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Burnout é um tipo de estresse ocupacional que acomete profissionais envolvidos com qualquer tipo
de cuidado em uma relação de atenção direta, contínua e altamente emocional (Maslach & Jackson,
1981; 1986; Leiter & Maslach, 1988, Maslach, 1993; Vanderberghe & Huberman, 1999; Maslach &
Leiter, 1999). As profissões mais vulneráveis são geralmente as que envolvem serviços, tratamento
ou educação (Maslach & Leiter, 1999).
Atualmente, a definição mais aceita do burnout é a fundamentada na perspectiva social-psicológica
de Maslach e colaboradores, sendo esta constituída de três dimensões: exaustão emocional,
despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho.
Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) assim definem as três dimensões da síndrome: Exaustão
emocional, caracterizada por uma falta ou carência de energia, entusiasmo e um sentimento de
esgotamento de recursos; despersonalização, que se caracteriza por tratar os clientes, colegas e a
organização como objetos; e diminuição da realização pessoal no trabalho, tendência do trabalhador
a se auto-avaliar de forma negativa. As pessoas sentem-se infelizes consigo próprias e insatisfeitas
com seu desenvolvimento profissional.
O processo do burnout é individual (Rudow, 1999). Sua evolução pode levar anos e até mesmo
décadas (Rudow, 1999). Seu surgimento é paulatino, cumulativo, com incremento progressivo em
severidade (França, 1987), não sendo percebido pelo indivíduo, que geralmente se recusa a acreditar
estar acontecendo algo de errado com ele (França, 1987; Dolan, 1987; Rudow, 1999).
Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) pontuam que, nas várias definições do burnout, embora com
algumas questões divergentes, todas encontram no mínimo cinco elementos comuns:
1) existe a predominância de sintomas relacionados a exaustão mental e emocional, fadiga e
depressão;
2) a ênfase nos sintomas comportamentais e mentais e não nos sintomas físicos;
3) os sintomas do burnout são relacionados ao trabalho;
4) os sintomas manifestam-se em pessoas “normais” que não sofriam de distúrbios psicopatológicos
antes do surgimento da síndrome;
5) a diminuição da efetividade e desempenho no trabalho ocorre por causa de atitudes e
comportamentos negativos.
IDENTIFICANDO O BURNOUT
Farber (1991) divide as manifestações do burnout em professores em sintomas individuais e
profissionais, destacando, entretanto, que estas questões são de difíceis generalizações e descrições
universais. Em geral, segundo o autor, os professores sentem-se emocional e fisicamente exaustos,
estão freqüentemente irritados, ansiosos, com raiva ou tristes. As frustrações emocionais peculiares a
este fenômeno podem levar a sintomas psicossomáticos como insônia, úlceras, dores de cabeça e
hipertensão, além de abuso no uso de álcool e medicamentos, incrementando problemas familiares e
conflitos sociais.
Nos aspectos profissionais, o professor pode apresentar prejuízos em seu planejamento de aula,
tornando-se este menos freqüente e cuidadoso. Apresenta perda de entusiasmo e criatividade,
sentindo menos simpatia pelos alunos e menos otimismo quanto à avaliação de seu futuro. Pode
também sentir-se facilmente frustrado pelos problemas ocorridos em sala de aula ou pela falta de
progresso de seus alunos, desenvolvendo um grande distanciamento com relação a estes.
Sentimentos de hostilidade em relação a administradores e familiares de alunos também são
freqüentes, bem como o desenvolvimento de visão depreciativa com relação à profissão. O professor
mostra-se autodepreciativo e arrependido de ingressar na profissão, fantasiando ou planejando
seriamente abandoná-la.
Segundo Edelwich e Brodsky (1980), os professores apresentam burnout quando gastam muito
tempo de seu intervalo denegrindo alunos, reclamando da administração, arrependendo-se de sua
escolha profissional e planejando novas opções de trabalho.
PRINCIPAIS CAUSAS
Muitos estudos têm se preocupado em identificar as causas do burnout especificamente na
população de professores. Farber (1991) parte do pressuposto de que suas causas são uma
combinação de fatores individuais, organizacionais e sociais, sendo que esta interação produziria
uma percepção de baixa valorização profissional, tendo como resultado o burnout. O autor, ao se
referir aos fatores de personalidade, diz que a literatura considera professores idealistas e
entusiasmados com sua profissão mais vulneráveis, pois sentem que têm alguma coisa a perder.
Estes professores são comprometidos com o trabalho e envolvem-se intensamente com suas
atividades, sentindo-se desapontados quando não recompensados por seus esforços. Idealizações em
relação ao trabalho e à organização propiciam o surgimento do burnout (Maslach & Jackson,1984b).
Professores possuem expectativas de atingir metas um tanto ouquanto irrealistas, pois pretendem não
somente ensinar seus alunos, mas também ajudá-los a resolverem seus problemas pessoais (Maslach
& Goldberg,1998). Maslach e Jackson (1984a) afirmam que a educação pode ser associada ao
burnout, devido ao alto nível de expectativa destes profissionais, o qual não pode ser totalmente
preenchido.
Quanto às variáveis sociodemográficas, Farber (1991) refere que estudos têm mostrado serem os
professores do sexo masculino mais vulneráveis que os do sexo feminino, o que levou àsuposição de
que mulheres são mais flexíveis e mais abertas para lidar com as várias pressões presentes na
profissão de ensino. Etzion (1987) associa as diferenças encontradas nos níveis do burnout às
questões tradicionais do processo de socialização e organização social, as quais se colocam
diferenciadamente para homens e mulheres. Professores com menos de 40 anos apresentam maior
risco de incidência, provavelmente devido às expectativas irrealistas em relação à profissão. Jovens
precisam aprender a lidar com as demandas do trabalho (Maslach,1982) e, por esta razão, podem
apresentar maiores níveis da síndrome. Professores com mais idade, segundo a autora, parecem já ter
desenvolvido a decisão de permanecer na carreira, demonstrando menos preocupação com os
estressores ou com os sintomas pessoais relacionados ao estresse.
No que tange às variáveis profissionais, estudo realizado por Friedman (1991) identificou que,
quanto maior a experiência profissional do professor, menores eram os níveis do burnout. Já para
Schwab e Iwanicki (1982) e Woods (1999), mais significativo que os anos de prática de ensino é o
nível de ensino em que o professor atua. Professores de ensino fundamental e médio apresentavam
mais atitudes negativas em relação aos alunos e menor freqüência de sentimentos
O Ministério da Saúde brasileiro (2001) reconhece a “Síndrome de Burn-out” ou “Síndrome do Esgotamento Profissional” como um
tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho, que afeta principalmente profissionais da
área de serviços ou cuidadores, quando em contato direto com os usuários, como os trabalhadores da educação, da saúde, policiais,
assistentes sociais, agentes penitenciários, entre outros.
De acordo com Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), Burnout é um fenômeno psicossocial que surge como uma resposta crônica aos
estressores interpessoais ocorridos na situação de trabalho, sendo constituído de três dimensões relacionadas, mas independentes:
Exaustão Emocional, Despersonalização e Baixa Realização Profissional (BENEVIDES-PEREIRA, 2002; MASLACH; JACKSON,
1981; MASLACH, 1993;MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001). A Exaustão Emocional é caracterizada pela falta ou carência
de energia, entusiasmo e por sentimento de esgotamento de recursos. A Despersonalização faz com que o profissional passe a tratar
clientes, colegas e a organização como objetos. Por fim, a Baixa Realização Profissional caracteriza-se por uma tendência do
trabalhador em se auto-avaliar de forma negativa, sentindo-se infeliz e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional.
O processo de desenvolvimento de Burnout é individual e sua evolução pode levar anos e até mesmo décadas (RUDOW, 1999). Seu
surgimento é paulatino, cumulativo, com incremento progressivo em severidade (FRANÇA, 1987), não sendo percebido em sua
fase inicial pelo indivíduo, que, geralmente, se recusa a acreditar estar acontecendo algo errado com ele (DOLAN, 1987; FRANÇA,
1987; RUDOW, 1999). No que diz respeito às repercussões, estudo de Codo (1999) destaca as doenças cardiovasculares, distúrbios
advindos do estresse, labirintite, faringite, neuroses, fadiga, insônia e tensão nervosa. Conforme o autor, o estresse ocupacional pode
ser constatado, entre os docentes, pelos seus problemas de saúde e pela redução na freqüência ao trabalho. Além das conseqüências
individuais, Abel (1999) refere que Burnout em professores afeta diretamente o trabalho com alunos e a qualidade
de ensino.
Burnout consiste em uma expressão inglesa para designar aquilo que deixou de funcionar
por exaustão de energia, e foi utilizada inicialmente por Brandley (1969), mas veio a se
tornar mundialmente conhecida a partir dos artigos de Freudenberger de 1974, 1975 e
1979.
Para Maslach e Leiter (1999), o burnout não é um problema do indivíduo e sim do
ambiente social onde seu trabalho é desenvolvido. Quando as empresas não se atém a
essa possibilidade, não levando em consideração o lado humano de qualquer atividade,
utilizando as pessoas como máquinas de produção em série, podem levar indivíduos “a
uma grave deterioração do desempenho no trabalho”(p.36), fazendo que tenham além de
prejuízos pessoais dentro da empresa, prejuízos com outras pessoas de suas inter-
relações, principalmente a família e amigos.
Em seu livro O mal-estar docente, Esteve (1999, p.11-13) explora profundamente a saúde
dos professores e a rotina de uma sala de aula. Nesta publicação ele relata que o mal-estar
docente é “[...] um fenômeno internacional”, cujos sintomas principiaram a fazer-se “[...]
evidentes no início da década de oitenta nos países mais desenvolvidos”, entre eles Suécia,
França e Reino Unido. Afirma que dados estatísticos nesta categoria têm comprovado
problemas relacionados à saúde, aos recursos materiais e humanos, conflitos em questões
típicas da função de professor, além de modificações no contexto social, mudando
“significativamente o perfil do professor e as exigências pessoais e do meio em relação à
eficácia de sua atividade”
Preditores da Síndrome de
Burnout em
professores
Síndrome de Burnout em professores
Mary Sandra Carlotto
Sheila Gonçalves CâmaraRevista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) •
Volume 11 Número 1 Janeiro/Junho 2007 • 101-110
Burnout tem atingido várias profissões, mas tem seu foco de estudo especialmente vinculado à
área de ensino e serviços de saúde por serem atividades que envolvem intenso contato com
pessoas (Maslach & Jackson, 1985; Maslach & Leiter, 1997).
No caso de sua ocorrência em professores, esse fenômeno afeta o ambiente educacional e
interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos, levando os professores a um processo de
alienação, cinismo, apatia, problemas de saúde e intenção de abandonar a profissão (Guglielmi
& Tatrow, 1998).
Síndrome de burnou! e carateristicas de cargo em professores universitários
Mary Sandra Carlotto rpot, vol 4, n 2, 2004 A rápida transformação do contexto social, ocorrida
nos últimos anos, tem gerado um aumento das responsabilidades e exigências sobre os educadores
em todos os níveis de ensino. O papel do professor tem se modificado na tentativa de atender às
expectativas e necessidades da sociedade atual.
Na décima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10, 1989), o "Burnout" figura como
Síndrome de Esgotamento Profissional dentro de um grupo de classificação que tem como título
"problemas relacionados à organização de seu modo de vida".
Já, para Farber (1984), esse fenômeno é o resultado do estresse excessivo, último passo na progressão dos
propósitos fracassados de manejar e diminuir uma variedade de situações negativas do trabalho. É uma
resposta ao estresse crônico quando outros mecanismos de ajuste não funcionam. Considerando-se que a
síndrome é entendida como um conceito multidimensional que envolve exaustão emocional,
despersonalização e falta de envolvimento pessoal no trabalho, pode-se afirmar que o professor, nessa
situação, se sente totalmente exaurido emocionalmente, devido ao desgaste diário ao qual é submetido no
relacionamento com seus alunos. Por um lado, o professor torna-se incapaz do mínimo de empatia
necessária para a transmissão do conhecimento. Por outro, sua auto-estima é baixa, há sentimento de
exaustão física e emocional.
Um ponto interessante e motivo de reflexão é citado por Codo e Vasquez-Menezes (1999), quando
apontam que a SEP é uma desistência de quem ainda está lá. Encalacrado em uma situação de trabalho
que não pode suportar, mas também que não pode desistir. O trabalhador arma, inconscientemente, uma
retirada psicológica, um modo de abandonar o trabalho, apesar de continuar no posto. Está presente na
sala de aula, mas passa a considerar, cada aula, cada
aluno, cada semestre, como números que vão se somando em uma folha em branco. A síndrome é um
fenômeno real que vai avançando com o tempo, corroendo o ânimo do educador e, dia após dia, o fogo
vai se apagando devagar.
A síndrome tem sido associada a vários tipos de disfunções pessoais e a resultados organizacionais
negativos podendo levar a uma deteriorização do desempenho do indivíduo no trabalho, afetando,
também, às relações familiares e sociais. Segundo Esteve (1994), os principais efeitos da SEP em
professores são:
1. sentimentos de desconcerto e insatisfação frente aos problemas reais da prática de ensinar;
2. desenvolvimento de esquemas de inibição, como forma de cortar a implicação pessoal com o trabalho
que realiza;
1. pedidos de transferências como forma de fugir de situações conflitivas;
2. desejo de abandonar a docência (realizado ou não);
3. absenteísmo do trabalho como mecanismo para cortar a tensão acumulada;
4. esgotamento, cansaço físico permanente;
5. ansiedade de espera;
6. estresse;
7. depreciação de si mesmo, culpa-se ante a incapacidade para qualificar o ensino;
10. ansiedade como estado permanente, associada como causa efeito a diversos diagnósticos de
enfermidade mental;
11. depressão.