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FACULDADE CIÊNCIAS DA VIDA – FCV

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

TRABALHO ÚNICO:
Caso Clínico.

Sete Lagoas
2016
TRABALHO ÚNICO:
Caso Clínico.

Caso Clínico apresentado como requisito


parcial para obtenção de créditos no Trabalho
Único, do curso de Psicologia, ministrado pela
Faculdade Ciências da Vida.

Professores Orientadores:

Sete Lagoas
2016
1-CASO CLÍNICO

Carolina tem 8 anos e é aluna novata da terceira série do ensino fundamental


de uma escola da rede pública municipal. A criança foi encaminhada ao atendimento
psicológico do ESF (Estratégia Saúde da Família) de seu bairro pela pedagoga de
sua nova escola. Chegou ao ESF acompanhada pela mãe, dona Márcia, 48 anos,
que relata que o atendimento psicológico foi solicitado devido ao comportamento
desatento e inquieto de Carolina no ambiente escolar, além do fato de a criança
ainda não ser alfabetizada e demonstrar demasiada agitação e “teimosia” também
em casa desde pequena. Descreve que a criança “... não para quieta, a hora do
dever de casa é uma tortura para mim e para ela porque ela não consegue prestar
atenção nas tarefas e eu acabo perdendo a paciência...”.
Ao responder à entrevista inicial (anamnese) para a psicóloga do ESF, a mãe
conta que Carolina na verdade é filha adotiva. Sua mãe biológica é irmã de Márcia e
faleceu após 4 dias do nascimento da criança pelo quadro de Tromboembolismo
Pulmonar. Durante as primeiras semanas, parentes paternos e maternos se
revezavam para cuidar de Carolina. Seu pai biológico, que já apresentava problemas
com álcool e tabagismo antes da morte da mulher, teve sua situação agravada após
o ocorrido e abriu mão da guarda da filha sem se contrapor. Desde então, Carolina
vive junto a Márcia, Luiz (pai adotivo), dois irmãos mais velhos, um de 19 e outro de
16 anos com os quais mantêm bom relacionamento e com a avó Edite, mãe de
Márcia.
Dona Edite, 73 anos, mora com Márcia desde que ficou viúva. Márcia relata
que antes a mãe era ativa, administrava seu próprio dinheiro, pagava suas contas,
gostava de cozinhar e brincar com os netos e era frequente no grupo de convivência
para idosos do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), mas que de uns
tempos para cá vem se mostrando retraída, triste e prostrada, evita contato com os
netos, principalmente com Carolina por lembrar-se da filha já falecida (mãe biológica
da criança), e reclama que já está passando da hora de morrer. “Antes eu podia
contar com a ajuda da minha mãe pelo menos para olhar as crianças, agora nem
isso ela quer fazer mais, não vai mais ao CRAS, prefere ficar sozinha, lamentando a
vida e a morte do meu pai. Eu achei que essa tristeza dela fosse passar, mas já vai
pra mais de ano isso. Às vezes nem o meu nome ela lembra mais, agora eu que
tenho que organizar o pagamento de suas contas e o controle de seu dinheiro, não
vai mais à Igreja e nem assiste mais as rezas que tanto gostava de ver na televisão.
Isso tem me preocupado”.
Luiz, pai adotivo de Carolina, 55 anos, trabalha como ferramenteiro em uma
empresa de autopeças, enquanto Márcia desde a vinda de Carolina à sua família
abandonou o emprego como vendedora para dedicar-se ao lar e à menina. A família
tem uma renda mensal em torno de 2 salários mínimos. De acordo com Márcia, seu
marido adotou de bom grado a sobrinha e a reconhece como filha. É um bom pai,
mas sempre foi um pouco rigoroso com todos os filhos, principalmente em relação à
educação, não entende muito bem a situação de Carolina e acha que a criança é “...
só um pouco preguiçosa e sem limites” e que com o tempo e mais “pulso firme” por
parte da mãe ela aprenderá a ler e escrever como as outras crianças de sua idade.
Quando perguntada a respeito da opinião do marido, Márcia parece confusa, pois
não concorda com as colocações do parceiro sobre a filha, mas em alguns
momentos se culpabiliza pelo comportamento atípico da criança, principalmente
quando a compara com os irmãos, “... a gente até briga por isso, Luiz é cabeça dura,
sempre foi, com os meninos também, mas ela não é preguiçosa, às vezes falta limite
mesmo, por minha causa, tem dia que fico lembrando dos meninos pequenos, eles
eu sabia controlar melhor do que ela, mas com Carolina é diferente, ela é muito
custosa.” Por essas diferenças de opiniões Márcia relata constantes conflitos
conjugais, alguns deles presenciados por Carolina e os irmãos. A criança frequenta a
escola no turno vespertino e passa o maior tempo com a mãe, com quem tem mais
afinidade. Márcia conta que Carolina saí pouco do ambiente familiar, e que antes
(com 5 anos) a criança brincava bastante na casa de uma vizinha com outra criança,
mas que devido a seu comportamento inquieto a vizinha passou a “[...] dar
desculpas esfarrapadas” para negar a presença de Carolina. Foi então que Márcia
começou a perceber mais claramente os comportamentos atípicos da filha.
Quanto à gestação da irmã, Márcia pouco soube dizer, afirmou apenas que
em uma conversa a irmã à confidenciou estar muito feliz com sua primeira gestação,
mas ao mesmo tempo preocupada, pois na época seu marido estava
desempregado. De acordo com Márcia a irmã tinha 38 anos, realizou pré-natal
desde a descoberta da gravidez com 4 semanas e parecia se cuidar bem, a não ser
pelo fato de estar sempre inalando fumaça dos cigarros consumidos pelo marido,
situação que era quase inevitável considerando o mal hábito do parceiro. Carolina
nasceu a termo, pesando 3200 gramas por parto normal.
A mãe relata que a criança deu os primeiros passos aos 11 meses, caminhou
sem apoio após os 12 meses e obteve controle do esfíncter aos 24 meses, mas
pronunciou as primeiras palavras tardiamente e que, embora tenha desenvolvido
sua linguagem com o passar do tempo, hoje ainda apresenta algumas alterações,
“... às vezes ela troca as palavras, de tanto que fala, parece que quer dizer tudo de
uma vez só e come as palavras também, e ainda por cima interrompe as conversas
como se não conseguisse controlar a língua.” Márcia revela ainda que Carolina
possui sono inquieto e por vezes fala enquanto dorme.
Carolina cursou o ensino infantil em uma instituição educacional filantrópica
da cidade em que vive. Aos 6 anos foi transferida para outra instituição, visto que, a
atual não fornecia o ensino fundamental. Deste modo, a criança passou a frequentar
uma escola estadual tradicional no município, segundo Márcia logo começaram a
surgir as primeiras reclamações “... sempre me chamavam na escola pra dizer que
Carolina não copiava nada, que atrapalhava a turma porque não ficava sentada na
cadeira ou porque queria brincar na hora errada”, porém os profissionais da
instituição não propunham medidas com intuito de modificar os comportamentos
inadequados da criança, apenas repreendiam Carolina que apresentava cada vez
mais dificuldades de aprendizagem. A mãe narra que a situação piorou na segunda
metade da segunda série quando todos os colegas da turma já estavam
alfabetizados e Carolina não, principalmente quando o pai soube das reclamações
da instituição, o que fez aumentar as discussões em casa sobre o assunto. Márcia
percebeu que a filha se desmotivou em relação à escola, ainda mantinha
comportamentos agitados em casa, contudo paralelos a eles a criança apresentava
agora sentimentos de tristeza e menos-valia, chegou a chorar algumas vezes e dizer
que “... era burra, que não queria ir mais à escola para ficar de castigo ou levar
bronca.”. Foi então que a mãe decidiu transferir Carolina para uma nova escola
municipal recém-inaugurada no segundo semestre do ano. A pedagoga da
instituição logo promoveu uma reunião individual junto a Márcia e Luiz, a profissional
expôs que Carolina de fato possui demasiada desatenção e que devido a isto não
reconhece bem as letras nem consegue formular palavras, o que dificulta sua
alfabetização. É desorganizada e se distrai com facilidade, segundo ela a criança
também possui dificuldade em relacionar-se em grupos, pois se perde nas
conversas com os colegas e não consegue seguir regras em jogos. Márcia conta
que ao fim da reunião se surpreendeu com a postura da funcionária, quando ela
concluiu afirmando para os pais, que toda a equipe pedagógica da escola se
esforçaria para criar um planejamento diferenciado, a fim de que Carolina
desenvolvesse suas habilidades o quanto antes, entretanto para isso era preciso
que a criança fosse avaliada por alguns profissionais da saúde e assim se deu a
recomendação de encaminhamento ao ESF.
Ao permanecer sem a mãe na sala, a criança pareceu ansiosa e agitada, se
“remexia” na cadeira movimentando os pés e tocava em objetos da mesa, mas
demonstrou disposição para responder aos questionamentos. Quando perguntada
sobre a nova escola Carolina conta que está gostando, e que não sente falta da
instituição antiga. Quanto ao fato de não se achar inteligente a criança soltou um
suspiro e disse que “... estudar é muito difícil, às vezes eu fico até cansada e aí
esqueço de fazer as lições, mas eu já estou até lendo.”

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