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• • Giuliana Miranda
Lisboa
Na França, que na última terça-feira (13) determinou a suspensão temporária dos voos
com o Brasil devido à situação sanitária, as redes sociais estão repletas de publicações,
vídeos e memes ofensivos aos brasileiros, muitos reunidos sob a hashtag
#VariantBresilien (variante brasileira).
Com o país em lockdown, as agressões são sobretudo online, mas não se restringem ao
universo virtual.
Alguns que tentaram rebater os ataques queixam-se de perseguição nas redes sociais.
Uma pesquisadora brasileira que vive em Paris e tem publicado as ofensas nas redes
sociais, por exemplo, pede para não ter o nome divulgado na reportagem por temer
ainda mais retaliações.
“Um cliente me disse, na minha cara, que brasileiros estão aqui espalhando doenças,
que trouxeram a Covid-19. Ele gritou e me perguntou por que eu não voltava para a
minha terra”, diz Anderson Santos, em uma das publicações.
Nos últimos meses, entregadores de um modo geral têm sido alvo de violência e
xenofobia. Gangues têm organizado emboscadas, aproveitando para agredir e roubar
encomendas, bicicletas e motos.
A discussão sobre os países sujeitos à quarentena obrigatória também levou a uma onda
de comentários ofensivos, mirando sobretudo brasileiros e sul-africanos.
“Para mim, algumas partes desse debate [sobre quarentena] tiveram um cheiro de
xenofobia”, chegou a afirmar o ministro da Saúde, Stephen Donnelly.
“Eu ouvi pessoas dizerem que devemos proteger nosso povo de estrangeiros, não é
disso que se trata”, completou.
“Não deve haver estigma associado à detecção desses vírus, mas infelizmente ainda
vemos isso acontecendo”, afirmou Maria Van Kerkhove, epidemiologista da OMS.
PORTUGAL
Brasileiros em Portugal, onde os voos diretos com o Brasil estiveram suspensos entre 29
de janeiro até a última sexta-feira (16), também relatam episódios de discriminação.
Abalada, ela diz que a situação irregular em Portugal faz com que ela não tenha
coragem de expor o caso ou tentar denunciar as ofensas.
São afirmações como “a pandemia só chegou a Portugal por causa dos brasileiros” ou
“não vou usar máscara porque é uma [funcionária] brasileira que está pedindo”.
Além dos brasileiros, a comunidade chinesa também relata aumentos nos casos de
discriminação e agressões.
“Desde que começou a pandemia comecei a sentir mais violência no discurso tanto no
espaço público como nas redes sociais”, afirmou a luso-chinesa Michelle Chan, membro
da ONG SOS Racismo, em entrevista ao jornal.
Sob pressão, o SNS (SUS de Portugal) esteve perto do colapso, e o país acabou pedindo
ajuda internacional para outros países da UE.
As viagens diretas com o Brasil também foram retomadas. Após 77 dias de suspensão,
na última sexta-feira o governo decidiu autorizar voos comerciais entre Portugal e
Brasil. Os embarques permitidos ainda são bastante limitados.
Devido à pandemia, a entrada de turistas brasileiros está proibida na União Europeia
desde março de 2020. As viagens só são autorizadas para pessoas com dupla cidadania
ou residência legal em algum Estado-membro, além de algumas exceções para
deslocamentos classificados como essenciais.
São consideradas viagens deste tipo aquelas para permitir o trânsito ou a entrada de
cidadãos por motivos profissionais, de estudo, de reunião familiar, por razões de saúde
ou humanitárias.