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Resumo
O objetivo deste trabalho é investigar a possibilidade de estabelecer elos metateóricos entre o
pensamento de Anthony Giddens, em especial a teoria da estruturação (TE) e os fundamentos
da PA. Mais especificamente utilizar os fundamentos da TE como uma lente para apoiar
novas propostas metodológicas de ação e transformação da realidade. Em primeiro lugar serão
apresentadas no trabalho as principais linhas de pesquisa-ação (PA) atualmente praticadas, em
busca de suas bases metateóricas e sua relação com as teorias organizacionais. A seguir serão
também apresentadas as bases teóricas do pensamento de Giddens, extraídas de dois
momentos de sua produção intelectual. Também será apresentado o que se pode chamar de
uma visão participativa da realidade, desenvolvida pelos principais epistemólogos e teóricos
da PA e que vai além da simples questão sobre como podemos mudar as coisas ao mesmo
tempo em que as estudamos. Esta visão participativa tem como um de seus principais
elementos a questão da transcendência da objetividade versus subjetividade. É neste sentido
que são encontradas as principais articulações com a TE, pois Giddens também propõe que
seja suspensa a batalha epistemológica entre objetivismo e subjetivismo e que seja
considerado um contínuo entre indivíduo e sociedade. Sociedade para ele tem um significado
duplo, cuja ênfase pode estar na regionalização como na associação social em geral. A
metodologia usada foi uma metatriangulação em três etapas. A metatriangulação é um modelo
de três fases, com algumas etapas cuja intenção é explorar as assunções básicas de alguns
paradigmas e assim poder se referir a temas que sejam de forma comum emergentes desta
análise. A partir desta análise o trabalho apresenta como resultados não só pontos de
convergência como os de divergência entre os conceitos de PA com as idéias de Giddens. O
trabalho se encerra com uma proposta metodológica que se apóia na obra de Giddens A
Constituição da Sociedade e propõe entre outros passos: (a) O reconhecimento dos seres
humanos como agentes cognoscitivos que possuem considerável conhecimento das condições
e consequências do que fazem em suas vidas cotidianas e são capazes de descrever em termos
discursivos o que fazem e as razões por que fazem; (b) O estudo da vida cotidiana como
essencial para a análise das práticas institucionalizadas; (d) A rotina, ligada à minimização da
ansiedade, como forma mais comum de atividade social cotidiana; (e) o estudo de contextos
como inerente ao estudo da reprodução social (g) O estudo de coerções e facilitações
associadas à vida social dos atores; (i) O estudo do poder deve ser central aos estudos
realizados em relação, por exemplo, a percepção das lutas pelo poder, mecanismos de
controle vigentes na sociedade etc. e; (j) Todos os mecanismos de organização social ou
reprodução identificados por analistas sociais, também o podem ser por atores leigos, que
assim podem conhecer e incorporar o que fazem. Estes aspectos, entre outros a serem
abordados no trabalho, já estavam presentes nas sugestões metodológicas de Giddens e podem
ser apropriados de forma sistematizada pelas práticas de pesquisa participativa.
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1 Introdução
Pesquisadores com menos intimidade com a pesquisa-ação (PA) a vêem como uma forma não
tradicional de pesquisa, mas a entendem de forma única. O fato é que a PA é praticada em
uma grande variedade de formas. Trata-se como afirmam Reason e Bradbury (2008) de uma
família de práticas, de uma orientação para a pesquisa, muito mais do que uma metodologia
clara. Como em qualquer família, suas vertentes de vez em quando concordam e em outras
discordam veementemente, por vezes estão a serviço de determinados interesses, por vezes de
interesses completamente opostos.
A articulação metodológica se dará por meio de uma metatriangulação em três etapas. A partir
desta análise se apresentarão pontos de convergência e de divergência entre os conceitos de
PA com as idéias de Giddens. Mais adiante se apresentará uma proposta metodológica
usando aspectos metateóricos oriundos da TE e aplicáveis à PA.
Antes de falar em pesquisa-ação é importante falar do conceito de ação em si. Brasileiros, por
exemplo, têm apenas uma palavra para se referir à neve enquanto os esquimós têm diversos
termos para a mesma, esteja ela caindo, já no chão, presa em árvores, ameaçando avalanches
etc. Uma palavra apenas para ação no contexto de pesquisa pode ser suficiente para quem a
imagina apenas em contraste à pesquisa de laboratório ou com uso de métodos quantitativos.
Para quem está sempre no campo e utiliza basicamente a PA como estratégia metodológica,
ação tem múltiplos significados, intencionalidades e gera diferentes dúvidas quanto às origens
da pesquisa, posicionamento do pesquisador e intencionalidades do mesmo.
Como mostra o Handbook of Action Research (Reason and Bradbury, 2008 e 2006) as
preocupações dos teóricos sobre o tema são as mesmas de outras áreas. Elas envolvem como
construir conhecimento em um mundo pós-objetivo, como absorver a virada lingüística, as
questões ligadas à construção conjunta de significado, como absorver as perspectivas críticas
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em suas relações com a vida organizacional etc. De uma forma central o interesse dos
pesquisadores que utilizam a pesquisa-ação pode ser sintetizado na questão: Como podemos
mudar as coisas ao mesmo tempo em que as estudamos? (Gayá Wicks et. al. 2008). Em
inglês, os pesquisadores alinhados com esta estratégia são chamados de action researchers,
expressão de difícil tradução. Neste trabalho a opção será por pesquisadores-atores. A opção
de pesquisadores-atores é por um conhecimento prático e aplicado. Na medida em que este
conhecimento é gerado, comunidades e empresas de forma rápida se apropriam do mesmo e
formulam novas perguntas de pesquisa que geram novos trabalhos, em ciclos constantes de
aprendizagem.
Em primeiro lugar é importante fornecer algumas noções básicas sobre PA, sem se tornar
repetitivo ou cair em lugares comuns. O termo PA foi cunhado em 1946 por Kurt Lewin, ao
desenvolver trabalhos que tinham como propósito a integração de minorias étnicas à
sociedade norte-americana. Assim, definiu PA como uma modalidade de pesquisa que
contribui de forma imediata não apenas para a produção de livros, mas que conduz à ação
social (LEWIN, 1946). Dois dos elementos centrais já são, portanto aqui apresentados. A
prática e a geração de conhecimento. Um terceiro poderia ser acrescentado, a necessidade de
reflexão sobre a prática.
Antes mesmo de Lewin (1946), Moreno (1997 p.58) afirmava “[...] em especial na esfera
humana é impossível entender o presente social se não tentarmos mudá-lo.” O médico e
psiquiatra romeno, fundador do psicodrama e idealizador da psicoterapia de grupo
contrapunha Bergson e Peirce, a quem Moreno (1997) se referia como filósofos-expectadores
à figura do filósofo-ator: “Onde o filósofo percebe a superfície a que confere uma expressão
aforística, o ator terapêutico das grandes religiões, em seus períodos vitais, penetrou na
própria essência, por meio da ação e da realização”. (MORENO, 1997, p. 59).
A PA é definida por Thiollent (1985, p. 14) como uma pesquisa com base empírica, “[...]
realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e
no qual os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo”. A PA tem características situacionais, já que procura
diagnosticar um problema específico numa situação específica, com vistas a alcançar algum
resultado prático. Diferentemente da pesquisa tradicional, não visa a obter enunciados
científicos generalizáveis. Embora a obtenção de resultados semelhantes em estudos
diferentes possa contribuir para algum tipo de generalização. Martins (2004, p. 47) a vê, no
âmbito das organizações como “[...] uma proposta de pesquisa mais aberta, com
características de diagnóstico e consultoria para clarear uma situação complexa e encaminhar
possíveis ações, especialmente em situações insatisfatórias ou de crise”. Argyris et. al. (1985)
acreditam que na pesquisa-ação, por ele chamada de ciência-ação, o envolvimento dos
participantes no processo de mudança faz com que eles pensem e reflitam sobre o que estão
fazendo, mudando o ambiente organizacional e seus comportamentos.
Estas definições acima de PA, em especial as de Martins (2004) e a de Argyris (1985), que
usa a ciência-ação sempre em processos de melhoria organizacional de forma consultiva,
chegam a ser quase funcionalistas quando comparadas com outras encontradas em outros
livros e manuais. As mais expoentes vozes da PA, Reason e Bradbury (2008, 2006)
consideram que esta modalidade de pesquisa se baseia em contribuições de três perspectivas
metateóricas, a do pensamento sistêmico, a da teoria crítica e a da psicologia humanística.
Existe, portanto na pesquisa-ação uma vertente originária dos trabalhos de Lewin, ligada à
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sociotécnica americana e aos trabalhos do Tavistock Institute (PASMORE, 2006). Na opinião
de Bradbury et. al. (2008) esta vertente tinha por vezes o objetivo de fazer com que a
resistência à mudança fosse diminuída e os trabalhadores aumentassem por sua própria conta
a carga de trabalho. Coach e French (1948) já apontavam no final da década de 40 para o fato
de que métodos participativos poderiam ser mais efetivos do que as tradicionais abordagens
de hierarquias rígidas, na medida em que desempenhavam este papel de envolver os
trabalhadores, lhes dar a sensação de poder e diminuir a resistência aos novos patamares de
produção e qualidade exigidos.
Muito antes de Lewin ter cunhado o termo, podem-se perceber as origens de uma pesquisa
participativa e emancipatória. Thiollent (1987), fazendo todas as ressalvas necessárias, lembra
que a “Enquete Operária” realizada por Karl Marx foi de certa forma uma maneira precursora
de PA. Também as idéias de Gramsci (KEHOE, 2003), com a sua filosofia da prática e suas
idéias sobre o papel dos intelectuais podem ser consideradas raízes de uma vertente
emancipatória da PA. A esta tradição estariam vinculados autores como o brasileiro Paulo
Freire (2005), que há muito tempo ultrapassou as barreiras da ciência da educação para se
tornar um autor-cientista com influência multidisciplinar, e o sociólogo colombiano Orlando
Fals Borda (2001). Estes autores, entre outros, estão alinhados com um dos ramos da PA
chamado de pesquisa participante (PP) e pesquisa-ação participante (PAP). A abordagem
crítica que caracteriza a PAP, além de se preocupar com a apresentação de uma visão ampla e
dinâmica da realidade, procura conscientemente compreender os fatos inseridos em suas
influências econômicas, políticas e culturais. Esta perspectiva envolve abandonar o “mundo
seguro do funcionalismo, no qual as pesquisas geram hipóteses e modelos teóricos do trabalho
empírico, para abraçar a incerteza e a produção de um conhecimento que o próprio
pesquisador pode questionar em um ou outro momento” (PAULA, 2008, p. XI). Uma das
características da pesquisa crítica é, pois, esta reflexividade do pesquisador sobre seu trabalho
e sobre si próprio como elemento que participa do mesmo.
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separadas, mas de relações das quais somos co-autores.” Nós participamos no nosso mundo,
de tal modo que a ‘realidade’ (aspas dos autores) que experimentamos é uma co-criação entre
elementos dados a priori (cosmos), sentimentos humanos e a construção intermediadora
(ação).
Partindo deste conjunto de idéias e questões, Giddens constrói a TE. Afirma que, mesmo não
gostando do termo pela necessidade de se manter certa distância do termo ‘teoria’ em ciência
social, explica que é o melhor que encontrou para sintetizar suas idéias. Giddens (2009)
afirma que o considera teoria porque abrange questões que são de interesse de todas as
ciências sociais, como a natureza da ação humana e do eu (self, Ich em outros trechos) atuante
e a interação entre esses eu´s e relação com as instituições.
Giddens (2009) explora a idéia de que o interesse daqueles chamados “sociólogos estruturais”
é apenas estudar aquelas generalizações, no sentido de circunstâncias, aspectos ou conjuntos
delas, que atuam sobre os atores sem que estes saibam. No entanto, o outro pólo das
generalizações é tão importante quanto este. “As circunstâncias em que as generalizações
sobre o que ‘acontece’ (aspas do autor) aos agentes prevalecem são mutáveis no tocante ao
que eles podem aprender a ‘fazer acontecer’ (idem) de modo inteligente” (GIDDENS, 2009, p
XXI). As ciências sociais ganhariam assim um “impacto transformativo” mais imediato.
A partir destas idéias o autor sugere que seja superado o dualismo vigente entre objetivismo e
subjetivismo e as disputas epistemológicas daí decorrentes. Sujeito e objeto estariam
presentes na dualidade da estrutura. As propriedades estruturais dos sistemas sociais existem
na medida em que são cronicamente reproduzidas através do tempo e do espaço. (GIDDENS,
2009, p XXIII). As atividades sociais se alongam neste contínuo tempo-espaço fazendo com
que, como afirma Marx (2001, p. 2): “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem
como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se
defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.”
Giddens propõe de certa forma uma suspensão de batalhas epistemológicas em prol de uma
ciência social mais prática. De um lado não aceita um sujeito descentrado, considerando que
“... as práticas sociais, ao penetrarem no espaço e no tempo, estão na raiz da constituição do
sujeito e do objeto social” (ibid, p. XXIV). De outro lado sugere que ataques ao objetivismo,
mesmo que carregado de razões como em determinados momentos pesquisadores
influenciados pela hermenêutica ou pela fenomenologia, precisam apresentar como conclusão
um nexo entre dizer e fazer. Em vez de objetivismo versus subjetivismo a proposta de
Giddens (2009) é que seja considerado um contínuo entre indivíduo e sociedade. Tanto o
indivíduo quanto a sociedade estão expostos a mecanismos mais objetivos ou mais subjetivos
de coerção e facilitação, no sentido de maior ou menor acesso a recursos interiores e
exteriores.
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Giddens (BECK; GIDDENS; LASH, 1997) explora o conceito de outras formas, culminando
com as idéias de modernização reflexiva. A modernidade é apresentada como um grande
experimento, no qual todos estão envolvidos, mas do qual não temos controle sobre os
resultados. Experimento em que pequenas ações individuais influenciam o desenrolar de
acontecimentos globais e fatos estruturais globais determinam nossas vidas cotidianas.
No âmbito destas rotinas os indivíduos se encontram e interagem. São destes encontros que
surge a outra dialética proposta pelo pensamento de Giddens (ibid), entre estrutura e ação.
Giddens afirma que “A nova agenda da ciência social diz respeito a duas esferas de
transformação, diretamente relacionadas” (ibid , 1997, p. 74). A primeira forma é a “[...]
difusão extensiva das instituições modernas, institucionalizadas por meio dos processos de
globalização.” (ibid, p. 74). Por outro lado, imediatamente relacionados com esta forma
apresentada, “[...] estão os processos de mudança intencional, que podem ser conectados à
radicalização da modernidade. Estes são processos de abandono, desincorporação e
problematização da tradição.” (ibid, p.74)
4 Metodologia
Segundo Lewis e Grimes (1999) a metatriangulação é um modelo de três fases, com algumas
etapas cuja intenção é explorar as assunções básicas de alguns paradigmas e assim poder se
referir a temas que sejam de forma comum emergentes desta análise, construindo teorias a
partir daí. No presente trabalho foram usadas algumas fases das etapas. Em uma primeira
etapa se realizaram a definição do fenômeno de interesse e a coleta de exemplos metateóricos,
em uma segunda etapa foi planejada a análise e foram exploradas similaridades e diferenças
teóricas e em uma terceira etapa foram exploradas metaconjecturas e articulada uma proposta
metateórica. O modelo, pelas próprias características da metatriangulação, não é algo a que o
pesquisador tenha que se ater, mas um norteador para evitar uma criatividade desfocada.
Neste trabalho a metatriangulação foi usada como uma abordagem que facilitasse explorar
aspectos ainda não revelados de justaposições e contradições entre as bases teóricas da PA e
da TE de Giddens. Considerando que não havia clareza inicial sobre estas similaridades ou
discrepâncias, os procedimentos iniciais foram de leituras flutuantes e exploratórias, em busca
de temas comuns, consoantes ou dissonantes.
Como Gioia e Pitre (1990) propõem, a idéia é a de construir pontes entre idéias que
aparentemente não tenham pontos em comum ou mesmo pertençam a paradigmas diferentes.
Idéia com a qual concordaria Giddens (2009). Afirma ele no início da obra Constituição da
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Sociedade que não teve a menor relutância em se apoiar em idéias de fontes completamente
divergentes para formular a TE. Continua o autor dizendo que “[...] o conforto de pontos de
vista estabelecidos pode servir facilmente de cobertura para a preguiça intelectual.”
O primeiro ponto de óbvia dissonância é o objetivo para o qual as idéias surgem por trás da
TE e da PA. A Teoria da Estruturação surge do desejo claro e manifesto de um único
pensador de conciliar um determinado conjunto de questões em um determinado momento da
história na Europa. Já a PA não parte de um projeto único e do desejo de construir uma única
teoria. Sendo assim, a TE é um arcabouço de idéias melhor estruturado e com margens mais
bem delimitadas.
Existe entre os autores de PA uma preocupação cada vez maior com intervenções em larga
escala que provoquem mudanças substanciais, envolvendo grupos cada vez maiores. Estas
intervenções, ações em grandes períodos longitudinais de tempo acabariam por provocar
mudanças na sociedade, nas rotinas dos indivíduos e nas estruturas subjacentes. O Handbook
of Action Research descreve várias intervenções desta natureza, por vezes implementadas na
forma de mini intervenções locais, mas nas quais se percebe depois padrões globais, na forma
de diversos movimentos sociais. Seja de camponeses, iletrados, de negros americanos ou sul-
americanos, movimentos feministas, movimentos sindicais em países nórdicos e do sul.
Também não podem ser desconsiderados como provocadores de mudanças nas rotinas e
estruturas os movimentos por melhoria das condições no ambiente do trabalho e da
produtividade em todo o mundo. Há também descrições dos chamados Processos de Grupos
Grandes, estes sim desenhados desde o começo para mexer com estruturas maiores.
(MARTIN, 2006)
Esta preocupação com a questão do indivíduo e da sociedade como um todo presente tanto na
obra de Giddens quanto nas preocupações teóricas de muitos autores de PA. Nas destes
últimos de forma muito direta, levando a questão das possibilidades de reflexão do indivíduo
pesquisador ao extremo.
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Alguns dos aspectos metodológicos propostos por Giddens (2009, p. 331-334) podem ser
usados por pesquisadores que utilizam a PA, em especial: (a) Todos os seres humanos são
agentes cognoscitivos e possuem considerável conhecimento das condições e consequencias
do que fazem em suas vidas cotidianas e estes atores são capazes de descrever em termos
discursivos o que fazem e as razões por que fazem; (c) O estudo da vida cotidiana é essencial
para a análise das práticas institucionalizadas; (d) A rotina, ligada à minimização da
ansiedade, é a forma mais comum de atividade social cotidiana; (e) o estudo do contexto é
inerente ao estudo da reprodução social. Estes contextos se formam por meio de fronteiras
espaço-tempo no sentido de marcos simbólicos, nos quais se dão as interações. Interações no
sentido de Giddens só ocorrem pela co-presença dos atores que possibilitam expressões
faciais, corporais, linguagem e outros veículos que permitem a percepção consciente; (f)
Identidades sociais e relações de posição e prática que lhe são associadas são fundamentais
para a compreensão destes contextos; (g) Coerções e facilitações associadas à vida social dos
atores devem ser identificadas; (h) Grau de “sistemicidade”, ou seja, abertura ou fechamento
da sociedade com a qual se estuda deve ser identificado; (i) Estudo do poder deve ser central
aos estudos realizados em relação, por exemplo, a lutas pelo poder, mecanismos de controle
etc. e; (j) Todos os mecanismos de organização social ou reprodução identificados por
analistas sociais, também o podem ser por atores leigos, que assim podem conhecer e
incorporar o que fazem.
A partir das idéias desenvolvidas neste trabalho os autores formulam de forma sintética pode-
se utilizar a PA como estratégia metodológica apoiada em alguns conceitos de Giddens.
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prática e para mudanças desejadas, tornando as experiências controladas e os resultados dos
experimentos sociais percebíveis pelos próprios grupos.
7 Considerações Finais
Uma leitura de um corpo mais amplo da obra de Giddens dará ainda mais subsidio para
compreender o desenvolvimento de seu pensamento. Apenas a leitura mais aprofundada da
Constituição da Sociedade e do capítulo intitulado A vida em uma sociedade pós-tradicional
do livro Modernização da Sociedade, já mostra um Giddens que em 11 anos reconhece nas
entrelinhas a falência do projeto moderno.
Não era esta, no entanto aqui a discussão. Há linhas da PA que podem ser consideradas
amplamente alinhadas com o modernismo, como aquelas que seguem a sociotécnica
americana ou nórdica. A questão era uma busca de colocar à mesa para dialogar as bases
teóricas da PA e as bases teóricas da TE. Contra esta tentativa pode se alegar que a primeira
não tem base teórica e que a segunda já é uma tentativa de conciliar forçadamente teorias que
não se falavam.
REFERÊNCIAS
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BECK, U,; GIDDENS, A.; LASH, S. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na
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GAYÁ WICKS, P.; REASON, P.; BRADBURY, H; Living Inquiry: Personal, Political and
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The SAGE Handbook of Action Research: Participative Inquiry and Practice. London,
Thousand Oaks, New Delhi, Singapore: SAGE, 2008, p 15-30
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LASH, S. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social e moderna.
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Disponivel em < http://www.mercuryfrost.net/colr/editions/2003/2003ix.pdf > acesso em
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New Delhi, Singapore: SAGE, 2008, p.11-14
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