Você está na página 1de 1

Não há nada mais prático que a Espiritualidade!

Existe uma ideia comum, que identifica a espiritualidade com algo de pouca
utilidade para a vida prática. Algo que é vivido por alguns que se ‘isolam’ e ‘fecham’ num
casulo, que afasta da realidade e da vida real. Na verdade, não existe ideia mais errada!
Os grandes mestres da espiritualidade e da mística, santos ou não, foram e são pessoas
altamente comprometidas com os problemas reais da condição humana. Muitos
tiveram graves problemas, devido a compromissos com as situações da vida real. Santa
Teresa de Jesus levou a efeito uma profunda reforma da Vida Religiosa, tornando-a mais
ajustada à vida prática. Teve problemas com a Inquisição devido à sua compreensão da
fé e da vida espiritual.
O que é que todo o ser humano, no fundo, deseja? Apostaríamos na Felicidade!
O problema é que fomos ‘formatados’ para conseguir a felicidade pela ‘obtenção’ de
coisas, estatuto, e até de pessoas. Quantas vezes se ouve dizer: «Tu és a minha
felicidade! Se não te consigo, não poderei ser feliz!» Isto é uma programação! É comum,
consideramos a devoção, a piedade, a prática religiosa, como ‘prática de vida’: «A vida
espiritual que é praticada num estado de plena atividade, é sempre superior à que se
vive na calma proteção de algum retiro» (A. de mello, sab de 1 minuto, 118). Se rodeios,
a espiritualidade é o que existe de mais prático no mundo, porque conjuga-se com o
despertar, e um coração desperto afasta-se dos apegos, que condicionam o verdadeiro
sentido da felicidade.
Fixemo-nos nas problemáticas humanas que interagem com a felicidade: os
medos, a confusão, o conflito de corações, internos, e com outras pessoas. Imaginemos,
que alguém vem ter connosco e nos diz que possui a forma de nos livrar destas
realidades negativas. Suponhamos, que alguém nos mostra o caminho de nos amarmos,
de estarmos em paz, de residirmos no amor. Tanta energia que seria recuperada!
Nesta perspetiva, existe algo mais prático que a espiritualidade? Uma
espiritualidade que implica uma reorganização da vida, que se enraíza nela, sem apegos
aos acontecimentos, sejam eles positivos ou negativos. Tudo na vida é impermanente
e, se esta impermanência pauta a existência, desafia a uma não-fixação num momento,
numa experiência, numa pessoa. A inconsciência do momento presente leva a uma
perda do contato com a realidade, trazendo graves desajustes psicológicos,
comportamentais e de relacionamentos.
Como dissemos, fomos ‘programados’ para ver os negócios, a política, a técnica,
o trabalho, as dimensões ‘mais práticas’ da condição humana. Mas, se pararmos e
despertarmos, iremos perceber que a dimensão espiritual é o alicerce mais prático da
vida.
Aplica-se aqui a sentença interrogativa: «Que sentido tem colocar um homem na
Lua, quando não podemos viver sobre a Terra?» A espiritualidade não é um meio de
escapar à complexidade da vida humana e social, mas um meio para nos equiparmos
com a capacidade de reintegração na mesma, como seiva que nutre a árvore.
Trocam-se as voltas: ‘viver na Lua’ é a metáfora duma correria desenfreada e
sem nexo; ‘viver na Terra’, equipara-se a um ser feliz e espiritual, sendo a estrutura e a
base de todas as outras realidades, que se conjugam com o humano.
Sob os auspícios da paz, do novo ano que inicia, aplicam-se as palavras de Thich Nhat
Hanh: «Se estamos em paz, se somos felizes, podemos florescer, e todos, na nossa
família, em toda a sociedade, beneficiarão da nossa paz.»

Você também pode gostar