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Navigator 9 A campanha naval na Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai

A campanha naval na Guerra da


Tríplice Aliança contra o Paraguai
Armando Amorim Ferreira Vidigal
Vice-Almirante, graduado em Ciências Navais pela Escola Naval, é membro do Instituto de Geografia e His-
tória Militar do Brasil, do Núcleo de Estudos Estratégicos da UNICAMP e do Instituto Brasileiro de Estudos
Estratégicos. Autor de diversas obras, foi conferencista em muitos países, como Portugal, Argentina, Chile,
Colômbia, Equador, Paraguai, Uruguai e Suécia.

RESUMO ABSTRACT
Esta comunicação pretende não apenas This paper presents the sequence of facts
narrar a sequência dos fatos que constituíram a in the Naval Campaign of the Triple Alli-
Campanha Naval da Guerra da Tríplice Aliança ance War against Paraguay. It also shows
contra o Paraguai, mas também apresentar o es- the effects made to renew the Brazilian
forço para a reformulação das forças navais bra- fleet after the technological transformations
sileiras a partir das profundas transformações achieved through the Industrial Revolution.
tecnológicas oriundas da Revolução Industrial.
KEY-WORDS: Industrial Revolution, Triple Alli-
PALAVRAS-CHAVE: Revolução Industrial, ance War, Naval Battle of Riachuelo
Guerra da Tríplice Aliança, Batalha Naval do
Riachuelo

A Revolução Industrial, que teve início no fim do século XVIII, somente na segunda me-
tade do século XIX veio provocar mudanças na arte da guerra, quando, então, essas mudan-
ças ocorreram com enorme velocidade, em especial no que diz respeito à guerra no mar.
As mudanças tecnológicas nos meios de fazer a guerra, consequentemente, determinaram,
em grande parte, as táticas e a estratégia empregadas.
As ações navais na Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1864-1870) têm de ser vis-
tas, portanto, à luz das transformações tecnológicas que ocorreram no período precedente.
Após a derrota da Esquadra franco-espanhola pelos ingleses, comandados por Nelson,
em Trafalgar (1805), a Inglaterra passou a dominar os mares. A derrota de Napoleão Bona-
parte (1815) garantiu essa supremacia por praticamente um século, estabelecendo-se o que
ficou conhecido como a Pax Britannica.
Entretanto, em relação à poderosa Esquadra inglesa, esse predomínio criou uma com-
placência perigosa que mascarava a deterioração de sua eficiência em combate por trás
de uma fachada de esplendor e de um cerimonial impecável. Ao fim da primeira metade do
século XIX, novas circunstâncias iriam trazer novos desafios para o Poder Naval inglês.

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Armando Amorim Ferreira Vidigal

Sendo o Reino Unido o Poder Naval a subdivisão em compartimentos estanques


dominante e a França o Poder Naval desa- era considerada proteção suficiente e cons-
fiante, esta procurava, através da inovação tituía um novo avanço na construção naval.
tecnológica, pôr em xeque a supremacia Num ponto, entretanto, os ingleses assu-
naval britânica. Em 1850, os franceses lan- miram a liderança, embora temporária:3 os
çaram o Napoléon, um navio de propulsão canhões do navio eram do tipo Armstrong,
mista, mas já com hélice em substituição à de alma raiada, carregamento pela culatra
roda com balancim, que não só obstruía o e usavam projetis cônicos (eram, pois, mais
convés dos navios, diminuindo o número de certeiros, propiciavam maior rapidez de tiro
canhões que podiam ser instalados, como e o projetil tinha melhor capacidade de furar
tornava o navio extremamente vulnerável a couraça dos inimigos).
à artilharia inimiga. Logo depois, em 1852, A Guerra de Secessão (1861-1865) mos-
os ingleses replicaram com um navio se- trou ao mundo o primeiro combate naval en-
melhante, o HMS Agamemnon. Na Guerra tre dois navios encouraçados – o Monitor e
da Crimeia (1852-1856),1 esses navios de o Merrimack (Virginia), na Batalha Naval de
propulsão a vapor demonstraram, apesar Hampton Roads, quando ficou demonstrado,
da enorme limitação das máquinas a vapor definitivamente, a superioridade dos navios
então existentes, a sua superioridade sobre a vapor encouraçados sobre os navios sem
os navios a vela; o uso do hélice eliminava essa proteção e as vantagens da propulsão
a roda e todos os inconvenientes a ela as- a vapor. Em Hampton Roads, o navio confe-
sociados, já mencionados. Nessa mesma derado Merrimack, usando o esporão de que
guerra, ainda por iniciativa francesa, foram era dotado, afundou a Corveta Cumberland,
usadas baterias flutuantes providas de cou- de 30 canhões, podendo aproximar-se para
raça. Criavam-se assim as duas condições o abalroamento graças à sua couraça.4 O
que iriam mudar a situação até então exis- duelo entre os dois encouraçados não foi
tente no duelo entre navios e fortalezas de conclusivo, pois um não podia furar a coura-
terra: a incapacidade de os navios de ma- ça do outro. As operações navais empreen-
deira propulsionados a vela de resistirem didas pelas forças do Norte, sob o comando
ao fogo dos grandes canhões montados de David Farragut, contra Nova Orleans e
nas fortalezas e a dificuldade de os navios a Mobile (1862 e 1864, respectivamente), vie-
vela de se posicionarem convenientemente ram mostrar o que a Guerra da Crimeia já
em relação às fortalezas. O bombardeio, por permitira vislumbrar: a capacidade de uma
navios franceses e ingleses, das baterias de força naval de forçar a passagem de pontos
Kinburn, atesta essa nova realidade.2 estratégicos defendidos por fortalezas. Essa
O projetil explosivo Paixhans – projetil lição seria importante para os brasileiros na
oco, cheio de pólvora, que explode por meio Guerra do Paraguai.
de uma mecha – foi usado pela primeira vez Não se pense, porém, que as forças na-
nessa mesma guerra, na Batalha de Sinope vais que vão se defrontar na Guerra da Tríplice
(1853), no Mar Negro, quando a Esquadra Aliança acompanharam a evolução tecnoló-
russa, já dispondo desses projetis, incendiou
e destruiu a força turca, o que deu, aliás, mo- gica de países como a Inglaterra e a França.
tivo para a intervenção anglo-francesa. As Esquadras argentina e brasileira que se
A experiência francesa com as baterias enfrentaram na Cisplatina (1825-1828) pou-
flutuantes encouraçadas deu lugar ao de- co diferiam da Esquadra anglo-franco-russa
senvolvimento de navios encouraçados, pro- que, em 1827, na mesma época portanto,
tegidos por uma couraça de ferro. O Gloire, derrotou a Esquadra turca em Navarino, na
projeto do grande arquiteto naval Dupuy de Guerra da Independência da Grécia. O mes-
Lome, no final da década de 1850, é o pri- mo não se pode dizer em relação aos navios
meiro de uma série de navios com couraça que tomaram parte na Guerra da Crimeia e
de proteção. Em 1860, os ingleses lançam os navios brasileiros e paraguaios que toma-
ao mar o HMS Warrior, que já foi totalmente ram parte na Guerra do Paraguai, tecnologi-
construído de ferro, além de dotado com cou- camente bem mais atrasados (pelo menos
raça no seu corpo central; nas extremidades, no início do conflito).

1
Alguns analistas consideram que a Guerra da Crimeia só teve início em1853, quando ocorreu a intervenção anglo-
-francesa no conflito entre a Rússia e a Turquia.
2
Somente a Guerra de Secessão, conforme veremos, iria fazer pleno uso do navio encouraçado para sobrepujar
fortalezas de terra.
3
Temporário, pois o canhão Armstrong teve de ser retirado por muito tempo de serviço devido aos defeitos apre-
sentados no seu sistema de disparo.
4
O esporão podia atingir o navio inimigo onde este não era protegido pela couraça. A aproximação para o abalroa-
mento era possível graças à resistência da couraça ao poder de fogo dos canhões da época.
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A frota brasileira, no começo de 1865, glaterra, o Colombo e o Cabral. Todos esses


compreendia 45 navios armados, dos quais navios já estavam incorporados em 1866. Na
apenas 33 eram de propulsão mista e os de- França, foram adquiridas as Canhoneiras
mais a pano; todos tinham o casco de ma- Henrique Dias, Fernandes Vieira, Felipe Cama-
deira e muitos já usavam canhões de alma rão e Vital de Oliveira, incorporadas em 1868.
raiada e carregamento pela culatra; 609 ofi- O primeiro navio encouraçado a chegar
ciais e 3.627 praças tripulavam esses navios. à área de operações, em dezembro de 1865,
Entretanto, nem todos esses navios podiam foi o Encouraçado Brasil, adquirido na França
ser concentrados no Prata e muitos tinham com os recursos provenientes da subscrição
que ser mantidos ao longo de nossas exten- pública quando da Questão Christie (1863).
sas costas, engajados em tarefas especí- Para que os navios em operação no Prata
ficas. A flotilha do Prata que, pouco antes, não tivessem que se deslocar para o Rio de
sob o comando de Tamandaré, havia inter- Janeiro para reparos, e não existindo facilida-
vindo no Uruguai, contra o governo de Ma- des adequadas para reparo e apoio logístico
nuel Aguirre, era composta por 19 vapores, dos navios nos portos do Prata, foi estabeleci-
dos quais muitos ainda usavam a roda (por do o Arsenal do Cerrito, nas proximidades da
exemplo, a fragata capitânia de Barroso em confluência do Paraná com o Paraguai, que
Riachuelo, a Amazonas) e três transportes prestou inestimáveis serviços na guerra.
a vela. A Niterói, que fazia parte da flotilha, A força paraguaia, além dos dois navios
por força de seu calado, não podia operar argentinos (Vapores Gualeguay e 25 de Maio)
nos Rios Paraná e Paraguai, pouco podendo e um brasileiro (Vapor Marquês de Olinda),
contribuir para o esforço de guerra. apresados logo no início das hostilidades, dis-
A Flotilha de Mato Grosso, envolvida nas punha de 23 vapores, de madeira e propulsão
operações, compreendia apenas seis pe- mista, à roda (a única exceção era o Pirabebe,
quenos vapores que, no total, dispunham pequeno navio fluvial, de estrutura de ferro e
apenas de dois canhões. a hélice), três navios a vela, três lanchões e
O grande fator de força, porém, estava inúmeras chatas que teriam importante pa-
no Arsenal da Corte que, além de apoiar os pel no conflito. O número total de canhões
navios existentes, deu início a um gigantes- era de 99. Grande parte desses navios era na-
co programa de construção naval: em 1865, vios mercantes convertidos – a exceção era
são lançados a Canhoneira a vapor Taquari, o Taquary –, fato muito comum numa época
dois navios encouraçados – o Tamandaré e em que a diferença entre navios mercantes
o Barroso; em 1866, o navio encouraçado e de guerra era quase que exclusivamente o
Riachuelo, as Bombardeiras Pedro Afonso provisionamento de artilharia.
e Forte de Coimbra; em 1867, a Corveta Vi- Para impedir que navios inimigos subis-
tal de Oliveira, os Monitores encouraçados sem o Rio Paraguai, os paraguaios construí-
Pará, Rio Grande e Alagoas; em 1868, mais ram uma série de fortalezas nas margens do
três Monitores encouraçados Piauí, Ceará e rio, em pontos estrategicamente escolhidos,
Santa Catarina e é iniciada a construção da onde as condições geográficas e hidrográ-
Corveta encouraçada Sete de Setembro, do ficas dificultavam a manobrabilidade dos
Vapor Level e do Rebocador Lamego. navios. Antes da guerra, todos os esforços
Há que destacar o extraordinário es- foram feitos no sentido de impedir que as
forço dos engenheiros Napoleão Level e condições hidrográficas do rio fossem co-
Carlos Braconnot e do Capitão-de-Fragata nhecidas, tornando a praticagem muito ar-
Henrique Antônio Batista, especialista em riscada. Essas fortalezas foram construídas
armamento. próxima à foz do rio e, junto com as bate-
O Arsenal de Mato Grosso, o segundo rias de canhões montadas nas barrancas e
em importância, construiu em 1864 o Vapor de atiradores armados de fuzis, tornavam
fluvial de rodas Paraná e o estaleiro de Ponta impossível o deslocamento dos navios bra-
da Areia, no ano seguinte, duas canhonei- sileiros em apoio às tropas de terra na sua
ras: a Greenhalgh e a Henrique Dias. penetração no território inimigo.
No exterior foram contratados, em 1865, A “inexpugnável” Humaitá era a mais po-
cinco pequenos encouraçados, um na Fran- derosa dessas fortalezas que, em conjunto,
ça e quatro na Inglaterra – Silvado, Bahia, eram o mais poderoso obstáculo à liberdade
Lima Barros, Herval e Mariz e Barros. Esses de ação dos navios brasileiros no Rio Para-
navios haviam sido encomendados pelo Pa- guai, mesmo sem se levar em conta a frota
raguai que, por força do bloqueio imposto paraguaia.
pelo Brasil, teve de desistir deles. Foram A Batalha Naval do Riachuelo (1865) é
adquiridos ainda dois encouraçados na In- um dos poucos exemplos de batalha deci-

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siva, isto é, a batalha que termina com a Tamandaré doente é substituído pelo Almi-
destruição quase total da Esquadra inimiga. rante Joaquim José Ignácio, futuro Visconde
Apesar de pouco adequada às condições da de Inhaúma.
área de combate – um trecho do Rio Para- Em meados de 1867, Mitre, de volta ao
ná de difícil navegação, já que abrangia um comando dos exércitos, deu ordens para
canal tortuoso, entre bancos de areia, ina- que a Esquadra forçasse a passagem de
dequado para a manobra dos navios brasi- Curupaiti e Humaitá. A 15 de agosto, duas
leiros de grande porte – tendo de enfrentar, divisões de encouraçados (ao todo, dez na-
além dos navios paraguaios e das chatas ar- vios) ultrapassaram, sem perdas, Curupaiti,
tilhadas, a forte artilharia instalada nas bar- mas tiveram de se deter diante dos canhões
rancas ao Norte e ao Sul de Riachuelo, e os de Humaitá. Inhaúma resistiu bravamente
infantes armados, que das barrancas alveja- às pressões de Mitre para forçar a passa-
vam as guarnições dos navios, a divisão bra- gem de Humaitá por julgar, com razão, que
sileira, sob o comando do Chefe-de-Divisão isso colocaria em risco os seus navios. Os
Francisco Manoel Barroso da Silva, obteve navios brasileiros que ultrapassaram Curu-
uma vitória decisiva graças, principalmente, paiti ficaram em situação muito difícil, se-
à arrojada manobra do chefe naval brasilei- parados do restante da Esquadra pelo Forte
ro que, mesmo seu navio não dispondo de de Curupaiti e impedidos de seguir adiante
esporão, abalroou os navios inimigos que, pela Fortaleza de Humaitá. Para apoiá-los foi
de menor porte, não resistiram (um ano necessário construir, na margem direita do
mais tarde, na Guerra Austro-Prussiana, em Rio Paraguai, quase em frente à Humaitá,
Lissa, os austríacos usariam a mesma táti- uma pequena base avançada, Porto Elisiá-
ca contra os italianos, aliados da Prússia). rio, e construir, em pleno Chaco, uma ferro-
A eliminação da Esquadra paraguaia – ape- via ligando a base a Porto Quia.
nas quatro navios escaparam da destruição Novas dissensões entre os chefes aliados
– teria importantes consequências estraté- fizeram com que Mitre mais uma vez se afas-
gicas: impediu a invasão da Província de tasse, assumindo Caxias o Comando-em-
Entre Rios, isolou as tropas de Estigarribia -Chefe. Após a chegada dos navios encoura-
que estava atacando o Rio Grande do Sul çados, inclusive os construídos no Arsenal da
e pôs fim ao Poder Naval paraguaio. Entre- Corte, foi decidido que havia condições para
tanto, em termos totais ela não foi estrate- ultrapassar Humaitá. Em fevereiro de 1868,
gicamente decisiva, pois as fortalezas e as a passagem foi forçada pelos Encouraçados
chatas paraguaias – “verdadeiros monitores Barroso, Bahia e Tamandaré, cada um levando
de madeira”, armadas com canhões de 68 a contrabordo, por bombordo, um monitor,
(os maiores da época) – eram um obstácu- respectivamente o Rio Grande, o Alagoas e
lo formidável, impedindo que a Esquadra o Pará. A praça de Humaitá foi cercada pe-
brasileira se deslocasse livremente pelo Rio las forças de terra, rendendo-se em julho de
Paraguai para dar o indispensável apoio às 1868. A força brasileira que forçou a passagem
tropas de terra. Em consequência, as opera- foi comandada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra
ções, no período de abril de 1866 a julho de Delfim Carlos de Carvalho que, por esse feito,
1868, concentraram-se na confluência dos foi mais tarde agraciado com o título Barão da
Rios Paraná e Paraguai. Passagem.
Um bom exemplo dessas dificuldades Os monitores, por força de seu pequeno
ocorreu em 1866: a tentativa de Bartolomeu calado, puderam cruzar sobre as correntes
Mitre, então comandante-em-chefe das ope- que bloqueavam o rio nas proximidades de
rações contra o Paraguai, de atacar os fortes Humaitá e, por serem rasos com a água, ofe-
de Curuzu e Curupaiti, à margem direita do reciam alvo muito pequeno ao fogo inimigo,
Rio Paraguai, para ameaçar Humaitá. Ata- além de, graças à couraça, resistirem melhor
cada de surpresa, Curuzu foi conquistada caso fossem atingidos. Pelo fato de disporem
pelas tropas do Barão de Porto Alegre a 3 de torres couraçadas, conteiráveis, não cor-
de setembro de 1866, mas Curupaiti resistiu riam o risco, caso elas fossem atingidas, de
ao assalto de cerca de 20 mil argentinos e explodirem, como acontecera em Itapiru com
brasileiros, que sofreram uma esmagadora os Encouraçados Tamandaré e Barroso.
derrota: morreram cerca de cinco mil ho- Com a queda de Humaitá, a Esquadra
mens, dos quais apenas cerca de 200 eram Imperial teve seu caminho livre até Assun-
paraguaios. O apoio da Esquadra brasileira, ção, passando a bombardear a capital inimi-
sob o comando de Tamandaré, não evitou a ga. As tropas terrestres, porém, não conse-
derrota. guiam avançar, pois os paraguaios tinham
As dissensões entre os chefes aliados le- se entrincheirado ao longo do Arroio Piquis-
varam à substituição de Osório por Caxias; siri, barrando o caminho para Assunção.

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Essas defesas eram apoiadas pelos Fortes finitivamente a 1o de março de 1870, quando
de Lomas Valentinas e de Angustura, este uma lançada do Cabo Chico Diabo pôs fim à
à margem direita. As tropas aliadas esta- vida de Solano López, em Cerro Corá.
vam concentradas em Palmas, em frente O Brasil pagou um alto preço pela guer-
às fortificações de Piquissiri. Para vencer o ra. Dos cerca de 160 mil brasileiros que to-
impasse, Caxias desenvolveu uma das mais maram parte na guerra, 50 mil perderam a
brilhantes concepções da guerra. Em pleno vida e cerca de mil ficaram inválidos.
Chaco, fez construir uma estrada de 11 km, Da mesma forma que em outros confli-
em apenas 23 dias. Nos primeiros dias de tos no século XIX, as altas taxas de morta-
dezembro de 1868, três divisões do Exército lidade foram uma consequência das péssi-
Brasileiro foram embarcadas na Esquadra
mas condições de higiene reinantes e da má
Imperial na margem esquerda do rio, atra-
alimentação das tropas, facilitando a propa-
vessando-o; essas tropas desembarcaram
então na margem direita, percorreram a gação de doenças que, mais que os com-
pequena estrada construída até atingirem bates, causaram os óbitos. A cólera-morbo
possivelmente foi a maior responsável pelas
o Porto de Valleta, onde foram reembarca-
baixas.
das, atravessando de novo o rio em direção
O Império do Brasil gastou nos cinco
à margem esquerda, desembarcando nos
anos de guerra quase o dobro de sua recei-
Portos de Santo Antonio e Ipané, cerca de
20 quilômetros à retaguarda das tropas pa- ta, sendo necessário angariar empréstimos
raguaias em Piquissiri, surpreendendo Ló- no Banco de Londres e nas casas Baring e
pez completamente, já que ele não julgava Rotschild. Não se pode dizer o mesmo da
possível que uma tropa considerável pudes- Argentina, que muito se beneficiou com as
se se deslocar através do Chaco. compras feitas pelo Brasil em Entre Rios e
Em 6 de dezembro de 1868, as tropas ini- Corrientes, incluindo gado, mantimentos e
ciaram o avanço para o sul, dando início ao outros produtos essenciais para as tropas.
que ficou conhecido como a Dezembrada. Infelizmente, o avanço tecnológico na
Itororó, Avaí e Lomas Valentinas são etapas construção naval que teve lugar durante o
da vitória aliada. As forças navais usando conflito não teria continuidade, já que as
o porto de Valleta mantiveram as tropas de dificuldades financeiras do País impediram
Caxias reabastecidas. A queda de Lomas que a Esquadra se renovasse. O Brasil não
Valentinas levou à de Angustura. A 30 de acompanhou as mudanças que tiveram lu-
dezembro, López e um pequeno contingente gar no resto do mundo e veria, a partir do
de paraguaios fugia para o Norte. Nos pri- fim da Guerra do Paraguai, o seu Poder Na-
meiros dias de janeiro de 1869, Assunção foi val se deteriorar inexoravelmente, o que só
ocupada e, em termos políticos, a guerra es- iria se reverter com a efetivação do Progra-
tava encerrada. Entretanto, ela só o seria de- ma Naval de 1906.

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