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Sumário

Nota do Autor................................................................................................................................ 2
O apóstolo Paulo e seu chamado, obras e legado. ....................................................................... 3
Epafras e seu chamado, as obras e o legado .............................................................................. 14
Gunnar Vingren e Daniel Berg, o chamado, as obras e o legado ................................................ 20
Bibliografia .................................................................................................................................. 30

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Nota do Autor

A paz do Senhor Jesus,

As vésperas do ano em que comemoraremos os cento e dez anos da


Assembleia de Deus no Brasil, decidi apresentar em conferência uma
proposta voltada á um assunto tão atual e importante quanto naqueles
dias em que o Espírito Santo impulsionou os missionários suecos á virem
ao Brasil, falando sobre missão evangelística.

Porém, não me achei confortável, para abordar este assunto sem iniciá-lo
pelos ministérios de outros grandes e também importantes missionários
que os antecederam, atingindo o mesmo êxito nos dias em que se
dedicaram á pregar o evangelho do Reino. Estou falando de Paulo e
Epafras, homens que ariscaram ás próprias vidas em prol do evangelho e
que suas histórias contextuarão todo esse material que lhes apresento
agora.

Impulsionado pelo Espírito Santo e com temor ao meu Senhor e Salvador,


iniciei um breve estudo que culminou com esse material.

Que esse material venha somente á acrescentar aos vossos ministérios em


edificação, conhecimento e fortalecimento no que se refere á cumprir o
Ide do Senhor Jesus Cristo.

“Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que


cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou
mal.” (2Co. 5:10)

Pb. Aparecido da Silva Batista.

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O apóstolo Paulo e seu chamado, obras e legado.

Quando se fala em missão, seja ela qual for, é necessário falar do apóstolo
Paulo, o apóstolo dos gentios como ele mesmo se designava. (Rm 11:13;
1Tm 2:7; 2Tm 1:11)

Quem foi esse homem que se atreveu por duas vezes, pelo menos,
durante seu ministério, se colocar como exemplo no que se refere a ser
cristão? “Sede meus imitadores como também eu sou de Cristo.”

(1Co 11:1; Fl 3:17)

Paulo concentrou a pregação do evangelho em cinco grandes províncias


romanas, são elas: Galácia, Cilícia, Macedônia, Acaia e Àsia.

O apóstolo Paulo nasceu por volta do ano cinco dC, filho de pais judeus
que moravam na cidade de Tarso na província da Cilícia, hoje região onde
esta a atual Turquia. Tarso foi uma cidade universitária com cerca de
quinhentos mil habitantes, naquela época, isso em um período em que a
população estimada no mundo era de cento e cinquenta milhões de
habitantes.

Seu nome hebreu é Saul, que traduzido para o grego, idioma comercial e o
mais falado na época, tornou-se algo como Saulo mais seu nome romano
era Paulo, já que possuía dupla cidadania herdada possivelmente se seu
avô, pois esta era a forma que o grande conquistador romano Pompeu,
anos mais cedo, achou para recompensar os esforços de alguns dentre os
nativos dos povos conquistados, que colaboravam com a instituição do
governo romano de maneira pacífica.

O nome Paulo é uma derivação do sobrenome Latino Paulus ou Paullus,


muito usado pelos romanos naquela época e que curiosamente significa
“pequeno e humilde” o que justifica o fato de ter sido adotado pelo
apóstolo após sua conversão.

Pois bem, Pompeu concedia títulos de cidadão romano, esse título


conferia alguns benefícios aos indivíduos por ele contemplados como
serem julgados exclusivamente por autoridades romanas, não serem

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açoitados ou envergonhados em público e não serem mortos por
crucificação, entre outros.

Por pertencer a uma família abastada, Paulo teve o privilégio de ser


enviado ainda muito jovem para estudar em Jerusalém, aos pés, ou sob as
orientações de um respeitado expoente das tradições judaicas, chamado
Gamaliel, neto do grande rabino Hillel que no período do segundo templo
contendia com o seu colega, rabino Shammai em mínimos detalhes da lei
mosaica.

O jovem Saulo se destacava entre os colegas no aprendizado e zelo pelas


coisas de Deus.

Podemos encontrar estes registros em duas de suas defesas pelo menos.


(At 26; Gl 1)

Saulo também fez voto de nazireado ou nazireato, foi nazireu por algum
tempo, encontramos pelo menos três passagens que indicam isto.

(At 18:18; 21:23-26; Rm 14:21)

Dessa forma, Paulo muito cedo já era um severo e respeitado membro do


farisaísmo, (seita dos fariseus) porque tanto guardava com zelo a lei como
se consagrava ao serviço de Deus com amor, disciplina e temor.

É no cenário do apedrejamento do diácono Estêvão, primeiro mártir da


igreja, que nos é apresentado o ainda jovem Saulo de Tarso, nessa feita
ele consente na morte por apedrejamento de um cristão cheio de fé e do
Espírito Santo. (At 7:58)

Por esses dias, logo após a morte de Estêvão, Saulo pediu ao sumo
sacerdote, cartas que lhe conferiam autoridade para que durante uma
viagem a Damasco, capital da Síria, uma região onde crescia rapidamente
e em números expressivos, aquela seita chamada até então de caminho,
arrastar homens e mulheres até mesmo de seus lares, para prisões no
intuito acabar com esta seita que viria a se tornar a igreja.

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O chamado de Paulo.

Entretanto, no capítulo nove do livro de atos dos apóstolos, está relatado


que quando Paulo se aproximava de Damasco, que distava de Jerusalém
aproximadamente duzentos quilômetros, ele é envolvido por um clarão
que o joga ao chão e ouve uma voz que o chama pelo nome e se
apresenta como aquele quem é perseguido por ele (Paulo). Em
consequência disso ele perde a visão, se rende e segue as instruções
dadas pelo Senhor Jesus. (ano provável 33-36 dC. Imp. Tibério e Gov.
Pôncio Pilatos)

Segundo a tradição cristã, esse registro (At. 9:4) ocorreu no dia 25 de


Janeiro, fato que justifica os jesuítas da ordem Beneditina que
acompanhavam os bandeirantes, terem dado á cidade e depois ao estado,
o nome do apóstolo, quando depois de escalarem a serra do mar
chegaram em 1553 ao planalto de Piratininga, hoje pátio do colégio nesta
mesma data.

Paulo chega a Damasco guiado por outros, aqueles mesmos que o


acompanhavam e não puderam ver, porém ouviram a voz que falou com
Paulo, após três dias de jejum e orações, Deus lhe concede uma visão de
um homem chamado Ananias que vai orar por ele.

No mesmo instante o Senhor, em visão, ordena á Ananias, seu servo, que


vá orar pelo jovem que é para Ele um vaso escolhido.

Ananias vai á rua direita, em casa de certo Judas, ora e o batiza, na mesma
hora caem de seus olhos umas escamas e ele tornou a ver. (At 9:10-19)

Algum tempo depois Paulo vai á Arábia, provavelmente ao monte Sinai,


região onde permanece por algum tempo, depois retorna para Damasco,
mas corre risco de perder a vida, então alguns irmãos o descem num cesto
durante a noite pelas muralhas da cidade para que ele volte a Jerusalém
após três anos, agora como cristão. (At 9:25; 2Co 11:33; Gl 1:18)

Paulo passou agora da condição de perseguidor para á de perseguido,


porém seus outrora perseguidos não acreditam que ele agora havia sido
transformado pelo poder de Deus.

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Paulo está em Jerusalém e lá permanece por quinze dias, fala com Pedro e
Tiago antes de voltar para Tarso, sua cidade natal onde permanece por
longo período de tempo. É nesse período que podemos concluir,
amparados pela cronologia bíblica, que Paulo foi arrebatado ao terceiro
céu, fato que descreveu como uma experiência vivida na segunda carta
dos coríntios. (2Co 12:1-9)

Paulo permaneceu em Tarso até que Barnabé foi busca-lo para que o
acompanhasse até Antioquia da Síria, onde pela primeira vez, após um
ano de ensino, os irmãos foram chamados de cristãos. (At 11:26)

Naqueles dias foram profetas de Jerusalém para Antioquia e entre eles um


chamado Ágapo, este profetizou grande fome na Judéia, sendo assim os
discípulos resolveram enviar donativos para socorrer os irmãos e o fizeram
por meio de Barnabé e Paulo.

Havendo concluído a tarefa, Barnabé e Paulo retornaram para Antioquia


levando consigo outro jovem, este chamavam de João Marcos e era primo
de Barnabé. (Cl 4:10)

Já em Antioquia, alguns profetas e doutores que jejuavam e serviam ao


Senhor, receberam do Espírito Santo á orientação de separarem á
Barnabé e Paulo para o ministério evangelístico. Jejuaram, oraram e
impondo-lhes as mãos e os despediram.

Conforme registrado no livro de Atos (At 13:4) inicia-se á primeira viagem


missionária de Paulo e Barnabé, acompanhados pelo jovem evangelista
João Marcos. (ano provável 47-48 Imp. Claudio e Gov. Herodes Agripa)

O itinerário dessa viagem foi á seguinte: saindo de Antioquia da Síria


chegaram primeiro á Selêucia ainda na Síria, depois partiram para á ilha do
Chipre onde passaram por Salamina e Pafos, depois navegaram para á
região da Panfília, onde visitaram Perge. Depois seguiram para á Galácia
onde pregaram as Boas Novas em Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e
Derbe, de onde resolveram iniciar o retorno que se deu passando por
algumas das cidades por onde tinha passado durante sua ida, porém
visitaram também á Atália que ficava vizinha a Perge antes de navegarem
de volta á Antioquia da Síria.

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Um fato que não pode ser omitido aqui, é que durante essa primeira
viagem houve a desistência de Marcos em seguir com o grupo quando
estavam em Perge da Panfília, o motivo não é certo, mas sabemos que ele
retornou para Jerusalém.

Quando Paulo e Barnabé decidem tornar á visitar as cidades que já tinham


anunciado a palavra de Deus, acontece uma discordância por conta de
Barnabé insistir em levar novamente João marcos consigo e Paulo não
concordar. Diante da contenda resolveram se separar e cada um saiu para
uma região, porém com o mesmo objetivo de cumprir o ide do Senhor,
pregar o evangelho á toda criatura e até os confins da terra.

No capítulo quinze e versículo quarenta (At 15:40), inicia-se á segunda


viagem missionária, mas desta vez os companheiros do apóstolo Paulo são
Silas, Timóteo e Lucas, os dois últimos se reunirão á eles nos primeiros
dias da viagem. (ano provável 49-50 Imp. Claudio e Gov. Agripa)

O itinerário da segunda viagem foi primeiro á região da Cilícia, depois as


cidades de Derbe e Litra na Galácia e daí pretendiam ir á Ásia, mas foram
impedidos pelo Espírito Santo e tiveram que tomar á direção da Míssia.

Nesse ponto da viagem a bíblia nos informa que o Espírito de “Jesus” não
lhes permitiu ir para á Bitínia, assim tiveram que prosseguir até Trôade e
foi nesta cidade que Paulo teve outra visão, um homem da Macedônia lhe
rogava que passasse por aquela cidade e os socorresse. (At. 16:7)

Paulo e sua caravana missionária concluíram que o Senhor os chamava


para aquela região, então passando pela Samotrácia chegaram á província
da Macedônia passando por Neápolis, Filipos, Anfípolis, Tessalônica e
Bereia, todas na Macedônia, pregando o evangelho e plantando igrejas.

Paulo partiu para Atenas na região da Acaia, mas deixou Silas e Timóteo
em Bereia, ao que parece resistindo aos judeus agitadores de Tessalônica
que foram até Bereia tentar impedir o crescimento do Reino.

Na província da Acaia, o apóstolo plantou igrejas em Atenas, Corinto e


Cencreia, foi quando iniciou seu retorno passando por Éfeso na Ásia
menor, onde plantou a igreja e deixou Lídia e seu esposo Áquila dando
assistência aos irmãos. Lídia era uma vendedora de púrpura natural de
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Tiatira que se converteu durante a pregação de Paulo na cidade de Filipos,
fazendo dela uma das primeiras convertidas, senão á primeira, da região
que hoje é a Europa.

Saindo de Éfeso Paulo navegou de volta á Palestina e desembarcou na


Cesareia marítima de onde seguiu para Jerusalém, após saudar os irmãos
retornou para Antioquia da Síria, concluindo a segunda viagem. (At 18:22)

Passados alguns dias o apóstolo Paulo iniciou sua terceira viagem


missionária, segundo a cronologia bíblica mais aceita, esta viagem teve
início no ano cinquenta e dois depois de Cristo.

(ano provável 51-52 dC. Imp. Claudio e Gov. Agripa)

Dessa vez Paulo passou primeiro na Galácia e depois conseguiu atingir a


província da Ásia com maior eficiência, chegando á Éfeso onde
permaneceu por tempo de dois anos. (At 19:10-12)

Nesta passagem somos informados de um fato extraordinário no qual


somos confrontados em se tratando de missões, trata-se de todos na Ásia,
tanto gregos como judeus, terem ouvido á palavra do Senhor Jesus. Isto
mostra claramente á excelência da pregação de Paulo, porque é o Espírito
que convence, mas somos nós quem deve expor o evangelho. O próprio
texto também enfatiza que Deus através de Paulo fazia maravilhas
extraordinárias, isso de certa forma deve nos incomodar a descobrir qual
o nível de intimidade que temos com Deus na busca por uma resposta
para os sucessivos fracassos em nossas missões.

De Éfeso após longo período, o apóstolo partiu para á Grécia,


provavelmente Corinto, onde demorou três meses e quando pretendia
embarcar para á Síria houve uma conspiração contra ele por parte dos
judeus, então decidiu voltar pela Macedônia e Ásia.

Passou por Filipos e depois Trôade onde pregou até a meia noite e um
jovem chamado Êutico, que dormia durante a pregação caiu do terceiro
andar e morreu, mas Paulo se inclinou sobre ele que recobrou os sentidos,
com o jovem recuperado Paulo ainda pregou até o amanhecer. (At 20:9)

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Saindo de Trôade, o apóstolo passou por Assôs, Mitilene, Quios, Samos,
Mileto e Cós ainda na província da Ásia. Depois foi á Rodes, Pátara na Lícia
de onde embarcou para á Síria desembarcando em Tiro, depois passou
por Ptolemaida, ainda na Síria, chegando até Cesareia na Palestina onde
morava o diácono Filipe que os recebeu em sua casa.

Foi na casa do diácono Filipe que chegou, vindo da Judéia, o profeta


Ágapo alguns dias depois e profetizou que Paulo seria preso em
Jerusalém. Quando os irmãos ouviram a profecia, rogaram que Paulo não
fosse para lá, porém ele respondeu que estava pronto, não só a ser preso,
mas a morrer pelo nome do Senhor Jesus. (At 21:10-13)

No dia seguinte a chegada em Jerusalém, Paulo e os discípulos se


reuniram com Tiago, irmão do Senhor, e os presbíteros. Nessa reunião
ficou acertado que Paulo deveria participar da cerimônia de purificação,
pagando as despesas dele e de mais quatro homens que voluntariamente
fizeram voto, para que os acusadores de que Paulo pregava á apostasia
dos ensinamentos de Moisés fossem desacreditados. Porém antes de se
findarem os sete dias exigidos para a purificação, alguns judeus vindos da
província da Ásia, ao verem Paulo no templo, causaram alvoroço e
prenderam-no sob á acusação de pregar contra á lei, contra os judeus,
contra o templo e profanar o templo ao introduzir gentios em ambiente
sagrado. (At 21:27-28) (ano provável 57-58 dC. Imp. Nero e Gov. Félix)

Depois de apresentar sua defesa sem sucesso, o apóstolo Paulo é


informado por seu sobrinho, que existe uma conspiração por parte de
quarenta homens para tirarem sua vida. Munido dessa informação, Paulo
pede que levem seu sobrinho ao comandante e este ouvindo o rapaz,
adotou uma estratégia militar com o apoio de mais de duzentos homens
que saíram depois das vinte e uma horas, para levarem Paulo á Cesareia
em segurança e o apresentarem ao governador Félix. (At 23:12-24)

Cinco dias após a chegada de Paulo em Cesareia, chegaram também o


sumo sacerdote Ananias, alguns anciões e entre eles um orador chamado
Tértulo que logo ao ser recebido pelo governador Félix, fez uso da palavra
com muita eloquência, apresentando as acusações dos judeus contra o
apóstolo. Quando Paulo recebeu autorização para falar, usou a mesma

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técnica do orador Tértulo e começou tecendo elogios ao governador pelo
desempenho como juiz em seus muitos anos no governo daquela região.

Dois anos mais tarde, quando Felix seria sucedido por Pórcio Festo, o
apóstolo ainda era mantido preso, pois Félix esperava receber vantagens
financeiras, por isso sempre conversava com ele. (At 24:27)

Três dias depois de Festo ter assumido o governo da Judéia, foi á


Jerusalém e por lá permaneceu por oito ou dez dias, tempo suficiente para
ouvir as acusações dos judeus contra Paulo e uma petição para que
enviasse Paulo novamente para Jerusalém, porém secretamente queriam
mata-lo. Festo decidiu que retornaria para Cesareia e com ele levaria uma
comitiva de judeus habilitados para novamente apresentarem acusações
contra Paulo.

Chegando á Cesareia os judeus faziam novamente muitas acusações, mas


Paulo sabendo que o governador pretendia parecer bom aos judeus
apelou para Cesar, prerrogativa que lhe era conferida pela lei, devido á
sua dupla cidadania. Assim sendo, ficou decidido que Paulo seria enviado
á Roma para ser julgado por Cesar. (At 25:1-27)

(ano provável 59-60 Imp. Nero e gov. Festo)

Antes de Paulo efetivamente ser enviado para Roma, o rei Agripa II e sua
irmã Berenice fizeram uma visita á Cesareia e ouvindo de Festo sobre o
apóstolo, pediu para ouvi-lo também, no que foi atendido logo no dia
seguinte.

Diante do rei Agripa II, Paulo teve mais uma oportunidade para apresentar
sua defesa, o que fez com toda a destreza e excelência, tanto que o
próprio rei se declarou prestes á entregar sua vida á Jesus.

Foi também durante essa defesa do apóstolo que pela segunda vez na
bíblia foi citado o nome “cristão”. (At 26:28) Ao final de mais essa defesa,
tanto o rei Agripa II, quanto sua irmã Berenice e Festo, não encontraram
qualquer motivo em sua conduta que lhe desabonasse ou fosse passível
de prisão ou mesmo morte. (At 26:30-31)

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No capitulo vinte e sete de Atos (27) começa a viagem de Paulo á Roma
para ser julgado pelo imperador. Paulo estava acompanhado de pelo
menos dois de seus colaboradores, Lucas e Aristarco.

Júlio, o centurião do Batalhão Imperial á qual Paulo e outros presos foram


entregues, parece ter se afeiçoado por Paulo tendo em vista que logo no
início da viagem, permitiu que Paulo, quando estavam em Sidom,
desembarcasse e fosse obter assistência de alguns irmãos para a viagem.
(At 27:3)

A viagem prosseguiu com muitos contra tempos e perigos, até que


durante á décima quarta noite, o navio foi empurrado por um forte vento
e após uma noite inteira de grande turbulência, o navio se despedaçou,
mas todos conseguiram chegar com vida, á nado na praia da ilha de Malta.

Os nativos os trataram muito bem e acenderam uma fogueira para que os


náufragos pudessem se aquecer do frio, nesse momento Paulo ajuntou e
atirou alguns gravetos na fogueira quando foi mordido por uma víbora. Os
nativos vendo á víbora disseram: esse verdadeiramente é um assassino,
pois se salvando de um naufrágio a justiça não o deixa viver. Porém
sacudindo a mão a cobra caiu no fogo e Paulo não sofreu qualquer dano.

Um dos principais da ilha de Malta, chamado Públio, que morava perto de


onde estavam lhe recebeu em sua casa por três dias e Paulo soube que
seu pai estava enfermo, então Paulo foi visita-lo e orou por ele impondo-
lhe as mãos foi curado. Os outros nativos vendo isso também os
trouxeram mais enfermos e todos foram curados pelo poder de Deus
através de Paulo. (At 28:7-10)

Três meses depois os duzentos e setenta e seis passageiros embarcaram


em outro navio vindo de Alexandria com destino á Roma e como Paulo
havia profetizado, nem uma baixa existiu, porque Deus era com ele.

Chegando á Roma, Paulo recebeu permissão para morar por sua conta,
mas tinha em sua companhia um soldado que o guardava todo o tempo.

Três dias depois o apóstolo já reuniu os principais judeus e iniciou mais


uma tentativa de defesa, porém os judeus não haviam recebido qualquer
informação a respeito de Paulo. Então Paulo marcou uma data e
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aproveitou o grande número de ouvintes para expor o evangelho e
declarar que as Boas Novas de Salvação haviam alcançado os gentios.

(At 28:23-29)

Durante dois anos o apóstolo permaneceu preso em Roma e mesmo


estando preso, segundo a teologia mais aceita, escreveu as cartas
chamadas da prisão, Efésios, Filipenses, Colossenses e filemon. Também
no capítulo vinte e oito Lucas termina o seu relato referente ao apóstolo
Paulo, talvez por se tratar de o apóstolo ter chego á Roma e isso ser
considerado por Lucas que o evangelho chegou até os confins da terra,
tendo em vista que Roma nessa época era sim, a capital do mundo e tudo
quanto acontecia na capital do Império fatalmente era do conhecimento
do mundo.

Á partir daqui, entraremos em um período da vida do apóstolo Paulo que


não é abrangido pelo livro de atos dos apóstolos, porém podemos contar
com o auxílio de informações, evidências ou indícios contidas nas
chamadas cartas pastorais, Tito e primeira e segunda cartas á Timóteo.

De posse da informação de que Paulo permaneceu preso em Roma por


pelo menos dois anos e que escreveu as cartas, pelo menos Tito e primeira
á Timóteo, em liberdade, podemos traçar uma possível rota adotada pelo
apóstolo após sua saída de Roma.

Podemos concluir que Paulo visitou Éfeso e foi para á Macedônia após ser
posto em liberdade á partir de uma evidência encontrada na primeira
carta á Timóteo capítulo um e versículo três. Lá está relatado que o
apóstolo deixou Timóteo em Éfeso para impedir que falsos mestres
ensinassem outra doutrina. (1Tm 1:3)

Paulo também visitou Creta onde deixou Tito e depois foi para Nicópolis.
(Tt 1:5; 3:12)

Depois podemos concluir que Paulo chegou á Trôade onde foi preso
novamente, sendo levado novamente á Roma. (2Tm 4:13-15)

É possível identificarmos por essa passagem, inclusive quem foi o delator


de Paulo na cidade de Trôade, pois além de Paulo ter deixado sua capa,

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que nesse tempo era essencial para todos os viajantes como o apóstolo,
também deixou os pergaminhos e os livros, itens dos quais evidentemente
eram muito uteis para ele. No versículo seguinte Paulo faz menção á
Alexandre, um latoeiro, que lhe tinha causado muitos males.

Assim sendo, sabemos através da segunda carta que Paulo escreveu á


Timóteo, á carta mais melancólica e deprimente do apóstolo, que afirma
ter combatido o bom combate e encerrado a carreira, também foi sua
ultima escrita.

É evidente pelo conteúdo da carta que o apóstolo estava sem qualquer


perspectiva de escapar com vida desta, que se revelou ser á mais severa,
prisão. (2Tm 4:6-7)

Podemos também concluir que Paulo foi abandonado por todos aqueles
por quem tantas vezes arriscou a própria vida. (2Tm 1:15; 4:11)

De acordo com a tradição cristã, Paulo foi decapitado em Roma durante o


reinado do imperador Nero em 66 ou 67 dC.

Nessas ultimas cartas, pastorais, fica muito clara á real preocupação do


apóstolo Paulo. Ele mesmo preparado para ser morto em pouco tempo,
ainda demonstra claramente á preocupação com que as igrejas ensinem
aos fieis, como apresentar á graça de Deus, como se manifesta em nossas
vidas e como se manifestará também nas vidas de todos aqueles que se
deixarem ser alcançados por ela.

A história dá testemunho do legado deixado por esse homem, que como


muitos de nós, iniciou sua vida do lado errado da fé, porém não pode
resistir ao forte chamado na graça do Senhor Jesus Cristo e não se
acovardou, pelo contrário deixou a marca de seu ministério gravada como
exemplo de bom serviço prestado ao Reino de Deus.

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2Tm 4:7)

A missão é impossível! Sem a presença do Espírito Santo.

Idai? Vamos cumprir o ide.

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Epafras e seu chamado, as obras e o legado

Ainda no propósito de falar sobre missões, acredito ser importante


apresentar-lhes ao menos um dos resultados produzidos através do
legado deixado pelo apóstolo Paulo.

Elegi um personagem pouco abordado em nossos sermões e ensinos,


porém um servo de Deus muito útil para o crescimento do Reino nos
primeiros séculos da igreja, sobretudo na região da Ásia menor onde
estava inserida á cidade de Colossos, como esse fruto ou resultado a ser
apresentado.

Estou me referindo á Epafras, pretendo tornar conhecidos seu chamado,


obra e legado.

O perfil desse obreiro valoroso é no mínimo surpreendente e inspirador,


tendo em vista nos depararmos com um personagem detentor de uma
personalidade ímpar, por se tratar de um ser com capacidade de mesclar
várias virtudes paradoxais em um mesmo indivíduo.

Epafras era capaz de se mostrar decidido e corajoso, mas humilde e


discreto, zeloso e ousado, porém de uma empatia tão extraordinária que
o levava á plantear, quando orando se derramava intercedendo pela
igreja. Chegou a arriscar á própria vida numa expedição quase suicida, no
intuito de reunir argumentos para defender as almas, que se achavam sob
seus cuidados, dos ataques intensos e ininterruptos vindos dos falsos
mestres.

Estou falando de um verdadeiro guardião da sã doutrina e da fé cristã


daqueles dias na igreja que estava em Colossos, igreja que estava sob seus
cuidados.

Sobre esse obreiro quero corroborar da opinião de um teólogo britânico,


membro da igreja metodista chamado Adam Clark, que viveu até o início
do século dezenove e concluiu serem Epafras, citado na carta do apóstolo
Paulo aos Colossenses, e Epafrodito, citado na carta aos Filipenses, se
tratarem da mesma pessoa.

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Para tanto é necessário que apresente algumas evidências, bíblicas,
históricas e geográficas que darão sustentação á essa afirmativa.

EVIDÊNCIAS:

a) A primeira evidência que pode ser apresentada é o fato de a cidade


de Filipos estar situada ás margens da via Egnátia (Egnácia). A via
Egnátia, foi uma das mais importantes estradas do Império romano
na antiguidade, tanto na Macedônia como na Trácia, pois serviu
como rodovia militar e comercial. Foi construída entre 146 e 120 aC.
Seu nome foi adotado em homenagem ao homem que determinou
sua construção, o prócônsul Gaius Egnátios. Era essencialmente á
continuação da via Ápia que saía de Roma atravessava o mar
Adriático e chegava até á Apolônia onde fazia junção com a via
Egnátia na província da Macedônia.
b) A segunda evidência de serem os dois uma mesma pessoa é o fato
de que as cartas foram escritas no mesmo período, dessa forma o
apóstolo Paulo não deixaria de citar para um o outro público que
além de Epafrodito que estava enfermo, havia ali também um
Epafras que na viagem de retorno á sua terra natal passaria por
Filipos, já que era o caminho mais evidente.
c) Outra evidência bastante contundente se deve ao próprio apóstolo
Paulo dizer em sua carta aos Filipenses (Fl 2:19) que enviaria
Timóteo para lhe trazer notícias dos irmãos, isso deixa claro que
Epafrodito, o próprio mensageiro (Fl 2:28-29), não era esperado em
Roma tão cedo.
d) Ainda outra, se deve ao fato de Paulo recomendar Epafrodito aos
Filipenses, (Fl 2:29) tendo em vista que ninguém recomenda á um
grupo seu próprio integrante.
e) O fato de sabermos que o nome de Demas na verdade se refere ao
mesmo Demétrio e que, trata-se de um diminutivo, também
contribui como argumento favorável a essa ideia, pois nada impede
de Epafras ser apenas um diminutivo de Epafrodito.

Sendo assim o nome Epafras seria usado para os colossenses e Filemon (Cl
4:12; Fm 1:23), um cristão de posses que vivia em Colossos, como um

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nome menos formal e Epafrodito para os filipenses como nome formal,
por se tratar de um visitante e não de residente.

A geografia bíblica, a história e os próprios textos bíblicos aqui citados,


dão conta de serem, esses obreiros á mesma pessoa, fato que só
enriquece ainda mais o ministério desse obreiro extraordinário.

O chamado de Epafras:

Epafras converteu-se provavelmente em Éfeso quando Paulo passou dois


anos (At 19:10) pregando o evangelho, que floresceu a se propagou
alcançando todas as cidades vizinhas. (Cl 1:6) (ano provável 51-52)

Seu ministério:

Dali Epafras retornou para Colossos onde começou exercer seu ministério
plantando a igreja naquele local (Cl 1:7), já que não há registro de que
Paulo esteve ali em nenhum momento e temos sim, registro deque Paulo
nunca esteve sequer em Laodiceia. (Cl. 2:1) (provavelmente no ano 53-54)

Colossos era uma cidade gentílica que contava com uma população
bastante miscigenada, aproximadamente dez mil judeus residiam ali. Esta
miscigenação deve muito á participação ativa na história de um general
Grego herdeiro da dinastia helênica chamado, Antíoco III, que afixou lá
cerca de dois mil judeus, trazidos da Mesopotâmia e da Babilônia no ano
duzentos aC.

Quase dez anos depois do início da igreja em Colossos, á comunidade


encontra-se em grande sofrimento, por causa dos ataques constantes
vindos da parte de falsos mestres que pregavam uma mistura sincrética
muito perigosa, que feria á fé dos irmãos e causava muita confusão entre
os crentes.

Por serem ensinos confusos que reuniam misticismo, ocultismo, filosofias,


astrológicas, judaísmo e gnosticismo, entre outros, portanto eram ensinos
muito complexos. Por isso Epafras decidiu recorrer ao auxílio de seu
mentor, no intuito de se preparar melhor para combater e resistir á esses
falsos mestres na defesa da igreja. (Cl. 2:8)

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Vamos partir do pressuposto, de serem Epafrodito e Epafras á mesma
pessoa.

Possivelmente enquanto se dirigia ao encontro de Paulo que estava em


prisão domiciliar na cidade de Roma, Epafras ao passar pela região de
Filipos deve ter recorrido aos irmãos da igreja local, para arrecadar
donativos em favor do apóstolo, já que nessa época Felipos era uma
cidade muito próspera por contar com favores romanos e por ser colônia
romana, isso por que nela residiam muitos generais e oficiais
aposentados. Além disso, Felipos tinha histórico de colaboração á obra de
Deus desde quando o ajudaram em Tessalônica. (Fl 4:16)

Epafras, após reunir doações em Felipos partiu para Roma onde esteve
enfermo e a beira da morte (Fl 2:27), provavelmente em decorrência da
exposição á tantos perigos e intempéries climáticas de uma viagem tão
longa e difícil. De Colossos á Roma ele percorreu aproximadamente dois
mil e duzentos quilômetros. (ano provável 62-63 dC.)

O legado deixado por Epafras:

Esse obreiro, pastor missionário, possuía algumas características que


muito podem nos ser uteis, quando se trata de missões em nossos dias.

Quero tomar á liberdade de apresenta-las nesta oportunidade, que foi


possível reunir tantos interessados em crescerem na graça e no
conhecimento, para aplicarem no grande ministério que é o crescimento
do Reino de Deus na terra, a partir do Ide do Senhor Jesus.

1) Zelo, quando o obreiro identificou uma ameaça á pontos


doutrinários que sustenta á igreja, procurou corrigir com urgência.
Epafras não foi omisso, não procurou se adaptar á novas doutrinas
ou esperou inerte por uma intervenção divina. (Cl. 2:16-19)
2) Humildade, quando o obreiro se deparou com ensinos dos quais
não detinha conhecimento, decidiu acertadamente buscar ajuda.
Epafras reconheceu que precisava se reciclar, aprender, reunir mais
informações e conhecimento para melhor servir na igreja que
estava sob seus cuidados. (Fl. 2:30)

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3) Companheirismo, esse cooperador percebeu que ninguém foi
chamado para servir sozinho na obra de Deus. Ele estava
preocupado em ser útil aos irmãos mesmo que disso dependesse
sua própria vida.
Epafras foi útil para a igreja de Colossos, para áigreja de Filipos, para
Onésimo, Paulo e Filemom, apenas ao colocar a necessidade da
igreja em primeiro lugar. (Fm. 23)

4) Confiabilidade, esse missionário mostrou-se ser de caráter


irrepreensível aos olhos dos demais. Ele recebeu a incumbência de
transportar as ofertas de Filipos até Roma onde entregou para o
apóstolo Paulo.
Epafraz tinha bom testemunho entre os irmãos, ninguém entrega
recursos á estranhos ou indivíduos de caráter duvidoso. (Fl. 2:25-26)

5) Envolvimento, Epafras era dedicado a ponto de se dispor a realizar


uma viagem tão longa e perigosa, colocando em risco sua saúde e
liberdade. (Fm. 23)

6) Ousadia, o obreiro foi ousado até as últimas consequências no que


diz respeito á proteger as almas sob seus cuidados. Epafras corria
risco de morte, pois estava resistindo contra todo tipo de seita que
não respeitava qualquer tipo de código de ética ou se sujeitava a
autoridade eclesiástica alguma. O próprio Paulo enfatizou sua
ousadia. (Fl. 2:30)

7) Intercessor, esse obreiro era um guerreiro de oração, intercedia em


favor das almas á ele confiadas. (Cl. 4:12)

8) Semeador, o missionário fiel e convicto de sua fé precisa semear á


palavra por onde passar. Epafras provavelmente também plantou as
igrejas em Laodiceia e Hierápolis. (Cl. 4:13)

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Conhecemos Epafras, um obreiro que entendeu e praticou os ensinos que
recebeu. Esses ensinos continuam disponíveis até hoje, graças á Deus que
capacitou homens como esse que colocava a obra em primeiro lugar, e
podem ser encontrados na Palavra de Deus, sim na Bíblia Sagrada.

Resta-nos buscar esse conhecimento e pratica-los para que á exemplo


desse missionário também nós, deixemos um legado digno de um
verdadeiro cristão e para naquele dia não nos apresentarmos diante de
Jesus de mãos vazias por falta de obras. (2Co. 5:10)

A missão é impossível sem a presença do Espírito Santo de Deus, mas Ele


está sempre pronto, á fortalecer aqueles que o buscam em espírito e
verdade. “mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em
meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de todo o
que eu vos tenho dito.” (Jo. 14:26; ARC)

“Tenho por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra
a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo.”(Fl. 1:6; ARC)

A missão é impossível! Sem a presença do Espírito Santo.

Idai? Vamos cumprir o Ide do Senhor.

19
Gunnar Vingren e Daniel Berg, o chamado, as obras e o legado

Gunnar Vingren, nasceu em Östra Husby na Suécia em 08/09/1879.

Daniel Berg nasceu em Vargön também na Suécia em 19/04/1884.

Ambos nasceram em berço cristão, Gunnar era filho de um professor de


escola dominical na igreja batista, ofício que também exerceu alguns anos
depois, não na mesma congregação, obviamente.

Daniel era filho de membros da igreja luterana, seu pai era operário de
uma siderúrgica, profissão na qual veio trabalhar também anos depois.

No ano de 1906, começava se popularizar em Los Angeles nos Estados


Unidos, na rua Azuza, número 312, para ser mais exato, numa igreja
pastoreada por um certo pastor William Joseph Seymour, um afro
descendente americano de família pobre, o movimento pentecostal.

Esse afloramento se espalhou rápido por diversas cidades e entre elas


estava Chicago onde mais tarde, em 1909 o Senhor haveria de preparar o
encontro e o chamado dos dois missionários suecos para a maior missão
de suas vidas.

Nesse mesmo tempo, no estado do Pará, Brasil, o cenário era de grande


escassez de mão de obra para o ciclo da borracha, principalmente devido
o interesse mundial pela bicicleta, a grande popularização do automóvel
naqueles dias e o agravamento se dava por conta de leis em favor da vida
humana que foram impetradas em relativo curto espaço de tempo no
país.

Em 1850, foi promulgada a lei Eusébio de Queiros que reprimia o tráfico


de africanos no Império.

Em 1871, foi impetrada a lei do ventre livre, na qual todos nascidos de


escravas eram livres.

Depois, em 1885 era promulgada a lei dos sexagenários, esta além de


alforriar automaticamente os escravos com sessenta anos ou mais, ainda
previa que os patrões os pagassem uma indenização.

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E em 13/05/1888, finalmente foi assinada pela princesa Isabel, filha de
Dom Pedro II, a lei Áurea que deu liberdade aos mais de setecentos mil
(700.000) escravos que ainda existiam, abolindo definitivamente a
escravatura no país.

Esse conjunto de circunstâncias favorecia fortemente a imigração de


pessoas vindas de diversos países, entre eles dos Estados Unidos da
América, de onde viriam os missionários suecos que fundariam a igreja
Assembleia de Deus.

Na busca por uma exposição mais organizada, que deverá produzir maior
compreensão, decidi expor todo esse conteúdo reunido, de uma maneira
cronológica, evitando uma possível confusão de informações e facilitando
o entendimento dos irmãos, tendo em vista que estará mais organizado.

O chamado de Daniel Berg.

Em 05/03/1902, então com quase dezoito anos de idade, o irmão Daniel


Högberg, deixou a cidade de Gotemburgo na Suécia, com destino a
Lyverpool na Ingraterra.

Em 11/03/1902, deixou Lyverpool com destino a Boston nos Estados


Unidos.

No dia 25/03/1902, desembarcou em Boston e foi trabalhar numa fazenda


onde deveria cuidar das flores, porém o fazendeiro o achou forte o
bastante para cuidar dos animais da fazenda, tendo em vista que a
floricultura era uma tarefa que se ajustava mais a mulheres. Daniel
permaneceu ali pouco tempo já que o trabalho era demasiadamente
bruto e optou por transferir-se para a Pennsylvania onde conseguiu
trabalho como fundidor, mesmo ofício de seu pai na Suécia, participou de
um curso de especialização na área e formou-se como fundidor
profissional.

21
Em 1909, portanto quase oito anos depois de ter deixado sua terra natal,
sentiu no coração o desejo de visitar seus familiares e em especial seus
pais.

Durante essa visita, Daniel reencontrou um amigo que agora era pastor
numa igreja de uma cidade próxima e que o falaria da experiência do
batismo com o Espírito Santo com maiores detalhes pela primeira vez,
despertando no irmão Daniel o interesse em conhecer e sentir essa
experiência que lhe fora apresentada.

Nesse mesmo ano (1909) Daniel retornou para os Estados Unidos e foi
trabalhar numa loja de frutas em Chicago, emprego que lhe havia sido
oferecido antes de sua viagem para visitar seus parentes e que havia
prometido aceitar assim que voltasse.

Também foi no mesmo ano (1909) que Daniel conheceu o irmão, então
pastor de uma igreja batista na cidade South Bend em Indiana, Gunnar
Vingren durante uma conferência bíblica na cidade de Chicago no estado
de Illinois.

Ali foram também batizados no Espírito Santo.

O chamado de Gunnar Vingren.

Em 1903, Adolph Gunnar vingren deixou sua cidade natal Östra Husby na
Suécia e chegou á Kansas city nos Estados Unidos onde foi morar com seu
tio, estava então com vinte e quatro anos e viera para estudar.

No ano seguinte (1904), mudou-se para Chicago decidido a cursar o


seminário teológico batista sueco.

No ano 1909, Gunnar terminou os estudos e tornou-se pastor.

No mesmo ano, durante um seminário teológico na primeira igreja batista


de Chicago, conheceu aquele quem seria seu companheiro de missões.

Foi também durante esse seminário que foram batizados no Espírito


Santo.

22
No ano seguinte (1910), os dois irmãos passaram a dividir uma mesma
moradia que alugaram de outro irmão chamado Olof Uldin, o irmão Uldin
foi o vaso que aprouve Deus usar em sonho para revelar aos missionários
quantas grandes obras faria através de suas vidas e qual era a direção que
deveriam tomar dali em diante. Entre outras coisas o irmão profetizou que
a terra para onde deveriam partir se chamava Pará e que Vingren se
casaria com uma jovem chamada Strandberg.

De posse dessa grande revelação, os irmãos foram até uma biblioteca


pública da cidade onde descobriram que o Pará ficava no norte do Brasil.

Daniel Berg deixou o seu emprego debaixo de protestos de seus patrões


que argumentavam que ele poderia pregar o evangelho ali mesmo, ao se
despedir de seus patrões ele recebeu uma bolacha e uma banana. Essa era
uma tradição antiga nos Estados Unidos e simbolizava o desejo de nunca
faltar alimentos para a pessoa que recebia a oferta. Esse gesto singelo
tocou o coração do irmão Daniel, em seguida partiu juntamente com seu
companheiro Vingren para Nova York, de onde embarcariam num navio
para o Brasil.

“E Jesus ia conosco” Daniel Berg.

Os dois possuíam algo em torno de noventa dólares nos bolsos para


custear a viagem ao Brasil quando chegassem á Nova York, porém Deus
tocou no coração do irmão Vingren para que ele ofertasse essa quantia a
um jornal pentecostal da cidade.

Depois de um culto de despedida, alguns irmãos deram-lhes o suficiente


para a viagem até a divisa do estado.

Durante a viagem até o porto, um pastor os convidou para pregar em sua


igreja e contar sobre seus planos, ali alguns irmãos lhes deram o suficiente
para chegarem até Nova York.

Numa parada para fazer baldeação entre trens, resolveram passear pela
cidade já que teriam que aguardar por um tempo e encontraram com um
homem que os olhava como alguém admirado, Vingren achou que o

23
conhecia de algum lugar, porém não se lembrava, esse homem era na
verdade um negociante crente que conhecia o irmão Vingren e logo os
contou que estava surpreso em encontra-lo, pois a carta que tinha nas
mãos e estava para envia-la pelo correio, era para Vingren, porque Jesus o
mandara enviar noventa dólares, mas uma vez que os encontrara mão
precisava mais enviar pelo correio. Noventa dólares era o valor ofertado
pelo irmão Vingren ao jornal pentecostal e era também o valor das
passagens para o Brasil.

Quando contaram a esse irmão os planos, ele se encheu tanto de alegria


que os convidou para passar alguns dias em sua residência o que
aceitaram de pronto, mas a estada não seria grande porque logo Deus
falou em profecia por boca de uma irmã, que um navio partiria para o
Brasil no dia cinco de novembro.

Logo que chegaram a cidade de Nova York, procuraram nas principais


empresas de navegação mas não havia qualquer navio programado para
partir no dia cinco, até que descobriram um que tinha passado grande
período no estaleiro e por isso não figurava em listas. Tinha sua saída
marcada para o Brasil no dia cinco e estavam sobrando duas passagens,
fato que não os surpreendeu nem mesmo quando foram informados que
as duas passagens custariam noventa dólares, talvez algo diferente disso
os surpreendesse.

No dia 05/11/1910 saíram de Nova York com destino ao Pará e durante a


viagem, bastante desconfortável, houve salvação de almas para a glória de
Deus.

Em 19/11/1910, enfim desembarcaram no Pará, resolveram passear para


conhecer um pouco a nova terra e pararam em uma praça para descansar
um pouco. Não sabendo ainda o idioma nativo, resolveram voltar ao navio
onde na companhia de demais passageiros foram levados a um hotel que
mesmo sendo simples, descobriram que só poderiam pagar por dois dias.

Já devidamente instalados, o irmão Vingren foleava um jornal que


encontraram no quarto, mesmo não conhecendo o idioma, quando se
deparou com um nome conhecido, era o nome do redator Justus Nelson,
pastor metodista que era conhecido de Vingren nos Estados Unidos.
24
Então, tomaram a decisão de que no dia seguinte procurariam pelo pastor
Justus, ele os recebeu com muita satisfação e prometeu apresenta-los a
um pastor da igreja batista.

Assim conheceram o pastor Raimundo Nobre que dirigia a primeira igreja


batista de Belém, foram bem recebidos e instalados no porão da igreja por
algum tempo, igreja onde também congregavam.

1911, O irmão Daniel arrumou um trabalho numa caldeiraria onde exercia


o seu ofício de fundidor enquanto Vingren estudava o idioma. Todas as
noites o irmão vingren transmitia ao irmão Daniel aquilo que tinha
aprendido.

Os dois esporadicamente ministravam na igreja batista e testificavam dos


dons do Espírito Santo e do batismo com a evidência do falar em línguas.

Muitos dos irmãos criam e isso trouxe um problema, pois o pastor não
aceitava que uma nova doutrina fosse pregada na igreja sob seus
cuidados.

No dia 08/06/1911 a primeira brasileira foi batizada no Espírito Santo,


trata-se da irmã Celina de Albuquerque, que juntamente com o batismo
foi curada de uma enfermidade nos lábios que a atormentava e impedia
muitas vezes de sair de casa, enquanto orava sozinha em seu quarto.

No dia 13/06/1911, após uma convocação para um culto extraordinário,


ficou decidido pelo pastor Raimundo, pela exclusão dos irmãos Vingren e
Daniel do rool de membros daquela igreja, porém mais dezoito irmãos
que creram inclusive um diácono, resolveram acompanha-los e não
somente isso, pois ainda lhes ofereceram uma sala na casa do diácono
Henrique e da irmã Celina de Albuquerque, aquela que fora batizada no
Espírito Santo, para realizarem seus cultos pentecostais.

Assim no dia 18/06/1911 foi realizado o primeiro culto na Rua Siqueira


Mendes, 67 Cidade Velha em Belém no estado do Pará, norte do Brasil e
dava-se início ao que primeiro foi chamado de Missão de Fé Apostólica e
mais tarde, só em 11/01/1918, passaria a ser conhecida como Assembleia
de Deus.

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Obras.

Nos dias que se seguiram, o irmão Gunnar Vingren se dedicava aos


estudos e a obra de Deus que crescia e prosperava enquanto o irmão
Daniel Berg dedicava-se ao trabalho secular de fundidor, vendia bíblias e
novos testamentos, comprados com o que restava de seu salário,
aproveitando para pregar a palavra de porta em porta e frequentava os
cultos noturnos, durante o tempo que lhe restava.

Até o dia que o Espírito Santo o convenceu de que deveria deixar o


trabalho de fundidor para dedicar-se inteiramente a obra para qual fora
chamado.

Assim o irmão Daniel passou a viver exclusivamente das vendas de bíblias,


onde aproveitava para evangelizar ao longo da estrada de ferro Belém-
Bragança, que contava com uma extensão de cento e um quilômetros,
naquela época, onde rapidamente surgiram vinte templos da que viria a
ser a igreja Assembleia de Deus, a obra de Deus prosperava e crescia pela
vontade de Deus.

O irmão Vingren, diferentemente do irmão Daniel que era itinerante,


devido a sua saúde frágil, se dedicava ao pastoreio local orando pelos
enfermos e cuidando das ovelhas.

No dia 25/10/1914 começaram a chegar missionários suecos e o primeiro


deles foi Otto Nelson e sua esposa, vindos de Chicago e membros de uma
igreja pentecostal daquela cidade, foram bastante uteis para a obra
missionária que se dava por aqui.

Em 1916, chegaram ao Brasil o pastor Samuel Nyströn e sua esposa


Karolina Josefina Nyströn, os quais foram os primeiros missionários
enviados diretamente da Suécia, da igreja pentecostal Filadélfia,
pastoreada por Lewi Pethrus, para apoiar o mistério no Brasil.

No ano de 1917 o pastor Gunnar Vingren visitou sua terra natal com o
principal intuito de arrecadar fundos para a obra missionária no Brasil e foi
nessa oportunidade que conheceu a irmã Frida Maria Strandberg, que no
mesmo ano chegou ao Brasil como a segunda missionária enviada pela
igreja pentecostal Filadélfia de Estocolmo na Suécia.
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E no mesmo ano (16/10/1917) se casaram numa cerimônia presidida pelo
pastor Samuel Niströn. Aqui se cumpria mais uma profecia saída da boca
do também sueco, irmão Olof Uldin.

A irmã Frida foi uma mulher dinâmica e de grande importância tanto para
o ministério pastoral de seu marido, que devido a fragilidade na saúde
passava longos períodos acamado, como para as obras sociais da igreja,
pois era enfermeira formada, como também para o desenvolvimento na
área de ensino, pois também era teóloga de formação. Frida dirigia e
ensinava nos cultos, pregava, tocava órgão, cantava e chegou a dirigir
jornais da igreja.

A irmã Frida era uma mulher tão polivalente e a frente de seu tempo que
viria a sofrer muito com os combates dos líderes das igrejas pentecostais
no mundo, que não aceitavam que o ministério feminino em hipótese
alguma se sobressaísse ao ministério masculino. Seus mais severos críticos
seriam o pastor Samuel Nyströn e o pastor Lewi Pethrus, esse ultimo
pastor da igreja Filadélfia em Estocolmo e grande apoiador da missão
pentecostal no Brasil.

1919 nasceu o jornal Boa Semente, o primeiro jornal pentecostal das


Assembleias de Deus, o título do jornal foi baseado na passagem bíblica
que esta registrada em Mt 13:24, porque esses homens de quem falamos,
não tomavam qualquer decisão sem a direção do Espírito Santo. Seu
primeiro presidente foi o também fundador Gunnar Vingren.

Em 1920 foi á vez de Daniel Berg visitar sua terra natal em busca de
investimentos para a obra aqui no Brasil e foi também nesta oportunidade
que conheceu e se casou com a irmã Sara Sofia Lovisa Berg no dia
31/07/1920.

De volta ao Brasil, Daniel Berg permaneceu firme na obra evangelística


plantando igrejas por onde passava.

Em 1922 mudou-se com a família para a cidade de Vitória no ES, onde


permaneceu pregando o evangelho até 1924.

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Em 1923 Gunnar Vingrem passa um período na Suécia enquanto se
recupera de uma malária e após retornar ao Brasil mais uma vez, decide
se mudar para o Rio de Janeiro, fato que é concretizado no ano seguinte.

Em 1924, Gunnar Vingrem, chega com a família ao Rio de Janeiro.

Também em 1924 o irmão Daniel Berg foi para Santos no litoral paulista
onde permaneceu juntamente com sua família até 1927, ali também
muitas igrejas cresceram pelo poder do Espírito Santo e “pela Graça de
Jesus” como dizia ele.

Em 1927, o irmão Daniel Berg residiu na capital paulista com toda a sua
família, sempre incansável, alegre e disposto na obra de Deus.

Entre os dias 05 a 10/09/ 1930 ocorreu em Natal RN, a primeira


convenção geral das assembleias de Deus e foi presidida pelo pastor
Cícero Canuto de Lima.

Os assuntos tratados foram:

1) Fusão dos jornais Boa Semente e Som Alegre: resultando num órgão
oficial que passou a ser o jornal O Mensageiro da Paz.
2) Ministério feminino. Ficou decidido que não aceitariam que as
mulheres ensinassem e doutrinassem a igreja.
3) Lewi Pethrus. Estudos bíblicos ministrados e escritos pelo pastor
Lewi, o que foi aceito.

Em 1932 o irmão Daniel Berg foi direcionado pelo Espírito de Deus a


Portugal onde permaneceu ate 1936.

No mesmo ano (1932) o pastor Gunnar Vingren retornou pela ultima vez
para a Suécia com toda a sua família.

No dia 29/05/1933 o pastor missionário fundador das Assembleias de


Deus no Brasil, Gunnar Vingren partiu para a glória aos 53 anos de idade.

Daniel Berg deixou Portugal com destino a Suécia em 1936,


permanecendo por lá até 1949 quando decidiu mais uma vez vir ao Brasil.

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E no ano de 1949, de volta ao Brasil Instalou-se na cidade de Santo André
na grande de São Paulo onde permaneceram até 1962 quando já aos
setenta e oito anos retornou definitivamente para a Suécia.

Em 28/05/1963 Daniel Berg fundador das Assembleias de Deus no Brasil,


também partiu para o Senhor aos 79 anos de idade.

O legado deixado por esses homens é a certeza de que nada é impossível


para Deus e que todos aqueles que foram alcançados pela palavra de Deus
em nosso tempo devemos no mínimo cumprir o Ide do Senhor.

A tarefa mais difícil já foi realizada através de suas vidas e não nos resta
qualquer chance de nos acovardarmos no exercício de nossos ministérios
quando olhamos para as dificuldades por eles enfrentadas.

Ao contemplamos a glória por Deus manifesta em tantas vidas alcançadas


por meio de seus ministérios, somos confrontados e convidados a sairmos
da inércia.

A missão é impossível! Sem a presença do Espírito Santo.

Idaí? Vamos cumprir o Ide do Senhor.

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Bibliografia
Cem anos da Assembleia de Deus no Brasil – 2011 – CONAMAD – Alex
Cardoso.

Frida Vingren – 2014 - Editora CPAD - Isael de Araújo.

Matriz pentecostal brasileira: Assembleia de Deus – 2008 – Editora Novos


Diálogos - Gedeon Freire Alencar.

Canal: diário pentecostal – 2018 – Silvana Regina da Silva.

Canal: asj gospel tv – 2017 – Alberto Santos.

Enviado por Deus: Memórias de Daniel Berg – 1995 – Editora CPAD –


David Berg.

Comentário Judaico do Novo Testamento – 2008 – Editora – Templos –


David H. Stern.

Auxílios geográficos e históricos extraídos de:

Bíblia do pregador pentecostal – 2016 – SBB – ARC.

Bíblia de Estudo NAA – 2019 – SBB.

Bíblia de Estudo cronológica de aplicação pessoal – ARC – 2015 – CPAD.

Bíblia em ordem cronológica – Editora Vida – 2003 – NVI.

Bíblia de Estudo Holman – ARC – 2018 – CPAD.

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