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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL II

DOCENTE: CARLOS RÁTIS

DICENTE: JOCIMAR DE JESUS CARNEIRO

Fichamento V

A EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO DO DIREITO DE ACESSO AO ENSINO


FUNDAMENTAL NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

1. O ENSINO FUNDAMENTAL BRASILEIRO ANTES DA INDEPENDÊNCIA

“A história de proteção ao direito de acesso ao ensino fundamental no Brasil" está


intrinsecamente ligada à evolução do direito constitucional pátrio, confirmando o
espírito do legislador constituinte em amalgamar na Constituição Federal, a
Constituição da Educação.” (p.23)

1.1 O período jesuítico (1549-1759)

“[...] o primeiro período da educação brasileira", uma vez que o ensino ficava ao
encargo da Companhia de Jesus", instituição religiosa que ministrava o ensino
fundamental, nas chamadas "escolas de ler, escrever e contar". [...], mas incluía também
os índios, dentro dos objetivos práticos da ação missionária dos jesuítas no Novo
Mundo, no sentido de recrutamento de fiéis e servidores". Excluídos da educação,
estavam os escravos, a população desprovida de posses" e as mulheres.” (p. 24-25)

1.1.1. O período do Ratio Studiorum (1570-1759)

“O segundo período jesuítico, por sua vez, foi marcado pela organização e
consolidação da educação peja Companhia de Jesus através do plano contido no “Ratio
Studiorum", que predominou durante dois séculos, quando ocorreu a expulsão dos
jesuítas de Portugal e de suas colônias por ato do Marquês de Pombal, então Primeiro-
Ministro do Rei D. José I.” (p.26)
“[...] Universalista porque se tratava de um plano adotado, indistintamente por todos
os jesuítas, qualquer que fosse o lugar onde estivessem. Elitista porque acabou se
destinando aos filhos dos colonos e excluindo os indígenas", com o que os colégios
jesuítas se converteram no instrumento de formação da elite colonial, suprimindo os
estágios iniciais previstos no plano educacional de Manoel da Nóbrega.” (p.27)

1.1.2 O período pombalino (1759 a 1808)


“Pelo Alvará de 28 de junho de 1759, o Estado lusitano instituiu um sistema de
ensino laico através de Aulas Régias, embora a religião católica continuasse
obrigatoriamente presente, assumindo pela primeira vez a responsabilidade direta pela
educação, rompendo com o pensamento escolástico de uma tradição de dois séculos
pelos jesuítas.” (p.27)
visando inserir
“[...] Portugal ao contexto histórico caracterizado pelo Iluminismo, entendendo que
o objeto da educação seria o de preparar súditos capazes de identificar e reconhecer
como legítimos as leis e os costumes do Estado Lusitano. [..], conformar a ordem
política, adequando cada um ao lugar que lhe fora reservado por sua origem de classe,
não se confundindo a educação pública como instrumento de democratização de
oportunidades sociais.” (p.27-28)
“As origens do que venha a ser compreendido, atualmente, como ensino
fundamental" remontam, nomeadamente, às duas Reformas Pombalinas, quando se
efetivaram a implantação de um novo sistema
escolar, o sistema das Aulas Régias.” (p.28)

1.2.1 A primeira Reformo Pombalina (1759 a 1772)

“A designação Estudos Menores correspondia ao ensino primário e secundário,


sem distinção, que depois de concluídos, habilitava-se o estudante a cursar os Estudos
Maiores, ou seja, aqueles oferecidos
pela universidade".” (p.29)
“[...], a escola pública brasileira, desde o seu nascimento, nunca preencheu as
necessidades da população brasileira, uma vez que a educação não era prioridade para
os investimentos do Império português, que tentava dividir sua responsabilidade com a
sociedade, através de prática de subscrições populares para arrecadar fundos e
incentivos com associações voltadas para a promoção da instrução, havendo a
proliferação do ensino particular". (p.30)

1.2.2 A segunda Reforma Pombalina (1772 a 1808)

“[...], através de Lei de 6 de novembro de 1772, tentou promover correções para


incrementar a oferta escolar com três objetivos: i) reformar os Estudos Maiores,
substituindo os antigos Estatutos da Universidade de Coimbra, elaborados pelos
jesuítas, por um novo Estatuto que se adequasse ao pensamento iluminista; ii) criar um
imposto do Subsidio Literário, para financiar as reformas dos Estudos Menores; iii)
instalar nas principais cidades do país, novas Escolas de Estudos Menores.” (p.30)

1.3. O período joanino (1808-1822)

“[...], a família real lusitana migrou para o Brasil em 1808, dando início, do ponto de
vista educacional, ao período joanino, com a chegada de D. João VI à Colônia Brasileira
que passou à condição de sede do império, resultando na expansão, especialmente, do
ensino superior, antes vetado pela política metro. politana, [...].” (p.31)
“Com efeito, ainda em 1808, buscando a Coroa Portuguesa permitir o mínimo de
condições para sua penitência na promovida Colônia, foram implantados os primeiros
cursos de cirurgia na Cidade de São Salvador e outro na Cidade do Rio de Janeiro, para
onde de pois se deslocaria a família real, onde também fundaria a Academia Real da
Marinha (1808) c Academia Real Militar (1810), objetivando ter cuidados mínimos
necessários para a sua saúde e uma estrutura militar contra invasões.” (p.32)
“[...], só após a declaração de Independência do Estado Brasileiro perante a
Metrópole Lusitana, houve o desdobramento das Universidades Brasileiras, com o
aparecimento de faculdades isoladas por todos o país, de caráter federal, tendo como
pioneira a Faculdade de Medicina em 1832, em Salvador.” (p.32)

Capítulo II
O DIREITO DE ACESSO AO ENSINO FUNDAMENTAL NAS
CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

“Após a Proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, o


acesso ao ensino fundamental público alçou a condição de norma constitucional inserida
dentre os direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, na Constituição Imperial de
1824, estando, decisivamente, presente em todas as Constituições Brasileiras", [...] atual
Constituição da Educação (artigos 205 ao 214 da Constituição Federal de 1988).” (p.33-
34)

1. Constituição de 1824

“A Constituição Imperial de 182441 discorreu sobre a proteção ao ensino


fundamental de forma tímida, tendo D. Pedro I ressaltado, no seu último artigo, que a
instrução" primária') fosse gratuita a todos os cidadãos" (artigo 179, XXXII)".” (p.35)
“No que tange à competência para Legislar sobre a instrução primária, a
Constituição Imperial foi omissa, mas vários projetos de à reforma da educação foram
apresentados Câmara dos Deputados com o objetivo de criar o ensino primário no
Município da Corte e servir de exemplo às províncias que compunham o reino. [...].”
(p.36)
“[...] decorrência da publicação do Decreto das Escolas de Primeiras Letras, em 15
de outubro a primeira Lei de Diretrizes e de 1827, que pode ser considerada Bases da
Educação Brasileira. Até então, o ensino fundamental era oferecido, principalmente, no
meio rural, em caráter individual, ou seja, os professores ensinavam aos alunos a ler,
escrever, calcular, separadamente. [...].” (p.36)
“[...]. Desde os seus primeiros passos, a profissão docente no Brasil foi,
propositadamente, desvalorizada, nomeadamente, a responsável pelo ensino
fundamental, na medida em que foi utilizada como instrumento de projeto político, para
prejudicar a formação do titular do poder constituinte num Estado Democrático.” (p.37)

2. Constituição de 1891

“A primeira Constituição Republicana" utilizou, indiscriminadamente, as palavras


ensino e educação, sem garantir efetivamente a proteção ao direito de acesso ao ensino
em seus diferentes níveis, estabelecendo não privativamente, ao Congresso Nacional,
criar instituições que promovessem o ensino leigo nos estabelecimentos públicos, bem
como criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados c prover a instrução
secundária no Distrito Federal, [...]” (p37-38)
“[...], com a descentralização advinda do Império, o ensino primário passou a ser
de competência dos Estados" e o ensino secundário e superior de competência
concorrente entre a União e os Estados. [...] - não foi incluído na agenda de temas
importantes da instância federal na Primeira República (1890-1930), período que foi
marcado pela relevante influência da instância estadual sobre a municipal, em especial,
quando proclamada a municipalização do ensino de 1º grau.” (p.38)

3. Constituição de 1934

“Foi a brevíssima Constituição Getuliana de influenciada pela Constituição de


Weimar, que introduziu um capítulo próprio de proteção aos direitos sociais para
atender aos desígnios do We!fare State, entre eles o direito de acesso ao ensino em
todos os graus impondo políticas que promovessem a erradicação ao analfabetismo,
através de ensino primário integral e gratuito e de frequência obrigatória, extensivo aos
adultos. (p.39-40)

“[...], o legislador constituinte em 1934 já ressaltava, expressamente, o caráter


instrumental do direito de acesso à educação para assegurar a efetividade de outros
direitos fundamentais, estabelecendo o direito à educação como direito de todos, [...],
desenvolvendo um espírito brasileiro, a consciência da solidariedade humana e o ensino
primário integral, gratuito e de frequência obrigatória (artigo 149).” (p.40)

4. Constituição de 1937

“A Constituição Polaca de 1937 restringiu inúmeros avanços relativos aos direitos


fundamentais já positivados na Constituição anterior, não sendo diferente quanto às
normas que asseguravam o direito de acesso ao ensino fundamental.” (p.43)
“[...], houve flagrante retrocesso na proteção do direito de acesso ao ensino
fundamental público, na medida em que a Constituição de 1937 manteve poucas normas
declaratórias relativas à matéria, em que pese esboçar novas normas sancionatórias aos
responsáveis negligentes ou que apresentassem escassez de recursos financeiros em
manter a educação dos seus filhos [...].” (p.43)
“O ensino fundamental foi utilizado, pois, com finalidade de preparar cidadãos
que se adequassem à ditadura imposta pelo Governo Vargas. Vale dizer, o Estado Novo
através do serviço educacional tentava manter sua ideologia política.” (p.45)

5. Constituição de 1946

“Por sua vez, a Constituição de 1946 retomou inúmeros preceitos da


Constituição de 1934 relativos ao acesso ao ensino fundamental, mantendo a
competência da União em legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional
(artigo 5°, XV, alínea d). Reafirmou os princípios de liberdade e solidariedade no
oferecimento da educação, que deveria ser dada no lar e na escola (artigo 166), trazendo
inúmeras novidades, [...]” (p.35-36)

6. Constituição de 1967

“A outorgada Constituição de manteve diversos dispositivos da Constituição de


1946 quanto ao direito de acesso ao ensino fundamental, inspirado no princípio da
unidade nacional e nos ideais de liberdade e solidariedade humana (art. 176), [...]”
(p.48)

7. Constituição de 1969

“A Constituição de 1969 denominada formalmente de Emenda Constitucional de


nº 01 de 17 de outubro 1969, de manteve quase na sua totalidade os dispositivos que
tratavam sobre o direito à educação da Constituição de1967, vendo preconizado pela
primeira vez, expressamente, a inequívoca responsabilidade estatal perante o fomento
da é educação quando foi estabelecido que "a educação direito de todos c dever do
Estado" (artigo 176).” (p.49-50)
“Impende consignar as mudanças promovidas pelas normas constitucionais
relativas ao direito de acesso ao ensino fundamental nesta Carta, [...].” (p.60)
“A reforma do ensino primário e médio foi consubstanciada nos princípios da
integração vertical e horizontal, continuidade-terminalidade, racionalização-
concentração e flexibilidade, introduzindo a distinção entre terminalidade ideal ou legal
e a terminalidade real. [...], mesmo aqueles que não chegassem ao segundo grau ou não
completasse o primeiro grau, saíssem da escola com algum preparo profissional para
ingressar no mercado de trabalho, em prejuízo, pois, do acesso ao ensino fundamental
de
qualidade às regiões mais carentes.” (p.51)

8. Constituição de 1988- A constituição brasileira da educação

“O texto originário da Constituição Federal de 1988 instaurou uma nova era de


proteção ao direito à educação, criando o mais completo e avançado arcabouço jurídico
na proteção do direito de acesso ao ensino fundamental do mundo", impondo,
expressamente, a necessidade do Estado em oferecer um ensino com garantia de padrão
de qualidade.” (p.52)
“[...], foi criada uma verdadeira Constituição Brasileira da Educação que
ultrapassa os artigos 205 ao 214 da Constituição Federal (Seção I do Capítulo III do
Título VlII – da Educação, da Cultura e do Desporto), e encerra princípios e regras
constitucionais relativas ao direito da educação, nomeadamente, em proteção ao ensino
fundamental.” (p.52-53)
“[..] avanços da Constituição Brasileira da Educação, avultou-se a preocupação
do legislador constituinte em assegurar o direito ao padrão mínimo de qualidade de
ensino fundamental, [...]. (p.53)

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