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DANIEL ARSKY LOMBARDI

ANÁLISE ETNOGRÁFICA DA PRIMEIRA FOTO DO TRABALHO


NO INTERIOR DE UMA MINA DE OURO POR MARC FERREZ (1888)

SÃO PAULO
2020
DANIEL ARSKY LOMBARDI

ANÁLISE ETNOGRÁFICA DA PRIMEIRA FOTO DO TRABALHO


NO INTERIOR DE UMA MINA DE OURO POR MARC FERREZ (1888)

Trabalho Final apresentado à disciplina


Antropologia Visual, na Pós-Graduação
Direção de Arte em Comunicação no Centro
Universitário Belas Artes, com objetivo de
aprovação na disciplina.

Orientador: Prof. Gilson Guzzo Cardoso

SÃO PAULO
2020
1. Obra Escolhida

Imagem 1. Primeira foto do trabalho no interior de uma mina. Minas Gerais,


Brasil, 1988. Fotografia por Marc Ferrez, Instituto Moreira Sales.
2. Análise etnográfica
A obra escolhida é uma fotografia vertical de cinco trabalhadores
em uma mina. A foto é datada do ano de 1988, ano em que fora
assinada pela Princesa Dona Isabel a Lei Áurea, libertando os
escravos que ainda existiam no país. Ainda que incerto se
tratam-se de escravos ou homens recém -libertos, a falta de
integração social e estabelecimento de direitos civis inserem
esses numa condição de trabalho precária, análoga a escravidão.
A imagem nos oferece seu posicionamento como elemento do
próprio discurso antropológico, já que é possível distinguir que
ao menos três dos cinco trabalhadores são homens negros e um
deles branco, que assume uma postura de comandante, como se
vigiasse e orientasse o trabalho dos demais. Sua roupa parece
mais limpa e clara, então se destaca como um dos principais
pontos ópticos da composição. Seu chapéu parece ser o único
dentre os cinco que conta com uma fonte de iluminação e também
o único calçado.
O ambiente, pobremente iluminado, é visivelmente insalubre e
nenhum dos homens, nem mesmo o branco, contam com
equipamentos de proteção, o que denuncia a falta de segurança
em que estas pessoas são expostas durante o trabalho. Não há
calçados nos pés da sua maioria, e todos contam com chapéus
simplórios, que não aparentam proteger suas cabeças. Seus
corpos não estão presos a nenhum tipo de corda que impeça suas
quedas dos andaimes de troncos e madeiras improvisados que
parecem estar prestes a ceder, sustentados por correntes
suspensas, que poéticamente fazem referência à própria
escravidão como um de seus torpese vis símbolos. A pele dos
trabalhadores de baixo quase se mistura com as texturas e
valores tonais das paredes da caverna, fazendo trabalhad or e
matéria-prima se tornarem um, metaforizando assim, a visão
desumanizada das pessoas como produto, vigente naquele
período.
O fotógrafo, por estar inserido no ambiente das minas, nas
mesmas condições e exposição dos trabalhadores, tem sua obra
posicionada na funcionalidade de elemento de interação com o
grupo de mineradores, abrindo questionamento de como funciona
o trabalho nas minas e a que são expostas essas pessoas. A foto
também se ancora como um instrumento de pesquisa,
considerando ainda que trata -se da primeira foto tirada no
interior de uma mina, servindo então de registro e documento de
representação de um determinado momento histórico e diversas
de suas facetas, como segurança do trabalho, o fim do período
de escravidão, a falta de integração das pessoas negras na
sociedade vigente e a própria posição do Brasil como um país
jovem, pouquíssimo industrializado, muito sustentado ainda pelo
extrativismo, mineração, garimpo e agricultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MATHIAS, Ronaldo. Antropologia Visual (2016). São Paulo: Ed. Nova Alexandria,
São Paulo, 2019.
FERREZ, Marc. Primeira foto do trabalho no interior de uma mina de ouro.
Disponível em: < https://ims.com.br/titular-colecao/marc-ferrez/ >. Acesso em 27 de
setembro de 2020.
BEZERRA, Juliana. Lei Áurea. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/lei-
aurea/#:~:text=A%20Lei%20%C3%81urea%20(Lei%20n%C2%BA,abolindo%20a%2
0escravid%C3%A3o%20no%20pa%C3%ADs.>. Acesso em 27 de setembro de
2020.

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