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CONFLITO CÓSMICO

Muito antes de qualquer pintor expressionista dar sua primeira pincelada, foi pintado um
quadro capaz de deixar o norueguês Edvard Munch com o queixo caído, olhos arregalados e
as duas mãos na cabeça. Poderia até se imaginar que esse quadro antigo tenha sido sua
inspiração para o famoso O GRITO, de 1893. Tão famoso que bateu o recorde ao ser leiloado
em 2012 pelo valor de 120 milhões de dólares.

Ainda hoje quem contempla a beleza e o terror do precoce quadro expressionista, jamais
leiloado, fica fascinado.

A bela figura feminina encanta com o traje mais luminoso que já se viu. Nada menos que o
próprio sol. Seus delicados pés se apoiam em outro imponente astro. Desta vez, a lua. Seu
rosto meigo não transmite nenhuma fraqueza. É adornado por sua coroa de doze estrelas.

Fecundada pela fonte da vida, chegou-lhe a hora dolorosa e tão esperada de dar à luz o seu
filho. O seu grito não é de terror nem de angústia. É o grito que saúda uma nova vida. É o
grito que se solidariza com o primeiro choro de seu rebento.

A vida é esta misteriosa composição de gritos, lágrimas e risos. Qual a jovem mãe que não se
sente aliviada ao tomar em seus braços o ser que aguardara com tanta expectativa? Seu
olhar materno quer escanear cada fio de cabelo, os dedinhos das mãos e dos pés, conferir se
tudo está bem com essa criança que veio descobrir um novo mundo.

Mal chegou o novo habitante deste planeta e novas preocupações batem à porta da anfitriã.
Agora é preciso que esses dois indivíduos entrem numa nova sintonia e união entre seus
corpos. A fonte materna continuará, por um tempo, a nutrir com sua própria seiva todas as
células de seu bebê.

Mas, nesse dinâmico quadro, os eventos não respeitam a ordem natural da vida. A mãe nem
chega a amamentar pela primeira vez seu filho, quando vê, diante de tão indefesa criatura,
uma ameaça de dimensões assustadoras. Não são bactérias microscópicas querendo
envenenar aquele corpinho debilitado pela fome. A ameaça tem proporções cósmicas. Algo
que nenhuma mãe, nem em seu pior pesadelo, teve que enfrentar instantes após o parto.

Um estranho ser invadiu o ambiente familiar com a hedionda intenção de devorar o único
filho dela. Nem sequer há tempo para fazer aquelas perguntas óbvias. É preciso travar calada
a grande luta que se passa fora e dentro dela mesma. Primeiro, o susto ao ver aquele dragão
vermelho coroado com sete coroas e seus dez chifres pronto para arrancar de seus braços a
mais preciosa de todas as dádivas divinas. Logo a seguir, a surpreendente chegada de um
aliado. Não há tempo para acordos e explicações! O menino é levado para longe daquela
cena de mortal perigo.

Forças do alto facilitam a fuga desta nobre mulher. Por enquanto, ela está a salvo. O dragão
se vê diante de outra batalha urgente. Ele é o general de um numeroso exército. Toda sua
astúcia e suas mirabolantes estratégias de guerra não lhes garantem a vitória. São expulsos
do território mais cobiçado do universo. A maldade personificada precisa encarar que jamais
ocupará o trono celestial. Só resta a ela e à sua corja incomodarem os que habitam o
minúsculo globo de terra. Por pouco tempo!

As investidas do dragão se voltam novamente para a mãe órfã de seu filho. Neste conflito
cósmico, ela representa cada vivente que descobre quão estreito e difícil é o caminho que
conduz para a plenitude da vida. Ela é forte e é tão frágil. Ela é corajosa e é tão receosa. Ela é
dedicada e é tão imperfeita. Ela é tão cheia de fé. As forças do alto não cessam de socorrê-la
em todas as perseguições que o senhor do mal lhe inflige.

Expressionismo e realismo mesclam-se nas tintas deste quadro do conflito cósmico. As


primeiras pinceladas foram dadas há tanto tempo, mas ele ainda não está pronto. As forças
do céu e da terra se misturam, se juntam e se digladiam para completar essa magnífica obra.

Sentará no glorioso trono o bendito Filho. Sua primeira aparição dividiu a nossa história em
duas. Seu aguardado retorno inaugurará uma nova dimensão da existência, onde brilharão,
como o sol do meio dia, a justiça e a paz abraçadas com o amor e a verdade.

(Inspirado no capítulo 12 do livro bíblico “Apocalipse”.)

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