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I - Introdução
Após a crise financeira de 2008-2009, de efeitos nefastos em nível global, muito se tem
discutido e implementado em termos de formas de se aumentar o acompanhamento e
controle societário sobre as empresas, o que acabou por ressuscitar e reforçar uma idéia não
tão nova: a Governança Corporativa. Mas, afinal, o que seria isso? Muitas são as definições,
mas, tomando-se por base a definição dada pelo Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa – IBGC, temos que:
No entanto, como tem ocorrido nas últimas décadas, não tardou para que estes
conceitos migrassem da Administração Privada para a Administração Pública, numa tentativa a
mais em se buscar maiores Eficiência e Equidade desta última.
Neste cenário, agravado pela já citada complexidade do universo legal que envolve o
administrador público e a diversidade de abordagens estruturais/funcionais dentro (e fora)
do governo para se implementar as diversas ações, é fácil concluir que o alcance de Eficiência
e Equidade, pelos governos, fica muito próximo do improvável, redundando nas “falhas de
governo” que veremos a seguir.
Essa situação também acaba por explicar, mas não justificar, porque os políticos e a
sociedade têm enormes dificuldades em acompanhar e controlar a execução das ações e
programas de seu interesse.
III - Das funções globais do Estado, das falhas de mercado e das falhas de governo
“Entende-se por fracasso de mercado a situação em que existe um bem ou serviço, que afecta
o bem-estar dos indivíduos (é argumento da função utilidade) ou que afecta os custos de uma empresa
(é argumento da produção), para os quais há pelo menos um preço ao qual certos agentes estão
disposto a vender e outros a comprar, mas onde não há mercado para esse bem”. (Pereira et al. ,
2009:45)
Tais falhas, qualquer que seja seu tipo (mercado ou governo), levam a uma
inconstância governamental no que diz respeito ao alcance de Eficiência e Equidade. Isto, por
sua vez, tem frustrado, quase que completamente, a confiabilidade dos serviços que o
Estado presta aos cidadãos. E as razões disso vão desde incompetência técnica governamental
pura e simples, até casos extremos de corrupção ativa e passiva dentro dos próprios governos.
Neste sentido, sintomaticamente, parece, de facto, haver uma relação entre baixa
equidade e corrupção nos governos. É o que nos mostra o relatório “Global Corruption Report
– 2009”, emitido pela Transparency International, quando nos relata os achados de seu
levantamento do Corruption Perceptions Index – CPI – 2008. Informa-nos aquela instituição:
“A simple plot reveals a close association between a good performance in the CPI 2008 and
income per head.[…]. Estimates suggest that an improvement in the CPI by one index point (out of ten) is
associated with higher productivity, a growth in capital inflows equivalent to 0.8 per cent of a country’s
GDP and an increase in average income by almost 4 per cent.”(Transparency International, 2009)
Diante deste contexto, não foi por acaso que os cidadãos, em diversos locais do
mundo, pressionaram por uma aplicação de “boa governança” no contexto da Administração
Pública.
Neste sentido, aqueles mesmos conceitos de transparência, eqüidade, prestação de
contas (accountability) e responsabilidade, citados na abertura deste ensaio, foram
transplantados para o seio da Administração Pública, tentando-se minimizar, ou mesmo
eliminar, diversas disfunções burocráticas desta e que tanto mal vêm causando.
Neste ponto deste documento, faz-se necessário entender como eles estão definidos
e, para isso, vamos nos socorrer, uma vez mais, do Código do Instituto Brasileiro de
Governança Corporativo (IBGC, 2010):
• Transparência
Mais do que a obrigação de informar é o desejo de disponibilizar para as partes
interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por
disposições de leis ou regulamentos. A adequada transparência resulta em um clima de
confiança, tanto internamente quanto nas relações da empresa com terceiros. Não deve
restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais
fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à criação de
valor.
• Equidade
Caracteriza-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas
(stakeholders). Atitudes ou políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são
totalmente inaceitáveis.
• Prestação de Contas (Accountability)
Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação, assumindo integralmente
as conseqüências de seus atos e omissões.
• Responsabilidade Corporativa
Os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das organizações, visando à
sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e ambiental na definição dos
negócios e operações.
TERMINOLOGIAS
CONTEXTO DE ADM. PRIVADA CONTEXTO DE ADM. PÚBLICA
• Agentes de governança • Funcionários Públicos
• Políticos
• Poder Executivo
• Empresa • Adm. Pública
• Equidade (*) • Equidade
• Impessoalidade
• Negócios e Operações • Bens e Serviços públicos
• Accountability(*) • Responsabilização
• Auditoria
• Contabilidade
• Responsabilidade corporativa (*) • Responsabilidade
• Sustentabilidade
• Sócios • Cidadãos
• Utentes
• Transparência (*) • Transparência
• Publicidade
(*) Princípios de governança corporativa.
TRANSPARÊNCIA
EQUIDADE
RESPONSABILIDADE (SUSTENTABILIDADE)
Sobre este tópico, existe uma infinidade de ações do governo brasileiro em busca do
desenvolvimento sustentado. Em verdade, segundo informações disponíveis no próprio sítio
oficial do Governo Brasileiro, temos que:
“Dados do FSC-Brasil referentes a 2008 revelam que existem no país 5,3 milhões de hectares
certificados pelo selo Forest Stewardship Council (FSC), uma das certificações mais respeitadas em todo o
mundo. As atividades foram registradas em 12 estados brasileiros. É o maior índice de certificação em
toda a América Latina e entre os países tropicais. Cerca de 2,5 milhões de hectares referem-se a florestas
naturais e 2,8 milhões a florestas plantadas. As plantações florestais certificadas somam 48% (2,8 milhões
de hectares) da área total de silvicultura no Brasil, estimada em cerca de 5,8 milhões de hectares.” (Brasil,
2010)
ACCOUNTABILITY (RESPONSABILIZAÇÃO)
No que diz respeito a este tópico, o Tribunal de Contas da União – TCU, emitiu a Instrução
Normativa nº 28, de 5 de maio de 1999, onde estabeleceu regras para a implementação da
homepage Contas Públicas (TCU, 2011). Esta, por sua vez, tem acesso a todas as bases de
dados do governo, especialmente àquela relacionada ao Sistema Integrado de Administração
de Serviços Gerais – SIASG, o qual inclui todas as licitações/contratações. Se tomarmos em
conta que, no ano de 2009, os gastos do governo somaram mais de R$ 572 bilhões (109),
equivalente a mais de EUR 255 bilhões (109) , teremos uma dimensão do nível de prestação de
contas que se está a falar.
V - CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
• Alves, André Azevedo; Moreira, José Manuel. “O que é a Escolha Pública? Para uma
análise económica da política”. Ed. Principia. 2004.
• Beetham, David. 1996. “Models of Bureaucracy” in Bureaucracy, 2nd Edition, Open
University Press.
• BRASIL. Meio Ambiente. “Sustentabilidade no uso das florestas”. Sítio oficial do
Governo do Brasil. Disponível em http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-
ambiente/cop/panorama/o-que-o-brasil-esta-fazendo/sustentabilidade-no-uso-das-
florestas. Acessado em 10 Fev 2011.
• Camões, Pedro. “Administração Orçamental e Finanças Públicas”. Notas de aula. 2010.
• IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. “Código das Melhores Práticas
de Governança Corporativa”, 4ª Edição, Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa. São Paulo, 2009 (2010).
• Pereira, Paulo Trigo e al. Economia e Finanças Públicas. Ed. Escolar. 3ª Edição. 2009.
• Transparency International. “The National Integrity System”. Disponível em
http://www.transparency.org/content/download/46187/739801. Acessado em 08 Fev
2011.
• TCU – Tribunal de Contas da União.Contas Públicas. Disponível em
http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/contas_publicas/inicio. Acessado
em 09 Fev 2011.
• UN - United Nations. “International Human Development Indicators”. Disponível em
http://hdr.undp.org/en/data/map/ . Acessado em 09 Fev 2011.