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FMU

PSICOLOGIA

TRABALHO E SUBJETIVIDADE

INTEGRANTES

Cátia Silva – 3140224

Carolina Nunes – 3248594

Laura Oliveira – 1991380

Luisa Maria Granado Antequera – 5579902

São Paulo

2022
Introdução

A escolha feita para análise e relação com os conteúdos trabalhados nas


aulas de trabalho e subjetividade será China Blue. Um documentário que conta a
história de vida e aspectos econômicos da China, fazendo-nos refletir sobre a
relação com trabalho e aspectos pessoais dos chineses.

O documentário retrata relações de trabalho na China pós-globalização, fala


das condições subumanas de trabalho e os desrespeitos sofridos pelos
adolescentes e adultos trabalhadores para atenderem às demandas de
multinacionais do ocidente.

Desenvolvimento

De acordo com informações retiradas sobre o documentário, a China é considerada


o país que mais cresceu economicamente nos últimos 30 anos, com altas taxas de
elevação do PIB e do PIB per capita. De 1980 a 2004, alcançou a posição de sexta maior
economia do mundo. Em 2010, de forma impressionante e jamais vista, conseguiu a
posição de 2ª lugar no ranking de maior economia global. Entretanto, o crescimento notável
do país tem outra explicação: a exploração do trabalho humano.
É nesse contexto que o documentário Blue China expõe as relações de trabalho em
uma empresa de jeans, e deixa evidente as imposições das demandas ocidentais em um
mundo globalizado. Quando Jenny, na propaganda da empresa Lifeng, diz que os
empregados trabalham a noite inteira para não perderem um prazo. Sem pagamento de
horas extras, muitas mulheres — entre elas adolescentes e mães de colo — e alguns
homens são obrigados a trabalhar mais de 12 horas por dia; muitos possuem apenas 4
horas de sono.
Mais de 130 milhões de camponeses chineses, a maioria mulheres jovens, deixaram
suas aldeias em busca de empregos na economia globalizada. Eles constituem o maior
grupo mundial de mão de obra barata e são os principais produtores de roupas e outras
mercadorias para os consumidores ocidentais (HEAVEN, 2009, p. 11-12).
Nesse contexto podemos fazer a relação entre a dimensão da necessidade do
trabalho – suprir necessidades básicas humanas – até processos de singularidade subjetiva
de cada um.
Jasmine, de apenas 16 anos, é a personagem central do documentário. Jasmine tem
origem do interior rural chines, a jovem, como tantos outros adolescentes, falsifica
documentos para trabalhar na fábrica da Lifeng, documentação que é fornecida pela própria
empresa. Trabalham 17 horas por dia, ganhando 6 centavos a hora. O salário é usado para
pagar as despesas de comida e dormitório da própria fábrica de jeans, o restante Jasmine
tenta poupar e ajudar financeiramente sua família, mas os custos são altos e a poupança é
quase nula. Seu quarto é dividido com outras 12 meninas.
O documentário demonstra a luta dessas garotas em sobreviver às duras condições
de trabalho. Inicialmente, elas foram com um propósito: ajudar a família e juntar dinheiro
para que pudessem melhorar suas condições de vida, acreditando que um dia iriam sair
daquele emprego, pois conscientemente sabiam da exploração que as oprimem. Das 8h às
2h da manhã, sete dias por semana, não recebem hora-extra, nem o salário mínimo exigido
por lei, trabalham para viver e vivem para trabalhar.

Os abusos das fábricas de exportação, como a Lifeng, são comuns por toda a
China. Mas são abusos cometidos tanto por quem exporta como por quem importa tais
mercadorias. As informações de inspeção e o slang das marcas estrangeiras, como
Walmart e Levi’s, apresentadas no documentário, de que seus produtos vêm de fábricas
chinesas que estão consoantes com as leis trabalhistas, são falsos. Eles apresentam o que
o direito internacional e os direitos humanos exigem, mas praticam o que gera lucro: a
exploração de mão de obra extremamente barata chinesa. Um dos funcionários da fábrica
diz:

“Primeiro de tudo, na China a mão-de-obra é barata. Nós temos vários recursos,


especialmente recursos humanos.
Clientes, como Walmart, só vêm aqui para checar a qualidade do produto. Eles não se
importam com a condição de trabalho. Em média os funcionários dormem 4 horas. Às
vezes, eles só dormem 1 ou 2 horas e depois voltam para o trabalho. Falar com a mídia
estrangeira é quebrar leis de segurança nacional, não estou falando em benefício próprio,
mas pelos direitos de todos os trabalhadores. Organizadores que exigem os direitos
trabalhistas correm o risco de ser mandados para campos de reeducação.”

O Sistema misto, ideologia comunista e poder econômico descentralizado, colaborou


para as atividades de trabalho forçado sancionado e não-sancionado. Corrupção, falta de
fiscalização, ausência de políticas públicas e o sistema repressivo chinês impede o controle
por meio de estatísticas sistemáticas sobre a extensão da força de mão-de-obra explorada,
como repreende as tentativas de denúncia pelos funcionários manufatureiros (LEPILLEZ,
2007).
Para competir na economia global, os proprietários de fábricas concordam em
produzir bens a preços baixos exigidos pelos clientes estrangeiros. As elites fabris e as
corporações multinacionais colhem os lucros, e os compradores em todo o mundo se
alegram com os preços acessíveis. Mas a demanda por produtos baratos no mundo
globalizado tem repercussões humanas muito reais (INDEPENDENTLENS, 2007). Em uma
reportagem, o diretor Micha Peled resume essa questão como finalidade do seu
documentário:
Eu queria dar um rosto humano a essa questão da escravidão moderna. Todos nós
sabemos que os trabalhadores do Terceiro Mundo estão sendo explorados em nosso nome.
Mas, enquanto forem massas sem rostos, podemos facilmente ignorar o problema. Assim
que os espectadores conhecerem Jasmine e seus amigos como adolescentes normais com
sonhos, humor e personalidade diários, não é mais aceitável que essas meninas sejam
tratadas tão mal só para termos roupas baratas.

(trecho retirado do site doisniveis.com)

Conclusão

Ao fazer a análise do documentário é necessário refletir sobre a diferença


entre trabalho e emprego. Tendo o emprego como algum vínculo empregatício que
poderá suprir não só as necessidades básicas de alguém ou alguma família, mas
trazer algum tipo de conforto e dignidade. Trabalho será entendido como todo
esforço e relação entre homem/sociedade e natureza, tudo o que requer esforço
“não compensado” em troca de salário, o “trabalho improdutivo”.

O documentário faz um retrato de uma China exploratória em 2005, mas é


possível abranger esse recorte para a China atual e para a realidade brasileira.
Considerando as definições dos termos sobre subjetividade, individualidade e
identidade trazidos na tese de doutorado de Flávia Gonçalves da Silva e a evolução
do modo de produção e seus desdobramentos funcionais na vida do sujeito,
tentaremos entender sobre como essa relação dialética do emprego e trabalho
refletem na vida do trabalhador.
Partindo de um ponto de vista Marxista, o trabalho gerará capital (lucro) ao
dono dos meios de produção e, aos trabalhadores, uma expropriação do que o
mesmo produz, resultando num processo de alienação. O ritmo de trabalho, a
necessidade pessoal e a realidade socioeconômica dos sujeitos mostradas no
documentário exemplifica esse processo de acumulação por parte dos detentores
dos meios e o proletariado.

Ao pensarmos na tríade: singular, universal e particular, concluímos que se o


singular tem “a função de situar o homem na realidade objetiva e transformá-la é
uma forma de subjetividade” (Leontiev, p. 102, 1978) esse processo ocorre com o
intercâmbio entre o externo e interno, o que ocorre numa esfera social e o que tem
no singular a cada um; ou seja, qual a internalização feita pelo sujeito com a troca
alienante de seu trabalho e sua singularidade? O que o seu particular - que é o que
o faz único - consegue compreender e assimilar de si mesmo como autor de sua
vida?

Percebendo essa realidade de trabalho quase ininterrupto e o cenário


particular da menina Jasmine, voltamos à Marx para compreender a dimensão
desse trabalho como: alienante, explorador, humilhante, monótono, discriminante,
embrutecedor e submisso. (ZANELLI, BORGES-ANDRADE, BASTOS & COLS,
p.34).

Entendemos que para minimizar os efeitos embrutecedores da alienação do


trabalho seria necessário: intervenções de fiscalização (sem corrupção), políticas
públicas voltadas aos trabalhadores visando a saúde integrativa dos sujeitos (física
e mental), processos de desenvolvimento e crescimento, atividades lúdicas e
esportivas, entre outros.

Referências

Significado e Mundo do Trabalho: Representação social, atitudes, crenças e


valores Texto: BORGES, L.O.; YAMAMOTO, O.H. O mundo do trabalho. In:
ZANELLI, J.C.; BORGES-ANDRADE. J.E.; BASTOS, A.V.B. Psicologia,
organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artemed, 2014 (pp. 28-41).Texto
complementar: ALBORNOZ, S. O que é trabalho. SP: Brasiliense, 2004. PP. 15-100.
+ DUARTE, N.. A individualidade parasi: contribuição a uma teoria histórico social
da formação do indivíduo. SP: Autores Associados, 1999. (pp. 28-38).

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