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O boi e o jumento em Belém

Após o sensasionalismo de algum jornalista ‘ignorante’ na interpretação do último livro


do Papa, esta lastimosa e consentida ignorância prossegue nalguma imprensa: o Presépio do
Vaticano irá incluir uma vaca e um burro, “apesar de Bento XVI decretar que não estiveram
no nascimento de Jesus”. Mas, quem inventou este decreto que nunca existiu?
No seu livro “A infância de Jesus”, o Papa diz, após a leitura do relato do Nascimento
de Jesus, segundo S. Lucas: “No Evangelho não se fala, neste caso, de animais”. No entanto, a
meditação cristã cedo os colocou à volta do presépio. De fato, aparecem já num sarcófago do
Museu de Latrão, que remonta ao século IV.
A inclusão do boi e do jumento vinha sugerida pela referência evangélica à manjedoura,
daí a tradição concluir que se tratava de um estábulo de animais. Além disso, tinha um
fundamento bíblico que o Papa recolhe. O profeta Isaías fazia esta denúncia ao povo: “O boi
conhece o seu dono, e o jumento, o estábulo do seu senhor, mas Israel, meu povo, nada
entende” (Is 1, 3).
Juntamente com este oráculo, o Papa menciona também um anúncio que se encontra na
versão grega do profeta Habacuc: “No meio de dois seres vivos... serás conhecido; quando
chegar o tempo aparecerás” (Hab 3, 2). Estes dois seres vivos também poderiam ser os
querubins que estavam em cima da Arca da Aliança.
Segundo a referência de Isaías, a humanidade pode estar ao lado do Mistério e, apesar
disso, ignorá-Lo. Se esse fosse, em algumas ocasiões, o pecado de Israel, não deveria repetir-
se no seio da comunidade cristã. O boi e o jumento recordam-nos a necessidade de reconhecer
a Deus em Jesus, que nasce entre nós.
O Papa conclui que o boi e o jumento aparecem como uma representação da
humanidade, desprovida de entendimento para os Mistérios Sagrados, mas que perante o
Menino, que nasce em Belém, recebe uma nova luz. Graças a essa luz da fé, descobrimos em
Jesus o Salvador e, simultaneamente, o próprio sentido da nossa vida.
Desta forma, o comentário de Bento XVI, a propósito do boi e do jumento, é tão belo
quanto profundo. E, sobretudo, é muito atual no momento em que muitos têm dificuldades ou
resistências para se aproximarem do Mistério. Muitos dizem não necessitar de Salvação.
Outros buscam uma salvação sem Salvador.
Talvez, por isso, alguns preferem a frivolidade à beleza da Mensagem Profética e à
profundidade da sua mensagem. Mas a breve divagação do Papa, sobre este tema, conclui
dizendo: “Nenhuma representação do Nascimento renunciará ao boi e ao jumento”. Assim,
pois, nunca houve tal ‘decreto’ de abolir estes seres vivos do presépio; antes, o Papa
aconselha a que devem fazer parte dele. Além disso, o livro contém outros assuntos tão
interessantes e importantes, que deveriam colocar este na penumbra. Mas é sempre mais fácil
e mais vistoso, trocar o banal pelo essencial!

Vmr (17 Dezembro 2012)

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