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A JORNADA DE UM PEQUENO RIO

Disse o rio: “Posso me tornar um grande rio.”


Esforçou-se muito, mas havia uma grande pedra a atrapalhá-lo.
O rio então resolveu: “Contornarei essa pedra.”
O riozinho insistiu e insistiu e, como tinha muita força, conseguiu contornar a pedra.
Logo o rio enfrentou um muro enorme e investiu contra ele sem descanso. No fim, criou um
desfiladeiro e esculpiu um caminho por ele.
Cada vez maior, o rio disse: “ Eu consigo. Sou capaz de investir contra meus obstáculos. Não
desistirei por nada neste mundo.”
Então surgiu uma floresta enorme.
Disse o rio: “Seguirei em frente de qualquer forma e forçarei essas árvores a caírem.”
E ele assim o fez. Agora poderoso, o rio chegou à borda de um deserto enorme, onde o sol fustigava.
Disse o rio: “Atravessarei este deserto.”
Mas a areia quente logo começou a absorver toda a sua água.
Disse o rio: “Oh, não. Mas vou conseguir. Atravessarei o deserto.”
Todavia, o rio logo foi drenado pela areia, até se tornar apenas uma pequena poça de lama.
Então o rio ouviu uma voz do alto: “Entregue-se apenas. Deixe que eu o exalte. Deixe-me assumir o
controle.”
Ao que o rio proclamou: “Aqui estou.”
O sol então levantou o rio e o transformou em uma nuvem muito grande. Carregando-o por cima do
deserto, permitiu à nuvem chover e deixar os campos longínquos frutíferos e viçosos.

Há um momento em nossa vida em que nos postamos diante do deserto e queremos agir por nossa
conta. Mas então a voz nos alcança:
– Chega. Entregue-se. Nesta terra ressequida, eu o farei produzir muitos frutos. Sim, confie em mim.
Renda-se a mim.
O que conta na sua vida e na minha não são os sucessos, mas os frutos. Os frutos da nossa vida
costumam nascer da dor e da nossa vulnerabilidade e perdas. Eles só chegam depois de o arado talhar
nossa terra. Deus quer que sejamos frutíferos.
A questão não é: “Quanto ainda posso fazer nos anos que me restam?”
Mas sim: “Como posso me preparar para a entrega total de modo que minha vida seja frutífera?”
Nossa vidinha é breve, humana. Aos olhos daquele que nos chama de amados, no entanto, somos
grandes – maiores do que os anos que temos. Daremos frutos, frutos que você e eu não veremos nessa
Terra, mas em cuja realidade podemos confiar.

(texto extraído do livro “Uma Espiritualidade do Viver” escrito por Henri J. M. Nouwen)

HENRI J. M. NOUWEN nasceu na Holanda, formou-se em teologia e psicologia, e foi ordenado padre em
1957. Lecionou por quase vinte anos no Instituto Teológico Católico de Utrecht, Holanda, na Universidade de
Notre Dame e nas escolas de teologia de Yale e Harvard. Mais tarde, ele se dedicaria ao cuidado de deficientes
mentais, na Comunidade da Arca, em Toronto, Canadá. Henri Nouwen faleceu em 1996.

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