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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000918737

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1003886-


93.2019.8.26.0302, da Comarca de Jaú, em que é apelante ANTONIO DONIZETI
MARTINS (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado PREFEITURA MUNICIPAL DE
JAHU.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 18ª Câmara de Direito


Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores WANDERLEY


JOSÉ FEDERIGHI (Presidente), BURZA NETO E ROBERTO MARTINS DE
SOUZA.

São Paulo, 10 de novembro de 2020.

WANDERLEY JOSÉ FEDERIGHI


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação nº. 1003886-93.2019.8.26.0302.


Apelante: Antonio Donizeti Martins.
Apelada: Prefeitura Municipal de Jaú.

Voto n. 31.848.

APELAÇÃO - AÇÃO DECLARATÓRIA C/C


REPETIÇÃO DE INDÉBITO TRIBUTÁRIO - Demanda
visando à declaração de inexigibilidade da Taxa de Limpeza
Pública, da Taxa de Conservação de Vias e Logradouros
Públicos e da Taxa de Serviço de Bombeiros, bem como ao
ressarcimento das quantias pagas a tais títulos, em virtude
da ilegalidade da base de cálculo dos tributos - Cabimento -
Serviços efetivamente indivisíveis e não específicos
Vastos precedentes jurisprudenciais a respeito Reforma
parcial da r. sentença que se impõe, para o fim de
reconhecer-se a inexigibilidade de todas as taxas em
comento, julgando-se totalmente procedente a ação -
Recurso provido.

Vistos.

ANTONIO DONIZETI MARTINS, qualificado nos


autos da presente ação ordinária, com pedido de tutela de urgência (proc. n. 1003886-
93.2019.8.26.0302, da E. 3ª Vara Cível da Comarca de Jaú), que move contra a
PREFEITURA MUNICIPAL DE JAÚ, visa, em síntese, à declaração de
inexigibilidade da Taxa de Limpeza Pública, da Taxa de Conservação de Vias e
Logradouros Públicos e da Taxa de Serviço de Bombeiros, bem como ao
ressarcimento das quantias pagas a tais títulos, em virtude da ilegalidade da base de
cálculo dos tributos.
A antecipação de tutela pleiteada foi deferida,
suspendendo-se a exigibilidade das taxas (fls. 261/262).
Registre-se que foi proferida a r. sentença de fls.
302/307, tendo a digna magistrada julgado procedente em parte a ação.
Inconformada com a r. decisão monocrática, o autor
apresentou o seu recurso de apelação (fls. 310/322), no qual afirma que a taxa de
Apelação Cível nº 1003886-93.2019.8.26.0302 -Voto nº 31848 (FG) 2
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limpeza pública cobrada também é inconstitucional, devendo a procedência da ação


ser total e seus efeitos alcançarem o referido tributo. Requer, ainda, a alteração no
critério utilizado para a fixação dos honorários advocatícios.
Tempestivo o recurso, foi este regularmente
processado, com a apresentação de contrarrazões (fls. 331/338).
Subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

Malgrado o posicionamento da ínclita magistrada a


quo, é de se entender que o recurso reúne condições de prosperar.
Senão, vejamos.
Com efeito, cobrança da Taxa de Limpeza Pública, da
Taxa de Conservação de Vias e Logradouros Públicos e da Taxa de Serviço de
Bombeiros vem sendo reiteradamente não admitida pelas Cortes brasileiras, inclusive
pelo Pretório Excelso, haja vista, essencialmente, a ausência dos requisitos da
divisibilidade e da especificidade das referidas taxas.
Sobre o assunto, há tempos já se pronunciou o Egrégio
Supremo Tribunal Federal:
“Município de São Paulo. Tributário. Lei n. 10.921/90,
que deu nova redação aos arts. 7º, 87 e incs. I e II e 94 da Lei n. 6.989/66, do
Município de São Paulo. Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana.
Taxas de limpeza pública e de conservação de vias e logradouros públicos.
“Inconstitucionalidade dos dispositivos sob enfoque.
“O primeiro, por instituir alíquotas progressivas
alusivas ao IPTU, em razão do valor do imóvel, com ofensa ao art. 182, § 4º, II, da
Constituição Federal, que limita a faculdade contida no art. 156, § 1º, à observância
do disposto em lei federal e à utilização do fator tempo para a graduação do tributo.
“Os demais, por haverem violado a norma do art. 145,
§ 2º, ao tomarem para base de cálculo das taxas de limpeza e conservação de ruas
elemento que o STF tem por fator componente da base de cálculo do IPTU, qual seja
a área do imóvel e a extensão deste no seu limite com o logradouro público.

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“Taxas que, de qualquer modo, no entendimento deste


Relator, têm por fato gerador prestação de serviço inespecífico, não mensurável,
indivisível e insuscetível de ser referido a determinado contribuinte, não tendo de
ser custeado senão por meio do produto da arrecadação dos impostos gerais.
“Não-conhecimento do recurso da Municipalidade.
Conhecimento e provimento do recurso da contribuinte” (Recurso Extraordinário n.
204.827-SP; Tribunal Pleno; j. 12.12.96; m.v.; relator o Ministro ILMAR GALVÃO;
in RTJ, vol. 176/1357) (grifamos).
O fato é que, sendo as taxas tributos vinculados,
correspondentes a serviços prestados ou postos à disposição do contribuinte, nos
termos do art. 77, caput, do Código Tributário Nacional, descaberia a sua cobrança.
Com efeito, a Taxa de Limpeza Pública é inexigível,
pois o serviço é indivisível, não específico, beneficiando toda a comunidade e não
apenas o contribuinte particularmente, não beneficiando a instituição do tributo, in
casu, o disposto na Súmula Vinculante nº 19.
Cuida-se, a bem da verdade, de autêntica questão de
saúde pública.
O preço das mesmas não representa o efetivo custo do
serviço, considerando-se, para a sua apuração, a área, a testada do imóvel, que, por si
só, não são hábeis para a apuração da quantidade do lixo produzido pelo contribuinte
e a ser recolhido, em autêntica infração ao disposto no art. 145 da Constituição
Federal.
Aliás, reiterados tem sido os pronunciamentos do
Judiciário Paulista a respeito da matéria, como se depreende das ementas abaixo
colacionadas:
“Repetição de indébito tributário Taxa de Limpeza
Pública - Ausência de especificidade e divisibilidade dos serviços públicos - Caráter
uti universi - Incompatibilidade com os artigos 145, II, da Constituição Federal e 77
do CTN - Taxa de expediente - Contraprestação a serviço público inexistente -
Despesa ínsita aos misteres habituais de órgão arrecadador da Fazenda Municipal -
Ilegitimidade da cobrança - (...) Apelação Improvida” (Apelação nº
0001400-05.2013.8.26.0322, 18ª Câmara de Direito Público, Relator Desembargador

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Francisco Olavo, j. 24.10.2013).


“Ação repetição de indébito - Taxas de limpeza pública
e expediente - Município de Lins - Inconstitucionalidade - Não obediência aos
requisitos de divisibilidade e de especificidade - Inexigibilidade da exação diante de
seu caráter universal e indivisível - Inteligência dos arts. 77, do CTN, e 145, II, da
CF - Aplicação da Súmula 670, do STF - Recurso não provido” (Apelação nº
0009891-35.2012.8.26.0322, 14ª Câmara de Direito Público, Relator Desembargador
Henrique Harris Júnior, j. 03.10.2013).
Destarte, descabe outra ilação senão a de que a Taxa de
Limpeza Pública também deve ser declarada inexigível, admitindo-se,
consequentemente, na esteira do pretendido pelo apelante, que as quantias pagas a tal
título, nos últimos cinco anos, sejam repetidas.
Por fim, quanto à fixação dos honorários advocatícios,
percebe-se que assiste razão ao recorrente em sua insurgência, haja vista que,
considerando-se o valor atribuído à causa (R$ 1.697,41) , o arbitramento deveria ter
sido feito nos moldes do art. 85, § 8º, do CPC, ou seja, por apreciação equitativa.
Dessa forma, considerando-se os critérios arrolados no
§ 2º do artigo mencionado acima, bem como em atenção aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, e ao art. 85, § 11, do CPC, afigura-se escorreita
a fixação dos honorários sucumbencias no importe de R$ 1.000,00 (um mil reais), na
esteira do que propôs o apelante.
Sem maiores delongas, portanto, imperiosa é a reforma
parcial da r. decisão recorrida, para o fim de julgar-se totalmente procedente a ação,
devendo a Municipalidade sucumbente arcar com o pagamento dos honorários
advocatícios, nos moldes fixados no parágrafo anterior.

Com isto, dá-se provimento ao recurso.

WANDERLEY JOSÉ FEDERIGHI


Relator.

Apelação Cível nº 1003886-93.2019.8.26.0302 -Voto nº 31848 (FG) 5

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