território;
que nos afetam. É possível aplicat
técnicas de planejamento a tôda 4. Um País inteiro.
situação que exija de nós uma
decisão. Entretanto, o conteúdo c - É truísmo afirmar que os
planejamentos destinados a bom
das decisões de planejamento, por
sucesso, ao contrário dos sonh03
assim dizer a "mltéria-prima" do
e das utopias, têm de ser acompa-
planejamento, depende da varie- nhados de contrôles, à disposição
dade de contrôles específicos pas- (pelo menos em potencial) da or-
síveis de serem aplicados pela or- ganização que planej a, na quali-
ganização que planeja, de modo dade de limites da ação planejada.
que esta possa atingir seus fins. Por "contrôle", entendo aqui a
capacidclde ou autoridade para fa-
B - Ao contrário das situações zer alguma coisa. Assim, os con-
de caráter particular, o planeja- trôles à disposição do administra-
mento, na vida pública, é muitas dor de uma cidade, hão de ser, é
vêzes organizado na base de um claro, de espécie diferente da dos
território: contrôles de que deve dispor um
Ministério de Obras Públicas, por
1. Uma Cidade, um Municí- exemplo. No Brasil, um municí-
pio, ou uma Área Metropolitana; pio pode ter autoridade para cons-
truir e manter seu próprio serviço
2. Um Estado, ou um Terri- de águas, mas não pode controlar
tório (unidades políticas); a educação das crianças que o ha-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 9

bitam. Regulamentar e incremen- tre o Município, o Estado e a


tar a política educacional é, neste União. Foi estabelecida por múl-
País, uma prerrogativa do govêrno tiplas razões: a pobreza da região
central. amazônica; a falta de recursos téc-
Seria, talvez, interessante organi- nicos e financeiros, por parte das
zar uma relação de alguns dos unidades políticas nela compreen-
contrôles que os governos, em didas, para melhorar as condições
cada nível - cidade, estado, re- de vida regionais; a distância en-
gião, país - podem utilizar para tre a região e a capital federal,
executar seus planos. Notaríamos, onde se concentravam os serviços
feito isso, que as diferenças entre federais que, anteriormente à cria-
métodos de planejamento deri- ção da SPVEA, planejavam o de-
vam, em larga escala, das diferen- senvolvimento da região - e por
ças existentes entre os contrôles muitas outras razões. O objetiyo
disponíveis. O município pode central da SPVEA é o desenvol-
planejar o tráfego, o traç~do das vimento econômico, a "valoriza-
ruas, o uso conveniente da terra, ção" da Região Am3Zônica. Para
etc.; o govêrno nacional decide da realizar tal propósito, a organiza-
política educacional, da defesa na- ção conta com fundos de origem
cioml, da colonização, etc. Com federal, estadual e municipal, pre-
o tempo, certas tradições e certo vistos em lei, e com autoridade
vocabulário especial se vão avolu- para contratar com entidades pú-
mando em tôrno de determinadas blicas e privadas a execução das
especializações do planejamento obras e serviços previstos por seus
central, necessárias a cada tipo de planos. As atividades da SPVEA
planejamento, de modo que a certa incluem múltiplos campos, dividi-
altura passamos a falar em "pla- dos pela própria organização em:
nejadores municipais (urbanos) ", Recursos Naturais; Transportes,
"planejadores regionais", "estadu- Comunicações e Energia; Crédito
ais", e assim por diante. e Comércio; Agricultura; Saúde; e
A Superintendência do Plano Desenvolvimento Cultural.
de Valorização Econômica da Ama- QtNtiS são, em cada um dêHes
zoma (SPVEA), constitUI um campos, os contrôles específicos à
exemplo de organização de pla- disposição da SPVEA?
nejamento regional. Trata-se de Nos Estados Unidos, as carac-
uma entidade colocada algures en- terísticas e funções a seguir são
10 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

típicas do planejamento de natu- ção. Enquanto o planejamento re-


reza territorial: gional tende para a coordenação
e a união de esforços quanto às
1. Pletnejamento municipal: con- funções consideradas, o planeja-
trôle da utilização da terra, mento funcional é planejamento
transportes, planej amento ur- parcial, isto é, planejamento tendo
bano, campos de recreio, cons- em vista atividades isoladas, como
trução de casas, orçamento de saúde, defesa, educação, preserva-
obras, etc.; ção e incremento florestal, etc.
Êsse planejamento funcioOJI pode
2. Plemejdmento estadual: assis- ser levado a efeito em qualquer
tência às pequenas comuni- nível da administração: municipal,
dades quanto ao planejamen- estadual, regional ou nacional.
to urbano; incentivo às indús- Quando, por exemplo, a SPVEA
trias; planejamento de rodo- prepara um plano para melhorar
vias, centros de recreação, as condições de saúde da região,
etc.; produção de minérios; êsse plano deve ser considerado
desenvolvimento e conserya- como funcional, muito embora con-
ção de florestas. finado a uma região. Somente se
3. Planejamento regioJlâl: ener- tornará parte de um plano regio-
gia elétrica, navegação, con- nal quando coordenado com ou-
trôle de enchentes e irriga- tros plainos funcionais, em bases
ção, recreação, saúde e sanea- r.egionais.
mento; Que entendemos por coordena-
ção? Vejamos um exemplo. A
4. Planejamento nacional: esta- Divisão de Saúde de certa orga-
bilidade econômica; pleno nização regional de planejamento
emprêgo; política de recur- chega à conclusão de que tem de
sos naturais; política do tra- gastar cinqüenta milhões de cru-
balho; distribuição de con- zeiros, em determinado número
tratos federais entre as indús- de anos, com o fim de reduzir a
trias privadas, etc. mortalidade infantil na região. Tal
proieto é submetido à Comissão
D -- Mas as atividades de pla- Central de Planejamento da mes-
nejamento podem também ser ma organização, onde é analisado
classificadas de acôrdo com a fun- e comparado com outros planos
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 11

funcionais, à luz dos objetivos ge- momento, que a luta contra a


rais de desenvolvimento da região. mortalidade infantil. A mesma co-
A Comissão de Planej:lmento po- missão poderia, então, destinar
derá concluir que, tendo em vista apenas cinco milhões de cruzeiros
a predominância do interêsse eco- aos projetos contra a mortalidade
nômico no desenvolvimento da infantil, aumentando, ao mesmo
região, deveria ser dada priorida- tempo, a verba a ser destinada à
de imediata, por exemplo, a certos erradicação da malária. Por ou-
projetos destinados a aumentar a tro lado, parte dos cinqüenta mi-
produção agrícola por homem-ho- lhões acima mencionados poderia
ra na região. Assim sendo, f!O ser destinada aos programas de
que toca ao programa de saúde, o outras divisões que não a de Slúde.
combate a certas moléstias debi- É dêsse modo que se desenvolve
litantes, como a malária e a ver- um plano regional bem coorde-
minose, seria mais importante, no nado.

lI! - INTER-RELAÇÃO DE PLANOS

A - Já vimos como os diver- las. Se lhes indicasse, de uma


sos planos funcionais podem ser vez, todo êsse material de leitura,
coordenados, dando lugar a um dizendo: "Aqui está o que deve-
plano regional (ou municipal, ou rão ler dentro dos próximos dois
nacional). Examinemos agora ou- meses", estaria estabelecendo o
tro aspecto do planejamento, ou que chamaria de um "plano es-
seja, a inter-relação de vários pla- trutural de leitura". Seria estru-
nos gerais, de natureza territorial. tural por isso que os alunos mes-
B - A esta altura, torna-scne- mo teriam de preparar seus pró-
cessário dar uma idéia do que é prios plmos pormenorizados de
"planejamento estrutural" . Um leitura, cada um de acôrdo com
exemplo explicará melhor o que suas preferências, sua habilidade
se quer dizer com isso. Preparan- de ler mais ou menos depressa,
do-me para êste curso, organizei etc.
uma longa lista de livros que jul- Meu "plano estruturaI"' conte-
guei devessem ser lidos pelos alu- ria apenas dois elementos: 1) uma
nos, como subsídio a minhas au- lista de livros a serem lidos; e 2)
12 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

um::! data na qual essa leitura de-


plonelcmen10 nadonal
veria estar concluída. O plano
pormenorizado ficaria, como foi
dito, a cargo dos alunos.

À lista de livros e à "data-me-


ta" poderíamos chamar os "pon-
tos de referência" de meu plano
estrutural. Esses pontos de refe-
rência ajudariam os alunos a pre-
parar seus próprios planos de lei-
tura e, ao mesmo tempo, habili-
tariam o professor a exercer certo
contrôle sôbre os planos dos alu- O pbno nacional (ou as dire-
nos. trizes gerais do govêrno central)
estabelece a estrutura dos planos
No planejamento estrutural, po- regionais; os planos regionais es-
de haver muitas espécies diversas tabelecem a estrutura dos planos
de pontos de referência, como, municipais, ou urbanos. Como
por exemplo: alvos, objetivos e veremos adiante, a idéia de pla-
metas; padrões de execução; fixa- nejamento estrutural também po-
ção de objetivos últimos; infor- de ser aplicada, com sucesso, ao
mações econômicas sôbre conse- planejamento funcional.
qüências futuras do planejamento; A esta altura j á deve parecer
tetos orçamentários; e muitos ou- evidente a necessidade do plane-
tros. Todo plano estrutural pode j am-.mto estrutural: seria impos-
US1f êsses e outros pontos de re- sível, por exemplo, a uma orga-
ferência como orientações para os nização nacional de planejamento,
planos pormenorizados das unida- prep:uar planos pormenorizados
des de planejamento de nível in- para regiões e cidades e ao mes-
ferior. mo tempo executar êsses planos
com bons resultados. Essa orga-
O desenho abaixo mostra de nização de âmbito nacional não
que modo, no planejamento re- teria nem a técnica nem o dinheiro
gional, se utilizam os planos es- exigidos por tamanho empreendi-
truturais: mento. E mesmo que fôssem bem
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 13

sucedidos, faltaria a êsses planos ridade para a zona da capital ama-


a flexibilidade que só pode ser zonense. Essa diferença consiste
conseguida por meio da descen- no tipo e no grau do desenvol-
tralização da própria função pla- vimento que se pode prever.
nejadora. E nem contaria a orga- Por outro lado, o planejador
nização nacional de planejamento regional, trabalhando p a r a a
com uma maneira adequada de SPVEA, é obrigado a depender
medir ou controlar os resultados das decisões do govêrno nacional
de sua ação nos níveis regional e no que toca a questões como po-
municipal. lítica de tarifas, estabilização da
C - Se considerarmos a idéia moeda, encorajamento a outros
de planejamento estrutural do projetos de desenvolvimento re-
ponto de vista do planejador mu- gional, estímulo ao capital nacio-
nicipal ou urbano, poderemos di- nal ou estrangeiro, etc. E, final-
zer que um plano regional esta- mente, a política nacional, quan-
beleceria para êle a orientação e do considera o desenvolvimento
as limitações dos trabalhos de ph- em curso ou planejado, tem de se
nejamento municipal ou urbano. dar conta do momento internacio-
De modo semelhante, um plano nal. :esse processo de estabelecer
nacional, através de seu sistema orientações e limitações para pla-
de "pontos de referência", forne- nos de nível inferior poderia ser
ceria orientação e limitações ao chamado de "devolução" de pla-
planejamento regional. Nosso nos, isto é, uma espécie de trans-
próprio plan,ejamento sempre de- ferência dos planos do nível na-
pende daquilo que pr,etende fazer cional para ° regional e para o
uma loutra pessoa, 011 1Ima 01lt1'a local.
entidade. Entretanto, num sistema de pla-
Ainda p o r exemplo, se a nejamento levado ao máximo, po-
SPVEA decidisse dar prioridade deríamos falar também de uma
máxima aos projetos que visam "agregação" de planos, isto é, de
ao desenvolvimento da área de planos de nível mais alto, elabo-
Belém do Pará, um planejador ur- rados a partir dos planos de nível
bano que trabalhasse para a área mais baixo, que seriam as unida-
de Manaus teria de preparar para des componentes daqueles. Se ca-
esta um plano bem diferente do da uma das principais regiões do
que seria feito se fôsse dada prio- Brasil estivesse sob planejamento
14 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

como está hoje a Região Amazôni- nação do planejamento em cada


ca, a política nacional teria de ser nível administrativo, de modo
fortemente influenciada pelos or- que a soma total de todos os pla-
çamentos que as organizações de nos dentro de uma nação ( ou,
planej amento regional preparariam pelo menos, dentro de uma re-
para suas respectivas áreas. gião), venham a compor uma uni-
Na prática, portanto, deve ha- dade orgânica, tal como se entro-
ver constante interação, consulta sam tôdas as peças num delicado
ininterrupta e permanente coorde- mecanismo de relógio.

IV - CRITÉRIOS DE PLANEJAMENTO

QUlndo preparamos um plano, Em regimes dessa natureza as di-


perguntamo-nos muitas vêzes: "Se- retrizes políticas são fornecidas
rá êste um bom plano?" Ou, em pelos políticos; os planos adminis-
outras palavras: "Obedece êste trativos têm forçosamente de ser
plano aos padrões e critérios que submetidos ao Legislativo, compos-
distinguem um bom plano?" Dis- to de políticos, para aprovação fi-
cutiremos a seguir os pJdrões de nal. Portanto, para que o plano
excelência dentro dos quais um seja bom, dentro dêsse primeiro
plano, ou um planejamento, pode critério, deve ter uma probabilida-
ser considerado bom. de, acima de média, de ser apro-
vado pelo menos em substância,
A - CRITÉRIOS GERAIS pelo Legislativo.
A capacidade de prever se o
Critério 1. - O plano deve plano será aprovado ou vetado,
ser p.oliticamente .aceitável. no que tem de substancial, pelo
Queixam-se os planejadores, Legislativo, é rara entre os pla-
freqüentemente, de que os políti- nejadores. Para isso devem êles
cos se recusam a aceitar pbnos estar ao corrente das sutilezas e
cujos autores, tendo nêles traba- flutuações políticas, das pressões
lhado meses e meses, acreditam dos diversos grupos, do estado de
constituírem a "melhor solução". espírito das popubções quanto a
Entretanto, são "coisas da vida" certos assuntos, para que possam
em qualquer regime democrático. proteger os planos contra um pos-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 15

terior e definitivo engavetamento. 1. Cust,o do plano em têrmos


O que não significa devam os pla- de:
nos refletir diretamente as prefe-
rências de partidos políticos, gru- a. dinheiro
pos de pressão, etc. Todo plano b. material exigido, em quanti-
contém certo elemento político; dades reais
mas plano algum deveria ser po- c. mão-de-obra exigida, inclusive
lítico. Se o fôr, as soluções que necessidades de mão-de-obra
apresenta não são nunca perfeitas, especializada;
tendo o planejador de fazer de-
2. Recursos institucionais dispo-
masiadas concessões para obter a
níveis para pôr o plano em
aprovação de seus propósitos fa-
execução, sobretudo quanto a:
voritos. Muito embora o planeja-
mento venha a ser, na prática, um a. educação e propaganda
instrumento bastante imperfeito, b. zoneamento da terra em têr-
é ainda o melhor com que pode- mos de sua utilização
mos contar, enquanto dermos va-
c. aquisição de terras
lor a nossas instituições democrá-
d. ajustes contratuais
ticas.
Critério 2. O plano deve
3. Condições que limitam o al-
cance do planejamento e da
serexeqiiível.
execução, tais como:
Um plano que não pode ser
pôs to em execução não é plano: a. principais elementos imprevi-
é sonho; qmndo muito, é utQpia. síveis que podem influir sô-
Às vêzes, os sonhos e as utopias bre o plano, como, por exem-
são boas coisas, mas não repre- plo, uma guerra.
sentam solução imediata. Daí for- b. certos aspectos da vida e da
mular o planejador, em sua análi- natureza que ainda não po-
se do plano, a questão essencial: dem ser modificados ou pla-
"Pode êste plano ser pôsto em nejados e que também podem
execução?" Na prática, isso signi- influir sôbre o plano; exem-
fica que, para que um plano seja pIo: o clima.
bom, seu autor deve levar em c. condições de aceitabilidade,
conta os seguintes fatôres, quando responsabilidade e viabilida-
de sua elaboração: de dos planos.
16 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Para que os planos sejam passí- 4. Terá êste projeto seus pró-
veis de execução, é necessário con- prios meios de subsistência?
siderar custos, meios e condições
limitantes das ações planejadas. 5. Estimulará êste projeto, por
si mesmo, outras atividades,
Critério 3. - O plano deve ser sem qualquer outro subsídio
econômico. adicional?
Eis aí, talvez, a exigência mais
difícil de preencher; incluí-a, con- Os planejadores já desenvolve-
tudo, por uma razão muito sim- ram uma técnica especial para res-
pIes: os recursos com que conta- ponder a essas questões, chamada
mos para fazer seja lá o que fôr "análúe de ClIsto ,e lucro". Mais
são sempre limitados. Tenciona- tarde teremos oportunidade de
mos, portanto, levar ao máximo os discutir essa técnica.
benefícios que deverão decorrer
da soma total de recursos emprc- Critério 4. - O plano deve
gados. Ao mesmo tempo, acha- ser sensível às asPirações popula-
mos necessário poupar nossos rc- N'S.
cursos de modo que não empre-
guemos mais do que o necessário Nas sociedades democráticas, o
para atingirmos nossos objetivos. objetivo do planejamento público
Como planejadores, devemos, por- °
é bem-estar geral: - maior feli-
tanto, formular as seguintes ques- cidade e mais prosperidade para o
tões: povo. Simples como se apresenta,
essa frase suscita muitos proble-
1. Haverá um modo de chegar mas filosóficos da maior impor-
ao mesmo resultado por meios tância. Por exemplo:
menos dispendiosos?
1 . A maior parte das ativida-
2. Poderá êsse dinheiro ser uti- des de planejamento inclui o que
lizado em algum outro pro- vem a ser, na realidade, uma
jeto que prometa maiores re- transferência de dinheiro dos mais
sultados?
ricos para os mais pobres. Como
3. Terei fornecido os meios e justificar isso filosOficamente, des-
modos de pôr e de manter de que trabalhamos pela melhoria
em execução o projeto? do bem-estar g,eral?
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 17

2. A sociedade é composta de EXEQÜIBILIDADE: os pla-


inúmeros interêsses distintos, in- nos devem ser passíveis de exe-
dividuais e de grupo. Como, den- cução.
tre essa diversidlde, destacar um VIABILIDADE: os planos de-
interêsse geral, que não entre em vem ser ,econômicos, isto é, econô-
conflito, num ou noutro ponto, micamente viáveis.
com interêsses especiais?
SENSIBILIDADE: os planos
3 . O plano deve sentir as ne- devem ser sensíveis às asPirações
populares.
cessidades e aspirações do povo,
porém saberá o povo, sempre, o
B - CRIT:flRIOS ESPECIFICOS
que lhe convém? E deverá preva-
lecer sempre o sentido de valores Vejamos agora as três dimen-
do povo? sões principais de um plano:
Outros pontos poderiam ser le-
vantados, de igual dificuldade. :fi a. tempo
necessário que todos nós reflitamos b. espaço
sôbre êles, é preciso que os dis- c. volume, ou custo
cutamos entre nós. Haverá, de-
certo, mais de uma resposta. En- 1. Os planos são delineados em
tretanto, no final das contas, um têrmos de temPlO
critério geral deverá prevalecer:
são b.ons os planos quando levam Todo plano cobre um certo pe-
em conta .o bem·estar do povo, ríodo limitado de tempo, expon-
quando são sensíveis às nec,essida- do os diversos meios pelos quais
des e aspirações dêste. nos transportamos de uma situa-
ção presente, atual, para uma de-
Vejamos, uma vez mais, os qua-
terminada situação futura que pre-
tro critérios gerais de julgamento tendemos alcançar. Eis aí a feição
de um plano ou de um planeja- mais característica do planeja-
mento, critérios êsses que acaba- menta: o fato de ser êle um mo-
mos de discutir: do de traçar o esbôço de uma si-
tuação futura, esbôço êsse basea-
ACEITABILIDADE: os pla- do em decisões atuais, isto é, to-
nos devem ser ac.eitávels. madas no presente, Tal se con-

3 - Cad. Adm. Príblica - )1


18 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PtJBLICA

segue emprestando ênfase espe- um território, uma região, um


cial: município, uma cidade. A não
a) ao esbôço aludido, o qual ser em casos especiais - como,
vem a ser um verdadeiro "quadro" por exemplo, quando °
planej a-
da situação futura que pretende- dor, trabalhando para o govêrno
mos alcançar; e federal, só utiliza para seu plano
b) à ação pela qual transfor- elementos orçamentários - todo
mamos êsse esbôço em realid:lde, plano resulta num conjunto de
em data predeterminada. atividades dispostas em espaço

litua~lio futura total

°
o esbôço, anteprojeto, é a res- geográfico. Do mesmo modo que
posta às perguntas: o quê?, quan- é preciso haver coordenação quan-
do?, enquanto a ação responde à to ao tempo, é indispensável a
pergunta: como? coordenação espacial das ativida-
Ilustremos através de um grá- des e dos projetos a serem leva-
fico a idéia acima exposta: dos a efeito. O planejamento tem
de levar em conta as realidades fí-
2. Os !J!allos são delineados em sicas do espaço geográfico: dis-
têrmos de espaço tância, topografia, hidrografia,
geologia, vegetação, utilização da
Todo plano diz respeito a uma terra, e assim por diante. O estu-
área: todo o país, ou um estado, do minucioso de uma área em
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 19

todos êsses aspectos é exigência Além disso, pode haver necessi-


prévia indispensável ao bom pla- dade de preparar orçamentos es-
nejamento. O próprio plano, tra- peciais de mão-de-obra (no caso,
te êle de colonização, transporte, por exemplo, de escasseZ de espe-
saúde, energia elétrica, educação, cialistas) e de materiais em falta
indústria ou comércio, deve har- no mercado, especialmente quan-
monizar os diversos projetos nêle do tais materiais têm de ser im-
compreendidos com o ambiente portados, exigindo, assim, a uti-
natural e humano (condições fa.- lização de divisas.
"oráveis e condições limitantes),
relacionando uns aos outros, orgâ- C. - CRITÉRIOS DE
nicamente, no espaço. É por essa RACIONALIDADE
razão que os mapas e os gráficos
constituem um dos principais ins- Já vimos que o planejamento
trumentos do planejamento. não passa de uma maneira de to-
mar decisões mais racionais do que
3. Os planos são delineados em as que não são planejadas, isto é,
têrmos de ~olume, ou seja, em aquelas feitas de acôrdo simples-
mente com a tradição, com o que
têrmos de custo
diz a lei, com a oportunidade
Resultam os planos, em última imediata, com os caprichos pes-
análise, numa distribuição de re- soais. Como dizer, se uma deci-
cursos por várias tarefas específi- são é "racional"? Assim a consi-
cas. Cada projeto, cada atividade, deraremos se foi tomada dentro
representa uma exigência de re- do seguinte esquema:
cursos físicos, de técnica humana, Ao tomar uma decisão,
de fundos disponíveis em dinhei-
ro. Não basta, assim sendo, pre- 1 . Escolha seus objetivos ge-
parar um plano material, que ape- rais. Esta parte, geralmente, é
na, especifica os projetos por rea- atribuição política ou legislativa,
lizar. Aos planos devem acres- muito embora, não raro, sejam os
centar-se orçamentos. Esses devem próprios planejadores convidados
constituir a versão financeira do a especificarem os objetivos a se-
plano mlterial. Providenciam re- rem atingidos. A escolha de obje-
cursos financeiros para tarefas es- tivos é uma questão de julgamen-
pecíficas delineadas no plano. to, de ponderação, às vêzes de
20 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

simples submissão e, em última tomar uma, decisão racional, e sim


análise, não racional; em manter a mesma racionalidade
durante todo o período de plane-
2. Examine tôdas as alterna- j amento. fl necessário, por isso,
tivas de estratégia que possam con- medir os resultados da ação pla-
duzir à consecução dos objetivos nejada e rever periàdicamente os
em mira; planos, à luz de novas informa-
3. Examine tôdas as conse- ções, de dados mais recentes.
qüências que possam resultar da Eis algumas das muitas razões
execução de cada uma das altero porque a aferição, ou medição, a
nativas de estratégia; observação e a revisão constituem
componentes indispensáveis do
4. Escolha aquela alternativa processo de planejamento:
de estratégia cujas conseqüências a. Conseqüências imprevistas
totais sejam preferíveis - tendo e freqüentemente contrárias a
em vista os objetivos predetermi- nossos desejos podem sobrevir,
nados - a qualquer outro con- mesmo quando a execução tiver
junto de conseqüências, derivado sido precedida do mais cuidadoso
das demais alternativas. Entretan- planejamento.
to, nem tôdas as conseqüências de b. A situação que escapa ao
uma estratégia especial mostrarão contrôle da organização planejado-
relacionar-se com os objetivos es- ta pode desviar-se de modo pon-
colhidos. O que não significa se- derável das direções projetadas.
jam essas conseqüências irrelevan- C. Podem ocorrer transforma-
tes. Sua seleção deve ser orienta- ções radicais tanto na política co-
da por critérios de adequação e de mo na opinião popular.
eficáCIa. Contudo, outras conside- d. Podem vir a ser colhidos
rações também representarão im- dados mais completos e mais exa·
portantes papéis; tos.
Se o planejador tiver obedecido e. O programa de ação po-
literalmente a êsses critérios, sua de não abnçar e pode ultrapas-
decisão será, como veremos, "ra- sar os objetivos projetados.
cional": ter-se-á escolhido, obje- Em qualquer dessas situações,
°
tivamente, melhor dos cursos de poderá tornar-se necessária uma
ação Mas em planejamento não transformação, seja nos meios, seja
estamos interessados apenas em nos objetivos da ação.
iNTRODUÇÃO AO PLANÊJAMENTO REGIONAL 21

Acabamos de esboçar alguns dos colhido. Isso se verifica por vários


critérios orientadores de uma de- motivos:
cisão racional. Torna-se logo evi-
dente, no entanto, que, ao apli· 1 . O t€mpo e os recursos de-
cá-los, encontraremos não poucas dicados ao período de estudos são
dificuldades. Por exemplo: limitados;
a) as partes interessadas po- 2. Quanto mais de perto con-
dem estar de acôrdo quanto aos siderarmos o quadro de uma si-
objetivos gerais, porém podem tuação, menos nos parecerão dig-
cair em desacôrdo quanto ao que nas de confiança as previsões fei-
na realidade êles significam. tas ou que se podem fazer;
b) a mesma sociedade pode,
num dado momento, ter em mira 3 . As ciências sociais ainda
numerosos objetivos, muitas vêzes não se encontram adiantadas a
em conflito uns com os outros. ponto de permitirem, na maioria
dos casos, previsões exatas;
c) é, de regra, impossível
4. É falhl a inteligência hu-
examinar tôdas as alternativas ló-
mana: há sempre possibilidade de
gicas de estratégia que se nos
erros, de negligências, de descui-
deparam num dado momento.
dos;
Contudo, pode o planejador, au-
tomàticamente, restringir a escala 5 . A realidade é complexa:
de alternativas, eliminando desde raras vêzes podemos prever além
logo aquelas que não se mostram das conseqüências imediatas de
aceitáveis, exeqüív,eis, econômicas uma ação. (Nesse caso, devem
ou s.ensíveis às aspi1i~ões popula- os pbnejadores procurar melhorar
res. Há, além disso, a considerar, suas técnicas de previsão, bem co-
os casos em que um compromisso mo tornar seu planejamento flexí-
de ação, tomado em níveis supe- vel e de fácil adaptação.)
riores e anterior à fase de plane- e) finalmente, a alternativa
jamento, serve para limitar o de estratégia escolhida pode não
"campo de decisão" dos planeja- ser a melhor, em têrmos dos obje-
dores. tivos clarJmente estabelecidos, e
d) é impossível examinar tô- sim a melhor, em têrmos da esca-
das as conseqüências que podem la de valores completa da socieda-
decorrer de um curso de ação es- de interessada.
22 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Como vimos, racionalidade to- muitas vêzes representa importan-


tal pode não ser o mesmo que te valor Em si mesmo, de modo
l'dcion:did ade p,,,I'ciaI, e os plane- que nem sempre devemos prefe-
jadores nunca deverão esquecer rir uma decisão que é racional em
que estão sempre tratando de si- nosso sentido.
tuações narciais. Além disso, à
altura. d; escolha final, podem de Terminemos esta discussão di-
ler~ntt' surgir outros critérios, co- zendo que, de um ponto de vista
mo a legislação vigente, a tr~dição, ideal, o planejamento é a tomada
cu s.quêles interêsses t'speciais vi- de decisões racionais. Na prática,
sando à possibilidade de ganhos entretanto, pode êle esforçar-se
pessoais em prejuízo da sociedade apenas por mais racionalidade e
em geral. Não se deve, contudo, não por uma racionalidade abso-
esquecer que o critério da decisão luta.

v - PLANEJAMENTO E TEORIA DE CONTRÔLES

A - A mais difícil e ao mes- divíduo, cada organização (um e


mo tempo a mais importante das outro o agente, o "ator") com
ql1'~stões com (lue depara um pIa- um papel na execução de nosso
nejador é a da execução dos pla- plano, sôbre o que fazer e quando
nos. A não ser que se resolva fazê-lo, do modo mais exato. Te-
essa questão de modo satisfatório, ríamos, com efeito, um plano de
mesmo os planos mais bem deli- trabalho pormenorizado para cada
neados serão inúteis: a intenção, o "ator" na situação teatral do pla-
projeto, devem estar ligados à nejamento. Infelizmente, pode-se
ação. Deveras, o plano deve ser ver, desde logo, que isso tudo re-
concebido, antes de mais nada, dunda numa impossibilidade téc-
como um plano de ação; o que nica. Não dispomos nem da su-
vem suscitar, imediatamente, a ficiente previsão, nem dos recur-
questão dos contrôles que servem, sos necessários a planejamento tão
ou não, aos propósitos de um minucioso, tão circunstanciado. E
plano. nem, em geral, dispomos do po-
B - Tivéssemos o poder para der de forçar a aceitação de tais
assim agir, orientaríamos cada in- planos. O problema da supervi-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 23

são, caso tudo isso fôsse possível, poníveis para a execução do plano
tornar-se-ia monumental. de ação;
Em planejamento, por conse-
guinte, forçoso é encontrar, sem- 4. Sua competência técnica,
pre, determinado equilíbrio entre tanto como planejador quanto co-
direção e especificação. Tal distin- mo executor;
ção traz-nos à mente O conceito de 5. Os contrôles específicos de
planejamento "estrutural". A di- que disporá para aplicar à situa-
reção nos diz ,o que fazer, de mo- ção, de modo a atingir seus fins.
do geral; a especificação nos in-
dica c,omo fazê-lo, em minúcias. A direção é, de hábito, estabe-
Todo plano contém tanto elemen- lecida através de uma série de
tos de uma como de outra. "pontos de referência". Contudo,
Quando estabelecemos a dire- a organização central de planeja-
ção da ação a um agente em po- mento deveria reservar-se a capa-
tencial (quer dizer, a um indiví- cidade de verificar o bom ou mau
duo, ou a uma organização), nós, desempenho do agente, do exe-
como planejadores, não devemos cutor, de maneira a poder deter-
esquecer um só momento a capa- minar se êste está agindo de acôr-
cidade dêsse agente de tornar es- do com a direção geral que lhe
pecífica a direção geral que lhe foi de antemão estabelecida.
foi dada; em outras palavras, em C - Outro equilíbrio indis-
especificar êsse agente, para si pensável ao planejamento é aquê-
próprio, um curso de ação cir- le que deve prevalecer entre os
cunsta.i1ciado . Nesse sentido, a ha- campos de ação planejada e não
bilidade do agente variará de acôr- planejada. Plano algum cobre to-
do com: dos os aspectos da vida. Na ver-
dade, se estudarmos as diversas
1 . O tempo de que dispõe categorias de planos, surpreender-
para confeccionar seu próprio pla- -nos-á o fato de que apenas, e
no especificado, circunstanciado; quando muito, cinco por cento de
2 . Suas especializações, seus
tôdas as atividades que compõem
recursos técnicos; a vida de uma cidade, de uma
região, de uma nação, são jamais
3. Seus recursos materiais, in- "planejadas" de modo significa-
clusive os recursos financeiros dis· tivo.
24 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Mesmo assim, porém, os cam- No caso da SPVEA, as posições-


pos de ação planejada e não pla- -chaves para o desenvolvimento
pejada não se apresentam intei- econômico da Região Amazônica
ramente estanques _ Se o plane- foram concebidas como sendo:
jamento fôr feito de modo apro- saúde, educação, transportes, crédi-
priado, terá importância mesmo to, comércio, indústria, energia
para os campos de ação não pla- elétriCl, agricultura, etc. Corres-
nejada. É fácil de imaginar, por podem essas posições-chaves às
exemplo, como a vida de tôda uma funções mestras da Superintendên-
comunidade seria afetada pelo es- cia. Mas dentro de cada função
tabelecimento, dentro de seus li- há posições-chaves especificadas,
mites, de uma nova indústria de que podem ser utilizadas com su-
grandes proporções. A localiza- cesso. Por exemplo, no caso da
ção de tal indústria poderia ser agricultura, encontramos as se-
planejada; as conseqüências sociais guintes posições-chaves destinadas
e econômicas dessa localização não a exercer influência sôbre o ritmo
seriam planejadas: no entanto, po- de destnvolvimento da produção
deriam ser previstas no plano, agrícola: pesquisas, educação e
como resultado intencional da lo- crédito.
calização - planejada - da re-
ferida indústria. D - Finalmente, deveremos
distinguir entre o uso de contrôles
A questão tôda, em planeja- diretos e indiretos. No caso do
mento, consiste, portanto, em se- exemplo supracitado, a localização
lecionar a posição-chave a partir de certa indústria numa comuni-
da qual uma situação total possa dade é um bom exemplo de con-
$er influenciada, de maneira a trôle "indireto", pois consegue
evoluir na direção desejada. A produzir certos resultados inten-
localização de uma fábrica consti- cionais, sem, entretanto, especifi-
tui uma dessas posições-chaves. cá-los.
Estas não passam de pontos es-
tratégicos, numa situação dada, 1 . Os c,ontrôles diretos são,
através dos quais podemos exercer em geral, semelhantes às ordens,
influência sôbre as direções que aos comandos, isto é, estão liga-
toma, eventualmente, o esfôrço hu- dos a um sistema de recompensas
mano. e sanções. A permissão concedida
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 25

aos médicos formados para exer- não de outra, sem sentir-se a isso
cerem sua profissão, permissão compelido pela pressão de uma
essa, que pode ser suspensa, é um autoridade. Exemplo de contrôle
exemplo de contrôle direto. indireto é o costume que regula
o ;:0mpcrtamento de um indivíduo
2. Os contrôles indiretos im- cemo ~embro de uma família.
plicam simplesmente a estmtura- Em planejamento, podemos
ção do campo de ação para um conceber a idéia de contrôles co-
agente, ou executor, de modo que mo um continllum capaz de ser
êste proceda de certa maneira, e visualiz;l do da maneira seguinte:
o
.2 '8. o
~
li
o
~
o
B- ~ .2
:;;
o
~
!
o
'!lo
o

~ -"; 1; = ~ .2
c
(Conirõhl direto o
N e "O
-= confrôle indireto

especificação
III IIII direção
ár~a. de ação planeiada 6raas de ação não planejadas

Aind3. em planejamento, po- mos, uma vez mais, o exemplo da


demos, em geral, depositar consi- concessão de licenças para exercer
derável confiança nos contrôles uma profissão. A rotina implica
indiretos, dada a nossa incapaci- sempre um grau determinado de
dade de especificar, para cada inflexibilidade na busca de solu-
agente, ("m cada situação, um cur- ções. E como o planejamento
so de ação em tôdas as suas mi- quase sempre trata de situações
núcias. Isso é verdadeiro especial- novas, difíceis de transformar em
mente no caso de a ação em vista rotina, a flexibilidade e os con-
não ser de natureza rotineira. Por trôles indiretos são geralmente
outro lado, a rotina pode ser re- mais apropriados às ações planeja-
gularizada pela especificação e das, que a rigidez dos contrôles
pelos contrôles diretos. Lembre- diretos.

VI - PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO
A Que é um orçamento? não pa!>sa do equivalente financei-
Podemos dizer que um orçamento ro de um plano de ação. O orça-
26 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ment0 nunca pode ser indepen- 3. O lugar onde será empreen-


dente do plano: é êle o espelho, dido;
a imagem do plano físico, - mos-
tr<:ndo-nos apenas quanto deve ser 4. O tempo requerido para a
gasto rara chegarmos aos objeti- sua execução;
vos que: nós mesmos fixamos. O
on:amenio distribui o dinheiro - 5. A prioridade que deve ter~m
ou, melhor ainda, os recursos - relação a outros proiebs e
às ciiferentts atividades, aos di- atividades.
versos projetos. Porém, como po-
deremos tomar decisões sôbre essa Tal não se consegue senão atra-
clistribuiçãc de verbas se não nos vés de cuidadosa ponderação de
tivermos, de antemão, empenhado cada projeto ou atividade, em re-
no planejamento minucioso da- hção a todos os outros projetos
quelas atividades e projetos? O ou atividades que possam ser lem-
orçamento (ou a orçamentação, brados (em outras palavras, as al-
isto é, o processo que resulta no ternativas disponíveis de que já
orçamento), poderá indicar-nos: falamos), com o fim de avaliar a
contnbuição de cada um para :1
1. Que projetos, que atividades consecução dos objetivos do pla-
deveremos empreender; nejamento.

2. Qual a magnitude dêsses pro- Cada projeto, ou atividade, de-


jetos e atividades; ve ser considerado como um dos
quadrados em que se divide um
3. Onde e quando deverão ser problema de palavras cruzadas:
empreendidos. para que se forme o significado
total do quebra-cabeças, é neces-
Questões como essas somente sário que cada letra esteja no seu
podem ser resolvidas através de lugar arwpriado.
planejamento prévio, o qual já terá
Tomadas as decisões quanto ao
determinado o seguinte:
tipo, escala, lugar, tempo e prio-
1. O tipo do projeto, da ativi. ridade de um projeto, deveremos,
dade; como planejadores, reduzi-lo aos
elementos que o compõem, isto
2• Sua escala; é, aos seus requisitos:
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 27

1. Que quantidade de trabalho tivas de quanto custará a execução


humano será exigida, em têr- da atividade, a construção do pro-
mos de especialidades e ho- jeto. Tais cálculos são feitos tendo
ras de trabalho? em vista certo período de anos e,
no caso da construção de proje-
2. Que quantidade de equipa- tos, deverão incluir, se necessário,
mento será necessária? uma estimativa de custos de ma-
nutenção e operação. Assim, um
3. Que quantidade de matc:ril-
Plano Qüinqüenal de Desenvolvi-
-prima terá de ser emprega-
mento deverá ter, como seu ir-
da?
mão gêmeo, um Plano Financeiro
Uma vez calculadas essas ~xi­ QüinqüenJl. O primeiro ano do
gências também em têrmos de Plano Financeiro será aquêle a
tempo, podemos iniciar o traba- respeito do qual contaremos com
lho de atribuir-lhes seus equiva- elcmmtos mais minuciosos, e re-
lentes monetários, isto é, estima- ceberá o nome de .orçamento anual.
I----plano quinquenal de desenvolvimento ~

orçamento orçamento
vigente proposto

1958

I------plano financeiro quinquenal -----~

VII - A ESTRUTURA INSTITUCIONAL DO


PLANEJAMENTO REGIONAL

A - De que maneira deveria a respeito: ° concéto da região de


função planejadora ser organiza- °
planejamer to centralizado e (011-
da em ba~es regionais? Há dois cei!:; da região de planlljamento
pontos de vista extremos a êsse desre12lrali:r.ado.
28 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO púBUCA

No primeiro caso, uma única dirigidJ., não deixando de haver,


organização prepara uma planta, porém, grande interêsse e intensa
um projeto detalhado para o de- atividade no nível local. Gràfi-
senvolvimento da região" Nota- camcnte isso De::; apareceria mais
Se grande soma de espeáficaf'1o) ou meno:; aSSIm:
bem como intensa confiança na
Ulilização dos contrôles diretos" O
trabalhv do planejldor é, neste
caso, muito semelhante ao do ar-
quiteto encarregado de planejar
nn:l casa" Cada minúcia é por
êle mesmo delineada" O gráfico
sc:guinte é uma visão aproximada
da sitUàÇão que acabamos de des-
c "eVer:

B - :fi possível, entretanto, en-


contrar um meio-têrmo entre ês-
ses dois extremos" Na realidade,
numa região vasta como é a Ba-
cia Amazônica, o planejamento
bem feito terá de constituir uma
síntese de planejamento centrali-
zado e de planejamento descen-
tralizado" A obra de desenvolvi-
mento de tamanha região é gran-
Já no caso da regIa o de plane- de demais para poder ser executa-
jamento descentralizado, verifica- da com sucesso por uma só orga-
se grande número de organizações, nização " Sendo assim, um dos
públicas e particulares, cujo pla- principais problemas de uma or-
nejamento tem em vista apenas ganização central de planejamen-
seus próprios fins específicos" Não to, na Amazônia, seria o fortale-
há direção geral nem coordenação cimento das instituições e orga-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 29

nizações locais, de maneira que C - À medida que a organi-


cada uma pudesse contribuir com zação central de planejamento vai
o máximo de esfôrço para a con- twnsferindo mais e mais funções
secução dos objetivos gerais. p.ua as organizações locais, per-
Entre as referidas organizações mitindo-lhes tomar parte oda vez
locais, podemos incluir as seguin- mais ativa 110 processo de tomada
tes: de decisões, haverá, naturalmen-
te, perigo cada vez maior de que
a) cooperativas de consumo, de os ob j eti vos locais e certos inte-
crédito e de produção; resses especiais venham a suplan-
b) municípios; tar os objetivos gerais da or-
c) governos e administrações es- g"-nização regional. Os objetivos
taduais; regi,.. nais seriam pouco a pouco
bancos; substituídos por objetivos locais,
d)
o que viria subverter os fins mes-
e) instituições educacionais. rr.os para os quais a organização
(é·ntrd de planejamento teria sido
Há muitas maneiras de fortile- estabelecida. t o que se tem cha-
(er essas instituições, entre as mado "processo de coopção".
quais:
D - Para sobrepujar essa di-
1. Assistência técnica; ficuldade, a organização centrJI
de planejamento deve exercer as
2. Treinamento de pessoal; funções a seguir indicadas, por
tanto tempo quanto estiver a seu
3. Crédito; cargo a responsabilidade de de-
senvolver e melhorar as condições
4. Auxílios Financeiros;
de vida da região como um todo:
5. Orientação quanto a proble-
1. Phnejamento geral para a
mas de planejamento ou no-
região;
vos programas de ação, atra-
vés de arranjos contratuais 2. Revisão dos planos locais e
com a organização central de coordenação dos mesmos com
planejamento; os planos regionais;
6. Assistência no campo da re- 3. Contrôle dos programas de
org:nização administrativa. ação através de arranjos con-
30 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

tratuais, contrôle orçamentá- que devem ser transmitidos


rio, inspeções, etc. às instituições e organizações
locais;
4. Aferição dos resultados da
ação; 6. Freqüente consulta mútua sô-
5. Pesquisa regional e dissemi- bre problemas de interêsse
nação dos dados colhidos, geral.
SEGUNDA PARTE

CONCEITO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO


ECONOMICO
VIII - TIPOS DE REGIÃO

A - Quando falamos em pla- nejamento. Não se pode falar nu-


nejamento regional, geralmente ma região melbor, nem numa me-
associamos essa idéia ao desenvol- lhor definição de certa região.
vimento econômico de uma área Desde, porém, que tenhamos em
menor que o país, porém maior vista um propósito especial, será
que um município. Além disso, possível escolher aquela área exa-
entretanto, temos apenas uma va- ta que melhor servirá a nossos
ga noção do que queremos dizer fim. O que é apenas uma outra
com a palavra "região", e isso maneira de dizer que os limites
porque tal conceito é dos mais regionais não existem de fato,
flexíveis, podendo corresponder a sendo simplesmente impostos a
grande variedade de significações. uma área qualquer, podendo ser
Assim, nossa definição de "re- modificados à vontade. Nada há
gião" terá de ser extremamente de sagrado, de intocável, na ques-
geral: podemos dizer que uma tão da delimitação regional, e útil
região é uma área delimitada de será ter sempre em mente que os
acôrdo com certos critérios; tere- limites regionais podem ser mo-
mos regiões diferentes, segundo os dificados de tempos em tempos,
critérios que decidirmos utilizar. à medida que se forem definindo
A definição acima é evidente- finalidades e circunstâncias diver-
mente ,empírica, pois dá relêvo à sas.
utilidade dos critérios usados ou
aos objetivos que desejamos alcan- B - Há dois tipos gerais de
çar com nossa definição de região. critérios comumente usados na
Teremos tipos diferentes de re- análise regional. Chamá-Ios-emos
gião para as diversas categorias de critérios de homogeneiddde e cri-
pesquisa e análise, e ainda outros térios de illterdção. Um] região
tipos para a administração e o pla- homogênea é selecionada na base

4 - Cad. Adm. Pública - )1


34 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PlJBLICA

d2. unid:lde de uma ou diversas do que na de outro. Assim tere-


de suas características: unid:lde de mos regiões baseadas em cidades,
clim~, vegetação, topogr:lfia, so- delimitando-se sua área de acôrdo
los, hidrografia, tipo de agricul- com o fluxo das atividades que
tura (cultivo predominante ou convergem sôbre essa cidade.
área típica de lavoura), cultura, Tais fluxos podem incluir: mer-
etc. . . . Alguns investigadores têm cadorias e serviços, tráfego, habi-
p10curado delimitar as regiões pe- tantes dos subúrbios ou do cam-
h uso simultâneo de um grande po que trabalhem na cidade, co-
número de indicações do tipo das mércio a grosso e a retalho, in-
acima indicad:ls. Embora, nl ver- vestimento de capitais, etc.
d:lde, muitas características de Passemos em vista, ràpidamen-
uma mesma região se apresentem te, alguns tipos de regiões homo.
inter-rebcionadas - por exemplo, gên;eas:
dimJ., vegetação, tipo de lavoura,
cu ltura --- muitas dessas tentati- 1. Ruías hidl'o gráficas - 1!s-
ns falham em conseguir razoá- te tipo de região é dos mais co-
\"t! hJ.rmonia de opiniões sôbre muns. Tornou-se cada vez mais
as linhas exatas por onde deve- difundido desde que a Tennessee
riam passar os limites regionais. Valley Authority (TVA) demons-
V;:rificou-se, via de regra, que as trou a conveniência de aprovei-
diferenças dentro de uma região t:lf-Se a região de uma bacia hi-
assim delimitada eram tão gran- drográfica para o desenvolvimen-
d2s, senão maiores, quanto aque- to de seus recursos naturais. O
las encontradas de região pafl elemento de unificação da bacia
região. hidrográfica é um rio com seus
Por outro lado, delimitam-se as tributários. 1!sse conceito encerra,
regiões de inte,ração na base da entretanto, certa ambigüidade, pois
ação recíproca das atividades SQ- o rio em questão pode ser tanto
ciais e econômicas. Ilste critério uma gigantesca correnteza conti-
reconhece o fato de que as ativi- nental, como é o Amazonas, ou
dades sociais e econômicas se um pequeno rio, afluente de ou-
orientam rumo a centros de ativi- h·o maior. Quando, contudo, é
dades (cidades) e que algumas considerada como base para o de-
áreas são orientadas de modo mais se:nvolvimento de recursos, conce-
intenso na direção de um centro be-se uma bacia hidrográfica co-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 35

mo sendo de proporções relativa- novas dificuldades surgiram do


mente grandes. E óbvia a razão fato de que a área maior com-
por que se escolhem bacias hidro- preendia várias regiões de intera-
gráficas como regiões para pla- ção, as quais, por sua vez, ofere-
nejamento: basta imaginar a im- ciam, cada uma, vantagens espe-
portância da água no desenvolvi- ciais de localização tanto para as
mento de uma área (irrigação, indústrias como para outras ati-
contrôle de enchentes, navegação, VIdades comerciais. E isso veio
energia elétrica, utilização domés- tornar duvidosa a asserção de que
tica, comercial e industrial do pró- a própria "área de fornecimento
prio líquido, recreação, etc.). Por de energia" da TV A seria a me-
outro lado, em qualquer área, há lhor região para desenvolvimento
muitos problemas sociais e eco- econômico, havendo quem prefe-
nômicos que não podem ser re- risse uma distribuição territorial
solvidos apenas através do con- baseada em outros critérios.
trôle de um rio para utilização
por parte do homem. Nesse ca- 2.Regiões baseadas no s,olo,
so, devemos procurar outra base l1a vegetação, 11,0 clima .- São con-
para a delimitação regional. Il ceitos freqüentemente utilizados
o que aconteceu com a TV A, pa- pelos geógrafos e físicos, com o
ra dar apenas um exemplo: a fim de organizar seus dados bá-
energia elétrica produzida na re- sicos e facilitar a análise. Somen-
gião da bacia do Tennessee teve te têm importância para o plane-
de ser vendida em tôda uma área jador quando contribuem para o
duas vêzes maior que a própria conhecimento que êle deve ter do
bacia. Essa área foi chamada "área mundo físico no qual seus planos
de fornecimento de energia", e deverão ser executados, e enquan-
veio a ser muito mais importante to lhe puderem sugerir certas in-
do que a bacia, em têrmos de de- tercorrências que, de outro modo,
senvolvimento econômico. Foi es- perm.1ncceriJm ()bscura~. A deli-
sa área maior que a indústria mitação da Região Amazônica cons·
considerou mais apropriada para titui um exemplo de região deter-
sua localização; foi ela que se tor- minada na base de clima, vegeta-
nou econômicamente útil, como ção, condições de solo e hidrogra-
resultado da energia elétrica de fia homogêneos. Se êsse critério
baixo preço. Ao mesmo, temro, ~ Q melhor para a seleção de uma
36 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

região a planejar -- eis uma ques- região; e que, se os planejadores


tão que teremos de deixar para pretendem obter o apoio do povo
outro capítulo. para o qual trabalham, devem pla-
nejar tendo em vista as áreas que
3. Regiões culturais --- Este se distinguem peh homogeneida-
conceito de região é o preferido de de suas características cultu-
pelos sociólogos. Estêve muito em rais e onde são mais fortes os
voga nos Estados Unidos, na dé- sentimentos regionalistas. Na ver-
cada de 1930, e na Europa, mui- dade, os sociólogos (e com êles,
to antes disso, especialmente na talvez, os antropólogos) gosta-
Fr:wça e na Alemanha. Hoje se riam que um plano fôsse uma ex-
encontra, no Brasil, na vanguarda pressão da cultura regional, um
do pensamento político e socio- produto regional no mesmo sen-
lógico. O Brasil, já o disse certo tido que a arte, a literatura, os
escritor, é um arquipélago de cul- costumes populares e o folclore
turas regionais. A existência de regionais.
orgmizações regionais, como a Creio ser êsse um ponto de vis-
SPVEA e o Banco do Nordeste, ta bem interessante, e de grande
é talvez, a consagração dessa valor, enquanto as culturas regio-
verdade. As culturas regionais se nais permanecerem como entida-
desenvolvem nos países entre cujas des mais ou menos distintas. Con-
regiões há deficiência de comu- tudo, é fato reconhecido que, à
nicações e nos quais cada "região" medida que se processa o desen-
se d::'senvolveu de modo mais ou volvimento econômico, melhoram
menos indepcnd;::nt: das demais, as comunicações entre as regiões
reJlizando suas próprias adapta- e progride a urbanização, as di-
ções especiais a um meio físico ferenciações culturais se vão tor-
especial. É por isso que os soció- nando cada vez menores, acabando
logos afirmam serem as regiões por desap3fecer. Os padrões de
culturais aquelas que melhor se uma civilização mundial, pene-
adaptam aos fins do planejamen- trando os processos paralelos d~
to. Justificam tal assertiva dizen- urbanização e industrialização, são
do que os phnos devem adaptar- verdadeiros destruidores das cul-
se aos gostos, valores e costumes turas regionais. As áreas mais de-
do povo; que êsses gostos, valores senvolvidas do mundo são rela-
e costumes diferem de região para tivamente parecidas, sentindo-se
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 37

um habitante de Nova Iorque ou pIo, tem apenas uma área muito


Chicago mais à vontade no Rio, pequena capaz de ser identifica-
São Paulo, Paris ou Londres, do da, com certa exatidão, como sen-
que um carioca em Belém do do a região urbana de Belém. Em
Pará. Naturalmente, hão de per- São Paulo a situação poderá ser
manecer algumas distinções cul- diferente. Algumas vêzes, muni-
turais; serão, entretanto, demasia- cí pio e região urball1 coincidem.
do fracas para poderem servir de Noutros casos, a região urbana po-
base à delimitação regional. derá ser maior ou menor que o
Vejamos agora as regiões de município. Como se vê, em se
interação. tratando de regiões urbanas, o
principal não são as fronteiras po-
1. Regiões Urbanas -- Uma líticas e sim a interação das ati-
região urbana compreende uma ci- vidades SOCIaIS e econômicas.
dade, mais aquelas áreas circun- E tais atividades, evidentemente,
vizinhas que se apresentam em pouco respeito demonstram pelas
estreita relação social e econômi- fronteiras políticas.
ca com o "coração urbano" da re-
gião. A região urbana, aliás, não 2. Regiões de Interdependên-
passa de uma extensão da cidade cia - Para além dos limites da
propriamente dita: poderá incluir região urbana, as relações do povo
áreas construídas (subúrbios e "co- com a cidade central se vão tor-
munidades satélites"), bem como nando claramente mais "fracas"
áreas predominantemente rurais. e menos freqüentes. Outrossim,
Porém sua principal característica mostram ser de outra natureza, à
é o fato de que a economia da medida que certos fluxos são eli-
área que circunda a cidade é sem- minados e outros ganham impor-
pre estreitamente ligada à da pró- tância. Algumas vêzes, a região
pria cidade. Essa profunda inte- de interdependência coincide com
ração de atividades, característica a área onde se processam as tro-
de uma região urbana, pode ser cas do comércio atacadista da ci-
aferida de diversas maneiras. En- dade; outras vêzes, pode tratar-se
tretanto, no Brasil, as regiões ur- da área de onde provêm as mer-
banas talvez sejam mais difíceis cadorias de maior volume, tais
de definir do que em outras par- como borracha, trigo ou gado,
tes do mundo. Belém, por exem- mercadorias essas que são levadas
38 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

à cidade central para venda, be- teiras regionais são traçadls, tendo
neficiamento e distribuição. Pode em vista as origens dos fluxos de
dar-se o caso de haver uma área influência social ou econômica
diferente pna cada mercadoria e exercidos ou sofridos pela cidade
para cada serviço regional. Há, central. A êsse respeito, será im-
porém, exemplos em que essas portante indicar que as cidades
áreas se apresentam coincidentes, e regiões urbanas se nos apresen-
podendo-se, entretanto, traçar uma tam como que em ordem hierár-
linha divisória bastante aproxima- quica, as cidades maiores "domi-
da, representando, em média, os nando" as menores, por prestarem
limites entre as diversas áreas on- um número maior de serviços a
de se prestam os serviços e se pro-
uma área mais ampla. É por isso
cessam os movimentos de merca-
que, na análise regional, procura-
doria. À medida que nos afas-
mos localizar, em primeiro lugar,
tamos da cidade central, as rela-
ções sociais e comerciais entre as a capital regional e, depois, as
áreas por nós atingidas e a refe- cidades subsidiárias, com suas
rida cidade se tornam progressi- "áreas tributárias". Dessa manei-
vamente mais fracas, enquanto já ra, poderemos levantar todo um
se vai sentindo a influência de sistema de regiões inter-relaciona-
uma outra cidade. A divisa re- das, cada uma dominada por uma
gional entre as áreas de influência capital - não se devendo esque-
de duas cidades contíguas é tra- cer o fato de que nem sempre
çada de maneira idêntica à que é a capital política de uma re-
delimita as bacias hidrográficas: gião a sua capital social e eco-
nestas os limites remontam às nas- nômica, embora, pelo menos no
centes dos tributários do rio prin- Brasil, as duas geralmente coin-
cipal; no caso em tela, as fron- cidam.

IX - CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO

A - Qualquer definição, por prio das definições. A questão


mais simples que seja, apresenta - Que é desenvolvimento econô-
sempre o caráter enganoso pró- mico? - aparentemente das mais
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 39

simples, parecer-nos-á pràticamen- para substituí-los. Por vêzes, um


te irrespondível, depois de a exa- adjetivo ainda mais inócuo é usa-
minarmos atentamente. Com cer- do, como, por exemplo, "menos
teza pensará o leitor: ora, todo desenvolvido" .
mundo sabe o que é desenvolvi- Poderíamos dizer, por exem-
mento econômico; não é o que se plo, que, de c:rto modo, são os
está fazendo na própria Região Estados Unidos uma das maiores
Amazônica? Pergunto eu: e a que áreJS subdesenvolvidas do mundo
resultados se está procurando chc- de hoje. De acôrdo com certos
gar na Amazônia? Atingidos os cálculos, pode aquêle país susten-
objetivos da Valorização da Ama- tar uma população total de seis-
zônia, poder-se-á considerar alcan- centos milhões de habitantes (em
çado o desenvolvimento econômi- vez dos cento e sessenta e cinco
co? De que maneira concluir que com que conta, presentemente) ,
estamos progredindo nessa dire- num nível de vida apenas ligeira-
ção? mente inferior àquele mantido pe-
últimamente, está muito em la maioria dos americanos de nos-
moda falar nas áreas "subdesen- sos dias. Se isso é verdade, então
volvidas" do mundo, incluindo-se os Estados Unidos ainda estão
entre elas dois terços da popula- bem longe de constituir uma eco-
ção mundial. Não há muito, usa- nomia completamente desenvol-
vam-se outras palavras para des- vida.
crever a economia dessas áreas: São infinitas as dificuldades de
"atrasada", "primitiva", etc. Pa- nossa terminologia. Por exemplo,
reciam bastante claros, nessa épo- que quer dizer, precisamente,
ca, os padrões que se usavam pa- "subdesenvolvido"? A bem dizer,
ra a avaliação de certo tipo de uma cultura representa um todo
economia. Economia "civilizada" dc tal modo uniforme que se
seria, por exemplo, a da Europa transformarmos um só de seus
Ocidental, a dos Estados Unidos, elementos essenciais, todo o resto
talvez a da Nova Zelândia. Com será alterado. E sabemos, contu-
~ fundação, porém, das Nações do, que muitos países e regiões
Unidas, em 1945, têrmos como do mundo que consideramos sub-
"civilizado" e "primitivo" tiveram desenvolvidos chegaram a um
de sair do uso corrente, cunhan- alto grau de perfeição em muitas
do-se a palavra "subdesenvolvido" formas de cultura, tais como a
40 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

dança, a arquitetura, a poesia, a a idéia de melhoramento. Porém


filosofia, o teatro, a música, a surge outra questão: melhoramen-
pintura, o comportamento social, to em quê? A maioria dos eco-
a religião. Muitas vêzes, a maes- nomistas responderá: melhoramen-
tria atingida em uma ou várias to no bem-estar econômico do in-
dessas formas é não só igual como víduo ou da família. Surge aí
f reqüentemente superior ao que outra dificuldade. Que é "bem-
foi conseguido no Ocidente. Nesse estar"? Quanto a mim, sei muito
caso, como falar em subdesenvol- bem quando eu "estou bem".
vimento? E, no entanto, bastará Mas como posso saber, quando
a introdução da técnica moderna você está feliz da vida? E que
em uma dessas velhas culturas pa- dlzer do indivíduo que, sem pos-
ra destruir as formas antigas. suir um tostão, se sente perfei-
Não deixa de ser estranho que tamente satisfeito?
uma e outra coisa dificilmente Por felicidade, muitos dentre
possam coexistir, de tal modo que os chamados "especialistas em as-
a industrialização, em geral, acaba suntos internacionais" se têm pre-
sendo "ocidentalização". Volt:!- ocupado, há muito tempo, com
mos, então, aos velhos pontos de êsse problema. E embora não se
vista de "primitivo" e "atrasado". mostrem satisfeitos com suas pró-
Se um país escolhe a industriali- prias conclusões, não deixam de
zação, escolhe paralelamente a nos oferecer, por falta de melhor,
"ocidentalização". E, segundo os uma extensa lista de critérios de
padrões ocidentais, será por mui- bem-estar. Assim é que recente
to tempo ainda um país subdesen- publicação das Nações Unidas -
volvido. Relatório sôbre a Definição In-
ternacional e a Aferição de Pa-
B - Para sermos mais especí- drões e Ní'lleis de Vida (1954)
ficos, analisemos, mais de perto, - alista os doze elementos prin-
o significado da expressão "de- cipais do conceito de nível de
senvolvimento econômico". De- vida:
senvolvimento significa mudança.
Ora, isso nada nos diz da direção 1. Saúde, inclusive condições
dessa mudança; mas não há dú- demográficas
vida de que a palavra desenvol-
vimento sugere-nos quase sempre 2. Alimentação e nutrição
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 41

3. Educação, inclusive alfabeti· Na mesma publicação, cada um


zação e especializações téc· dos elementos referidos é sub·
nIcas dividido em indicadores, ou seja,
em padrões de aferição. Vejamos
4. Condições de trabalho apenas um dêles - o da Saúde -
S. Emprêgo e desemprêgo para mostrar que quantidlde de
dldos minuciosos é necessária para
6. Relação entre o que a po· a medição do progresso da ação
pulação despende e econo· planejada. Eis alguns dos indica·
miza (renda) dores das condições de saúde:
7. Transportes
1. Expectativa de vida para o
8. Condições de moradia, In· nascituro (probabilidade de
clusive comodidades domés· anos de vida que o indivíduo
ticas tem ao nascer);
2. Indice da mortalidade infan·
9. Roupa
til (número de mortes, por
10 . Facilidades de recreação ano, em cada grupo de mil
crianças de menos de um
11 . Segurança social ano de idade);
12. liberdades humanas 3. Indice bruto anual de mor·
talidade (número de mortes,
Devo notar que o simples fato por ano, em cada grupo de
de um grupo de pessoas de ori· mil pessoas de tôdas as ida·
gens diversas ter chegado a um des) ;
acôrdo quanto aos elementos aci·
ma já sugere certa estandardiza· 4. Número de leitos hospitala.
ção de valores e aspirações, ou res em relação à população
seja, uma redução das diferentes total;
culturas a um denominador co· S. Número de médicos em ati·
mum. Incluem·se, assim, desde vidade, em relação à popula·
logo, padrões de desenvolvimen· ção.
to. E, em quase todos os casos,
é evidente que o padrão foi tira· C - Entretanto, é próprio da
do da experiência ocidental. mente humana buscar sempre a
42 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÜBLIC:\

simplicidade. Temos, assim, pro- Tanto a inflação como o eventual


curado, além dessas dúzias e dú- aumento de população poderiam
zias de critérios isolados de mc- anular o crescimento, aparente ou
dição de bem-estar, utilizar um real, da renda total.
único método complexo de medi- 2. Renda per capita ou ren-
ção, para indicar o ritmo do pro- da por família - Esta medição
gresso que se está conseguindo elimina uma das dificuldades que
rumo aos objetivos do desenvol- encontramos na análise da ante-
vimento econômico. Os especia- rior, pois divide a população to-
listas têm desesperado de encon- tal pela renda total, (renda per
trar tal critério de aferição, sendo c,apita), ou, no caso da renda por
conveniente, portanto, conservar família, coligindo estatísticas atua-
certa quantidade de saudável ce- lizadas sôbre a renda das famílias
ticismo, enquc nto se procura uma e calculando a médil dêsses da-
solução simples. Mesmo assim, dos. Entretanto, a segunda me-
grande número de tais critérios dição não anula a dificuldade que
tem sido sugerido, alguns de acei- encontramos quanto à capacidade
tação mais ou menos generaliza- de aquisição, nem nos fornece
da, hoje em dia. Nenhum dêles, idéia alguma de como a renda é
entretanto, dispensa qualquer dos di~trjbuída pelos habitantes, isto
demais. Vej amos: é, em última análise, quantos ha-
bitantes são ricos e quantos são
1 . Renda total, regional ou na- pobres.
cional - Trata-se dl medição de 3. Renda real per capita -
tudo que foi produzido pela re- :esse conhecido tipo de medição
gião ou pelo país, durante deter- consegue realizar o ajuste defi-
minado período de tempo. Neste nitivo das transformações da ca-
caso, o desenvolvimento econômico pacidade aquisitiva, porém, quan-
seria simplesmente o crescimento do se tem em vista longos perío-
da renda total, regional ou nacio- dos de tempo, êle perde conside-
nal. Isto nada nos diria sôbre, ràvelmente seu valor estatístico.
1) a capacidade aquisitiva do di- Como se vê, são das mais sé-
nheiro no princípio e no fim do rias as dificuldades apresentadas
período medido, nem sôbre 2) a por êsses métodos de aferição.
distribuição da renda entre os Cada qml mostra vantagens e des-
habitantes da região ou do país. vantagens, e o melhor que pode-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 43

mos fazer é utilizar uma combi- mília, conseguiremos, pelo menos,


nação dos mesmos. E por isso r·elaci01M,r a população com os re-
que, em minha opinião, o méto- cursos. Nas regiões onde os re-
do que mais se aproxima do índi- cursos são insuficientes para sus-
ce real do bem-estar econômico tentar grande população, o desen-
é o da renda real por família, volvimento econômico, de acôrdo
isto é, a renda por família adap- com nosso critério de renda, jus-
tada às flutuações do custo de tificaria apenas uma população pe-
vida. Esse método não deixa, con- quena. E o caso, em minha opi-
tudo, de apresentar suas dificul- nião pessoal, dJ. Bacia Amazônica.
dades, que decorrem, em parte, Essa região não poderá sustentar,
dos diferentes conceitos de famí- dentro de um futuro previsível,
lia entre as áreas rurais e urbanas, populações da densidade das da
diferenças no tamanho das famí- India, da China, do Japão, da
lias, e assim por diante. Além Indonésia, da Bélgica, da Holan-
disso, não nos indica quantos da, da Alemanha, da França, da
membros da família contribuíram Inglaterra, etc., proporcionando,
para a renda desta, se outros pa- ao mesmo tempo, a essa popu-
drões estão sendo atingidos (edu- lação, um razoável padrão de vi-
cação infantil, por exemplo), e da. Trata-se, contudo, de um pro-
que proporção da renda real total blema que teremos de deixar para
da família decorreu do consumo discussão posterior.
doméstico de produtos alimenta- Por enquanto, fiquemos nesta
res, isto é, dos alimentos produ- r,dvertência: tôda essa discussão
zidos inteiramente para consumo do coné.eito de desenvolvimento
da própria família, e não para econômico só tem sentido DESDE
venda nos mercados. QUE ESTEJAMOS DE POSSE
Se, todavia, quisermos fazer DOS DADOS ESTATISTICOS
uso de métodos como o da renda NECESSARIOS Ã AFERIÇÃO
per capita ou o da renda por fa- DO DESENVOLVIMENTO.

x - CONDIÇõES SOCIAIS DO PROGRESSO


ECONôMICO
A -- Quando falamos em de- remos referir-nos a um processo
desenvolvimento econômico, que- contínuo que atinge a experiência
44 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO Pt1BLICA

de vida de uma comunidade em dizer simplesmente que o am-


tôdas as suas fases. Um projeto biell/J total no qual age um in-
isolado não representa, por si só, divíduo tem de ser favorável ao
desenvolvimento econômico; e sà- desenvolvimento econômico, para
mente contribuirá para êsse fim se que o planejamento regional pos-
conseguir provocar uma "eação Ji- sa atingir seus objetivos. O pro-
multâne,. de atividades, que au- blema do planejador é montar o
mente a produtividade e mante- p.dco para que os atores possam
nha em alto nível não só os in- n:presentar seus papéis.
vestimentos de capital como o Baixo nível de vida e econo-
progresso tecnológico da comu- mia regional estagnada indicam,
nidade. Assim, uma usina de ener- geralmente, a ausência dessas con-
gia elétrica contribuirá para o de- dições especialmente favoráveis ao
senvolvimento econômico se es- desenvolvimento econômico. Nas
timular a produção industrial lo- regiões em que isso ocorre, esta-
cal. O govêrno não pode, sàzi- beleceu-se um modlls vivendi de
nho, em regimes como o nosso, modo algum propício à rápida
alcançar o desenvolvimento eco- transformação social e econômi-
nômico, mas pode lançar-lhe as ca . Isso é, porém, uma visão
bases e estimular a iniciativa pri- negativa do fenômeno cultural;
vada. permanece de pé o fato de que
Em última análise, o desenvol- os antigos sistemas de vida são
vimento econômico depende do geralmente mantidos em alto
que os interessados decidem fa- aprêço pela comunidade. Os an-
zer, de seus valores pessoais e tigos sentiram-se bem com êles,
das possibilidades que descorti- e o mesmo parece acontecer com
nam. É necessário que êsses inte- a geração atual. Abandonar ês-
ressados possuam: vontade de agir, ses velhos sistemas significa não
incentivos para agir, capaciddd e sàmente destruir a ordem social
de agir e recursos para agir de tradicional - com suas liberdades
maneira econômicamente produti- c seus tabus, sua hierarquia so-
va. Vontade, incentivos, capaci- cial, de posições e liderança está-
dade e recursos são elementos que veis, sua ordem, e a segurança in-
compreendem boa parte da vida trínseca que proporciona ao indi-
de um indivíduo, de uma famí- víduo - significa substituí-la por
lia, de uma comunidade. Quero algo ainda não comprovado, qual-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 45

quer coisa de arriscado e, quem curando verificar onde estão sen-


sabe, um tanto desumano. do aproveitadas com sucesso as
A transformação básica que ge- condições para o desenvolvimento
ralmente acompanha o desenvol- econômico e onde isso não está
vimento econômico não passa da acontecendo. Os títulos seguintes
mudança de uma civilizaçção pre- poderão resumir as condições so-
dominantemente rural para uma ciais e econômicas do progresso
civilização predominantemente u/"- econômico: motivação, ed!lC<bção,
bdn1, com tudo que isso implica: saúde, mobilidade soci<tl, mobi-
padrões objetivos e impessoais, ao lidade geog/"áfic,;t., propriedade e
invés da preferência pessoal; rela- administração.
ções superficiais e exteriores, subs- Motivação - Relacionam-se as
tituindo profundas amizades; acôr- motivações ao desejo, à vontade
dos contratuais baseados na efi- popular de agir de certas mlnei-
ciência, em vez de um sistema ras. No desenvolvimento econô-
de direitos e obrigações mútuas mico, é preciso que o POYO venha
baseado na amizade e na família. a atribuir alto valor a objetivos
A civilização moderna, com sua e conquistas que, no princípio,
técnica e organização complexas, não gozam de tão alta estima.
é fria, objetiva, impessoal: seu Terão, por exemplo, de expressar
sistema ético é mais social que decisiva preferência pâo pro gres-
familiar. O sistema antigo é ca- [O mltnial. Esse desejo de pro-
seiro, subjetivo, pessoal: seu sis- gredir materialmente deve ser
tema ético é mais familiar que acompanhado de preferência ma-
social. Se desejamos o desenvol- nifesta em prol do esfôrço pro-
vimento econômico, teremos de dutivo, e não do ócio. Terá o
abandonar a ordem antiga pela POYO de redistribuir seu tempo e
nova. suas energias de modo favorável
ao esfôrço produtivo (atividades
B - Consideremos agora, de crio doras de renda) em lugar das
maneira mais minuciosa, as con- c.tividades sociais a que estava ha-
dições prévias do desenvolvimento bituado, como, por exemplo, fre-
econômico. À medida que as for- qLlcntes visitas a amigos e paren-
mos discutindo, poderia o leitor tes, complicados festejos locais,
aquilatar a sitU3ção da Bacia Ama- etc. Essa preferência pelo pro-
zônica e do próprio Brasil, pro- g\ c;so material tem de ser se-
46 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

cundada por um sistema de re- é baixa demais, ou onde as ne-


compensas. O que as pessoas de- cessidades de capital excedem de
sejam acima de tudo é o reco- muito a capacidade dos indivíduos
nhecimento social, o prestígio ou instituições privadas - nessas
social. 11 preciso tornar mais fácil comunidades, o govêrno talvez
a obtenção dêsse prestígio através tenha de desempenhar o papel
do duro labor e do sucesso finan- de empreendedor, criando, por
ceiro do que, por exemplo, por sua própria intervenção, as bases
meio das ligações de família ou onde possa atuar, no futuro, a
de uma aparência de alto padrão iniciativa privada.
de vida. E tais recompensas ne- Educação - Sàmente um povo
cessitam ser colocadas ao alcance educado é capaz de conquistar
do indivíduo: é preciso que êle progresso material. Um relatório
tenha não só a capacidade como das Nações Unidas assim expõe
também a oportunidade de alcan- a questão: "O progresso econô-
çá-Ias. A finalidade de algumas mico não poderá ser desejado por
das outras condições de progresso uma comunidade cujos habitantes
econômico é exatamente propor- não se dão conta nem da simples
cionar ao indivíduo essa oportu- possibilidade de progresso. O pro-
nidade. gresso sàmente ocorre onde o povo
Deverá haver, além disso, em acredita poder o homem dominar
tôda comunidade, um número su- a natureza, através de um esfôrço
ficiente de emPreendedores dis- consciente. É uma lição que o es-
postos a arrisca~ seu capital, tal- pírito humano tem levado mUlto
vez mesmo sua reputação, em tempo para aprender . Onde ela
aventuras promissoras. São os em- foi aprendida, os sêres humanos
preendedores, os inovadores de assumem uma atitude experimen-
suas comunidades: são os que tal em referência às técnicas ma-
proporcionam ao resto da popu- teriais, às instituições sociais, etc.
lação a oportunidade de livrar-se Essa atitude experimental, ou cien-
do torpor da pobreza. Nas co- tífica, é um dos requisitos do
munidades em que há falta de progresso. Haverá maior progres-
tais empreendedores, onde os ris- so nos países onde a educação é
cos talvez sejam demasiado ele- largamente disseminada e encoraja
vados, onde a possibilidade de re- a visão científica da vida". Que
compensas financeiras ou sociais tipo de educação melhor se adapta
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 47

ao progresso econômico, é ques- um indivíduo pode subir ou cair,


tão ainda muito controversa. E, fácil e ràpidamente, no conceito
contudo, evidente que a grande social dos que o cercam. Esta-
massa da população deveria ter mos habituados com uma socie-
acesso ao treinamento nas diver- dade constituída de três classes
sas especialidades práticas que sociús principais: baixa, média,
mnstituem a base de uma civili- e alta. Trata-se de uma simplifi-
;:ação tecnológica. clção extrema daquilo que o.S so-
ciólogos chamam "a ciência da
Saúde - Uma raça fraca, uma estratificação social", mas, ainda
raça moribunda, não pode pro- assim, essa breve classificação ser-
duzir: suas energias são desper- virá aos nossos propósitos atuais.
diçadas no combate à doença e Assim sendo, digamos que a mo-
à morte. Expectativa de vida cur- bilidade social refere-se à possi-
ta, alto índice de mortalidade in- bilidade de um indivíduo das clas-
fantil, elevada incidência de doen- ses baixas erguer-se ao nível das
ças que minam a fôrça do homem classes altas através de seus pró-
(disenteria amebiana, verminose, prios esforços, concomitantemente
maláril, tuberculose, subnutrição) com a possibilidade de decair o
destroem não apenas os estímulos indivíduo de sua posição social.
que estusiasmam o homem pelo Ê o que ilustra o seguinte dIa-
trabalho, como sua própria capa- grama:
cidade de trabalhar. Fazem-no classes!

fraco e apático. Um povo saudá-


vel, forte, robusto, contando ao
nascer com a expectativa de uma
vida longa - eis uma das prin-
cipais garantias do desenvolvi-
mento econômico.

Mobilidad.e social - A expres- Nem tôdas as sociedades gozam


são indica o movimento ascen- dêsse sistema de "classes abertas" .
dente e descendente dos indiví- E nessas sociedades, nas quais a
duos na escah do prestígio e da oportunidade de progresso social
posição sociais. Um alto grau de lhe são vedadas, o indivíduo pode
mobilidade social signific3. que bem chegar à conclusão de que
48 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

não vZlle a pena trabalhar mais populações gostariam de transpor-


que o estritamente necessário. Re- tar-se, temor de insegurança num
sumindo: o grau de mobilidade ambiente novo, falta de especiali-
social exerce o papel de verda- zações técnicas que permitam o
deiro incentivo à produção. aproveitamento de oportunidades
de emprêgo, e assim por diante.
111obilid"de geográfica - Re- Não é verdade que as cidades
fere-se esta ao movimento das apresentem tõdas as vantagens,
populações do interior para a ci- em contraste com o interior. A
dJde, de uma cidade para outra. popu1Jção de Belém do Pará, por
de uma área rural para outra área exemplo, apresenta nível nutri-
rural, da cidade para o interior. cional inferior ao de muitos dos
Tais migrações têm lugar entre pobres caboclos que vivem às mar-
áreas de oportunidades econômicas gens do rio Amazonas. E decerto
desiguais. Registra-se constante- será sempre uma questão de opi-
mente um deslocamento de habi- nião achar que os favelados do
tantes de áreas mais pobres para Rio se encontram em melhores
áreas mais ricas, de áreas de pouca condições que seu parentes que
oportunidade aparente para áreas permaneceram nas fazendas. No
que pJrecem apresentar maiores entanto, muito pode fazer o go-
vantagens potenciais. O resultado vêrno no sentido de encorajar as
de tais migrações é uma eficiência migrações internas, em todo o
n;aior na produção nacional: se país, incluindo: fornecimento de
as populações se mudam para informações e de assistência fi-
onde são maiores as recompensas nanceira, melhora das condições
econômicas, numentará, correlati- de mOfJdia, prestação de serviços
vamente, a produtividade de tôda sociais nos centros de oportuni-
a região, ou de tôda a nação. dades econômicas, treinamento téc-
Muitos obstáculos, todavia, podem nico para novos empregos, etc.
surgir contra o livre movimento
da mão-de-obra de um lugar para Propried,ade - Uma das con-
outro, à procura de oportunidades dições essenciais do progresso eco-
econômiC3s: falta de informações, nômico é que a propriedade, in-
falta de recursos financeiros, con- dividual ou coletiva, pelo menos
dições de vida miseráveis no lu- nos países democráticos, seja se-
ga r para o qual, normalmente, as gura, de fato e de direito, e que
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 49

os individuos possam gozar com- sentido de responsabilidade social:


pletamente o fruto de seu traba- o bem-estar do povo em geral
lho. Assim sendo, os locatários é sua constante preocupação, e não
não devem ser sobrecarregados de o bem-estar dêste ou daquele in-
alugueres indevidamente eleva- dividuo - amigo ou parente do
dos, não se deixando de descontar burocrata. A administração só
do aluguel, em parcelas ou não, funciona quando o pode fazer de
a importância correspondente aos modo impessoal, dando tratamen-
melhoramentos permanentes que to igual a todos que nela confiam,
o inquilino criar na propriedade. não Importando sua posição so-
Os impostos, sejam quais forem cial ou os laços de amizade ou
as suas fontes, não devem ser ex- parentescI) que possam ter com
cessivos . Não se pode esquecer os administrados. A administração
que as pessoas trabalham, em pri- personalista, desprezando a regra
meiro lugar, para si mesmas e "todos são iguais perante a lei",
para suas famílias. A não ser não é administração: é corrupção.
que esteja seguro de que seus
lucros redundarão em benefício Os planejadores e administra-
próprio e de sua família, não se dores devem viver de acôrdo com
pode esperar grande esfôrço da um código de ética profissional
parte do indivíduo no sentido de que empreste ênfase especial à
aumentar êsses lucros. honestidade, à eficiência e à in-
formação ao povo como responsa-
Administração - O planeja-
bilidades primordiais. É o código
mento e a administração apresen-
profissional que orienta aquêles
tam-se, em geral, sob a forma de
que não apenas são "funcionários"
uma burocracia demasiado com-
plexa. O sucesso dos programas públicos, porém "servidores" pú-
de desenvolvimento regional de- blicos, isto é, aquêles que servem
penderá do funcionamento dessa ao povo. Trata-se de pessoas cujos
burocraciJ., sobretudo quando ela principais deveres são de caráter
tiver de enfrentar problemas di- público: trabalham para o inte-
fíceis e insólitos. rêsse g,eral e não para o interêsse
especial, exercendo suas atividades
A principal característica de de maneira aberta ao conhecimen-
uma boa burocracia é seu alto to e às críticas do povo.

~ - CaJ. Adm. Pública - jl


50 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

XI - A CIDADE E A REGIÃO NO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

A - Embora de maneira não e da pecuária; o terceiro, pela


muito nítida, podemos distinguir, predominâncil da extração de pro-
na Bacia Amazônica, três tipos dutos florestais. Se tomarmos co-
básicos de economia: o urbano, mo medida o número de traba-
o rural e o extrativista. O primei- lhadores empregados em cada uma
ro caracteriza-se pela predominân- dessas ocupações, obteremos o se-
cia de atividades de intercâmbio, guinte gráfico das características
manufatura e comércio; o segundo, principais dos três tipos de eco-
pela predominância da agricultura nomia, a que aludimos:
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ÁREAS DE PRODUÇÃO
ÁREAS URBANAS ÁREAS EXTRATIVISTAS
AGRíCOLA

LOCALIZAÇÃO centro poriferia "hinterlond~"

DENSIDADE DE
alia média baixa
POPUlAÇ.'i.O

AMIlIENIE a<lifldol modificado nalural

B - Ê'ises três tipos básicos terminada área e ligam-se uns aos


de economi:~ ocupam, cada um, de- outros pelas diversas modalidades
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 51

de transportes e comunicações, As mais úteis para o planejamento,


áreas predominantemente agríco- C - Por enquanto, contudo,
las tendem a ligar-se estreitamente deixemos de lado as distâncias e
às cidades; as áreas predominante- examinemos, ainda que por alto,
mente extrativas se estendem so- os tipos de influências que reú-
bretudo ao longo dos rios princi- nem as economias rurais à cidade
pais, ficando a vários dias de dis- e que juntam uma cidade a ou-
tância das cidldes, via fluvial, tra,
Aliás, pau que possamos bem
comprcend;::r a economia regional, 1, D:s áreas ruraIS sôbre a
é necessário possuirmos uma no- cidade:
ção, a m"is exata possível, das dis-
tâncias na região, A distância po- a) produção agrícola e pecuana;
de ser mccdida de várias maneiras: b) indústria extrativa florestal e
por quilômetros, pelo tempo ne- matérias-primas;
cessário à viagem entre dois pon- c) mão-de-obra em migração,
tos cluaisgucr, p:lo custo dessa
vi:lgem, AIgumo.s vêzes, o tipo 2, DJ. cidade sôbre as áreas
de transporte, seja por terra, mar rurai~ :
ou ar, constitu.i import:mte aspec-
to paralelo a uma definição de: a) mcrcJ.dori:ts de consumo ma-
distâ,Ki1, Assim, muitas comu- nufaturadas, como, por exem-
nidades do hinterland se encon- plo, roupas, sapatos, fósfo-
tram a apenas algumas horas de ros, etc,
vôo cbs cidades principais, p+-:-:: b) ma<]uinaria e equipamento;
1) as pass2.gcns aéreas são caras c) crédito e capital;
e 2) os 2vióes têm capacidade de d) dados informativos e idéias
carga demasiado limitada, Por- novas;
tanto, p:lfa todos os fins práticos, c) técnicos e especialistas,
a maioria das áreas primitivas se
encontram bem isoladas de suJ. 3, Da cid:de sôbre outras ci-
principal fonte de vida: as ci- dades, dentro ou fora dl região:
dades e as comunidades agrícola3
que a estas circundam, A análise a) produtos manufaturados es-
das distâncias, em seus múltiplos p,eciais, de diversas catego-
aspectos, é um dos instrumentos nas;
52 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PlJBLICA

b) tipos especiais de produtos outra, cidade e área rural; uma


alimentícios e matéria-prima depende da outra. Somente a eco-
de diversas espécies; nomia primitiva pode existir, e
c) crédito e capital; mesmo assim a um nível de vida
d) dados informativos, idéias muito baixo, dispensando a pre-
novas, modas; sença da cidade. De modo geral,
e) operários e técnicos especia- podemos dizer que as áreas ru-
lizados, ou semi-especializa- rais dependem da cidade como seu
dos, em migração; mercado e como fonte de artigos
visitantes e turistas_ básicos de consumo. A cidade,
f)
por outro lado, vê nas áreas ru-
rais uma fonte de alimentos e de
4. De outras cidades, dentro
matéria-prima e, também, um mer-
ou fora da região, sôbre a cidade:
cado importante para os artigos
que produz. Ao mesmo tempo
a) produtos manufaturados es-
os laços da cidade com outras
peciais, de diversas catego-
cidades fora da região incorporam
rias;
o complexo total da economia re-
b) produtos alimentícios espe- gional à economia nacional. A
ciais e matérias-primas de vá-
história da cidade de Belém do
rias espécies;
Pará é um exemplo típico do que
c) crédito e capital; quero dizer, quando falo na in-
d) dados informativos, idéias terdependência das economias ru-
novas, modas; ral e urbana: a riqueza e a pros-
e) operários e técnicos especia- peridade de Belém aumentaram e
lizados, ou semi-especializa- diminuíram paralelamente à eco-
dos; nomia da borracha, predominante
f) visitantes e turistas. do hint.erland dessa cidade, po-
rém, a causa básica da queda da
Se estudarmos, superficialmente borracha na Amazônia foi o que
que seja, a lista acima, notaremos aconteceu fora da região inteira:
desde logo que as cidades não col'1petiçii'J por parte dos produ-
existem isoladamente, e que tam- tores estrangeiros, invenção de
pouco as áreas rurais podem exis- substitutos dl borracha, declínio
tir independentemente dls cida- dos preços da borracha no mer-
des. Uma existe por causa da (aJo raundial,
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 53

D - Examinemos agora, em mais bem educada que as po-


minúcia, o papel da cidade no de- pulações rurais. Não raro
senvolvimento econômico de wna conta a cidade com muitas
região. Que funções exerce a ci- escolas e outras instituições
dade em benefício da região? educacionais.
Que pode fazer aquela para esti-
mular o desenvolvimento desta? b) As cidades são centros de
Que grau de atenção devemos dar invenção: a história das no-
à cidade, em contraste com outros vas idéias, das invenções, cor-
aspectos do desenvolvimento re- re lado a lado com a histó-
gional, como, por exemplo, a ria das cidades. E isso por
agricultura, o aproveitamento da um grande número de ra-
floresta, a exploração dos recur- zões: o alto nível da educa-
sos minerais? O melhor critério ção urbana; a alta densida-
de analisar essas questões seria, de demográfica que, nas ci-
penso eu, examinar algumas das dades, facilita a troca de
altas vantagens que uma cidade idéias; a atividade e a agi-
representa para o desenvolvimen- tação políticas; grupos demo-
to econômico regional. gráficos diferentes, com di-
ferentes culturas e especiali-
1. Vantagens politicas. zações, muitas vêzes reunidos
na mesma cidade; o fato de
Freqüentemente, a cidade que
estar a cidade em comuni-
temos em vista é sede de wn go-
cação constante com o resto
vêrno, de uma administração -
do mundo; o alto valor que,
seja qual fôr o nível: municipal,
na cidade, se empresta à in-
estadual, federal. ~, assim, im-
ventividade: o ambiente ur-
portante centro de tomada de de-
bano é altamente competiti-
cisões para uma área maior e,
vo, recompensando os enér-
paralelamente, um centro de po-
gicos e engenhosos, punindo
der e de influência sôbre essa
aquêles que falham.
área.

2. VanMgens sociais. c) As cidades, geralmente, per-


mitem rápido progresso so-
a) A população das cidades é cial. Seu ambiente ~ocial é
em geral mais alfabetizada, acolhedor, sendo a riqueza e
')4 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

a alta posição social a recom- ferindo apenas ao desenvolvimen-


pensa natural dos bem su- to verificado nas cidades. Por
cedidos. exemplo, podemos dizer que o
Brasil está fazendo rápido pro-
3. Vem/agem eCO Jlômicas . gresso industrial. Na verdade, o
que queremos dizer com isso é
a) fi na cidade que se acham que São Paulo está fazendo rá-
situadas as instituições econô- pido progresso industrial e que
micas básicas: mercados, ban- São Paulo é parte do Brasil, po-
cos, armazéns, bôlsJs, etc. rém, ao mesmo tempo, não es-
queçamos o fato de que, em gran-
b) As cidades constituem cen- de parte, o bem-estar de uma
tros de transportes e comu- cidade depende da econlJmia ru-
nicações. Talvez seja esta a ral que com ela se relaciona.
principal vantagem das ci- Assim, a cidade pode estimular
dades. o desenvolvimento econômico do
seu próprio interior, proporcio-
c) As cidades desenvolveram, no nando estímulo, crédito, capital,
decurso de longos anos, um idéias e assistência técnica às áreas
alto grau de especializaçãlJ rurais. Quase sLmpre o progresso
técnica e de savoir-faire, de irradia-se das cidades.
grande utilidade para o co-
mércio. E - Mas o que significa isso
tudo para o planejador regional?
d) fi na cidade que se locali- O leitor já terá adivinhado a con-
zam as indústrias. clusão. O planejamento regional
e o planejamento urbano devem
e) As cidades são ricas. ser integrados, reunidos, para que
possamos conseguir bons resulta-
Em suma, é nas cidades que dos no desenvolvimento econômi-
oc.orre uma grande par/e do de- co. Para ser mais específico, a
senviOlvimento econômico. integração, neste caso, significa:

Quando falamos no desenvol- 1. Planejar para o funciona-


vimento econômico de uma re- mento adequado da cidade em
gião, muitas vêzes estamo-nos re- cresciment,o.
iNTRODUÇÃO AO PLANÉJAMENTO REGIONAL 55
o desenvolvimento econômico terra. Há falta ou abundância de
resulta, com freqüência, do cres- terras de lavoura? Será o supri-
cimento rápido de cidades, cuja mento de víveres da cidade amea-
população se vê acrescida de mi- çado pela ulterior expansão des-
lhares de trabalhadores que vie- sa mesma cidade? Que terrenos
ram à procura de novas oportu- deverão ser reservados para fins
nidades numa economia urbana em de recreio e para a localização das
expansão. O planejamento deve novas indústrias? Questões com.:>
regular suas atividades de acôrdo essas interessam à própria cidade
com essas transformações iminen- tanto quanto ao planejador.
tes, procurando providenciar no-
vas moradias, serviços públicos 3. Planejar no sentido dees-
adequados (água, energia elétrica,
Ireitar as relações entre a cidade e
esgotos), serviços sociais básicos
(saúde, educação, recreação), bem cI! área de economia extrativista

como bons transportes internos. que a Mrca.


Ao mesmo tempo, os planejadores
devem verificar se as funções eco- O problema, aqui, consiste em
nômicas - em vigor entre a aproximar a área de economia ex-
cidade e as áreas rurais que dela trativista o mais possível da ór-
dependem: bancos, transportes re- bita econômica e social da cidade.
gionais, armazenagem, indústrias, Para isso os transportes constituem
serviços de extensão, pesquisas, requisito essencial, bem como a
etc. - estão cumprindo adequa- melhora das comunicações (rádio,
damente suas finalidades. por exemplo). É necessário, tam-
bém, aumentar a produção pela
2 . Planejar para a expansã:J introdução de técnicas racionais,
física da cidade rumo à periferia indústria em larga escala, moder-
rural. nos pontos de escala para o co-
mércio, inclusive armazenagem, e,
 medida que uma cidade cres- finalmente, pesquisas básicas e
ce demogràficamente, t a m b é m novas experiências.
alarga suas dimensões físicas, es-
A REGIAO É UM TODO OR-
palhando-se no rumo das áreas
rurais. Entra em cena, a esta aI· GANICO, E COMO TAL DEVE
tura, o problema da utilização da SER PLANEJADA.
56 CADERNOS DE ADMINISTRA(XO PUBlicA

XII FATÔRES NACIONAIS DO DESENVOLVIMENTO


ECONÔMICO REGIONAL

A - A economia total do país crescimento em sua renda, popu-


é composta de muitas economias lação, produção, etc. Se dissermos
regionais distintas. Cada uma que a população brasileira cresceu
dessas apresenta características em vinte por cento entre 1940
peculiares, seu próprio ritmo de e 1955 (a percentagem aqui não
vida, seus altos e baixos de desen- pretende ser exata: serve apenas
volvimento; porém, embora pos- para ilustrar um argumento), isso
samos falar de economias regio- não quererá dizer que cada Estado
nais, e conquanto elas existam
da Federação cresceu na mesma
lado a lado, não apresentam mu-
proporção. Pode-se mesmo dar o
ralhas que as separem, sendo, mui-
to pelo contrário, interdependen- caso de haver diminuído a popu-
tes, com seus destinos ligados uns lação de alguns Estados. A per-
aos outros. As populações migram centagem figurada não passa da
de uma região para outra; o ca- média de todos os índices regio-
pital (dinheiro para investimen- nais de crescimento e decréscimo.
tos) flui de um lugar para outro; O mesmo raciocínio vale, por
os produtos alimentícios são cul- exemplo, para as flutuações de
tivados numa região e consumidos renda. A maioria dos aumentos
noutra. Um ativo comércio in- de renda se concentrará em apenas
ter regional vem criar, de várias umas poucas cidad.es, com as res-
economias regionais, uma econo- pectivas áreas de influência. Tal
mia nacional. E é essa economia conteúdo informativo, entretanto,
nacional que constitui a estrutura
não será expresso através das sim-
do planejamento regional.
ples percentagens da natureza da
B - As regiões não se limi- que referimos, as quais nada in-
tam a especializár-se em tipos di- dicam além de médias nacionais.
versos de produção, segundo suas Não é difícil encontrar países al-
condições de clima, solo, topo- tamente desenvolvidos que apre-
grafia, etc.: experimenta, cada sentam, dentro de suas fronteiras,
uma delas, diferentes índices de grandes regiões atrasadas, subde-
lNTRODUçAo AO PLANEJAMENTO REGIONAL 57

senvolvidas. O progresso regioml crescimell/.o de tôdas as outras re-


não é uniforme. (') giões.
Falando de modo geral, verifi- C - Uma região, isoladamen-
caremos que as regiões prosperam te, não pode depender unicamen-
individualmente, à medida que te de seus próprios recursos. Há
progridem as outras regiões. O muitas condições que influenciam
que quer dizer que as regiões o desenvolvimento econômico de
particiPam da prosperidade nacio- uma região, e que, na realidade,
nal. Se o progresso é va!;1foso constituem responsabilidade do go-
no resto do país, será difícil que vêrno federal. Uma região (ou
nossa região venha a progredir na os Estados e Municípios que dela
medida desejada. Mais uma vez, fazem parte) dispõe de poderes
tal acontece por serem as regiões limitados para criar novos impos-
partes integrantes daquele todo tos. A maioria dos impostos e
unificado, representado pelo país. taxas são federais, o que não dei-
Cada região tem, portanto, inte- xa de exercer poderosa influência
rêsse ativo na prosperidade e 110 no possível ritmo de progresso re-

(1) Ao analisarmos as tendências regionais, será importante distinguir


entre transformações absolutas e transformações relativas. .y oltaremos
mais tarde a êste assunto, mas talvez seja interessante discuti-lo, ràpi-
damente, a esta altura. Se o Estado do Pará tiver aumentado sua
renda per capita em 12%, em 1940 e 1950, podemos nos dar por
satisfeitos com êsse progresso. Entretanto, não seria muito compa-
rar essa estatística com a média de todo o País. O Pará, afinal de
contas, constitui parte de uma economia nacional em ação; o progresso
do restante do País é um dado importante para a avaliação do pro·
gresso local. Ora, pode acontecer que no Brasil, como um todo, o
índice de aescimento da renda per capita não tenha sido de 12%
durante o mesmo período de tempo, e sim duas vêzes mais, isto é,
24%. Sendo assim, o Estado do Pará ficou para trás do resto do
País, o que não nos deixaria tão satisfeitos quanto ao progresso esta-
dual, porém, pelo contrário, algo preocupados com o futuro. Se a
renda per capita do Pará representasse, em 1940, 60% da média na·
cional, essa mesma renda talvez representasse agora apenas 58 por
cento. 11 o que se chama «comparação de transformação relativa».
Há muitas outras dificuldades na avaliação conveniente de tais trans-
formações, que não podemos discutir agora - mas seria bom que o
leitor se desse conta, desde logo, da distinção básica entre transfor-
mação relativa e transformação absoluta.
58 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

gional. Região alguma pode con- desenvolvimento regional. As di-


trolar a regulamentação de expor- retrizes políticas nacionais impõem
tações e importações, de pedidos consideráveis limitações ao que
de divisas, de auxílios às indús- pode ser realizado por uma orga-
trias e à agricultura, ou sôbre a nização regional qualquer. Se a
política nacional de administração estrutura nacional não é tal que
de recursos, sôbre a política mo- estimule o desenvolvimento eco-
netária, ou sôbre qualquer dos nômico, difícil será conseguir
múltiplos aspectos do govêrno fe- grande coisa nos níveis local e
deral que interessam de perto ao regional.

XIII - .oS RECURSOS E SUA CLASSIFICAÇÃO

A - Os recursos constituem a 1 . De que recursos podemos


matéria-prima do desenvolvimen- dispor agora? A que custo?
to econômico: são os vários meios 2. Que recursos são disponí-
a nosso dispor para a satisfação veis, potencialmente, para o fu-
dls necessidades humanas. Todo turo?
esfôrço de planejamento começa (Em ambas as questões o que
pela análise dos recursos dispo- queremos saber é o tipo, a quan-
níveis na área para a qual se vai tidade, a qualidade do recurso ou
planejar. A análise de recursos as condições sob as quais poderá
exige conhecimentos altamente es- ser utilizado.)
pecializados, alguns dos quais de- 3. Qual será a melhor utili-
veriam ser dominados pelo plane- z3ção possível dos recursos exis-
jador regional; porém, para as ta- tentes?
refas mais pormenorizadas, surgi- 4. De que maneira podere-
rá talvez a necessidade de apebr mos incrementar a base de recur-
para especialistas em recursos hi- sos em que repousa atualmente a
drográficos, análise de mão-de- economia regional?
obra, tecnologia, recursos flores- 5 . Quais são os problemas,
tais, pesca, agricultura, etc. De tanto os já reconhecidos no pre-
modo geral, a análise de recursos sente quanto os que se podem
propõe as seguintes questões: formular para o futuro, que po-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 59

deremos encontrar qUJndo pro- EstadGS Unidos, entre 1935 e


curarmoo utilizar os recursos da 1945.
melhor maneira possível?
6 _ Quais são as condições li- B - Tentativa de Classificação
mitantes - físicas, sociais, econô- de Recursos.
micas, políticas e ecológicas -
que impedem a utilização de cer- 1. ReCIJrsos primários
tos recursos além de certo grau?
Antes que possamos emprest.l[ a. Recursos naturais
sentido suficiente a essas questões, aa. Luz
será necessária uma clara noção ab. Ar
do que queremos dizer quando fa- ac. Água
lamos em recursos; quais são os ad. Solo
principais tipos de recursos; quais ae . Florestas
algumas de suas características; e af. Minerais
de que maneira se encaixam no b. Recursos situacionais.
panorama geral do planejamento ba. Clima, topografia, panora-
do desenvolvimento. Preciso, no ma (recursos cênicos).
entanto, preveni-los quanto à ex- bb. Posição geográfica (com re-
trema superficialidlde do levan- ferência a outras áreas, em
tamento que vamos fazer. O as- especial outros complexos
sunto é vasto e mal lhe roçaremos regionais de recursos e ou-
a superfície. Aos leitores interes- tros centros de população).
sados em análise de recursos, pos-
so indicar o livro World Resour- 2. Recursos secundários
ces and Industries, de Erich Zim-
mermann (2~ ed., 1950), que a. Recursos d e mão-de-obra
é, talvez, a melhor introdução ge- (especialistas, etc.)
ral à análise de recursos. Também b. Recursos culturais e insti-
são interessantes os relatórios ofi- tucionais
ciais recentemente apresentados ao ba. Recursos urbanos (espaço,
Presidente dos Estados Unidos sô- transportes, serviços públi-
bre recursos de água e política de cos, administração)
materiais, bem como a série de bb. Recursos organizacionais
relatórios publicados pelo Natio- (bancos, cooperativas, esco-
nal Resources Planning Board, dos las, organizações de pesqui-
60 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

sa, administração, igrejas, glao para que se possa verificar,


organizações de voluntários, nesta, o desenvolvimento econô-
agências de planejamento e mico: as cidades, por exemplo,
de desenvolvimento). são capazes de atingir o máximo
bc. Recursos para empreendi- de prosperidade econômica, sem
mentos novos (facilidades (lue necessitem possuir, dentro de
de crédito, etc.) . seus limites, suprimento abundan-
c. Recursos capitais te de recursos primários; em vez
ca. Indústria disso, dependem diretamente da
cb. Transportes mão-de-obra, dos especialistas, dos
cc. Energia elétrica organizadores, dos empreendedo-
cd . Agricultura, indústria extra- res de que dispõem, bem como do
tiva florestal, pesca, mme- preço que todos êsses trabalhado-
ração res e técnicos cobram por seus ser-
ce . Armazenagem viços.
cf . Serviços básicos. 2. Recursos l1atur,ais. Os re-
cursos naturais não se encontram
c - Breve discussão de algu- disponíveis em quantidades de-
mas características dos recursos
terminadas. Sua disponibilidade
é sempre variável, de acôrdo com
1. RecurJOs primários e secun-
condições diversas, tais como ne-
dários. A principal distinção, nes-
cessidade existente, progresso da
te caso, 11ão é a da importância técnica, descoberta de novos re-
relativa, porém a da própria na- cursos, inter-relação na utilização
tureza dos recursos. Os recursos de uns e outros recursos, e custo
primários são os que se encon-
de sua utilização econômica. Por
tram na natureza: constituem os
exemplo:
dados básicos do planejamento re-
gional. Os recursos secundários a. Necessidade - O urânio
resultam de atividades humanas. não se tornou recurso senão depois
Os recursos secundários são indis- que passou a ser um ingrediente
pensáveis à utilização apropriada indispensável à produção de ener-
dos recursos primários dentro de gia atômica.
uma região: os recursos primá- b. Técnica - O petróleo sã·
rios, por outro lado, não têm de mente se tornou um recurso imo
ser encontrados na própria re- portante depois da invenção do
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 61

motor de combustão interna. De na êstes últimos matéria inútil.


maneira semelhante, a produtivi- ~ provável que haja vastos depó-
dade do solo pode ser aumentada sitos de carvão-de-pedra na An-
consideràvelmente, através da uti- tártica, mas o custo de extração
lização de fertilizantes c da apli- dêsse carvão, apesar do seu ele-
cação de processos agrícolas apro- vado valor, é alto demais para a
priados. exploração comercial. A distância
dos mercados e as severas con-
c. Descobertas - A atual ba- dições climáticas que impedem a
se de recursos do mundo está em utilização dos recursos desenco-
contínua expansão, através de des- rajariam a tentativa. Outra causa
cobertas de novos recursos: por será a pequena escala da produ-
exemplo, novos depósitos natu- ção, escala essa que torna anti eco-
rais de petróleo, carvão de pedra nômico o aproveitamento do re-
e outros minérios. curso. Por exemplo, a exploração
d. InteN'elaçáo no uso dos re- da floresta tropical amazônica po-
cursos - A produtividade de al- derá depender da introdução de
guns recursos pode ser aumentada métodos de produção de múltiplas
de modo substancial através do de- finalidades, em larga escala e ca-
senvolvimento conjunto de recur- pazes de poupar mão-de-obra.
sos inter-relacionados. O aprovei-
tamento para fins múltiplos de uma 3. Recursos situacionais.
bacia hidrográfica, é um exem-
plo excelente dêste princípio. O O clima, a topografia, o pano-
completo aproveitamento das van- rama constituem, antes de mais
tagens proporcionadas por um rio nada, recursos de turismo e de
depende sempre da valorização recreação. Entretanto, ao mesmo
conjunta dos recursos que propor- tempo, representam condições li-
ciona: energia elétrica, irrigação, mitantes ponderáveis para a uti-
navegação, contrôle de enchentes, lização de outros recursos. Em
recreação, etc. conjunto, trata-se de condições na-
turais que não podem ser profun-
e. Custo da utilização econô- damente modificadas. Muito pelo
mica dos recursos - O alto custo contrário, o pbnejamento é que
do desenvolvimento e da utiliza- se deve adaptar aos limites impos-
ção dos recursos muitas vêzes tor- tos por essas condições. O clima
62 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

pode ser artificialmente transfor- A mão-de-obra é ingrediente


mado pelo uso engenhoso da ar- essencial da produção, juntamen.
quitetura tropical ou por meio de te com a matéria-prima, o capital
ar acondicionado. A topografia (ferramentas, equipamento, edifí-
demlsiado acidentada de certas cios, transportes, etc.) e a orga-
regiões montanhosas pode ser con- nização. O desenvolvimento tem
quistada através de estradas de ro- de adaptar-se às condições de
dagem e de ferro cuidadosamente mão-de-obra: nos locais onde é
planejadas. Há, contudo, um pon- escassa a mão-de-obra, especiali-
to além do qual ser-nos-á impossí- zada ou não, deverá ser utilizlda
vel avançar neste terreno: o clima a tecnologia aplicada à poupança
e a topografia condicionam, em de mão-de-obra. Onde a mão-de-
grande parte, o tipo de economia -obra é ignorante, porém copiosa,
que se poderá desenvolver. somente as ferramentas mais sim·
A posição geográfica é outro pIes poderão ser manejadas. A
fator "naturd" que, como recurso, mão-de-obra é, na verdade, de
facilita sobretudo o desenvolvi- tamanha importância para o de-
mento de outros recursos nos lo- senvolvimento econômico das re-
cais onde a proximidade de mer- giões que se torna, às vêzes, ne-
cD.dos ou de importantes centros cessário traçar planos especiais de
de produção é suficiente para exer- mão-de-obra, de maneira que uma
cer influência favorável sôbre o quantidade suficiente de trabalha-
desenvolvimento econômico. Por dores especializados possa tornar-
outro lado, a posição geográfica é se disponível quando necessária.
muitas vêzes uma grande desvan- A análise da mão-de-obra regional,
tagem. (Medimos a distância, especializ: da e não-especializada,
aqui, não em quilômetros, porém tem em mira obter dados infor-
em têrmos do t.empo necessário mativos sôbre os seguintes pontos:
para o transporte e do custo do
transporte. A ponder2ção apro- a. Distribuição da população por
priada dêsses dois fatôres consti- idades (considera-se geral-
tui uma das tarefas primordiais mente como parte integrante
da análise dos recursos.) da mão-de-obra a população
entre 14 e 65 anos; porém
4. Recursos de mão-d.e-obra a participação ativa dêsse
especializada, grupo na produção poderá
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 63

depender de oportunidades tar a melhor utilização dos outros


locais de emprêgo, índices de tipos de recursos. O estado de seu
pagamento e outras condi· desenvolvimento pode constituir
ções). tremenda vantagem para uma re-
gião, e sua completa utilização de-
b. Distribuição da mão-de-obra
veria ser levada a efeito sempre
por sexo.
que possível. Os recursos urba-
c. Distribuição da mão-de-obra nos - conforme veremos mais
dentro da região. 8diante, quando discutirmos a
q:lcstão da localização industrial
d. Aumento da mão-de-obn, ~- 55:0 extremamente importantes
com os respectivos centros de p~ra a industriJ.lização. Os recur-
crescimento. sos orraniz:cionais são os meios
e. Níveis educacionais atingidos pelos quais organizamos nossas
pela mão-cle-obra. atividades. Sàmente poderemos
influenciar o povo por meio da
f. Condições de saúde da mão- utilização apropriada das institui-
de-obra. ções baDcárias, educacionais, de
pesquisa, e outras, que estiverem
g. Estado atual do emprêgo e ao nosso dispor. Os recursos para
grau de especialização da novos emoreendimento incluem os
mão-de-obra. (Sôbre êste c pitalista; que, numa comunida-
ponto, seria interessante re- de, se apresentam dispostos a cor-
cordlf que a mão-de-obra Jn- rer riscos econômicos, bem como a
clui profissionais como os capacidade financeira dos mesmos,
médicos, os engenheiros, os suas preferências quanto a inves-
advogados, os professôres, timentos, e assim por diante.
etc. Freqüentemente repre-
sentam êles as especializações 6. Recursos caPitdis - Os re-
mais estratégicas porém ao cursos capitlis incluem tôdas as
mesmo tempo as mais escas- instalações e serviços permanente~
sas da região.) já existentes na região. E é exa-
tamente a existência dêles que ex-
5. RecurJ.os culturais ,e insti- plica o crescimento cumulativo de
tucionais - Estes recursos, antes certas cidadcs e a tendência dlS
de müs nada, servem para facili- indústrias dc se amontoarem num
64 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PüBLICA

só lugar (por exemplo, São Pau- veitamento de outros recursos.


lo), em vez de se espalharem. Teremos oportunidade de discuti-
Como no caso dos recursos insti- los em minúcias, mais adiante,
tucionais, a função principal dos quando considerarmos o problema
recursos capitais é facilitar o apro- da localização industrial.

XIV - INTER-RELAÇÃO NA UTILIZAÇÃO


DOS RECURSOS

A - Os recursos nunca são B - Exemplo A:


utilizados isoladamente, e sim em Tratamento unificado de um só
conjunto. De modo semelhante, recurso em base regional; o MSO
os planejadores devem adotar um da energia elétrica.
critério de unificação, coordenação Há duas opções principais para
e integração, ao considerarem o a solução do problema do desen-
desenvolvimento de recursos corre- volvimento dos recursos energéti-
latos. A inter-relação dos recursos cos de uma região. Examinare-
de acôrdo com sua função, bem mos cada uma dessas opções em
como a inter-relação dos recursos separado, mostrando algumas das
conseqüências que provàvelmente
no espaço, é o que se chama "com_
decorriam de cada uma delas, se
plexo de recursos". Uma região é,
fôsse a escolhida como nosso cur-
geralmente, um complexo de re-
so de ação.
cursos; porém, dentro da região, Opção 1: Cada cidade dentro
encontramos complexos de recur- da região constrói sua própria
sos de ordem secundária, cujo de- usina de energia elétrica. bem
senvolvimento também deveria ser como as linhas locais de trans-
empreendido, cada um como uma missão. Os edifícios de aparta-
unidade especial. O desenvolvi- mentos, as instalações militares e
metlf,o conjunto dos recursos é um algumas indústrias mantêm seus
dos princípios mais importantes próprios geradores. A capacidade
do planejamento regional. Atra- das usinas elétricas é graduada em
vés de uma série de exemplos pro- relação, apenas, às necessidades
curaremos, em seguida, explicar locais. Não existem linhas de
melhor êsse princípio. transmissão de longo alcance e tô-
INTRODUÇÃO AO PLANE]AMENTO REGIONAL 65

das as usinas são movidas a vapor 6. A falta de padronização do


(usinas termelétricas). equipamento resulta em dificulda-
des práticas de manutenção.
Conclusão: Operação ineficiente
Opção 2: Os recursos ener-
géticos de tôda a região são de-
senvolvidos de acôrdo com um
esquema único, de maneira que
tôdas as partes da região sejam
servidas. Empresta-se ênfase espe-
cial à energia hidrelétrica, onde
esta se encontra disponível (den-
tro de um raio de 700 km.) As
usinas termelétricas locais podem
ser utilizadas em conjunto, de mo-
do que se forneça energia cons-
Comeqiiências Prováveis:
tante, durante o ano inteiro.
Construção, operação e manuten-
1 . Alto custo de operação e ção unificadas. A capacidade do
manutenção por quilowatt-hora; sistema total é graduada de acôr-
2. • Funcionamento em bases do com as necessidades regionais.
não econômicas, em virtude do fa-
tor variável da carga;

3 . Custo relativamente baixo


de instalação por kw. de capaci-
dade instalada;
4. Serviço precário, devido às
possíveis falhas do equipamento
gerador ineficiente;
5. Incapacidade de servir às
indústrias e estabelecimentos agrí-
colas fora da cidade;

6 - Cad. Adm. Pública - 51


66 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

Conseqüências Prováveis: importância de um critério UlllCO,


coordenado, na consideração do
1 . Poupança da mão-de-obra desenvolvimento dos recursos re-
especializada, no caso, escassa; gionais. Se a questão fôr tomada
2 . Baixo custo de operação e
como uma espécie de exercício
manutenção por quilowatt-hora; para estudantes, a ser feito em
casa, o leitor poderá desde já ir
3. Custo relativamente alto imaginando de que maneira pla-
de construção por kw. de capa- nejaria um projeto da natureza
cidlde instalada; indicada. Vejamos:
4. Distribuição de carga uni- 1 . Atividades de desenvolvi-
forme, por tôda a região; mento em áreas rurais nas quais
5 . Redução das interrupções, se deverá estabelecer a indústria
em qualquer ponto, a um míni- de pecuária e laticínios.
mo; a. Estabelecimento de uma
6. Fornecimento equilibrado estação experimental.
de energia para tõda a região, em
b. Estabelecimento de um ser-
base igual, incluindo as áreas ru-
viço que ministre cursos de ex-
raIs;
tensão e educação rural.
7. A padronização do equipa-
c. Estabelecimento de fazen-
mento facilita a manutenção.
das-modêlo para demonstração.
Conclusão: Operação eficiente.
d. Empreendimento de gran-
C - Exempl.o B: Tratamento des projetos de irrigação e drena-
rmificado dos ruursos urbanos e gem.
agrícolas. O caso da peCllária e
da produção de laticínios. e. Estabelecimento de organi-
zações cooperativas entre os fazen·
Suponha o leitor que deseja- deiros, para fins de mercado, com-
mos desenvolver a indústria pe- pras e outros.
cuária e de laticínios na região si-
tuada entre Macapá, Belém e Bra- f. Auxílio aos fazendeiros
gança. Não consigo imaginar ou às cooperativas na obtenção de
exemplo melhor para ilustrar a crédito em têrmos especialmente
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 67

favoráveis para a compra de ma- aa. Intensa propaganda nutri-


quinaria, equipamentos, cabeças cional sôbre as vantagens dêsses
de gado, fertilizantes, e para me- produtos na alimentação;
lhora das condições de moradia. ab. Baixa dos preços e con-
g. Estabelecimento de esta- trôle da qualid:ide;
ções centrais de serviços gerais, ac. Estabelecimento de insta-
coleta e distribuição (maquinaria, lações para o beneficiamento e
manutenção, pontos de coleta para embalagem apropriada da carne e
o gado e o leite, distribuição de do leite, bem como para o apro-
fertilizantes, etc.) veitamento de subprodutos (sa-
bã0' p. ex.) e certas operações es-
h. Construção de estradas ruo
peciais, como, por exemplo, a em-
rais para facilitar a coleta diária
balagem de salsichas.
dos produtos, de fazenda a fa-
zenda; ad. Organizar a distribuição
da produção pelo mercado reta-
i . Estabelecimento de uma lhista.
fábrica de queijos planejada de
acôrdo com a capacidade regional ae. Procurar reduzir os des-
de consumo. perdícios através do manuseio ade-
quado, bom armazenamento e re-
J. Estabelecimento de frigorí- frigeração.
ficos coletivos.
af. Treinamento profissional
k. Lançamento das bases pa- dos açougueiros e magarefes.
u a futura eletrificação total da
área rural. b. Criação de serviços de uti-
lidade pública adequados à expan-
são industrial.
2. Atividades de desenvolvi-
mento nas áreas urbanas adjacen- ba. Desenvolvimento dos re-
teS. cursos regionais de energia elétri-
ca, dentro de um plano coorde-
a. Expansão do mercado pa- nado, de modo a fazer chegar a
ra os produtos de carne e leite, energia tanto às áreas rurais como
por meio de: às urbanas.
68 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

bb. Desenvolvimento dos re- D - É possível resumir as di-


cursos de água, de maneira a sa- versas atividades acima referidas,
tisfazer as necessidades da indús- sob alguns títulos gerais: reorga-
tria. nização das fazendas; recuperação
da terra; desenvolvimento dos re-
bc. Melhoria dos serviços de
cursos institucionais (pesquisas,
esgotos nas áreas urbanas. (Isto
extensão, cooperativas, mercados,
poderia ser feito em conjunto com
a construção de uma estação de escolas, bancos); desenvolvimen-
aproveitamento dos detritos, a to dos recursos de energia elétrica;
qual poderia fornecer parte do expansão industrial, tanto na cida-
fertilizante necessário para melho- de como nas áreas rurais; melho-
rar as terras de pastagem.) ria dos serviços de utilidade públi-
ca (esgotos, água); planejamento
bd. Construção de estradas e construção de um sistema regio-
adequadas entre as estações cole-
nal de transportes.
toras rurais, visando ao rápido mo-
vimento do gado e do leite, rumo
à cidade.
Eis wna questão que, para ter-
minar, ofereço à consideração dos
c. Obtenção, junto aos bancos leitores: dos passos acima indica-
locais, de facilidades de crédito dos, quantos poderiam ser deixa-
adeqmdas para as cooperativas c dos de lado, se quiséssemos levar
05 fazendeiros. a um alto nível de produção as
d. Fornecimento a tôdas as indústrias de gado e laticínios da
atividades mencionadas dos dados região? Tendo em vista o plane-
informativos necessários, através jamento regional, que lição po-
das instituições de pesquisa exis- deremos tirar da análise que aca-
tentes_ bamos de fazer?
TERCEIRA PARTE

TÉCNICAS ESPECIAIS DO PLANEJAMENTO


REGIONAL
xv - PROBLEMAS DA LOCALIZAÇÃO E DO
DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

A - A industrialização é uni- por exemplo, de madeira, aumen-


versalmente reconhecida como um ta a possibilidade de expansão da
dos aspectos essenciais do desen- indústria manufatureira, não só
volvimento econômico. Isso não por que a matéria-prima se tor-
significa, no entanto, que os pro- nará mais barata, como porque
gramas de industrialização devam surgirá também, um mercado
ter precedência sôbre outros pro- maior para os produtos da indús-
gramas, por exemplo, de desen- tria. O mesmo processo tem lu-
volvimento agrícola ou extrativis- gar no sentido oposto. A indús-
ta. Serve, entretanto, para ressal- tria manufature ira pode estimular
tar o fato de que, geralmente, os grandemente as atividades agríco-
empreendimentos se mostram mais las e outras atividades de produ-
rendosos na indústria que em ou- ção "primárias". Além disso, a
tros ramos, que a indústria "dá indústria exige grande número de
maior valor" ao material de que serviços altamente especializados:
faz uso. Cada fase do processo contábeis, jurídicos, de arquitetu-
de transformação de matérias-pri- ra, engenharia, transportes, con-
mas proporciona rendas novas pa- sertos e outros - que a própria
ra a comunidade ou região em que indústria, garantindo-lhes procu-
tem lugar êsse processo. ra suficiente, faz surgir na comu-
À medida que a agricultura, a nidade. Assim sendo, a industria-
mineração e a indústria extrativa lização inicia um processo cumu-
florestal se tornam mais produti- lativo de desenvolvimento que,
vas, em têrmos dos esforços exi- uma vez ultrapassado o ponto crí-
gidos de um trabalhador para tico, poderá prosseguir indepen-
produzir certa quantidade de pro- dentemente, em grande parte, da
dutos agrícolas, de minério ou, ajuda do govêrno, até atingir altos
72 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

níveis de produtividade e eficiên- triais. Além do mais, nem tôda


cia. Ultrapassar êsse ponto críti· indústria é grand'f! no sentido fí-
co é o objetivo de todo esfôrço sico: na verdade, a indústria de
em prol do desenvolvimento, na- qualquer nação é constituída de
cional como regional. fábricas em sua maioria pequ,ellas,
Muitas vêzes a idéia de indus- de propriedade de inúmeros in-
trialização se associa em nossa dustriais independentes. Isso tu-
mente à visão de chaminés fuli· do pode fazer muita diferença no
gentas, favelas, superpopulação, quadro industrial de uma comuni-
más condições sanitárias, crime e dade.
miséria nos centros de produç:io.
Essa idéia de "industrialização" B - Há muitas maneiras de
tem sua origem nos primeiros cen- classificar a indústria. Uma das
tros da revolução industrial: Bir- mais interessantes é aquela que
mingham, Manchester, Düssel- toma como base as características
dorf, Pittsburgh. Trata-se, entre- locais dos estabelecimentos, con-
tanto, de uma visão unilateral, siderados individualmente. Eis
que deixa de lado o fato de que essa classificação, que é estudada
os padrões de industrialização po- em maiores minúcias no livro
dem ser radicalmetne diferentes, IVhy 11ldustry Moves Sou/h, de
conforme o tipo de indústria que Glen McLaughlin e Stefan Robock
venha a resultar do desenvolvi- (Washington, National Planni:1,3
mento, do combustível que utili- Association, 1951):
za, da época em que foi estabe-
lecida. Nem tôda fábrica moder- 1. EslabeJ,ecimellt,os indtlstrl-
na se nos apresenta enegrecida ais que adotam como critério de
pela fumaça: há fábricas atraen- localização a proximidade d,e' seus
tes, de arquitetura contemporânea, mercados principais.
sugerindo-nos mais uma residên-
cia grã-fina do que um barracão de a. Casos em que os produtos
trabalho. A fábrica de localiza- finais são perecíyeis ou de trans-
ção bem planejada não acaueta porte difícil (exemplos: pão, sor-
congestionamento de habitações vetes) .
nem outros incômodos, que fre-
qüentemente associamos à nossa b. Casos em que os custos de
idéia, das grandes cidades indus- transporte constituem parte impor-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 73

tante dos custos totais de entrega c. Casos em que é importan-


e em que o transporte do produ- te estimular, pela própria presença
to final custa mais que a matéria- da nova fábrica, a produção de
prima usada (exemplos: bebidas matéria-prima utilizada por esta
engarrafadas, automóveis). (é o caso das fábricas de forra-
gem, paralelamente ao dos esta-
c. Casos em que as facilida- belecimentos que beneficiam e
des de serviço, o confôrto do fre- empacotam aves domésticas).
guês, ou o regionalismo (ou bair-
rismo), isto é, a vontade de tra- 3. EstabelecimeJ):tos indllstri-
zer progresso para a região, têm ais qt~e adotam com,o critério de
de ser levados em consideração localização a proximidade de uma
para que se possa atingir o nível fonte abundante de mão-de-obra,
de vendas desejado (exemplüs: especializada 011 não.
maquinaria agrícola, ferramentas,
anilinas, etc.). a . Casos em que os custos de
tnnsporte constituem parte insig-
2. Ertabelecimenlos industri- nificante do custo de entrega do
ais que adotam c,omo critério de produto final e em que existem
10c!t!iz.:'lÇão a proximid.1de de suas vantagens locais no custo de mão-
principais font.es de abastecimen- de-obra (têxteis) .
t,o de matéria-prima.
b. Casos em que os salários
a . Casos em que a matéria- constituem uma alta percentagem
prima necessária é perecível ou dos custos de produção e em que:
de difícil transporte (beneficia- a mão-de-obra necessária só se en-
mento de gêneros alimentícios de contra em quantidade e qualidade
diversos tipos). suficientes em certas áreas (ins-
trumentos de precisão).
b. Casos em que os custos de Poderíamos, aliás, estabelecer
transporte constituem p1fte im· mais uma subdivisão dos tipos de
portante dos custos totais de en- indústria, da maneira seguinte:
trega e em que é mais dispendio-
so o transporte da matéria-prima 1. Critério da Matéria-Prima:
do que o do produto final (exem-
plo: fábricas de papel e celulose). a. Matéria-prima agrícola
74 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

b. Matéria-prima florestal seus mercados, de suas fontes de


c. Minérios matéria-prima ou de mão-de-obra,
d. Petróleo não passa de um dos elementos
e. Energia elétrica do problema da localização, ao
f. Matéria-prima beneficiada lado de outras tendências, como
a da concentração das indústrias em
2. Critério do mercado certas regiões, e, ainda, dentro des-
sas regiões, de se aglomerarem em
a. Mercados locais tôrno das cidades principais. Na
minha opinião, essa última ten-
aa. Mercado de Consumo dência é ainda mais importante,
ab. Mercado Industrial como fator de localização, do que
o esquema de três partes que aca-
b. Mercados regionais bamos de ver.
Por que motivos tem lugar tal
ba. Mercado de Consumo concentração? Em busca de uma
bb. Mercado Industrial explicação, devemos começar por
admitir que a localização industrial
3. Critério da mão-de-obra é um processo de extrema compe-
tição: as diversas cidades, as di-
a. Mercado de mão-de-obra co- ferentes regiões estão sempre com-
mum petindo para atrair novas indús-
trias . Geralmente saem vencedo-
b. Mercado de mão-de-obra es- ras as cidades e regiões que apre-
pecializada. sentam maiores vantagens. Deve-
mos, assim, formular de outra ma-
A cbssificação das indústrias neira nossa questão inicial, pas-
segundo êsses tipos básicos cons- sando a perguntar: Quais são as
titui importante instrumento para vantagens especiais que a locali-
a análise da experiência indus- zação centralizada apresenta para
trial (e do futuro industrial) de a indústria? Assim colocada, a
uma região. questão admite uma resposta rela-
tivamente fácil, que pode ser re-
C - Entretanto, a tendência sumida em uma só palavra: -
manifestada pelas indústrias de ACESSIBILIDADE. Isto é, aces-
localizar-se nas proximidades de sibilidade quanto ao custo, ao
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 75

tempo e às facilidades apresenta- 8. pela possibilidade de es-


das - colher entre diversos meios de
transporte: caminhões, t r e n s ,
1 . pelas fontes de abasteci- aviões, navios;
mento de matéria-prima;
9 . pelas instituições educacio-
2. pelos mercados locais, re- nais e de pesquisa;
gionais e nacionais;
10 . pelas atividades culturais,
3. pelo alto desenvolvimen- de especial importância para os
to dos serviços de utilidade pú- administradores e suas famílias.
blica (gás, água, luz e esgotos); Tais vantagens são de formidá-
vel importância e servem para ex-
4. pela abundância de mão- plicar, em parte, a importância
de-obra com experiência indus- crescente de cidades como o Rio
trial e com as especializações ne- e São Paulo. Pois, uma t'ez alcan-
cessárias; çada uma vantagem inicial, mais
e més industrialização será conse-
5 . pelas instituições de crédi- guida. E por isso que uma espiral
to e pelos bancos; de desenvolvimento é a imagem
típica do que se verifica nas maio-
6. pelos serviços especializa- res cidades de um país (')
dos, como os de engenharia, con-
tabilidade, consertos, manutenção, D - Do que estudamos até
armazenamento, etc.; agora, poderemos concluir que,
em contraste com as áreas já de-
7 . p e las acessibilidades a senvolvidas de um país, suas re-
meios de comunicação, como a im- giões ainda não industrializadas
prensa internacional, o rádio, o representam substancial desvanta-
telefone e o telégrafo, as organi- gem para a industrialização. De-
zações comerciais, os clubes, etc.; vemos considerar êsse fato do

(2) Isso, contudo, não nos explica, inteiramente, por que motivo o desen-
volvimento teve origem exatamente onde se deu, e por que outras
áreas não tiveram a mesma sorte; nem pretende, por outro lado,
apresentar um quadro total da localização industrial em nenhuma
área em particular.
76 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ponto de vista do homem de ne- nhecimento da região amaZOlllca.


gócios, que perguntará: "Por que Na ausência de fatos reais, dá-se
cargas d'água deverei eu mudar livre curso à imaginação poética ...
minha indústria para Belém do E, para que se possa atrair no-
Pará, se posso fazer muito mais vas indústrias, novas iniciativas,
dinheiro e de modo muito mais teremos de eliminar as noções er-
fácil em São Paulo?" Gostaria de rôneas tanto sôbre as possibilida-
saber que resposta daria o leitor des como sôbre as limitações da
a essa pergunta... Examinemos vida naquela região.
agora, de maneira breve, alguns
dos obstáculos que se opõem ao 2. Condiçã.es climáticrlS - A
desenvolvimento industrial da re- maioria das pessoas que nunca vi-
gião amazônica. sitaram essa região consideram-na
imprópria à civilização, por moti-
1. Conhecimento d.a feg/ao. vo do calor e da umidade neh
Esta parte apresenta dois aspectos: reinantes. Trata-se, evidentemen-
o verdadeiro conhecimento da re- te, de um eXJgêro. Existe alguma
gião e os falsos conceitos popu- verdade apenas na segunda parte
lares sôbre a região. Sob ambos dessa afirmação, isto é, a que se
os aspectos não é muito boa a refere à umidade do clima local.
situação da Amazônia. O que co- A umidade contínua de 90% ou
nhecemos de fato sôbre os recur- mais torna difícil a armazenagem
sos da região não passa de um e torna suscetíveis de rápida de-
esbôço muito superficial, e menos sintegração a maimia dos produ-
ainda sabemos sôbre como utilizar tos perecíveis. A própria maqui-
êsses recursos. A pesquisa básica, naria dificilmente escapa aos efei-
por exemplo, em tôrno dos pro- tos corrosivos da umidade. Além
blemas do aproveitamento indus- disso, alguns processos industriais
trial-extrativo da floresta ainda es- (como, por exemplo, a fabricação
tá em seus primeiros passos. A de tecidos) não podem ser leva-
técnica necessária à completa uti- dos a efeito sob a ação da umida-
lização comercial da floresta tro- de extrema. Existem outras des-
pical também não foi ainda de- vantagens decorrentes das condi-
senvolvida. Por outro lado, gran- ções climáticas dominantes na re-
de quantidade de preconceitos e gião amazônica, porém temos de
de falsos conceitos obscurece o co- deixá-las para mais adiante.
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 77

3. Mercados ,e fontes de abas- gião) restringe o âmbito da indus-


tecimeJlt.o longínqlJos. As áreas trialização, quase automàticamen-
colonizadas da Amazônia encon- te, às indústrias cujo critério de
tram-se a duas mil mill13s de dis- localização é o mercado local ou
tância, por mar, dos principais a matéria-prima regional. Uma
mercados de consumo do Brasil. análise minuciosa das possibilida-
E ainda se acham mais distantes des industriais da região, tomando
das outras áreas do mundo desen- por base apenas os custos de trans-
volvido. Pelo menos, por enquan- porte, serviria para revelar ràpi-
to, os mercados locais são insig- damente o potencial industrial e a
nificantes, não só pela população importância da industrialização
relativamente pequena que habita para a economia da região.
o interior do continente sul-ame-
ricano, como, sobretudo, por cau- 4. Serviços básir.os de utili-
sa da pobreza dessa população. A dade pública, serviços indlJstriais
maioria dos produtos industri1is e tradições. O fato de ser a Ama-
que aqui se fabricassem seria des- zônia uma área pràticamente não-
tinada aos mercados nacionais, si- industrializada contribui para tor-
tuados sobretudo no sul do Brasil, nar menos favorável ainda O qua-
e internacionais, nos países estran- dro que acabamos de descrever. Os
geiros . As distâncias, contudo, serviços de água, esgotos e ener-
que sepnam Belém das principais gia elétrica, mesmo nas maiores
cidades do mundo constituem im- cidades da região, são totalmente
portante desvantagem, não ape- inadequados até mesmo às mais
nas pelo tempo que leva o trans- simples operações industriais. Ine-
porte como também pelos custos xistem mesmo aquêles serviços que
adicionais dêsse mesmo transpor- geralmente são parte integrante
te, aliados à possibilidade de es- dos centros industriais, e que au-
tragos. Ainda mais, a maior par- xiliam a indústria a executar as
te do serviço de transportes dis- operações sem solução de conti-
ponível é irregular e insuficiente. nuidade. O custo dos serviços in-
O relativo isolamento da região dustriais e de utilidade pública, c
em relação aos principais merca- o custo do treinamento de traba-
dos (sem esquecer a distância das lhadores e administradores, mes-
áreas produtoras das matérias-pri- mo que se pusessem em mira ape-
mas inexistentes na própria re- nas as especializações básicas, te-
75 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO POBLlCA

ria de ser, nas condições atuais, tro de certos limites, e nunca es-
enfrentado, em sua quase totali- pontâneamente. A industrializa-
dade, pelos próprios pioneiros da ção na área amazônica, se tiver de
indústria. Esses mesmos custos, verificar-se, terá que ser planej a-
noutras áreas, constituem, geral- da. "
mente, parte do que se chama em
inglês generaL induJtri,aj ovel'head, Deixo claro, desde logo, que
isto é, despesas gerais da indús- certas indústrias poder-se-ão esta-
tria, que não são pagas por ne- belecer nessa área sem grandes es-
nhum particular individualmente, forços de planejamento. A desco-
e sim pela comunidade como um berta de certas matérias-primas im-
todo. portantes, como, por exemplo, o
petróleo, poderá atrair a indús-
5. Mão-de-obra - De modo tria para essa região, sem maiores
geral, a mão-de-obra na região incentivos de outra natureza. De
amazônica não está acostumada à modo semelhante, pequenas fábri-
disciplina industrial, ao trabalho cas locais de beneficiamento po-
industrial e à maquinaria, o que der-se-ão estabelecer sem grandes
obriga os empregadores a laborio- dificuldades, como, por exemplo,
sos programas de treinamento. as de bebidas engarrafadas, sor-
Além disso, a mlioria dos traba- vetes, panificação, laticínios, etc.,
lhadores são analfabetos e se en- produtos a serem consumidos pela
contram, ainda, em condições pre- população local. Para além dêsses
cárias de vida e de saúde. Todos limites, começarão as dificuldades.
êsses fatôres contribuem para man- E de que modo poderão ser en-
ter em níveis extremamente bai- frentadas?
xos a produtividade da mão-de-
obra regional. 1 . Conhecimento e dados m-
formativos.
E - Perguntará o leitor, para
quem o quadro que lhe acabam a. Estimular os programas bá-
de descrever não passa de um sicos de pesquisa referentes a:
amontoado de futilidades: "Então mapas, expedições a áreas menos
não há esperança alguma de in- conhecidas, análise específica de
dustrializar a Amazônia?" Res- certos recursos, produtos florestais,
pondo eu: "Há, sim, porém den- experiência industrial, etc.
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 79

b. Tornar amplamente conhe- b. Instalar, quando necessário,


cidos, sobretudo nos meios comer- nos navios, facilidades especiais
ciais, dados informativos sôbre a de refrigeração.
região, bem como os resultados
das pesquisas especiais levadas a c. Investigar a possibilidade
efeito. de expandir os serviços de trans-
porte aéreo.
c. Empreender expenencias-
pilôto, - fábricas-modêlo, coope- d . Concentrar esforços na
rativas experimentais, etc. - sô- atração de indústrias que produ-
bre processos industriais seleciona- zam matéria-prima industrial bási-
dos, nas quais o govêrno seja res- ca ou outras comodidades padro-
ponsável pela maioria dos riscos nizadas, e não sujeitas a freqüen-
de empreendimento. tes modificações (moda, etc.) , e
que contem, desde logo, com mer-
2. Climtl cados assegurados e estáveis.

a. Estimular a pesquisa sôbre 4. Serviços de utilidade públi-


materiais resistentes à umidade. ca, serviços industriais, tradiçõeJ.
a. Melhorar as condições ge-
b. Estimular a pesquisa de
rais dos serviços de utilidade pú-
novos métodos de construção de
blica nas principais cidades da re-
armazens e fábricas, apropriados
gião.
às condições climáticas.
c. Proporcionar o forneci- b. Proporcionar facilidades es-
mento de energia elétrica cons- peciais de crédito e mesmo auxí-
tante e suficiente, de maneira a lios apropriados às indústrias in-
encorajar o uso cada vez mais am- teressadas em estabelecer-se na re-
plo de ar acondicionado nas fábri- gião, de modo que o govêrno to-
cas e escritórios. me parte nos riscos decorrentes
das operações iniciais.
3. Mercados e áreas de abas-
tecimento longínq/JOJ. c. Estimular de modo parti-
cular os administradores, através
a. Melhorar a eficiência dos de moradias providas de ar-acon-
serviços de transportes, sobretudo dicionado, salários especiais e ou-
marítimo e fluvial. tras vantagens.
80 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PUBLICA

d. Auxiliar, se conveniente, o culdades que se antepõem à rá-


estabelecimento de indústrias e pida industrialização: 1) Altos
serviços nucleat'es (isto é, que tudo custos iniciais; 2) altos custos de
indica deverão ser, no futuro, nú- operação; 3) falta de conhecimen-
cleos de outras fábricas e serviços tos sôbre a região; 4) falta de
semelhantes), em torno dos quais experiência industrial. Vimos tam-
se possam desenvolver conjuntos bém que tais dificuldades poderão
industriais mais amplos. ser em parte eliminadas através de
1) pesquisa intensa; 2) participa-
ção do govêrno nos riscos dos pio-
neiros e do auxílio governamental
a êsses novos empreendedores; 3)
a. Melhorar o nível geral de melhora dos serviços de utilidade
saúde dos trabalhadores. pública e dos serviços industriais
básicos; 4) educação e treinamen-
b. Melhorar o nível geral de to; 5) medidas especiais.
educação dos trabalhadores.
De modo geral, diria eu que
c. Proporcionar treinamento somente as grandes companhias se-
vocacional, orientado segundo as riam capazes e estariam dispostas '1
possibilidades industriais da re· arriscar capitais em empreendi-
gião. mentos industriais na região. A
pequena indústria local constitui,
F - Estas considerações não es·
no entanto, um caso especial, em
gotam, de modo algum, a lista
imensa do que se deve fazer para que os processos implicados são
estimular a industrialização da de certo modo simples, os riscos
área. Além disso, repito ser mi- não muito elevados, não deixando
nha análise extremamente super- de haver certa experiência. prática.
ficial, com base em observações Entretanto, para que se possam
ocasionais, JCem qualquer conheci- estimular empreendedores locais,
mento minucioso das condições talvez sejam necessários créditos
que deverão influenciar a locali- especiais para expansão industrial
Zâlção de indústrias na /"legião. Em e assistência técnica na solução de
nossa ligeira análise, contudo, des- problemas de administração e ope-
cobrimos quatro das maiores difi- ração.
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 81

XVI - ESCALA DE PRIORIDADES NO


PLANEJAMENTO REGIONAL

A - Uma das tarefas mais im- neste caso, de acôrdo com os al-
portantes do planejamento é a vos, os objetivos eas metas do
distribuição, no tempo, das ativi- próprio plano. (Tal aferição, en-
dades a serem executadas dentro tretanto, pode ser ou não reduzi-
do plano. Faz parte dessa tarefa da a têrmos quantitativos.)
atribuir uma seqüência, uma or- Podemos distinguir entre resul-
dem aos vários projetos e ativida- tados dil'etos e indiretos, segundo
des, desde aquêles de menor im- a urgência do efeito que se pro-
portância imediata até aos de cura obter. Num programa de
maior urgência. Tais prioridades contrôle da malária, por exemplo,
podem ser estabelecidas de acôr- os resultados diretos seriam a re-
do com: 1) a área, ou 2) a fun- dução do número de casos de ma-
ção, isto é, os projetos ou ativida- lária ativa; os resultados indire-
des. tos, por outro lado, poderiam ser
medidos, no mesmo caso, em têr-
B - Por que motivo há neces- mos de maior produtividade no
sidade de se estabelecerem priori- trabalho (por exemplo, mais fôr-
dades no planejamento? A expli- ça física, menos absenteísmo, maio-
cação é dada pelo fator de esca;- res poderes de concentração men-
sez e pelo fator op,eraciofldJ. tal por parte dos trabalhadores).
A consideração do fator de es- A preocupação máxima dos plane-
cassez nos levará a uma das ques· jadores são exatamente os efeitos
tões essenciais do planejamento: a indir,etos de seus planos: o resul-
que projetos e atividades dedica- tado total, final, a ser atingido é
remos nossos recursos disponíveis o desenvolvimento econômico da
em dinheiro, mão-de-obra e ma- região, que será conseguido atra-
téria-prima? Que combin"'ção de vés de uma variedade de efeitos
projetos e atividades, onde, quan- indiretos da ação planejada.
do e em que escala redundará em Uma decisão pode ser às vêzes
maiores resultados? Os resultados baseada inteiramente nos efeitos
das combinações de diferentes al- indiretos, projetados, de um certo
ternativas podem ser medidos, investimento de capital, mesmo

7 - Cad. Adm. Pública - "


82 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

que tais efeitos se descortinem mos distinguir a esh'ut1lra fun-


num futuro distante. Assim sen- óonal e a ,estrutura espacial.
do, pode-se tomar a decisão de
construir uma estrada de ferro ou A estmtura funcional diz res-
de rodagem com o fim de facilitar peito ao fato de que uma eco-
outros tipos de desenvolvimento. nomia regional eficaz compreen-
Pode-se dar o caso, entretanto, de de um todo funcioml, no qual as
não vir a estrada de ferro a ser partes componentes agem umas
utiliz1da em completa escala, se- sôbre as outras e, assim sendo,
não muitos anos após sua cons- sustentam, apóiam umas às outras.
trução. Em contexto mais limitado já tive-
mos oportunidade de discutir êsse
c- O planejamento regional mesmo problema, quando, ao dis-
procura criar uma base estrtlt1lral cutirmos o caso de uma indústria
a mais sólida possível para o de- de carnes e laticínios, quisemos
senvolvimento econômico. Isso se emprestar ênfase especial à uni-
liga muito de perto a nosso se- dade e à interação dos recursos ur-
gundo fator, o fator operacional, banos e agrícolas. Nesse exem-
que nos força a atribuir priorida- plo, o desenvolvimento da pecuá-
des às ações projetadas. O fator ria tinha diversos objetivos espe-
operacional se relaciO'na com o cíficos; 1) tornar a região menos
simples fato de que há geralmente dependente quanto a alimentos;
uma seqüência preferí-z,'el de ope- 2) melhorar o nível de nutrição
raçó,es, capaz de conduzir-nos a um le seus habitantes; 3) estimular
certo objetivo, e que essa seqüên- a industrializaçãO'; 4) aumentar o
cia deve refletir-se no próprio pla- nível da renda per capita. Desco-
no e no próprio orçamento. Seria brimos, também, que, ao planejar-
bastante original construir-se o te- mos êsse projeto, teríamos de se-
lhado antes de erguer as paredes. guir uma seqüência de operações
até certo ponto rígida, para que
Uma seqüência de operações nosso projeto pudesse ser bem su-
planejadas tem como objetivo cedido. O raciocínio em têrmos de
crin uma rêde de relações estru- planejamento também poderia ser
turais capaz de promover e esti- chamado raciocínio em têrmos de
mular o desenvolvimento econô- seqüência. Há, além dessa, con-
mico. Entre essas relações pode- 'udo, algumas regras gerais que é
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 83

possível pôr em prática. Cada pro- ria guiar, ao distribuirmos os re-


blema, é claro, terá sua solução cursos disponíveis entre diversas
especial. possibilidades concorrentes, é o
princípio da eficiência marginal:
Agora, no entanto, poderemos isto é, que devemos destinar di-
considerar não apenas os objetivos nheiro a cada projeto em propor-
do projeto de desenvolvimento da ções tais que, eventualmente, os
indústria de carnes e laticínios (em lucros provenientes de cada verba,
têrmos de suas conseqüências di- em particular, sejam iguais "à
retas), mas também a contribui- margem". Tal formulação é teori-
ção do projeto, c,om,o um todo, pa- camente válida, porém impossível
ra a conquista do desenvolvimen- de se levar a efeito na prática.
to econômico regional. O leitor Sugiro que se use, em seu lugar,
decerto não terá esquecido que de- aquilo que chamo de princípio da
finimos o progresso regional em segurança estrutural. Esse princí-
têrmos de renda real per capita. pio será talvez menos preciso que o
(Foi essa a nossa definição pre- da eficiência marginal; creio, po-
ferida; reconhecemos, contudo, a rém, que é mais exeqüível na prá-
possibilidade de outros critérios.) tica. A análise do planejamento
Se considerarmos que um aumen- pode auxiliar-nos a definir o que é
to na renda real per capita repre- e o que não é estruturalmente se-
senta a finalidade, a meta geral guro, tanto no caso da análise de
do planejamento regional, con- uma situação passada como no caso
cluiremos que o projeto para a de uma situação futura. Os princí-
pecuária contribuirá, direta e in- pios estruturais específicos são ti-
diretamente, de várias maneiras, rados de nossos alvos e objetivos e
para a conquista dêsse objetivo ge- de nossos conhecimentos gerais de
ral. :e, porém, muito menos evi- Economia, Geografia, Sociologia e
dente quando êsse projeto deverá Ecologia. Ao mesmo tempo, de-
ser levado a efeito; onde deverá vemos considerar a probabilidade
ser empreendido; eem que escala de s,obrevivência e de l'ecrud.esci·
deverá ser pôsto em prática. Ou- mento de quaisquer atividades ou
tros projetos intervirão, reclaman- projetos já iniciados. Até certo
do, em competição, os recursos ponto, a sobrevivência e o recru-
disponíveis. Dirão os economis- descimento constituem uma fun-
tas que o princípio que nos deve- ção da estrutura: a distribuição
84 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÜBLICA

apropriada das ações no tempo e tado atUlI de desenvolvimento da


no espaço. Bacia Amazônica:
Não somos capazes de decidir
de antemão qual deverá ser a se- a. pesquisa e levantamentos
qüência do desenvolvimento, seja b. educação
qual fôr o caso: saúde ou educa- c. saúde
ção, indústria ou agricultura, etc. d. transportes
Além disso, no planejamento de e. energia
projetos, devemos levar em con- f. desenvolvimento de institui-
sideração a simultaneidade das ções regionais básicas, como,
ações planejadas, e não apenas sua por exemplo, as instituições
seqüência no tempo. E, finalmen- de crédito e as organizações
te, o planejamento deveria ser cooperativas.
flexível a ponto de dar lugar a g. recursos urbanos, como ser-
oportunidades especiais que surgem viços de utilidade pública,
de tempos em tempos, como, por administração, etc.
exemplo, a descoberta de um gran-
de depósito de minérios. Quero frisar, contudo, que não
Ainda levando em conta tudo poderemos planejar nenhuma des-
isso, podemos aventurar-nos a sas áreas independentemente das
enunciar dois princípios gerais outras. E, no entanto, cada área
que deveriam orientar o planeja- tem de ser planejada em separado!
dor na elaboração de planos de Assim sendo, é preciso estabele-
desenvclvimento. cer um plano de pesquisas, um
plano de saúde, um plano de edu-
1 . Deve ser dada prioridade cação, etc. Esses planos indivi-
"A", em geral, aos projetos e ati- duais, entretanto, devem estar in-
vidades que apresentem maiores tegrados de tal maneira que re-
probabilidades de fortalecer a ba- presentem, em conjunto, um ata-
se econômica e social da região e que coordenado aos problemas da
de proporcionar os fundamentos região. (De que modo integrar
necessários aos desenvolvimentos êsses planos, será objeto de dis-
subseqüentes. cussão posterior.) Além de se in-
tegrarem entre si, êsses planos de-
Constituem exemplos de áreas \'erão ser depois coordenados com
de ação de alta prioridade, no es- todos os outros esquemas de de-
lNTRODUÇÃO AO PLANEJÀMENTO REGIONAL 85
senvolvimento que estejam sendo l~ntro para fora, a partir de cer-
levados a efeito na região, pelo tos centros, pouco numerosos.
menos os de certa importância. Concluo, eu mesmo, dêsse fato,
Mais uma vez o nosso exemplo que tais centros deveriam ser for-
da indústria de carnes e laticínios talecidos antes que tentemos al-
servirá para ilustrar êste ponto. cançar o interior. Areas isoladas
2 . Em têrmos de prioridades de desenvolvimento, difíceis de
espaciais, deverão ser atendidas, atingir, com pouco ou nenhum ca-
em primeiro lugar, falando de pital básico investido, têm muito
modo geral, aquelas áreas geográ- pouca oportunidade de sobreVIver
ficas onde as oportunidades de e de prosperar. Têm de ser liga-
rápido desenvolvimento econômi- das, ,estruturalmente, às cidades
co se mostrem maiores. maiores da região e às áreas que
Tais áreas, normalmente, serão circundam tais cidades. As áreas
aquelas que já se encontram em rurais e urbanas colonizadas já
estado de desenvolvimento maIs provaram sua supeJioridade rela-
adiantado que o resto da região, tiva, quanto ao desenvolvimento;
que apresentam concentrações de- o bom planejador saberá usar
mográficas e que se mostram fa- essas cidades como "pontos bási-
vorecidas de várias outras manei- cos" (ou, conforme já as chama-
ras. Observamos que, no passado, mos anteriormente, "posições-cha-
o desenvolvimento econômico tem ves") para a conquista do progres-
sempre tendido a espalhar-se de so regional.

XVII - MEDIÇÃO DO DESENVOLVIMENTO


ECONÔMICO REGIONAL
A - A pergunta para a qual da ação planejada e das transfor-
todo planejador regional gostaria mações econômicas que se regis-
de encontrar uma resposta é a tram na região é que se pode res-
seguinte: "O desenvolvimento eco- ponder a essa pergunta. A medi-
uômico que estamos conseguindo ção das transformações sociais e
está-se processando com a rapidez econômicas que têm lugar numa
desejada?". Somente através de região é uma das tarefa~ mais sig-
cuidadosa aferição dos resultados nificativas de uma organização
CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

planej adora. Sem a realização des- Poderíamos resumir e s s a s


sa tarefa, torna-se impossível o quatro utilizações principais do
planejamento. A coleta e a aná- processo de aferição em quatro
lise de dados referentes ao progres- palavras:
so regional não constitui apenas
uma parte do fundo geral de in- - PROVA
formações sôbre a região, permi-
tindo-lhe adaptar o que planeja à - JUSTIFICAÇÃO
situação real; a utilidade dessa - AVALIAÇÃO
coleta e dessa análise se manifesta
de várias outras maneiras: - REVISÃO

1. A medição dos resultados B - Podemos distinguir entre


é utilizada como a "prova" mais dois tipos de medição:
importante para avaliar as ativida- 1. Medição das transforma-
des da organização planejadora e ções gerais, sociais e econômicas,
das demais organizações que a que ocorrem na região; e
compõem ou que trabalham em
conjunto com ela. 2 . Medição da execução (re-
sultados da aplicação dos progra-
2 . A medição dos resultados mas).
serve para apoiar e justificar as
propostas orçamentárias sugeridas Ambos êsses tipos de medição
pela organização planejadora. ~ deveriam ser sempre levados a efei-
o principal meio com que conta to, pois se relacionam de maneira
a organização para prestar contas inevitável. Os programas executa-
de suas atividades. dos resultam em transformações na
região, através de uma relação de
3 . A medição dos resultados causalidade. Entretanto, devem
permite ao planejador avaliar o ser considerados em separado, por
progresso da execução do pr6prio grande número de razões. Em
plano. primeiro lugar, a relação de cau-
sa e efeito entre um programa de
4 . A medição dos resultados ação e o progresso regional rara-
é essencial ao processo de revisão mente é direta e imediata. Pode
de programas. dar-se o caso de ser o programa
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 87

um imenso sucesso, resultando, c - Problemas de Medição:


entretanto, num impacto relativa- (I) Desenvolvimento Econômico
mente pequeno sôbre a região co- Regional.
mo um todo - isso se utilizarmos
certos índices gerais de medição, Tal como vimos em nossa
como o critério do aumento de discussão do desenvolvimento re-
renda. Outras vêzes, o efeito po- gional, não há um índice único
derá ser grande, ocorrendo, con- que sirva para expressar, adequa-
tudo, somente muitos anos após damente, o significado do desen-
completado o projeto. Assim, por volvimento econômico. Assim, se
exemplo, leva-se quatro anos para desejamos medir a extensão em
completar um c u r s o primário que ocorreu o desenvolvimento
( educação); e sete anos para ser econômico numa região determi-
obtido um diploma de curso se- nada, temos de recorrer a diversos
cundário completo. Ha verá, con- índices de crescimento. A escolha
seqüentemente, um "atraso" de do índice apropriado é questão di-
quatro ou cinco anos entre a aber- fícil, e mesmo os chamados "es-
tura de uma nova escola e o pri- pecialistas" deixarão, muitas vêzes,
de concordar quanto ao significa-
meiro grupo de alunos a receber
do dêste ou daquele índice pro-
diplomas. Em segundo lugar,
posto. Todo índice deve confor-
transformações de caráter geral, mar-se a um certo número de
que ocorrem na região, poderão critérios, inclusive, 1) significação
ser devidas a outras influências social ou econômica em têrmos
que não a própria ação planejada: dos objetivos a serem atingidos;
uma alteração nos preços-teto mun- 2) simplicidade; 3) clareza; e, 4)
diais de um importante produto custo da obtenção dos dados bá-
agrícola regional, por exemplo, sicos com que aparelhar o índice.
poderá ter conseqüências muito Talvez seja necessário gastar mais
mais sérias para a região do que dinheiro com o preparo de uma
o que possa fazer a organização série estatística básica para o cál-
planejadora. Em t8fceiro lugar, culo da renda regional do que
cada modalidade de aferição en- com a determinação do nível exa-
contrará tipos diferentes de dados to de alfabetização. No caso de
estatísticos a serem utilizados para certos índices, será necessário obter
cada uma de suas finalidades. dados em base mensal ou anual;
88 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

em outros, será necessário obter calorias, calculada na base das


dados apenas de tantos em tan- vendas a varejo, em confron-
tos anos; ainda em outros casos, to com as estimativas das ca-
talvez baste obter dados por amos- lorias exigidas pelas condi-
tragem, em vez de relatórios pe- ções locais;
riódicos sistemáticos. b) Média de alimentos absorvi-
Os seguintes critérios foram ex- vi dos, em têrmos das neces-
traídos de um relatório das Na- sidades de proteínas em ge-
ções Unidas sôbre padrões de vi- ral, também calculada ao ní-
da, podendo servir de guia para vel das vendas a varejo;
ulterior discussão da matéria (3): c) Média de alimentos absorvi-
dos, em têrmos das necessi-
Saúde: dades de proteínas animais,
igualmente na base das ven-
a) probabilidade de sobrevivên- das a varejo.
cia ao nascer;
b) taxa de mortalidade infantil
(número de mortes de crian- Educação, inclusive aljabetiz<1ção e
ças de menos de um ano eJpecializações:
por mil nascimentos anuais);
c) taxa bruta de mortalidade a) Proporção de crianças entre
(mortes por mil pessoas, ca- cinco e catorze anos freqüen-
da ano); tando escolas;
d) número de leitos em hospi- b) Número de alunos, por pro-
tais, relativamente à popu- fessor, nas escolas primárias;
lação; c) Percentagem de alfabetiza-
e) número de médicos em rela- dos, na população de quinze
ção à população. anos e mais (total e por
sexo) ;
Alimentação: d) Proporção de indivíduos aci-
ma de vinte e cinco anos que
a) Média de alimentos absorvi- continuam a freqüentar esco-
dos, na região, em têrmos de las (total e por sexo);

(3) Organização das Nações Unidas, «Report on International Definition


and Measurement of Standards and Levels of Living», New York, 1954.
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 89

c) Número de exemplares de d) Proporção de desempregados


jornais em circulação, para e da população ativa;
cada mil habitantes. e) Distribuição proporcional da
população econômicamente
Condições c!fJ TrabaJho: ativa por "status", isto é:
empregadores, empregados,
a) Horas de trabalho por sema- trabalhadores por conta pró-
na; pria e trabalhadores domés-
b) Salários semanais dos traba- ticos não remunerados.
lhadores da indústria; f) Distribuição proporcional da
c) Salários reais dos trabalhado. população econômicamente
res da indústria; ativa pelas principais catego-
d) Horas de trabalho normais rias industriais e ocupacio-
por semana, exigidas por lei nais.
ou por acôrdos mútuos en-
tre trabalhadores e patrões; Relação entre Consumo e Pou-
e) Número de feriados pagos, pança (adaptada de um rela-
por ano, na indústria; tório das Nações Unidas):
f) Idade mínima, abaixo da qual
os cidadãos não podem legal- a) renda total regional, de acôr-
mente empregar-se. do com as fontes;
b) renda por pessoa;
Emprêgoe Desemprêgo: c) renda por família;
d) proporção da renda familiar
~.) Proporção, por sexo, dos ha- despendida em alimentação,
bitantes "econômicamente ati- roupa e habitação;
vos" em relação à população e) investimento e poupança por
total; pessoa;
b) Proporção de pessoas meno- f) investimento e poupança co-
res de vinte anos, em rela- mo proporção da renda total
ção à população econômica- regional.
mente ativa;
C) Proporção de pessoas de 65 lndic,es gerais
anos ou mais, relativamente
à população econômicamentc a) área cultivada por unidade
ativa; de cem mil habitantes;
90 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO púBLICA

b) produtividade por hectare quando tal se fizer necessário. IsSCI


dos produtos principais; se mostra especialmente importan-
c) produção de gêneros alimen- te no caso da Bacia Amazônica,
tícios, expressa em calorias, onde o desenvolvimento é extre-
por habitante ocupado na mamente desigual, do ponto de
agricultura; vista geográfico, e onde os limi-
d) produção de energi.a elétrica tes administrativos da S.P.V.E.A.
por unidade de cem mil ha- passam por cima ou ao largo dos
bitantes. limites estaduais. Além disso, já
existem agentes do I.B.G.E. em
Para falar francamente, não estou todos os municípios, o que muito
de acôrdo quanto à utilidade de nos poderá auxiliar na coleta e
alguns dêsses índices para uma compilação inicial dos dados es-
organização de planejamento: gos- tatísticos no nível local.
taria de aduzir alguns outros que Seria interessante abordar ago-
não constam dessa lista; espero, ra, ainda que por alto, alguns dos
entretanto, que o leitor encontre problemas que os planejadores ge-
nela estímulo para estudos mais ralmente enfrentam na avaliação
profundos. dos dados que obtêm. Há vários
Tanto quanto possível, os da- tipos de comparações que podem
dos principais para a obtenção de ser feitas. Vejamos algumas:
índices de crescimento econômico
deveriam ser colhidos em bases 1. Dentro da região:
municipais. São os municípios, em
geral, as menores áreas nas quais a) entre as sub-regiões;
se torna prático obter estatístIcas
minuciosas, embora possa haver b) transformação proporcional,
exceções, é claro. Por que sugiro tendo como base um ano de-
eu o município para essa finalI- terminado.
dade?
Exatamente por ser unidade re- ~. Entre as dife1'ent,es regiões
lativamente diminuta, com limites do País ,e ,em comparação com a
estáveis, podendo ser utilizados em média nacional:
diversas combinações com outros
municípios, <ie maneira a con~e­ a) transformação proporcional,
guirmos resumos sub-regionaIs, tendo como base um ano es-
lNTRODUÇÀO AO PtANEJAMENTO REGIONAL 91

colhido para cada região e 20%. (E no entanto, se nOS50


para o país como um todo; vizinho tivesse duplicado sua prú·
dução, teria produzido dois mil
b) a região como parte propor- quilos, enquanto nós nos teríamo~
cional da média nacional. de contentar, mesmo que também
dobrássemos a nossa, com ape-
Surgem logo, entretanto, mui- nas 200 quilos, ou seja, exatamen-
tos problemas de interpretação de te dez por cento da produção de
dados. Há, por exemplo, o pro- nosso vizinho!) Como se vê,
blema do ponto de partida ini- não há solução definitiva paLe
cial demasiado baixo para permi- êsse problema, como, aliás, sucede.:
tir comparações. Suponhamos que com muitos outros problemas de
temos cem quilos de mangas em Estatística. Limito-me a mencio-
nosso quintal. Após intensos es- ná-lo, e simplesmente com o ob-
forços, conseguimos aumentar nos- jetivo de chamar a atenção do leI-
sa colheita particular de mangas tor para algumas das dificuldades
para duzentos quilos: eis um au- encontradas pelos planejadores,
mento de 100% que nos dará quando lidam com estatísticas: não
enorme satisfação. Nosso vizi- há dúvida de que a tarefa de afe-
nho, contudo, dono de um quin- rição é da competência de peri-
tal maior e que vem cultivando tos ...
mangueiras há mais tempo que Na análise de renda, há ainda
n6s, começa com mil quilos de outros problemas especiais a. en-
mangas que, depois de certo tem- frentar, como a inflação, as dife-
po, aumentam para mil e duzentos renças entre médias de custos de
quilos. Para êle, trata-se de um vida, de região a região - dife-
aumento de apenas 20%. Eis a renças essas, devidas a várias cau-
questão: como julgar os dois re- sas - para não falar em par-
sultados? Em têrmos absolutos, ticularidades, como "renda putati-
nosso vizinhho conseguiu um au- va", têrmo usado pelos economis-
mento duas vêzes maior que o tas para designar fenômenos co-
nosso: duzentos contra cem qui- mo, p. ex., a suposta renda que
los de aumento. Mas em têrmos os agricultores obtêm dos alimen-
propvrcionais, considerada unu tos que êles mesmos produzem e
base dada, nosso aumento foi mw- consomem, ou, para dar outro
to mais substancial: 100% contra exemplo, o caso do aluguel atri-
92 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

buído, (imputado) aos que ha- certo modo, diferente do proble-


bitam em casa própria. Não é ma de avaliar o progresso de uma
demais frisar que quaisquer índi- região, ou o seu desenvolvimento
ces escolhidos apresentariam difi- econômico. Na análise de progra-
culdades semelhantes. ma~, o (iLle desejamos descobrir é
Essa discussão superficial de em que grau de excelência os pro-
problemas tão complexos terá sel- gramas e projetos estão sendú
vido pelo menos para colocar o executados: isto é, estamos inte-
leitor a par do fato de que aquilo ressados nos efeitos diretos das
que venho chamando de "análIse atividades programadas. Entretan-
regional" deve ser trabalho pr6- to, estamos também interess3dos
prio de peritos: economistas, so·· em saber se nossos projetos, à me-
ci6logos, estatísticos. Seria de boa dida que vão sendo executados,
política, falando de modo geral, nos estão, ou não, levando ao~
reunir em equipe especial um gru- objetivos que tínhamos em mira
po de tais peritos dentro da ao projetá-los; quer dizel, esta-
organização planejadora. A unida- mos também interessados nos efei-
de poderia ser chamada, digamo~, tos indiretos das atividades pro-
"Divisão de Análise Regional", ou gramadas.
"de Estudos Regionais", sendo sua Em outras palavras, estamos in-
tarefa precípua reunir dados bási- teressados tanto no aspecto físico,
cos, analisá-los e preparar relató- material, dos projetos executados,
rios periódicos que fôssem infor- ou das atividades em andamento,
mando a Comissão de Planejamen- como nos resultados de tais pro-
to, bem como o ramo executivo da jetos e atividades, na medida da
organização planejadora, do que contribuição de uns e outros para
foi feito e se está fazendo, ocor- a consecução de nossos objetivos.
reu e está ocorrendo. Vejamos alguns exemplos.

D - Problemas de Aferiçã<J Sist,ema de abastecimento de água

(11): Padrão de Execução Um dos objetivos da S.P.V.E.A.


é prover as comunidades regionais
Conforme tenho frisado, o pro- de bem projetados sistemas de
blema de avaliar as realizações de abastecimento de água e cuja en-
um programa em execução é, de genharia garanta-lhes bom funcio-
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 93

namento. Analisando êsse progra- hção de 1.000 habitantes: Custo


ma teríamos de considerar: Total: Cr$ 3.000.000,00. Tôdas
as vêzes que um desvio dêsse pa-
1. Seus efeitos diretos: núme- drão se mostrasse necessário, se-
ro de sistemas de abastecimento riam exigidas minuciosas explin-
de água instalados ou, para dar ções. Um padrão semelhante po-
um índice melhor, o número de deria ser estabelecido para o fun-
habitantes servidos por um siste- cicnamento e a manutenção.
ma central de abastecimento de
água. (Aliás, o têrmo "sistema d: Educação
abastecimento de água" exige, aqUi,
cuidadosa definição); Um dos objetivos mais impor-
tantes da análise de programas é
2. Seus efeitos indiretos: ês- comparar a realização verificada
ses efeitos, em nosso caso, seriam com a realização projetada, isto
classificados em dU2,s categorias: é, com a nossa meta ou nosso
objetivo. Três critérios teriam,
a. Funcionamento e manuten- aqui, de ser empregados: 1) quan-
çãu contínuos do sistema. (o que tidade do serviço ou do benefkio;
exigirá inspeções periódicas); 2) localização do serviço ou do
benefício; e, 3) período de tem-
b. Efeitos indiretos sôbre .1 po dentro do qual o serviço ou
saúde e o saneamento, resultantes benefício deveria ser realizado.
d'i melhora conseguida no abaste- Assim, uma meta educacional po-
cimento de água (o que exigirá deria ser estabelecida da seguinte
cuidadosas pesquisas médicas). maneira:
Além disso, seria talvez neces-
s~hio estabelecer um padrão de efi-
"Freqüência às escolas pri-
ciência para o custo do projet.o,
márias nas sub-regiões A e B,
instalação e funcionamento dos SIS-
ao nível de 80% da população
temas de abastecimento de água,
isso por meio de uma avaliação elegível em 1960; nas sub-re-
cuidadosa àos custos. Por exem- giões C e D, ao nível de 60%
plo: "Projeto e i~stalação de, um da população elegível; e ao ní-
sistema de abasteCImento de agua vel de 40%, nas demais r~'­
30 Tipo A, pau servir uma popu- giões".
94 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PlJBLICA

Para fixar de maneira mais con- guisse atingir, por exemplo, o nú-
creta a meta referida, os padrões mero de salas de aula, de profes-
de funcionamento ou de realiza- sôres, etc., na data preestabeleci-
~ãío poderiam ser estabelecidos da, seria o caso de, ou reajustar o
de modo a decidir que número programa, ou reajustar a meta de
de professôres deverá haver, em maneira mais realista. A escolha
1960, para cada 100 estudantes; o
entre êsses dois caminhos seria
número de salas de aula para cada
feita de acôrdo com as caracterís-
100 alunos; e assim por diante.
ticas peculiares a cada caso e com
O progresso que fôsse sendo con-
seguido no programa educacional as dificuldades especiais encontra-
seria comparado com êsse conjun- das. O gráfico seguinte poderá
to de padrões e de metas. Tôda ilustrar parte do que tenho pro-
vez que o programa não conse- curado explicar:

200 PA.DRÃO: uma 5~ICI de aula para cada " PLANO


~
y
....
::>
30 alunos do cuno prlm6rlo
~ nas subre9iõe~ liA" • "8".
w
Q

'"S
~
c.n
w
Q 100 Z
O
'"w
:!: REALIZAÇÃO VERIFICADA
';:)
(I
Z

1955 1956 1957 19sa i959 1960 1961

A realização verificada não se de apressar o programa, de ma-


processa na medida da realização neira a atingir as metas preesta-
projetada. Os pontos críticos apa- belecidas para a construção de sa-
recem em a, b e c; a cada um dês- las de aula. Como isso não foi
ses pontos, consideração especial feito, o que se verificou foi um
deveria ser prestada, com o fito hiato cada vez maior entre plano
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 95

e execução. Ao ponto c deveria aproximava dêsse ano, menos rea-


ter ficado patente que ou o pró- lista se apresentava, pois não pas-
prio plano deveria ser revisto, ou sava, provàvelmente, de uma sim-
o padrão de execução ( uma sala
ples projeção da linha x-y. En-
de aula para cada 30 alunos), ou
ambos. Como o plano fôra pro- tretanto, a projeção de planos 110
jetado para além de 1961, à me- futuro deve levarem consid,eração
dida que a realização verificada se a realização verificada.

XVIII - INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS AO


PLANEJAMENTO REGIONAL
A - A coleta e a análise de caráter geral (ou, como podería-
informações relevantes é uma da~ mo" chamar-lhe: fundo geral de
funções principais de qualquer 01- informação para o planejamento
ganização de planejamento regio- regional) e a informação especí-
n3.l. Nenhum planejamento digno fica, exigida pelo planejamentú de
dêssc nome pode ser feito sem a projetos minuciosos. Neste capí-
boa informação: quanto melhor tulo, interessar-nos-á apenas o fun,
fôr a informação, quanto mais há- do geral de informação: deixare·,
bil a análise, tanto melhor será o mos à imaginação do leitor as ne-
planejamento. A pesquisa para cessidades de informação apresen-
fins de planejamento é diferente tadas pelo planejamento de proje-
da pesquisa para fins de ciência tos, o que, naturalmente, depen-
pura, por isso mesmo que se tra- derá do tipG de projeto que se vai
t .. de pesquisa aplicada à solução empreender.
de problemas específicos. Em ou- Tôda organização planejadora
lra, palavras, êsse tipo de pes- deveria contar com uma equipe
ciuisa procura coligir dados extraí- independente de pesquisadores, li-
dos de muitos campos de infor- gada à Comissão de Planejamento,
nuç;;o diferentes, os qUlis servi- ou atuando como divisão indepen-
rão ao planejador na formulação dente, como parte do "estado-
da estratégia e das táticas do pla- maior" do ramo executivo, mas
no. que, de qualquer maneira, possa
Com referência a isso, devemo~ fornecer à organização inteira um
distinguir entre a infornução de quadro geral, de âmbito regional,
96 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

das transformações sociais e eco- quisas e um plano de ação. esta-


nômicas registradas no passado, ou belecendo-se as priorid2des de
passíveis de se verificarem no fu- acôrdo com o princípio da m1ior
turo. A informação serve para utilidade, tendo em vista as deci-
coordenar ,o trabalho de uma ,orga- sões a serem tomadas. êsse fato
nização planejadora, mediante ,o vem mais uma vez emprestar ên-
estabelecimento de uma bas,e co- fase especial à necessidade de uma
mum de premissas, ou suposições, equipe especializada em pesquisa,
e de pontos de referência, b,ase .essa equipe que, devido a sua posição
na qual se apóiam tôdas as divisõ,es estratégica dentro da organização
da organização. Dêsse modo é re- planejadora, estará especialmente
duzido a um mínimo o perigo de habilitada a estabelecer um pro-
serem consideradas premissas con- grama que vá de encontro às ne-
traditórias, inexatas ou não com- cessidades da organização, dentro
provadas. A equipe de pesquisa- das limitações opostas pelos recur-
dores deverá estar também capa- sos financeiros e técnicos de que
citada a coordenar os pedidos de esta dispõe.
informações anteriores às reuniões A coleta e a análise de dados
regulamentares da Comissão de estatísticos é matéria altamente téc-
Planejamento, de modo que cada nica e especializada. Problema dos
membro dessa Comissão se apre- mais difíceis é decidir quanto aos
sente perfeitamente informado das meios de obter informação acura-
condições reais que cercam o as- da. Em planejamento, necessita-
sunto a discutir em cada reunião. mos geralmente de informações as
Pesquisa custa dinheiro e toma mais atualizadas, porém informa-
tempo. Ambos êsses preciosos re- ção verdadeiramente em dia é coisa
cursos são limitados e não pode- que quase nunca está à nossa dis-
mos esperar nunca contar com posição. Há sempre um hiato, de
tôda a informação de que necessi- maior ou menor extensão, entre o
tamos para bem planejar. Assim verdadeiro acontecimento e o seu
sendo, devemos procurar conse- registro, de um lado, e, de outro
guir um equilíbrio entre pesquisa lado, a análise completa do dado
e ação. Concentrar recursos em registrado. No caso de dados de
uma delas, com prejuízo da outra, recenseamento, podem decorrer
é tornar impossível o planejamen- muitos anos antes que a informa-
to. Deve haver um plalNJ de pes- ção contida no recenseamento se
INTRODUÇÃO AO PLANE]AMENTO REGIONAL 97

torne disponível de maneira prá- formações estruturais dl economia


tica. Algumas vêzes pode-se su- rerjonal, bem como adaptar nosso
prir êsse hiato por meio de esti- planejamento a essas mesma, hel!-
mativas; noutras ocasiões, um sis- ciêncl1s. Consideremos um exel11-
tema contínuo de relatórios pode pLl.
ser estabelecido, para manter em Suponhamos que desejamos tra-
dia certas séries estatísticas essen- çar um plano educacional. Que
ciais. Nos casos em que não se projeções necessitaríamos fazer
dispõe de um sistema dessa natu- para podermos bem planejar, de
reza, torna-se necessário fazer le- modo a ir de encontro a conti-
vantamentos especiais, muitas vê- gências futuras e a atingir nossos
zes fazendo uso de técnicas de objetivos?
amostragem para que se possam
obter as informações necessárias. 1. Necessidades potencial!.
Além das informações sôbre o
passado, os planejadores necessi- a. População, agrupada por ida-
tam de cuidadosa avaliação do fu- de e por sexo;
turo. As projeções são parte es- b. Distribuição por área, da po-
sencial do processo de planejamen- pulação em idade escolar;
t.o. Os planejadores têm neces- c. número de peritos vocacio-
sidade de saber como, aproxima- naís e profissionais necessá-
damente, se apresentará certa si- nos.
tuação futura, partindo da premis-
sa de que nenhum planejamento 2. Recursos disp,onível.r:
modificará as tendências projeta-
das. O comprimento mínimo das a. Professôres, classificados se-
projeções é o período de tempo gundo especialização e trei-
do próprio plano (no caso da namento;
S . P . V . E . A., teríamos um perío- b. Salas de aula e equipamento
do de cinco anos). Muitas vêzes, escolar, classificados de acôr-
no entanto, é melhor tomar como do com o tipo, qualidade e
base um período mais longo, di- localização.
gamos de 10 a 25 anos, para o
qual fazer projeções de variá.veis Essas cinco projeções básicas ha-
básicas. Isso nos permitirá estudar bilitarão o planejador a determi-
as tendências principais e as tran~- nar as necessidades potenciais da
CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PlJBLlCA

região que tem em mente, no Quero frisar, entretanto, que não


campo da educação: quantas es- prltendo, de modo algum, esgo-
colas construir, se se deve dar tar a lista de possíveis informa-
mais importância ao treinamento çoes, nem qmnto ao que chamo
profissional e vocacional ou ao fundo geral de informações, nem
ensino primário e secundário, até no caso de projetos específicos.
que ponto ampliar as instituições Feitas essas importantes restrições,
de treinamento de professôres, e continuemos.
em que regiões principais concen-
trar os maiores esforços. Projeções INFORMAÇOES GERAIS PARA
semelhantes tornar-se-ão necessá- O PLANEJAMENTO
rias em outros campos do esfôrço REGIONAL
planejador. Em outro capítulu,
trataremos de todo êsse problema
1. Características físicas
de projeções; aqui pretendo ape-
nas acentuar o fato de que fazer
a. Clima, dando-se especial
projeções é função integral da co-
atençã<> aos micro-c1ima5;
leta de dados e da pesquisa neces-
sárias a uma organização planeja- b. Topografia (mapas per-
dora. menorizados) ;

B - Vejamos agora, de manei- c. Geologia (mapas pormeno-


ra breve, uma lista das principais rizados e explicações);
categorias de informação de que d. Tipos de solo e estrutura
necessita o planejamento regional. dos solos (mapas pormenorizado~
Não descerei a muitas minúcias, ~ explicações);
nem indicarei as prioridades a se-
rem estabelecidas entre os diver- e. Utilização da terra nas con-
sos dados. Além disso, não espe- dições existentes (mapa);
cificarei se a informação deverá
f. Tipos de floresta: volume,
ser coligida de uma vez ou em
ocorrência, ecologia, atuais utili-
base continuada, nem qual será o
zações comerciais, acessibilidade;
melhor meio de obter a informa-
ção. Sugiro que o leitor procure g. Recursos mineraÍ!,: loeah.
decidir essas questões por si mes- zação, tipo, qualidade, volume,
mo, numa espécie de exercício. utilização comercial, etc. ;
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 99

h. Caça e pesca: tipos, ocor· área; total e per capita; poupança


rência, ecologia, utilização comer- e investimentos;
cial, volume, etc.; b. Emprêgo, por tipos e por
localização;
i. Características do carrega.
mento de água. C. Salários médios, por ocupa-
ção e por indústria;
2. Características sociais d. Agricultura: tipos, produti-
vidade, técnica utilizada, mercados,
a. População: número, idade, etc.;
sexo, urbana, rural, correntes mio e. Indústria Extrativa Flores-
gratórias, taxas de mscimento e tal: tipos, produtividade, técnicas
mortalidade, educação, etc.; utilizadas, mercados, etc.;
f. Mineração: tipos, produti-
b. Estrutura familiar e social,
vidade, técnicas utilizadls, merca-
classificada por tipos principais,
dos, etc.;
entre os qUlis, por exemplo: rural,
urbana e de transição; g. Indústria fabril: tipos, pro-
<1utividade, t é c n i c a s utilizadas,
C. Crenças e valores predomi-
mercados, etc.;
nantes, segundo os diferentes ti-
h. Exportações e importações
pos sociais;
regionais: babnça de pagamentos
d. Características do nível mé- (egional;
dio de vida das famílias, segundo
i. Energia elétrica: tipos, pro-
os diversos tipos sociais: renda,
dutividade, técnicas utilizadas, mer-
nutrição, roupa, habitação, slÍIde,
cados, etc:;
.educação, recreação, vida social,
j. Transportes: tipos, capaci-
etc.;
dacie, técnicas utilizadas, eficiência,
e. Instituições sociais, econô- etc.
micas e políticas: tipos, número.
influência, recursos, funções, efi- 4. Projeções básicas
ciência, etc.
a. População: número, distri-
3. Características Econômicas bUlção, idade, sexo, correntes mi-
gratórias, etc.;
a. Dados estatísticos sôbre a b. Emprêgo, por tipos de in-
renda regional, por fonte e por dústria, de agricultura, de indús-
leJ CADERr--:OS DE ADMINISTRAÇÃO PüBLICA

tria extrativa florestal, d:: minera- e. Comércio inter-regional;


ção, serviços, etc., b:.:m como por f. Preços;
sexo e por localização;
c. Classificação dos solos por g. Técnicls novas e suas con-
cap2.cidade; seqüênci.1s econômicas e sociais;
d. Características do padrão por exemplo: energia atômica, fo-
de vida de: uma f2.mília média; tossÍntese.

XIX -- A PREVISÃO NO PLANEJAMENTO

A -- llste capítulo tratará de jeção é um.l simples previsão do


algum dos principais problemls e que vai ocorrer em certo tempo
técnicas em que implica a elabo- futuro, com !tmel diferença: cada
ração de projeções para fins de projeção traz consigo uma decla-
planejamento. Saber f:zer essas ração da pmbabilidade do aconte-
projeções é uma das mais im!'Or- cimento previsto. Essa probabili-
tantes habilidades de um planeja- dade será alta ou baixa? Podemos
dor. Como o planejador vive cêr- imaginar uma "escala de probabi-
ca de dois terços de seu tempo lidades" mais ou menos como
no futuro, tôda sua atividade se esta:
dirige rumo à realiz1ção do tipo
de futuro que tem em mente, e ESCALA DE
de m:>.neira a fazer com que ess'j. PROBABILIDADES
concepção do futuro desejado exet-
Quase certo ........... 1
ça papel importante na tomada de
Muito provável ........ 2
decisões, no presente.
Provável .............. 3
As projeções não passam de
Possível ............... 4
dedaMções de probabilidade a re3- Incerto ............... 5
peito do futuro. Se digo: "Ama-
Pouco provável ........ 6
flhâ vai chover", estou fazendo a
Improvável ............ 7
projeção de uma experiência pas-
Muito improvável ....... 8
sada sôbre um tempo futuro e, se
Quase impossível ....... 9
preferir ser mais e;'ato, direi me-
lhor: ".e. muito provável qur. Cada pro)eçao gue fazemos de-
ln,anhã chova". Assim, uma pro- ve ser avaliada de acôrdo com
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 101

uma escala semelhante. No en- py,emissa II


tanto, ao fazermos uma projeçao,
geralmente obtemos mais de um Taxa alta de nascimentos
~!.1ior Há pelo menos duas boas Taxa alta de mortalidade
razões para tanto: primeiro, por- Baixa imigração líquida
que, via de regra, a incerteza em
tôrno de um aconteClmento au- Esses dois conjuntos de premis-
t:1enu cada vez mais quanto mais sas, ou seja, de suposições, resul-
LmgÍrquo é o futuro que proJe- tarão em dois valores extremos em
tdmos, e, segundo, porque, ao fa- nossa projeção final ou, como tam-
zermos projeções, temos tamb~n, bém poderíamos chamá-la, em nos-
de estabelecer certas premissas, nas sa escala de projeções. Quanto
quais se baseie a projeção, e, ge- mais longe no futuro projetarmos
ralmente, teremos mais de um con- a população, maior será essa es-
junto de premissas. cala, e menor, ao mesmo tempo,
a probabilidade de cada um dos
Nas projeções demográficas, pOl valores. dentro da escala, conside-
exemplo, temos três variáveis bá- rado isoladamente. A razão disso
sicas que influem na população to- é que os fatôres que influem nas
tal: a taxa de nascimento, a taxa taxas de nascimento e de morta-
de mortalidade e a migração. Ca- lidade, e a migração - como a
da um~ dessas variáveis tem pri- saúde, a educação, a urbanização,
meinmente de ser projetada em a política do govêrno quanto ao
separado, pois nosso conhecimen- contrôle da natalidade, as desco-
to sôbre cada uma delas é, em bertas da medicina, as oportunida-
g(ral, apenas aproximado e somo~, des econômicas, etc. - tornam-se
por isso, obrigados a fazer, tam- cada vez mais difíceis de predizer,
bém sôbre elas, premissas alterna- à medida que nos afastamos da
tivas. Assim sendo: situação presente rumo da situação
futura.
Premissa I Digamos, agora, que obtlvemo~
uma escala de valores de nossa
projeção demográfica, e digamos,
Taxa alta de nascimentos outrossim, que essa escala vaI de
Taxa baixa de mortalidade 2,5 milhões a 3,2 milhões em
Alta imigração líquida 1965. Dentro dessa escala, será
102 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

muitas vêzes possível selecionar ano que vem, poderemos respon-


um único tlalor "ótimo" que apre- der: "será na ordem (de magni-
sentará maior probabilidade que tude) de 1,5 bilhões de cruzeiros.
qualquer outro valor. Assim: A pessoa que nos faz a pergunta
compreenderá decerto que o que
(milhões) queremos dizer é um bilhão e
2,5 improvável meio, mais ou menos 25% - ou
2,7 possível seja, uma escala entre 1,1 e 1,9 bi-
2,9 provável lhões. Em planejamento temos
3,1 possível freqüentemente de lidar com or-
:\,3 improvável dens de magnitude, por isso mes-
mo que nosso conhecimento é de-
Ao examinarmos êsse quadro, ficiente e incompleto.
poderemos desde logo reduzir a Por vêzes, infelizmente, não
escala de valores etetiva para L,Y seremos capazes de atribuir dife-
milhões mais ou menos 0,2 mi- rentes probabilidades aos diversos
lhões e, mais ainda, pDderemos valores dentro de nossa escala.
escolher um único valor "ótimo", Por exemplo:
ou seja, 2,9 milhões.
As projeções demográficas são (milhões)
tarefas hásicas para o estabeleci- 2,5 pDssível
mento dos requisitos do planeja- 2,7 pDssível
mento, nos casos de alimentos. em- 2,9 possível
pl'tgos, etc., dentro de uma re- 3,1 pDssível
giáo. Assim sendo, podemos de- 3,3 possível
cidir para maior segurança de no~­
so planejamento, fazer outros Todos êsses valores, diremos
cálculos na base dos três valores nós, entre 2,5 e 3,3 milhões, fi-
mais prováveis: 2,7, 2,9 e 3,1 mi- cam dentro da área, ou da escala,
lhões. Essa escala também pode de possibilid.::de. Ainda noutros
ser chamada a "ordem de magnI- casos, a escala de possibilidades
tude" da projeção. Uma ordem poderá ser extremamente vasta
de magnitude representa apenas (por exemplo, entre 0,5 e 5,0
uma aproximação de valor. As- milhões) ou, para mencionar uma
sim, se nos perguntarem qual será terceira possibilidade, a probabi-
o orçamento da SPVEA para o lidade de realizar-se qualquer va-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 103

lor dentro de nossa escala pode poderemos ado!,ctr no futur,o. As-


ser extremamente pequena. Poris- sim agindo, deixaremos margem
so, todos os nossos valores, entre para a possibilidade de êrro, mau
2,5 e 3,3 milhões podem receber julgamento e maus cálculos em
como sua probabilidade um "pou- nosso planejamento. E como que
co provável" - e ainda assim manter "em reserva" certas alter-
permanecerem as melhores estima- nativas.
tivas ao nosso alcance. Permitam-me um exemplo. No
Numa situação dessa natureza, princípio da década de 1930, uma
nós, como planejadores, teremos das maiores pontes suspensas do
diante de nós diversos cursos de mundo foi construída em São Fran.
ação alternativos: cisco da Califórnia, Estados Uni-
dos: a ponte do Golden Gate. Fo-
1 . Podemos adiar qualquer ram feitos cálculos sôbre o pro-
compromisso definitivo até o dia vável tráfego que essa ponte teria
em que a situação se aclare, quan- de suportar, sendo êsses cálculos
do, então poderemos fazer uma usados como base do projeto.
projeção mais precisa ou mais pro- Quando, após diversos anos, a pon-
vável, a partir da qual efetuar nos- te foi enfim terminada e aberta
so planejamento; ao público, descobriram os enge-
2 . Ou podemos tentar basear nheiros, para desgôsto dêles, que
nosse. planejamento numa proje- o tráfego que procurava atravessar
ção de menor escala - por exem- a ponte, diàriamente, excedia, de
pIo: para um ano só, em vez de muito, mesmo as estimativas mais
cinco - se é que a menur escala otimistas que tinham feito. De
de projeção se mostra capaz de certo modo, a ponte se tinha tor-
nos fornecer valores mais bem nado obsoleta antes mesmo de es-
projttados; tar terminada! Se tivesse de dar
3 . Ou podemos fazer nosso conta de todo o tráfego, seria ne-
planejamento o mais flexível pos- cessário construir outra ponte; o
sível. que, naturalmente, não foi feito,
Esta última alternativa necessi- devido às altas despesas exigidas,
b. de ser mais bem explícita. Po- sendo adotada outra solução que
demos dizer, por exemplo, que não as pontes. Mas o que pode-
flexibilidade, aqui, significa dei- riam ter feito os engenheiros e
xarem aberto as alternativas que planejadores da Ponte do Golden
104 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Gaf,(; para evitar essa dificuldade? 2. Modêlo Hipotético. Um


De que mlneira poderiam ter fei- "modêlo hipotético'~ é uma des-
to seus planos mais flexíveis, para crição artificial de uma situação
dar margem à possibilidade de um total. Sms características são que:
tráfego acima de suas expectativas? é quantificado e é interiormente
Não conheço grande coisa de cons- consistente, quanto a suas partes.
trução de pontes, porém creio que Reside nus modelos o grau má-
teria sido possível, a um custo não ximo de aproximação que os pia-
muito grande, projetar a ponte de nejadores podem atingir, em C0111-
tal mJneira a permitir a constru- paração com as experiências con·
ção de uma segunda pista, aeima troladas, feitas en1 laboratônu~.
ou ablixo da que acabou sendo Vejamos agora um exemplo de
construída - isso mais tarde, se cada um dos dois tipos de pro-
se tornasse necessário. O custo jeçau, mostrando de que maneira
dessa construção adicional teria podem ambos ser construído~.
sido provàvelmcnte muito menor
que construir tôdl uma nova pon- Exemplo: Proj,eção de uma
te, gêmea da existente. Série Cwnológ1fd
B - Acabamos de discutir, por
alto, alguns dos princípios gerais O tipo ma1S usado dessas pro-
da elaboração de projeções. Nas jec,Oes é o que se refere au cresci-
duas próximas secções, daremos n1ento demográfico. Como afir-
exemplos, distinguindo entre dois mei anteriormente, a análise de
ti pos básicos: dados demográficos constitui base
1. Projeção de séries cronoló- de quase tôdas as atividades de
gicas. Uma "série cronológica" é planejamento e, sendo assim, tôda
uma série estatística cobrindo um organização planejadora devena
certo período de anos, como a se- ter em seu "estado-maior" um de-
guinte: mógrafo competente, ou seja, un1
An.o milhões bom analista demográfico. As pro-
1900 1,2 jeções populacionais são de extre-
1919 1,3 ma complexidade e dificuldade e
1920 1,5 mesmo as projeções mais bem feio
1930 1,4 tas raramente fornecem valores de
1940 1,5 alta probabilidade. Sej a como fôr,
1950 1,9 entretanto, os planejadores preei-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 105

sam fazer projeções demográfica~, a. A região amazônica como


pois uma conjetura, o pior que se- percentagem do Brasil;
ja, é sempne melbor qu.e n,enhuma
conjetura. b. O Pará como percentagem da
A explicação que passo a dar região amazônica e como per-
centagem do Brasil;
sôbre as projeções populaciunais
tratará de dois métodos muito sim- c. Belém como percentagem do
ples, cuja utilidade principal será Pará, da região amazônica e
a de ilustrar a técnica em tela. do Brasil.
Não tenho a ambição, é claro, de
formar demógrafos competentes 3. Analisar cuidadosamente
com apenas um capítulo dêste essas proporções, de maneira a
curso. verificar quaisquer tendências per-
sistentes nas transformações relati-
Método A: Método Frop.orcional vas das populações das diversas
áreas. Estudar as razões dessas
O método proporcional é dos transformações: há grande proba-
mais simples, para todos os usos bilidade de não serem de grande
e, em certas condições, pode dar monta as transformações registra-
bons resultados. Baseia-se na pre- das.
missa de que a soma das partes é
igual ao todo. Assim, se quiser- 4 Estimar as probabiblidades
mos projetar a população de Be- de diminuir, aumentar, ou conti-
lém, agiremos da seguinte manei- nuarem as mesmas, as tendências
ra: nas transformações estruturais, de
1 . Obter uma série cronológi-
área para área; atribuir um valor
ca da população do Brasil, da Re- numérico específico à taxa de au-
gião Amazônica, do Pará e de mento ou de decréscimo de cada
Belém, recuando tantos anos quan- uma das proporções.
tos dispusermos com dados esta-
tísticos exatos. 5. Obter uma boa projeção da
população total do Brasil, atravé~
2 . Calcular as seguintes pro- de um órgão federal digno de con.
porções para cada um dos anos fiança, como, por exemplo, o Con-
sôbre os quais contamos com da- selho Nacional de Estatísticd, do
dos estatísticos; Rio de Janeiro.
106 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

6. Aplicar as proporções cal. 1 . Analisar cuidadosamente as


culadas à projeção e transformar possíveis transformações nas taxas
tais projeções em números abso· de nascimento e de mortalidade
lutos. durante o período sôbre o qual se
deseja fazer a projeção. Isso exi-
o método acima descrito é de ge uma análise das transforma-
especial utilidade no caso de não ções registradas no passado, para
se terem registrado grandes trans- que seja possível determinar as
formações estruturais e no caso de possíveis tendências; bem como
o período de tempo da projeção uma avaliação cuidadosa do efeito
não exceder 10 anos. Naturalmen- de: programas de saúde, transfor-
te, pressupõe-se a existência de mações na estrutura da população
projeções, dignas de confiança, por idade, urbanização, atitudes do
quanto à população total do país. povo quanto ao contrôle da nata-
Geralmente será de bom aviso pôr lidade, etc. - sôbre as taxas de
à prova o método, através de uma nascimento e mortalidade.
projeção que utilize outro método.
2. Depois de chegar a uma
Método B: Projeção Simpl,eJ do conclusão sôbre os valores especí-
Aumento Natural e da Migração ficos das taxas de nascimento e
mortalidade durante o período em
:Sste método é ligeiramente mais vias de projeção, (podem-se espe-
complicado que o primeiro. E cificar alternativas de valor) cal-
nem por isso fornece valores mais cuhr as taxas resultantes quanto
dignos de confiança. O crescimen- ao aumento natural (taxa de nas-
to da população total é constituído, cimentos - taxa de mortalidade
como se sabe, de três valores prin- = taxa de aumento natural).
cipais: taxa de nascimento, taxa
de mortalidade e migração líqui. 3 . Analisar cuidadosamente as
da. O presente método se baseia tendências porventura registradas
numa projeção de cada uma des· no passado, bem como as possí.
sas variáveis, que se combinam, veis tendências da migração anual
em seguida, de maneira a obter-se - tanto da emigração quanto da
uma estimativa da população to- imigração - calcuhndo também
tal a certa altura do futuro. Eis o as prováveis taxas futuras de mi-
método, passo a passo: gração líquida.
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 107

4. Aplicar as taxas de au- Podemos distinguir dois tipos


mento natural e de migração lí- de modelos hipotéticos:
quida (quanto à população atual)
ao cálculo do aumento anual de a) modelos de situação, e
população; repetir êsse processo b) modelos de planejamento.
para cada ano do período total da
projeção, de maneira a chegar a Os primeiros fazem projeções
um cálculo do aumento total. sem dar margem às eventuais
transformações que podem surgir
Tal método será mais exato ain- durante a execução da ação pla-
da se forem utilizados processos nejada. Já os modelos de plane-
mais líquidos que as taxas brutas jamento não deixam de se dar
de natalidade e mortalidade. No conta de tais mudanças, represen-
cálculo da migração líquida surge tando, de fato, uma descrição ge-
uma grande dificuldade: quando ral dos requisitos do plano. No
a taxa de migração é bastante ele- exemplo seguinte, construiremos
vada e sujeita às influências da os elementos de um modêlo hi-
flutuação econômica, poderá tor- potttic(; de situação e um de pla-
nar muito problemática qualquer nejamento para a agricultura e a
projeção da população total. alimentação na área de Belém-Bra-
gança, no Pará (Ver Quadros 1
Exemplo: Modêlo Hipotético e 3).
108 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PCBLlCA

QUADRO 1: Modêlo da Situação Atual

(use os dados mais correntes)

I i
I GENEROS ALIMENTíCIOS I
I I
I I I I I I I I
I I Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I
I I A I B I C I D I E I F I
I I I I I I I I
I I I~I-l-l--l-i
I População Total I I I I I I I
I I I I I I I I
I I I I I I I I
I I. CONSUMO I I I I I I i
I I I I I ! I I
I I I I I I I
I 1. Média anual de consu- I I I I I I
i mo, por habitante, de I I I I I I
I g ê n e r o s alimentícios I I I I I I
I (ao nível varejista, em I I I I I I
I quilos) I! I I I I
I I I I I I I
I I I I I I I
I 2. Valor nutritivo da mé- I I I I I I
dia anual de consumo, I I I I I I
por habitante, de gêne- I I I I I I
ros alimentícios (ao ní - I I I I I I
vel varejista): I I I I I I
I I I I I I
a. Calorias I I I I I I
b. Proteínas I I I I I I
c. Outros I I I I I
I I I .1 I
INTRODUÇÃO AO PLANE]AMENTO REGIONAL 109

---_._-----,--- - - - - - - - - - - - - - ,
f I
f GENEROS ALIMENTICIOS I
I I
I I I I I I I I
I Tipo! Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I Tipo i
I I A : B I C I D I E I F I
I I I I I I I I
I I I I I I I I
! I I I I I I I
I 3. Valor nutritivo da mé- I I I I I I I
I dia anual de consumo I I I I I I I
I por habitante (ao nível I I I I I I I
I do consumo): I I I I I I
I I i I I I I
I a. Calorias I i I I I I
I b. Proteínas I I I I
! c. Outros I I I I
I I I I I
I I I I I
/ 4. Consumo anual total de I I I /
I g ê n e r o s alimentícios / I I I
I (ao nível varejista, em I I I I
I quilos) I I I I
I I I I
/ I I I
I 5. Valor nutritivo total do I I /
I consumo anual de gêne- I I I
I ros alimentícios (ao ní - I I I
I vel varejista): I I I
f / I I
I a. Calorias I I I
I b. Proteínas I I I
I c. Outros I I I
I I I _J
,----
110 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PtlBLICA

,
,, , GENEROS ALIMENTICIOS ,
,

I, ITI~IT~oITI~ITI~ITI~IT~ol
I A I B I, C I I D , E F
, I , , , , , I
I, 6. Valor nutritivo total do
I, I, '
,
- 'I - II I, I,
I consumo anual de gêne- I I , , , , ,
I ros alimentícios (ao ní- I I , , I I I
I vel de consumo): I I I I I I I
, I I I I I I I
,
,
a. Calorias
b. Proteínas
I' I I ' , 1
, c. Outros I'
'"
I I
" I
I , ,
I ' , , I I I I
11. PRODUÇÃO E
IMPORTAÇÃO
II I, II II II I, II
I , I , I I I
I" I I , I I I I
I' 1. Número total de hecta- I I , I , , I
I res cultivados I I , , I I ,
I I I I I I I I
I , I , I I I I
I 2. Produção total 'I I I , , I
, I I I I I , I
I a. Prevista I I I I I I I
, b. Verificada I I I I I I I
II II I 'I II II II I,
I 3. Produção total ~r hec- I I I I I I I
! tare I I I I I I ,
, , I I I , I .J
INTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 111

I I G~NEROS ALIMENTICIOS

' ITipo ITipo ITipo ITipo ITipo ITipo !


/A/BIC/D/E\F\
I:\-- - - - - - / - 1
I I
-1-/
/ / I
/ I I
a. Prevista / I I I / I
/ b. Verificada I I I I, I ,
/ / I ,
4. Exportações da região I I / I I
(Kg)
\ II II '/I
,
I/
5. Restante na região I , I I ,
(Kg)
I I I I I
, , ,
II 6. Importação (Kg) I, I,
"

I" , I
I I I I
\
I 7. Total de gêneros ali- I I I I I
I
I
mentícios potencialmen- I
I
I I I ,
I te disponíveis para o
consumo (Kg) I I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
112 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO P"OBLICA

QUADRO 2: Fontes Previstas de Desperdício de Alimentos

1-- I
I 1 GENEROS ALIMENTlCIOS
I 1
I I''----cl--.-I---,-I--o-I_. 1 I
I I Tipo 1 Tipo 1 Tipo I Tipo 1 Tipo 1 Tipo I
I IAIBICIDIEIFi
I I I I I I I I
I I-I-I--I~-r-I---I
I 1. Produção e importação I I I I 1 I I
1 totais previstas (Kg) I I I I I I I
1 \ I I I I I I
I I I I I I I
I 2. Desperdício agrícola I I I I I I I
1 I I I I 1 I I
1 a. Moléstias de plantas I I I I I I I
1 (Kg) I I I I I I I
1 b. Enchentes, etc. I I I I I I I
1 (Kg) I I I I I I I
I I I I I I I I
I I I I I I I I
I 3. Desperdício durante a I I I I I I I
1 colheita (Kg) I I I I I .I I
I I I I I I I
I I I I I I I I
I 4. Desperdício durante o I I I I I I I
1 armazenamento nas fa- I I I I I I I
I zen das I I I I I I I
I I I I I I I I
I I I I I I I I
I 5. Desperdício no trans- I I I I I 1 I
I porte e no armazena- I I I I I I I
I mento local I I I I I I I
I I I I I 1_._l_J
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 113

r-
I GENEROS ALIMENTíCIOS
I
I I I I I I I
I Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I
IAIBlclDIEIFI
I I I I I I I
:,-------------+I~( I I I I I
I a. alimentos produzidos I I I I I I I
I regionalmente (Kg) I I I I I , I
I b. alimentos importa- I I I I I I I
dos I I I I I I I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I 6. Desperdício nos merca- I I I I I I I
I dos (Kg) I I I I I I I
I I I I I I I
I I
I 7. Desperdício na cozinha I
I
I
I
I
I
I
I
I
1 I
I I
I (Kg) I I I I I I I
I I I I ! ! I !
I I ! ! ! I I I
I 8. Desperdício total (Kg) I ! ! ! I I I
I ! I I ! I I I
I I I I I I 1 I
I I I I I I I ... ~
Quadro 3. Modê/o de Planeja- de número de delicadas decisões
mento para Agricul- de caráter político.
tura ,e Aliment'lção, Começa-se por avaliar os re-
ano de 1965. quisitos totais de alimentos para
1965, primeiro projetando a po-
A construção dêste quadro, que pulação total para êsse ano; se-
não é aqui gràficamente apresen- gundo, estabelecendo os níveis nu-
tado, exige que se tome um gran- tricionais convenientes a serem

9 - Cad. Mm. Pliblica - ~l


114 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

atingidos (por exemplo, consu- quisitos nutricionais em requisi-


mo diário, per c,,;pita, de calorias, tos alimentícios talvez tenha de
de proteínas vegetais e animais, incluir um programa educativo
de cálcio, etc.), usando-se, qUJn- para ensinar aos habitantes me-
do possível, Pâdrões 1Z1/tricionâÍs lhores hábitos nutritivos e melho-
e confrontando os requisitos to- res métodos de preparo e armaze-
tais com os recursos totais dispo- nagem de alimentos. Dêsse modo
níveis; e, terceiro, multiplicando é que se obtem, por fim, uma
os níveis nutricionais pa cdpita, estimativa dos requisitos alimentí-
a serem atingidos, pela pOl~ula­ cios a iUíl nível exatamente ante-
ção toLd, de modo a obter um rior à chegada dêsses alimentos
cálculo dos requisitos totais de ali- ao m.:rca do local.
mentos, ao nível de cOJlSllmo. Os A esta altura, teremos de deci-
requisitos nutricionais ao nível dir sôbré que quantidade de ali-
de consumo são, a essa altura, mentos deve ser produzida den-
convertidos em estimativas dos re- tro da região e que quantidade
quisitos específicos de alimentos, terá de ser importada de outras
expl'eJSos em pêso. Os requisitos regiões. E logo surge a questão
alimentares ao nível de consumo derivada: de que maneira aumen-
têm de ser adaptados, de maneira taremos a produção regional de
a dar margem a uma certa per- alimentos até alcançarmos os ní-
centagem de desperdício, origi- veis requeridos?
nados nos seguintes estágios: co-
zinha, mercado, transportes, arma- Aqui teremos de escolher entre:
zenagem local. Presume-se, entre- 1) a intensificação da atual uti-
tanto, que a pcrcentêgcm de des- lização da terra, melhores tipos
perdício, prevista para 1965, seja de plantas alimentícias, drenagem
menor que a atual percentagem de e irrigação, melhores métodos agrí-
desperdício. colas, possível redução do desper-
Projetar a redução do desper- dício devido à má armazenagem
dício nas fontes enumeradas aci- nas fazendas, aos maus métodos
ma significará, naturalmente, que agrícolas, às enchentes, às doen-
teremos de dedicar, em nosso pro- ças de plantas, etc; e, 2) cultivo
grama, uma certa oroporção de de novas terras.
nossos recursos a essa finalidade. Qualquer decisão que tomarmos
Outrossim, a conversão dos re- representará enorme im];'acto sô-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 115

bre o caráter de nosso programa, se possa obter uma visão gerál


exigindo a orçamentação de recur· rápida das decorrências quantita-
sos para os diversos fins indicados liVdS de cada uma das diversas
(pesquisa, contrôle de enchentes, alternativas de ação. O modêlo
importação ou produção de adu. final de planejamento deveria ser
bos, cooperativas agrícolas, recupe' acompanhado de uma justificação
ração .-Ie terras, colonização, ma· minuciosa das várias decisões to-
quinaria, melhores armazéns, me- madas: alternativas aceitas e re·
lhores transportes, etc.). jeitadas, juntlmente com as razÕés
Dessa maneira, constrói-se um da escolha. Constitui-se, assim, a
plano em seu aspecto físico. Di- base do planejamento a ser feito
versos modelos de planejamento posteriormente, no campo da agri.
poderão ser construídos, para que cultura e da alimentação.

xx - PRINCíPIOS DA ANÁLISE DE CUSTOS


E BENEFíCIOS
A - A análise de custos e ra que não o projeto em tela.
benefícios põe em prática exata- Em resumo, a análise de custos
mente aquilo que seu nome indi· e benefícios destina-se a ajudar o
ca: procura avaliar os efeitos eco- planejador a concluir se deter-
nômicos totais de um projeto, seus minado projeto é ou não ,econô-
benefícios e seus custos. Por be· micamente aconselhável. f: claro
nefícios entendam-se aaui os efei-
que existem outros critérios além
tos benéficos rebcionados com o
rios econômicos, critérios êsses que
aumento no fornecimento de mer-
cadorias e serviços de utilidade, d::vem ser levados em conta au
relativamente ao que se teria veri- se tomar uma decisão acêrca de
ficado sem a execução do proieto; qu lquer projeto: se o mesmo de-
e por custos o valor econômico ve ser empreendido, quais as suas
dêsses mesmos serviços e merca- proporções, etc. Mas o critério
dorias, hF.m como os efeitos ad- ("conômico é de especial importân-
versos resultantes, sem esquecer cia. f: preciso saber se o dinheiro
que êsse valor econômico poderia r:le que-se dispõe será bem apli·
ter sido utilizado de outra manei- cado e, o que é mais, se nao seria.
116 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

mais bem aplicado no projeto A, gam fixados ou variando apenas


ou no projeto B, C, D, ... etc. dentro de limites restritos. O
Um projeto será econômicamen, princípio, entretanto, é importan-
t,e "atraente" se seus benefícios to- te, podendo ser ilustrado pelo s<;-
tais eXN:del'em seus custos totais. guinte gráfico:
Tanto os custos como os benefí-
cios são expressos em bases anuais.
Assim, se as despesas anuais com
o projeto A forem de ....... .
Cr$ 2.000.000,00 c os benefício~
resultantes forem de ......... .
Cr$ 3.000.000,00, o projeto se
rá cconômicamente atraente: os
bendícios ultrapassam os custo~
CUS10S EM CiUZE!R05
em um milhão de cruzeiros, sen-
do a proporção benefício-custo de
1: 1,5. Quanto à eJcala do pro- A: onde se registra a proporção
jeto, surge uma outra questão: máxima de benefícios em re-
sendo possível ir aumentando es- lação a custos (1: 1,4)
sa escala através de pequenos in-
crementos, a escala mais econó- B: onde A b é igual a A c; ponto
mica do projeto é atingida naquele máximo em que os benefícios
punto a cuja altura. é maior a superam os custos; (1: 1,3)
difer,enftl favorável aos benefícios
- isto é, onde um aumento de C: onde os custos totais são
cu~to adicional é igual a um au- iguais aos benefícios totais
mento de benefícios adicionais. (1:1)
Trata-se, evidentemente, de ape-
nas um "ótimo" teórico, nem sem- Diz-se, em economia, que a es-
pre conseguido na prática. Acon- cala do projeto é aumentada até
tece, às vêzes, que o vulto do o ponto em que se igualam, na
projeto é fixado previamente, na margem, os custos e os benefícios;
base de considerações de ordem para além do ponto B, no gráfico
técnica; outras vézes, os recursos acima, cem cruzeiros de custo re-
com que contamos para o projeto sultarão em menos de cem cru-
que temos em vista já nos che- zeiros de benefícios - e, sendo
lNTRODUÇAO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 117

assim, o mesmo dinheiro poderia análise, da correlação que se ve-


ser despendido, com melhores re- rificar entre os custose os bene-
sultados, num projeto mais ren- fícios do estabelecimento, da ma-
tável. nutenção e da operação do servi-
Voltemos, contudo, ao essencial ço. Se, durante sua vida útil,
da análise de custos e benefícios, redundar em benefícios CB) su-
para que possamos examinar o periores aos custos (C), expres-
problema de modo mais minucio- sos ambos, tanto quanto possível,
so. A parte dêste capítulo que ~e em quantias de dinheiro, o pro-
passa a ler foi extraída de um jeto será econômicamente "atraen-
Manual elaborado pelas Nações te", pois tal superioridade indi-
Unidas a respeito da análise de cará que ° empreendimento dará
custos e benefícios ("Multiple- benefícios mJÍores qUe: seus custos,
Purpose River Basin Development. em têrmos de resultados sociais,
Part 1: Manual on River Basin ainda que provenientes da retirada
Planning - 1955"). de recursos de outros terrenos de
B - Tomemos, por exemplo, aplicação. Inversamente, se a ex-
um plano destinado a controlar pressão CB) - CC) fôr negativa,
um sistema fluvial por meio de haverá prejuízo para a comuni-
várias reprêsas e açudes de fina- dade, e o projeto não deverá ser
lidades múltiplas. O objetivo executado, a não ser que razões
principal do empreendimento será estranhas aos têrmos econômicos
talvez fornecer proteção contra as imponham diretrizes diversas.
enchentes, mas servirá também Assim, pois, o que constitui o
para abastecer de água e de ener- critério econômico é uma relação
gia elétrica as indústrias e os la- custos-benefícios; mas no cômpu-
res; além disso, talvez sirva tam- to dessa relação é mister levar em
bém para tornar o rio navegável. conta tôda espécie de benefícios
Todos êsses serviços contribuem e de custos: sociais e particulares,
°
para a renda real ou para bem- diretos e indiretos.
estar da comunidade. Como, po- Ambos os têrmos, (B) e (C)
rém, absorvem recursos que, em representam decursos de tempo e
maior ou menor proporção, po- o critério temporal utilizado é im-
deriam ser aplicados de modo di- portanto para a avaliação dêsses
verso, as vantagens econômicas do mesmos têrmos. Para sermos mais
projeto dependerão, em última claros, diremos que um resultado
118 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

que somente comece a manifestar- tários ou não, sempre limitado em


se após, digamos, dez anos, não relação ao volume do trabalho pro-
terá a mesma significação que um dutivo que poderia ser realizado,
outro resultado (desde que os de- forçoso será traçar uma linha, a
mais aspectos sejam idênticos), certo ponto, entre os planos que
manifesto ao cabo de apenas um poderão ser aprovados e aquêles
ano. Os custos e benefícios mais que deverão ser rejeitados, ou, pelo
imediatos e mais remotos não po- menos, adiados. Mas essa linha
dem, por isso mesmo, ser direta- não deve ser traçada arbitràriamen-
mente comparados nem adiciona- te. Do ponto dt' vista econômico,
dos. Terão, antes de tudo, de ser deverá ser traçJda de modo que
colocados numa base de tempo se obtenha um excedente social
comum, dando-se o desconto ne- (B menos C), tão grande quanto
cessário por meio de uma taxa de possível. Na prática comercial co-
juros apropriada, até determinado mum, a taxa de juros é de grande
ponto comum no curso do tempo: utilidade para êsse efeito, pois
em geral aquêle momento em que atua como uma espécie de crivo:
deverá ser tomada uma decisão um empreendimento só é finan-
com referência ao projeto. A taxa ciado se oferece possibilidades de
de juros, nesse caso, servirá de dar uma renda líquida suficiente
indicador do grau de preferência para cobrir os respectivos juros e
dada aos benefícios mais imedia- a respectiva amortização. Em ou-
tos. Os planos que dão rápidos tras palavras, o empreendimento
benefícios têm, assim, alguma van- deve ser compensador. Se ado-
tagem sôbre os outros, ao mesmo tarmos, contudo, um ponto de
tempo que se reduz o pêso dos vista social mais amplo que êsse,
benefícios mais remotos, na deter- o critério referido nem sempre
minação do valor do plano de será satisfatório. ~ verdade que,
investimentos. se um plano de obras públicas
Uma organização responsável passa por essa prova, bastará isso
pelo desenvolvimento de recursos para que deva ser aceito; mas tal
hidráulicos terá de considerar a condição não é indispensável, se
produtividade dos vários projetos outros fatôres forem considerados.
que entram em competição para Um plano de obras públicas pode
obter os fundos disponíveis. Sen- ser operado com prejuízo (no sen-
do O volume dos recursos, mone- tido comercial comum de renda
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 119

real percebida) e, todavia, pode Custos do Projeto: valor total


proporcionar tamanhos resultados da~ mercadorlas e serviços utili-
sociais que a comunidade, após zados no estabelecimento, na ma-
haver pago o projeto por meio nutenção e na operação do pro-
de impostos, se encontrará em me- jete.
lhores condições do que estaria se Custos assúciados: valor da~
não houvesse o projeto sielo exe- mercadorias e serviços, além dos
cutado. Tal ~eria o critério mais incluídos no custo propriamente
importante: porém, de que ma- dito, necessários a proporcionar
neira verificar se essa condição imedi 'tamente 0' produtos ou ser-
é ou não preenchida por um pro- viços esperados do projeto, e que
jeto em análise? deverão, assim, ser adquiridos e
A análise econômica que resul- utilizados.
tará numa resposta a essa pergun- Custos indiretos, 011 secundá-
ta deverá ser procedida, rf'sllmida- rios: valor de quaisquel merca-
mente, da seguinte maneira: dorias ou serviços (além dos men-
Lionados no~ dois pontos anterio-
1. Identificação e determinação
res) utilizado~ em conseqüência
dos benefícios e estudo do
do projeto. Incluem êles o custo
padrão de ocorrência (tempo
do beneficiamento dos produtos
em que deverão ocorrer os
imediatos do projeto.
benefícios) ;
Custos imponderáveis: os custos
2. Identificação e determinação
que não podem ser calculados em
dos custos, da mesma ma- têrmos de dinheiro.
neIra; Benefício ( diretos, ou primá-
~ . Redução dos custos e dos rios: valor elas mercadorias e
benefícios a uma base comum serviços imf'diatamente resultante~
de tempo; das medidas propostas.
4. Cálculo da proporção custos- Benefício, indiretos, ou seCUI,-
benefícios e avaliação da re- dários: valor do aumento de mer-
lação de causalidade entre cadorias e serviços úteis, prove-
custos e benefícios, incluindo nientes de atividades resultantes
os fatôres imponderáveis. do beneficiamento dos produtos
Para conveniência de discussão, do projeto, depois de iniciada a
os benefícios e os custos poderiam respectiva operação ,ou que re-
ser definidos da seguinte maneira: sulta do acréscimo de rendimento
120 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

financeiro proveniente da dimi- rante a análise, para que se possa


nuição do desemprêgo, durante a chegar ao "benefício líquido" ,
construção do projeto. deve-se ter o cuidado de deduzir
dos benefícios conseguidos "com
B"nefícios impollderáveiJ: aquê- o desenvolvimcnto" os benefíciús
les que não podem ser calculados conseguidos "sem o desenvolvi-
em têrmos de dinheiro. mcnto". Em algLlns casos, ú va-
lor anual de um benefício primá-
No processo de sua análise eco- rio, ou direto, é medido, compu-
nômica, os custos e os benet iCl0~ tando-se o custo anual daquela
devem ser, em primeiro lugar, alternativa que, sendo melhor que
identificados. Em seguida, de- a que estamos considerando, está
vem ser expressos, tanto quanto a mais próxima possível desta.
possível, em têrmos monetários. quanto aos custos e aos benefí-
Ao se woverterem os beneficlo~ cios. Nesse caso, é preciso de-
e os custos a uma base anua! - monstrar, também, que essa alter-
sem deixar de dar margem à ocor- nativa seria a adotada, no caso
rência de tempo a que aludimos de não ser aceito o projeto hi-
- não se deve esquecer de dedu- dráulico proposto. Em alguns
zir dos benefícios todos aquêles dêsses casos, os benefícios indire-
custos que terão de ser pagos para tos e intangíveis do desenvolvi-
que os benefícios possam ser mento projetado poderão ser vir-
conseguidos, muito embora tais tualmente os rLesmos que os ria
custos não façam parte, propria- alternativa que poderia ser adiada,
mente, dos custos do projeto. Tais ou mesmo afastada, no caso de ser
benefícios líquidos do projeto, adotado o projeto. Em tais cir-
tangíveis e intangíveis, podem cunstâncias, os benefícios indireto$
ser, então, comparados com os e intangíveis não entram na aná-
custos do projeto. Quanto ao pe- lise.
ríodo de tempo a ser considerado,
deve ser o correspondente à vida c - Os prinCl pIOS da análi-
econômica do projeto, se essa vida se de custos e ocnefícios são muito
prevista fôr inferior a cem anos, usados pelos planejadores, embora
ou de 100 anos, no máximo, se a raramente sirvam para justificar
vida econômica prevista do pro- um projeto. São de especial uti-
jeto vai além de um século. Du- lidade nos casos em que um pro-
lNTRODUÇÁO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 121

jeto é considerado isoladamente, tribuiçio p2-ra C plano gé:ral ele


sem referência ao plano geral den- conlrôle do rio. Isso, ~ liás, sus-
tro do qual o mesmo projeto se cita o int::ré:SSlnte problema teó-
situa. Se existe êsse plano geral rico: qual seria "unidade" a con-
de desenvolvimento, então, é cla- siderar na análise de custos e be-
ro, a contribuição do projeto, in- nefícios? A reprêsa? O sistema?
dividualmente considerado, para O têrmo "projeto" é ambíguo,
os objetivos gerais do plano, seria pois pode referir-se à reprêsa j"o-
importante critério adicional de lada ou ao sistema de reprêsas.
avaliação. Nesse caso, tal contri- É de boa política, na análise de
buição, falando de modo geral, custos e benefícios, considerar co-
não seria medida em têrmos de mo "unidade" o maior "todo" que
benefícios monetários (embora os se nos apresentar com as carac-
mesmo não devam ser subesti- terística~ de entidade significa-
mados) e sim em têrmos da capa- tiva .
• idade que apresenta o projeto de Infelizmente, quanto maior o
facilitar outros projetos, ou de projeto isolado (ou o sistema),
produzir no sentido dos objetivos que analisamos do ponto de vista
gerais. de custos e benefícios, tanto mais
Dá-se freqüentemente o caso de difícil será encontrar soluções sa-
um projeto - individualmente tisfatórias. Dissemos, no princípio,
falando - somente ser econ'ômico que o que queríamos obter eram
",m relação a outros projeto~. Por os custos TOTAIS e os benefícios
exemplo, uma única reprêsa para TOTAIS de certo projeto, du-
contrôle de enchentes, poderá ser rante determinado tempo. Porém,
antieconômica, sem deixar de con- isso acaba sendo um exercício de
tribuir grandemente para a opera- prevlsao, e quanto mais pene-
ção de um sistema de contrôle trarmos no futuro tanto menos
fluvial de múltiplos propósitos, aproximldas serão nossas previ-
composto de diversas reprêsas. O sões. E muito menos poderemo~
sistema, como um todo, seria jul- prever o "efeito multiplicador"
gado econômico, na base de uma que poderá resultar do projeto.
análise superficial de custos e be- Torna-se, assim, impossível, em-
nefícios. Já o projeto da reprêsa prestar valor monetário significa-
de contrôle isolada teria de ser tivo a efeitos econômicos a longo
avaliado em têrmos de sua con- prazo. A questão é portanto: se-
122 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

rãoos efeitos a longo prazo me- ração? À pesquisa? À defesa de


nm importantes que os efeitos a nossas fronteiras contra possíveis
curto prazo, só por serem és/es agressores estrangeiros? Ê eviden-
mais aproximados da realidade? te que os fatôres econômicos, me~­
mo qU:l11do podem ser expresso5
o valor principal da análise de em quantidades,nem sempre cons-
custo e benefícios está no uso tituem o critério decisivo. Muitas
que faz do critério quantitativo. vêzes, em nosso entusiasmo pela
A maioria das pessoas se impres- agradável precisão da análise de
siona fàcilmente com algarismos benefícios, tendemos a esquecer
e a análise quantitativa dá a im- êsses aspectos, de tamanha impOl-
pressão de precisão. Acreditamos tância.
com facilidade que se püde deter- Há quem ,degue ser possível
minar a escala "ótima" de um atribuir prioridades aos diferentes
projeto através de uma análise projetos, na base de suas respec-
quantitativa de gastos e lucros, e, tivas proporções custos-bencfício~,
também, que a proporção custo- recebendo melhor prioridade aquê-
benefício é um indicador útil da les que apresentam maiores pro-
urgência relativa dos diversos pro- porções. De tudo quanto foi dito
jetos. Essa fé primitiva em alga- até agora, no entanto, pode-se con-
rismos não só deixa de lado al- cluir que a análise de custos e
gumas das dificuldades de avalia- benefícios não fornece base para
ção - algumJs das quais já indi- o estabelecimento de uma escala
camos em nossa cJiscussão da uni- de prioridades. O princípio é bas-
dade e do período de tempo a tante sólido; mas, na prática, ou-
serem utilizados na análise - co- tros critérios terão de ser empre-
mo também o fato de que muitos gados.
dos efeitos mais importantes de Há muitos outros problema~
um projdo, tanto custos como que se nos apresentam na análise
benefícios, serão, pela natureza de custos e benefícios, muitos dê-
socÍlI e política, de impossível les referentes à distrtbuiçáu do:>
expressão em números sumários. UlStOS e dos benefícios; à taxa
Que valor quantitativo atribuire- de juros que se deve aplicar para
mos ao aumento da expectltiva de .lar margem aos futuros custos e
vida de um indivíduo? À redução benefícIOS e para reduzir uns e
na taxa de mortalidade? À explo- outros a uma base anual; ao ri.rco
INTRODUÇÃO AO PtANEJAMENTO REGIONAL 123

e à incerteza, deco.rrentes das es- custos e b~nefícios como. instru-


timativas de futuros custos e be- mento de tomada de decisões.
nefícios; à inflação; e as nwdifi- Seu verdadeiro valor reside em
cações dos preços rdativos. Não forçar o planejador a examinar
temos tempo para discutir minu- cuidadosamente tôdas as conse-
ciosamente todos êsses pro.blemas. qüências de um curso de ação con-
Mas quanto. mais apreciamos a sidendo, tanto as boas quanto as
lógica da análise econômica do.s más. A lógici( da análise de custos
projetos, mais no.s damo.s conta e benefícios é impecável; as difi·
das dificuldades dessa tarefa.
culdades estão na aplicação. Mes·
Muitas vêzes, a pl'eocupClção pe-
mo assim, essa lógica deve guiar
lo (,Oncrel,o, pelo exato., é despro-
positada. A análise de custos e o. planejador na análise que em·
benefícios constitui um exemplo preende. A análise econômica é
disso. Po.demos passar anos e anos essencial ao planejamento. Ape-
na análise econômica minUCIOsa nas, não devemo.s ser levados a
de um projeto., sem conseguir crer que uma simples prolXJrção
to.rná-Io mais exato, por mais qne entre custos e benefício.s é tudo
o estudemo.s. É por isso que não cle quanto precisamos para che-
dou muito. valor à análise de gar às decisões acertadas.

XXI - OS PADRõES DO PLANEJAMENTO REGIONAL

A -- (JS planejadorcs, em gt- por o.utro. lado., são. u~ados para


ral, fazem uso de dois tipos de determinar quão et'tiememente
padrões: um serviço foi executado. llsses
do.is padrões develh str usados
1. padrões de adequação.; sempre em conjunto: é possível,
por exemplo, executar ineficien-
2. padrões de eficiência. temente um serviçu adequado ou,
vice-versa, executar eficientemente
Os p3drões de adequação. são um se! viço inadt'luado. O ideal,
usados para determinar quão ade- r,aturalmentt, é que um serviço
quadamente um serviço foi execu- adequado. seja eficientemente exe-
tado. Os padrões de di ciência, cutado.
124 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

B Que t padrão de ádt:- cessidade, o?, estimativa das ne-


(Iuação? cessidades futuras e na programa-
Por si só, a adequação dttermina ção das atividades de um serviço.
a proporção existente entre o ren- Em cada um dos exemplos Clta··
dimento 1'é'dl, verificado, e o ren- dos, o padrão de adequação liga-
dimento exigido para um obietiw) -e a um objetivo tmis definitivo:
expresso. Já um padrão de adr:-
quação indica o nível ótimo de 1. Produção de arroz por hec-
exeCtlção, referente mente ao obje- tare de terra irrigada na área
tivo a ser atingido . "R" de desenvolvimento (po-
de ser expressa como deter-
Exemplos de padrões de ade- minada quantidade);
quação: 2. Obtenção de Determinrldo
Nível de SellMe. (Os padrões
1. x metros cúbicos de água, de nutrição baseiam-se nas
por safra, por hectare de ter- necessidades mínimas, mais
ra irrigada, produzindo arroz, certo fator considerável de
na Area "B" de desenvolvi- segurança) ;
mento; 3. Obtenção de Determinado
2. Padrões de nutrição para ho- Ní vel de SdlN!rI!nento. (Nes-
mens, mulheres e crianças, te caso o padrão pode ser
com subcategorias apropria- baseado na opinião de pro-
das, e expressos em têrmos fissionais, adaptada às con-
diários de calorias, proteínas, diçõer. do clima e a outros
vitaminas e sais minerais; fatôres) ;
3. Completa remoção de todo O 4. Obtenção d,e Certo Nível de
lixo de cada unidade de ha- Co nfôrt o (padrões fstéticos
bitação, duas vêzes por se- e sociais).
mana;
4. x metros quadrados de es- Pode-se dizer, assim, que o pa-
paço habitacional por pessoa drão de adequação expressa are-
adulta (padrão de habitação). l.iÇão de causa ,i? efeito entre uma
ação e um objetivo. Melhora de
Todos êsses padrões podem ser produção, de saúde, de higiene,
usados no contrôle da execução, de confôrto: eis os ohietivos vi-
na determinação do grau de ne- sados nos exemplos acima citados.
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 125

Quando se torm difícil expressar nhamo~ de baixar nossos padrões


o objetivo em têrmos quantita- - provisoriamente embora - a
tivos precisos, o padrão de ade- um nível inferior ao que ideal-
quação pode, aliás, ser idêntico mente almejamos atingu. Por
ao próprio objetivo. exemplo: podemos ter de conten-
tu-nos com a retirada de lixo
c - Como são formulados os uma vez por semana, ao invés de
padrões de adequação? duas, ou com x-I metros quadra-
Tais padrões se nos apresen· dos de espaço habItacional por
tam a meio caminho entre as ne- pessoa, ao invés de x.
Mssidades e os ruursos. Se re- Fmalmente, pode acontecer sur-
conhecemos ou não uma necessi- girem novos elementos técnicos
dade, e de que maneira a defini- <lue nos levem a reexaminar nos-
mos - ambas as coisas consti- sos padrões de adequação. Por
tuem questões de valor. Se dize- exemplo: graças a pesquisas mé-
mos que a produção deMe ser au- dicas, pode-se chegar a melhores
mentada em 100%, estamos re- bases para a formulação dos pa-
conhecendo uma l1ec,essidad,e de drões de nutrição. Os padrões de
aumento de produção da ordem adequação estão, por conseguinte,
expressa por essa porcentagem, e constantemente sujeitos a revisão.
estamos, assim, formulando um Embora possamos persistir no em-
julgamento de valor. À medida prêgo dos mesmos por algum
que se modificam nossos valores, tempo (digamos, de um a cinco
também se modificam nossos pa- anos), não é provável que per-
drões de adequação. maneçam inalterados, se conside-
Por outro lado, devemos ser o rarmos um longo prazo. As mo-
mais realistas possível. Todo pa- dificações de valores, as despesas
drão de adequação, para ser al- e certos elementos técnicos podem
cançado, tem que redundar em contribuir para a revisão eventual
certo <iispêndlO de recursos. Mui- do próprio padrão.
tas vêzes, porém, temos que al-
cançar objetivos que se encontram, D - Que é padrão de efi-
ao mesmo tempo, em wmpetição ciência?
uns com os outros, cada um re-
clamando uma parte dos recursos Por si só, a eficiência serve
disponíveis. Neste caso, talvez te- para determinar a proporção entre
126 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

o rendimento real, verificado, por duas maneiras principlis de esta-


unidade, dos recursos, e o rendi- belecê-Ios:
mento potencial, por unidade, dos
recursos. Um padrão de eficiên- 1. Por meio da análise da
cia, por sua vez, indica a propor- documentação relativa à ex-
ção (ou a razão) "ótima" entre periência passada. Podem ser
o dispêndio e o rendimento. realizados estudos minuciosos
Exemplos de p,tdrões de efi- dos registros tanto de nosso
ciência': próprio trabalho anterior, co-
mo do tr,lbalho anteriormen-
1. x hectares-metros de água por te realizado por outras pes-
safra, por hectare de terra soas, para que se possam de-
irrigada, produzindo arroz, terminar níveis razoáveis de
na área B de desenvolvi- eficiência a exigir no futuro;
mento, a custo não superior 2. Padrões de engenharia. Esti-
a Cr$ x por hectares-metro mativas de custo razoáveis
de água levada ao campo; são preparadas por engenhei-
2. Completa remoção de todo o ros consultores, dignos de
lixo de cada unidade habita- confiança.
cional, duas vêzes por sema-
na, a custo não superior a :É, entretanto, evidente, que tan-
Cr$ x por vez de retirada; to os padrões históricos quanto os
3. x metros quadrados de espa- de engenharia estão sempre su-
ço habitacional por adulto, a jeitos à revisão.
custo não superior a Cr$ x E - Os padrões de eficiência
o metro quadrado. e de adequação, em conjunto, são
denomimdos padrões de .exemção.
Cada um dêsses padrões poderá Para cada atividade, para cada
ser usado para controlar a exe- projeto, pode ser especificado um
cução e calcular as necessidades padrão de execução, qualquer que
financeiras dos programas traça- seja o vulto, o alcance, a escala
dos. São muito úteis para a ela- do projet'J ou da atividade. Uma
boração do orçamento. simples secretária, uma simples
Tal como os padrões de ade- datilógrafa pode ter especificadu
quação, os padrões de eficiência o seu padrão de execução, da
s~o tam,bém variáveis~ havenclo mesm,a maneira C),ue todo um SI!>-
INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO REGIONAL 127

tema de contrôle das águas de mações sôbrc os dados refe-


um rio. Todo plano se baseIa en, rentes às seguintes questões:
padrões de execução "por uni-
dades individuais de trabalho". a) que progresso tem sido
Há duas coisas essenciais à in- feito 111 direção do dvo
trodução de um sistema de pla- ou do objetivo a ser
nejamento baseado na exccução: atingido?
b) estão sendo aplicados os
1. Preparação de um Manual dI? padrõe~ de adequação?
Padrõ,es. Tal manual de-
veria conter tôdas as infor- c) está sendo atingido o
mações importantes referen- nível de eficiência de-
tes a cada padrão; sugerir sejado?
equipame!1to c técnicas padro-
d) sugestões quanto a mo-
nizados para a uperação do
dificações quc deveriam
projeto; e instruções para a
aplicação dos padrões à ope- scr fcitas nos padrões
ração dos programas. O Ma- de eficiência e de exe-
nual seria revisto periodica- cução.
mente, encontrando-se sempre
disponível para cada unidade Tôdls as vêzes que se rcgis-
de phnejamento e de exc- trassem discrepâncias entre a exe-
cução; cução, os objetivos e os padrões,
essas discrepâncias teriam de ser
2. Estalecimento de um sÍJtemtl explicadas minuciosamente. Dessa
de 1;elatór;os, baseado na exe- mancira, a organização planejado-
cução. Essc sistema exigiria ra se torna capaz de exercer um
de cada unidade e de cada contrôle pormenorizado sôbre a
organização cxecutiva infor- execução do próprio plano.
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