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Fratura

Fratura é a separação ou fragmentação de um corpo sólido em duas ou mais partes,


sob a ação de uma tensão. O processo de fratura pode ser considerado como consti-
tuído de duas partes, início de trinca e propagação de trinca. A fratura pode ser classi-
ficada em duas categorias gerais, fratura frágil e fratura dúctil. A fratura dúctil é carac-
terizada peja ocorrência de uma apreciável deformação plástica antes e durante a pro-
pagação da trinca. A superfície de fratura apresenta normalmente uma quantidade
considerável de deformação. A fratura frágil nos metais é caracterizada pela rápida
propagação da trinca, com nenhuma deformação macroscópica e muito pouca micro-
deformação, similar à clivagem de cristais iônicos. A tendência para a fratura frágil
aumenta com a diminuição da temperatura, com o aumento da taxa de deformação, e
com a condição triaxial de tensões (geralmente obtida por um entalhe). A fratura frágil
deve ser evitada a todo custo, porque ela ocorre sem nenhuma advertência e normal-
mente provoca conseqüências desastrosas.
Este capítulo apresenta um quadro amplo dos fundamentos das fraturas dos me-
tais. Uma vez que a maioria das pesquisas tem-se voltado para o problema da fratura
frágil, este tópico será dado com maior predominância. Os aspectos de engenharia da
fratura frágil serão considerados detalhadamente no Capo 14. A fratura ocorre de ma-
neiras características, dependendo do estado de tensões, da taxa de aplicação da ten-
são e da temperatura. A menos que se diga o contrário, admite-se neste capítulo que a
fratura é produzida pela aplicação de uma tensão uniaxial. A fratura sob condições
mais complexas será considerada nos próximos capítulos. Exemplos típicos são fratura
por torção (Cap. 10), fadiga (Cap. 12), fluência (Cap. 13) e fratura frágil a baixas
temperaturas, fragilização por revenido, ou fragilização por hidrogênio (Cap. 14).

Os metais podem apresentar muitos tipos diferentes de fratura, dependendo do mate-


rial, do estado de tensões e da taxa de carregamento. As duas categorias amplas de
fratura dúctil e frágil já foram consideradas. A Fig. 7.1 ilustra esquematicamente al-
guns tipos de fratura em tração que podem ocorrer nos metais. Uma fratura frágil (Fig.
7 .Ia) é caracterizada pela separação normal à tensão de tração. Externamente não há
evidência de deformação, entretanto com a análise da difração de raios X é possível
detectar uma camada fina de metal deformado na superfície de fratura. A fratura frágil
Fig. 7.1 Tipos de fratura observados em metais su-
jeitos a tensão uniaxial. (a) Fratura frágil de mono-
cristais e policristais; (b) fratura cisalhante em mo-
nocristais dúcteis; (c) fratura completamente dúctil
em policristais; (d) fratura dúctil em policristais.

tem sido observada em metais c.e.e. e h.c., mas não em metais c.f.c., a menos que
existam fatores contribuindo para a fragilização dos contornos de grão.
A fratura dúctil pode assumir várias formas. Monocristais h.c. podem deslizar em
planos basais sucessivos até o cristal finalmente se separar por cisalhamento (Fig.
7.th). Materiais policristalinos de metais muito dúcteis, como o ouro ou chumbo,
podem ter a sua seção reduzida a um ponto, antes que se rompam (Fig. 7.tc). Na
fratura em tração de metais moderadamente dúcteis, a deformação plástica pode pro-
duzir uma região de deformação localizada (pescoço) (Fig. 7.td). A fratura começa no
centro do corpo de prova e depois se propaga por uma separação cisalhante ao longo
das linhas pontilhadas na Fig. 7.ld. Isto resulta na fratura conhecida como "taça e
cone".
As fraturas são classificadas com respeito a várias características, tais como de-
formação necessária para ocorrer fratura, modo cristalográfico de fratura e aparência
da fratura. Gensamer1 resumiu da seguinte maneira os termos comumente usados para
descrever a fratura:

Modo cristalográfico Cisalhamento ' Clivagem


Aparência da fratura Fibrosa Granular
Deformação para fratura Dúctil Frágil

Uma fratura por cisalhamento ocorre como resultado de um deslizamento intenso


no plano de deslizamento ativo. Esse tipo de fratura é provocado por tensões cisalhan-
teso A fratura por clivagem é controlada pela tensão de tração atuando normalmente ao
plano de clivagem. A superfície de fratura que é causada por cisalhamento aparenta
ser, quando observada com pequenos aumentos, cinza e fibrosa, enquanto a fratura
por clivagem aparenta ser brilhante ou granular, devido à reflexão da luz nas superfí-
cies lisas de clivagem. As superfícies de fratura freqüentemente consistem numa mis-
tura de fratura fibrosa e granular, e é comum nos referirmos à percentagem da área
superficial ocupada por cada uma dessas categorias. Com base no exame metalográ-
fico, a fratura em amostras policristalinas pode ser classificada como transgranular (a
trinca se propaga através dos grãos) ou intergranular (a trinca se propaga ao longo dos
contornos de grão). A fratura dúctil é aquela que apresenta um considerável grau de
deformação. O limite entre a fratura dúctil e a fratura frágil é arbitrário e depende da
situação a ser considerada. Por exemplo, o ferro fundido nodular é dúctil quando com-
parado com o ferro fundido comum, mas seria considerado frágil quando comparado
com o aço doce. Como um exemplo adicional, um corpo de prova com um entalhe

1M. Gensamer, General Survey of lhe Problem of Fatigue and Fraclure, em Fatigue, and Fracture of Metais,
lohn Wiley & Sons, Inc., New York, 1952.
profundo apresentará pouca deformação microscópica ainda que a fratura possa ocor-
rer por cisalhamento.

Os metais são de grande valor tecnológico, principalmente devido às suas resistências


elevadas combinadas com um certo grau de plasticidade. Em termos básicos, a resis-
tência é devida às forças de coesão entre os átomos. Em geral, forças coesivas altas
são relacionadas com grandes constantes elásticas, altos pontos de fusão e coeficientes
de expansão térmica pequenos. A Fig. 7.2 mostra a variação da força coesiva entre
dois átomos em função da distância que os separa. Essa curva é resultante das forças
atrativas e repulsivas entre os átomos. O espaço interatômico para o material não-
deformado é indicado por ao. Se o cristal é submetido a uma carga trativa, a separação
entre os átomos aumenta. A força repulsiva diminui mais rapidamente com o aumento
da separação do que a força de atração, de maneira que uma força líquida entre os
átomos contrabalança a carga trativa. Conforme a carga de tração é aumentada, a
força repulsiva continua a diminuir. Atinge-se um ponto no qual a força repulsiva é
desprezível e a força atrativa está diminuindo devido ao aumento da separação dos
átomos, o que corresponde ao máximo na curva que é igual à resistência coesiva teó-
rica do material.
Pode-se obter uma boa aproximação da resistência coesiva teórica se admitimos
que a curva da força coesiva possa ser representada por uma curva seno'idal.
2nx
(J = (JmáxsenT (7-1)

onde a-máx. é a resistência coesiva teórica e x = a - a o é o deslocamento do espaça-


mento atômico numa rede com comprimento de onda À. Para pequenos deslocamen-
tos, senx = x, e

2nx
(J = (Jmh T (7-2)

Se também restringimos a consideração para um sólido elástico frágil, então, da Lei de


Hooke,

Ex
(J = Ee =- (7-3)
ao

À. E
(Jmáx= 2n ~ (7-4)

Fig. 7.2 A força coesiva como uma função da separa-


ção entre os átomos.
Quando a fratura ocorre num sólido frágil, todo o trabalho gasto na produção da fra-
tura vai para a criação das duas novas superfícies. Cada uma dessas superfícies tem
uma energia superficial de Ys ergs por centímetro quadrado. O trabalho realizado por
unidade de área de superfície, na criação da fratura, é a área sob a curva tensão-
deslocamento.

)'/2 2nx ÀCT '


Uo =
f o
CT'
max
sen -
À
dx =~
n

Mas essa energia é igual à energia necessária para criar as duas novas superfícies de
fratura.

ÀCTmáx 2
-- = Ys
n

(J
, =
max
(EYs) Y2
ao

É interessante notar que a resistência coesiva teórica de um sólido frágil pode ser
expressa de maneira tão simples em termos de tais parâmetros básicos. Admitindo
valores típicos para esses parâmetros e substituindo-se na Eq. (7.7),

E = 1,02 X 104 kgf/mm2 (1012 dyn/cm2, 14,5 x 106 psi)


ao = 3 x 10-8 cm
Ys = 1()3 erg/cm2 (5,7 x 10-3 in-Ib/in2)

dando um valor de U" máx. = 1,8 X 103 kgf/mm2 (l,82 x 1011 dyn/cm2, 2,6 x 106 psi).
Medindo-se em termos de fração do módulo elástico, U"máx. = E/5,5. Usando-se outros
valores dos parâmetros e outras espressões para a curva força-deslocamento, as quais
são mais complicadas do que a aproximação da curva senoidal, isto resulta em estima-
tivas de U"máx. variando de E/4 a E/I5. Uma escolha conveniente poderia ser U"múx. =
E/IO.
Experiências com aços de alta resistência mostram que a resistência de fratura de
210 kg/mm2 é um valor excepcional. Materiais de engenharia típicos têm tensões de
fratura que são de 10 a 1.000 vezes menores do que os valores teóricos. Os únicos
materiais que se aproximam do valor teórico são pequeníssimos whiskers metálicos
livres de defeitos e fibras de sílica de diâmetro muito pequeno. Isso nos leva a concluir
que trincas ou falhas são responsáveis pelo fato da resistência à fratura nos materiais
de engei1hãria ser mais baixa do que a resistência teórica.
--Ignorando por enquanto a questão da origem das trincas, vemos que é uma exten-
são lógica da idéia de concentração de tensões (Sec. 2.16) a explicação de como a
presença de trincas! resultará numa redução da tensão de fratura. A Fig. 7.3 mostra
uma trinca e1ípt~ca fina numa placa infinitamente larga. A trinca tem um comprimento
:,~l;pnQ,I "-,
I, 2c

2c e um raio de curvatura p, nos seus extremos. A tensão máxima na ponta da trinca


O"máx' é dada porl ~

Essa aproximação admite que a tensão coesiva teórica O" máx. pode ser atingida local-
mente na ponta da trinca, enquanto que a tensão média O" é muito mais baixa. Entre-
tanto. igualando as Eqs. (7.7) e (7.8), podemos achar a equação para O" que é a tensão
nominal de fratura O"f do material contendo trincas.

_ (EYs)
(fI - -
Y,
4c
Substituindo-se uma vez mais por valores práticos na Eq. (7.9),
E = 1012 dyn/cm2, Ys = 103 erg/cm2, ao = 2,5 x 1O~8 cm

Então, vemos que num sólido frágil uma'pequeníssima trinca produz uma grande dimi-
nuição da tensão de fratura.

I C.E. Inglis, Trans. lns/. Nav. Archir., vaI. 55, pt. I, pp. 219-230,1913. A Eq. (7.8) é equivalente à Eq. (2.109)
desde que para uma elipse p = b'la e a = c na Fig. 7.3.
Griffith' propôs a primeira explicação para a discrepância observada entre a resistên-
cia de fratura dos cristais e a resistência coesiva teórica. A teoria de Griffith é apli-
cada, na sua forma original, apenas para um material frágil perfeito tal como o vidro.
Entretanto, as suas idéias tiveram grande influência no estudo da fratura apesar de não
poderem ser empregadas diretamente para os metais.
)l'." "@riffith propôs que um material frágil tem uma população de trincas finas que
produzem uma concentração de tensões em regiões localizadas de uma grandeza sufi-
ciente para atingir o valor teórico da resistência coesiva, mesmo sob a ação de uma
tensão nominal bem inferior ao valor da tensão teóric;] Quando uma das trincas se
expande para uma fratura frágil ela produz um aumento cfa área superficial das faces da
trinca, requerendo para tal uma energia superior à força coesiva dos átomos, ou di-
zendo de outra forma, requer um aumento na energia superficial. A origem do aumento
da energia superficial está na energia elástica de deformação que é liberada quando a
trinca se propaga. Griffith estabeleceu o seguinte critério para a propagação de uma
trinca: uma trinca se propagará quando a diminuição da energia elástica de deforma-
ção for pelo menos igual à energia necessária para criar a nova supeljície da trinca.
Esse critério pode ser usado para determinar o valor mínimo da tensão de tração que
causará a propagação de uma trinca de um certo tamanho, como uma fratura frágil.
Consideremos o modelo de trinca mostrado na Fig. 7.4. A espessura da placa é
desprezível, de maneira que o problema pode ser tratado como sendo relativo a um
estado plano de tensões. Considera-se que as trincas apresentam seção transversal
elíptica. Para uma trinca no interior do material o comprimento é 2c, enquanto que
para uma trinca na borda é c. O efeito de ambos os tipos de trinca na fratura é o
mesmo. Inglis2 determinou a distribuição de tensões de uma trinca elíptica. A forma-
ção de uma trinca provoca uma diminuição da energia de deformação. A energia de
.JLeformação elástica por unidade de espessura da placa é igual a ~ - --
1tC2(J2
UE= ---
E

1A. A. Griffith, Philos. Trans. R. Soco London. vol. 221A, pp. 163-198, 1920; Fim 1m. Congr. Appl. Mech.,
p~t, 1924, p. 55, este documento fOIreedltado com anotações em Trans. Am. Soco Mel., vol. 61, pp. 871-906,

'. C. E. Inglis, op~ cil:; a Eq. (7.11) pode ser entendida se nós consideramos que a energia de deformação
Slt/a.se numa regJaO cIrcular de ralO c em torno da trinca. A energia de deformação por unidade de volume é
rr 2E, de maneira que U ,. por urudade de espessura é rr(7Tc')/2E. O fator Y.zcai para o caso de uma anãlise mais
ngorosa.
onde a é a tensão de tração normal à trinca de comprimento 2c. A expressão tem um
sinal n'e~ativo porgy_~c~escimento da trinca libera energia elástica de deform-ªção. A
energia a superfície devido à presença da trinca é

De acordo com o critério de Griffith, a trinca se propagará sob a ação de uma tensão
aplicada constante a se um aumento in-cremental do comprimento da trinca não produ-
zir mudança na ene~gia total do sistema, isto é, o aumento da energia superficial é
-compensado por uma diminuição da energia elástica de deformação.
,.
dM! =O=~ (4CY _
Z2
7té ( )
dc dc S E
27tcu2
4'1S --- E =0

u = e::}h
A Eq. (7.14) dá a tensão necessária para a propagação de uma trinca num ,material
frágil em função do tamanho da microtrinca. Nota-se que essa equação indica que a
tensão de fratura é inversamente proporoional' à raiz quadrada do comprimento da

*
trinça, portanto um aumento do comprimento da trinca por um fator 4 reduz a tensão
de fratura pela metade.
Para uma placa que é espessa comparada com o comprimento da trinca (deforma-
ção plana), a equação de Griffith é dada por

A análise do caso tridimensional, onde a trinca é um esferóide muito achatadol, resulta


somente numa modificação da constante na equação de Griffith. Desta forma, a sim-o/'
plificação de se considerar somente o caso bidimensional não introduz um grande erro.
Vamos analisar rapidamente a equação da tensão de fratura derivada de um ponto
de concentração de tensões, Eq. (7.9), e a equação de Griffith, Eq. (7.14). A Eq. (7.9)
pode ser escrita como

u = (2EYs P )Yz
7t t

r 7tC 800

Quando Pc = 300, essa equação se reduz à equação de Griffith. Então, Pc = 300 é o


limite inferior do raio efetivo de uma trinca elástica. Em outras palavras, ar não pode
se aproximar de zero, à medida que p, se aproxima de zero. Quando Pt < 3ao a tensão
para produzir fratura frágil é dada pela Eq. (7.14), mas quando P, > 3ao a tensão de
fratura é dada pela Eq. (7.9).
A equação de Griffith mostra que a tensão de fratura é fortemente dependente do
comprimento da trinca. A teoria de Griffith prevê satisfatoriamente a tensão de fratura
de um material completamente frágil como o vidro. No vidro, a partir da Eq. (7.14),
são colocados valores razoáveis do comprimento da trinca de cerca de I JLm. Para
cristais de zinco, a teoria de Griffith prevê um comprimento de trinca crítico da ordem
de vários milímetros. Esse comprimento médio de trinca poderia ser facilmente maior
do que a espessura da amostra, e portanto a teoria não se aplica.
A importância do termo energia superficial pode ser demonstrada pela obtenção
da fratura em soluções de ativação química das superfícies. A tensão de fratura do
gelo, quando testado em dobramento no ar, é de cerca de 10,6 kg/cm2. Se o corpo de
prova de dobramento for pulverizado com cloreto de metila, para diminuir Ys, a tensão
de fratura será reduzida para cerca de 5,3 kg/cm2. A sensibilidade da fratura de sólidos
frágeis às condições de superfície tem sido denominada Efeito de Joffe '. O uso de
agentes ativadores da superfície faz com que o broqueamento de rochas se torne mais
fácil. Em sistemas metalúrgicos a energia superficial pode ser reduzida pela adsorção
superficial de um elemento em solução sólida. Por exemplo, a adição de 0,5% de Sb ao
eu reduz a energia superficial de cerca de 1.800 para 1.000 erg/cm2• Uma vez que a
concentração de soluto cresce nos contornos de grão, isso pode levar a uma fragiliza-
ção intergranular.

Está bem determinado que, mesmo os metais que fraturam de uma maneira completa-
mente frágil, sofrem alguma deformação plástica antes da fratura. Esse fato é substan-
ciado por estudos de difração de raios X da superfície de fratura2 e por estudos meta-
lográficos da fratura (ver Seco 7.7). Portanto, a equação de Griffith para a fratura não
se aplica para metais. Uma maneira de constatar que a tensão de fratura de um mate-
rial que sofre deformação plástica antes da fratura é maior que a de um material total-
mente frágil (elástico) é considerar a Eq. (7.9). Seria de se esperar que a deformação
plástica nas extremidades da trinca diminuísse a agudez da ponta da trinca e aumen-
tasse Pt> aumentando assim a tensão de fratura .•.•
'
Orowan3 sugeriu que a equação de Griffith poderia ficar mais compatível com a
fratura frágil em metais, através da adição de um termo YP' expressando o trabalho
plástico necessário para aumentar as paredes da trinca. ~

O termo da energia superficial pode ser desprezado uma vez que estimativas do termo
do trabalho plástico são de 105 a 106 erg/cm2, comparadas com o valor Ys de cerca de
1.000 a 2.000 erg/cm2•
Uma aproximação similar feita por Irwin4 criou a fundamentação para a impor-
tante área da mecânica da fratura. Irwin propôs que a fratura ocorre a uma tensão de
fratura correspondente a um valor crítico daJorça de expansão da trinca Wc> onde a
Eq. (7.16) é reescrita como --

I A. F. Joffe, The Physics of Crysrals, McGraw-HiU Boak Company, New York, 1928.
2 E. P. Klier. Trans. Am. Soe. Met., vol. 43, pp. 935-957,1951; L. C. Chang,J. Mech. Phys. Solids, vol. 3, pp.
212-217, 1955; D. K. Felbeck e E. Orowan, Welding 1., vol. 34, pp. 570s-757s, 1955.
3 E. Orowan, em Fatigue and Fracture of Mecals, Symposium at Massachusetts Institute af Technology, John
Wiley & Sons, Inc., New York, 1950.
4 G. R. Irwin, Fracture, em Encyclopedia of Physies, vol. VI, Springer, Heidelberg, 1958; G. R. !rwin, J. A.
Kies e H. L. Smith, Am. Soe. Test. Mater. Proe .. vaI. 58, pp. 640-660, 1958.
p

t
o

/
Exten-
sômetro

A for a deEI2ansão da trinca C§ tem unidades de (kgf-mm/mm2). C§ pode ser também


considerada a taxa-de enúgiã dlideformàçãõ,- isto -é, a taxa de perda de energia do
campo de tensões elásticas para o processo inelástico de propagação da taxa. Nota-se
que a agudeza da trinca p/c não aparece na Eq. (7.17). De fato, esta é parte do valor C§c
que está associado com um material particular.
A Fig. 7.5 mostra como C§ pode ser medida. Um corpo de prova com um único
entalhe na borda é carregado uniaxialmente através de pinos. O entalhe mais agudo
possível é produzido pela introdução de uma trinca de fadiga na raiz do entalhe mecâ-
nico. O deslocamento dessa trinca em função da força axial é medido com a pinça de
um extensômelro presa na entrada do entalhe. Curvas carga versus deslocamento são
determinadas para diferentes comprimentos de entalhe, onde P = Mô. A energia de
deformação elástica é dada por

I p2
Vo =-Po =-
2 2M

oVo I P OP
é§=--=----
oc 2M oc
é§ = ~ p2 o(lfM)
2 oc
Fig. 7.6 Modelo para as equações para as tensões
num ponto perto de uma trinca.

Desta forma, 'fi é uma função da carga e da inclinação da curva! (l/M) versus compri-
mento da trinca. O valor crítico da força de propagação da trinca 'fie é calculado2 pela
carga na qual a curva P-O desvia-se abruptamente da linearidade.
A distribuição de tensões para uma chapa fina de um sólido elástico na ponta da
trinca, em termos das coordenadas indicadas na Fig. 7.6, é dada pelas Eqs. 7.20.

(J:c = (J (C)2,. 'h [ 8 ( I - sen 2


cos 2 8 sen"2
38)]

(Jy=(J (C)2r 'h [ cos


2
8 ( I +sen sen"2
8
2
38)]

C) 'I:, [ 8 8 38]
sen - cos - cos -
"t
"y
= (J
( 2r
-
2 2 2

onde (j = tensão total nominal = P/IVt. Estas equações são válidas para c > r > p.
Para uma orientação diretamente à frente da trinca (O = O),
'12
(J = (J = (J .!!- )
:c y ( 2r

Irwin mostrou que as Eqs. (7.20) indicam que as tensôes locais perto da trinca
dependem do produto da tensão nominal (j e da raiz quadrada da metade do compri-
mento da trinca. Ele chamou essa relação de fator de intensidade de tensôes K, onde
para uma trinca aguda elástica numa placa infinitamente larga, K é definido como

Nota-se que K tem dimensões incomuns de kg/mm3/2, ou psiVíri. ou MN/m3/2, ou


MPaYmm. Usando-se essa definição para K, as equações para o campo de tensões na
ponta da trinca podem ser escritas como

(J:c= K [COs~(I-sen~sen38)]
J2nr 2 2 2

, A mesma equação seria desenvolvida para 'ti quando a placa fosse submetida a uma carga constante P ,. só que
agora V. aumenta com c. enquanto que para o caso de garra fixa. V. diminui com o comprimento da trinca.
, Ver Capo 14 para detalhes adicionais sobre o teste de tenacidade à fratura.
uy =
K
J2nr
[ 8 ( I +sen2sen"2
cos2
8 38)]
't"xy= J2nr
K (8 8 38)
sen2 cos 2 cos "2

o fator de intensidade de tensões K é uma maneira conveniente de descrever a distri-


buição de tensões em torno da falha. Se duas falhas de diferente geometria têm o
mesmo valor de K, então o campo de tensões em torno de cada uma das falhas é
idêntico. Os valores de K para muitas geometrias das trincas e para muitos tipos de
carregamento podem ser calculadosl com a teoria da elasticidade. Para o caso geral, o
fator de intensidade de tensões K é dado por

onde a é um parâmetfo que depende do corpo de prova e da geometria da trinca. Para


servir de exemplo, a Eq. 7.24 mostra o valor de K para uma placa de espessura 111
carregada em tração com uma trinca de comprimento 2c localizada no centro:

- (111 nc)\tí
K = uJ nc - tan -
nc w

Em relação com o fator de intensidade de tensões existem vários modos de de-


formação que poderiam ser aplicados para a trinca, os quais têm sido padronizados
como mostra a Fig. 7.7. O modo I, modo de abertura da trinca, refere-se à tensão
trativa aplicada na direção y normal às faces da trinca. Esse é o modo usual para o
teste de tenacidade à fratura, e um valor crítico da intensidade de tensões determinada
para esse modo seria designado por K1c' O modo II, modo de cisalhamento frontal,
refere-se a uma tensão de cisalhamento aplicada no plano da trinca normal à aresta
frontal da trinca. O modo III, modo de cisalhamento paralelo, é para tensões cisalhan-
tes aplicadas paralelamente à aresta frontal da trinca. O modo I de carregamento é a
situação mais importante, onde existem dois casos extremos. Com um corpo de prova
do tipo de placa fina ocorre um estado plano de tensões, enquanto que corpos de prova
espessos têm uma condição de estado plano de deformações. A condição plana de

1 Um compêndio excelente dessas relações é dado por P. C. Paris e G. C. M. Sih, em J. E. Srawley e W. F.


Brown (eds.), FraclUre Toughness Testing, p. 30, ASTM STP No. 381, Filadélfia, Pa. 1965.

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