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CONSTITUIÇÃO DE LUGARES, ESPACIALIDADES, IMPLANTAÇÃO

E MAPEAMENTO DAS ESTRUTURAS ARQUEOLÓGICAS EM


COLLUD-ZARPÁN E CERRO VENTARRÓN, COSTA NORTE DO
PERU.
Marcelo Fagundes(a), Bernardo Gontijo (b), Alessandra Vasconcelos (c), Márcia Arcuri Suñer
(d), Flávia Brasil Bueno (e), Luis Fernando Mafra (f), Luciano Cavalcante de Jesus França (g).
Docente da Faculdade Interdisciplinar em Humaniades (FIH). Laboratório de Arqueologia e
Estudo da Paisagem (LAEP/CEGEO/UFVJM). marcelofagundes.arqueologia@gmail.com
Docente do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
gontijobm@yahoo.com.br
Docente do Instituto de Ciência e Tecnologia. Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri. Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/CEGEO/UFVJM).
alessandra.carvalho@ict.ufvjm.edu.br
Docente Universidade Federal de Ouro Preto. Docente do Programa de Pós-Graduação em
Arqueologia (MAE/USP).
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia (MAE /USP).
flabaessa@gmail.com
Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem (LAEP/CEGEO/UFVJM). Discente da
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. luf13592@hotmail.com>,
Doutorando em Engenharia Florestal, Universidade Federal de Lavras (UFLA). E-mail:
lucianodejesus@florestal.eng.br

Eixo: Geoarqueologia, geodiversidade e patrimônio natural


Resumo
A Costa Norte Peru é responsável pelo surgimento da arquitetura monumental no continente
americano, além de grandes obras de engenharia, que possibilitou o crescimento de uma agricultura para grandes
populações.Sua complexidade tecnológica vinculada à cerâmica, metalurgia, produção têxtil, possivelmente está
relacionada ao nascimento de uma classe religiosa/ sacerdotal. Esse desenvolvimento está relacionado às
cosmovisões complexas, que não apenas justificam, mas estruturam a vida nos Andes centrais. Esse trabalho
objetiva apresentar a distribuição espaço-temporal de estruturas arqueológicas em cerro Ventarrón, em
Lambayeque, e como o estudo das características geoambientais, associado ao conceito de paisagem cooperam
para a compreensão do modo de vida dos grupos que ocuparam a área ao longo de 5 mil anos. Foram realizados
campos no intuito de mapear e compreender a implantação e os vínculos sócio-cosmográficos destas estruturas
arqueológicas. Observou-se que a implantação destas estruturas está vinculada aos aspectos geoambientais
aliados ao entendimento de mundo destas populações.

Palavras chave: Características Geoambientais, Lugares e Paisagem, Estruturas Arqueológicas,


Peru, Arqueologia Pré-colombiana.

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1. Introdução
A região de Lambayeque, na Costa Norte peruana, é uma das áreas com grande
desenvolvimento sócio-político e cultural na América do Sul (Figura 01). Um dos seus
marcadores culturais é o surgimento da arquitetura monumental ainda em tempos muito
antigos, cerca de 5000 anos AP., seguido pelo grande desenvolvimento tecnológico no que
tange às técnicas agrícolas em grande escala (impulsionadas pela criação de canais de
irrigação), da produção artesanal (cerâmico, têxtil e metalúrgico) e da complexa iconografia
(ALVA; ALVA MENESES, 2012; ARCURI, 2012).
Ao longo de cinco milênios esta região abarcou uma imensa diversidade de
ocupações humanas, como dito, com notável desenvolvimento tecnológico-cultural, baseado
em processos socioculturais-cosmográficos relacionais, dinâmicos e plurais. Estas ocupações
foram responsáveis pelo estabelecimento de lugares, significados e ressignificados por
diferentes culturas de diversas maneiras, mas de acordo com ontologias gerais que compõem
a sócio-cosmografia do mundo Andino.
Nesse trabalho, acredita-se que a ação que inaugura a ocupação desta área (bem
como a motivação por sua reocupação) foi realizada tanto por motivações sócio-ecológicas
(práticas) quanto culturais (ideológicas e simbólico-religiosas) e, neste sentido, embora de
difícil interpretação arqueológica, as ontologias devem ser levadas em conta em estudos que
buscam entender os padrões regionais de assentamento, mesmo porque estas decisões, sejam
práticas ou simbólicas, não se distinguem de modo tão claro no modo de vida de sociedades
andinas (ARCURI, 2012; SWENSON, 2015). Logo, os lugares estabelecidos (e suas
ressignificações) são entendidos como um fluxo contínuo, sendo espaços de permeabilidade e
fluidez (na vida e na morte – quem muitas vezes nem se distinguem ao modo ocidental),
marcados e organizados pelos ciclos comuns ao pensamento andino (GOSE, 1993).
Em síntese, a Costa Norte do Peru, incluindo o vale do Reque, em que estão
implantados os complexos de Collud-Zarpán e Cerro Ventarrón, é um local onde houve o
surgimento de sociedades complexas associadas aos processos de domesticação dos cultivos

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por meio, sobretudo, de grandes obras de irrigação (domínio econômico, político e sócio-
cosmológico da água), bem como das grandes obras monumentais que permitiram (ou
asseguraram) o surgimento da complexidade social, como presença de grande
desenvolvimento tecnológico vinculado ao artesanato, à metalurgia, à produção têxtil, à
arquitetura e engenharia (ARCURI, 2012).

Figura 01 - Mapa de localização da área de estudo, Lambayeque – Peru.

Esse grande desenvolvimento está associado diretamente às características


ambientais da área, para além das possibilidades do estabelecimento da vida humana, mas,
principalmente, relacionadas às ontologias e cosmovisão. As estruturas arqueológicas vistas
hoje dizem respeito ao entendimento do mundo de vários grupos humanos ao longo do tempo,
desde a reocupação e ressignificação das já existentes (implantadas durante o Formativo faz 5
mil anos) até a remodelação ou criação de novos lugares.
Para a identificação dessas características cinco temporadas de campo foram
realizadas entre 2016 e 2019 de forma a identificar estas estruturas, mapeá-las e, por meio dos

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dados de campo, inclusive daquelas onde ocorreram intervenções, discutir conceitos de
paisagem e lugar, e como são importantes categorias para o entendimento da vida no passado.
A paisagem é entendida como uma construção (um construto), constituídas por
múltiplas camadas de ideias, vivências e materializações, portanto sendo passível de leitura,
como nos propõe Cosgrove (1984). Essas camadas, por sua vez, estão interconectadas entre
uma ocupação e outra, há leituras e mais leituras que foram realizadas em longa duração e que
constituem, neste ínterim, uma gramática. Portanto, não se trata de uma narrativa composta
por textos desconexos, uma vez que se liga ao antecessor enquanto um sistema. Justamente
por isso a necessidade de uma análise holística e sistêmica da paisagem (FAGUNDES, 2014).
Logo, o objetivo desta comunicação vincula-se à possibilidade de entender como ao
longo do tempo as sociedades se apropriam da geomorfologia regional (e estabelecem outros
marcos, mesmo que artificialmente 1) como forma de estabelecerem discursos êmicos de
acordo com seus ordenamentos sócio-ideológicos, políticos e econômicos, que estão
associados às visões de mundo e, por meio destes, são estabelecidos lugares.
A principal hipótese é que Cerro Ventarrón, dadas às suas características
geoambientais, acabou por agregar uma ocupação inicial que o tinha como uma montanha
tutelar, relacionado ao sagrado, ao ideário e as concepções de mundo andinas. A partir daí,
distintas ocupações foram se estabelecendo, reutilizando, reinterpretando e criando novos
lugares, o que Schangler definiu como lugares persistentes (SCHALANGER, 1992). Da união
desses lugares tem-se a paisagem de Cerro Ventarrón, composta por distintos marcos
geográficos, estruturas arqueológicas, caminhos e histórias que estabeleceram narrativas ainda
presente nestas ocupações na Costa Norte peruana.

2. Características ambientais da área de estudo


A Costa Norte do Peru é uma das áreas com maior stress ambiental do planeta, sendo
o deserto a característica marcante, espremido em uma estreita faixa entre a cordilheira e o
oceano. A continuidade do deserto é alterada pela presença dos contrafortes da Cordilheira

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Como exemplo as huacas e plataformas que foram estabelecidas regionalmente (como será mostrado adiante)

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dos Andes que dão ao território uma ligeira inclinação para Leste a Oeste, isto é, da cadeia de
montanhas em direção ao mar (INDECI, 2003). Em condições normais, as chuvas escassas
condicionam o caráter semidesértico e desértico da franja costeira, o que define o clima como
Desértico Subtropical árido, influenciado diretamente pela corrente fria de Humboldt, que
atua como reguladora dos fenômenos meteorológicos da região (NARREA; PÉREZ, 2013).

Cerro Ventarrón, nosso foco de estudo, está localizado aproximadamente a 10 km a


Leste/ Sudeste da cidade de Chiclayo e a 5 km a Sudeste do distrito de Pomalca, coordenadas
centrais 6°48'19.68"S/ 79°45'34.78"O (Huaca Ventarrón). Trata-se de um importante
complexo arqueológico dos Andes Centrais, ocupado intensa e ininterruptamente a partir de
5000 anos A.P., construindo uma paisagem distinta do entorno, em que os marcos geográficos
e estruturas arqueológicas estabelecem uma narrativa de como os lugares foram sendo
constituídos.

Além dos rios Reque e Chancay (e seus ramais), outro marco geográfico importante
é o cerro Ventarrón, que ganha destaque na paisagem regional. Trata-se de um relevo residual
com elevação máxima de 228 m acima do nível do mar (que se encontra a 22 km do oceano,
em direção Leste), na margem direita do Reque, alongado no sentido Leste-Oeste, que
recebeu em seu entorno todas as ocupações humanas antes da conquista espanhola e, que até
hoje, é um marco topofílico regional. As imagens de satélite ou mapas não fazem jus a sua
grandeza local e sua importância, geográfica e cultural, para o estabelecimento destes povos.
Cerro Ventarrón, nesse sentido, está para essa região do vale para além de um marco
geográfico, mas tem ocupado um lugar de evidência na vida das pessoas que ocuparam (e
ocupam) o seu entorno. Logo, concorda-se com o descrito por Ignácio Alva (2008, p. 98), que
o cerro apresenta características geoambientais e de implantação que puderam ser apropriadas
pelas populações de acordo com seus universos simbólicos, relacionando a cosmovisão e
propiciando o estabelecimento de grupos humanos ao longo do tempo.
Segundo López- Mesones (2013), dois domínios geomorfológicos principais marcam
a região de Lambayeque: relevos desnudados e relevos montanhosos. Os primeiros são

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marcados por planícies aluviais, depressões, dunas e barchans (dunas de aparência convexa,
produzidas pela ação do vento que atua predominantemente em uma direção). Essas áreas
contam ainda com grandes reservatórios de águas subterrâneas, incluindo Cayaltí-San Nicolas
e as planícies de Mocupe-Lagunas. No domínio montanhoso, apresentam-se montanhas de
altitudes variadas, sendo mais presente na região de estudos os cerros, ou colinas (ou lomo),
de elevações medianas, como o cerro Ventarrón, com formas bastante erodidas e
frequentemente com rocha expostas (Figura 02).

Figura 02. Planície aluvial do Rio Reque, marcada por linha de vegetação, Cerro
Ventarrón, Lambayeque. Observa-se ao fundo dunas eólicas e serras desnudadas.
Vasconcelos/2019

A formação do relevo da região de Lambayeque está ligada a ciclos de orogênese,


desnudação e sedimentação, típica de um geossinclinal continental, ou seja, formação de
grandes dobramentos, como os Andes, e os planaltos escalonados resultados das pulsações
tectônicas durante esse processo de soerguimento. O grande gradiente topográfico dos Andes,
somado ao degelo (posterior à glaciação Pleistocênica), gerou o aprofundamento dos vales por
incisão vertical pelas drenagens. Hoje, planícies amplas e colmatadas por sedimentos de
origem diversas, tanto aluviais, como eólicas, também marinhos, compõe paisagem, como a
planície do rio Reque e do rio Chancay. Os vales desses rios têm orientação Leste-Oeste e
são endorreicos, pois seu escoamento se espalha nas planícies do deserto em direção ao norte,
nunca chegando ao mar. Grandes camadas de areia eólica estão presentes desde as planícies
costeiras até as partes mais baixas do sopé dos Andes. Os sedimentos eólicos são depositados
por gravidade e se apresentam sobre várias formas: dunas clássicas, corredores de dunas,
cobertores de areia e colina, estabilizadas e encontradas do litoral para o interior em altitudes
variáveis de 10, 30, 50, 100, até 150 metros, como pode ser observado Pampas de Reque
(Figura 03) (NARREA; PÉREZ, 2013).

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Figura 03. Mapa geomorfológico da região de Lambayeque, onde se observa a maior parte dos sítios
na escosta de um cerro (lomo, ou colina), próximo ao rio Reque.

3. Materiais e métodos
Para obtenção dos dados e análises da categoria de estudos foram realizadas cinco
campanhas de campo distintas, de forma a coletar dados de localização e implantação das
várias estruturas arqueológicas. No que diz respeito aos aspectos geoambientais e
geoarqueológicos, se trata de uma área muito pouco investigada, portanto, durante os anos de
2017 e 2019 três campanhas foram executadas com o objetivo de se criar um banco de dados
(geoarqueológico), que metas da pesquisa.
Entre as atividades de campo realizadas, ocorreram: (i) Mapeamento geológico,
geomorfológico e de solos; (ii) Georreferenciamento e a produção cartográfica; (iii)
Mapeamento de delimitação das estruturas arqueológicas, com registro de grafismo rupestres

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e tratamento em laboratório, delimitação das estruturas arqueológicas conhecidas, escavadas e
não escavadas.
Em laboratório, houve o processamento destes dados, produção cartográfica software ArcGis
para confecção de mapas e análises; além do uso de outros softwares, a exemplo do
CorelDraw e do Dstretch.

3. Resultados e discussões
Como discutido, a costa norte, por ser uma região desértica, depende dos rios de
degelo andino para suprimento de água doce. Graças ao desenvolvimento sócio-tecnológico e
econômico, acabou por suportar uma diversidade de ocupações humanas ao longo do tempo.
Esses grupos se estabeleceram nestes vales em que a água perene era constante e abundante,
ao ponto de modificarem o ambiente por meio da criação de amplos canais de irrigação,
alguns inter-vales, de modo a garantir uma agricultura de larga-escala que, de um modo ou de
outro, estão ainda presentes na paisagem regional. O acesso e controle a estas fontes de água,
responsáveis pela produção agrícola, talvez seja a fonte de entendimento do estabelecimento
de sociedades hierarquizadas e da própria complexidade social (NETHERLY, 1994; GOSE,
1993). Contudo, não aos moldes de nossa visão ocidental, mas dentro de particularidades do
mundo andino, entrelaçadas entre questões ambientais e culturais Além disso, as
instabilidades climáticas, sobretudo o El Niño, também cooperaram sensivelmente tanto para
o desenvolvimento de técnicas que permitissem este desenvolvimento técnico-cultural, como
também foram responsáveis pelos desequilíbrios sócio-políticos e econômicos.
Em síntese, a costa norte abarcou características ímpares de desenvolvimento sócio-
político e econômico já desde o surgimento de uma arquitetura monumental/ sagrada, sendo
que os primeiros vestígios dessas obras de engenharia já surgem no terceiro milênio antes de
Cristo, além da criação de outras obras públicas que envolveram um trabalho coletivo
organizado, tais como criação de canais de irrigação e outras técnicas de manejo da água que
possibilitaram uma agricultura altamente produtiva a ponto de sustentar grandes cidades
(NETHERLY, 1984).

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A base deste grande desenvolvimento tecnológico é a cosmovisão destes grupos
humanos, que dão sentido e reforçam o modo de ocupação dos lugares. Parte-se do
pressuposto que a paisagem de Cerro Ventarrón está constituída por várias camadas de
ocupação e significação, dando início ainda no Formativo Inicial (5000 a 3800 A.P.) e
terminando no Horizonte Tardio, já com a conquista espanhola em 1532.
O complexo arqueológico Ventarrón-Collud, antes das intervenções arqueológicas
iniciadas em 2007, coordenadas pelo arqueólogo Ignácio Alva Meneses, o sítio arqueológico
estava em total abandono, saqueado pela ação dos huaqueiros2 e impactado do ponto de vista
da preservação das estruturas arquitetônicas. Certamente, a escolha pelas intervenções nos
complexos arqueológicos foi uma decisão acertada, não apenas pelos avanços científicos,
mas, principalmente, no que diz respeito à gestão dos bens culturais, assim como da inserção
das comunidades nestes processos de gestão (ALVA MENESES, 2012).
As atividades de campo resultaram em um mapeamento de 25 estruturas
arqueológicas, entre escavadas e não-escavadas, tendo início com o surgimento da arquitetura
monumental e a criação da Huaca Ventarrón e do Complexo Arenal (Figuras 04 e 05) ainda
no Formativo Inicial (pré-cerâmico), em torno de 5000 anos AP.

Figura 04 – Destaque para Huaca Ventarrón Figura 05 – Visada Nordeste/Sudoeste do vale,


Fagundes/2017 com destaque para a Huaca Ventarrón.
. Fagundes/2017.

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Trata-se de uma efinição cunhada pelo Estado, e pela Arqueologia, referindo-se aos saques e comercialização de bens
arqueológicos. Entretanto, também é uma prática que diz respeito a modos específicos de relação com o passado e a
ancestralidade, já que um grande número de pesssoas utilizam estas peças para proteção e outros usos rituais.

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Na sequência com o surgimento dos complexos Collud-Zarpán (Figuras 06 e 07),
estruturas associadas ao Formativo Temprano (3800 a 1900 anos AP.) já com o aparecimento da
produção cerâmica. Outras ocupações vão ocorrer ao longo de nossa Era, muitas revisitando as
Huacas e estruturas já dispostas na paisagem, ação relacionada à ancestralidade, um dos baluartes
do pensamento andino, até culminar nas estruturas do Horizonte Tardio (a partir no século XIII),
associadas às ocupações Lambayeque, Chimú e Inca (FIGUEIREDO, 2019). (Figuras 08 e 09).

Figura 06 - Destaque para Huaca Collud. Figura 07- Zarpán, material em superfície.
Fagundes/2018. Fagundes/2018.

Figura 08. Muros em adobe, Estrutura B, Figura 09 - Recinto em adobe, Estrutura B,


Cidadela, Período Tardio, a partir do século XIII Cidadela, visada Norte-Sul para o vale do rio
(Chimú-Inca). Fagundes/2019. Reque. Fagundes/2018.

O que se pode perceber da análise das estruturas arqueológicas é que foram


implantadas com base nas características geoambientais da área (presença da serra;
proximidade com o rio; cores das rochas – branca e vermelha; disponibilidade de área para
plantio; visibilidade do vale para Oeste e Sudoeste, etc.), associadas à sócio-cosmografia. De
acordo com Bueno (2019), a importância dos apus (colinas e montanhas) na cosmovisão

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andina é popularmente conhecida a partir das crônicas, que atestam os apus como marcadores
geográficos fundamentais. Portanto, a sacralidade das montanhas e a ocupação de seus pontos
mais altos é uma característica recorrente das ocupações Incas, muitas vezes denominadas de
ushnus (plataformas piramidais em pedra para fins cerimoniais e políticos).
Como Alva-Meneses (2012) indica, ainda no Formativo o Cerro Ventarrón ocupou
um papel de montanha tutelar, um marco sócio-geográfico fundamental no estabelecimento
dos lugares de ocupação e constituição da paisagem regional. Seu direcionamento Norte-Sul,
com o nascer do sol a leste (por tanto, visualmente em suas “costas”, o correr da água do rio
Reque de Leste-Oeste, perpassando pela face sul do cerro, acabou por influenciar a orientação
das implantações das estruturas arqueológicas, relacionando-as os marcadores geoambientais.
Assim sendo, Ventarrón possibilita a compreensão de como foram estabelecidas as
ocupações humanas em uma sequência ocupacional ao longo de 5000 anos,
aproximadamente, apresenta uma grande importância não apenas do ponto de vista das
descobertas recentes dos projetos de investigação vigentes na região, mas pela sequência
ocupacional de ao menos 4.500 anos, apresentando, portanto, todas as etapas e principais
culturas do quadro cronológico regional, o que reforça a importância do lugar em época pré-
hispânica.

4. Agradecimentos
Ao Museo Tumbas Reales, Lambayeque, Peru, pelo apoio constante à pesquisa. Ao
arqueólogo Ignácio Alva Meneses pela grande generosidade em compartilhar e acolher a
equipe brasileira durante anos. Nossa admiração e respeito.

5. Referências Bibliográficas
ALVA, Walter; ALVA MENESES, Ignácio: Capítulo 1 Generalidades. In:ALVA MENESES, Ignácio
(Org.). Ventarrón y Collud: origen y desarrollo de la civilización en la Costa Norte del Perú.
1ed.Lambayeque: Unidad Ejecutora 105 Naylamp-Lambayeque, 2012.

ARCURI, Marcia M. Paisaje y monumentalidad en Ventarrón: nuevos aportes al debate acerca del
origen del “Estado” en el Período Inicial Inicial Andino. In: ALVA MENESES, Ignácio (Org.).
Ventarrón y Collud: origen y desarrollo de la civilización en la Costa Norte del Perú. 1ed.
Lambayeque: Unidad Ejecutora 105 Naylamp-Lambayeque, 2012.

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COSGROVE, D. Social formation and symbolic landscape. London: Croom Helm, 1984.

FAGUNDES, M. Natureza e Cultura: estudo teórico sobre o uso conceito de Paisagem nas Ciências
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GOSE, Peter. Segmentary State Formation and the Ritual Control of Water Under the Incas.
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INSTITUTO NACIONAL DE DEFENSA CIVIL (INDECI). Mapa de peligros de la ciudad de


lambayeque, Proyecto Indeci – pnud per/02/051, Ciudades sostenibles, Peru, 2003. 147 p.

LÓPEZ-MESONES, M. Geomorfología y Geología Histórica de Lambayeque, 2003. Disponível


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NARREA, A. C.; PÉREZ, C. A. (Coord.). Estudio geológico del departamento de Lambayeque,


Governo Regional de Lambayeque, Ordenamiento Territorial para El Desarrollo Sostenible, Peru,
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NETHERLY, Patricia. The Management of Late Andean Irrigation Systems on the North Coast of
Peru. American Antiquity, 49 (02), 1984. p. 227-254.

SCHALANGER, Sarah. Recognizing persistent places in Anasazi settlement systems. IN:


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SWENSON, Edward. The archaeology of ritual. Annual Review Anthropology, 13 (01), 2015.
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