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Contres, uma versão ampla

O ambiente familiar sem dúvidas contribui de maneira negativa ou positiva para o

comportamento do indivíduo.

Seguindo essa linha de raciocínio, é de extrema eficácia colher dados comprobatórios e

relevantes a esse meio.

Posto isso, é de suma importância diagnosticar a herança família, para se ter uma noção

a qual propósito e estratégias devem recorrer os pais no âmbito da prática de sua

atividade.

Contres Nasceu fora do casamento, e essa situação familiar ainda hoje é muito

conturbada. Seu pai é casado, e tem o ensino fundamental completo. Já sua mãe é

solteira, costureira, e tem o ensino fundamental incompleto, porém ela é de uma

inteligência absurda.

A família é de classe popular, e por conta desse motivo sua mãe ficou impossibilitada de

continuar os estudos, por ser mãe solteira, e tendo que sustenta 9 filhos, passando assim

a ser a “chefe” da família, onde a figura de um homem é de patamar alto, nessa posição

onde a sociedade capitalista e machista impera.

Desde o início da adolescência de Contres, ela comentou que iria dispor livro arbítrio

para lidar com os aspectos estruturais humanos, mas em especial quis realmente montar

uma estratégia para família, e consequentemente trazendo linguagem saudável de modo

eficaz no quesito família.

Contres e seus oito irmãos eram filhos da mesma mãe, com pais distintos. Ingressaram

na mesma faixa etária de idade na escola, onde se tinha em vista a internalização das
chances objetivas, ou seja, quanto mais cedo fossem para a escola, mais cedo teria

resultado no capital econômico.

Almejando o ensino aprendizagem, por intermédio do contexto histórico, onde é dito

que cabe aos pais adotarem a estratégia do ingresso dos seus filhos ao ambiente escolar,

ou seja, minha mãe nunca abstraiu a possibilidade de me inserir numa escola que, à

priori fosse pública, e de preferência perto da nossa habitação, sem checar a teoria de

ensino.

Como até hoje nossa classe é baixa nunca houve ascetismo, tudo que minha mãe

comprava em relação à escola era muitas vezes abaixo do necessário, pois, ela precisava

adquirir produto para os outros filhos. Essa estratégia igualitária que era posto na

família humilde, não era adotada na escola, lá se encontrava classe média baixa,

enquanto eu era inserida na classe popular.

Minha mãe privatizou inúmeras ocasiões de lazer e até mesmo alimentícias para

contribuir com os estudos de seus filhos.

Numa tentativa de aumentar o capital de sobrevivência da família, não sobrava tempo

para minha mãe acompanhar meus estudos, pois tinha que trabalhar em casa para

garantir o sustento da família.

Nas minhas reuniões escolares minha mãe nunca comparecia, mandando preencher sua

ausência os vizinhos mais próximos.

Meus irmãos nenhum têm ensino superior, alguns nem ensino médio. Apesar de serem

nove filhos, em relação acadêmica eu sou unilateral.

Houve abandono de alguns para trabalhar e ajudar em casa, mesmo com a resistência da

“chefe”.
Em momento alguma nossa condição de vulnerabilidade socioeconômica nos deu a

oportunidade de frequentar algo de lazer ou cultura, como por exemplo: cinema, teatro.

Coisas que para uma realidade de classe popular é considerado utópico.

Viagens de férias eram feitas de um bairro para outro para passar o período na casa de

algum parente, mas não era hábito e sim exceções.

A prática de lazer aderida por minha família era fazer o que desse para fazer,

improvisando brinquedos e de preferência gratuito.

Minha mãe me pressionava para que ingressasse na faculdade para ela não importava o

curso e sim o fato de estar na faculdade, por dois motivos:

 Primeiro por motivo financeiro, para estabilizar nossa vida financeira, e num

segundo momento para ter o prazer de dizer para suas colegas de classe média

baixa que, sua filha está na universidade.

E levada por esse postulado ela fez o vestibular na esperança de obter uma pontuação

que baseasse em seu ingresso no curso de Direito, porém não deu, e por insistências de

terceiros escolheu outro curso.

Na sua família não há pessoas da área, pois ninguém, absolutamente ninguém além de

dela era ingresso em ensino superior.

Sua família não tinha ideia assim como ela do curso que iria cursar. Não foi uma

escolha voluntária, e sim uma pressão psicológica. A aceitabilidade do que sua família

pensava que seria positiva, na verdade não era.

Antes tinha uma motivação de estar no curso de Direito porque se identificava, e porque

a aquisição para uma ascensão financeira seria mais fácil e veloz.

Mas ela ficou bastante feliz por participar do ensino aprendizagem do curso de

Pedagogia, pois foi de extrema importância para ela. Floriu sua mente com ideias

autônomas que perpassa por todo um contexto histórico da sua vida acadêmica e social.
Sua real esperança era contextualizar empiricamente todo o aprendizado adquirido no

curso, além de crescer financeiramente porque estar inserida num país capitalista, e seria

hipocrisia da parte dela não aproveitar essa evolução.

Em suma, o maior e mais provável capital que afeta no contexto histórico, é o capital

cultural.

Por isso em seu projeto monográfico ela resolveu pincelar informações sobre qualquer

indivíduo, seja ele da classe popular, média baixa, média alta ou elite.

Esse argumento é posto na medida que, muitas estratégias adotadas não condizem

diretamente no histórico, assim como a herança de capital cultural condiz.

Talvez seja a aparência superficial, talvez seja o sentimento oculto ou pode até ser a

escassez de conversas profundas, onde suas dores são indagações coletivas e,

consequentemente dialogar poderia ser algo que a libertasse do pensamento suicida.

Mas ela não tinha isso. Conversa séria com um familiar estava fora de cogitação, isso

porque seu drama era motivo de sacarmos e muita zombaria.

Contres era alta, negra, olhos pretos feito jabuticabas e um sorriso marfim encantador.

Gostava de usar tranças. Tinha seu peso combinando com sua altura.

Muito sorridente. Talvez isso dificultou o diagnóstico passivo de uma depressão, mas

acredito que não (era a real falta de atenção).

Ela adorava ficar tocando violão. Tinha uns rascunhos que outrora fez, era uma ótima

compositora.

Escrever música era seu refúgio dos desprazeres corriqueiros. Criar uma zona de

conforto era sua estratégia para estimular uma felicidade supérflua.

Porém, quando se trata do ambiente familiar, toda a atenção é pouca para não sabotar

um ente querido, e contornar de forma sustentável uma enfermidade adquirida pelo

panorama local. Isso sem dúvida é a gênese de um grave problema que viria.
Recentemente ela tinha sofrido um acidente gravíssimo que chocou a comunidade onde

vivia, e em demasiado sua família. Ela ficou com certas limitações, e isso ajudou em sua

decadência.

As vezes alguns membros do ciclo achavam que estavam ajudando, mas estavam

prescindindo sua capacidade e seu livre arbítrio. Outras vezes, quando a ajuda realmente

era necessária, eles fechavam os olhos como alguém que tem astigmatismo e é sensível

a luz.

Os anos se passaram e ela foi posta em esquecimento, mas sua revolução obteve atenção

necessária.

Depois de recuperada ela seguiu firmemente, mas no seu íntimo o trauma lhe

atormentava de uma maneira danosa. Ela sempre tinha alucinações e vontade de se

matar.

Sua vida amorosa era um tanto agitada. Se relacionava, mas decidia silenciar o

sentimento, assim como silenciava a dor que sentia por sua família ser tão

incompreensível, e não ter um mínimo de respeito para com ela.

Objetos pessoais sumiam, isso a irritava profundamente. Não pelo valor material, mas

sim pela falta de consideração familiar.

Na casa dela a convivência era rancorosa e sem sentido algum. Contres se sentia numa

prisão perpétua, pois aquele ambiente era um ciclo vicioso de horror. Digo isso porque

ela era muito apegada a mãe que tanto amava. O amor das duas era recíproco.

D.Joana tentava apaziguar tudo que na casa acabava em 'buchichos'. Contres chorava

loucamente por não saber o que fazer, pois a perturbação era exagerada.

Ela se preparava para prestar concurso, mas o ambiente em que ela vivia era muito

barulhento e, ademais, os entes não tinham respeito e consideração. Mas quando passou

no concurso o orgulho era grande.


Um dizia: olha, gente! Minha prima passou no concurso.

Outro argumentava: realmente minha irmãzinha é intelectual, na minha família só tem

pretas e inteligentes.

Um dia ela fez as malas, e já estava tudo certo para seu novo hábitat, mas a mãe

implorou sua estada. Disse que a filha não ia de fato conseguir viver sozinha, solitária.

Mal sabia

que sua verdadeira solidão era aquele ambiente que apesar de sempre ter corpos

transitando, era sempre raso, frio e calculista.

Contres sofria com a falta de regularização que a casa familiar trazia (convivência).

Certo dia ela tentou se suicidar. Deu muito errado, apesar de ela ter convulsão pela

quantidade de remédio que tomou.

Voltando para a casa, ela foi aconselhada a buscar ajuda profissional...

Ela usou o serviço psicológico por meses e logo foi diagnosticada com depressão.

Contudo, começou a beber e se drogar exageradamente. Aquelas drogas lícitas e ilícitas

eram uma espécie de anestesia para sua dor e o uso ocasionou overdose. Essa foi a

segunda tentativa de suicídio, e a família não percebeu. Estavam muito ocupados com

os 'buchichos'.

Passou um bom tempo e Contres estava indo muito bem, tanto psicologicamente como

fisicamente com ajuda de remédios, exercícios e orações pois ela era uma mulher com

uma fé engrandecedora, e não sei ao certo sua religião. Mas tinha uma enorme

decadência quando as pessoas do seu ciclo diziam que aquela situação depressiva era

falta do onipotente.

Teve uma discussão com um dos familiares, ela conteve o impulso de partir para a

agressão física, chorou e foi para o quarto, murmurou muito e chorou ao extremo.

Sentou e começou a rabiscar algo.


No dia seguinte D. Joana sentiu falta de Contres, pois todas manhãs ela tomava café na

porta da rua (o ar livre lhe compreendia mais que sua família).

Quando D. Joana entrou no quarto se chocou com a cena. A filha sentada na cadeira e

um lápis enfiado no seu olho, e diversos cortes no pulso esquerdo. O sangue ainda

jorrava. No caderno estava escrito:

Decide tramitar um pouco do que de fato está me corroendo, e para isso foi uma

inspiração incalculável para falar da mãe D. Joana, assim ela gosta de ser chamada. O

que falar dessa mulher incrível, que teve 9 filhos e criou todos sozinha, tem 22 netos de

sangue e os de consideração, é amada e respeita por muitos aonde quer que ela chegue.

Lutou e luta bastante pela a nona filha (eu), que passei por condolências. A dor de uma

mãe ao ver sua filha numa cama de hospital sem poder se mexer, mas ela foi guerreira

até nos mínimos detalhes, e se até nesse exaro momento estou sendo forte é porque ela

foi meu espelho. Mas o detalhe de ter uma mãe maravilhosa lutando por meu bem estar

e em paralelo a isso um contorno de exaustão que a cada minuto me faz pensar sobre

uma existência que sinceramente estar no final da desistência.

A cada ia que passa minha vida fica mais difícil de aturar.

Eu não sei mais o que faço, nem o que faço, muito menos como faço para me livrar de

alguns empecilhos.

Não ainda eu me esforçar. Tudo se contradiz.

Quando tive o acidente tentei abafar a dor de ficar limitada em certos movimentos.

Quando fui estrupada novamente abafei a dor porque apesar de eu ter apenas 7 anos,

muitos me culparam pelo o que aconteceu, e posteriormente pela morte do molestador.

Aos 13 meu pai me abandonou no sol quente do meio dia, alegando que a mulher dele

jamais poderia me ver.


Um dos meus irmãos foi morto pela gangue local. Morto com mais de dez tiros na

cabeça.

Bebo muito, mas não é prazer e sim uma forma de adormecer minha dor e, para

completar virei viciada em drogas. Só fico bem se tiver cocaína.

Enfim, mesmo em outra dimensão ainda assim lembrarei de alguns.

Enquanto Contres escrevia aquilo, o caderno já estava ensopado de gotículas salgadas

que saiam sem cessar dos seus olhos.

Quando D. Joana virou a folha tinha mais coisa escrito, desta vez rabiscado com sangue

que jorrava do seu pulso, ela escreveu:

Família, minha base.

Família, meu suicídio.

Na verdade, Contres só queria ser uma borboleta e se livrar do casulo, mas a

transformação infelizmente foi interrompida.

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