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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

CAMPUS REALEZA
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

ANA LUIZA DA SILVA MELO, ANA LÍVIA BEJOLA, GUILHERME KANIESKI E


NOA DUTKEVICZ

RESENHA DOCUMENTÁRIO “CARNE E OSSO”

Administração Rural

REALEZA

2022
CARNE E OSSO. Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros. Maurício Hashizume.
Brasil. Repórter Brasil, 2011.

O documentário “Carne e Osso”, dirigido por Caio Cavechini e Carlos Juliano


Barros, foi desenvolvido pelo Repórter Brasil em 2011 e tem uma duração de 65
minutos. Esse documentário relata a realidade dos trabalhadores dentro de
frigoríficos, uma profissão praticada majoritariamente por indivíduos de menor poder
aquisitivo. Grande parte da população desconhece os riscos aos quais esses
profissionais são expostos, como a constante exposição a objetos cortantes,
execução de movimentos repetitivos que podem acarretar em várias lesões, além de
toda a pressão psicológica para manter certos ritmos para alcançar as metas
determinadas pela empresa, realizando assim infinitas jornadas de trabalho em um
ambiente insalubre com temperaturas gélidas e instalações precárias, às vezes sem
intervalos para ir ao banheiro, tendo que até mesmo pedir permissão para o
supervisor, gerando uma intensa pressão psicológica para os trabalhadores.

O documentário começa com os relatos de funcionários de frigoríficos


explicando suas funções diárias e as exigências com as quais esse trabalho é
associado. É relatado ainda que, os funcionários que apresentam problemas de
saúde em decorrência das condições inadequadas e desgastantes de trabalho, são
negligenciados até mesmo pelo corpo médico referente ao frigorífico. No
documentário é citado que um dos médicos era apelidado de “Doutor diclofenaco”,
pela recorrência em que esse médico receitou esse medicamento sem realmente
avaliar a situação dos funcionários, portanto, a terapêutica aplicada proporcionava
alívio temporário mas não resolvia o problema, acarretando uma série de problemas
aos indivíduos, que futuramente viriam a depender do Estado. Mesmo após serem
demitidos por não conseguirem acompanhar a linha de produção, nada podia ser
feito, pois se entrassem com algum recurso, os lucros obtidos por ele não seriam de
grande relevância, às vezes até os familiares eram ameaçados, caso o ex
contribuinte fizesse alguma ação judicial. Apresentando a dura realidade em que
somos inseridos, que ignora cada vez mais as necessidades humanas visando
somente a lucratividade, utilizando o homem como peça descartável.

A maioria das pessoas não produz seu próprio alimento e também não tem
conhecimento sobre o caminho percorrido até chegar na sua mesa. Essa alienação
entre o consumidor e o alimento não é nova, mas na era industrial que vivemos, é
cada vez mais acentuada com a intenção de cada vez tirar mais a noção do
trabalhador. Com pontos positivos e negativos, a mudança na relação das pessoas
com a alimentação passou por grandes mudanças desde o século XX, continuando
no século XXI adentro.

A Primeira Revolução Industrial teve seu início na Europa, mais precisamente


na Inglaterra, no final do século XVIII e início do século XIX. Este período foi
marcado pela máquina a vapor e locomotiva, sendo neste período quando surgiram
as indústrias. Com isso, a produção deixou de ser em pequena escala, artesanal,
caracterizada no máximo pela manufatura, e passou a ser realizada em grandes
escalas. A Segunda Revolução Industrial, teve início na segunda metade do século
XIX e seu final no meio da Segunda Guerra Mundial, gerando fortes impactos na
comunidade e fazendo com que estes métodos se espalhassem pelo mundo todo
com o avanço das ferrovias, como o aumento da produção em massa em um
pequeno espaço de tempo. A 1° e a 2° Revolução Industrial geraram fortes impactos
sob a atual sociedade em que conhecemos, que é facilmente enquadrada no
documentário. Com a mecanização da indústria e da agricultura, o desenvolvimento
do sistema fabril, se desenvolveram novas formas de organização capitalista. A
sociedade é dividida em decorrência do capitalismo e com esse agravante surge o
proletariado, que não possui nenhum meio de produção, então, por não ter opção,
realiza a venda da sua força de trabalho. É possível associar esses conceitos
facilmente aos funcionários do documentário, levando em consideração as
condições em que os mesmos se encontram. Com isso, sua única opção é vender
sua mão de obra, mesmo que isso acarrete problemas futuros, já que possivelmente
é a única forma de renda possível. Trabalhando em uma linha de produção repetitiva
e exaustiva, que são coisas que ocorreram após a revolução industrial.

O Fordismo, criado por Henry Ford em 1913, idealizado para a indústria


automobilística. Com o passar do tempo, foi aplicado em diversos outros ramos. No
início do século XX, já se via esse sistema de produção como método ideal para
aumentar a produtividade e reduzir os custos. Caracterizado pelo uso de esteiras
rolantes, mão de obra especializada, padronização na produção, produção em
massa e redução do tempo de produção, é fácil ver semelhanças com o trabalho
realizado pelos funcionários de abatedouros, com as esteiras passando na frente do
trabalhador, e permanecer em um mesmo local, executando uma determinada
função por um longo período.

Considerando as metáforas de Morgan, podemos classificar a agroindústria


como uma organização tipo máquina, onde a uniformidade do procedimento e
padronização das técnicas administrativas reina. Isso é resultado das características
encontradas: trabalho repetitivo, oferta de mão de obra abundante, ambiente estável
e rotina. Esse tipo de organização é altamente centralizada, onde os técnicos
responsáveis buscam a padronização da organização, possibilitando o controle por
meio de regulamentos e a transformação das tarefas numa rotina.

De acordo com uma ex-funcionária no documentário, “se entrasse uma mosca


no rosto da gente, não dava tempo de fazer isso com a mão”. Os trabalhadores têm
em média 15 segundos para desossar uma peça. A esteira está sempre numa
velocidade alta, e quando tem aumento da demanda se a empresa fecha um
contrato de exportação, a pressão aumenta mais ainda. Com o objetivo de manter
os custos baixos, os gerentes da linha de produção aceleram a velocidade da
esteira, aumentando a pressão, para não precisar contratar mais funcionários ou
pagar hora extra.

Os funcionários são obrigados a atingir as metas a risco de represálias. No


geral, o trabalho num abatedouro é de grande risco, extremamente perigoso, com
facas, motosserras, alicates, eletricidade, água, fluídos biológicos, entre outros.
Como as pessoas estão sempre juntas, resulta em um grau de dificuldade enorme,
precisa ser um processo muito bem sincronizado para que não haja acidentes. Além
disso, instalações inadequadas, que abatem mais animais que o que elas
comportam, se tornam ainda mais perigosas para os funcionários. A dependência
das pessoas pelo salário e o receio de serem mandadas embora, faz com que eles
tenham medo de falar quando estão tendo seus direitos feridos. Ao introduzir as
metas produtivas, não foi questionado o custo desse sistema nos trabalhadores.

É inerente a qualquer tipo de trabalho a exposição a riscos, porém, a


realidade cruenta e perigosa dentro dos abatedouros torna o ambiente ainda mais
periculoso quando comparado aos outros ramos de trabalho. Associando isso a
inerente insalubridade de se trabalhar nesses locais devido ao uso de alicates, moto
serras, facas, correntes, fogo, eletricidade, entre outros, é fácil fazer a conexão do
por que trabalhadores de abatedouros tem tem maiores índices de doenças
psicológicas, psiquiátricas e neurológicas. Isso é claro no ramo jurídico trabalhista,
devido a competição e produtividade acelerada intensa que vem se permeando no
meio de trabalho atual.

Uma desossa de perna de frango, tem 12 cortes e mais de 6 movimentos, no


total em 15 segundos. Isso gera de 80 a 120 movimentos em um único minuto.
Estudos médicos indicam que até 35 está dentro do padrão de segurança da saúde
do trabalhador. Ou seja, o trabalho dentro do frigorífico se encontra muito acima do
limite estabelecido pela segurança do trabalho. É impossível negar a importância
econômica do mercado de trabalho no setor de frigoríficos. No total, são em torno de
800 mil trabalhadores empregados, com 300 mil atuando no abate de bovinos e 500
mil no abate de aves e suínos. Trabalhadores de frigorífico tem 596% mais risco de
queimaduras e corrosões, 743% maior risco de desenvolver doenças articulares e
musculares.

Em uma tentativa de amenizar as condições precárias às quais os


funcionários são submetidos nos frigoríficos, surge a possibilidade de introdução de
maiores multas para as agroindústrias ao descumprirem as normas de segurança do
trabalho, leis trabalhistas, normas da CLT e acordos com sindicatos. Exigir uma
maior cobrança do Estado em relação à saúde dos trabalhadores da agroindústria,
pois no final, o responsável pela saúde desse cidadão que não pode mais utilizar
sua força de trabalho antes da idade de aposentadoria é o Estado. A indústria
simplesmente contrata novas pessoas, e o Estado precisa arcar com a conta. É de
interesse maior para a empresa responder a processos judiciais trabalhistas do que
respeitar os direitos do funcionário. Estatisticamente, levando em consideração a
demora, gastos jurídicos, deslocamento, acertos e propostas, continua sendo mais
viável financeiramente desrespeitar os direitos dos trabalhadores e depois, pagar em
multas ou acertos.

Pensando sobre uma ótica administrativa, a constante rotatividade de


funcionários exige muitos recursos da empresa e equipe. É preciso buscar
funcionários, treinar a pessoa na função, integrar na empresa, ajustar as etapas
contratuais e burocráticas. Claro que o salário baixo pago a esses empregados é um
atrativo para os administradores, porém, a longo prazo, é uma prática que tem um
custo alto. Além disso, sob um ponto de vista econômico, o investimento na retenção
de funcionários e remuneração adequada é essencial para uma economia eficiente.
Um funcionário que tem um melhor salário e segurança no que faz, consegue se
planejar financeiramente para adquirir compras substanciais, como uma casa ou um
carro. Isto gera um impacto na economia em geral, afinal, é um ciclo. Porém, esse
problema não é apenas financeiro. Ambientes hostis, humilhantes, com metas
impossíveis, tem um impacto altamente negativo na vida pessoal do trabalhador,
que, por sua vez, acaba afetando até seus familiares, não somente a própria pessoa
que trabalha dentro do frigorífico, causando um efeito dominó em toda a sociedade.

O documentário “Carne e Osso” alerta sobre as condições estressantes e de


perigo que os trabalhadores de um frigorífico passam, já que eles estão em um meio
em que suas ferramentas de trabalho são de materiais cortantes e eles precisam
que atingir um alto grau de produtividade, levando a pessoa ao estresse e
problemas de saúde, principalmente pela repetitividade do trabalho quanto pelas
condições psicológicas que o trabalhador é submetido. Podemos afirmar, então, que
esse sistema de trabalho é um espelho da primeira e segunda revolução industrial
juntamente com o fordismo que tentam visar um maior lucro com a divisão do
trabalho. Há lugares onde as empresas no ramo de abatedouro já realizam
adaptações para melhorar as condições do trabalhador, como por exemplo, rodízio
de funções, aumento de salários, e em funções que demandam força física
extenuada houve a implementação de máquinas que tornam o manuseio menos
prejudicial a pessoa. Porém, tudo isso depende da administração individual de cada
empresa e do gerenciamento da unidade, não sendo ainda um padrão na
agroindústria.

Relatório de participação

Inicialmente todos os membros da equipe assistiram ao documentário “Carne


e Osso” e fizeram seus próprios apontamentos, pontuando quais partes do que foi
assistido eram mais relevantes para se colocar na resenha, visando principalmente
apresentar ao leitor resumidamente as ideias apresentadas no documentário. Esses
pontos foram revisados e discutidos visando comparar essas informações com as
ideias das escolas do pensamento administrativo. Posteriormente, foram revisados
os textos de referência e definidos em equipe quais eram as informações
consideradas importantes.

No decorrer da elaboração da resenha, após essa primeira discussão cada


integrante elaborou parte do texto escrito. A acadêmica Ana Lívia Bejola,
desenvolveu o parágrafo introdutório, no qual foi apresentado as informações
básicas sobre o documentário e também organizou o resumo inicial com as
informações relevantes para serem apresentadas em um primeiro momento. O
acadêmico Noa Dutkevicz deu início ao desenvolvimento da discussão e
comparação com as escolas do pensamento administrativo, essa discussão foi
realizada em conjunto com a acadêmica Ana Luiza da Silva Melo, nesse momento
do texto, foram retomados os pontos presentes no documentário comparando-os
com o que foi observado nos livros de referência. Por fim, o acadêmico Guilherme
conclui a resenha.

Referências

CARNE E OSSO. Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros. Maurício Hashizume.


Brasil. Reportér Brasil, 2011.

MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. 2. São Paulo Atlas


2011

MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração : da revolução


urbana à revolução digital. 8. Rio de Janeiro Atlas 2017.

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