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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

Bacharelado em Ciência e Tecnologia

Bruna Verônika Rodrigues Leão


Paulo Victor Simões Costa

GÊNESE E CARACTERIZAÇÃO DA GRUTA QUARTZÍTICA LAPA SANTA


DO INDAIÁ, FELÍCIO DOS SANTOS, MINAS GERAIS

Diamantina
2019
Bruna Verônika Rodrigues Leão
Paulo Victor Simões Costa

GÊNESE E CARACTERIZAÇÃO DA GRUTA QUARTZÍTICA LAPA


SANTA DO INDAIÁ, FELÍCIO DOS SANTOS, MINAS GERAIS.

Monografia apresentada ao curso de graduação em


Bacharelado em Ciência e Tecnologia da
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Ciência e Tecnologia.

Orientadora: Dra. Alessandra Mendes Carvalho


Vasconcelos.

Diamantina
2019
RESUMO

A gruta Lapa Santa é a maior cavidade prospectada na região do Complexo Arqueológico


Serra Negra, situada no município Felício dos Santos – MG. A cavidade gerada em substrato
quartzítico registra importantes morfologias cársticas como alvéolos, condutos e grandes
galerias, o que a configura como área estratégica para o desenvolvimento de estudos acerca do
carste siliciclástico. Encontram-se presentes na Lapa Santa estruturas que demarcam
diferentes estágios do processo de carstificação, estas registram tanto as etapas dominadas por
processos geoquímicos, ou pré-carste, onde ocorre a preparação do substrato para a formação
de um dreno cárstico, quanto as etapas dominadas pela dinâmica hídrica, relacionadas ao
estabelecimento de uma junção hidrológica com a restituição. A identificação de elementos
que indicam a ação de processos geoquímicos e hidrodinâmicos na Lapa Santa atesta sua
gênese na carstificação e confirma a ocorrência de dissolução com posterior remoção do
material alterado pela ação de uma dinâmica hídrica competente. Com o intuito de
compreender a organização da gruta de forma mais precisa e discutir sua gênese na
carstificação, foram realizados trabalhos de campo para identificação e análise de morfologias
cársticas e confecção de um mapa topográfico para a representação da cavidade. Após a
realização dos procedimentos referentes à topografia e elaboração do mapa, discutiu-se a
dinâmica evolutiva da Lapa Santa buscando-se compreender os processos dominantes em seu
desenvolvimento. Assim, a partir da identificação de elementos como alvéolos, condutos,
sifões, chaminés de equilíbrio, capas ferruginosas, alterita, sedimentos e espeleotemas foi
proposto um modelo de gênese da cavidade relacionando as morfologias observadas à
diferentes estágios dos processos de carstificação, conforme Rodet (2014). Por fim, a partir
dos resultados obtidos concluiu-se que a cavidade possui uma organização complexa com
diversas formas coalescentes que desenvolveram-se ao longo dos planos de fraqueza do
substrato, sobretudo foliações e fraturas, além disso, a remanescência da restituição em
direção ao nível de base do Córrego Indaiá configura a cavidade como um sistema cárstico
ativo.

Palavras-chave: Carste. Quartzito. Morfologias. Lapa Santa. Dissolução. Dinâmica hídrica.


ABSTRACT

The Lapa Santa cave is the largest cavity prospected in the region of the Serra Negra
Archaeological Complex, located in the municipality of Felicio dos Santos - MG. The cavity
generated in quartzitic substrate registers important karstic morphologies such as alveoli,
conduits and large galleries, which makes it a strategic area for the development of studies on
siliciclastic karst. Are found in the Lapa Santa cavity structures that demarcate different
stages of the karsification process, which record both the stages dominated by geochemical
processes, or pre-karst, where the preparation of the substrate for the formation of a karst
drain occurs, as well as the stages dominated by the water dynamic, related to the
establishment of a hydrological junction with the restitution. The identification of elements
that indicate the action of geochemical and hydrodynamic processes in the Santa Lapa attests
its genesis in the karsification and confirms the occurrence of dissolution with subsequent
removal of the material altered by the action of a competent hydrodynamics. In order to
understand the organization of the cave more precisely and to discuss its genesis in
karsification, fieldworks were carried out to identify and analyze karstic morphologies and to
make a topographic map for the representation of the cavity. After performing the procedures
related to topography and elaboration of the map, the evolutionary dynamics of the Santa
Lapa was discussed, trying to understand the dominant processes in its development. Thus,
from the identification of elements such as alveoli, conduits, siphons, equilibrium chimneys,
ferruginous layers, alterite, sediments and speleothems, a model of cavity genesis was
proposed, relating the morphologies observed to the different stages of the karsification
process, according to Rodet (2014). Finally, from the obtained results it was concluded that
the cavity has a complex organization with several coalescing forms that have developed
along the planes of substrate weakness, especially foliations and fractures, in addition, the
remnant of the restitution towards the the base level of the Indaiá Stream configures the cavity
as an active karstic system.

Keywords: Karst. Quartzite. Morphologies. Lapa Santa. Dissolution. Hidrodynamics.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: ETAPAS NECESSÁRIAS AO DESENVOLVIMENTO DE UM CARSTE


DESDE A PREPARAÇÃO DO SUBSTRATO ATÉ A CARSTIFICAÇÃO. (RODET,
2014) ........................................................................................................................................ 21
FIGURA 2: TUBO DE DISSOLUÇÃO COMUM, DE FORMA CÔNICA
CARACTERÍSTICA, ORIUNDA DA PERDA DE AGRESSIVIDADE DAS ÁGUAS
METEÓRICAS NOS ESTÁGIOS MAIS AVANÇADOS. (RODET, 2014, ADAPTADO
POR LEÃO & SIMÕES, 2019)............................................................................................... 23
FIGURA 3: NA ILUSTRAÇÃO DA ESQUERDA, UM TUBO DE DISSOLUÇÃO QUE
ESTABELECEU SEU CONTATO BASAL COM O AQUÍFERO PROMOVENDO A
PROGRESSÃO LATERAL DA FRENTE DE ALTERAÇÃO. NA ILUSTRAÇÃO DA
DIREITA, UMA VARIAÇÃO DA ILUSTRAÇÃO 2 COM COALESCÊNCIA DE SUAS
ABERTURAS BASAIS SEGUNDO UM EIXO
TECTÔNICO ...........................................................................................................................24
FIGURA 4: ILUSTRAÇÃO (3): DIFUSÃO HORIZONTAL DA FRENTE DE
ALTERAÇÃO COM EIXOS TECTÔNICOS INEXISTENTES (NORMANDIA). (4):
MANTO DE INTEMPERISMO COM ABERTURA HORIZONTAL ELEVADA
DECORRENTE DO REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE BASE. (RODET, 2014,
ADAPTADO POR LEÃO & SIMÕES, 2019). ...................................................................... 25
FIGURA 5: RAIZ DO MANTO DE INTEMPERISMO LIGADA À GALERIA DE
RESTITUIÇÃO COM O SENTIDO DO FLUXO SEGUNDO A ORIENTAÇÃO DA SETA.
(RODET, 2014, ADAPTADO POR LEÃO & SIMÕES, 2019) ............................................. 26
FIGURA 6: MODELO CONCEITUAL DA EVOLUÇÃO DA CARSTIFICAÇÃO, DOS
ESTÁGIOS GEOQUÍMICOS AOS ESTÁGIOS HIDRODINÂMICOS (SINGÊNESE E
PARAGÊNESE) 1I - PREPARAÇÃO PARA A CARSTIFICAÇÃO, OU PRIMOCARSTE:
ALTERAÇÃO GEOQUÍMICA SEM MUDANÇA DE VOLUME OU FORMAÇÃO DE
ISOALTERITA. 1II – FORMAÇÃO DA ALOALTERITA: QUEBRA DO COMPLEXO DE
ALTERAÇÃO, PERDA DE VOLUME E ABERTURA À ELEMENTOS EXTERNOS. 2 -
RESSECAMENTO DA ALOALTERITA: LIBERAÇÃO DE PASSAGEM PARA ÁGUA E
INÍCIO DA DINÂMICA PARAGENÉTICA 3 - MAIOR FLUXO DE ÁGUA E RETIRADA
DA ALOALTERITA: TRANSIÇÃO GRADUAL ENTRE A DINÂMICA PARAGENÉTICA
E SINGENÉTICA 4 – LIBERAÇÃO DOS CONDUTOS E EROSÃO MECÂNICA:
DINÂMICA SINGENÉTICA. (RODET, 2014) ...................................................................... 27
FIGURA 7: ESTÁGIOS DO PROCESSO DE CARSTIFICAÇÃO. (1) PRIMEIRO
ESTÁGIO DO PRIMOCARSTE: INTEMPERISMO PREFERENCIAL AO LONGO DO
EIXO TECTÔNICO. (2) ALARGAMENTO DO EIXO TECTÔNICO: DIFUSÃO
LATERAL POR PERCOLAÇÃO E FORMAÇÃO DO ESQUELETO DA ROCHA OU
ISOALTERITA COM ALIMENTAÇÃO DA FRENTE DE ALTERAÇÃO. (3) QUEBRA
DO COMPLEXO DE ALTERAÇÃO: PARTIÇÃO DO ESQUELETO DE ALTERITA E
FORMAÇÃO DE ALOALTERITA, ABERTURA À ENTRADA DE ELEMENTOS
EXÓGENOS. (4) INTRODUÇÃO DO FLUXO CÁRSTICO: ENTRADA DE EXÓGENOS
SIGNIFICATIVA E ALIMENTAÇÃO ESPORÁDICA DA FRENTE DE ALTERAÇÃO.
(RODET, 2014) ........................................................................................................................ 28
FIGURA 8: PROCESSO DE FANTOMIZAÇÃO A PARTIR DA ZONA DE
ALTERAÇÃO. NESTE CORTE, NOTA-SE A FORMAÇÃO INICIAL DE SOLO, TENDO
ELEMENTOS CLIMÁTICOS (1) E BIOLÓGICOS (2) ATUANDO NA ALTERAÇÃO DA
ROCHA MÃE (8). NOTA-SE A PRESENÇA DE FRATURAS (4) NA ROCHA, CAMINHO
QUE A ÁGUA ACIDIFICADA PERCORRERÁ, ALTERANDO-A, DA SUPERFÍCIE
PARA BAIXO, PROCESSO QUE TAMBÉM PODE OCORRER NAS FENDAS DAS
BORDAS DAS PAREDES (7), E AVANÇAR PARA O CENTRO DA ROCHA,
ISOLANDO-A GRADUALMENTE (9). OS SEDIMENTOS ACUMULAM AO REDOR DA
ROCHA, E SÃO REMOVIDOS MECANICAMENTE A PARTIR DO ESCOAMENTO
SUBTERRÂNEO (5). (QUINIF, 2014) ................................................................................... 30
FIGURA 9: O SISTEMA CÁRSTICO, ZONAS DE EROSÃO E DEPOSIÇÃO. (HARDT,
2011, ADAPTADO DE FORD & WILLIAMS, 2007) .............................................................31
FIGURA 10: ZONEAMENTO DOS DOMÍNIOS CÁRSTICOS. (VASCONCELOS, 2014,
ADAPTADO DE PILÓ, 1998) ................................................................................................ 32
FIGURA 11: POSSÍVEL POLJÉ EM ROCHAS SILICICLÁSTICAS, SERRA DO
ESPINHAÇO MERIDIONAL, REGIÃO DE DIAMANTINA – MG. (ACERVO PESSOAL,
VASCONCELOS, 2011)........................................................................................................... 33
FIGURA 12: OS TRÊS TIPOS DE DOLINAS CONFORME JENNINGS (1985): (A)
DOLINAS DE ABATIMENTO; (B) DOLINAS DE DISSOLUÇÃO; (C) DOLINAS DE
SUBSIDÊNCIA; (JENNINGS, 1985, ADAPTADO POR AZEVEDO, 2017). ...................... 34
FIGURA 13: KAMENITZE EM QUARTZITO, REGIÃO DE CURRALINHO – MG.
(ACERVO PESSOAL, VASCONCELOS, 2011) ................................................................... 35

FIGURA 14: MORFOLOGIA TIPICAMENTE ARREDONDADA FORMADA SOB A


ZONA DE CRIPTOCARSTE, JANUÁRIA – MG. (VASCONCELOS, 2014, ADAPTADO
DE SILVA, 2012) ..................................................................................................................... 37
FIGURA 15: DESENVOLVIMENTO DE MORFOLOGIAS CARACTERÍSTICAS DO
CRIPTOCARSTE. (VASCONCELOS, 2014, ADAPTADO DE SAURO, 2012). ................. 38
FIGURA 16: ESQUEMATIZAÇÃO MOSTRANDO A DINÂMICA DA ÁGUA ENTRE O
CARS TE DE INTRODUÇÃO E O CARSTE DE RESTITUIÇÃO. (VASCONCELOS, 2014,
ADAPTADO DE PILÓ, 1998) ................................................................................................ 39
FIGURA 17: PEQUENAS ESTALACTITES DE SÍLICA, ARENITO HAWKESBURY,
AUSTRÁLIA. (YOUNG & YOUNG, 2009). ......................................................................... 41
FIGURA 18: LOCALIZAÇÃO DA GRUTA LAPA SANTA, FELÍCIO DOS SANTOS –
MG. (LEÃO & SIMÕES, 2019).............................................................................................. 47
FIGURA 19: MAPEAMENTO GEOLÓGICO DA REGIÃO DA LAPA SANTA E
ENTORNO COM O POSICIONAMENTO DAS CAVIDADES PROSPECTADAS EM
SUAS DEVIDAS UNIDADES GEOLÓGICAS. (IDE/SISEMA, ACESSO EM
JANEIRO/2019, ADAPTADO POR LEÃO & SIMÕES, 2019) ............................................ 50
FIGURA 20: MARCOS GEOGRÁFICOS DA REGIÃO DA GRUTA LAPA SANTA EM
FELÍCIO DOS SANTOS - MG.(KNEGT, 2015, ADAPTADO POR LEÃO & SIMÕES,
2019) ........................................................................................................................................ 52
FIGURA 21: DISTRIBUIÇÃO DOS SOLOS NA REGIÃO DA GRUTA LAPA SANTA.
(KNEGT, 2015, ADAPTADO POR LEÃO & SIMÕES, 2019)............................................. 53
FIGURA 22: MAPA DAS BACIAS E SUB-BACIAS DA REGIÃO DA LAPA SANTA EM
FELÍCIO DOS SANTOS - MG. (KNEGT,
2015) ........................................................................................................................................ 54
FIGURA 23: FORMAÇÕES VEGETACIONAIS DA REGIÃO DA LAPA SANTA E
ENTORNO. (KNEGT, 2015, ADAPTADO POR LEÃO & SIMÕES, 2019)........................ 55
FIGURA 24: DETERMINAÇÃO DAS MEDIDAS DE AZIMUTE E DECLIVIDADE.
(ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018). ................................................................ 57
FIGURA 25: AUXÍLIO DO PONTA DE TRENA PARA DETERMINAÇÃO DE TAIS
MEDIDAS. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) .............................................. 58
FIGURA 26: OBTENÇÃO DE MEDIDAS RELEVANTES A PARTIR DA TRENA
MANUAL PARA UMA REPRESENTAÇÃO PRECISA DA CAVIDADE POR PARTE DO
DESENHISTA. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018)....................................... 60

FIGURA 27: REPETIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS 2, 3 E 4 NAS VISADAS


SEGUINTES, ATÉ QUE TODA A CAVIDADE SEJA REPRESENTADA. (ACERVO
PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) ..................................................................................... 61
FIGURA 28: TRIÂNGULO RETÂNGULO REPRESENTANDO A APROXIMAÇÃO DE
UM PERFIL LONGITUDINAL QUALQUER DA CAVIDADE, SENDO OS PONTOS 7 E
8, DUAS BASES TOPOGRÁFICAS. (MAGALHÃES & LINHARES, 1997) ..................... 61
FIGURA 29: CONTORNO DA VISADA 1-2 DA GRUTA LAPA SANTA NO
SOFTWARE COREL DRAW. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2019) .............. 62
FIGURA 30: FUSÃO DAS VISADAS NO COREL DRAW PARA A GERAÇÃO DE UM
MAPA TOPOGRÁFICO POSTERIOR. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES,
2019) ........................................................................................................................................ 63
FIGURA 31: MAPA DO SALÃO 1 DA LAPA SANTA, FELÍCIO DOS SANTOS – MG. O
BSERVA-SE A ENTRADA E O ALTAR EM FACE OPOSTA ASSINALADOS. (ACERVO
PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2019) ..................................................................................... 66
FIGURA 32 - PORÇÕES INICIAIS DA VISADA 1-2. NO CANTO DIREITO DA FOTO O
BSERVA-SE O ALTAR E NA PAREDE OPOSTA SUA ENTRADA. (ACERVO PESSOAL
, LEÃO & SIMÕES, 2018) .................................................................................................... 67
FIGURA 33: ENTRADA DA CAVIDADE NA PAREDE OPOSTA AO ALTAR. (ACERV
O PESSOAL, SIMÕES & LEÃO, 2018). ............................................................................... 67
FIGURA 34: VISADA 2-3. À ESQUERDA DA VISADA AO LONGO DO PONTO 2, OCO
RRE UM CONDUTO QUE MARCA A CAPTURA DE DRENAGENS NO SENTIDO NE. (
LEÃO & SIMÕES, 2019). ....................................................................................................... 69
FIGURA 35: VISADA 2-5. À CERCA DE 9,5 METROS DO PONTO 2, ENCONTRA-SE R
EPRESENTADA A PASSAGEM ESTREITA DELIMITADA POR DUAS COLUNAS DE
QUARTZITO, À SUDOESTE DA PASSAGEM, OCORRE UM GRANDE ALVÉOLO COA
LESCENTE, BEM COMO OS PEQUENOS CONDUTOS QUE ENCAMINHAM-SE PARA
ELE. (LEÃO & SIMÕES, 2018) .......................................................................................... 70
FIGURA 36: VISADA 2-5. OBSERVA-SE À ESQUERDA DA IMAGEM A BIFURCAÇÃ
O QUE DÁ ORIGEM ÀS VISADAS 3-4 E 3-6-7-8, ENQUANTO À DIREITA, PORÇÃO A
BERTA A PARTE EXTERNA, OCORREM DEPÓSITOS DETRÍTICOS. OBSERVA-SE T
AMBÉM À JUSANTE UMA PASSAGEM ESTREITA SEPARADA POR DUAS COLUNA
S DE QUARTZITO. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) ............................... 71
FIGURA 37: CONDUTO PARALELO À GALERIA DE ENTRADA REPRESENTADO P
ELA VISADA 3-4. (LEÃO & SIMÕES, 2019) ..................................................................... 72

-FIGURA 38: REPRESENTAÇÃO EM PLANTA DA VISADA 3-6-7-8. TAL VISADA RE


PRESENTA DRENAGENS QUE ENCAMINHAM-SE EM UM DESNÍVEL NO PONTO 8.
(LEÃO & SIMÕES, 2019). ...................................................................................................... 74

FIGURA 39: CONDUTOS QUE ENCAMINHAM-SE AO ALVÉOLO COALESCENTE R


EPRESENTADO NA VISADA 5-8. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) 75
FIGURA 40: IMAGEM DA VISADA 5-8 CAPTURADA A PARTIR DO PONTO 8. NOTA
-SE NA IMAGEM O DEGRAU REPRESENTADO NA VISADA BEM COMO OS DEPÓSI
TOS DETRÍTICOS NA PORÇÃO ABERTA À PARTE EXTERNA. (ACERVO PESSOAL,
LEÃO & SIMÕES, 2018). ....................................................................................................... 76
FIGURA 41: VISADAS 10-11 E 10-12. A VISADA 10-11 REPRESENTA A PROGRESSÃ
O DA FRENTE DE ALTERAÇÃO EM UMA DIREÇÃO CONTRÁRIA À RESTITUIÇÃO,
ENQUANTO A VISADA 10-12 CONECTA-SE AO CONDUTO DE ACESSO À GALERIA
DE SAÍDA. (LEÃO & SIMÕES, 2019) ................................................................................. 78
FIGURA 42: CONDUTO ESTREITO DE ACESSO À GALERIA DE SAÍDA REPRESENT
ADO NA VISADA 12-13. PESSOAL. (LEÃO & SIMÕES, 2019) ..................................... 79
FIGURA 43: GALERIA DE RESTITUIÇÃO DA CAVIDADE REPRESENTADA PELA V
ISADA 13-14. (LEÃO & SIMÕES, 2019) .............................................................................. 80
FIGURA 44: RESTITUIÇÃO DA CAVIDADE NO PONTO 14 EM DIREÇÃO AO NÍVEL
DE BASE DO CÓRREGO DO INDAIÁ. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018)...
...................................................................................................................................................80
FIGURA 45: MAPA EM PLANTA DA CAVIDADE LAPA SANTA. (SIMÕES & LEÃO, 2
019). ......................................................................................................................................... 81
FIGURA 46: ETAPAS DA EVOLUÇÃO DE UM AMBIENTE CÁRSTICO DESDE A PRE
PARAÇÃO DA ROCHA ATÉ A CARSTIFICAÇÃO. (RODET, 2015) ............................... 83
FIGURA 47: ANÉIS DE LIESEGANG NA GRUTA LAPA SANTA EM FELÍCIO DOS SA
NTOS – MG. TAIS FEIÇÕES INDICAM O INÍCIO DE UMA ALTERAÇÃO CONCENTR
ADA NO SUBSTRATO A PARTIR DA REDISTRIBUIÇÃO DO FERRO. (ACERVO PES
SOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) ........................................................................................... 84
FIGURA 48: ALVÉOLO PRESENTE NA LAPA SANTA DESENVOLVIDO A PARTIR D
OS PLANOS DE FOLIAÇÃO DO QUARTZITO.(ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES,
2018) ........................................................................................................................................ 85
FIGURA 49: CONDUTO SITUADO NA VISADA 2-3 EVIDENCIADO CAPTURA DE D
RENAGENS NO SENTIDO NE, EM DIREÇÃO À VISADA 1-2. NO CANTO ESQUERDO

DA IMAGEM OBSERVA-SE O FORNO REPRESENTADO NA VISADA 1-2. (ACERVO


PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) ..................................................................................... 86
FIGURA 50: CONDUTO REPRESENTANDO UMA CAPTURA DE DRENAGEM SEGUI
NDO A NOVA CONFIGURAÇÃO DO NÍVEL DE BASE, OU SEJA, INCISÃO DAS DRE
NAGENS À DIREITA DO CONDUTO. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018)....
...................................................................................................................................................87

FIGURA 51: CONDUTOS SEPARADOS POR COLUNAS QUARTZÍTICAS RESIDUAIS


INDICANDO SEU DESENVOLVIMENTO POR COALESCÊNCIA. (ACERVO PESSOAL,
LEÃO & SIMÕES, 2018). ....................................................................................................... 88
FIGURA 52: FORMAS COALESCENTES OBSERVADAS AO LONGO DA VISADA 2-5.
OS CONDUTOS ENCAMINNHAM-SE À JUSANTE PARA O ALVÉOLO COALESCENT
E REPRESENTADO NA VISADA 5-8. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018).....
...................................................................................................................................................88
FIGURA 53: ALTERAÇÃO PREFERENCIAL AO LONGO DOS PLANOS DE FOLIAÇÃ
O DOS QUARTZITOS PROMOVENDO DESPLACAMENTO, (ACERVO PESSOAL, LEÃ
O & SIMÕES, 2018) ............................................................................................................... 89
FIGURA 54: CAPAS MINERALIZADAS AO LONGO DA PAREDE DA CAVIDADE À E
SQUERDA DA VISADA 3-4. NOTA-SE NA BASE O ARREDONDAMENTO DAS FORM
AS EM CONTATO COM O MATERIAL INCONSOLIDADO, (ACERVO PESSOAL, LEÃ
O & SIMÕES, 2018) ................................................................................................................ 90
FIGURA 55: CAPA MINERALIZADA EM DETALHE. DEVIDO À RETENÇÃO DE ÁG
UA, A ALTERAÇÃO DO SUBSTRATO É INTENSIFICADA ABAIXO DAS CAPAS. (AC
ERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) .................................................................... 91
FIGURA 56: PRECIPITAÇÃO DE ÓXIDOS DE FERRO E MANGANÊS AO LONGO DA
S PAREDES DA LAPA SANTA. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) 92
FIGURA 57: NOTA-SE NO TETO DO SALÃO DE ENTRADA DA CAVIDADE, DIVERS
AS FORMAS COALESCENTES QUE ENCAMINHAM-SE NA DIREÇÃO DA VISADA,
OU SE-NW, DIREÇÃO PREFERENCIAL AO DESENVOLVIMENTO DA CAVIDADE. (
ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) ................................................................... 93
FIGURA 58: CONDUTO EM FORMA DE FECHADURA ESTREITANDO-SE EM DIRE
ÇÃO À BASE. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) ........................................ 94
FIGURA 59: DEPÓSITOS DETRÍTICOS EM FORMA DE LEQUE AO LONGO DA POR
ÇÃO ABERTA À PARTE EXTERNA DA VISADA 2-5 EVIDENCIANDO A AÇÃO DE U

MA INTENSA DINÂMICA HÍDRICA. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018).....


...................................................................................................................................................95
FIGURA 60: DEPÓSITOS EM FORMA DE LEQUE AO LONGO DA FACE NORDESTE
DA VISADA 2-5. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018). .................................. 95
FIGURA 61: CLASTOS MOVIMENTADOS NA VISADA 8-9-10. (ACERVO PESSOAL,
LEÃO & SIMÕES, 2018). ....................................................................................................... 96
FIGURA 62: VISADA 10-12 COM MATERIAIS FINOS E TRAÇADO DA DRENAGEM I
NDICANDO A MUDANÇA NA DIREÇÃO DO EIXO HÍDRICO REPRESENTADA PELO
CONDUTO 12-13. OBSERVAM-SE FORMAS MAIS ARREDONDADAS AO LONGO CO
NTATO COM O MATERIAL. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018) .............. 97
FIGURA 63: GALERIA DE RESTITUIÇÃO DA CAVIDADE. OBSERVA-SE LATERAL
MENTE A PRESENÇA DE CONDUTOS QUE INDICAM A RECUPERAÇÃO DE DREN
AGENS NO PONTO DE RESTITUIÇÃO. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018).
...................................................................................................................................................98
FIGURA 64: DOMO DE TETO ORIGINADO PELA PRESSÃO DA ÁGUA OU MATERI
AL CONTRA O TETO DA CAVIDADE PROMOVENDO SUA DISSOLUÇÃO GRADATI
VA. (ACERVO PESSOAL, LEÃO & SIMÕES, 2018)..........................................................99
LISTA DE TABELAS

TABELA 1: DADOS TOPOGRÁFICOS LEVANTADOS SEGUNDO AS VISADAS


ESTABELECIDAS PARA A LAPA SANTA ........................................................................ 53
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 15

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 17

2.1 O CARSTE ......................................................................................................................... 17

2.2 FASES DO DESENVOLVIMENTO DO CARSTE .......................................................... 21

2.2.2 – PRIMOCARSTE E FANTOMIZAÇÃO ...................................................................... 22

2.2.3 SISTEMA CÁRSTICO ATIVO: AMBIENTES E MORFOLOGIAS ............................ 31

2.2.3.1 – O EXOCARSTE ........................................................................................................ 33

2.2.3.2 – CRIPTOCARSTE...................................................................................................... 36

2.2.3.3 O ENDOCARSTE ........................................................................................................ 38

2.2.4 - PALEOCARSTE OU CARSTE FÓSSIL ..................................................................... 41

2.3 O CARSTE EM ROCHAS SILICICLÁSTICAS ............................................................... 42

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................. 46

3. 1 LOCALIZAÇÃO ............................................................................................................... 46

3.2 GEOLOGIA ....................................................................................................................... 47

3.4 GEOMORFOLOGIA ......................................................................................................... 51

3.5 SOLOS ............................................................................................................................... 52

3.6 CLIMA E HIDROGRAFIA ............................................................................................... 53

3.3 VEGETAÇÃO .................................................................................................................... 55

4 METODOLOGIA.................................................................................................................. 56

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................... 65

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA CAVIDADE ........................................................................... 65

5.2 GÊNESE DA CARSTIFICAÇÃO ..................................................................................... 82

5.2.1 MORFOLOGIAS ASSOCIADAS À PROCESSOS GEOQUÍMICOS .......................... 83

5.2.2 ELEMENTOS HIDRODINÂMICA ............................................................................... 94

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 101

7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 103


15

1 INTRODUÇÃO

As literaturas clássicas acerca do carste assumem a dissolução como processo dominante na


geração de tais paisagens, restringindo-as a litologias solúveis como carbonatos e evaporitos.
No entanto, a carstologia passou por importantes mudanças conceituais a partir de trabalhos
como os de Jennings (1985), Ford & Williams (2007), Rodet (2014) e Quinif (2014). Os
autores destacam a importância de fatores não-químicos aos processos cársticos e estendem o
carste a quaisquer litologias, compreendendo a formação de ambientes cársticos no tempo e
no espaço a partir da ação de processos geoquímicos e hidrodinâmicos, independente de quais
sejam seus condicionantes. Assim, os ambientes cársticos passam a ser compreendidos como
produto da ação de processos de carstificação e não mais como elementos paisagísticos com
morfologias características oriundas da dissolução, restritos a litologias carbonáticas.
Fatores como a presença de porosidade secundária, hidrologia, solos, vegetação e
organismos, potencializam a propensão das rochas à carstificação, desta forma, a ação dos
condicionantes pode orientar caminhos preferenciais à passagem das águas aciduladas e
auxiliar seu potencial geoquímico. A introdução das águas aciduladas promove então a
alteração química dos minerais e dá início aos processos cársticos, assim, a frente de alteração
pode progredir até que seja atingido um ponto de restituição e estabelecida a junção
hidrológica com o carste de introdução, configurando um sistema cárstico ativo. Então, a
remoção do material alterado através de uma dinâmica hídrica competente, ou singenética, dá
origem às morfologias cársticas.
Apesar da atual compreensão na carstologia de que quaisquer litologias são passíveis
à carstificação, estudos acerca do desenvolvimento do carste em litologias quartzíticas ainda
não são recorrentes. Nas bordas leste e oeste da Serra do Espinhaço Meridional foram
identificadas diversas cavidades em quartzito formadas por processos de carstificação, sendo
a Lapa Santa a mais expressiva na região do Complexo Arqueológico Serra Negra em Felício
dos Santos – MG, assim, a discussão de sua gênese auxilia na divulgação e compreensão do
desenvolvimento do carste não-carbonático, comprovando a ação dos mesmos processos
cársticos atuantes em litologias mais passíveis à dissolução.
A ação conjunta de processos geoquímicos e hidrodinâmicos satisfaz as condições de
carstificação para quaisquer litologias, no entanto, a dissolução da sílica ocorre apenas sob
condições específicas de temperatura, pH e íons presentes em solução. Autores como Hardt
(2011) e Kämpf et al. (2009) afirmam que a dissolução da sílica ocorre, mesmo que
lentamente, de forma simultânea a outros processos como a hidrólise, que é o fator dominante
16

na alteração de substratos siliciclásticos. Assim, a remoção dos componentes solúveis


acontece de acordo com o controle efetuado pela drenagem e pluviosidade. Conforme Young
& Young (2009), a presença de fatores como íons metálicos, sais inorgânicos e ácidos
orgânicos incrementa a solubilidade da sílica e contribui para a ocorrência de processos
geoquímicos em rochas siliciclásticas. A sílica dispõe-se ainda em 8 formas naturais mais
solúveis que o quartzo e Ford & Williams (2007) afirmam que a dissolução em rochas
siliciclásticas é incongruente ocorrendo preferencialmente sobre o cimento da rocha.
O objetivo deste trabalho é a elaboração de um mapa e discussão acerca da gênese da
gruta Lapa Santa, desenvolvida em substrato quartzítico. Assim, foram realizadas técnicas de
topografia para a confecção do mapa e identificados e analisadas na cavidade elementos
relacionados à processos geoquímicos e hidrodinâmicos, atestando sua gênese na carstificação
e compreendendo os processos dominantes em seu desenvolvimento. Após a realização dos
procedimentos compreendeu-se que a gruta foi desenvolvida a partir da coalescência de
alvéolos ao longo dos planos de fratura e foliação dos quartzitos, o desenvolvimento
alveolonar lhe proporcionou uma organização não definida apesar da tendência de
desenvolvimento no sentido SE-NW.
17

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 O CARSTE

O termo karst, é oriundo da germanização da palavra de origem eslava “krs” ou


“kras” e se popularizou nos meios acadêmicos a partir de trabalhos pioneiros do sérvio Jovan
Cvijic (1865 – 1927) em referência a paisagens desenvolvidas em terrenos carbonáticos na
região do Kras, situada entre o Nordeste da Itália e Noroeste da Eslovênia (Ford, 2007). Cvijic
em seu célebre trabalho Das Karstphanomen (1893) associa o carste estritamente a litologias
carbonáticas devido a sua susceptibilidade à dissolução quando em contato com águas
aciduladas, assim, a associação de morfologias cársticas com processos de dissolução define
os princípios da carstologia. Em função do contexto em que surge a carstologia, desde o
século XIX o carste fora comumente associado nas literaturas recorrentes a litologias
carbonáticas, deste modo, feições semelhantes observadas em outras litologias eram
consideradas pseudocarste (HARDT, R.; PINTO, S. A. F., 2009). Autores como Jennings
(1985) e Halliday (2004) relacionam o termo a morfologias e o utilizam em referência a
paisagens semelhantes àquelas observadas em litologias solúveis, onde no entanto, processos
como a dissolução e remoção hídrica não foram determinantes à sua gênese. Glazek (2006)
ressalta os perigos do uso indiscriminado do termo, já que este pode associar erroneamente o
carste a uma pseudociência, conforme expressa o autor: “Se a ciência que estuda o carste é
razoavelmente denominada “carstologia”, não podemos aceitar uma ciência pseudo-
carstologia”.
O carste, descrito inicialmente como expressão paisagística de um substrato
específico, sofreu importantes modificações desde seu surgimento, sendo posteriormente
compreendido como um produto de processos específicos, independente do substrato. A
primeira grande mudança conceitual sobre o carste foi a compreensão de sua dinâmica
específica no contexto geomorfológico, discussão iniciada a partir do trabalho de Renault
(1967). O autor introduz a partir de seus estudos pioneiros sobre o comportamento mecânico
das rochas e a morfodinâmica cárstica, a ideia de que as cavidades são integrantes de um
conjunto maior, ou de uma “rede”, o que se tornaria mais tarde um consenso dentre as escolas
francesas das décadas de 1980 e 1990. Renault (1967) aponta ainda a influência determinante
de fatores não químicos aos processos de carstificação, seja orientando a ação da dissolução
ou combinando-se a ela, deste modo, as diferentes influências de fatores como dinâmica
hídrica e temperatura ao longo das zonas climáticas e geomorfológicas do planeta, resulta em
18

uma grande diversidade de paisagens cársticas, o que impede com que o fenômeno cárstico
seja estritamente relacionado a paisagens características. Autores como Maire (1990), Rodet
(1991), e Delannoy (1997), Kimchouk et.al (2000) e Ford & Williams (2007) corroboram
com tal visão. A partir de tais concepções, os ambientes cársticos são entendidos como
produto da ação de processos cársticos, considerando-se na compreensão de sua gênese a
importante influência secundária de diversos parâmetros ambientais que agem em conjunto
com a dissolução, bem como do contexto geomorfológico em que se inserem.
A segunda grande mudança correspondeu ao reconhecimento da existência de
morfologias cársticas em litologias que segundo o carste clássico não seriam passíveis à
carstificação, e adveio de trabalhos pioneiros como os de Renault (1953), Mainguet (1972) e
Marescaux (1973), que destacam-se por seu pioneirismo no estudo de morfologias cársticas
em litologias não-carbonáticas, sobretudo areníticas (Rodet, 2010). Trabalhos mais antigos
como os de Géze (1973) e Sweeting (1972), em concordância com a carstologia clássica,
compreendem o carste como uma forma de relevo típica de litologias carbonáticas ou de
elevada solubilidade, com formas características superficiais e subterrâneas oriundas da
dissolução. Bogli (1980) estende a formação do carste a evaporitos expostos à climas tropicais
extremamente úmidos e White (1988) afirma que o que distingue o carste de outras paisagens
é o predomínio da dissolução como agente geomorfológico, sendo tais processos dominantes
na esculturação dos relevos cársticos, no entanto, o autor amplia a ação da carstificação a
outras rochas solúveis como a gipsita ou mesmo a outras litologias em menor escala. Autores
como Fénelon (1965) e Jennings (1985) associam o carste a ocorrência de morfologias,
reconhecendo o papel crítico, mas não necessariamente determinante dos processos
geoquímicos no desenvolvimento de morfologias cársticas. Jennings (1985) compreende o
carste como um ambiente com formas de relevo características e drenagem resultante da
solubilidade da rocha, segundo o autor, a distinção entre um carste e um pseudocarste,
característico de litologias não-carbonáticas, está na reação da água com os minerais
insolúveis durante sua passagem, estes não são transportados em solução, deste modo,
limitam a permeabilidade do substrato interferindo no desenvolvimento da drenagem
subterrânea; no entanto, o autor admite a existência de morfologias cársticas em rochas
siliclásticas com presença de grandes condutos, galerias, rios volumosos, dolinas e bacias de
drenagem, além de admitir a possibilidade de dissolução de pequenos cristais de quartzo sob
condições pré-determinadas de temperatura e pH, mesmo que de forma lenta, sendo o quartzo
inicialmente convertido à quartzo amorfo, mais passível à dissolução. Self & Mullan (1997)
19

também relacionam o carste a características morfológicas da paisagem, independentemente


de sua gênese e da litologia em que ocorrem.
Segundo Vasconcelos (2014), a partir de tais trabalhos outros fatores além de
litologia e dissolução, como hidrologia, feições estruturais e parâmetros climáticos e
ambientais foram incluídos como condicionantes do desenvolvimento de morfologias
cársticas, destacando-se o papel fundamental da água nos processos de alteração química dos
minerais e posterior erosão e transporte dos materiais alterados. Destaca-se também a
importância das feições estruturais, que são a porta de entrada das águas aciduladas para a
subsuperfície e orientam a formação de condutos e canais.
No Brasil, Christofoletti (1980), em acordo com a concepção clássica, define o
carste como regiões carbonáticas e dolomíticas de topografia característica com drenagens
predominantemente verticais e subterrâneas e Bigarella et. al (1994) admitem a existência de
morfologias cársticas em litologias não-carbonáticas, no entanto, se referem a elas como
paisagens Pseudocársticas
Ford & Williams (2007) consideram o carste como regiões de hidrologia e relevo
distintos, originados a partir de rochas solúveis e de porosidade secundária bem desenvolvida,
no entanto, segundo os autores, apenas a solubilidade da rocha é insuficiente para o
desenvolvimento de um carste e outros fatores ligados à estrutura da rocha e litologia são
também determinantes. Deste modo, rochas de baixa porosidade primária (inferior a 50%),
mesmo solúveis, caracterizam-se por processos de carstificação pouco desenvolvidos,
enquanto rochas solúveis de baixa porosidade primária, mas elevada porosidade secundária
posteriormente desenvolvida, caracterizam-se por um carste altamente evoluído. Os autores
argumentam então que uma hidrologia subsuperficial anômala impulsionada pelo ciclo
hidrológico é a chave para o desenvolvimento dos processos cársticos, assim, as feições
estruturais da rocha estabelecem caminhos preferenciais à passagem de água que altera os
minerais ao longo do caminho e promove a geração de morfologias características. Os autores
afirmam ainda que mesmo rochas pouco solúveis como quartzitos e arenitos podem
desenvolver morfologias cársticas em pequena à media escala. Klimchouck et al. (2000)
reafirmam o papel secundário da litologia para o desenvolvimento de um sistema cárstico,
definindo o carste como um sistema de transferência de massa integrado com rochas solúveis,
de permeabilidade estrutural favorecida pelos condutos originados a partir da dissolução do
material rochoso e organizados de modo a permitir a circulação de fluidos. Já Rodet (2014)
compreende o desenvolvimento de um carste a partir de ação de processos, sendo que para a
evolução de um sistema cárstico é necessária a ação de processos geoquímicos, sobretudo a
20

hidrólise e lixiviação de elementos e íons em solução, com posterior remoção do material


alterado pela ação da dinâmica hídrica. Assim, são originados os espaços necessários ao
estabelecimento da drenagem subsuperficial e conexão entre os pontos de introdução
restituição, ou input karst e output karst, e portanto, a paisagem cárstica é compreendida como
produto da ação de processos específicos, de ação coordenada por diversos parâmetros
ambientais e pela dinâmica geomorfológica em que se inserem, sendo a dissolução um
processo dominante ou não. Quinif (2014) também afirma a necessidade de uma dinâmica
hídrica competente e quimicamente agressiva para o desenvolvimento da carstificação, esta
deve promover a dissolução química e remoção dos materiais solúveis e insolúveis,
impedindo o preenchimento dos espaços gerados.
Trabalhos como os de Urbani (1986, 1990), Young & Young (1992), Rodet
(1992; 2014), Wray (1997 a; 1997 b; 2009), Silva (2004), Uagoda (2006), Ford & Williams
(2007), Hardt (2011) e Vasconcelos (2014) apresentam estudos detalhados sobre sistemas
cársticos desenvolvidos em litologias diversas, corroborando com a definição de carste a
partir da ação de processos. Desta forma, compreende-se um carste a partir da relação entre
processos geoquímicos, sobretudo a dissolução, e uma hidrodinâmica competente que
estabeleça a conexão entre introdução e restituição, possibilitando a erosão do material
alterado e desenvolvimento de morfologias cársticas. Assim, os processos cársticos abrangem
substratos diversos como arenitos, quartzitos, granitos, gnaisses, além do calcário e demais
rochas solúveis. Portanto, apesar da comum associação entre o carste e litologias específicas
nos primórdios da carstologia, segundo Vasconcelos (2014), a relação entre processos
geoquímicos e hidrodinâmicos é que vai definir o desenvolvimento ou não de um sistema
cárstico no espaço e no tempo. A autora aponta que a propensão à carstificação é favorecida
pela susceptibilidade da rocha à dissolução mas também por sua porosidade secundária e
parâmetros ambientais como hidrologia, clima, presença de solos e outros fatores que
potencializam o intemperismo químico, no entanto, independentemente de quais sejam os
condicionantes, é a ação combinada de processos geoquímicos e hidrodinâmicos que
determina a evolução de um sistema cárstico.
Os estudos acerca do carste no Brasil buscam a caracterização de morfologias e
descrição dos ambientes hidrogeológicos e geomorfológicos por trás de tais feições (Piló,
1998). Silva (2004) descreveu vários ambientes cársticos siliciclásticos ao longo do território
brasileiro, como as Rochas do Planalto das Guianas, cavernas de litologia arenítica nos
estados do Amazonas e do Pará e a Bacia Sedimentar do Paraná, com maior volume de
trabalhos publicados acerca de tais morfologias no Brasil. O autor realizou trabalhos também
21

em Minas Gerais, onde encontram-se as maiores e mais expressivas províncias cársticas


siliciclásticas, sobretudo na Serra do Espinhaço e Serra do Caraça, que contém a maior gruta
em quartzito do mundo.
A partir das concepções modernas acerca da carstificação, trabalhos como os de
Rodet (2014) e Quinif (2010) propuseram modelos mais precisos para a dinâmica evolutiva de
sistemas cársticos, subdividindo a carstificação em diferentes estágios de desenvolvimento.
Assim, iniciava-se uma discussão categórica desde a abertura do primeiro duto até o
estabelecimento da restituição.

2.2 FASES DO DESENVOLVIMENTO DO CARSTE

Rodet (2014) introduz uma nova abordagem e classifica o processo de


carstificação em diferentes etapas, segundo o autor, para o desenvolvimento de um sistema
cárstico ativo, isto é, que possui função hidrológica ou solução de continuidade hidrodinâmica
conectando introdução e restituição, são necessárias etapas iniciais de preparação do substrato
que ocorrem antes do estabelecimento do carste de restituição. O autor classifica a etapa
anterior ao estabelecimento de um carste como pré-carste, subdividindo-a em antecarste e
primocarste. Na etapa de antecarste ocorre o primeiro contato entre água e rocha (alteração
difusa), sendo necessária ao estabelecimento da etapa seguinte, a posterior saturação da
solução no substrato. A etapa seguinte, ou primocarste, é marcada pela formação de um
núcleo de alteração e delimitação do carste na rocha. O primocarste é compreendido segundo
diferentes estágios dominados pela alteração química, podendo evoluir para um carste
controlado pela dinâmica hídrica paragenética ou singenética. Rodet (2015) ilustra a evolução
de um ambiente cárstico conforme a Figura 1.

Figura 1 - Etapas necessárias ao desenvolvimento de um carste desde a


preparação do substrato até a carstificação.

Fonte: (Rodet, 2015).


22

2.2.2 – PRIMOCARSTE E FANTOMIZAÇÃO

De acordo com a conceituação clássica da carstificação, o estabelecimento da conexão


entre as entradas e saídas de um sistema cárstico é um fato adquirido, já que a água estabelece
seu caminho através de descontinuidades estruturais do substrato (Bogli, 1980). Gezé (1966)
compreende a junção hidráulica como um fato adquirido da rede cárstica, de modo que o
desenvolvimento do sistema cárstico se dê a partir de águas fluindo com alta energia por
descontinuidades estruturais já largas por si só. Choppy (1994 p.5) afirma que a abertura de
condutos só é possibilitada pela circulação de fluidos, mesmo não sendo tal circulação
especificada como um fluxo de massa concentrado ou como a saturação do substrato em água.
Tradicionalmente, carstólogos e hidrogeólogos só consideram o carste um tema de pesquisa a
partir do momento em que é estabelecida a relação entre ressurgência e perda, e mesmo as
mais complexas e modernas teorias sobre a gênese de cavidades não levam em conta o
problema da abertura do primeiro duto ou das fases preparatórias à carstificação. Rodet
(2014) introduz uma nova abordagem para a evolução dos processos de carstificação,
compreendendo o desenvolvimento dos sistemas cársticos a partir da lenta progressão da
frente de alteração, deste modo, as águas meteóricas estabelecem lentamente a conexão entre
o input karst e o output karst. Segundo o autor, se o escoamento for impossibilitado à jusante,
partículas insolúveis e decantadas carreadas pelo fluxo congestionarão a frente de alteração
desacelerando seu avanço, além disso, mudanças constantes no conteúdo geoquímico das
águas meteóricas contribuem para tal desaceleração, o que justifica sua lenta progressão.
Segundo Willems et.al (2007) nestas condições a progressão da frente de alteração se dá a
partir de (i) assentamento de uma carga excedente, (ii) desenvolvimento de tubos de
dissolução ou raízes de introdução e criptocarste, (iii) abertura basal com o aquífero, e por fim
(iv) trepanação de uma drenagem de restituição com a junção hidrodinâmica. Rodet (2014)
define também quatro estágios antes do estabelecimento da restituição, sendo estes:

(1) Topo do substrato à prova d’água: Segundo Rodet et al. (2009) a cobertura móvel, sob
contrações mecânicas e hidroquímicas, pode tornar o topo do substrato impermeável gerando
um aquífero superficial. O aquífero se perde nos vazios restantes e expõe o topo do substrato à
introdução concentrada, possibilitando o desenvolvimento das formas de introdução do
sistema cárstico. Gamez (1992) atribui à essa cobertura a função de contração úmida.
23

(2) Raízes do manto de intemperismo: Relacionam-se ao crescimento vertical de bolsões de


intemperismo perpendiculares à interface à prova d’água. Tal crescimento ocorre de maneira
mais acelerada que o crescimento das frentes de intemperismo em geral, sendo que em rochas
porosas o impacto das feições estruturais nem sempre é preponderante, mas sim as condições
do manto de intemperismo. Segundo Choppy (1994) as feições de cone, características dos
estágios avançados de raízes do manto de intemperismo, representam a perda de agressividade
das águas de introdução, conforme ilustrado na Figura 2. Também é possível a ocorrência de
tais feições em formato horizontal, comumente associadas a poljés conforme observado nas
cavernas da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso (Rodet, 2014).

Figura 2: Tubo de dissolução comum, de forma cônica característica, oriunda


da perda de agressividade das águas meteóricas nos estágios mais avançados.

Fonte: (Rodet, 2014, adaptado por Leão & Simões, 2019).

(3) Contato com um nível de base: O contato das raízes de introdução com um nível de base,
possibilita ganho de mobilidade lateral ao potencial geoquímico, promovendo então a
progressão lateral da frente de alteração. Neste estágio, pode ocorrer a coalescência da
abertura basal de várias raízes de introdução, orientada segundo um eixo tectônico (FIG. 3).
24

Figura 3: Na ilustração da esquerda, um tubo de dissolução que estabeleceu


seu contato basal com o aquífero promovendo a progressão lateral da frente de
alteração. Na ilustração da direita, uma variação da ilustração 2 com coalescência de
suas aberturas basais segundo um eixo tectônico.

Fonte: (Rodet, 2014, adaptado por Leão & Simões, 2019).

Caso não haja a presença de eixos tectônicos, a progressão da frente de alteração


poderá ser horizontalizada e paralela ao nível de base, no entanto, o único exemplo conhecido
de tal desenvolvimento ocorre em Chauchis na Normandia. Sob tais condições pode ser
gerado ainda um manto de intemperismo com abertura horizontal elevada, resultante de um
antigo nível de base posteriormente rebaixado, conforme ilustra a Figura 4.
25

Figura 4: Ilustração (3): Difusão horizontal da frente de alteração com eixos


tectônicos inexistentes (Normandia). (4): Manto de intemperismo com abertura
horizontal elevada decorrente do rebaixamento do nível de base.

Fonte: (Rodet, 2014, adaptado por Leão & Simões, 2019).

(4) Trepanação com a drenagem de restituição: Consiste na abertura basal de raízes do


manto de intemperismo promovida pela pressão do material que o preenche (alterita e solo),
sendo este liberado para outro conduto ou galeria (FIG. 5). O processo sempre ocorre de
forma catastrófica e repentina, com grande volume líquido sendo adicionado à drenagem
basal, raramente a drenagem pode absorver o volume acrescentado à jusante, o que gera
inundações e retenção de fluidos. Na drenagem ativa o material é gradualmente removido, no
entanto, no carste fóssil, um meio tubo de absorção de teto pode se desenvolver (chaminé de
equilíbrio) (Rodet, 2014). Ainda segundo Rodet (2014) podem ser considerados três casos, (i)
trepanação com alvéolos sem drenagem de restituição; (ii) trepanação com drenagem fóssil e
(iii) trepanação com drenagem ativa com o estabelecimento de continuidade hidrológica.
26

Figura 5: Raiz do manto de intemperismo ligada à galeria de restituição com o sentido


do fluxo segundo a orientação da seta.

Fonte: (Rodet, 2014, adaptado por Leão & Simões, 2019).

Teorias recentes como a fantomização Quinif (2010) e o primocarste Rodet (2014)


defendem que existe uma fase inicial, anterior ao processo de carstificação, que se faz
necessária ao desenvolvimento de feições cársticas. Essa fase do desenvolvimento do carste,
de preparação do substrato rochoso antes de sua formação, permite compreender a relação
inicial da alterita com a rocha. Rodet (2014) afirma que todo terreno cárstico é formado a
partir do primocarste, mas nem todo primocarste se desenvolve gerando o carste. O
desenvolvimento do conceito se deu através de diversas observações em áreas cársticas de
todo o mundo, e se concretizou a partir do sítio da Gruta de Mansonnière na Normandia. A
gruta possui 1000 metros de galerias cársticas bloqueadas por elementos terrígenos e
inconsolidados. Através da desobstrução dos condutos e galerias e de análises químicas e
mineralógicas, constatou-se a identificação destes elementos não como depósitos aluviais,
mas como saprólito in situ. Deste modo, observações análogas têm sido feitas em diversos
locais e em diversas litologias (Rodet, 2014).
Rodet (2014) classifica a carstificação em estágios característicos, conforme
ilustra a Figura 6.
27

Figura 6: Modelo conceitual da evolução da carstificação, dos estágios


geoquímicos aos estágios hidrodinâmicos (singênese e paragênese) 1i - Preparação para
a carstificação, ou primocarste: alteração geoquímica sem mudança de volume ou
formação de isoalterita. 1ii – Formação da aloalterita: quebra do complexo de alteração,
perda de volume e abertura à elementos externos. 2 - Ressecamento da aloalterita:
liberação de passagem para água e início da dinâmica paragenética 3 - Maior fluxo de
água e retirada da aloalterita: transição gradual entre a dinâmica paragenética e
singenética 4 – Liberação dos condutos e erosão mecânica: dinâmica singenética.

Fonte: (Rodet, 2014).

Segundo o autor, a evolução dos processos cársticos se dá inicialmente pela


progressão vertical do eixo de alteração até que seja atingida a zona saturada, assim,
processos geoquímicos de alteração como hidrólise e lixiviação, alimentam a frente de
alteração e geram a isoalterita, onde o esqueleto da rocha é preservado em forma e volume,
havendo apenas perda química. O resultado da alteração do substrato pode também ser
chamado de “ghost-rock”, ou rocha fantasma, que consiste em um material inconsolidado
mais poroso que a rocha mãe e de maior capacidade de retenção, oriundo do processo de
fantomização, conforme Quinif (1998). Em seguida ocorre o enlarguecimento do eixo
tectônico e difusão lateral da frente de alteração por percolação em zonas porosas, neste
estágio, a única entrada que ocorre é a de sais em solução, muito mais provenientes da
alteração do próprio leito rochoso que da superfície externa. Já no terceiro estágio, a alterita
atinge o limite de ruptura mecânica e se compacta devido à perda de água dos componentes
argilosos, ocorrendo então perda de volume e abertura à entrada de elementos externos. O
material proveniente da retração e secagem da alterita é denominado aloalterita. Neste estágio,
portanto, há a quebra do complexo de alteração cessando temporariamente a alimentação da
frente de alteração, conforme ilustra a Figura 7. No estágio seguinte ocorre a trepanação do
material com drenagens de restituição, possibilitando o estabelecimento de uma solução de
continuidade hidrodinâmica que conecta o carste de introdução ao carste de restituição, nesta
28

etapa, a entrada de elementos exógenos é ainda mais significativa e a alimentação da frente de


alteração apenas esporádica. O estabelecimento da dinâmica hidrológica e conexão entre
entrada e saída configura tal estágio como o início de um carste ativo dominado por processos
geoquímicos e hidrológicos, demarcando assim, o fim do estágio de primocarste onde
ocorrem apenas processos de alteração geoquímica. O sistema cárstico ativo ainda pode
encontrar-se no estágio de paragênese, onde os processos erosivos não são suficientemente
intensos e os condutos e canais encontram-se congestionados por sedimentos e ainda
inacessíveis ao espeleólogo, ou ainda no estágio de singênese, onde a dinâmica erosiva é
intensa e ocorre a remoção gradual do preenchimento.

Figura 7: Estágios do processo de carstificação. (1) Primeiro estágio do


primocarste: intemperismo preferencial ao longo do eixo tectônico. (2) Alargamento do
eixo tectônico: difusão lateral por percolação e formação do esqueleto da rocha ou
isoalterita com alimentação da frente de alteração. (3) Quebra do complexo de
alteração: partição do esqueleto de alterita e formação de aloalterita, abertura à entrada
de elementos exógenos. (4) Introdução do fluxo cárstico: entrada de exógenos
significativa e alimentação esporádica da frente de alteração.

Fonte: (Rodet, 2014).

Vasconcelos (2014) explica que partir da interação inicial entre a água e o


substrato rochoso, a rocha começa a ser alterada, formando alterita em subsolo, este material
alterado, mais poroso que a rocha adjacente, retém mais água e favorece as reações
geoquímicas, o que potencializa ainda mais a formação de alterita, dando início ao processo
de carstificação. O sistema hídrico busca gerar um fluxo de passagem que depende dos pontos
de introdução (input karst) e restituição (output karst). Caso a continuidade do fluxo hídrico
seja impossibilitada de encontrar um ponto de restituição pela remoção de elementos em
solução ou entupimento dos condutos pelas partículas alteradas, haverá o comprometendo no
desenvolvimento deste carste. Entre os pontos de introdução e restituição a carstificação
29

progride a partir da combinação de diversos fatores através de uma dinâmica mais ou menos
eficaz, sendo singenética ou paragenética. Ainda segundo a autora, o que diferencia um carste
de um manto de intemperismo é a ação de fatores presentes no ambiente que potencializam a
introdução concentrada em determinados pontos. A introdução concentrada associada a
fissuras da rocha possibilitará o desenvolvimento do primocarste e dos processos posteriores.
Quinif (2014) define esse processo anterior ao carste como fantomização, o qual o
material alterado, resultante deste processo, é o fantasma da rocha. A formação do fantasma
da rocha está relacionada a alteração geoquímica de seus compostos, modificando-a em
profundidade e deixando seu aspecto ainda muito parecido com a rocha inalterada, sendo uma
alteração isovolumétrica. Ao perder as características e sofrer uma alteração completa, não
possuindo mais associação com a rocha mãe, tem-se uma alteração alovolumétrica. Este
processo é natural e acontece em qualquer ambiente ou rocha sendo a carstificação um caso
específico da fantomização (FIG. 8).
30

Figura 8: Processo de fantomização a partir da zona de alteração. Neste


corte, nota-se a formação inicial de solo, tendo elementos climáticos (1) e biológicos (2)
atuando na alteração da rocha mãe (8). Nota-se a presença de fraturas (4) na rocha,
caminho que a água acidificada percorrerá, alterando-a, da superfície para baixo,
processo que também pode ocorrer nas fendas das bordas das paredes (7), e avançar
para o centro da rocha, isolando-a gradualmente (9). Os sedimentos acumulam ao redor
da rocha, e são removidos mecanicamente a partir do escoamento subterrâneo (5).

Fonte: (Quinif, 2014).

O conceito de pré-carste/primocarste, considerado por Rodet (2014) e Quinif


(2010) uma fase preparatória para a casrtificação, ilustra as fases preliminares ao futuro dreno
e permite perceber que o carste é resultado da junção de dois tipos de processos: um primeiro
de ordem geoquímica, que produz alteração isovolumétrica, ou seja, uma alteração pontual
que gera a isoalterita, sucedido por um processo hidrodinâmico, que está intimamente
relacionado ao primeiro, e que ocorre quando a alterita é removida, liberando um espaço que
permite um fluxo de passagem. Para tanto, deve-se existir um ponto de restituição, output
karst, que permita um fluxo contínuo, além de uma pressão hídrica que gere tal fluxo,
condicionando assim, o desenvolvimento de diversas morfologias as quais caracterizam um
sistema cárstico.
31

2.2.3 SISTEMA CÁRSTICO ATIVO: AMBIENTES E MORFOLOGIAS

Um sistema é definido como um conjunto de elementos inter-relacionados e


organizados de modo a executar determinados processos, correspondendo no sentido mais
amplo a um input (entrada) conectado à um output (saída), analogamente, um carste de
introdução conectado a um carste de restituição (Vasconcelos, 2014). Ford & Williams (1989)
dividem o sistema cárstico em duas zonas, de erosão e de deposição (FIG. 9), de modo que a
dinâmica da água no sistema seja resultado de sua movimentação da zona de erosão à zona de
deposição. As formas de entrada originadas são características da zona de erosão, resultando
da ação das águas que estabelecem seu curso e efetuam o transporte do material alterado,
sendo este carreado até a zona de deposição. Ainda segundo os autores, as características das
morfologias originadas é dependente da zona em que ocorre sua formação, se ocorrem a partir
da ação de águas superficiais ou subsuperficiais ou se o substrato encontra-se exposto ou em
contato com solo, sedimento ou alterita.

Figura 9: O sistema cárstico, zonas de erosão e deposição.

Fonte:
(Hardt, 2011, adaptado de Ford & Williams, 2007).

A concepção sistêmica perdurou em trabalhos mais recentes, como o de


Kimchouck et. al (2000), onde os autores definem o carste como um sistema integrado com
rochas solúveis e de permeabilidade estrutural ditada pelos condutos oriundos da dissolução
32

do material rochoso, organizados de forma a permitir a circulação de fluidos. Rodet (2014)


também compreende o funcionamento de um sistema cárstico como consequência da conexão
entre input karst e output karst, ou carste de introdução e carste de restituição. Vasconcelos
(2014) ressalta que nem todo carste chegará ao estágio de sistema com o estabelecimento de
uma junção hidrológica, podendo estagnar-se em fases anteriores ao estabelecimento desta,
portanto, a presença de morfologias cársticas nem sempre será concomitante à existência de
um sistema cárstico atual, mas pode representar indícios do desenvolvimento de um sistema
cárstico pretérito, atualmente inativo.
Autores como Auler et al. (2005) e Piló (1998), classificam os sistema cársticos
em três domínios, conforme a Figura 10, sendo estes, endocarste, cujas morfologias são
formadas pela ação da dissolução em profundidade (drenagem subsuperficial), exocarste,
cujas morfologias são resultantes da ação das águas superficiais aciduladas e criptocarste,
domínio subsuperficial onde ocorre contato entre rocha e solo/sedimento/alterita, sendo
geradas morfologias tipicamente arredondadas oriundas das trocas geoquímicas.

Figura 10: Zoneamento dos domínios cársticos.

Fonte: (Vasconcelos, 2014, adaptado de Piló, 1998).


33

2.2.3.1 – O EXOCARSTE
Consiste no domínio que contém morfologias originadas superficialmente, à
exemplo de poljés, dolinas, lapiás e vales cegos.

• Poljés

Áreas depressionárias onde se estabelece um nível de base local condicionando


um acúmulo de água perene ou intermitente e consequente ocorrência de dissolução periférica
do substrato (Figura 11). A não-infiltração das águas no substrato é favorecida pela presença
do nível de base, impermeabilização do piso, ou características litológicas e estruturais da
rocha (Jennings, 1985). Segundo Rodet (2010), os poljés representam uma incapacidade da
drenagem subsuperficial em absorver excessos hidrológicos, promovendo a dissolução
periférica do substrato. A partir do estabelecimento da junção hidrodinâmica os poljés são
lentamente drenados, sendo perfurados por uma ou mais dolinas.

Figura 11: Possível poljé em rochas siliciclásticas, Serra do Espinhaço


Meridional, região de Diamantina – MG.

Fonte (Acervo pessoal, Vasconcelos, 2011).


34

• Dolinas

Descritas segundo Ford & Williams (1989) como depressões fechadas de


geometria cônica ou cilíndrica, apresentando profundidades entre dois e vinte metros e
diâmetros entre dez e cento e vinte metros. Conforme Kohler (1989), as dolinas são
classificadas como dolinas de dissolução quando originam-se a partir da dissolução
superficial, rebaixando a superfície rochosa e proporcionando a entrada de solos, ou como
dolinas de abatimento, quando surgem a partir do colapso provocado pelo abatimento do topo
da caverna. Jennings (1985) acrescenta ainda um terceiro tipo, ou dolina de subsidência,
segundo ilustra a Figura 12.

Figura 12: Os três tipos de dolinas conforme Jennings (1985): (a) Dolinas de abatimento;
(b) Dolinas de dissolução; (c) Dolinas de subsidência.

Fonte: (Jennings, 1985, adaptado por Azevedo, 2017).

• Lapiás

Na linguagem francesa os lapiás definem um conjunto de morfologias originado a


partir da ação da drenagem superficial e águas de precipitação (Auler et al., 2005). Tais
morfologias podem também ser originadas em domínios subsuperficiais (zonas de contato
entre rocha e solo) sendo posteriormente expostas. Nas zonas criptocársticas, a água
acumulada no material em contato com a rocha, aproveitando-se de fraturas e foliações,
promove sua alteração logo abaixo da zona de contato originando os criptolapiás. Em alemão,
o termo karrens também caracteriza o conjunto de morfologias originado a partir da ação da
drenagem superficial (Auler et al., 2005), sendo comumente confundidos com lapiás na
literatura. No entanto, nos trabalhos de Vasconcelos (2014) e Hardt (2004), os karrens serão
35

entedidos como pequenas ranhuras na superfície da rocha originadas a partir da infiltração das
águas superficiais nas morfologias arredondadas do criptocarste exumado, estabelecendo
pequenos fluxos canalizados, de modo a alargar as fissuras já abertas pela alteração
promovida na interface solo/rocha. Em razão da confusão causada no uso do termo no Brasil,
o termo Lapiás pode ser utilizado em referência ao conjunto de morfologias expostas, como
no trabalho de Vasconcelos (2014). Como exemplo de Lapiás encontra-se a kamenitze
representada na Figura 13. Kamenitze são bacias de dissolução de pequena profundidade,
geralmente de fundo plano e pequenas dimensões (Vasconcelos, 2014).

Figura 13: Kamenitze em quartzito, região de Curralinho – MG. (Autor: Alessandra


Vasconcelos, 2011).

Fonte: (Acervo pessoal, Vasconcelos, 2011).

• Vales cegos

Caracterizados por superfícies em forma de vale próximas a jusante de um


sumidouro e que representariam um passado anterior a existência do sumidouro. A existência
do sumidouro interrompeu o fluxo das drenagens superficiais capturando o volume das águas,
que passaram a correr em subsuperfície, tornando o vale seco (Hardt, 2004). Quanto maior o
sumidouro, maior a chance de a drenagem superficial passar a correr em uma grande caverna.
Segundo Jennings (1985), os vales cegos podem também abrigar depressões fechadas que
condicionam a existência de canais oriundos da ação de fluxos d’água provenientes de várias
direções, os fluxos acumulam-se então em um conduto subsuperficial originando lagos
36

temporários. Com o aprofundamento do nível de base do vale cego, os canais podem ser
eventualmente abandonados.

2.2.3.2 – CRIPTOCARSTE

Segundo Bakalowicz (2012), o termo teria surgido a partir de observações de


biólogos de águas subterrâneas acerca da diversa fauna Copepoda, existente em estalactites.
Os autores concluíram a partir das observações que deveriam existir zonas saturadas acima da
zona de percolação temporária, cunhando o termo aquífero epicárstico, em referência à tais
zonas saturadas suspensas e o termo epicarste, como uma generalização de tal conceito.
Bakalowicz (2012) define o epicarste como “Zona superficial de áreas cársticas, que com a
ação do clima, raízes de árvores e dos processos estruturais, tem ampliadas as fendas das
rochas, originando uma zona de maior permeabilidade e porosidade dentro do maciço
carbonático”. Autores como Ford & Williams (1989), Piló (1998) e Palmer (1991),
compreendem o epicarste como a zona subcutânea situada entre a porção superior da rocha
subjacente, coberta por material inconsolidado, contendo uma rede de fissuras alargadas por
processos cársticos e Bigarella et al. (1994) fazem uma pequena referência à uma região de
alteração no carste denominada zona de criptocorrosão, onde ocorrem trocas geoquímicas
logo abaixo da cobertura pedológica, sedimentar ou residual, do grego kriptós = oculto,
escondido. Em trabalhos mais recentes, como o de Rodet (2012), o autor relaciona as formas
desenvolvidas no carste de introdução às morfologias do criptocarste, definindo-o como uma
zona de contato entre a rocha e a cobertura móvel onde se desenvolvem processos
essencialmente geoquímicos, como a lixiviação e a hidrólise, associados à ação dos
organismos.
Vasconcelos (2014) compreende o criptocarste como a zona de contato entre
rocha e material inconsilidado, de morfologias tipicamente arredondadas (FIG. 14), originadas
a partir da ação conjunta da hidrodinâmica e processos geoquímicos como hidrólise,
lixiviação e dissolução, potencializados pela ação de microrganismos. O acúmulo de água
presente na cobertura dissolve a rocha lentamente, poucos metros abaixo do contato,
aprofundando suas fraturas e fissuras e originando feições como criptodolinas e criptolapiás
(FIG. 15).
Segundo Jaillet (1999), o criptocarste é o principal responsável pelo rebaixamento
do carste regional, de modo que após a infiltração, a diferença de permeabilidade ao longo da
zona de contato entre solo e rocha, torna a cobertura móvel eventualmente saturada e
37

possibilita o estabelecimento de um fluxo lateral ao longo da mesma, deste modo, há a


geração de uma área de dissolução acelerada no criptocarste. A presença de matéria orgânica
também potencializa a alteração ao longo desta zona, já que o CO2 produzido a partir do
metabolismo bacteriano torna as águas infiltradas mais ácidas e acelera a dissolução da rocha.

Figura 14: Morfologia tipicamente arredondada formada sob a zona de criptocarste,


Januária – MG.

Fonte: (Vasconcelos, 2014, adaptado de Silva, 2012).


38

Figura 15: Desenvolvimento de morfologias características do criptocarste.

Fonte: (Vasconcelos, 2014, adaptado de Sauro, 2012).

2.2.3.3 O ENDOCARSTE

Corresponde à região onde ocorrem morfologias provenientes da ação da


drenagem subsuperficial. Os condutos são formados a partir de trocas geoquímicas entre a
rocha e as águas da zona saturada acima do criptocarste, sendo posteriormente alargados com
a infiltração das águas ao longo de fraturas, foliações e estratificações, que efetua a remoção
mecânica do material (UAGODA, 2004).

• Cavernas

De acordo com Jennings (1985), os processos cársticos são o principal agente


responsável pela formação de cavernas, assim como vulcanismos, processos de deslizamento,
além de processos glaciais e de erosão marinha. Planos de fraqueza como fraturas,
acamamento e planos de clivagem, são necessários para promover porosidade secundária e
favorecer o desenvolvimento de cavernas. Deste modo, as cavidades não são abertas ao longo
dos planos de falha, mas estes direcionam sua forma e posição. Ainda segundo o autor, a
rocha cárstica deve ser suficientemente resistente para suportar a abertura de cavidades,
39

alguns evaporitos por exemplo, são susceptíveis a dissolução mas não são mecanicamente
resistentes à abertura de grandes seções transversais.
Piló (1998) afirma que as cavernas podem ser formadas na zonas freáticas ou
vadosas, sendo sua gênese favorecida preferencialmente nas últimas. Na zona vadosa, situada
acima do nível freático, conforme representa a Figura 16, a presença de uma dinâmica hídrica
intensa, com fluxos altamente energéticos, como a entrada das águas de um sumidouro,
potencializa os processos de dissolução e remoção mecânica do material, dando origem a
morfologias cársticas. Enquanto na zona freática, a gênese de cavernas se dá de forma mais
lenta, de forma que quando o substrato torna-se saturado em água, ocorram reações ao longo
de suas zonas preferenciais formando estreitos condutos. Com o eventual alargamento de tais
feições, o fluxo de água torna-se mais intenso e acelera a abertura das cavidades.
Ainda segundo Piló (1998), no interior das cavidades ocorrem depósitos de
origem externa (alóctones), transportados por meio da drenagem ou através de fluxos
gravitacionais, e depósitos autóctones, à exemplo de espeleotemas e blocos abatidos.

Figura 16: Esquematização mostrando a dinâmica da água entre o carste de introdução


e o carste de restituição.

Fonte: (Vasconcelos, 2014, adaptado de Piló, 1998).


40

• Espeleotemas

Espeleotemas são comuns na maioria das cavernas carbonáticas e siliciclásticas,


originados a partir da dissolução e reprecipitação dos minerais, podendo ser posteriormente
incorporados à outros minerais como por neoformação em argilas e solos (Young & Young,
2009). A formação de tais morfologias se dá a partir da infiltração de águas acidificadas no
substrato, à exemplo de águas ricas em ácidos orgânicos provenientes da cobertura de solo
sobre a caverna, estas dissolvem então os minerais em seu caminho e tornam-se cada vez mais
concentradas em determinados íons e elementos químicos, sendo assim, ao atingir o teto da
cavidade sob condições de saturação, ocorre a precipitação química dos elementos dissolvidos
na água dando origem aos espeleotemas. Sua forma é dependente da interação entre o regime
de fluxo e os hábitos de crescimento dos minerais em questão (White, 1988).
Segundo Young & Young (2009), em áreas de rochas silicosas, mesmo sob
presença pouco significativa de cimento carbonático, os espeleotemas de sílica são menores
que aqueles originados a partir de litologias carbonáticas, conforme representa a Figura 17,
mas são também bastante comuns. Espeleotemas de sílica foram descritos em cavernas de
granitos e basaltos, além de cavernas quartzíticas e areníticas em todo o mundo, fornecendo
claras evidências de sua gênese a partir da dissolução (Wray, 1997b). White et al. (1966)
foram os primeiros a relatar a presença de espeleotemas de sílica nas rochas da Formação
Roraima, sobretudo sob as formas de estalactites e capas silicosas, observando a relação entre
as formas e a dissolução e re-precipitação da sílica. Posteriormente, Carreño e Urbani (2004),
descreveram espeleotemas de opala amorfa no sistema de cavernas ao sul de Roraima.
Segundo os autores, o microclima influencia os padrões de fluxo de ar, capilaridade e
condensação, estabelecendo um zoneamento entre a entrada e as porções mais profundas da
caverna, o que origina espeleotemas com vários padrões de dimensão, concentração,
distribuição espacial e ângulo de rotação em relação ao vento.
Young & Young (1992), em trabalhos relacionados a ambientes cársticos nos
arenitos do sudoeste da Austrália (FIG. 17), enfatizam que a presença de estalactites no teto
das cavernas demonstra a movimentação da sílica em solução ao longo do substrato. Ainda
segundo os autores, o desenvolvimento de tais formas ocorre geralmente abaixo de um teto
aproximadamente plano devido a sua extensão ao longo dos planos de acamamento, e se dá ao
longo de todo o teto, não apenas segundo zonas preferenciais ou em arranjos lineares,
41

indicando consequentemente a infiltração de água ao longo de toda a massa rochosa, não


apenas em planos de fraturas ou lineações.

Figura 17: Pequenas estalactites de sílica, arenito Hawkesbury, Austrália.

Fonte: (Young & Young, 2009).

A ocorrência das morfologias descritas acima em seus respectivos ambientes


evidencia a ação conjunta dos processos de dissolução e de uma dinâmica hídrica competente,
caracterizando feições originadas a partir de processos cársticos. A presença de algumas
destas foi observada, mapeada e descrita ao longo da Lapa Santa, atestando a gênese da
cavidade na carstificação.

2.2.4 - PALEOCARSTE OU CARSTE FÓSSIL

Segundo Bosak (1989) um carste quando perde sua função hidrológica é


denominado carste fóssil ou paleocarste. O autor afirma que a fossilização é consequência de
variações do nível relativo do mar ou mudanças geotectônicas locais e regionais, como
elevação ou subsidência. A deriva continental pode também alterar a zona climática de um
sistema cárstico, promovendo mudanças na dinâmica hídrica/climática que podem contribuir
para a fossilização ou rejuvenescimento.
O paleocarste se trata de características cársticas que se formaram no passado e
estão associadas a um sistema hidrológico ou superfície terrestre anterior (Wright, 1982). A
fossilização ocorre tanto em formações superficiais quanto subsuperciais, sendo que neste
42

segundo caso, para que o carste seja considerado fóssil é necessário que a rocha esteja a um
longo período sem sofrer nenhum tipo de alteração química. Em geral, o paleocarste é
encontrado com todas as suas feições soterradas por sedimentos provenientes de outras
regiões, o que geralmente ocasiona no sucesso ou fracasso da utilização de tais áreas para
estudos, já que estas não apontam as tendências do fluxo moderno da água subterrânea, e se
faz necessária a retirada manual das paleo-formas (FORD,1995).

O paleocarste, segundo NCEA (2002) é definido como:


1- Rocha ou área cárstica, que foi preenchida pelo acúmulo de sedimentos posteriores;
2- Sistema atual que está desconectado e passou por subsidência tectônica e falsa
discordância, abaixo da cobertura clástica, podendo eventualmente ser exumado e restituído a
um sistema ativo;
3- Carste fomado sob um ciclo erosivo pretérito e muitas vezes em tempo geológico
longínquo;
4- Superfícies e formas cársticas que foram enterradas por rochas mais jovens. Feições
paleocársticas podem ser identificadas em diversas sessões carbonáticas, mas dificilmente elas
são exumadas por efeito de soerguimento recente e erosão. Assim, a partir de interpretações
adequadas, os paleocarstes apresentam uma ampla gama de características marcantes que
oferecem um estudo sobre a moderna circulação de cárstica de águas subterrâneas, gênese de
cavernas e desenvolvimento de feições específicas do relevo de superfície, obtendo então,
respostas minuciosas sobre a evolução da história do carste de uma região.
Vasconcelos (2014) afirma que apenas a presença de formas cársticas em uma
dada área não a caracteriza como um Sistema Cárstico atual, no entanto, fornece subsídios
para compreender sua dinâmica no espaço e no tempo, desde as etapas preparatórias do
substrato até o estabelecimento ou não de junção hidrológica. Portanto, a ação dos processos
geoquímicos e hidrodinâmicos influenciados por fatores ambientais atuantes no local, podem
levar ao desenvolvimento de um ambiente cárstico ativo com dinâmica hídrica atuante, ou
fossilizado, onde ocorre apenas primocarste ou formação de condutos sem conexão com a
restituição.

2.3 O CARSTE EM ROCHAS SILICICLÁSTICAS

Nos primórdios da carstologia, considerava-se a dissolução como processo


químico determinante à gênese das morfologias cársticas, de modo que morfologias
43

semelhantes presentes em rochas pouco solúveis eram denominadas pseudocarste. Halliday


(2004) define o pseudocarste como superfícies semelhantes às do carste clássico, mas que não
tem a dissolução e a erosão física como processos dominantes em seu desenvolvimento.
Jenings (1985), Bates e Jackson (1987) e McGraw-Hill (1991), comungam com tal ideia,
apresentando pequenas variações nas definições.
O desenvolvimento de trabalhos como os de (Renault, 1953; Mainguet, 1972;
Young & Young, 1992; Doerr, 1999; Willems et al., 2002, Williams, 2004), apontou a
ocorrência de carste em diversas litologias não-carbonáticas, ocorrendo dissolução mesmo
que em menor grau e em associação à outros processos. Jennings (1985), afirma que baixas
taxas de intemperismo químico são observadas em rochas quartzosas devido à baixa
solubilidade do quartzo em condições de equilíbrio químico, sendo esta inferior a 30mg/litro,
enquanto em calcários a solubilidade pode exceder milhares de miligramas por litro, sob
influência da temperatura e pCO2. Segundo Krauskopf (1979), a sílica pura encontra-se
disposta naturalmente em oito formas distintas, cinco destas apresentam estrutura cristalina
(quartzo, tridimita, cristobalita, coesita e stishovita) e três são amorfas (sílica amorfa, opala e
lecatelierita). Ainda segundo o autor, a sílica é única em termos de diferença de solubilidade
entre seus polimorfos, de modo que a solubilidade da sílica amorfa em pH elevado (pH > 9),
varie de 60 – 80 mg/L à 0°C até 300 – 380 mg/L à 90°C. No entanto, de acordo com Yariv &
Cross (1979), mesmo as formas menos solúveis da sílica podem tornar-se mais passíveis de
dissolução que a sílica amorfa.
Fatores como ruptura na superfície do quartzo, presença de argilominerais,
partículas de solo, absorção de cátions de ferro e alumínio e ânions orgânicos por parte da
sílica amorfa, além de vários sais, podem alterar o valor da solubilidade da sílica nas
condições de equilíbrio. A temperatura também exerce papel determinante e segundo Young
& Young (2009) nenhum outro fator aumenta a solubilidade da sílica tão dramaticamente.
Portanto, a solubilidade da sílica em água disposta em suas várias formas, é influenciada por
variados fatores, sendo estes pH, presença de espécies mais reativas e temperatura. Ainda
segundo os autores, a solubilidade da sílica é afetada por cátions metálicos multivalentes e
não por monovalentes, de modo que é observado um aumento significativo na solubilidade do
quartzo em soluções ferruginosas sob condições oxidantes, tornando-o até dez vezes mais
solúvel que a sílica amorfa. Os autores afirmam ainda que íons metálicos como Al e Mn, são
determinantes para a mobilização da sílica em soluções aquosas ácidas. Além dos íons
metálicos, a presença de sais inorgânicos como a halita, também contribui para um aumento
na solubilidade da sílica, já que ao expandirem sua estrutura cristalina, desestabilizam sua
44

estrutura interna, favorecendo a dissolução. Ácidos orgânicos multipróticos (oxalato e citrato)


e multifuncionais (ácido salicílico), também elevam as taxas de dissolução do quartzo,
enquanto ácidos monofuncionais e monopróticos como o ácido acético, não o fazem, de modo
que em soluções de citrato a dissolução do quartzo é de 8 a 10 vezes maior que em água pura
e em soluções de ácidos salicílicos, oxálicos e húmicos, a solubilidade do quartzo é até 50%
maior que em água pura. Martini (2000a), concluiu que a efetividade dos ácidos orgânicos
complexados à sílica só ocorre em pH’s elevados.
Assim como tais fatores químicos, a atividade biológica também pode interferir de
forma determinante, já que esta contribui para a fragmentação física e química da rocha.
Young & Young (2009) apontam ainda que algumas algas e fungos produzem soluções
altamente concentradas em ácidos orgânicos, deste modo, o efeito cumulativo de tais reações
em pequena escala, contribui significativamente para a degradação química da rocha após
longos períodos de tempo. Além disso, os autores ressaltam a interferência de líquens na
alteração das rochas a partir de estudos em arenitos do oeste norueguês, concluindo que
enquanto vivos, as hifas da porção micobionte do líquen penetram as superfícies fragmentadas
das rochas, protegendo-as da abrasão e erosão, então, quando o líquen morre, a porção
fragmentada é erodida expondo uma nova superfície não-alterada.
Hardt (2011), considera que morfologias cársticas se desenvolvem em substrato
quartzoso principalmente por intermédio da alteração química, sendo sua gênese dominada
por processos como hidrólise, com pouca influência da dissolução. Autores como Wray
(1997) e Young & Young (1992), identificaram a partir de análises em MEV (microscópio
eletrônico de varredura), a ocorrência de dissolução na sílica e Ford & Williams (2007),
afirmam que qualquer rocha pode ser passível de sofrer dissolução, à depender das condições
ambientais a que é exposta. Segundo Kämpf et al. (2009), a hidrólise, principal reação de
decomposição dos silicatos, consiste na reação entre um mineral e os íons H+ e OH-, os íons
hidrônio por serem mais eletronegativos, substituem cátions como K, Ca, Mg e Na na
estrutura cristalina da sílica, desestabilizando-a eletronicamente e mecanicamente, enquanto
os íons OH- elevam o pH da solução, favorecendo a dissolução do silício. Sendo assim, se
houver uma percolação significativa, controlada por drenagem e pluviosidade intensas, a
eliminação dos componentes solúveis será mais efetiva e a hidrólise será total, e caso a
percolação seja pouco efetiva, a hidrólise será parcial.
De acordo com Ford & Williams (2007), a dissolução ocorre de forma
incongruente nas litologias siliciclásticas, ocorrendo sobretudo sobre o cimento da rocha, já
que sob a forma cimentante, a sílica amorfa possui mais susceptibilidade à dissolução,
45

produzindo um resíduo não dissolvido que ocupa parte do espaço vazio recém-formado.
Uagoda (2006) afirma que a alteração da sílica amorfa cimentante torna livres os grãos de
quartzo presentes nas descontinuidades, tornando-os disponíveis para a remoção mecânica,
deste modo, a dissolução ocorre mais sobre a sílica amorfa que sobre a forma cristalina.
Conclui-se, portanto, que a dissolução atua mesmo em rochas de composições
mineralógicas não-carbonáticas e resistentes à alteração química, agindo em conjunto à outros
fatores que potencializam sua ação, como presença de solos, cátions metálicos multivalentes,
sais inorgânicos, ácidos orgânicos, além de atividade microbiológica. Deste modo, em rochas
siliciclásticas de composição mais quartzosa, à exemplo de quartzitos e quartzarenitos, podem
ocorrer processos de dissolução em associação à outras reações, como a hidrólise, e à
presença de fatores que controlam sua ação, possibilitando assim, o desenvolvimento de
sistemas cársticos mesmo em litologias pouco solúveis. A atuação de tais condicionantes
atesta a importância de outros fatores que agem em conjunto à dissolução na evolução dos
sistemas cársticos, como a dinâmica hídrica subsuperficial, o regime climático, planos
tectônicos que cortam o substrato e outros parâmetros ambientais, que agindo associados,
possibilitam uma grande pluralidade de ambientes cársticos, distribuídos ao longo das zonas
climáticas do planeta e desenvolvidos em litologias diversas, reafirmando a concepção do
carste como um produto da ação conjunta de processos geoquímicos e hidrodinâmicos e não
como um elemento específico da paisagem, restrito à determinadas litologias.
O carste Lapa Santa é um exemplo típico de carste siliciclástico, já que tal
sistema cárstico foi desenvolvido em quartzitos micáceos da Formação Capelinha. O carste
Lapa Santa possui como fatores condicionantes de seu desenvolvimento a presença de cátions
metálicos como o Fe na composição mineralógica dos quartzitos, atestada pela ocorrência de
precipitações ferruginosas na cavidade, além dos inúmeros planos tectônicos que cortam o
substrato e estabelecem caminhos preferenciais à passagem de água e desenvolvimento de
processos de alteração geoquímica, sendo estes os planos de foliação dos minerais micáceos e
duas grandes famílias de fraturas que se interceptam.
46

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O presente capítulo tem por objetivo a caracterização ambiental da área de estudo,


apontando a possível influência dos parâmetros descritos sobre os processos de carstificação
atuantes na gênese Lapa Santa.

3. 1 LOCALIZAÇÃO

A região em estudo localiza-se no Alto Vale do Araçuaí, município de Felício dos


Santos, região Nordeste de Minas Gerais, borda Leste da Serra do Espinhaço Meridional,
conforme explicita a Figura 18. A rota de acesso a região é feita a partir de Diamantina
seguindo-se em direção a São Gonçalo do Rio Preto pela rodovia MG-214, por fim, o acesso
até Felício dos Santos é completado através da MG-317.
47

Figura 18 – Localização da Gruta Lapa Santa, Felício dos Santos - MG.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Segundo Knegt (2015), a região onde localiza-se a Lapa Santa, está situada no
contato entre a Bacia do rio Jequitinhonha, ou sub-bacia do Rio Araçuaí e bacia do Rio Doce,
de modo que a Serra da Pedra Menina, em conjunto com as serras do Ambrósio e Dois Irmãos
estabelecem um “quebra-forte” entre as vertentes dos rios Jequitinhonha e Doce. Assim, à
leste tem-se os formadores da bacia do rio Doce e à oeste, da bacia do rio Jequitinhonha.
A cavidade em estudo situa-se na longitude 0690574 m E, latitude 7985172 m S ,
em coordenadas UTM obtidas a partir de um GPS Garmin MAP 78S no sistema de
coordenadas SIRGAS 2000.

3.2 GEOLOGIA

A cavidade Lapa Santa situa-se no contexto geológico e estratigráfico da


Formação Capelinha, unidade cujo posicionamento estratigráfico e significância geotectônica
48

em relação ao Orógeno Araçuaí e Grupo Macaúbas ainda são amplamente discutidos,


conforme Castro (2014).
Segundo Pedrosa-Soares et al. (2007), em 900 Ma inicia-se fase rifte da Bacia
Macaúbas com a quebra do então cráton do São Francisco-Congo, esse processo é registrado
pelos diques máficos da Suíte Pedro Lessa, Machado et al. (1989), granitos anorogênicos da
Suíte Salto da Divisa com idade aproximada de 875 Ma, Silva et al. (2008) e pelos xistos
verdes basálticos do Membro Rio Preto da Formação Chapada Acauã, Gradim et al. (2005) e
Babinski et al. (2005). A fase rifte pré-glacial da Bacia Macaúbas é caracterizada por
ambientes fluviais entrelaçados à marinho-rasos e é representada pelas formações Matão,
Duas Barras e Rio Peixe Bravo. As formações Serra do Catuni, Nova Aurora e Membro
inferior da Formação Chapada do Acauã, são glaciogênicas, conforme Pedrosa-Soares et al.
(2010), Noce et al. (1997), Uhlein et al. 1998 e Martins et al. (2008). Segundo Pedrosa-
Soares et al. (2011) estas unidades representam o estágio de margem passiva da Bacia que
evoluiu sob influência glacial. Pedrosa-Soares et al. (2010) afirmam ainda que o Membro
Superior da Formação Chapada Acauã representa depósitos proximais no estágio de margem
passiva pós-glacial e a Formação Ribeirão da Folha, que possui lascas tectônicas de rochas
máficas e ultramáficas ofiolíticas, indica a formação de litosfera oceânica na porção
meridional da bacia e representa os tratos distais do estágio margem passiva pós-glacial. As
idades de 660 Ma obtidas por Queiroga et al. (2007) para os plagiogranitos no ofiolito
Ribeirão da Folha, indicam a época de geração de crosta oceânica na Bacia pré-cursora do
Orógeno Araçuaí. Pedrosa-Soares (2008) afirmam que a formação de crosta oceânica somente
em parte da bacia sugere um ambiente tipo golfo, com forma semelhante a uma ferradura,
permanecendo ligado ao norte pela ponte cratônica Bahia-Gabão. Segundo Alkmin et al.
(2007), a inversão tectônica que resultou no fechamento da Bacia e formação do Orógeno
Araçuaí Oeste-congolês é atribuída a colisões entre a península São Francisco e a placa
Paraná ou Rio de La Plata por volta de 630 Ma. Devido às idades de abertura e fechamento de
900 Ma e 630 Ma, Vilela (2010) correlaciona as unidades glaciogências da Bacia Macaúbas à
glaciação Sturtiana, relacionada aos eventos de glaciação Neoproterozoicos conhecidos como
Snowball-Earth, conforme Hoffman & Schrag (1999).
A Formação Capelinha já foi relacionada por Pedrosa-Soares (1995) e Pedrosa-
Soares (1997) ao fechamento da Bacia Macaúbas, com idade Neoproterozóica (valores
máximo e mínimo em torno de 800 e 650 Ma), tendo como fontes possíveis para os seus
sedimentos o Complexo Guanhães e os complexos gnáissico-migmatíticos orientais do
Orógeno Araçuaí. Guimarães & Grossi-Sad (1997) sugeriram a partir de análises geoquímicas
49

nos corpos anfibolíticos encaixados nos quartzitos da Formação Capelinha, que as amostras
fossem derivadas de basaltos toleíticos gerados em ambiente de espalhamento oceânico. Uma
terceira hipótese acerca do significado da Formação Capelinha foi apresentada por Pedrosa-
Soares et al. (2007), que interpretaram esta formação como o registro de sedimentação sin-
orogênica (bacia do tipo flysch; ca. 580 Ma). No entanto, segundo um estudo mais recente
realizado por Castro (2014) a deposição da Formação Capelinha se deu em um cenário do tipo
rifte, como equivalente da sedimentação distal, relacionada às formações Matão e Duas
Barras que foram depositadas em ambiente proximal. Além disso, as idades de recristalização
U/Pb inéditas de 957±14 Ma obtidas pelo autor para a Formação Capelinha, indicam que o
rifte pré-cursor da Bacia Macaúbas teve início 50 Ma de anos antes do que a literatura sugeria
até então.
Castro (2014) descreve a Formação Capelinha segundo uma unidade basal
predominantemente metapsamítica, formada por mica xistos, xistos quartzosos e quartzitos,
puros ou micáceos, com magmatismo básico associado, e por uma unidade majoritariamente
metapelítica, superior, composta por xistos peraluminosos granatíferos, às vezes com
estaurolita e/ou cianita. O autor descreve ainda a unidade inferior como alternância entre
quartzito puro e micáceo e rochas metamáficas. A Lapa Santa é constituída por quartzitos
micáceos situados na unidade inferior da Formação Capelinha, conforme representa a Figura
19.
50

Figura 19 – Mapeamento geológico da região da Lapa Santa e entorno com o


posicionamento das cavidades prospectadas em suas devidas unidades geológicas.

Fonte: IDE-SISEMA.
51

3.4 GEOMORFOLOGIA

A Lapa Santa está inserida no terço superior da Serra do Indaiá, uma das
elevações pertencentes ao contexto geomorfológico da Serra Negra. A cavidade localiza-se na
alta vertente do Córrego do Indaiá, a uma altitude de 1046 metros, na margem direita do rio
Araçuaí. A Serra Negra é uma região que possui uma multiplicidade de serras, picos, morros,
rios e córregos, sendo que o fato de haver diversos marcos geográficos gera uma variedade de
denominações. A falta de consenso entre as toponímias evidencia a complexidade
geoambiental local. Tal pluralidade também é perceptível até mesmo nas estradas locais que
mudam de cor constantemente evidenciando as variadas mudanças pedológicas, as quais
influenciam diretamente a geomorfologia regional.
O arcabouço estrutural da Serra do Espinhaço é fortemente influenciado pelo
Ciclo Brasiliano, já que este que deu origem ao Orógeno do Espinhaço conforme afirma
Knauer (1990). De acordo com Almeida Abreu et al. (1994) o padrão mais marcante da
Orogenia Brasiliana corresponde à presença de falhas de empurrão no sentido N-S e NNW-
SSE. As falhas indicam a ação de uma tectônica compressiva no sentido E-W e fazem com
que a serra seja marcada por feições herdadas de tais esforços. Segundo Knegt (2015) o
complexo Serra Negra é caracterizado por fragmentos de serras que não estão diretamente
ligadas ao restante da cadeia do Espinhaço, sendo preferencialmente orientadas sentido SE-
NW, com algumas disjunções, e formando os diversos marcos geográficos. Foram
identificados sete marcos geográficos na região da Serra Negra (FIG. 20), os quais não
possuem caráter oficial e sim regional, sendo eles: Serra do Indaiá, Serra da Bocaina, Serra da
Pedra Menina, Serra Dois Irmãos, Serra do Ambrósio, Serra da Chácara e Serra do Mundo
Velho.
No entanto, vale salientar que o contexto geomorfológico da área durante a
formação da cavidade era drasticamente diferente, já que para a ocorrência dos processos de
carstificação é necessária a ação de uma hidrologia subsuperficial anômala provida por uma
bacia de alimentação das águas, conforme discutido no capítulo inicial do presente trabalho.
52

Figura 20 – Marcos geográficos da região da Gruta Lapa Santa em Felício dos Santos -
MG.

Fonte: (Knegt, 2015, adaptado por Leão & Simões, 2019).

A Lapa Santa representada no mapa confeccionado por Knegt (2015) não é a


cavidade Lapa Santa, objeto de estudo deste trabalho, mas sim o Sítio Arqueológico Lapa
Santa, situado no terço superior da Serra da Chácara.

3.5 SOLOS

A distribuição dos solos na região do Complexo Arqueológico Serra Negra é


controlada pelos cinco fatores de formação, sendo estes material de origem (litologia), relevo,
clima, presença de organismos e tempo. Conforme observações de campo, nas regiões de
maior declividade relacionadas à rochas mais resistentes ou terrenos dobrados há a
predominância de Neossolos Litólicos e Cambissolos Háplicos, solos menos evoluídos que
53

refletem o predomínio da erosão sobre o intemperismo. Já em regiões menos elevadas e de


declive menos acentuado há a predominância de solos mais evoluídos como Latossolos,
Argissolos e Organossolos, sendo os últimos oriundos do acúmulo de água relacionado a
impermeabilização dos quartzitos. Conforme ilustra a Figura 21 os Latossolos ocorrem nas
áreas menos elevadas à sudeste e os Argissolos na porção central, principalmente na Bacia do
Rio Araçuaí (Knegt, 2015). Ainda segundo o autor, uma característica marcante dos solos
encontrados é a pobreza de nutrientes, sendo estes classificados como distróficos.

Figura 21 – Distribuição dos solos na região da Gruta Lapa Santa.

Fonte: (Knegt, 2015, adaptado por Leão & Simões, 2019).

O entorno da cavidade é predominantemente composto por solos pouco evoluídos,


sendo estes neossolos quartzarênicos oriundos da decomposição dos quartzitos.

3.6 CLIMA E HIDROGRAFIA

O clima regional é caracteristicamente mesotérmico brando (Cwb pela


classificação de Geiger-Koppen), clima típico do Planalto Meridional do Espinhaço, o qual
54

possui o fator orográfico como uma característica de grande influência, propiciando verões
brandos e úmidos com temperaturas entre 22ºC e 28ºC nos meses de outubro a abril e
invernos secos e frescos com temperaturas variando entre 10ºC e 15ºC nos meses de maio e
setembro, conforme Knegt (2015). Ainda segundo o autor, temperatura média anual varia
entre 18ºC – 19ºC e a precipitação anual, a qual ocorre principalmente nos meses de
novembro a janeiro, varia de 1250 a 1550 mm, sendo o período mais seco dos meses de maio
à setembro.
Em termos hidrográficos, a Área Arqueológica Serra Negra está inserida em duas
bacias hidrográficas: a norte e a oeste na Bacia do Rio Jequitinhonha ou sub-bacia do Araçuaí
e a sul e leste na Bacia do Rio Doce. As Bacias do Rio Jequitinhonha e do Rio Doce,
subdividem-se localmente em nove sub-bacias, sendo a Bacia do Rio Jequitinhonha
subdividida nas sub-bacias do Rio Manso, Rio Araçuaí, Rio Preto, Riberão Itanguá e Riberão
Soberbo. As outras quatro sub-bacias, as quais integram a Bacia do Rio Doce são: Rio Cocais,
Rio Mundo Velho, Rio Vermelho e Rio Barreiras (FIG. 22). Segundo Diniz et.al (1998) o Rio
Araçuaí é o principal afluente da margem direita do Rio Jequitinhonha, abrangendo uma área
de 16.343 km² e extensão de 250 km.

Figura 22 – Mapa das bacias e Sub-bacias da área da Lapa Santa em Felício dos Santos -
MG.

Fonte: (Knegt, 2015).


55

A Lapa Santa localiza-se entre a sub-bacia do Rio Araçuaí e a Bacia do Rio Doce,
mais precisamente sub-bacia do Rio Mundo Velho. As Serras da Bocaina e do Ambrósio,
áreas que apresentam as maiores altitudes da região, variando entre 1200 a 1700 metros atuam
como divisores de águas (Knegt, 2015).

3.7 VEGETAÇÃO

De acordo o Mapeamento Sistemático da Flora nativa e Reflorestamento de Minas


Gerais (SCOLFORO, 2006), a região em estudo encontra-se em uma área de transição entre
os biomas Cerrado e Mata Atlântica, contendo uma grande diversidade de fitofisionomias cuja
distribuição é controlada por fatores como altitude e litologias, conforme representa a Figura

Figura 23 – Formações vegetacionais da região da Lapa Santa e entorno.

Fonte: (Knegt, 2015, adaptado por Leão & Simões, 2019).

Na região do Complexo Arqueológico Serra Negra observa-se um ecótono, já que


os solos jovens e neossolos originados a partir da alteração dos quartzitos, proporcionam a
manutenção de tipos vegetacionais típicos do Cerrado como Campos, Campo Cerrado,
56

Cerrado strictu sensu e, sobre os afloramentos, em regiões peculiarmente escassas em


recursos, os Campos Rupestres. A floresta estacional semidecidual montana, característica da
Mata Atlântica, também está presente no entorno em vales e encostas intra-montanas. Nas
demais regiões, também ocorrem mosaicos de Cerrado e Mata Atlântica, com predomínio das
florestas estacionais semideciduais montanas recobrindo morros mamelonares na região
sudoeste em direção à sub-bacia do rio Araçuaí (Knegt, 2015).
No entorno da Lapa Santa as fitofisionomias predominantes são o Campo
Rupestre, Campo e Campo Cerrado, estas ocorrem em associação aos solos pouco evoluídos
desenvolvidos sobre os quartzitos, no entanto, a presença conjunta de solos e vegetação é
importante para a manutenção das águas e desenvolvimento dos processos de carstificação,
portanto, a atual configuração da Lapa Santa sugere diferentes condições paleoambientais no
período de formação da cavidade.

4 METODOLOGIA

O desenvolvimento deste trabalho iniciou-se a partir de uma expedição de campo


realizada em parceria com o Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem
(LAEP/UFVJM), em associação ao Projeto Arqueológico Alto Jequitinhonha (PAAJ). O
objetivo foi a realização de escavações no Sítio Arqueológico Três Fronteiras-7, bem como a
prospecção de cavidades na Área Arqueológica Serra Negra. A Área Arqueológica Serra
Negra, região onde situa-se a Lapa Santa, conta com um rico repertório cultural e importantes
registros da ocupação humana pré-colonial na região, com sessenta e cinco sítios, sendo todos
abrigos sobre rocha, apresentando extensiva presença de pinturas rupestres majoritariamente
associadas à Tradição Planalto (Fagundes, 2017).
A partir das observações de campo foram prospectadas três cavidades na região:
Lapa Santa, Duas Quedas e Sampaio, configurando-a como uma área potencialmente
estratégica para o estudo do carste. A Lapa Santa é a maior cavidade presente e que mais
preserva morfologias que registram a associação dos processos geoquímicos e
hidrodinâmicos, sendo caracterizada por grandes galerias, condutos, alvéolos, espeleotemas,
além de sedimentos externos e alterita. Assim, foram realizadas visitas de campo posteriores
com o intuito de caracterizar a cavidade e realizar sua topografia.
A etapa inicial do presente trabalho envolveu a elaboração do referencial teórico a
partir da consulta à trabalhos científicos e bibliografias acerca do tema carstificação em
57

rochas siliclásticas e áreas afins, além do levantamento informações a respeito dos elementos
físicos da área de interesse como Geologia, Geomorfologia, Vegetação, Hidrografia e Clima.
Posteriormente, a partir dos dados obtidos no primeiro trabalho de campo, foi
desenvolvido um mapa de localização. A organização do mapa foi definida na plataforma do
software QGIS, por polígonos, linhas e pontos, adotando-se o sistema de coordenadas UTM e
o datum SIRGAS 2000, de modo que os pontos coletados com GPS foram plotados no
Google Earth e depois exportados para o QGIS, gerando o shape dos pontos que demarcam a
localização das cavidades.
O segundo trabalho foi realizado tendo por objetivos o mapeamento topográfico
da cavidade e a discussão sobre sua formação. Para a realização da topografia foram utilizadas
uma bússola Suunto e uma trena manual, para a medição de azimute, declividade e distância.
Assim, foram realizados os seguintes procedimentos, conforme descreve Magalhães (1997):
1) Escolha de um par de pontos de visada, ou base topográfica, cujo conjunto
permitiu percorrer a cavidade de modo a definir o contorno mais preciso desta, englobando
todas as direções morfológicas principais.
2) Utilizando-se a bússola Sunnto foram coletados os dados de declividade e
azimute por parte do instrumentista na base inicial com auxílio do ponta de trena na base à
jusante (FIG. 24 e 25).

Figura 24 – Determinação das medidas de azimute e declividade.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).


58

Figura 25 – Auxílio do ponta de trena para a determinação de tais medidas.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

3) Registro de todas as medidas efetuadas no formulário topográfico pelo


anotador. Os dados obtidos para cada visada encontram-se na Tabela I.
59

Tabela 1 – Dados topográficos levantados segundo as visadas estabelecidas


para a Lapa Santa.

Visada Distância (m) Distância corrigida Azimute (°) Declividade (°)


(Tolerância de 1 casa
decimal)
P1-P2 16 16 290 -1,3
P2 – P3 7,8 7,8 274 -0,5
P3 – P4 14,7 14,7 151 3,0
P3 – P6 4,4 4,4 299 -8,0
P2 – P5 14 13,7 317 -12
P6 – P7 3,6 3,4 295 -19
P7 – P8 3,9 2,7 303 -46
P8 – P9 9 8,8 340 -11
P5 – P8 9,3 9,2 238 -9
P9 – P10 9 8,9 340 -8
P5 – P9 11,8 11,3 285 -16
P10-P11 8,0 7,9 352 -7
P10-P12 6,8 6,7 265 -7
P12-P13 7,3 7,3 191 -6
P13-P14 13,3 13,3 286 -5
Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

4) A partir da primeira visada foram obtidas medidas relevantes (largura esquerda,


largura direita e altura) por parte do instrumentista por meio da utilização da trena manual.
Até que a visada fosse totalmente percorrida e completamente representada pelo desenhista,
as medidas obtidas foram simultaneamente transferidas para o papel milimetrado respeitando-
se suas respectivas posições verticais e horizontais em relação à visada, bem como sua
orientação relativa, conforme demonstra a Figura 26.
60

Figura 26 – Obtenção de medidas relevantes a partir da trena manual para uma


representação precisa da cavidade por parte do desenhista.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

5) Repetição dos procedimentos nos pontos de visada seguintes, definidos


segundo a orientação do explorador, até que seja atingido o ponto de restituição da cavidade
(FIG. 27).
61

Figura 27 – Repetição dos procedimentos 2, 3 e 4 nas visadas seguintes, até que toda a
cavidade seja representada.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018)

A partir do tratamento dos dados obtidos e com o auxílio de um transferidor e de


uma régua, realizou-se confecção de um mapa topográfico da cavidade em papel milimetrado,
respeitando-se a escala e orientação adotadas. Para a representação precisa da cavidade em
seu esqueleto, os dados foram inicialmente tratados efetuando-se a correção das distâncias, já
que a confecção do esqueleto da caverna representa uma projeção em planta, e as medidas não
são necessariamente obtidas a partir de pontos de mesma altimetria, sendo assim, foi efetuada
a seguinte aproximação (FIG. 28):

Figura 28 - Triângulo retângulo representando a aproximação de um perfil longitudinal


qualquer da cavidade, sendo os pontos 7 e 8, duas bases topográficas.

Fonte: (Magalhães & Linhares, 1997).


62

Assim, a partir da aproximação acima e das relações trigonométricas básicas,


obtém-se a distância corrigida através da equação (1):

(1)
(Distância Corrigida = Distância Real * cosseno do ângulo de desnível).

A etapa seguinte consistiu na digitalização dos mapas confeccionados em campo


por meio do Corel Draw obtendo-se a planta completa da cavidade a partir da fusão das
visadas individuais em suas respectivas orientações. Para tal, os mapas referentes a cada
visada foram digitalizados através de um scanner, obtendo-se arquivos em formato JPEG. Os
mapas digitalizados foram importados à plataforma do Corel Draw devidamente ajustados ao
tamanho 210 x 297 mm e rotacionados para o máximo alinhamento. Posteriormente a imagem
foi fixada de modo a facilitar a realização dos contornos e assim, os contornos foram
sobrepostos de forma rigorosa para cada visada digitalizada respeitando os traçados originais
feitos pelo desenhista, sendo gerado então um arquivo do tipo CorelDRAW Graphics 2018,
conforme representa a Figura 29.

Figura 29 – Contorno da visada 1-2 da gruta Lapa Santa no software Corel


Draw.

Fonte: (Acervo pessoal, 2019).


63

Em seguida, toda a imagem foi rotacionada segundo a orientação do azimute


medido para a respectiva visada e por fim, após a realização dos procedimentos descritos
anteriormente para todas as visadas confeccionadas, estas foram importadas à um único
arquivo Corel Draw e unidas segundo os pontos correspondentes, obtendo-se assim, a planta
completa da cavidade (Figura 30).

Figura 30 – Fusão das visadas no Corel Draw para a geração de um mapa


topográfico posterior.

Fonte: (Acervo pessoal, 2019).

Os dados obtidos para as visadas 5-8 e 5-9 não foram condizentes com as demais
visadas obtidas para a cavidade, não sendo possível efetuar sua junção ao esboço completo.
Portanto, como a ausência de tempo hábil impossibilitou a correção de tais visadas até a data
de entrega deste trabalho, serão realizados trabalhos de campo posteriores com o intuito de
completar o mapa da cavidade e incluir o conduto representado pela visada 5-9 e a porção
representada pela visada 5-8 que conta com importantes morfologias.
Os dados de azimute obtidos para esta cavidade indicam que seu desenvolvimento
preferencial é no sentido SE-NW (270°-360°) com um desvio acentuado do eixo hídrico no
sentido NE-SW, representado pela visada 13-14 (191°). A obtenção dos dados topográficos e
a confecção do mapa da cavidade possibilitam uma discussão mais detalhada acerca de sua
64

gênese, permitindo a visualização das principais direções de progressão da frente de alteração


e da distribuição espacial das morfologias e suas possíveis conexões no sistema cárstico. O
próximo capítulo é direcionado à análise dos dados buscando interpretar as condições
envolvidas na gênese do carste Lapa Santa.
65

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a realização dos procedimentos referentes à topografia descritos na


Metodologia do presente trabalho, foram identificadas e caracterizadas morfologias cársticas
diversas, de modo que, a análise das morfologias em conjunto com o mapa confeccionado,
possibilitou uma ampla discussão acerca da evolução do ambiente cárstico Lapa Santa, bem
como dos processos dominantes em sua gênese. Sendo assim, a partir de tais procedimentos
foi possível observar as direções que foram preferenciais à progressão da frente de alteração,
os principais pontos de introdução e restituição, além de morfologias que registram a ação de
diferentes processos, sejam geoquímicos ou hidrodinâmicos, como alvéolos coalescentes,
condutos em forma de fechadura, concreções e capas ferruginosas, domos, chaminés de
equilíbrio, sifões, capturas de drenagem e drenagens subsuperficiais com direções diversas.
Por meio dos dados obtidas é possível compreender-se importantes características
acerca da forma geral e desenvolvimento da cavidade, como sua orientação em forma de “Z”
mostrada pelos dados de azimute que indicam inicialmente um desenvolvimento preferencial
na direção SE-NW (270°-360°), variando abruptamente à direção NE-SW (0-90°) na visada
12-13 e voltando posteriormente à SE-NW na visada 13-14. Tais direções coincidem com a
intersecção entre as duas grandes famílias de fraturas que cortam os quartzitos da Formação
Capelinha na localidade. Assim, a evolução da cavidade Lapa Santa, claramente controlada
pela porosidade secundária, demonstra que independente da rocha encaixante, a hidrologia
subsuperficial é um fator também preponderante para o desenvolvimento do carste.

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA CAVIDADE

Visada P1-P2: O salão de entrada onde foram estabelecidas as visadas 1 e 2 (direção SE-
NW) possui grandes dimensões, chegando à largura máxima de 19 metros, distância de 16
metros e declividadede -1,3°, conforme ilustra a Figura 31, que representa o croqui inicial da
visada.
66

Figura 31 - Mapa do salão 1 da Lapa Santa, Felício dos Santos – MG. Observa-se a
entrada e o altar em face oposta assinalados.

Fonte: Acervo pessoal.

A entrada da cavidade é aproximadamente paralela à direção da primeira visada e


está situada em sua face NE. Seu atual arranjo é resultado de modificação antrópica, já que
foram construídos nesta degraus cercados por um pequeno muro de pedras de modo a facilitar
o acesso ao primeiro salão,que é utilizado para a realização de cultos religiosos. O salão
possui um altar situado na parede oposta à entrada, a aproximados 5 m do ponto inicial da
visada, além de ornamentos religiosos espalhados pelos condutos e alvéolos (FIG. 32 e 33).
67

Figura 32 - Porções iniciais da visada 1-2. No canto direito da foto observa-se o


altar e na parede oposta sua entrada

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Figura 33 - Entrada da cavidade na parede oposta ao altar.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).


68

Nas porções do salão mais próximas ao ponto 2 observa-se também registros da ação
antrópica, de modo que a 12 m do ponto inicial ocorre um degrau de pedras aproximadamente
perpendicular à direção da visada e à sudoeste do ponto 2, próximo à bifurcação que dá
origem às visadas P2-P5, P3-P4 e P3-P6, há um fogão à lenha, conforme mostra a figura
acima. Na face nordeste da visada, seguindo-se em direção ao ponto 2 e após o muro da
entrada, há uma coluna de quartzito maciço que inicia-se à aproximadamente 7 metros do
ponto 2. A coluna é seguida por uma porção aberta à parte externa onde ocorrem depósitos
detríticos diversos compostos por grandes blocos de quartzito e sedimentos arenosos de
provável origem colúvio-aluvionar que registram a ação da dinâmica hídrica. Ocorrem na
parede anterior ao ponto 1, em toda a face sudoeste da visada e no teto, condutos suspensos e
orientados segundo a direção SE-NW, sendo estes coincidentes com as direções dos planos de
foliação e fratura do quartzito e, em sua maioria, resultado da coalescência de alvéolos.
Ocorrem também condutos em forma de fechadura cuja morfologia é produto de variações
abruptas do nível de base. No chão da cavidade, observa-se também a presença de pequenas
drenagens, todas na direção SE-NW.

Visada P2–P3: A visada 2-3 possui 7,8 metros de comprimento, direção SE-NW, e é um
importante ponto de compreensão do desenvolvimento da cavidade, já que apresenta
morfologias que auxiliam na interpretação do caminho adquirido pela água em determinado
período de sua evolução. A principal morfologia presente é um conduto suspenso próximo ao
ponto 2 que representa a queda do nível de base em direção à visada 2-5 (FIG. 34).

Figura 34 - visada 2-3. à esquerda da visada ao longo do ponto 2, ocorre um cond


uto que marca a captura de drenagens no sentido NE.

Fonte: (Acervo pessoal, 2019).


69

Marcada pela presença de uma bifurcação, a visada corresponde a uma alteração


no desenvolvimento da cavidade, visto que aponta a captura da drenagem a partir de um novo
nível de base, e redireciona a evolução da Lapa.
Na face esquerda da visada, condutos suspensos seguem a mesma orientação dos
planos de foliação e fratura da rocha (SE - NW), destacando-se a presença do conduto
suspenso à aproximadamente 4 metros de distancia do ponto 3. Assim como a bifurcação, tal
morfologia indica a captura lateral da água e constata a mudança de direção adquirida pela
frente de alteração. O estabelecimento desse novo nível de base também é observada no piso
da visada, já que existe um gradativo desnível entre os pontos 2 e 3, além da presença de
caminhos de drenagem que apresentam a direção adquirida pela água.

Visada P2-P5: A visada 2-5, de 14 metros de distância, corresponde à direção mais a NE da


bifurcação do ponto 2 (FIG. 35) que também dá origem ás visadas 3-4 e 3-6 e possui
declividade de (-12°) e azimute de 317°, referente à direção SE-NW.
70

Figura 35 - visada 2-5. à cerca de 9,5 metros do ponto 2, encontra-se representada a


passagem estreita delimitada por duas colunas de quartzito, à sudoeste da passagem,
ocorre um grande alvéolo coalescente, bem como os pequenos condutos que
encaminham-se para ele.

Fonte: (Acervo pessoal).

Nas porções iniciais, a visada chega à 11 metros de largura e possui a face


nordeste aberta à parte externa da cavidade, ocorrendo nesta depósitos detríticos, blocos de
quartzito e vegetação, dando continuidade à visada 1-2 (FIG. 36).
71

Figura 36 - Visada 2-5. Observa-se à esquerda da imagem a bifurcação que dá


origem às visadas 3-4 e 3-6-7-8, enquanto à direita, porção aberta a parte externa,
ocorrem depósitos detríticos. Observa-se também à jusante uma passagem estreita
separada por duas colunas de quartzito.

Fonte: (Acervo pessoal).

Na face sudoeste da visada ocorrem condutos suspensos de tamanhos variados


que indicam flutuações do nível de base em direção à uma nova tendência da frente de
alteração. Tais flutuações resultam em mudanças na configuração das drenagens, ocorrendo
sua migração ou captura em direções paralelas que acompanham o novo nível de base. Os
condutos mais próximos ao ponto 2, situados à aproximadamente 5,5 e 6,5 metros deste,
relacionam-se a captura de drenagens que eram inicialmente conectadas à visada 3-6. Com a
queda do nível de base em direção à NE, as drenagens foram reorganizadas e absorvidas pela
frente de alteração representada na visada 2-5, fazendo com que os condutos da visada 3-6
estejam atualmente conectados a esta. Os condutos mais à jusante encontram-se separados por
pequenas colunas de quartzito e indicam a interrupção de uma coalescência também causada
pela captura de drenagens. Tais condutos seguem em direção à um grande alvéolo coascelente
situado à aproximadamente 10 metros do ponto 2. Seguindo-se à jusante, à 9,5 metros do
ponto 2, ocorre uma passagem que chega à aproximadamente 2 metros de largura em sua
porção mais estreita, delimitada por duas colunas de quartzito e contendo um pequeno degrau
de pedras aproximadamente perpendicular à direção da visada, conforme representa a figura
acima. O grande alvéolo coalescente encontra-se à sudoeste da passagem, separado desta por
72

uma das colunas de quartzito. Após a passagem, à 3 metros do ponto 5, na face nordeste,
aberta à parte externa, ocorrem depósitos detríticos diversos como areia e seixos que formam
depósitos com aspecto de talus e envolvem porções aflorantes do quartzito, além de solo com
vegetação nas porções mais elevadas, enquanto a face sudoeste dá origem à visada (P5-P8),
que representa uma mudança abrupta da direção de crescimento da frente de alteração para a
direção NE-SW, à 1 metro do ponto 5.

Visada P3-P4: A visada em questão possui 14,7 metros de comprimento, direção SE-NW e
uma inclinação suave de 3º (FIG. 37).

- Figura 37 - conduto paralelo à galeria de entrada representado pela visada 3-4.

Fonte: (Acervo pessoal, 2019).

O salão apresenta domos de teto que indicam o preenchimento total por água ou
material enchearcado. O preenchimento existente antes do estabelecimento da restituição ou
em condições de dinâmica hídrica pouco efetiva promoveu pressão sobre o teto do substrato
rochoso originando as formas de teto.
73

A face esquerda do salão é marcada por condutos suspensos, desenvolvidos na


direção SE-NW, referente a direção inicial de desenvolvimento da cavidade. O salão possui
continuidade na visada P3-P6 (direção SE-NW) e constata esse sentido inicial de
desenvolvimento. Já a face nordeste da visada, possui condutos desenvolvidos na direção da
visada 1-2 (visada paralela), decorrente do estabelecimento de um novo nível de base, que
marca uma mudança de tendência da frente de alteração.

Visadas P3-P6, P6-P7, P7-P8: As visadas P3-P6, P6-P7, P7-P8, são continuidade do
desenvolvimento do salão P3-P4 com 10,5 metros de comprimento e uma largura máxima 5
metros. As visadas apresentam diversas características do processo de dissolução da rocha,
como concentrações pontuais de ferro, dissolução lateral do substrato, desplacamentos,
alvéolos coalescentes.
O salão possui um conduto central principal, localizado exatamente sobre o ponto
6, conduto que possui uma chaminé de equilíbrio a 3 metros do ponto 6 indicando o
preenchimento total local por alterita saturada em água exercendo pressão sobre o substrato na
busca do estabelecimento de um fluxo hídrico. Os 3 codutos paralelos visualizados na visada
6-7 mostram a mudança no sentido da frente de alteração que também aproveita a porosidade
secundaria da rocha e definem uma mudança do nível de base e direcionando os rumos da
carstificação.
Os condutos possuem restituição no ponto 8 da visada, área de significava
importância no desenvolvimento da cavidade, já que é responsável pela captura de diversos
fluxo de drenagem (FIG. 38).
74

Figura 38 - representação em planta da visada 3-6-7-8. tal visada representa drenagens


que encaminham-se em um desnível no ponto 8.

Fonte: (Acervo pessoal, 2019).

Visada P5-P8: A visada P5-P8, de distância 9,3 metros entre os dois pontos, azimute 238° e
declividade -9°, possui direção NE-SW e representa uma mudança abrupta na direção da
frente de alteração, dando à cavidade uma forma geral em Z. Nas porções iniciais da face à
sudeste da visada, à aproximadamente 4 metros do ponto inicial, ocorre um grande alvéolo
coalescente, mais arredondado na base, em decorrência da ação de processos de dissolução
ocorridos no contato entre rocha e alterita, ou rocha e solo. O alvéolo é cortado no topo por
diversos condutos de direção SE-NW, descritos na visada P2-P5 e que chegam a até 2 metros
de largura (FIG. 39 e 40). Já a face oposta, situada à noroeste da visada, é cortada quase
perpendicularmente por um conduto de cerca de 2 metros de largura, com uma drenagem
proeminente, que segue em direção à NW, a 2 metros do ponto inicial. Seguindo-se à jusante,
à aproximados 4,5 metros do ponto 5, ocorre uma passagem estreita, de 1,5 metros de largura,
contendo degraus rochosos perpendiculares à visada e condutos suspensos em suas duas faces,
75

os da face sudeste, seguem a partir dos alvéolos coalescentes em uma direção


aproximadamente paralela à visada 5-8. Os condutos da face noroeste são perpendiculares à
direção da visada, possuindo também direção SE-NW e separam-se por pequenas colunas de
quartzito. À 1,5 metros do ponto 8, ocorre uma nova mudança na direção da dinâmica hídrica,
com a evolução da frente de alteração voltando ao sentido SE-NW a partir da visada P8-P9.

Figura 39 - Condutos que encaminham-se ao alvéolo coalescente representado na visada


5-8.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).


76

Figura 40 - Imagem da visada 5-8 capturada a partir do ponto 8. Nota-se na imagem o


degrau representado na visada bem como os depósitos detríticos na porção aberta à
parte externa.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Visada P5-P9: Corresponde ao conduto da face noroeste às porções iniciais da visada 5-8,
situado na face oposta à do alvéolo coalescente. Possui cerca de 4 metros de largura na
entrada e alarga-se na saída, à 8 metros de P5, chegando ao ponto da visada 5-6. No entanto, o
teto é mais estreito que o contorno da cavidade, chegando à apenas 1,5 metros de largura à 7,5
metros do ponto inicial. Todo o conduto encontra-se preenchido por depósitos detríticos,
como blocos de quartzito, sedimentos e também alterita.

Visadas 8-9 e 9-10: Representam um extenso salão com 17,7 metros de comprimento,
chegando até 10 metros de largura, com orientação no sentido SE-NW, e declividade de -11º.

Em todo percurso do salão ocorre o acúmulo de material inconsolidado, contendo


depósitos de clastos que indicam a ação do fluxo hídrico. Outra característica marcante é a
presença de algumas estruturas de dissolução como capas ferruginosas, anéis de liesegang e
77

alvéolos coalescentes que contribuem para o desenvolvimento de canais. Ocorrem taambém


morfologias arredondadas nas faces laterais das visadas, resultantes da dissolução no contato
lateral entre alterita e substrato rochoso.

Visada P10-P11: Representa o desdobramento mais à NE das drenagens que bifurcam-se no


ponto 10 e possui azimute 352° e declividade -7°. Toda a visada possui os contornos do teto
mais estreitos que os contornos basais e representa uma região de estagnação da frente de
alteração, encontrando-se preenchida por areia quartzítica e alterita. Tal estagnação é
relacionadada a um desvio do eixo hídrico representado pelo conduto 12-13 e relacionado à
queda do nível de base em direção à NE-SW, à esquerda da visadas 10-11 e 10-12. A queda
do nível de base segundo a referida direção representa a busca de caminhos preferenciais à
evolução da frente de alteração e é também indicada pelo desaparecimento das drenagens à
direita do ponto 10. No entanto, é provável que algumas das drenagens restituíram-se
posteriormente na galeria de saída da cavidade.

Visada P10-P12: A visada 10-12 possui azimute 265° e declividade -7° e também apresenta
direção SE-NW, representando o desdobramento mais à SW das drenagens que dividem-se
nas proximidades do ponto 10. Em todo o trajeto da visada ocorre a presença de alterita e
depósitos detríticos diversos, como seixos e blocos de quartzito, estes formam cristas de
sedimentos na margem direita da drenagem 10-12 definindo seu traçado, além disso, a crista
de sedimentos divide a drenagem 10-12 das demais drenagens representadas na visada 10-11.
Ao longo de toda a visada, o teto da cavidade é mais estreito que seu contorno basal,
chegando à aproximadamente 1,8 metros de largura à 3 metros do ponto 10. O contorno basal
é mais alargado à sudoeste da visada por estar em contato direto com os sedimentos e alterita,
o que promove a ação mais intensa de processos geoquímicos devido à retenção de água
nestes materiais, mais porosos que a rocha matriz. Nas proximidades do ponto 12, o contorno
basal coincide gradativamente com o teto até coincidirem totalmente no fim da visada, onde
sua direção muda mais uma vez, dando origem a um estreito conduto NE-SW que liga o ponto
12 ao salão de saída da cavidade, representado na visada 12-13. A figura abaixo representa as
visadas 10-11 e 10-12 (Figura 41).
78

Figura 41 - Visadas 10-11 e 10-12. A visada 10-11 representa a progressão da frente de


alteração em uma direção contrária à restituição, enquanto a visada 10-12 conecta-se ao
conduto de acesso à galeria de saída.

Fonte: (Acervo pessoal, 2019).

Visada P12-P13: A visada 12-13 com distância de 7,3 metros, azimute 191° e declividade -
6°, representa o estreito conduto de acesso à galeria de restituição da cavidade e representa
uma variação abrupta na direção de progressão da frente de alteração. O conduto encontra-se
parcialmente preenchido por sedimentos e chega à apenas 80 centímetros de largura em suas
porções mais estreitas e 50 centímetros de altura na maior parte de sua extensão, conforme
representa a Figura 42.
79

Figura 42 - Conduto estreito de acesso à galeria de saída representado na visada 12-13.

Fonte: (Acervo pessoal, 2019).

Visada 13-14: A visada 13-14 de distância 13,3 metros, azimute 286° e declividade -5°,
retoma a direção SE-NW e consiste na galeria de restituição da cavidade, conforme
representam as Figuras 42 e 43. Ocorre a presença de uma chaminé de equilíbrio e diversos
condutos suspensos na direção SE-NW, morfologias discutidas mais adiante no presente
trabalho. As drenagens confluentes seguem em direção à restituição com o Córrego Indaiá,
promovendo a junção hidrodinâmica que caracteriza o sistema cárstico ativo.
80

Figura 43 - Galeria de restituição da cavidade representada pela visada 13-14.

Fonte: (Acervo pessoal, 2019).

Figura 44 - Restituição da cavidade no ponto 14 em direção ao nível de base do Córrego


do Indaiá.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Após a realização dos procedimentos e junção das visadas foi elaborado o mapa
da cavidade, representado na figura 45.
81

Figura 45 - Mapa em planta da cavidade Lapa Santa.

. Fonte: (Arquivo pessoal, 2019).


82

5.2 GÊNESE DA CARSTIFICAÇÃO

A partir dos procedimentos realizados, foi possível discutir-se a dinâmica


evolutiva da cavidade e os principais processos atuantes em sua gênese, elencando-se
morfologias referentes à diferentes fases do processo de carstificação e que registram a
atuação de processos geoquímicos ou de uma dinâmica hídrica competente.
Conforme discutido no primeiro capítulo do trabalho, estudos mais recentes
acerca da carstologia destacam cada vez mais o papel fundamental da hidrologia para o
desenvolvimento de ambientes cársticos, seja na alteração geoquímica dos minerais ou na
remoção dos materiais alterados e abertura dos espaços necessários ao estabelecimento da
drenagem cárstica. Ford & Williams (2007) observam a grande significância da porosidade
secundária ao desenvolvimento de sistemas cársticos, concluindo que a carstificação só é
possibilitada por uma hidrologia subsuperficial anômala impulsionada pelo ciclo hidrológico,
e autores como Quinif (2014) reafirmam a necessidade de uma hidrodinâmica agressiva capaz
de remover materiais solúveis e insolúveis e impedir o preenchimento dos espaços vazios
necessários ao estabelecimento da junção hidrodinâmica entre carste de introdução e
restituição. Portanto, a partir de uma análise do contexto geomorfológico em que a Lapa Santa
está inserida, conclui-se que a efêmera morfologia atual distancia-se significativamente da
configuração morfológica pretérita de formação da cavidade. Tal hipótese é corroborada pelo
fato de a Lapa Santa possuir grandes condutos, galerias e formas bem desenvolvidas e, no
entanto, situar-se atualmente na alta vertente do Córrego do Indaiá, não contando com uma
bacia de alimentação das águas capaz de promover o estabelecimento de uma introdução
concentrada, com alteração química da rocha ao longo dos eixos tectônicos e posterior
remoção hídrica do material alterado.
A partir da identificação e análise de morfologias associadas a processos
geoquímicos e hidrodinâmicos, foi desenvolvida a proposta de evolução da cavidade
conforme o modelo proposto por Rodet (2014), discutido no capítulo inicial do presente
trabalho e representado pela figura 46
83

Figura 46 – Etapas da evolução de um ambiente cárstico desde a preparação da rocha


até a carstificação.

Fonte: (Rodet, 2015).

5.2.1 MORFOLOGIAS ASSOCIADAS À PROCESSOS GEOQUÍMICOS

Anéis de Liesegang: De acordo com Silva (1989) os anéis de Liesegang são sistemas
heterogêneos não-lineares que envolvem a formação de padrões a partir da precipitação
descontínua do produto de uma reação química, tais sistemas envolvem somente reações
químicas e transporte via difusão. Conforme Rodet (2014) estas morfologias relacionam-se à
fase de pré-carste e indicam o início ocorrência de uma alteração concentrada no substrato a
partir da redistribuição do Fe. O Fe passa por processos de oxi-redução e origina as bandas,
ou anéis de Liesegang. Tais morfologias ocorrem na Lapa Santa como a representada na
figura 47.
84

Figura 47 - Anéis de Liesegang na gruta Lapa Santa em Felício dos Santos – MG. Tais
feições indicam o início de uma alteração concentrada no substrato a partir da
redistribuição do ferro.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Alvéolos: Morfologias arredondadas oriundas da dissolução do substrato e formadas no


estágio de primocarste, os alvéolos ocorrem ao longo de toda a cavidade, sobretudo nas
visadas 1-2, 3-6, 2-5, 5-8 e 13-14. A gênese de tais morfologias está associada à entrada de
água no interior do substrato promovendo sua dissolução interna por meio de planos de
fraqueza, como fraturas e foliações. A alteração química pode então avançar até a superfície,
fazendo com que tais feições quando exumadas exponham a superfície alterada, indicando
com seu volume o sentido da alteração para o interior da rocha. A maioria dos alvéolos
presentes na cavidade desenvolve-se ao longo de planos de fraqueza do substrato, tanto pelos
planos de foliação micácea do quartzito quanto pelas principais direções de fratura (FIG. 48).
85

Figura 48 - Alvéolo presente na Lapa Santa desenvolvido a partir dos planos de foliação
do quartzito.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Ocorre com frequência na cavidade a formação de condutos a partir da


coalescência de alvéolos que desenvolvem-se ao longo dos planos de fraqueza do substrato
(foliações e fraturas), e em alguns casos, os alvéolos registram variações do nível de base e
capturas de drenagem. Um importante exemplo é o conduto suspenso presente à esquerda da
visada 2-3, logo adiante do ponto 2, que é oriundo da coalescência de alvéolos e possui sua
superfície interna escavada em direção à NE, indicando capturas de drenagem nessa direção
(FIG. 49). Tais capturas representam a reorganização das drenagens adequando-se a
flutuações do nível de base, este descia cada vez mais em busca do estabelecimento da
restituição a partir de frentes preferenciais à NE da visada 2-3. A frente representada pela
visada 1-2 foi a direção preferencial ao avanço da frente de alteração e a partir da queda do
nível de base em direção à NE, absorveu a drenagem que corria ao longo do conduto suspenso
conforme evidenciado pela forma de sua superfície interna.
86

Figura 49 - Conduto situado na visada 2-3 evidenciado captura de drenagens no sentido


NE, em direção à visada 1-2. No canto esquerdo da imagem observa-se o forno
representado na visada 1-2.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

O conduto representado pela visada 3-4, de azimute 151°, é paralelo à galeria de


entrada e representa uma frente de alteração de sentido contrário à tendência geral de
desenvolvimento da cavidade, provavelmente relacionada à um antigo nível de base. O
avanço da frente de alteração no sentido SE-NW em busca da restituição promoveu o
estabelecimento das galerias representadas nas visadas 3-6-7-8 e posteriormente, com a queda
contínua do nível de base em direção à uma direção preferencial, as drenagens foram
capturadas à NE pelas galerias paralelas representadas pelas visadas 1-2-5, conforme
representa o conduto da Figura 50. O resultado foi o desenvolvimento de duas frentes de
alteração paralelas, sendo aquela representada pelas visadas 1-2-5 a mais rebaixada
atualmente.
87

Figura 50 - Conduto representando uma captura de drenagem seguindo a nova


configuração do nível de base, ou seja, incisão das drenagens à direita do conduto.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Ocorrem também na visada 2-5, condutos suspensos originalmente formados pela


coalescência de alvéolos ao longo da frente de alteração representada pela visada 3-6. Os
condutos representam o piso inicial da cavidade e, posteriormente, com a mudança do nível
de base houve a incisão vertical da drenagem, sendo esta capturada à NE, pela frente de
alteração da visada 2-5.
Nas visadas 1-2, 2-5 e 8-9, condutos suspensos também originados pela
coalescência de alvéolos ocorrem separados por pequenas colunas de quartzito, formas
residuais que representam uma interrupção da coalescência devido à queda abrupta do nível
de base. Esta interrupção deixou tais feições impressas na paisagem após a erosão de seu
preenchimento pela dinâmica hídrica (FIG. 51 e 52).
88

Figura 51 - Condutos separados por colunas quartzíticas residuais indicando seu


desenvolvimento por coalescência.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Figura 52 - Formas coalescentes observadas ao longo da visada 2-5. Os condutos


encaminham-se à jusante para o alvéolo coalescente representado na visada 5-8.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Ao longo da visada 5-8 ocorre um grande alvéolo coalescente a esquerda do ponto


5, à aproximadamente 3 metros deste. Vários condutos menores representados na visada 2-5
encaminham-se a ele e sua formação está relacionada a queda do nível de base em direção à
89

SW. O conduto representado pela visada 5-9 ocorre quase paralelamente ao alvéolo
coalescente em seu lado oposto, indicando que a configuração pretérita da dinâmica hídrica
conectava os pequenos condutos da visada 2-5 ao conduto de acesso ao ponto 9. A queda do
nível de base e o desvio hídrico na direção perpendicular modificaram a direção da frente de
alteração e ocasionaram a incisão da drenagem neste sentido. Assim, a partir da nova
configuração da drenagem e do contato lateral da área onde ocorre atualmente o alvéolo com
a alterita, sua alteração química foi potencializada originando formas arredondadas.
Sucessivos rebaixamentos do nível de base em direção ao ponto 8 incrementaram a
profundidade da alteração lateral e, por fim, com o estabelecimento da dinâmica hídrica o
material alterado foi erodido e expôs o alvéolo coalescente.

Alteração ao longo de planos preferenciais: Observa-se um desplacamento da rocha ao


longo de seus planos de foliação relacionado à alteração preferencial ao longo destes. Os
fragmentos desplacados encontram-se fortemente alterados, apresentando forma enrugada e
arqueada (FIG. 53), evidenciando que o desplacamento é causado pela intensa alteração
geoquímica ao longo dos planos de foliação e que esse intemperismo característico é um dos
fatores que favorecem a ocorrência de carstificação nos quartzitos da Lapa Santa.

Figura 53 - Alteração preferencial ao longo dos planos de foliação dos quartzitos


promovendo desplacamento.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).


90

Capas ferruginosas/manganesíferas: A formação de precipitações ferro-manganesíferas em


ambientes cársticos está ligada à percolação de fluidos no substrato, desta forma, elementos
reduzidos, como o ferro, podem ser transportados sob condições de excesso hídrico. Quando a
água evapora ou atinge superfícies intransponíveis, os elementos reduzidos mobilizados por
ela a partir do interior da rocha são oxidados e precipitam-se, originando capas resistentes que
retém a umidade no interior do substrato e potencializam sua alteração. A presença de tais
morfologias em rochas siliciclásticas evidencia a ocorrência de dissolução e remobilização de
elementos (FIG. 54 e 55).

Figura 54 - Capas mineralizadas ao longo da parede da cavidade à esquerda da visada 3-


4. Nota-se na base o arredondamento das formas em contato com o material
inconsolidado.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).


91

Figura 55 - Capa mineralizada em detalhe. Devido à retenção de água, a alteração do


substrato é intensificada abaixo das capas.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Conforme discutido no primeiro capítulo do trabalho, Young & Young (2009)


elencam fatores que potencializam a dissolução da sílica, dentre eles íons metálicos como
ferro e manganês, sais inorgânicos e ácidos orgânicos. A presença de ferro na cavidade é
indicada pelas formas precipitadas como a representada na Figura 56 e age como um dos
fatores condicionantes da alteração do substrato e desenvolvimento da carstificação na Lapa
Santa.
92

Figura 56 - Precipitação de óxidos de ferro e manganês ao longo das paredes da Lapa


Santa.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Condutos: Conforme Rodet (2014) durante as etapas de preparação do substrato para a


geração do dreno cárstico, ou primocarste, a alteração geoquímica dos minerais origina a
isoalterita, que envolve apenas perda química com preservação do volume original da rocha.
Em seguida, quando atingido o limite de ruptura mecânica, ocorre a quebra do complexo de
alteração e perda de volume, originando a aloalterita. A formação de aloalterita faz então com
que espaços vazios sejam gerados e permite a introdução concentrada de água e entrada de
elementos exógenos. Por fim, a partir do estabelecimento da drenagem de restituição e por
meio de uma dinâmica hídrica agressiva (singenética), o material alterado é removido
originando condutos. Na Lapa Santa o sentido preferencial da dinâmica hídrica é SE-NW, que
é também a orientação mais comum dos condutos presentes na cavidade (FIG. 57).
93

Figura 57 - Nota-se no teto do salão de entrada da cavidade, diversas formas


coalescentes que encaminham-se na direção da visada, ou SE-NW, direção preferencial
ao desenvolvimento da cavidade.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

A presença de condutos em forma de fechadura reflete mudanças abruptas do


nível de base durante a dinâmica singenética. Conforme Halliday & Resnick (2009) em
Mecânica dos Fluidos, segundo a equação da continuidade hidráulica, quanto menor a área da
secção transversal, maior será a velocidade do fluxo que por ela passa. Em um sistema
cárstico, quando ocorre uma queda abruta do nível de base durante a dinâmica singenética,
ocorre uma incisão do fluxo em busca do novo nível, fazendo com que a área de secção
transversal percorrida seja cada vez menor. Tal processo leva à um incremento no potencial
erosivo da drenagem cárstica e a continuidade da incisão leva à formação das formas em
fechadura (FIG. 58).
94

Figura 58 - Conduto em forma de fechadura estreitando-se em direção à base.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

5.2.2 ELEMENTOS HIDRODINÂMICA

Clastos: No interior da cavidade, ao longo de grandes condutos, em toda a face NE das


visadas 1-2 e 2-5 e principalmente ao longo das visadas 8-9, 9-10 e 10-12, ocorrem clastos de
diversos tamanhos dispostos em diferentes formas indicando a ação da dinâmica hídrica. Nas
porções abertas à área externa da cavidade ao longo das visadas 1-2-5, blocos e seixos de
quartzito de diversos tamanhos encontram-se dispostos sob a forma de leques indicando a
entrada de material efetuada por uma hidrodinâmica ativa (FIG. 59 e 60).
95

Figura 59 - Depósitos detríticos em forma de leque ao longo da porção aberta à parte


externa da visada 2-5 evidenciando a ação de uma intensa dinâmica hídrica.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Figura 60 - Depósitos em forma de leque ao longo da face nordeste da visada 2-5.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).


96

Ao longo das visadas 8-9-10 e ao longo do conduto representado pela visada 5-9
ocorrem clastos rolados de diversos tamanhos indicando uma dinâmica hídrica intensa em
direção à NE (FIG. 61).

Figura 61 - Clastos movimentados na visada 8-9-10.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Nas visadas 10-11 e 10-12 ocorrem clastos e material alterado (FIG. 62) e quanto
aos materiais finos dispostos ao longo destas e de outras galerias, não há ainda consenso se
tratam-se de sedimentos ou alteritas. Porém, o mesmo material foi observado em regiões de
dinâmica hídrica intensa em outras grutas quartzíticas avaliadas, à exemplo da gruta Monte
Cristo. Nesta gruta o material ocorre nas proximidades de um coletor, o que corrobora com a
hipótese de que o material é proveniente da alteração da rocha in situ, ou seja, alterita.
97

Figura 62 - Visada 10-12 com materiais finos e traçado da drenagem indicando a


mudança na direção do eixo hídrico representada pelo conduto 12-13. Observam-se
formas mais arredondadas ao longo contato com o material.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

No ponto 10 ocorre um desvio das drenagens que seguem a partir do ponto 8, uma
delas segue à esquerda na visada 10-12 e as outras seguem à direita na visada 10-11. Na
visada 10-11 as drenagens intermitentes à direita seguem na direção oposta ao desvio
hidráulico representado pelo conduto 12-13 até desaparecer, portanto, supõe-se que estas
sejam recuperadas na galeria de restituição da cavidade (FIG. 63). O desaparecimento das
drenagens representa a estagnação da frente de alteração àdireita do ponto 10, ocasionada pela
queda do nível de base em direção à visada 12-13 que buscou uma nova direção preferencial
até a restituição. A estagnação também é representada pelas formas arredondadas da visada
10-11, que, em geral, possui o teto mais estreito que a base evidenciando o contato basal com
o material alterado não removido pela dinâmica hídrica. Posteriormente, as drenagens à
direita também estabeleceram caminhos ao longo do substrato sendo recuperadas na galeria
de saída da cavidade.
98

Figura 63 - Galeria de restituição da cavidade. Observa-se lateralmente a presença de


condutos que indicam a recuperação de drenagens no ponto de restituição.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

Sifões e chaminés de equilíbrio: Os sifões relacionam-se à impossibilidade da água de


escoar à jusante em uma galeria, sobretudo em situações onde a restituição ainda encontra-se
pouco desenvolvida ou sequer foi estabelecida. Então, estando a galeria totalmente preenchida
por água ou material alterado encharcado, a pressão da água sobre o oxigênio no teto da
cavidade promove sua dissolução gradativa ocasionando a formação de domos ou chaminés
de equilíbrio, que são indícios da ocorrência de um sifão. Posteriormente, após o
estabelecimento de um dreno ativo na galeria, ocorre à jusante uma passagem estreita que
promove a saída da água em alta velocidade e gera morfologias relacionadas à hidrodinâmica,
enquanto à montante, a galeria permanece preenchida por água ou materiais encharcados
originando chaminés de equilíbrio. Tais morfologias encontram-se presentes nas visadas 3-4 e
13-14 (FIG. 64) e evidenciam uma mudança na direção da frente de alteração antes do
estabelecimento da restituição ou em condições de restituição pouco desenvolvida. Após a
mudança do eixo hídrico e com a impossibilidade do fluxo à jusante, as galerias
permaneceram preenchidas por água ou material encharcado, sendo originadas formas em
domo à montante a partir da dissolução gradativa do teto promovida pela pressão da água
contra o oxigênio. Posteriormente, com o estabelecimento da restituição no Córrego Indaiá e
99

ação de uma dinâmica hídrica competente, o material foi removido expondo as formas de teto
características.

Figura 64 - Domo de teto originado pela pressão da água ou material contra o teto da
cavidade promovendo sua dissolução gradativa.

Fonte: (Acervo pessoal, 2018).

A partir dos dados obtidos e das análises realizadas, observou-se que o


desenvolvimento do carste Lapa Santa foi iniciado a partir da entrada das águas no substrato
por meio de seus planos preferenciais, sendo estes fraturas e foliações. Assim, a água
promoveu alteração química ao longo de tais direções durante a fase de pré-carste, formando
inicialmente um núcleo de alteração que evoluiu paraa isoalterita, ocorrendo a difusão lateral
da frente de alteração a partir da percolação de fluidos em zonas porosas. Em seguida, ocorreu
a compactação da isoalterita e formação da aloalterita, ocorrendo perda volumétrica e entrada
de elementos externos e posteriormente, com o estabelecimento da restituição e ação de uma
dinâmica hídrica competente, o material alterado foi gradualmente removido expondo as
formas cársticas. A formação da Lapa Santa se deu a partir da coalescência de alvéolos que
desenvolveram-se por meio da entrada de água nos planos de fraqueza dos quartzitos, assim,
após a remoção hídrica, os alvéolos coalescentes deram origem a condutos e galerias, sendo
ainda hoje observados extensivamente ao longo de tais morfologias. A presença de foliações e
duas direções principais de fraturas favoreceu tanto a alteração química quanto a coalescência
das formas, agindo como fator crucial ao desenvolvimento da carstificação na área. Por fim,
100

apesar do desenvolvimento preferencial na direção SE-NW, observa-se que a gruta não tem
uma organização definida em função do desenvolvimento alveolonar.
101

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foram identificados na cavidade tanto elementos indicadores de alteração química


como alvéolos, capas ferruginosas/manganesíferas, anéis de Liesegang, alterita, alteração ao
longo de planos preferenciais e espeleotemas, quanto indicadores da ação da dinâmica hídrica
como clastos movimentados, drenagens, sedimentos, sifões e chaminés de equilíbrio.
Portanto, a ocorrência de processos geoquímicos associada à dinâmica hídrica é observada na
cavidade quartzítica Lapa Santa e atesta sua gênese na carstificação. Tais observações
corroboram com as recentes mudanças conceituais na carstologia que compreendem o carste a
partir de processos e estendem sua abrangência a quaisquer litologias.
A análise dos elementos geoquímicos e hidrodinâmicos e a confecção do mapa
topográfico permitiram uma ampla discussão sobre a gênese do carste Lapa Santa, auxiliando
na visualização das direções preferenciais de desenvolvimento e na compreensão acerca da
organização de sua dinâmica hídrica.
A partir das observações compreendeu-se a Lapa Santa como uma cavidade sem
organização definida, o que é atestado pela presença extensiva de formas coalescentes, no
entanto, a alteração é preferencial ao longo dos planos de foliação dos quartzitos e das
principais famílias de fraturas, observando-se um sentido preferencial de progressão da frente
de alteração em SE-NW. Ocorrem mudanças no eixo hídrico que dão à cavidade uma forma
geral em Z, sendo evidenciadas pela presença de chaminés de equilíbrio. Tais morfologias
indicam a busca da frente de alteração por saídas preferenciais e são referentes a um período
onde salões encontravam-se totalmente preenchidos por água ou material encharcado antes do
estabelecimento da restituição ou sob condições de restituição pouco desenvolvida.
A presença de estruturas relacionadas à remobilização dos componentes do
substrato como espeleotemas e precipitações ferruginosas são importantes indicativos da
ocorrência de processos geoquímicos e a ocorrência de Fe e Mn indica que tais elementos
atuaram de modo a intensificar a propensão da sílica à dissolução, conforme Young & Young
(2009).
Os alvéolos ocorrem extensivamente e em formas variadas, sempre aproveitando a
presença de planos de fraqueza do substrato. Tais estruturas demarcam a entrada de água no
substrato, esta promove trocas geoquímicas e o altera internamente e, por fim, com o avanço
da alteração em direção à superfície, a porção alterada é exumada e as formas podem ser
expostas pela ação da dinâmica hídrica. É comum a formação de grandes alvéolos bem como
102

de condutos por meio da coalescência de alvéolos menores. As formas coalescentes


encontram-se muitas vezes separadas por pequenas estruturas quartzíticas residuais, indicando
queda do nível de base e interrupção da coalescência. A presença de condutos em forma de
fechadura também evidencia queda do nível de base e incisão da drenagem em direção à
restituição.
A presença de clastos movimentados e sedimentos é também expressiva e indica
intensa dinâmica hídrica no interior da cavidade. Ocorrem grandes blocos de quartzito e
sedimentos intercalados sob a forma de leque, além de clastos movimentados de diversos
tamanhos associados às drenagens.
A maior parte dos condutos e galerias possui grande quantidade de material
inconsolidado na granulometria areia, sobretudo as porções mais à jusante da introdução. No
entanto, a natureza do material presente em algumas visadas ainda é inconclusiva, propondo-
se a hipótese o material seja alterita devido a sua semelhança com o mesmo elemento
observado em outras cavidades quartzíticas avaliadas. Formas arredondadas nas laterais
também são comuns e relativas ao contato entre rocha e alterita que potencializa a retenção de
água e consequentemente a alteração química.
A partir dos elementos e morfologias analisados e do dreno cárstico ainda
existente que encaminha-se para a restituição no nível de base do Córrego do Indaiá, pode-se
definir a Lapa Santa como um sistema cárstico ativo de junção hidrológica estabelecida por
suas drenagens intermitentes.
Por fim, conforme já discutido, a ocorrência de processos geoquímicos e
hidrodinâmicos atesta a gênese da gruta Lapa Santa na carstificação, confirmando a
ocorrência de tais processos em litologias não-carbonáticas. Fatores como presença de Fe,
ácidos orgânicos, sedimentos e presença de planos de fraqueza como fraturas e foliações
atuaram de modo a potencializar a dissolução da sílica e assim, a água introduzida no
substrato a partir de seus planos de fraqueza promoveu trocas geoquímicas e estabeleceu
caminhos preferenciais ao avanço da frente de alteração. Após a introdução concentrada e
formação de isoalerita e aloalterita nas etapas do primocarste, foi estabelecida a junção
hidrológica com a restituição marcando o início do funcionamento de um sistema cárstico
ativo. Assim, a cavidade esteve inicialmente preenchida por material e dominada pela
dinâmica hídrica paragenética, conforme demonstram as formas de teto observadas e
posteriormente, com transição para uma dinâmica hídrica intensa e de elevado potencial
erosivo, ou dinâmica singenética, as partículas sólidas foram removidas dando origem às
formas cársticas atuais.
103

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1992.

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