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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CAMPUS DE FRANCA

DISCENTE: Pedro Henrique Esteves R.A.: 191224332


DOCENTE: Prof. Dr. Marcelo Mariano
DISCIPLINA: Metodologia das Relações Internacionais
CURSO: Relações Internacionais TURNO: Vespertino

Apontamento de leitura
Texto: HALLIDAY, Fred. Introdução: a importância do internacional. IN:
Repensando as Relações Internacionais. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999.

Na introdução de seu livro Repensando as Relações Internacionais, Fred Halliday


busca analisar a noção de internacional, a disciplina das RR.II e as categorias de seus objetos
de estudo, sendo elas “as relações entre os Estados, as relações não-estatais ou relações
transnacionais (através das fronteiras) e as operações do sistema como um todo [...]”1

 O ‘INTERNACIONAL’ EM PERSPECTIVA 2
Halliday parte de uma noção pluralista das RR.II., citando Paul Feyerabend e
colocando a diversidade como vantagem para o campo. A maior dificuldade da disciplina
seria ter uma metodologia própria e se consolidar como algo independente das outras ciências
sociais. No contexto do fim do século XX, o autor aponta a proliferação do debate superficial
acerca dos temas internacionais diante da globalização, sendo inflada a magnitude da
mudança.
Entretanto, segundo o autor, “Estas duas abordagens – a negação e o exagero – nada
mais são do que dois lados da mesma moeda” 3. As abordagens que exageram esta realidade
tendem a ver as sociedades anteriores a este processo como totalmente isoladas e a concepção
do “internacional ” como posterior às unidades nacionais inatas, corrompendo esta suposta
soberania histórica. Halliday argumenta que o oposto pode ser verdade, com nacionalidades
e Estados sendo definidos a partir das partes de uma sociedade global. A história de processos
de transformação internacional conduz as formações e o curso de cada sociedade.

1
HALLIDAY, 1999, p. 15, grifo nosso
2
Ibid.
3
Ibid., p.16.
Desta maneira “[...] não pode haver uma história puramente nacional de qualquer
Estado: da mesma forma não pode haver teoria da economia, do estado e das relações sociais
que negue o impacto formativo, residual ou recente, do internacional” 4 e a interação entre
estas duas esferas é o cerne do campo das RR.II.

 AS INFLUÊNCIAS NORMATIVAS 5
Fred Halliday classifica as preocupações disciplinares constantes das Relações
Internacionais como as analíticas:

[...] se refere ao papel do Estado nas relações internacionais, ao problema da ordem


na ausência de uma autoridade suprema, ao relacionamento entre o poder e a
segurança, à interação da economia com a força militar, às causas do conflito e às
bases da cooperação. (Ibid.)

E as normativas se referem “à questão de quando e como é legítimo usar a força, às


obrigações devidas ou não ao nosso Estado, ao lugar da moralidade nas relações
internacionais e aos erros e acertos da intervenção.” 6.
O autor aponta o papel da percepção subjetiva dos indivíduos sobre o que
ultrapassa a sua realidade e identidade nacional 7, o que leva a construção de estereótipos,
por exemplo. Cotidianamente, o âmbito internacional é visto por muitos como um tabuleiro
de disputas militares e econômicas – sendo estas, respectivamente, o primeiro e o segundo
objetos de estudo principal das RR.II., que tendem a mudar conforme a realidade do mundo
também o faz. Todavia, é notado que aqueles também estão sujeitos às vontades políticas e
financeiras de uma sociedade e que isto causa perdas na sua qualidade teórica, integrando
perspectivas normativas 8.
Enfim, Halliday argumenta que as RR.II. sofrem de uma “invisibilidade teórica” 9,
isto é, para a maior parte das pessoas não há conhecimento ou clareza acerca do tema,

4
Ibid., p.18
5
Ibid.
6
Ibid.
7
Ver relação com tema de pesquisa.
8
Cf. Linkalater (1992).
9
Halliday, Op. cit., p. 19
confundindo-o até com as políticas internas de outros países. O próprio nome da área
pressupõe que Estados e nações e seus respectivos interesses e interações sejam os mesmos.

 A EMERGÊNCIA DA TEORIA 10
Para começar a abordar as principais vertentes das Relações Internacionais, Halliday
(1999, p.20) define suas influências como “[...] a mudança e o debate dentro da própria
disciplina, o impacto dos desenvolvimentos do mundo e a influência de novas idéias de outras
áreas da ciência social.”.
Tendo começado cerca de um século atrás, os estudos se diversificaram drasticamente
ao longo das últimas décadas, distinguindo-se das outras disciplinas variando suas
abordagens teóricas. Além das três categorias listadas anteriormente (relação entre Estados,
transnacionais e sistêmicas), existem várias subcategorias

[...] os estudos estratégicos, os estudos de conflito e paz, a análise de política


externa, a economia política internacional, a organização internacional e um grupo
de questões normativas pertinentes à guerra: obrigação, soberania e direitos. [...]
especializações regionais nos quais as abordagens teóricas são aplicadas aos estudo
de Estados individuais e de grupos de Estados. (Ibid.)

 O REALISMO E O BEHAVIORISMO 11
Realismo
“Eles tomam como ponto de partida a busca do poder dos Estados, a centralidade da
força militar dentro deste poder e a inevitabilidade duradoura do conflito em um mundo de
múltipla soberania. ” (Ibid., p.23);
Já os membros da Escola inglesa

[…] enfatizaram o grau em que o Sistema internacional era ‘anárquico’ [...] um


grupo de Estados que interagia com certas convenções. Estas incluíam a
diplomacia, o direito internacional, o equilíbrio de poder, o papel dos grandes
poderes e, mais controvertidamente, a própria guerra. (Ibid., p.24)

10
Ibid., p.20.
11
Ibid., p.23.
Consolidada sobre críticas ao Idealismo e dos eventos que levaram à Segunda Guerra
Mundial, passou a ser a mais proeminente vertente da disciplina. “[...] muito dos temas
centrais do realismo aparecem como descendentes (domesticados) do darwinismo social
militarista e racista do final do século XIX e início do XX. ” (Ibid., p.25).

Behaviorismo
Surge na década de 1960 nos Estados Unidos, com uma proposta mais científica e
passa a competir com as perspectivas tradicionais. Para Halliday, o Behaviorismo falho e se
tornou uma corrente agregada ao Realismo, dando origem a novos subcampos, tais como “a
análise de política externa, a interdependência e a economia política internacional. ” (Ibid.,
p.26). Dentre estas, a primeira afrontou mais do que outras concepções solidificadas nas
teorias tradicionais, como por exemplo:

[...] o Estado pode ser tratado com um ator unitário; que pode ser levado a agir
racionalmente para maximizar seu poder e defender o interesse nacional; que o
caráter interno e as influências de um país podem ser tratadas como irrelevantes no
estudo de sua política externa [...] (Ibid., p.26-27)

A abordagem da interdependência por sua vez analisa a crescente relação entre os


Estados e as sociedades e do doméstico com o global, fomentando teorias voltadas cada vez
mais para o setor econômico e sociais, subvertendo a centralidade do Estado na pauta
internacional.

 AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DESDE 1970 12


Halliday afirma que os desafios impostos pelos behavioristas aos realistas não
mudaram o fato de que o Realismo continuava sendo a principal e mais sólida esfera das
RR.II., mas suscitou outras vertentes a também desafiarem a sua hegemonia, como o
Neorrealismo, como uma continuidade do Realismo que busca responder à algumas de suas
críticas iniciais; uma continuação mais radical do próprio Behaviorismo; o Marxismo, que se
preocupou principalmente com questões de subdesenvolvimento, imperialismo e noções de

12
Ibid., p.30
Estado; e o Feminismo, voltando a atenção para a questão de gênero nas relações de poder
em escala global.

 OS PARÂMETROS DO ‘REPENSAMENTO’ 13
O autor encerra o capítulo introdutório de sua obra retomando a sua exposição sobre
o conceito de internacional, do campo das Relações Internacionais e suas interações com as
demais ciências sociais. Halliday também define o caminho percorrido nos próximos
capítulos, nos quais volta a sua atenção a “[...] sistemas políticos e sociais à luz dos
determinantes domésticos e internacionais. ” (Ibid., p.34) e como, metodologicamente, isto
é feito, levando em consideração as influências externas que agem sobre seu
desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

HALLIDAY, Fred. Introdução: a importância do internacional. IN: Repensando as


Relações Internacionais. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999.

13
Ibid., p.33

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