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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 9ª VARA

CÍVEL DA COMARCA DE BELÉM/PA

Processo n.º 0834051-80.2018.8.14.0301

CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO RIO DE JANEIRO, já qualificado nos


autos em epígrafe, por suas advogadas que esta subscrevem,
procuração anexa, com escritório estabelecido na Rua
Tiradentes, 67 – Sala 502, Bairro Reduto, CEP: 66053-330 –
e-mail: renatasmith.adv@hotmail.com, vem, respeitosamente,
perante V. Exa., apresentar

CONTESTAÇÃO C/C RECONVENÇÃO

ao pedido inicial ajuizado por NACIONAL GAS BUTANO


DISTRIBUIDORA LTDA, sucessora de PARAGÁS DISTRIBUIDORA
LTDA, também já qualificada nos autos, nos seguintes
termos:

DA TEMPESTIVIDADE

O art. 335, I do CPC prevê o prazo de 15 dias para


contestar a contar da data de recebimento da citação. Tal
ato ocorreu no dia 30/04/19, com o início da data de
contagem do prazo na data de 02/05/19, eis que o dia
01/05/19 é feriado nacional e, portanto, não é um dia útil,
sendo seu prazo final o dia 22/05/2019, data que coincide
com o protocolo desta peça.
Tempestiva, pois, a presente contestação c/c
reconvenção.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O art. 98 do CPC prevê o direito a concessão de


justiça gratuita a pessoa jurídica com insuficiência de
recursos para arcar com os encargos processuais.

A Súmula 481 do STJ também faz menção nesse sentido,


senão vejamos:

SUM. 481. STJ. Faz jus ao benefício da justiça


gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que
demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos
processuais.

A ré não tem recursos suficientes para arcar com os


encargos processuais, sem que prejudique, para tanto, a sua
própria atividade, qual seja uma pessoa jurídica sem
qualquer fim lucrativo, por se tratar de um condomínio de
apartamentos.

Sendo assim, a ré pleiteia os benefícios da justiça


gratuita conforme preceitua o art. 98 e seguintes do CPC e
a Súmula º: 481 do STJ.

DAS ALEGAÇÕES AUTORAIS


Sustenta a parte autora que o Réu celebrou contrato
de prestação de serviços, datado de 13 de agosto de 2013,
pelo prazo de 60 (sessenta) meses, para o fornecimento de
GLP – Gás Liquefeito de Petróleo.
Aduz que confiou em depósito equioamentos de
instalação e tanques de acondicionamento do produto a ser
consumido.
Ressalta que o Réu se obrigou a consumir,
mensalmente, de forma exclusiva, a quantidade de 400
(quatrocentos) kg de GLP.
Argumenta ainda a Autora que o Réu deixou de consumir
o produto nas quantidades avençadas na cláusula quinta do
contrato anexo aos autos, deixando, definitivamente, de
comprar o produto em outubro de 2015.
Alega a Autora que tentou composição amigável com o
Réu, porém, sem sucesso, vindo a romper o contrato.
Informa que em 29.09.2017 enviou correspondência
destinada ao Condomínio Réu, informando da aplicação de
multa por descumprimento de contrato, calculada de acordo
com os parâmetros da cláusula 10.5 do instrumento de
contrato, bem como encaminhou boleto bancário no importe de
R$5.350,72 (cinco mil trezentos e cinquenta reais e setenta
e dois centavos).
Por fim, explicita a parte autora que até a data do
ajuizamento da ação, após reiterados contatos, o Réu não
apresentou proposta para o adimplemento da multa contratual
imposta, tampouco da devolução dos objetos informados em
inicial.
Ante o exposto, o Autor requer reparação material e
multa pela quebra de contrato firmado entre as partes,
qundo promoveu Ação de Cobrança, conferindo à causa o valor
de R$20.837,95 (vinte mil oitocentos e trinta e sete reais
e noventa e cinco centavos).

DA REALIDADE DOS FATOS SOB A ÓTICA DO RÉU

Ante o exposto na peça vestibular desta ação, algumas


considerações inciiais devem ser feitas, a título de
contestação de fatos, senão vejamos:
É incontroverso o havido contrato dentre as partes
para o fornecimento de GLP– Gás Liquefeito de Petróleo.
Todavia, os argumentos autorais que sustentam a
presente ação não merecem prosperar, eis que:
1. Ao contrário do que aduz a autora, esta foi
quem deu causa à quebra de contrato havida entre as
partes, quando desrespeitou a Cláusula SEXTA, ítem
6.2, pela qual estava obrigada a aumentar o preço do
kg de GLP– Gás Liquefeito de Petróleo, ANUALMENTE;
2. Rechaçados são os argumentos de que o réu
não honrou com o que lhe cabia no contrato, quando da
cessação de compra em outubro de 2015, pois deixa de
mencionar, graciosamente, a parte autora, que foi esta
quem deu causa à cessação da compra do produto;
3. Aduz levianamente a parte autora que o Réu
não se mostrou aberto ao diálogo e à negociação dos
valores devidos pelo rompimento do pactuado entre as
partes;
4. Informa que o Réu não promoveu a devolução
de equipamentos a saber: 2 tanques de 190kg, 52
medidores de Gás LAO G-0,6 e 52 pontos de consumo.
Analisemos cada um dos argumentos autorais:

1. DOS AUMENTOS DO VALOR DO PRODUTO


A avença havida entre as partes previa que a autora
se comprometia em manter reajustes anuais do preço do kg de
– Gás Liquefeito de Petróleo fornecido ao Réu, sendo que,
tal qual comprovam as notas fiscais em anexo, durante o ano
de 2013, o valor do Kg de GLP– Gás Liquefeito de Petróleo
custava ao condomínio Réu R$3,10 (três reais e dez
centavos), o que pode ser provado através das notas ficais
de número 32777 – série 13– referente à compra realizada em
25.09.2013 e nota de número 001011 – série 16 – referente à
compra realizada em 20.11.2013.
Já durante o ano de 2014 o Réu continuou pagando o
valor de R$3,10 (três reais e dez centavos), pelo Kg do
GLP– Gás Liquefeito de Petróleo, fato comprovado pelas
notas fiscais de número 002326 – série 15 – referente à
compra realizada em 23.04.2014, nota de número 003109 –
série 16 – referente à compra realizada em 03.07.2014, nota
de número 00003054 – série 15 – referente à compra
realizada em 13.08.2014, nota de número 003318 – série 15 –
referente à compra realizada em 10.09.2014, nota de número
003785 – série 15 – referente à compra realizada em
07.11.2014 e nota de número 003994 – série 15 – referente à
compra realizada em 06.12.2014.
Durante o ano de 2014 não tivemos qualquer aumento no
valor do produto.
Em 2015 sobreveio o duplo aumento durante o mesmo ano
corrente, o que pode ser comprovado através da análise das
notas de número 004575 – série 16 – referente à compra
realizada em 07.01.2015 e nota de número 006036 – série 15
– referente à compra realizada em 15.10.2015.
Durante o ano de 2015 emergiram dois aumentos no
mesmo ano corrente.

2. DO CAUSADOR DA QUEBRA DE CONTRATO


Ao contrário do que explicita a autora, a parte que
deu causa ao rompimento do contrato avençado entre as
partes foi esta mesma, eis que descumpriu com a cláusula
Sexta, item 6.2.

3. DA ABERTURA AO DIÁLOGO PARA DIRIMIR A QUEBRA DE CONTRATO

Oculta a verdade a autora ao afirmar que o condomínio


Réu não se mostrou aberto a diálogo, eis que preposto da
própria autora confessa, em correspondência eletrônica
destinada à Sra Ana Paula de Souza Sekioka, membro do
Conselho Fiscal do Condomínio do Edifício Rio de Janeiro,
que houve diálogo entre as partes, quando o Sr Artur
Vallinoto era o Síndico do Condomínio e o Sr Bruno Silva o
zelador.
Tanto prova a abertura ao diálogo entre as partes,
que o próprio condomínio se mostrou aberto à compra dos
medidores e pontos de consumo outrora instalados pela
autora.
As negociações não avançaram ante ao silêncio
injustificado da parte autora, diante, inclusive de
inúmeros contatos efetuados pelo então síndico e pela
advogada que subscreve esta peça.
Prova inequívoca de que o Réu não se opôs ao diálogo
foi a efetiva retirada dos dois tanques de 190kg das
dependências do condomínio, sem qualquer oposição ou
resistência por parte do Réu.
Limitou-se a parte autora a enviar correspondência de
cobrança, quasae dois anos depois da sua quebra de contrato
e, a se mostrar silente quanto à esta cobrança e negociação
de pagamento, tendo negativado o Réu em 18.10.2017, tal
qual faz prova extrato de distribuidor autorizado Serasa
Experian em anexo.

4. DA NÃO DEVOLUÇÃO DE EQUIPAMENTOS

Lista a autora uma série de equipamentos os quais não


foram devolvidos pelo condomínio Réu.
Mais inverdades emergem!
O condomínio réu tentou contato para fazer a compra
dos medidores e pontos de consumo, sem que chegasse a um
consenso.
Além disso, salta aos olhos tamanhas inverdades eis
que a autora procedeu a retirada dos tanques de
armazenamento de GLP, na quantidade de dois, sem qualquer
óbice ou resistência por parte do Réu.

DO MÉRITO

1. DA NECESSÁRIA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Ressalta-se que o contrato firmado com a fornecedora


de gás é espécie de contrato de adesão, ou seja, o
consumidor não opina, acorda ou cria quaisquer termos ali
dispostos, o que só aumenta ainda mais sua vulnerabilidade
e hipossuficiência na relação consumerista, não podendo ser
penalizado por falha na prestação de serviços da pessoa
jurídica e sofrer com as cláusulas abusivas e limitativas
ali dispostas. Logo, deve ser reconhecida a relação
consumerista no caso concreto e ter um julgamento mais
justo diante das posições em que as partes se encontram.
A autora não pode impor aos seus consumidores
obrigações exageradas, que gerem a estes qualquer conduta
que desrespeite os princípios da boa-fé e da equidade, ou
seja, a autora em momento algum pode esquivar-se de prestar
o serviço em conformidade com o que ela mesma avençou,
tendo sido, inclusive, notificada de que rompeu com o
contrato havido entre as partes, fato provado com a juntada
de e-mail que diz que anexa uma carta de rescisão do
condomínio.
Tendo em vista a imperiosa necessidade de proteção
jurisdicional ao polo mais fraco da relação consumerista
que aqui se configura, REQUER O RÉU A INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA NA PRESENTE DEMANDA, a fim de que a parte autora
prove que o Réu obstaculizou ou mesmo impediu a retirada
dos equipamentos, o que configure a causa de pedir do
pedido de reembolso de despesas.

Com base no disposto no artigo. 6º, VII, do Código de


Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) e no disposto no artigo
373, do Código de Processo Civil Brasileiro – Lei
13.105/2015, REQUER o Réu que seja invertido o ônus da
prova quanto às alegações de quebra do contrato havido
entre as partes e da suposta obstaculização à retirada de
equipamentos e de ausência de ânimo negocial por parte do
Réu.
Ante ao necessário deferimento da inversão do ônus,
Requer o Réu a apresentação da integralidade das notas
fiscais de compra de GLP, em nome do Condomínio Réu.

2. DA EVIDENTE RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE AS PARTES.


NATUREZA ADESIVA DO CONTRATO. DA NECESSÁRIA DECLARAÇÃO DE
ABUSIVIDADE DAS CLÁUSULAS QUINTA, ÍTEM 5.1 E CLÁUSULA
DÉCIMA, ÍTEM 10.1, INCISO IV.

O contrato de adesão é uma espécie de contrato


celebrado entre duas partes, em que os direitos, deveres e
condições são estabelecidos pelo proponente, sem que o
aderente possa discutir ou modificar seu conteúdo ou que
tem esse poder de forma bastante limitada.
Se bem analisarmos o contrato havido entre as partes,
este tratava-se de um “contrato pronto para ser quebrado”,
eis que impunha obrigações à contratante que nunca poderia
cumprir integralmente, ficando refém da boa-vontade de
manutenção contratual pela autora, senão vejamos:
A clausula quinta, denominada exclusividade, obriga o
comprador (Condomínio Réu) a adquirir com exclusividade o
produto fornecido pela fornecedora (Autora da ação), na
ordem de consumo de 400 (quatrocentos) kg por mês, sendo
que a demanda havida no condomínio NUNCA alcançaria tal
consumo, fazendo com que esta fosse uma meta de consumo
inalcançável.
Já a cláusula décima fala que qualquer das partes
pode rescindir o contrato quando a outra parte descumprir
qualquer das obrigações ou condições do contrato. Ora, não
estaria o Réu refém da parte autora, que poderia, a
qualquer momento, como realmente o fez, acusar a outra
parte de rompimento contratual e a uma pesada imposição de
multa contratual por inadimplemento?

É reconhecido ao consumidor uma série de direitos


básicos, dispostos no artigo 6º, do Código de Defesa do
Consumidor. Dentre eles, destacamos:
[...]
d) a proteção contra a publicidade enganosa e
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem
como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços;
e) a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas;
[...]
As cláusulas abusivas são encontradas constantemente
nos contratos de adesão impostos aos consumidores. Elas são
elaboradas pelos fornecedores, de modo que acabam exercendo
um abuso de poder por parte destes. Essas cláusulas têm
como característica estarem em desacordo com as normas do
CDC.
O CDC, através do caput do art. 51, proíbe quanto a
elaborações dessas cláusulas abusivas, presentes nos
contratos relativos ao fornecimento de produtos e serviços,
passando a expor que são nulas de pleno direito. E em seus
incisos traz um rol de hipóteses dessas cláusulas que
passam a serem nulas.
Dentre as hipóteses de cláusulas abusivas que são
nulas, analisaremos os seguintes incisos do art. 51:
- inciso IV: Estabeleçam obrigações consideradas
iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé
ou a equidade;

Quanto ao inciso IV, o CDC regula a vedação de


cláusulas que coloquem o consumidor em desvantagens
exageradas, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou
equidade, ou seja, diminuindo a capacidade do cumprimento
do contrato por parte dos consumidores. Entende-se pelas
desvantagens exageradas, quanto à ofensa dos princípios
fundamentais do sistema jurídico a que pertence, quanto a
restrição dos direitos ou obrigações fundamentais inerentes
a natureza do contrato, de forma a ameaçar seu objeto ou o
equilíbrio contratual, e quando a cláusula se mostra
excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a
natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e
outras circunstâncias peculiares ao caso. Dessa maneira,
esse inciso busca promover a lealdade e transparência entre
as partes, de forma a busca um equilíbrio econômico,
eximindo qualquer lesão ao consumidor, uma vez que proíbe
também a imposição exagerada da onerosidade, quanto aos
preços determinados pelos fornecedores, causando assim um
abuso, pois como consequência provocará a dificuldade do
próprio consumidor em cumprir com as suas obrigações
contratuais.
Vejamos ainda que, a obrigatoriedade de aceitarmos um
suposto contrato assessório de comodato, em contrapartida,
pelo consumo de 400kg/mês de fornecimento produtos (Gás)
durante 5 anos, implica em onerosidade, excessiva, desta
empresa perante o Condomínio, como consequência provocará a
dificuldade do próprio consumidor em cumprir com as suas
obrigações contratuais.

Em sendo declarada a nulidade de tais cláusulas, nula


seria a obrigação ora imposta pela autora na presente
demanda, a qual impôs quebra de contrato ao Réu, quando
que, na verdade, quem deu causa ao rompimento contratual
foi a parte autora.

3. DA VEDAÇÃO À VENDA CASADA

O Código de Defesa do Consumidor, artigo 2º e


parágrafo único, art. 3º, parágrafos 1º e 2º define
consumidor e fornecedor como sendo, respectivamente:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa
física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário
final.

Parágrafo único. Equipara-se a


consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa


física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação
de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel


ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade


fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.

Venda casada, por sua vez, está conceituada como uma


prática abusiva no CDC, senão vejamos:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de


produtos ou serviços, dentre outras
práticas abusivas:

I - condicionar o fornecimento de
produto ou de serviço ao fornecimento de
outro produto ou serviço, bem como, sem
justa causa, a limites quantitativos;

A norma proíbe que o prestador ou fornecedor submeta


um produto ou serviço a outro produto ou serviço, ou seja,
a venda casada se configura quando a alienação de um
produto é condicionada a outro, configurando-se também
quanto a serviços e quando há uma limitação de quantidade,
sem justa causa. Como se percebe, é uma prática abusiva e
vedada que deve ser combatida com rigor e veemência, tanto
pelo consumidor quanto pelos órgãos defensores dos direitos
consumeristas.

O art. 39 do Código de Defesa do Consumidor apresenta


um rol exemplificativo das práticas abusivas que são
proibidas nas relações de consumo. As práticas abusivas não
foram taxadas em um rol exaustivo porque as relações
consumeristas estão sempre evoluindo e se modificando,
assim, sempre está surgindo um novo comportamento ilícito
ensejador de prejuízo ao consumidor, que estaria
desprotegido legalmente se não houvesse essa previsão
exemplificativa no mencionado artigo.

É cristalino a venda casada imposta pela Autora ao


Réu, quando condicionou o fornecimento de GLP à aquisição
da quantidade estipulada de 400kg ao mês e mais ainda da
imposição de compra disfarçada sob o manto de um contrato
de comodato de equipamentos, sendo que o Réu poderia ter
providenciado a instalação dos equipamentos para, tão
somente receber o produto fornecido pela autora.

Logo, qualquer forma de conduta que afete


negativamente o consumidor no sentido da realização de
ações em desconformidade com os padrões de boa conduta,
mesmo que não previstas no CDC poderá se enquadrar na
definição de prática abusiva.

Fabrício Bolzan esclarece a importância da


interpretação objetiva do art. 39 do Diploma Consumerista
(2013, p. 1630):

“Outra questão relevante á a


necessidade de se interpretar o art. 39 de
forma objetiva, ou seja, “as chamadas
‘práticas abusivas’ são ações e/ou
condutas que, uma vez existentes,
caracterizam-se como ilícitas,
independentemente de se encontrar ou não
algum consumidor lesado ou que se sinta
lesado. São ilícitas em si, apenas por
existirem de fato no mundo fenomênico”.

Destaca-se também que a venda casada é tipificada


como crime contra as relações de consumo, prevista no Art.
5º, II, da Lei n.º 8.137/90 com penas de detenção aos
infratores variáveis de 2 a 5 anos ou multa. Senão vejamos:
“Art. 5º, Constitui crime da mesma
natureza: […]

II – subordinar a venda de bem ou a


utilização de serviço à aquisição de outro
bem, ou ao uso de determinado serviço;

III – sujeitar a venda de bem ou a


utilização de serviço à aquisição de
quantidade arbitrariamente determinada;
[…]

Pena – detenção de 2 a 5 anos, ou


multa”.

Conforme observa Daniel Amorim e Flávio Tartuce


(2014, p.276), em relação ao disposto no art. 39 do CDC:

“Esse primeiro inciso do art. 39


proíbe a venda casada, descrita e
especificada pela norma. De início, veda-
se que o fornecedor ou prestador submeta
um produto ou serviço a outro produto ou
serviço, visando um efeito caroneiro ou
oportunista para venda de novos bens. Ato
contínuo, afasta-se a limitação de
fornecimento sem que haja justa causa para
tanto, o que deve ser preenchido caso a
caso. Ampliando-se o sentido da vedação,
conclui-se que é venda casada a hipótese
em que o fornecedor somente resolve um
problema quanto a um produto ou serviço se
um outro produto ou serviço for
adquirido”.

Logo o que a Lei prevê é a ampla liberdade de escolha


do consumidor quanto ao que deseja consumir, não sendo
lícita a imposição, do fornecedor, de qualquer produto ou
serviço para aquisição de outro. Conforme Rizzatto Nunes
apud Fabrício Bolzan (2013, p. 1632) “a operação casada
pressupõe a existência de produtos e serviços que são
usualmente vendidos separados”. Dessa forma, o que o
fornecedor está proibido é de impor a aquisição conjunta de
produtos ainda que o preço global seja mais barato que o
unitário.
Referidos critérios retratam o bom senso que o
consumidor e o legislador devem seguir na tipificação e
identificação da venda casada. Quanto aos incisos do artigo
39, estes vedam dois tipos de operações casadas, quais
sejam: a) o condicionamento da aquisição de um produto ou
serviço a outro produto ou serviço; e b) a venda de
quantidade diversa daquela que o consumidor queira.

Nesse momento, vale destacar o entendimento do


Professor Rizzatto Nunes (2011, p. 569):

“Dessa forma a hipótese da letra “a”, isto é, o


condicionamento da venda de um produto ou serviço à
aquisição de outro produto ou serviço, é incondicionada.
Não há justificativa nem por justa causa. Esta só é válida
na quantidade ofertada.

Ante à EVIDENTE prática de ato ilícito pela parte


autora, REQUER o Réu a IMPROCEDÊNCIA da aplicação da
penalidade pecuniária de restituição de valores relativos
aos equipamentos ainda não retirados do condomínio (52
medidores de Gás LAO G - 0,6 e de 52 pontos de consumo),
além da improcedência da cobrança de restituição de valores
de equipamentos que já foram retirados (dois tanques de
190kg) das dependências do Condomínio Réu.

4. DA COBRANÇA INDEVIDA/LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ

Conforme já explanado anteriormente o Réu não deve à


parte autora qualquer valor a título de quebra contratual,
quiçá de ressarcimento de valores relativos a equipamentos,
eis que a Autora não comprova a quebra de contrato,
contrato este por ela quebrado, muito menos que o Réu
obstaculizou ou impediu a retirada de equipamentos, dando
causa a uma suposta obrigação de indenizar.

Entretanto, ressalta-se que alegações indevidas,


infrutíferas e sem nenhum respaldo jurídico ou embasada por
documentação hábil comprobatória, apenas tratando-se de
alegações vãs, configura a litigância de má-fé. O litigante
de má-fé é aquele que busca vantagem fácil, alterando a
verdade dos fatos com ânimo doloso, e é o que acontece no
caso em tela.
Como consequência da ambição autoral, por pleitear
verba da qual sabe não ser merecedora, utilizando-se do
processo para obter objetivo ilegal, deve receber punição.

Pugna-se pela aplicação do art. 77 do Código de


Processo Civil de 2015 o qual impõe o dever de probidade e
lealdade processual às partes e procuradores.

O litigante ímprobo, que vier descumprir tal dever,


sofrerá as sanções previstas ao litigante de má fé, de que
tratam os artigos 79 e 80 do CPC, podendo ser fixada multa
até o teto de 10 (dez) salários mínimos a serem fixadas por
arbítrio de Vossa Excelência, situação que cabe a aplicação
do referido artigo ao autor.

O artigo 80 do CPC, I, II, III assim disciplina:

"Art. 80. Considera-se litigante de


má-fé aquele que:

I - deduzir pretensão ou defesa


contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;

II - alterar a verdade dos fatos;

III - usar do processo para


conseguir objetivo ilegal;”

O CPC ainda prevê a condenação do litigante de má fé


ao pagamento de multa, senão vejamos:

“Art. 81. De ofício ou a


requerimento, o juiz condenará o litigante
de má-fé a pagar multa, que deverá ser
superior a um por cento e inferior a dez
por cento do valor corrigido da causa, a
indenizar a parte contrária pelos
prejuízos que esta sofreu e a arcar com os
honorários advocatícios e com todas as
despesas que efetuou.”

Ora Douto Julgador, é inaceitável que se permita que


tal argumento falacioso se prospere, pois, dessa forma a
Autora estaria utilizando de artifícios pretenciosos para
obter o Enriquecimento Ilícito.

Ademais, não há que se falar em descumprimento de


obrigações por parte do Réu, momento em que não merece
prosperar a cobrança ora em análise, vez que a dívida é
inexistente.
Concluindo, está claro o equívoco da autora, também a
ocorrência de má fé ao cobrar uma dívida inexistente.

Face ao exposto, requer-se a condenação do autor ao


pagamento de multa por litigância de má fé nos termos do
art. 81 do CPC.

5. DO PEDIDO DE RECONVENÇÃO (CPC, art. 343)

Reconvenção é a ação do réu contra o autor no mesmo


processo em que aquele é demandado. Não é defesa, é
demanda, ataque. Esta ação amplia objetivamente o processo,
obtendo novo pedido na presente ação.

Nesse sentido, o art. 343 do CPC textualiza:

Art. 343. Na contestação, é lícito


ao réu propor reconvenção para manifestar
pretensão própria, conexa com a ação
principal ou com o fundamento da defesa.

Indubitavelmente, alegar reconvenção na contestação é


lícito, conforme respalda o art. 343 do CPC.

Como amplamente demonstrado nesta resposta, O


Condomínio Reconvinte não deu causa a quebra de contrato
havido entre as partes, sendo esta quebra de
responsabilidade da Autora da ação.

A reconvinte possui cristalino direito de receber


valores a título de multa por litigância de má-fé a serem
impostos à parte autora.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o


devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, e honorários de advogado.

Portanto, não pode ser proferido outro julgamento


senão a total procedência da presente contestação c/c
reconvenção, vez que fora vastamente comprovado quem
realmente deu causa ao rompimento do contrato ora avençado
entre as partes, além da prática abusiva por parte da
autora da demanda. Ainda que ocorra a desistência da ação
ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame do
seu mérito, não obsta ao prosseguimento do processo quanto
à reconvenção, conforme preceitua o § 2º do art. 343 do
CPC.

DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Ante o exposto, restando evidenciado o direito e


interesse de agir da reconvinte, requer-se:

Pretende-se o conhecimento e acolhimento dos pleitos


por:

a) DEFERIMENTO da inversão do ônus da prova;

b) DECLARAÇÃO DE ABUSIVIDADE das cláusulas quinta e


décima do contrato havido entre as partes;

c) DECLARAÇÃO DE EXISTÊNCIA de venda casada no


contrato havido entre as partes;

d) DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA de dívida do Réu em


relação à Autora;

e) Em face do exposto, CONTESTA todos os termos da


inicial, requerendo que sejam julgados IMPROCEDENTES os
pedidos da presente ação sob pena de ENRIQUECIMENTO
ILICITO, e ainda condenando o reconvindo no pagamento das
custas, despesas processuais e honorários advocatícios;

c)Seja o pedido de reconvenção julgado TOTALMENTE


PROCEDENTE, a fim de condenar o reconvindo à multa por
litigância de má-fé, a ser arbitrado por este juízo;

d) Seja o RECONVINDO CONDENADO ao pagamento de custas


e despesas processuais, bem como honorários advocatícios,
conforme preceitua o art. 85, § 1º do CPC.

e) Tendo em vista que a reconvinte não tem condições


em arcar com as custas e despesas processuais, requer os
BENEFÍCIOS DA ASSISSTÊNCIA JUDICIÁRIA, conforme reza o art.
98 e seguintes do CPC e a Súmula º: 481 do STJ.

f) Provarão o alegado por todos os meios de provas em


direito admitidos, especialmente o depoimento pessoal do
representante legal da reconvinte, sob pena de confissão,
oitiva de testemunhas oportunamente arroladas, juntadas de
documentos, etc. Protestam por outras provas.
g) REQUER ainda que todas as intimações e publicações
sejam feitas em nome de suas procuradoras, de acordo com os
poderes constantes da procuração ora juntada aos autos.

Cumpridas as necessárias formalidades legais, deve a


presente ser recebida e juntada aos autos.

Termos em que,

Pede deferimento.

Nestes termos, pede deferimento.


Belém, 22 de maio de 2019.
RENATA GOUVÊA SMITH DA SILVA
OAB/PA 13.948

RAFAELA GOUVÊA SMITH DA SILVA


OAB/PA 19.519

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