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SOCIOLOGIA – PROFESSORA: BRUNA LUCILA DOS ANJOS

TEXTO 1

OS MISERÁVEIS DO SÉCULO XIX: COTIDIANO E CONDIÇÕES DE TRABALHO DA CLASSE OPERÁRIA


NA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (Angelina Pina, Bernardo Soares e Mayco Rodrigues)

O OPERÁRIO EM SEU TRABALHO NA FÁBRICA FORDISTA


Para produzir mais as fábricas necessitavam de contratar uma grande quantidade de mão de obra e encontravam o
contingente que precisavam nas cidades, que passaram a receber um número cada vez maior de camponeses que
vinham do campo para a cidade em busca de um sustento para si e para seus familiares.
Para que houvesse aumento de lucros era necessário que a fábrica tivesse um padrão organizacional, para que o
trabalho dos operários rendesse o máximo possível. Funcionários eram designados nas fábricas com o objetivo de
vigiar o restante, infligindo penas e castigos àqueles que se portassem de maneira considerada fora dos padrões de
trabalho na fábrica. Até os corpos dos funcionários eram vigiados, cada movimento era controlado. Segundo relatos:
“A poeira era tão densa que às vezes obscurecia a visão. Essa poeira penetrou cada reentrância do pulmão dos
meninos. Um dos garotos às vezes ficava responsável por vigiar os demais espetando-os e chutando-os para que
obedecessem.”

Não só seus corpos eram vigiados e controlados, mas também seu tempo.
Criança, mulheres e homens do século XIX chegavam a trabalhar semanalmente quase duas vezes mais do que
trabalhadoras e trabalhadores de nosso século XXI, ou seja, mais de 70 horas por semana!

“Eu trabalhava das cinco da manhã até as nove da noite. Eu vivia a duas milhas do moinho. Nós não tínhamos relógio.
Se eu chegasse atrasado ao moinho eu seria punido com descontos em meu pagamento. Eu quero dizer com isso que
se chegasse quinze minutos atrasado, meia hora de meu pagamento seria retirado. Eu só ganhava um penny por hora,
e eles iriam tirar metade disso.” Depoimento de Elizabeth Bentley, entrevistada por representantes do parlamento
britânico em junho de 1832.

As relações anteriormente estabelecidas pelas corporações de ofício desapareceram. Nas fábricas o operário não mais
conhece todas as etapas do processo produtivo. Ele não mais possui e domina seu meio de produção, é apenas mais
uma peça na engrenagem das máquinas, é engolido por ela.
As más condições de trabalho prejudicavam a saúde dos trabalhadores e somada ao cansaço dos mesmos só poderia
resultar em queda de rendimento. A solução encontrada pelos capitalistas era de contratar ainda mais funcionários,
tornando o ambiente de trabalho insuportavelmente cheio e sufocante.

“Eu tive freqüentes oportunidades de ver pessoas saindo das fábricas e ocasionalmente às atendi como pacientes. No
último verão eu visitei três fábricas de algodão com o Dr. Clough, da cidade de Preston, e com o sr. Barker, de
Manchester e nós não pudemos ficar mais do que dez minutos na fábrica sem arfar para respirar. Como é possível para
aquelas pessoas que ficam lá por doze ou quinze horas agüentar essa situação? Se levarmos em conta a alta
temperatura e também a contaminação do ar; é alguma coisa que me surpreende: como os trabalhadores agüentam o
confinamento por tanto tempo.” Depoimento de Dr. Ward, de Manchester, entrevistado a respeito da saúde dos
trabalhadores do setor têxtil em março de 1919.

No que diz respeito as crianças, sabemos que eram colocadas para trabalhar em minas menores onde os adultos não
conseguiam entrar. Nas fábricas ocupavam funções nas quais delicadeza era necessária. Suas pequenas mãos eram
usadas para alcançar recantos de máquinas onde outros não conseguiriam atingir.
Pequenos meninos e meninas subiam nas máquinas de fiação para consertar fios quebrados e recarregar bobinas
vazias.
Mulheres e crianças trabalhavam tanto quanto homens adultos, porém mulheres recebiam cerca de metade do que
recebiam os operários do sexo masculino e as crianças recebiam cerca de um quarto do salário recebido por homens
adultos.

FONTE: http://historianovest.blogspot.com/2010/08/os-miseraveis-do-seculo-xix-cotidiano-e.html

TEXTO 2

Relatos de um infiltrado no inferno: a fábrica da Foxconn

O jornal chinês Southern Weekly mandou o repórter Liu Zhi Yi, de 20 anos, para trabalhar infiltrado na fábrica da
Foxconn em Shenzhen, China. Por 28 dias, ele vivenciou as terríveis condições a que são submetidos os mais de
400.000 empregados, montando iPods, iPads e iPhones o dia inteiro sem parar.
Não há a menor dúvida. Os suicídios da Foxconn foram causados por stress de trabalho. Em meio ano, houve nove
tentativas de suicídio com sete mortes confirmadas na fábrica da Foxconn em Shenzhen. No mês passado este número
subitamente subiu para 30 novas tentativas de suicídio, fazendo com que a empresa contratasse conselheiros e até
monges budistas para libertar as almas dos suicidas do purgatório.
A Foxconn é uma das principais fabricantes contratadas pela Apple. Milhares de Mac Minis, iPods, iPhones e iPads são
montados diariamente na fábrica de Shenzhen, que opera 24 horas por dia, sem parar. A empresa também produz para
a Intel, Dell e HP, entre outras.
Depois da sexta tentativa de suicídio em abril, o Southern Weekly – descrito pelo New York Times como o mais influente
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jornal liberal da China – mandou um jovem repórter para se infiltrar como um empregado na fábrica. Ao mesmo tempo,
mandaram um repórter sênior para conversar com os executivos da Foxconn. A missão: descobrir o que estava
realmente acontecendo na fábrica e determinar as verdadeiras razões dos suicídios.

Relatos de um infiltrado no inferno: a fábrica da Foxconn


Durante os 28 dias de investigação, Liu Zhi Yi se impressionou ao descobrir como os empregados vivem uma espécie
de escravidão contratada. Eles trabalham o dia todo, parando apenas para comer rapidamente ou dormir. Eles repetem
a mesma rotina todos os dias, exceto nos feriados públicos. Liu concluiu que, para muitos dos empregados, a única
saída possível deste ciclo é acabar com a própria vida.
Liu, um estudante de graduação, foi escolhido para a tarefa por sua idade, já que a fábrica só contrata jovens de vinte e
poucos anos. Ele foi contratado sem problemas. Só assinou um documento especial: um acordo de horas extras que diz
que a empresa não seria responsável pelas suas longas horas de trabalho. Segundo Liu, este acordo voluntário anula
as leis estatais chinesas.
Os trabalhadores da Foxconn só sorriem no dia 10 de cada mês. Este é o dia em que ganham seus salários. Neste dia,
as máquinas de caixa eletrônico dentro da fábrica ficam lotadas com as filas. Os seus salários mensais começam em
900 Yuan — cerca de R$ 235.
A maior parte dos trabalhadores não têm opinião sobre os populares produtos da Apple que eles montam. A maioria não
ganha o suficiente para ter um. Os seus salários só dão para comprar alguma cópia barata. Enquanto fãs de gadgets no
mundo inteiro discutem qual iPod devem comprar, os trabalhadores da Foxconn debatem os méritos das diferentes
imitações.

Histórias da fábrica
Liu teve suas conversas mais interessantes com outros funcionários durante as refeições. Alguns lhe contaram que
sentiam inveja dos colegas que estavam doentes. Eles ganham folga e podem descansar um pouco. Eles também
discutiram acidentes na fábrica: um trabalhador teve seu dedo cortado durante a produção. Alguns trabalhadores acham
que as máquinas estão amaldiçoadas. Eles consideram perigoso usar as máquinas.
Outro empregado me contou sobre uma das atividades favoritas na fábrica: deixar coisas caírem no chão. Por quê? Os
empregados passam dolorosas oito horas de pé, então eles consideram que se abaixar para pegar um objeto caído é o
momento de maior descanso do seu dia de trabalho.
Os carrinhos da fábrica são chamados de "BMW" pelos trabalhadores. Enquanto os puxam e empurram, sempre com
altas pilhas de produtos, eles imaginam as BMWs que esperam um dia conseguir comprar.
Segundo um trabalhador, eles não conseguem viver sem estes sonhos. Eles sonham em ficar ricos um dia. Alguns
gastam parte do seu salário em bilhetes de loteria e apostas em corridas de cavalos.
Há outros tipos de sonho, também. Liu diz que alguns deles reclamam de suas vidas amorosas. Eles não conseguem
encontrar amantes naquele ambiente, então precisam encontrar alternativas: em alguns "internet cafes" — escondidos
em restaurantes fora da fábrica – os jovens podem ter acesso a vídeos pornôs clandestinos. No entanto, os homens
dizem que os filmes ficam chatos depois de um longo período de tempo.
Muitos não falam sobre os suicídios. Alguns fazem piada com eles. Um dos problemas pode ser a falta de comunicação
e amizade entre os colegas de trabalho. Muitos trabalhadores nem sabem os nomes das pessoas que trabalham ao seu
lado. De fato, segundo o Southern Weekly, os trabalhadores acham difícil se relacionar uns com os outros por usarem
sempre os mesmos uniformes e realizarem sempre as mesmas tarefas todos os dias. Eles não têm assuntos
interessantes para conversar porque só trabalham. Se um empregado fica muito estressado, ele geralmente não tem
com quem dividir os seus problemas ou para quem pedir ajuda.
Talvez os 100 conselheiros contratados pela Foxconn ajudem. E eu acharia legal se eles pudessem ter cinemas e
shopping centers dentro da fábrica para ajudá-los a relaxar. Mas, no fim, o mais importante é que a Foxconn realmente
precisa ser mais humana e preocupada com a saúde física e mental dos seus empregados, em vez de tratá-los como
cachorros.

FONTE: http://www.gizmodo.com.br/conteudo/relatos-de-um-infiltrado-no-inferno-fabrica-da-foxconn/

De acordo com o TEXTO 1, RESPONDA:

1) Qual a principal diferença, citada no texto, entre a fábrica Fordista e as corporações de ofício do século XIX?

2) Qual a solução encontrada pelos Capitalistas para controlar a queda de rendimento dos trabalhadores devido
as más condições de trabalho? Essa solução resolvia o problema? Por quê?

De acordo com o TEXTO 2, RESPONDA:

3) Qual a maneira usada pela Foxconn para driblar a Legislação trabalhista, no que diz respeito a carga horária
de trabalho?

Ao ler e analisar os DOIS TEXTOS, RESPONDA:


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4) Quais são as principais semelhanças entre o trabalho na Fábrica Fordista e na Foxconn? E quais são as
principais diferenças?

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