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O Imperialismo no Brasil e na América Latina.

O século XVIII foi para a Europa, principalmente para a Grã Bretanha o século das
grandes mutações, graças a Revolução Industrial que modificou as formas de fabricação de
produtos manufaturados graças à modernização das indústrias e implantação de maquinário
que agilizou o processo de produção de mercadorias. Essa maior agilidade originou por sua
vez uma superprodução que precisava ser escoada para outras partes do globo, já que a
própria Europa não era capaz de absorvê-la, tendo em conta que várias de suas nações
passavam por processos de modernização e produção semelhantes. A busca por mercados
consumidores fez então com que diversas potencias europeias se lançassem a caça de novas
colônias que consumissem seus produtos e fornecessem matérias de base para a produção e
maquinaria. A influência imperialista europeia, tanto britânica quanto francesa estendeu-se
sobre regiões longínquas do planeta, principalmente entre a África e Ásia, mas aportou
também nas Américas, sendo que até a Primeira Guerra mundial seria a Inglaterra a potência
estrangeira dominante nas questões econômicas e políticas na América Latina. Sua
supremacia foi total e incontestável sobre o mundo até o final da segunda metade do século
XIX, perdendo intensidade gradativamente para ser substituída no fim do período.

Mas qual era o interesse da Europa em investir em países latino-americanos? A


resposta é bem simples; devido à abundância de recursos naturais, principalmente o minério.
Mas o motivo central era que a América era um ponto estratégico no período para a
geopolítica, pois o domínio sob o Atlântico e o Pacifico, significava a junção entre o Velho e
o Novo Mundo, como bem explica o geógrafo alemão Friedrich Ratzel, em 1897, que a
posição e as características geográficas de um país determinavam sua política externa.

De acordo com Leslie Bethell, além de ter uma grande frota marítima que dominava
os mares, a Inglaterra era a principal responsável por fornecer bens manufaturados para a
América Latina. Londres então a cidade com maior giro de capital do mundo era a grande
responsável pela maioria dos empréstimos concedidos aos recém-instituídos governos latinos,
e por investimentos internos em setores de infraestrutura, agricultura e produção. Além disso,
a Grã Bretanha era a dona de metade da frota mercante mundial, e seus navios os responsáveis
por transportar os produtos latino-americanos para o mercado mundial. Era ela também uma
das maiores consumidoras desses produtos, tanto alimentícios como de matérias primas que
moviam suas indústrias. Desse modo até o começo do século XX, era a Inglaterra a grande
consumidora, investidora e principalmente credora dos países latinos americanos.
Apesar do cenário desfavorável de dependência estrangeira, as elites políticas e
econômicas latino-americanas acolhiam com prazer os interesses econômicos britânicos, que
até a segunda metade do século XIX, eram em grande parte comerciais. Existiam inclusive
comunidades britânicas em quase todas as principais cidades litorâneas como: Montevidéu,
Buenos Aires e Rio de Janeiro. O interesse inglês na America Latina era motivado sobretudo
pelas possibilidades de importação e distribuição de seus produtos, sobretudo os têxteis e
produtos manufaturados. Sendo que na década de 1840, o Brasil já era um dos maiores
importadores britânicos, o que fazia com que figurasse como o terceiro maior mercado
consumidor inglês, atrás apenas dos Estados Unidos e Alemanha. A América Latina como um
todo era responsável por cerca de 10% do total de importações inglesas, cerca de 25 milhões
de libras anuais, sendo que um terço dessas importações eram dirigidas ao Brasil e
aproximadamente um quarto para a Argentina.

Do mesmo modo, os estabelecimentos comerciais britânicos fixados nesses países,


exportavam vários produtos locais para a metrópole inglesa, como: o café do Brasil e o couro
e a lã argentinos. Vários empréstimos aos recém- independentes Estados Latinos foram
concedidos por Londres de 1822- 1825, ainda que por volta de 1828 a maioria dos países com
exceção do Brasil houvessem atrasados os pagamentos, criando certa tensão em relação aos
acionistas britânicos que por esse motivo mantiveram a concessão de empréstimos somente ao
governo brasileiro. Os estabelecimentos comerciais ingleses investiam também, ainda que de
forma modesta no comércio interno, em sua grande maioria em: terras, processamento de
alimentos e mineração. Ainda que nesse período as empresas de capital conjunto com sede na
Inglaterra começassem igualmente a investir em estradas de ferro no Brasil, Argentina e
outros locais, e em serviços de utilidade pública como: companhias de gás e nos primeiros
bancos comerciais. Como aponta Bethell (1997, p.614):

No começo, a maioria dos países latino-americanos foram buscar na Europa


não apenas mercados para os seus produtos, mas também financiamentos para seu
governo e capital para seus projetos de desenvolvimento econômico. [...] O capital
inglês foi aplicado geralmente na construção de estradas de ferro, na mineração
(nitratos chilenos) e na indústria (acondicionamento de carne no Prata). Os franceses
investiram no setor ferroviário, assim como em propriedades rurais, em bancos, na
mineração e na indústria. Os alemães se interessavam mais pelos bancos de
hipotecas e pelas grandes lavouras (sobretudo na América Central).
No entanto, se de um lado os países da América Latina se veem livres no século XIX
do julgo de suas respectivas metrópoles, eles ao mesmo tempo se entrelaçam
irremediavelmente a Grã Bretanha, deixando a dominação militar e política colonial, pela
dominação econômica e financeira que caracterizava o imperialismo inglês. De acordo com
Dowbor, no caso do Brasil, tendo sido Portugal invadido por Napoleão a economia
metropolitana sofre um abalo profundo, fazendo por sua vez com que a economia brasileira
que desde o tratado de Methuen em 1703, orbitava em torno da inglesa passasse a ser
submetida diretamente ao grande império. A economia comprometida de Portugal era então
insuficiente para proteger e administrar sua colônia contra a influência britânica em plena
industrialização e ascensão, o que gerou uma relação de dependência em relação a esse país,
dificultando o nascimento de atividades auto- dinâmicas brasileiras.

No entanto por volta de 1823 o imperialismo inglês nas Américas começa a ser
contestado e substituído pelos Estados Unidos, então sob a presidência de James Monroe, que
em seu governo institui a chamada “Doutrina Monroe”; onde pregava que todos os
americanos possuíam o direito a seu próprio território, essa doutrina ficaria então conhecida
pela celebre frase “América para os americanos”, o que por sua vez era uma critica a presença
de nações e principalmente economias europeias atuantes nas Américas.

Sob a presidência de Theodore Rosevelt, EUA que já estava se delineando como uma
grande potência industrial nas Américas caminha um passo a mais na direção do imperialismo
e adota a chamada política do “Big Stick”, por meio dela passa a fomentar revoluções, guerras
e a usar sua influência econômica no mundo, a fim de anexar territórios e criar áreas de
controle econômico. Para consagrar seu plano político de expulsão das potências europeias da
economia americana, EUA, passa então a fomentar e financiar em certa medida os desejos de
independência de vários países latino-americanos, como foi o caso de Cuba, colônia
espanhola na qual os estadunidenses possuíam interesses econômicos devido sua posição
estratégica. O país norte americano entra na chamada Guerra Hispano-Americana em 1898
pela a independência com Cuba, ajudando-a a conseguir sua liberdade em relação à Espanha.
Derrotados, os espanhóis retiraram-se, e assinam então, com os Estados Unidos o Tratado de
Paris no mesmo ano, que põe fim à dominação espanhola na ilha, que por sua vez se tornou
um protetorado americano. Foi então nomeado, pelos Estados Unidos, um Governador Geral
norte-americano, o general John Brooke, cujo governo começou a implementar medidas
econômicas que beneficiavam apenas os Estados Unidos. Determinou-se, por exemplo, que
todos os produtos cubanos seriam exportados, a preços baixíssimos, apenas para a nação
norte-americana, que os revendia por preços bem mais elevados.
Mas além da independência desse país, os norte-americanos conseguem resgatar
também as Filipinas, Porto Rico e posteriormente Havaí e as ilhas Guam dos domínios
espanhóis, submetendo-as a sua influência. Ainda em relação a Cuba, após sua independência
e como forma de reconhecimento pela ajuda norte-americana no processo contra Espanha, é
obrigada em 1901 a assinar a chamada Ementa Platt, que assegurava aos EUA, o direito de
intervir economicamente na ilha, estabelecer bases militares e indicar candidatos a
presidência. Se de um lado Cuba havia saído do domínio espanhol, entrava naquele momento
incontestavelmente sob a autoridade da América do Norte.

Além de Cuba, a política do Big Stick se estendeu sob o Caribe e Panamá em 1903.
Como em Cuba, EUA possuía interesses na região devido a sua localização estratégica,
sobretudo pelo desejo de construir um canal na região de suma importância econômica para a
América do Norte devido às possibilidades de comércio com o mercado mundial. De acordo
com Farias (2008), Colômbia a então detentora do território não aceitou o acordo estabelecido
por considerar insuficiente a quantia oferecida, essa recusa fez então com que EUA,
financiasse uma revolução para que o Panamá se separasse da Colômbia. A revolução foi bem
sucedida e a América do Norte reconheceu prontamente a independência do Panamá, sendo
assim a construção do canal iniciou-se em 1904, e dez anos depois os EUA, possuía um canal
para o comércio mundial. O canal do Panamá foi importantíssimo para o avanço imperialista
dos Estados Unidos, pois facilitou o transporte Atlântico-Pacífico, facilitando o contato com o
continente asiático. Esse investimento trouxe grandes vantagens, pois permitiu ao país possuir
um território que tinha saída para dois oceanos; uma linha férrea que cruzava o país de leste
para oeste, além da descoberta de ouro e petróleo. Ademais destas riquezas e descobertas em
seus domínios territoriais era imperioso para os EUA dominar o “quintal” de casa, pois assim
poderia fazer frente ao poder das nações europeias.
Mas será com o fim da Primeira Guerra Mundial que os EUA, se estabelecerá como
uma grande potência imperialista, sem concorrentes que o equivalessem em poder e influência
nas Américas. Isso porque mesmo antes da deflagração da Guerra a Europa estava envolta em
tensões e antagonismos o que gerou uma série de alianças secretas entre vários países
europeus. No mesmo contexto, Itália e Alemanha que se modernizaram tardiamente e que por
isso chegaram atrasadas na disputa imperialista na busca e divisão de colônias, reivindicavam
uma redivisão dos territórios sob a influência econômica e política de outros países. Além
desses fatores, Alemanha era na época uma grande ameaça dentro do território europeu à
hegemonia inglesa, graças a seu rápido desenvolvimento após sua unificação; sua economia
prometia ultrapassar a inglesa. Envolvidos em conflitos internos e externos, os países
Europeus, principalmente Inglaterra uma das maiores nações imperialista na época entram e
participam ativamente da guerra a fim de defender seus territórios coloniais, no entanto a
guerra paralisa as transações comerciais do mercado mundial criando um rombo na economia
inglesa ainda que essa tenha saído vitoriosa do conflito. Por não ser mais a única potência
industrial e comercial, a Grã Bretanha, perde então grande parte de sua hegemonia mundial
para os novos países em crescente industrialização no pós- guerra. Com a derrocada do velho
império, EUA toma seu lugar como grande potência imperialista, já que suas indústrias não
sofriam mais com concorrência inglesa principalmente nas Américas.

Pode-se concluir então que o Brasil e a América-latina fizeram parte das políticas
imperialistas das grandes potências indústrias europeias em ascensão desde a Revolução
Industrial em um primeiro momento, e posteriormente das políticas imperialistas
estadunidenses que buscavam expandir sua área de influência e dominação pelo mundo.

Referências Bibliográficas.

BETHELL, Leslie. O Imperialismo Britânico e a Guerra do Paraguai. Disponível


em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141995000200014&script=sci>. Acesso
em: 04 de Maio de 2018.

DOWBOR, Ladislas. A formação do capitalismo dependente do Brasil. Disponível


em: <http://scholar.google.com.br/scholar_url?url=http%3A%2F%2Fwww.ikl.org.pl
%2FEstudios%2FEL04%2Fel04_02_dowb.pdf>. Acesso em: 04 de Maio de 2018.

FARIAS, Flávio José de Moura. A Dimensão Estratégica da Política Externa dos


Estados Unidos no Caribe (1898-1904). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2008. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/handle/11449/96284>. Acesso em:
06 de Maio 2018.

JUNIOR, Antonio Battisti Bianchet (PIC/UEM); MUNHOZ, Sidnei José (orientador).


As Relações EUA – América Latina: Cuba e a Guerra com a Espanha. Disponível em:
<http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais2011/trabalhos/pdf/Antonio%20Battisti
%20Bianchet%20Junior.pdf >. Acesso em 06 de Maio 2018.
BETHEL, Leslie. CESCATO, Maria Clara. História da América Latina, Volume 1.
São Paulo: EdUSP, 1997

FAGUNDES VIZENTINI, Paulo. As Relações Internacionais da Ásia e da África.


Petrópolis: Editora Vozes, 2007

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