Você está na página 1de 13

Avaliação de Recomendações Normativas que Estimam a Capacidade

Resistente de Vigas de CRFA submetidas à Flexão


Assessment of Recommendations Codes that predict the flexural strength of concrete
beam strengthened with steel fiber

Lorraynne dos Anjos (1); Rafael A. Sobral (1); Calebe Azevedo (1); Hamilton D. Costa (2); Marcos
H. de Oliveira (3); Maurício P. Ferreira (4)

(1) Graduando em engenharia civil, Universidade de Brasília


(2) Doutorando em engenharia civil, Universidade de Brasília
(3) Professor, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília
(4) Professor, Instituto de Tecnologia, Universidade Federal do Pará
Rua Augusto Corrêa, Número 01. Guamá – Belém – Pará CEP: 66075-970

Resumo
Neste trabalho é apresentado um estudo analítico de três recomendações normativas que estimam a
resistência à flexão de vigas de concreto armado compostas de concreto reforçado com fibras de aço (CRFA),
sendo os métodos propostos pelo ACI 544.4R-88 (1999), CEB-FIP (2010) e RILEM TC 162-TDF (2001). O
estudo foi realizado através de um banco de dados composto por resultados de 63 ensaios experimentais de
viga de concreto armado reforçadas com fibras de aço submetidas à flexão ensaiadas similarmente ao Ensaio
de Stuttgart. A altura útil das vigas (d) variou entre 100 e 270 mm, a taxa de armadura de flexão variou entre
0,2 a 2,6%, a resistência à compressão do concreto variou entre 20 e 110 MPa, o volume de fibras de aço
variou entre 0,25 e 2,0%. Observou-se que as recomendações normativas estimaram a capacidade portante
das vigas de CRFA com acurácia e segurança satisfatória. Dentre os modelos teóricos estudados, destaca-
se o modelo proposto pelo ACI 544.4R-88 (1988), que foi o modelo que obteve o melhor desempenho, mesmo
possuindo uma formulação analítica significativamente mais simples que os outros modelos, o que facilita sua
utilização na prática de projeto de elementos estruturais submetidas à flexão.
Palavra-Chave: Concreto armado; Vigas; Flexão, Concreto reforçado com fibras de aço, Modelos analíticos

Abstract
In this work, presented an analytical study of three normative codes that estimate the flexural strength of
reinforced concrete beam composed with steel fiber reinforced concrete (SFRC), being the methods proposed
by ACI 544.4R-88 (1988), CEB-FIP (2010) e RILEM TC 162-TDF (2001). The study was carried through of
database composed by 63 flexural experimental tests of reinforced concrete beam composed of steel fiber
tested similarly to the Stuttgart test. The beam effective depth ranged between 100 and 270 mm, the flexural
reinforced ratio between 0,2 and 2,6%, the concrete compressive strength between 20 and 110 MPa, the fibers
volume between 0,25 and 2,0%. It was observed that the normative codes estimate the flexural strength of
reinforced concrete beam composed by SFRC with accuracy and safety satisfactory. Among the theoretical
models, stands out the model proposed by ACI 544.4R-88 (1988), that was the model that had the best
performance, even having an analytical formulation significantly simpler than the other models, which facilitates
its use in the design practice of structural elements subjected to flexural.
Keywords: Reinforced concrete; Beam; Flexural, steel fiber reinforced concrete; Analytical models.
1. Introdução
O Concreto Reforçado com Fibras de Aço (CRFA) vem sendo cada vez mais utilizado em
obras de grandes pisos industriais, pavimentos de pontes e aeroportos, estruturas
hidráulicas, estabilização de taludes, reparação e reforço de estruturas e também na
fabricação de peças pré-moldadas, destaca Islam (2013).
O CRFA é um material compósito de matriz cimentícia que contém fibras de aço dispersas
aleatoriamente. Algumas vantagens técnicas desse material são apontadas por Barros
(2000), dentre as quais se destacam o aumento da ductilidade, melhor desempenho após
a fissuração e melhor comportamento sob ação de cargas dinâmicas, de fadiga e de
impacto em comparação com o concreto armado convencional.
O ACI 544.1R (1996) aponta que esse desempenho do CRFA é consequência da natureza
do material compósito, isto é, combinam-se as propriedades da fibra como, geometria e
resistência mecânica, às propriedades do concreto sendo a interação das fibras com a
matriz cimentícia a responsável pela efetividade do reforço obtido.
Shakhmenko et al. (2007) destaca que o CRFA possui desvantagens significantes, como a
alta heterogeneidade das fibras, a possibilidade do custo final do CRFA ser maior que o do
concreto convencional e principalmente a falta de unificação dos procedimentos de
construção e projeto com esse material.
Nessa linha, Prudêncio (2013) enfatiza que os atuais modelos de cálculo de
dimensionamento à flexão de vigas de CRFA, apresentam diferenças significativas no modo
de expressar e avaliar o momento último resistente desses elementos estruturais. Assim,
mostra-se necessária uma avaliação do desempenho desses métodos de cálculo de modo
que se possa aperfeiçoar e ampliar o uso deste material.
Portanto, este trabalho tem como objetivo avaliar o desempenho de três modelos teóricos
que estimam a capacidade resistente de vigas de concreto armado reforçadas com CRFA
em níveis de acurácia, precisão, dispersão e segurança dos resultados teóricos. Os
modelos teóricos analisados foram os propostos pelo CEB-FIP (2010), RILEM TC 162-TDF
(2001) e ACI 544.4R (1988).
2. Modelos teóricos
Os códigos normativos, tal como ACI 544.4R (1988), RILEM TC 162-TDF (2001) e CEB-
FIP (2010), possuem recomendações para a estimativa da resistência à flexão de vigas de
concreto armado compostas de CRFA, no qual possuem diferenças significativas em suas
formulações teóricas. As distribuições de tensões e deformações na seção da viga, para
cada modelo são apresentadas na Figura 1, Figura 2 e Figura 3, bem como suas
formulações estão dispostas na Tabela 1,
Tabela 2 e Tabela 4.
Dentre os três códigos normativos citados, o modelo proposto pelo ACI 544.4R (1988), é o
que possui um equacionamento mais simplificado, enquanto que as recomendações
propostas tanto pelo RILEM TC 162-TDF (2001), como pelo CEB-FIP (2010), possuem
ambas um método teórico mais elaborado. Destaca-se que no presente trabalho os
modelos propostos pelo RILEM TC 162-TDF (2001) e CEB-FIP (2010), estão descritos de
forma resumida e simplificada, para maiores detalhes, recomenda-se consultar os
respectivos códigos normativos.
Figura 1 – Distribuição de deformações e tensões na seção transversal da viga, adotada pelo ACI 544.4R
(1988).

Tabela 1 - Considerações da proposta do ACI 544.4R (1988).


lf
 f  0, 00772 V f  Fbe 
df
Onde:
V f - Volume de fibras de aço (%);
Fbe - Eficiência de aderência das fibras em que varia de 1,0 a 1,2, dependendo do
tipo da fibra;
l f - Comprimento das fibras de aço (mm);
Df - Diâmetro das fibras de aço.

e
 f  0, 003  x
0, 003

 f - Deformação de tração no aço no momento resistente teórico da viga, para as


barras de aço = f y / E s , para as fibras =  f / E s ;
x - Altura da linha neutra.

 0,8.x   h  e  0,8.x 
mR ,TEO  As  f ys   d     f  b  h  e   
 2   2 

f c - Resistência à compressão do concreto;


f ys - Tensão de escoamento da armadura;
As - Área de aço da armadura.
Figura 2 – Distribuição de deformações e tensões na seção transversal da viga, adotada pela RILEM TC
162 - TDF (2001) (MORAES NETO. 2013).

Tabela 2 - Considerações da proposta da RILEM TC 162 - TDF (2001).


3,5 se f c  58MPa

  90  ( f c  8) 
4
se  s  25 0 00
 2, 6  35   se f c  58MPa
 cu    100 


  s  kh se  s  25 0 00
 (1  kh )
Onde:
k - Fator que considera o efeito de escala na resistência da viga

  cu  (1  kh )  cu (1  kh )
 se  25 1, 75 se f c  58MPa
 kh k 
s    cy   0,55
25  cu (1  kh ) 1, 75  40  [(f c  8)  50] se f c  58MPa
se  25
 kh
 cr f cr   (1  k   )   (k   ')
 trn   2   cr  0,1  cr = c1 =   t,bot  cu  's  cu
Ec Ec k k
d
f cu  1  f c f cy  f cu f cr   1  0, 7  f cm , f  (1, 6  ) [MPa]
1000
ftrn   2  0, 45  f R ,1  kh ft ,bot   3  0,37  f R ,4  kh
 s  Es se  s  Es  f sy  's  Es se  's  Es  f ´sy
fs   f 's  
 f y se  s  Es  f sy  f ' y se  's  Es  f 'sy
Tabela 3 - Considerações da proposta da RILEM TC 162 - TDF (2001).
Sendo,

c1 0,8 c3 0,65
 lf   lf   lf   lf 
f R1  k1   V f    7,5   V f   fR4  k3   V f    5,5   V f   [MPa]
 d f   d f   d f   d f 
   
Salienta-se que as parcelas resistentes proporcionadas pela fibra de aço, as resistências residuais à tração
na flexão do CRFA (fR1 e fR4), foram estimadas conforme a proposta de Moraes Neto (2013).

1  0, 06  hb0,7 0,3  ( f c  8) 3 se f c  58MPa


2

f ct m , f  f ct m  fctm 
0, 06  hb0,7 2,12  ln(1  0,1  f c ) se f c  58MPa

Parâmetros para obtenção dos braços de alavanca:

 cy  k  d  cr  k  d  trn  k  d   cu  ht1
hc1  hc 2  k  d  hc1 ht1  ht 2 
 cu  cu  cu
ht 3  (1  k  )  d  ht1  ht 2 hs  (1  k )  d h 's  (k   ')  d

Braços de alavanca:

2 hc 2 2 1  f  2  ftrn 
yc1   hc1 yc 2  hc1  yt1   ht1 yt 2  ht1   ht 2   cr 
3 2 3 3  f cr  ftrn 
1  f  2  ft ,bot 
yt 3  ht1  ht 2   ht 3   trn  ys  hs y 's  h 's
3  f f
 trn t ,bot 
Resultante dos esforços internos:

hc1  b ht1  b ht 2  b
Fcu  f cu  hc 2  b Fcy  f cy  Fcr  f cr Ftrn   f cr  f trn  
2 2 2
ht 3  b
Ft ,bot   ftrn  ft ,bot   Fs  f s    b  d F 's  f 's    d
2
Para equilíbrio dos esforços internos:

F  0 i

Se obtivermos o equilíbrio dos esforços internos, calculamos o momento resistente:

M R   Fi  yi
Figura 3 – Distribuição de deformações e tensões na seção transversal da viga, adotada pela CEB-FIP
(2010) (MORAES NETO. 2013).

Tabela 4 - Considerações da proposta da CEB-FIP (2010).


0,8 se f c  58MPa 1, 0 se f c  58MPa
 
  fc  8  50   fc  8  50
0, 8  se f c  58MPa 1, 0  se f c  58MPa
 400  200

f cu    f c

O cálculo de f R ,i seguiu as recomendações de Moraes Neto et al. (2013), conforme segue abaixo:
0,8 0,7
 l   l 
f R ,1  7,5  V f  f  f R ,3  6,5  V f  f 
 d f   d f 
 
w
f Ftu  f Fts  u   f Fts  0,5  f R 3  0, 2  f R1   0
2,5

f Fts  0,45  f R1
wu  2,5 mm

3,5 se f c  58MPa

 cu ,CEB   90   f c  8  
4

2, 6  35    se f c  58MPa
  100 

 cu ,CEB  1  k   
 t ,bot ,CEB 
k
Verifica-se  t ,bot ,CEB   fu
Tabela 3 - Considerações da proposta da CEB-FIP (2010) (Cont.).
wu d
 fu  lcs  min  srm , y  srm  y  1    k   d
lcs 2

 cu ,CEB se  t ,bot ,CEB   fu


 t ,bot ,CEB se  t ,bot ,CEB   fu 
 t ,bot   cu    t ,bot  k
 fu se  t ,bot ,CEB   fu  1  k    se  t ,bot ,CEB   fu

 cu  1  k   cu   k   '
s   s' 
k k

 s  Es se  s  Es  f sy  s  Es se  s  Es  f sy
fs   f s  
 f sy se  s  Es  f sy  f sy se  s  Es  f sy

Braços de alavanca dos esforços internos:

  1  k   
yc  k  d  1   yt  ys  1  k   d ys    k     d
 2 2

Esforços internos:

Fc      f c  k  d  b Ft  f Ftu  1  k     d  b Fs  f s    d  b Fs  f s     d  b

Resultante dos esforços internos:

 F c  Fs  Ft  Fs   0

Se obtivermos o equilíbrio dos esforços internos, calculamos o momento resistente:

mR ,TEO   Fi  yi

3. Banco de dados
No presente trabalho é avaliado as recomendações teóricas de três modelos teóricos do
ACI 544.4R (1988), a RILEM TC 162TDF (2001) e CEB-FIP (2010), no qual estimam a
capacidade resistente de vigas de concreto armado reforçadas com fibras de aço,
submetidas à flexão.
As análises foram realizadas a partir de um banco de dados composto por 63 resultados
experimentais de ensaios de flexão de vigas de concreto armado reforçadas com fibras de
aço dos tipos hooked end, straight e crimped. Esses resultados foram compilados de
trabalhos de 12 autores que usaram sistemas de ensaios similares ao ensaio de Sturttgart,
possibilitando justa comparação entre os resultados teóricos e experimentais. O banco de
dados resumido com as características dos espécimes ensaiados é apresentado na
Tabela 5, a distribuição de dados relevantes aos ensaios, tais como a resistência à
compressão do concreto (fc), a altura útil da viga (d), taxa de armadura de flexão (ρ),
consumo de fibras de aço (Qf) é apresentada na Figura 4.

Tabela 5 - Características dos espécimes ensaiados resumidas.


Nº de bw d a rf fc Qf M,ult
Autor l
vigas (mm) % (MPa) % (KN.m)
Ashour e Wafa (1993) 8 170 265 1590 - 1060 1,39% 86,1 - 90,5 75 0,5% - 1,5% 104,6 - 130,3
Ashour et al . (1997) 3 100 125 1160 1,26% 80,1 - 82,3 75 0,75% - 1,5% 8,7 - 10,9
Kang et a.l (2012) 9 125 210 1165 1,01% - 1,53% 27,8 - 68,6 67 0,51% - 0,77% 35,3 - 48,9
Tan et al. (1994) 5 100 99 600 1,59% 32,6 - 33,8 60 0,5% - 2,0% 6,6 - 7,5
Lima (2012) 5 150 200 600 0,28% - 0,50% 61,2 - 63,3 80 0,25% - 0,76% 9,5 - 19,3
Kovacs e BALAZS (2003) 4 100 80 600 2,68% 30,1 - 37,7 60 0,5% - 1,0% 21 - 27
Ashour et al .(1999) 27 200 215 1290 1,18% - 2,37% 48,6 - 111,4 75 0,5% - 1,0% 55,2 - 120,6
Chunxiang e Paitnaikuni (1998) 10 120 127 650 2,65% 64,6 - 68,1 38 - 46 1,00% 17,4 - 21,9
Santos et al. (2006) 6 350 120 450 0,2% - 0,56% 86,3 - 91,2 80 0,58% 13,13 - 46,2
Kumar e Prassad (2003) 3 100 75 800 2,82% 32,3 - 42,2 66,3 1,0% - 1,5% 99,7 - 122,6
Kumar e Prassad (2008) 7 125 135 350 0,9% 49,9 - 56,1 25 - 35 0,5% - 1,5% 17,8 - 22,1

fc (Mpa):30 40 50 60 70 90 100 ≥ 100


Testes: 12 2 8 16 12 5 6
Soma: 12 14 22 38 50 55 61

d (mm): <100 100 150 250 ≥ 250


Testes: 7 18 28 8
Soma: 7 25 61
53

ρs (%): <0,5 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 ≥ 2,5; 1


Testes: 5 10 16 14 6 10
Soma: 31 45 51 61
5 15

Qf:(%) 0,50 0,75 1,00 1,50 ≥ 1,50


Testes: 1 23 5 24 8
Soma: 1
24 29 53 61

λf : <30 30 40 50 70 54 ≥80
Testes: 3 6 4 7
15 26
Soma: 9 54
3 13 28 61
Figura 4 – Distribuição dos parâmetros coletados no banco de dados.

4. Resultados
A partir dos momentos últimos teóricos obtidos com base nas recomendações normativas
apresentadas, foi possível fazer uma comparação entre os mesmos e os momentos últimos
experimentais reunidos no banco de dados, confrontando os resultados experimentais com
os resultados teóricos, conforme mostra a Figura 5, no qual foi possível avaliar a acurácia
das prescrições teóricas, bem como sua precisão, através do parâmetro estatístico R².
O diagrama de caixas apresentada pela Figura 6a, mostra a análise de dispersão de λ, que
é a relação entre o momento resistente experimental e o teórico (Mu,exp/Mu,teo), no qual exibe
os valores mínimo, máximo, primeiro (Q1), segundo (Q2) e terceiro (Q3) quartil.
A Tabela 6 apresenta o critério de Collins (2001), adaptado por Moraes Neto (2013), que
avalia a segurança das prescrições teóricas, no qual penaliza os resultados de λ conforme
a baixa segurança ou conservadorismo dos resultados teóricos. A Figura 6b exibe o estudo
da segurança oferecida por cada modelo teórico, a partir da classificação de segurança
obtida conforme o critério de Collins (2001), adaptado por Moraes Neto (2013), de modo
que na figura estão dispostas as categorias de segurança assim como as penalidades totais
de cada modelo.

Tabela 6 – Critério de COLLINS (2001) adaptado por Moraes Neto (2013).


λ Classificação Penalidade
<0,5 Extremamente perigoso 10
[0,5-0,85[ Perigoso 5
[0,85-1,15[ Segurança apropriada 0
[1,15-2,00[ Conservador 1
Extremamente
≤2,00 2
conservador

Conforme a Figura 5, a Figura 6 e a Tabela 6, infere-se que o ACI 544.4R (1988), a RILEM
TC 162TDF (2001) e o CEB-FIP (2010) possuem um bom desempenho na estimativas
teórica da capacidade resistente vigas de CRFA submetidas à flexão, tanto à nível de
acurácia, como de precisão, uma vez que os respectivos parâmetros R² foram de 0,95, 0,93
e 0,88.
É cabível destacar o modelo proposto pelo ACI 544.4R (1988), haja vista que foi o modelo
teórico no qual obteve a menor penalização da segurança, assim como foi o mais preciso,
pois obteve o valor de R² de 0,95. Salienta-se ainda que dentre os modelos analisados,
este é o que possui um equacionamento consideravelmente simplificado.
140 140 140
120 R² = 0,8835 120 R² = 0,9374 120 R² = 0,9524
Mu,exp (kN.m)

Mu,exp (kN.m)

Mu,exp (kN.m)

100 100 100


80 80 80
60 60 60
40 40 40
20 20 20
0 0 0
0 20 40 60 80 100 120 140 0 20 40 60 80 100 120 140 0 20 40 60 80 100 120 140
Mu,teo (kN.m) Mu,teo (kN.m) Mu,teo (kN.m)
a) RILEM TC 162 (2001) b) CEB-FIP (2010) c) ACI 544.4R (1988)
Figura 5 - Relação entre Mu,exp e Mu,teo.

A partir das análises das performances dos modelos teóricos que estimam Mu,teo, observou-
se que os três modelos teóricos apresentaram alguns resultados com penalidade tanto
extremamente conservadores como com segurança perigosa, logo, é necessário avaliar
quais parâmetros podem estar influenciando nas estimativas teóricas que preveem Mu,teo.
Para a análise paramétrica dos modelos teóricos, optou-se por analisar a influência do
consumo de fibras (Qf) no concreto nas prescrições teóricas, conforme mostrado na Figura
7, uma vez que quanto maior sua quantidade, maior será o momento resistente da viga.

100
7 81
80 70

Nº de resultados e
6

penalidade total
5 60 46
4 35
40 30
λ

29
3 20 17
22
2 20 8 11
6 5
0 0 0 4 2
1 0
0 RILEM TC 162- CEB-FIP (2010) ACI 544.4R
RILEM TC MC10 (2010) ACI 544.4R TDF (2001) (1988)
162-TDF (1988)
Extremamente perigoso Perigoso
(2001)
Segurança apropriada Conservador
Extremamente conservador Penalidade total
b) Classificação da segurança, conforme adaptação de
a) Diagrama de caixas.
Moraes Neto (2013), do critério de Collins (2001).
Figura 6 – análise da dispersão e segurança dos resultados teóricos.

Além disso, também foi analisado a influência da taxa de armadura de flexão (ρf) das vigas
de CRFA nas prescrições teóricas, como mostrado na Figura 8, devido este parâmetro
influenciar tanto no momento resistente de vigas, como no nível de fissuração do elemento
de CRFA. Haja vista que a eficiência das fibras de aço está diretamente relacionada ao
nível de fissuração do elemento de CRFA, o ρf é um parâmetro de importância significativa
nas análises paramétricas do presente trabalho. Salienta-se que para melhor visualização
da influência destes parâmetros nas prescrições teóricas optou-se por plotar a linha de
tendência dos resultados.
Pode ser observado na Figura 7, que o ACI 544.4R (1998) obteve um desempenho
apropriado nas estimativas dos resultados teóricos, tanto para consumos mínimos de fibras,
como para máximos, o código normativo previu a maioria dos resultados com segurança
apropriada. Contudo, as estimativas do CEB-FIP (2010), tiveram uma tendência
considerável de ser contra a segurança conforme o aumento de Qf., enquanto o RILEM TC
162 (2001) obteve comportamento contrário, tendendo a ser contra a segurança quanto
menor o consumo de fibras.

4 4 4

3 3 3

2 2 2
λ
λ

1 1 1

0 0 0
0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5% 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5% 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%
Qf (%) Qf (%) Qf (%)
a) RILEM TC 162 (2001) b) CEB-FIP (2010) c) ACI 544.4R (1988)
Figura 7 - Influência quantidade de fibras (Qf) nas estimativas teóricas
A partir da análise da Figura 8, infere-se que os modelos possuem uma ligeira tendência a
ser contra a segurança quanto maior a taxa de armadura de flexão. Este é um
comportamento esperado dos modelos teóricos, visto que a eficiência das fibras no reforço
estrutural é menor para grandes taxas de armadura de flexão.

4 4 4

3 3 3

2 2 2

λ
λ

1 1 1

0 0 0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
ρs (%) ρs (%) ρs (%)
a) RILEM TC 162 (2001) b) CEB-FIP (2010) c) ACI 544.4R (1988)
Figura 8 – Influência da taxa de armadura de flexão (ρs) nas estimativas teóricas.

5. Conclusão
O presente trabalho avaliou as prescrições teóricas do CEB-FIP (2010), RILEM TC 162-
TDF (2001) e ACI 544.4R (1988) para a estimativa da capacidade resistente de vigas de
concreto armado reforçadas com fibras de aço submetidas à flexão, ensaiadas similarmente
ao ensaio de Sturttgart.
Dentre os modelos teóricos o ACI 544.4R (1998), que apesar de sua natureza empírica
simples, obteve destaque, haja vista que suas estimativas teóricas obtiveram resultados
com precisão satisfatória, bem como obteve classificação da segurança desejável, no qual
possuiu grande parte dos resultados com classificação de segurança adequada ou
conservadora, evidenciando que de modo geral o código normativo possui segurança
apropriada para o uso em práticas de projeto.
As prescrições do CEB-FIP (2010) e RILEM TC 162-TDF (2001) de modo geral obtiveram
bons desempenhos nas estimativas teóricas, contudo, quando comparado ao ACI 544.4R
(1998), que possui uma prescrição simples, as normas citadas, por possuírem uma
natureza teórica e/ou empírica mais elaborada, deixaram a desejar nas estimativas dos
resultados, pois apresentaram menor precisão e acurácia em suas estimativas teóricas.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer pelo apoio a esta e a outras pesquisas à Universidade
Brasília; ao Núcleo de Modelagem Experimental Aplicada (NUMEA); ao Grupo de Estudos
Tecnológicos em Engenharia Civil (GETEC/UNB); e às Agências de fomento CNPq, CAPES
e FAP-DF.
Bibliografia
ACI 544.4R-88. Design Considerations for Steel Fiber Reinforced Concrete. 1988.

ASHOUR, S. A.; Wafa, F. Flexural behavior of high-strength fiber reiforced concrete


beams. ACI Structural Journal,Vol 90, No 3, May-june 1993.

ASHOUR, Samir A, Wafa Faisal F. e Mahmood K. Influence of steel fibers and


Compression Reiforcement on Deflection of High-Strength Concret Beams. ACI
Structural Journal,Vol 94, N 6, November-December 1997.

CEB-FIP (2010). Model Code 2010: Final Draft. Model Code prepared by Special Activity
Group 5, Lausanne, September 2011.

COLLINS, M.P. Evaluation of shear design procedures for concrete structures. A Report
prepared for the CSA technical committee on reinforced concrete design. 2001.

HENAGER, C. H.; DOHERTY, T. J. Analysis of Reinforced Fibrous Concrete Beams.


Proceedings, ASCE, V.12, ST-l, pp. 177-188. 1976.

ISLAM, M. S. and Alam S., Principal Component and Multiple Regression Analysis for
Steel Fiber Reinforced Concrete (SFRC) Beams. International Journal of Concrete
Structures and Materials. Volume 7. Issue 4, pp 303–317, December 2013.

KANG T. H. K., Kim W., Massone, L. M., e Galleguillos, T. A. Shear-fleure coupling


beahavior of steel fiber-reiforced concrete beams. ACI Structural Journal,V 109, N0 4,
July-August 2012.

KOVÁCS, L., BALÁZ G. L. Structural behavior of steel fibre reiforced concrete.


Structural concrete, vol. 4 No 2, 2003.

KUMAR, S.; PRASSAD, M. M., Flexural behavior of short steel fiber reiforced concrete
beams. BEFIB-2008 Symposium, Chennai, Índia, 17ª-19ª September, 2008.

LIMA, R. P. A. F. P. Utilização de fibras metálicas com funções estruturais em


estruturas de betão. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal, 2012.

MORAES NETO, B. N. Comportamento à punção de lajes lisas em concreto reforçado


com fibras de aço sob carregamento simétrico. Tese de doutorado em estruturas e
construção civil departamento de engenharia civil e ambiental. 2013.

PRUDENCIO Jr., L., Austin, S., Jones, P., Armelin, H., Robins, P., Prediction of steel fibre
reinforced concrete under flexure from an inferred fibre pull-out response.
International Journal of Concrete Structures and Materials, Volume 39, Issue 6, pp 601–
610, December 2013.
RILEM TC 162-TDF. Test and design methods for steel fibre reinforced concrete: Uniaxial
tension test for steel fibre reinforced concrete, Recommendation. Materials and Structures,
v. 34, pg. 3-6, January-February. 2001.

SANTOS, S.; BARROS, J.; FREITAS, M. Betão auto-compactável reforçado com fibras
de aço para reforço à flexão de estruturas laminares. Universidade Minho Guimarães
2004. (Projecto FICOFIRE - POCTI/ECM/57518/2004). 2004.

SANTOS, S.P.F.; BARROS, J.A.O.; FREITAS, M.P., Betão auto-compactável reforçado


com fibras de aço para o reforço à flexão de estrururas laminares (Steel fibre reinforced
self-compacting concrete for the flexural resistanced of laminar structures), 4th JPEE
Portuguese Conference of Structural Engineering, paper in CD, December 13-16, 2006.

TAN, K. H., Paramasivam, P. e Tan, K.C. Instantaneous and long-term deflections of


steel fiber-reiforced concrete beams. ACI Structural Journal,Vol 91, N 4, July-August
1994.

Você também pode gostar