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BURNOUT EM PROFESSORES

Isaac Aisenberg Ferenhof* e Ester Aisenberg Ferenhof**


PUBLICADO: ECCOS – REVISTA CIENTÍFICA – Avaliação e Mudanças – CENTRO
UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO - SÃO PAULO, v. 4, n. 1, p. 131/151. 2002. TÍTULO:
“BURNOUT
EM PROFESSORES”.

No início da década de 1970, Herbert Freudenberger, era médico de uma representação


comunitária que focava no abuso de drogas, na Cidade de Nova Iorque, Estados Unidos da
América. Naquela época, os droga adictos eram freqüentemente chamados de ‘burnouts’. 1
Ser chamado de burnout, significava que a pessoa não ligava mais para qualquer coisa,
exceto drogas.
Como conseqüência de um lento processo de erosão da motivação e competência, a pessoa
não era capaz de muita coisa. Por esta razão, tornavase um ‘burnout’. (...). Em 1974
Freudenberger publicou um artigo numa Revista de Psicologia, e utilizou a palavra
‘burnout’ pela primeira vez.

1 Gíria local utilizada àquela época.


6
Várias outras nominações são elencadas no mesmo texto, como as de SÖDERFELD e
WARG (id.ib.: 107). Embora sejam diferentes, as palavras-chave têm muito em comum
- fadiga, frustração, desengajamento, estresse, depleção, desajustamento, desesperança,
drenagem emocional, exaustão emocional, cinismo. O próprio Skovholt define a
Síndrome de Burnout como a hemorragia do self, explicando que self é o Eu
intrapessoal, resposta ao questionamento: quem é você? Dialogando com um adicto de
drogas, este responde: sou um D.P. (dependente químico), ou seja, um sujeito sem
identidade própria.
Christine Maslach, uma professora universitária de Psicologia da Califórnia, USA, é
considerada uma das líderes da pesquisa da Síndrome de Burnout no mundo. O
Maslach
Burnout Inventory - MBI tornou-se “o instrumento de pesquisa de Burnout” 2
(MASLACH, JACKSON e LEITER, 1997). Em seu recente livro, The Truth About
Burnout (MASLACH e LEITER, 1997: 17), explicita sua definição: “Burnout é o índice
do deslocamento entre o que as pessoas são e o que elas tem que fazer. Isto representa
uma erosão em valores, dignidade, espírito, e força de vontade. Uma erosão da alma
humana”.
A Síndrome é entendida por CODO (1999: 237) como um conceitomultidimensional,
que pode ser definido como “Síndrome da Desistência do Educador. Um homem, uma
mulher, cansados, abatidos, sem mais vontade de ensinar, um professor que desistiu. (...)
Será que este profissional não percebe a importância do seu trabalho na formação de
nossos filhos? Não. muitas vezes não percebe mesmo. Será que não é capaz de
envolver-se, emocionar-se por seu trabalho? Não, muitas vezes não é capaz mesmo”.
Segundo MASLACH e JACKSON (apud Codo 1999: 238), na Síndrome de Burnout, “o
trabalhador se envolve afetivamente com os seus clientes, se desgasta e, num extremo,
desiste, não agüenta mais, entra em Burnout”.
Para Monteiro (2000) e MASLACH e LEITER (1997: 186), ela envolve três principais
componentes:
Exaustão emocional (EE) – situação em que os professores sentem que, afetivamente,
já não podem dar de si mesmos; percebem que a energia e os recursos emocionais
próprios se esgotam, devido ao contato diário com os
2 Esteinstrumento de pesquisa qualitativa e validade internacional, é realizado por meio de questionários
fechados. Na obra citada há uma ´chave` no MBI para sua interpretação, que vem como encarte.
7
problemas no ambiente escolar. Quando estes sentimentos de impotência se tornam
crônicos, educadores julgam-se incapazes de uma doação integral aos discentes;
Despersonalização (DP) – referida ao segundo nível da Síndrome de Burnout em
professores, ocorre quando estes não mais apresentam sentimentos positivos a respeito
de seus alunos e desenvolvem cinismo, sentimentos e atitudes negativas. Entre as várias
maneiras de os professores mostrarem indiferença e agirem negativamente sobre seus
alunos estão os rótulos negativos, como: “todos eles são uns animais”. Dessa forma,
friamente, distanciam-se do corpo discente, como se ficassem ‘entrincheirados’ atrás de
suas mesas, desarmonizando os estudantes com pressões psicológicas – endurecimento
afetivo, ‘coisificação’ da relação;
Baixa realização pessoal (PA) – um sentimento de baixa realização pessoal do
trabalho, que é particularmente crucial para professores. A maioria dos educadores
ingressa na profissão para ajudar os alunos na apropriação do conhecimento,levando-os
ao crescimento intelectual e ao resgate da auto-estima. Por esse motivo, quando
percebem que não mais contribuem para o desenvolvimento dos estudantes, os
professores ficam vulneráveis a sentimentos de profundo desapontamento e enfrentam a
depressão psicológica.
Para o educador, é muito difícil desistir de sua dedicação ao ensino, abandoná- la, pois o
trabalho educacional lhe propicia (ou deveria propiciar) outras recompensas, que não as
monetárias. Essa dificuldade gera a tendência de uma ‘evolução negativa’ no trabalho,
afetando a habilidade profissional e a disposição de atender às necessidades dos
estudantes. Além disso, o contato e o relacionamento com as pessoas usuárias do
trabalho ficam prejudicados – corpo discente e docente, pessoal técnico administrativo,
enfim, a organização como um todo.
Em 1991, FABER (apud CODO, 1999) realizou uma revisão das diferentes perspectivas
de abordagem da Síndrome de Burnout e seus respectivos autores. Freudenberger, numa
perspectiva clínica, considera Burnout um estado de exaustão, conseqüência de um
trabalho extenuante que, muitas vezes, impossibilita a satisfação das próprias
necessidades do educador. Maslach e Jackson, representando uma abordagem
sociopsicológica, apontam a Síndrome como o estresse laboral que leva ao tratamento
mecânico do cliente. Ela aparece, assim, como uma reação à tensão emocional crônica
8 gerada pelo contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente em
atividades que requerem grande responsabilidade do profissional e permanente atenção
no trato com seus pares. A perspectiva organizacional de Cherniss pondera que os
sintomas componentes da Síndrome de Burnout são respostas possíveis a um trabalho
estressante, frustrante ou monótono. Alerta, inclusive, para a diferença entre Burnout e
alienação.
A alienação diminui a liberdade do ‘sujeito’ para levar a cabo sua tarefa; no caso da
Síndrome, a situação se inverte: o ‘sujeito’ tem liberdade de ação, mas pesa sobre ele
uma tarefa impossível de realizar. Sarason, que defende uma perspectiva sócio-
histórica, considera que, quando as condições sociais não canalizam o interesse de uma
pessoa para ajudar outra, é difícil manter o comprometimento no trabalho de servir aos
demais.
Importante destacar as pesquisas que têm demonstrado que a Síndrome de Burnout
também atinge professores altamente motivados, quando reagem ao estresse laboral
intensificando a carga de trabalho até o colapso. Existe um consenso que define essa
reação como resposta exclusiva ao estresse laboral crônico, e que não se confunde com
estresse – esgotamento pessoal com interferência na vida do indivíduo e não
necessariamente na sua relação com o trabalho.
A revisão teórica sugere que Burnout ocorre quando certos recursos pessoais são
perdidos, ou se configuram inadequados para atender às demandas, ou não
proporcionam, por falta de estratégias de enfrentamento, retornos esperados.
Do ponto de vista legal a Síndrome de Burnout toma corpo, no Brasil, com a
republicação no Diário Oficial da União (D.O.U.), em 18 de junho de 1999, do
Regulamento da Previdência Social, alterado nos seus anexos. O anexo II, que trata dos
agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho, previsto no
Art. 20 da Lei 8213/91, teve apensado o item XII ao texto de Lei, na parte específica
que trata dos “transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho".
(Grupo V do Código Internacional de Doenças, CID-103).

A SÍNDROME DE BURNOUT E O TRABALHO DOCENTE


Mary Sandra Carlotto
Psicologia em Estudo, Maringá, v. 7, n. 1, p. 21-29, jan./jun. 2002

Burnout é um tipo de estresse ocupacional que acomete profissionais envolvidos com qualquer tipo
de cuidado em uma relação de atenção direta, contínua e altamente emocional (Maslach & Jackson,
1981; 1986; Leiter & Maslach, 1988, Maslach, 1993; Vanderberghe & Huberman, 1999; Maslach &
Leiter, 1999). As profissões mais vulneráveis são geralmente as que envolvem serviços, tratamento
ou educação (Maslach & Leiter, 1999).
Atualmente, a definição mais aceita do burnout é a fundamentada na perspectiva social-psicológica
de Maslach e colaboradores, sendo esta constituída de três dimensões: exaustão emocional,
despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho.
Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) assim definem as três dimensões da síndrome: Exaustão
emocional, caracterizada por uma falta ou carência de energia, entusiasmo e um sentimento de
esgotamento de recursos; despersonalização, que se caracteriza por tratar os clientes, colegas e a
organização como objetos; e diminuição da realização pessoal no trabalho, tendência do trabalhador
a se auto-avaliar de forma negativa. As pessoas sentem-se infelizes consigo próprias e insatisfeitas
com seu desenvolvimento profissional.
O processo do burnout é individual (Rudow, 1999). Sua evolução pode levar anos e até mesmo
décadas (Rudow, 1999). Seu surgimento é paulatino, cumulativo, com incremento progressivo em
severidade (França, 1987), não sendo percebido pelo indivíduo, que geralmente se recusa a acreditar
estar acontecendo algo de errado com ele (França, 1987; Dolan, 1987; Rudow, 1999).
Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) pontuam que, nas várias definições do burnout, embora com
algumas questões divergentes, todas encontram no mínimo cinco elementos comuns:
1) existe a predominância de sintomas relacionados a exaustão mental e emocional, fadiga e
depressão;
2) a ênfase nos sintomas comportamentais e mentais e não nos sintomas físicos;
3) os sintomas do burnout são relacionados ao trabalho;
4) os sintomas manifestam-se em pessoas “normais” que não sofriam de distúrbios psicopatológicos
antes do surgimento da síndrome;
5) a diminuição da efetividade e desempenho no trabalho ocorre por causa de atitudes e
comportamentos negativos.

IDENTIFICANDO O BURNOUT
Farber (1991) divide as manifestações do burnout em professores em sintomas individuais e
profissionais, destacando, entretanto, que estas questões são de difíceis generalizações e descrições
universais. Em geral, segundo o autor, os professores sentem-se emocional e fisicamente exaustos,
estão freqüentemente irritados, ansiosos, com raiva ou tristes. As frustrações emocionais peculiares a
este fenômeno podem levar a sintomas psicossomáticos como insônia, úlceras, dores de cabeça e
hipertensão, além de abuso no uso de álcool e medicamentos, incrementando problemas familiares e
conflitos sociais.
Nos aspectos profissionais, o professor pode apresentar prejuízos em seu planejamento de aula,
tornando-se este menos freqüente e cuidadoso. Apresenta perda de entusiasmo e criatividade,
sentindo menos simpatia pelos alunos e menos otimismo quanto à avaliação de seu futuro. Pode
também sentir-se facilmente frustrado pelos problemas ocorridos em sala de aula ou pela falta de
progresso de seus alunos, desenvolvendo um grande distanciamento com relação a estes.
Sentimentos de hostilidade em relação a administradores e familiares de alunos também são
freqüentes, bem como o desenvolvimento de visão depreciativa com relação à profissão. O professor
mostra-se autodepreciativo e arrependido de ingressar na profissão, fantasiando ou planejando
seriamente abandoná-la.
Segundo Edelwich e Brodsky (1980), os professores apresentam burnout quando gastam muito
tempo de seu intervalo denegrindo alunos, reclamando da administração, arrependendo-se de sua
escolha profissional e planejando novas opções de trabalho.

PRINCIPAIS CAUSAS
Muitos estudos têm se preocupado em identificar as causas do burnout especificamente na
população de professores. Farber (1991) parte do pressuposto de que suas causas são uma
combinação de fatores individuais, organizacionais e sociais, sendo que esta interação produziria
uma percepção de baixa valorização profissional, tendo como resultado o burnout. O autor, ao se
referir aos fatores de personalidade, diz que a literatura considera professores idealistas e
entusiasmados com sua profissão mais vulneráveis, pois sentem que têm alguma coisa a perder.
Estes professores são comprometidos com o trabalho e envolvem-se intensamente com suas
atividades, sentindo-se desapontados quando não recompensados por seus esforços. Idealizações em
relação ao trabalho e à organização propiciam o surgimento do burnout (Maslach & Jackson,1984b).
Professores possuem expectativas de atingir metas um tanto ouquanto irrealistas, pois pretendem não
somente ensinar seus alunos, mas também ajudá-los a resolverem seus problemas pessoais (Maslach
& Goldberg,1998). Maslach e Jackson (1984a) afirmam que a educação pode ser associada ao
burnout, devido ao alto nível de expectativa destes profissionais, o qual não pode ser totalmente
preenchido.
Quanto às variáveis sociodemográficas, Farber (1991) refere que estudos têm mostrado serem os
professores do sexo masculino mais vulneráveis que os do sexo feminino, o que levou àsuposição de
que mulheres são mais flexíveis e mais abertas para lidar com as várias pressões presentes na
profissão de ensino. Etzion (1987) associa as diferenças encontradas nos níveis do burnout às
questões tradicionais do processo de socialização e organização social, as quais se colocam
diferenciadamente para homens e mulheres. Professores com menos de 40 anos apresentam maior
risco de incidência, provavelmente devido às expectativas irrealistas em relação à profissão. Jovens
precisam aprender a lidar com as demandas do trabalho (Maslach,1982) e, por esta razão, podem
apresentar maiores níveis da síndrome. Professores com mais idade, segundo a autora, parecem já ter
desenvolvido a decisão de permanecer na carreira, demonstrando menos preocupação com os
estressores ou com os sintomas pessoais relacionados ao estresse.
No que tange às variáveis profissionais, estudo realizado por Friedman (1991) identificou que,
quanto maior a experiência profissional do professor, menores eram os níveis do burnout. Já para
Schwab e Iwanicki (1982) e Woods (1999), mais significativo que os anos de prática de ensino é o
nível de ensino em que o professor atua. Professores de ensino fundamental e médio apresentavam
mais atitudes negativas em relação aos alunos e menor freqüência de sentimentos

Condições de trabalho e saúde do/a professor/a


universitário/a
Maria de Fátima Evangelista Mendonça Lima_, Dario de Oliveira Lima-Filho
Ciências & Cognição, Vol 14 (3): 062-082 <http://www.cienciasecognicao.org> 30 de novembro de 2009

Nóvoa (1995, 1999) e Esteve (1995, 1999) denominam de “mal-estar docente” o


fenômeno decorrente dessa mudança na política educacional, o qual se relaciona ao
ambiente profissional do professor, estando presentes deficiências nas condições de
trabalho, falta de recursos humanos e materiais, violência nas salas de aulas e
esgotamento físico.

Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em


professores
Burnout Syndrome and the confronting strategies in teachers
Vania Mazon; Mary Sandra Carlotto; Sheila Câmara
Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicologia do Curso de Psicologia, Canoas, RS,
Brasil

Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 60, n. 1, 2008.


Retirado do World Wide Web http://www.psicologia.ufrj.br/abp/ 56

O Ministério da Saúde brasileiro (2001) reconhece a “Síndrome de Burn-out” ou “Síndrome do Esgotamento Profissional” como um
tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho, que afeta principalmente profissionais da
área de serviços ou cuidadores, quando em contato direto com os usuários, como os trabalhadores da educação, da saúde, policiais,
assistentes sociais, agentes penitenciários, entre outros.
De acordo com Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), Burnout é um fenômeno psicossocial que surge como uma resposta crônica aos
estressores interpessoais ocorridos na situação de trabalho, sendo constituído de três dimensões relacionadas, mas independentes:
Exaustão Emocional, Despersonalização e Baixa Realização Profissional (BENEVIDES-PEREIRA, 2002; MASLACH; JACKSON,
1981; MASLACH, 1993;MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001). A Exaustão Emocional é caracterizada pela falta ou carência
de energia, entusiasmo e por sentimento de esgotamento de recursos. A Despersonalização faz com que o profissional passe a tratar
clientes, colegas e a organização como objetos. Por fim, a Baixa Realização Profissional caracteriza-se por uma tendência do
trabalhador em se auto-avaliar de forma negativa, sentindo-se infeliz e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional.
O processo de desenvolvimento de Burnout é individual e sua evolução pode levar anos e até mesmo décadas (RUDOW, 1999). Seu
surgimento é paulatino, cumulativo, com incremento progressivo em severidade (FRANÇA, 1987), não sendo percebido em sua
fase inicial pelo indivíduo, que, geralmente, se recusa a acreditar estar acontecendo algo errado com ele (DOLAN, 1987; FRANÇA,
1987; RUDOW, 1999). No que diz respeito às repercussões, estudo de Codo (1999) destaca as doenças cardiovasculares, distúrbios
advindos do estresse, labirintite, faringite, neuroses, fadiga, insônia e tensão nervosa. Conforme o autor, o estresse ocupacional pode
ser constatado, entre os docentes, pelos seus problemas de saúde e pela redução na freqüência ao trabalho. Além das conseqüências
individuais, Abel (1999) refere que Burnout em professores afeta diretamente o trabalho com alunos e a qualidade
de ensino.

INVESTIGANDO O BURNOUT EM PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS


Lenice Pereira Garcia*
Ana Maria T. Benevides-Pereira**Revista Eletrônica InterAção Psy – Ano 1, nº 1- Ago 2003
– p. 76-89

Burnout consiste em uma expressão inglesa para designar aquilo que deixou de funcionar
por exaustão de energia, e foi utilizada inicialmente por Brandley (1969), mas veio a se
tornar mundialmente conhecida a partir dos artigos de Freudenberger de 1974, 1975 e
1979.
Para Maslach e Leiter (1999), o burnout não é um problema do indivíduo e sim do
ambiente social onde seu trabalho é desenvolvido. Quando as empresas não se atém a
essa possibilidade, não levando em consideração o lado humano de qualquer atividade,
utilizando as pessoas como máquinas de produção em série, podem levar indivíduos “a
uma grave deterioração do desempenho no trabalho”(p.36), fazendo que tenham além de
prejuízos pessoais dentro da empresa, prejuízos com outras pessoas de suas inter-
relações, principalmente a família e amigos.
Em seu livro O mal-estar docente, Esteve (1999, p.11-13) explora profundamente a saúde
dos professores e a rotina de uma sala de aula. Nesta publicação ele relata que o mal-estar
docente é “[...] um fenômeno internacional”, cujos sintomas principiaram a fazer-se “[...]
evidentes no início da década de oitenta nos países mais desenvolvidos”, entre eles Suécia,
França e Reino Unido. Afirma que dados estatísticos nesta categoria têm comprovado
problemas relacionados à saúde, aos recursos materiais e humanos, conflitos em questões
típicas da função de professor, além de modificações no contexto social, mudando
“significativamente o perfil do professor e as exigências pessoais e do meio em relação à
eficácia de sua atividade”

Burnout: por que sofrem os professores? ESTUDOS E PESQUISAS EM PSICOLOGIA, UERJ,


RJ, ANO 6, N. 1, 1º SEMESTRE DE 2006
Segundo Kuenzer (2004), o trabalho do professor se objetiva na tensão entre o
trabalho em geral (qualificador, transformador, prazeroso) e o trabalho capitalista
(mercadoria comprada para valorização do capital), tensão acentuada pela natureza
não-material desse trabalho, ou seja, não há separação entre produto e produtor.
Esse caráter do trabalho docente permite tanto reafirmar o espaço da consciência e
da subjetividade e, portanto, o poder do trabalhador, quanto cada vez mais
diminuir o espaço de intervenção do trabalhador, com a crescente mercantilização
dos serviços educacionais e “flexibilização” das relações de trabalho.
A contradição, que é parte da natureza do trabalho não-material - que não se
objetiva em um produto, mas somente presta um serviço – é “uma das condições
que podem trazer sofrimento e não realização, se não for adequadamente
enfrentada” tanto pelo professor, quanto pelas “formas saudáveis de organização
do trabalho” (KUENZER, 2004, p. 116).
O burnout é o termo utilizado por autores estrangeiros para designar o estresse
associado ao trabalho e foi traduzido para a língua portuguesa como “perder o
fogo”, “perder a energia”. Segundo Malagris (2004), representa desgaste e falta de
produtividade, caracterizado por um aspecto relacional, na medida em que é uma
resposta ao estresse laboral crônico e não o estresse em si. O conceito original,
embora tenha se desenvolvido na década de 1970, surgiu em 1969, como
fenômeno psicológico que atinge trabalhadores assistenciais.
No caso dos professores, Reinhold (2002) observou diversas fases da síndrome de
burnout: idealismo; realismo; estagnação e frustração ou quase-burnout; apatia e
burnout total; fenômeno fênix. Na fase do idealismo, descrita como o momento de
grande entusiasmo e energia, parece que o trabalho preenche a vida do professor.
Na segunda fase, quando percebe que suas aspirações e ideais não correspondem à
realidade, o professor começa a sentir frustração e percebe-se que não
recompensado. Intensifica seu trabalho, em busca de realização, mas, vem o
cansaço e a desilusão, acabando o professor por se questionar quanto a sua
competência. Quando o entusiasmo inicial dá lugar à fadiga crônica, é o momento
da estagnação e frustração, ou quase-burnout. É quando aparecem sintomas como
irritabilidade, fuga dos contatos, atrasos e faltas. A seguir, vem a apatia e burnout
total, momento no qual o professor já experimenta desespero, auto-estima corroída
ESTUDOS E PESQUISAS EM PSICOLOGIA, UERJ, RJ, ANO 6, N. 1, 1º SEMESTRE DE 2006 - 95 - e até
depressão. Pode perder o sentido do trabalho e até da vida. Nesse momento surge
o desejo de abandonar o trabalho.
A fase denominada “fenômeno fênix”, segundo Reinhold (2002), significa renascer
das cinzas e nem sempre ocorre. Representa o abandono do trabalho, mesmo antes
da recuperação. Muitos o fazem, enquanto outros se limitam à ansiedade pela
chegada da aposentadoria, feriados e finais de semana. Entretanto, ressalta
Malagris (2004), há os que encontram, nesse momento, mecanismos de
enfrentamento que podem ajudar a “crescer com burnout”.

Preditores da Síndrome de
Burnout em
professores
Síndrome de Burnout em professores
Mary Sandra Carlotto
Sheila Gonçalves CâmaraRevista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) •
Volume 11 Número 1 Janeiro/Junho 2007 • 101-110
Burnout tem atingido várias profissões, mas tem seu foco de estudo especialmente vinculado à
área de ensino e serviços de saúde por serem atividades que envolvem intenso contato com
pessoas (Maslach & Jackson, 1985; Maslach & Leiter, 1997).
No caso de sua ocorrência em professores, esse fenômeno afeta o ambiente educacional e
interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos, levando os professores a um processo de
alienação, cinismo, apatia, problemas de saúde e intenção de abandonar a profissão (Guglielmi
& Tatrow, 1998).
Síndrome de burnou! e carateristicas de cargo em professores universitários

Mary Sandra Carlotto rpot, vol 4, n 2, 2004 A rápida transformação do contexto social, ocorrida
nos últimos anos, tem gerado um aumento das responsabilidades e exigências sobre os educadores
em todos os níveis de ensino. O papel do professor tem se modificado na tentativa de atender às
expectativas e necessidades da sociedade atual.

Síndrome do esgotamento profissional


Revisão Bibliográfica
Joarez Santini Movimento, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 183-209, janeiro/abril de 2004
No Brasil, o Secretário da Previdência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social tornou
pública a nota explicativa sobre o Anexo II do Decreto 3.048, de 06 de maio de 1999, apresentando as 14
classificações de doenças que podem estar relacionadas ao trabalho, em que se encontra a definição da
doença designada como a sensação de estar acabado ("Síndrome do Esgotamento Profissional" ou
"Síndrome de Burnout").

Na décima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10, 1989), o "Burnout" figura como
Síndrome de Esgotamento Profissional dentro de um grupo de classificação que tem como título
"problemas relacionados à organização de seu modo de vida".
Já, para Farber (1984), esse fenômeno é o resultado do estresse excessivo, último passo na progressão dos
propósitos fracassados de manejar e diminuir uma variedade de situações negativas do trabalho. É uma
resposta ao estresse crônico quando outros mecanismos de ajuste não funcionam. Considerando-se que a
síndrome é entendida como um conceito multidimensional que envolve exaustão emocional,
despersonalização e falta de envolvimento pessoal no trabalho, pode-se afirmar que o professor, nessa
situação, se sente totalmente exaurido emocionalmente, devido ao desgaste diário ao qual é submetido no
relacionamento com seus alunos. Por um lado, o professor torna-se incapaz do mínimo de empatia
necessária para a transmissão do conhecimento. Por outro, sua auto-estima é baixa, há sentimento de
exaustão física e emocional.
Um ponto interessante e motivo de reflexão é citado por Codo e Vasquez-Menezes (1999), quando
apontam que a SEP é uma desistência de quem ainda está lá. Encalacrado em uma situação de trabalho
que não pode suportar, mas também que não pode desistir. O trabalhador arma, inconscientemente, uma
retirada psicológica, um modo de abandonar o trabalho, apesar de continuar no posto. Está presente na
sala de aula, mas passa a considerar, cada aula, cada
aluno, cada semestre, como números que vão se somando em uma folha em branco. A síndrome é um
fenômeno real que vai avançando com o tempo, corroendo o ânimo do educador e, dia após dia, o fogo
vai se apagando devagar.
A síndrome tem sido associada a vários tipos de disfunções pessoais e a resultados organizacionais
negativos podendo levar a uma deteriorização do desempenho do indivíduo no trabalho, afetando,
também, às relações familiares e sociais. Segundo Esteve (1994), os principais efeitos da SEP em
professores são:
1. sentimentos de desconcerto e insatisfação frente aos problemas reais da prática de ensinar;
2. desenvolvimento de esquemas de inibição, como forma de cortar a implicação pessoal com o trabalho
que realiza;
1. pedidos de transferências como forma de fugir de situações conflitivas;
2. desejo de abandonar a docência (realizado ou não);
3. absenteísmo do trabalho como mecanismo para cortar a tensão acumulada;
4. esgotamento, cansaço físico permanente;
5. ansiedade de espera;
6. estresse;
7. depreciação de si mesmo, culpa-se ante a incapacidade para qualificar o ensino;
10. ansiedade como estado permanente, associada como causa efeito a diversos diagnósticos de
enfermidade mental;
11. depressão.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ


Batista, Jaqueline Brito Vidal.
Síndrome de Burnout em professores do ensino fundamental: um
problema de saúde pública não percebido/ Jaqueline Brito Vidal
Batista. — Recife: J. B. V. Batista, 2010.
192 f.: il.
Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Centro de Pesquisas
Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, 2010.
Orientadora: Lia Giraldo da Silva Augusto.

Burnout é um termo resultante de uma composição da língua inglesa: burn que


significa queima e out que significa exterior e sugere que a pessoa com esse
tipo de estresse consome-se física e emocionalmente. Salanova e Llorens
(2008) descrevem metaforicamente o Burnout como um estado semelhante a
um fogo que sufoca, uma perda de energia, uma chama que se extingue ou
uma bateria que se esgota.
Quanto ao seu desenvolvimento, a Síndrome de Burnout pode ser abordada a
partir de quatro perspectivas (CARLOTTO, 2002). A primeira é a perspectiva
clínica, proposta por Herbert Freudenberger (1974 apud BENEVIDES-
PEREIRA, 2002), onde o estado de exaustão é o resultado do trabalho intenso
sem a preocupação de atender as necessidades do indivíduo. A segunda é a
perspectiva social-psicológica, já citada anteriormente e defendida por Christina
Maslach (1982) a partir de estudos que identificaram ser o ambiente de
trabalho a base das variáveis preditoras do Burnout. A terceira é a
organizacional, que tem como principal representante Cary Cherniss (1993) e
sua busca de tentar entender como os aspectos de funcionamento da
organização e seu ambiente cultural afetam as pessoas em seu trabalho,
defendendo três dimensões do Burnout (também consideradas por Maslach e
Jackson, 1981 citado por Schaufeli, Maslach e Marek em 1993): exaustão
emocional, despersonalização e sentimento de baixa realização profissional. A
quarta perspectiva é a social-histórica, defendida por Seymor Sarason (1985
apud MORENO JIMENEZ, 2003), que enfatiza o impacto da sociedade como
determinante do Burnout, em detrimento de questões individuais ou
organizacionais.

Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 145-153

SÍNDROME DE BURNOUT: UM ESTUDO COM


PROFESSORES DA REDE PÚBLICA
Graziela Nascimento da Silva1
Mary Sandra Carlotto2

A escola e o professor cumprem papel relevante na socialização do indivíduo. O bom


desempenho das atividades docentes depende das suas condições emocionais favoráveis, sendo
que o professor, no seu papel de educador, é para seus alunos uma referência, um exemplo nas
suas atitudes, no seu caráter, na maneira de tratar o próximo. Lecionar é uma tarefa complexa
que exige deste profissional muita dedicação e desprendimento.

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