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A Ilustração Portuguesa – “A Rainha reina, mas não governa” – Período, a partir da década
de 1790, em que D. Maria é afastada e seu filho e herdeiro D. João exerce a regência. A
década de 1790 é chamada de “Ilustração Portuguesa”. Quando a ideia de Império Luso-
brasileiro ganha força e vai ser implementada no contexto das “Guerras Napoleônicas” com a
transmigração/transferência da corte para o Rio de Janeiro. Além de fugir de Napoleão, a
família real portuguesa estava implementando um projeto estratégico, considerando que
vários monarcas perderam a cabeça durante as “Guerras Napoleônicas”, enquanto D. João
manteve sua cabeça e sua dinastia no poder tanto na Europa, quanto na América Portuguesa.
O processo de independência tem que ser relacionado sempre com a conjuntura que está
acontecendo em Portugal, considerando que há uma guerra civil entre portugueses do reino e
portugueses enraizados na América Portuguesa. O iluminismo português é tardio. No
“Período Pombalino” o iluminismo teve influência no despotismo esclarecido, política de
reformas e modernização da administração utilizada por Pombal para manter o poder do Rei.
No momento da ilustração portuguesa, as reformas realizadas por Pombal, na educação, irão
refletir no processo, pois gora vamos falar de atores formados em universidade, com
currículos padronizados, que estavam no ostracismo político devido as políticas retrógradas
adotadas no período em que D. Maria governou, ou seja, até a década de 1790, (Após perder
o marido e o filho primogênito, D. Maria é licenciada/afastada por apresentar sinais de
loucura). Estes atores vão assumir papeis importantes como estadistas, estrategistas, quando
D. João assume a regência. A Banca entende que a geração da década de 1790 representa o
“Iluminismo da Ilustração Portuguesa”. D. João somente é coroado rei de Portugal e
Imperador do Brasil em 1818, depois da Revolução Pernambucana. É o primeiro Imperador
coroado na América.
Em síntese, D. Maria é afastada em 1792, D. João passa a exercer o governo de Portugal de
fato. Em 1799, a corte vai considerar D. João oficialmente “Príncipe Regente” do trono
português. A política da “Viradeira” (desfazer as políticas Pombalinas) adotada por D. Maria
começa a perder força e isso abre espaço na regência/governo de D. João para aqueles
“estrangeirados”, que haviam tido contato com as “ideias afrancesadas”. Vai ser possibilitado
para este “estrangeirados” pensar o Estado Português, propor reformas, mudanças, ocupar
Ministérios, etc... Isso abre espeço para a “geração 1790”, “geração racionalistas”
influenciada pelo Iluminismo. É a geração formada nas Universidades Portuguesas após as
reformas na educação propostas no “Período Pombalino”. É uma geração que estava no
ostracismo enquanto a D. Maria exerceu o governo. No momento da Ilustração, destaca um
ator chamado Rodrigo de Souza Coutinho “futuro Conde de Linhares”. Este sujeito será um
dos ministros nomeados por D. João. Em termos de “status” se equivalerá ao Pombal e ao
Gusmão. Assim como padre Antônio Vieira, Dom Rodrigo de Souza Coutinho (pertencente à
geração de 1790) propõe a transmigração do aparato administrativo da Metrópole para a
Colônia. Para Dom Rodrigo, a criação de um Império transoceânico governado pela dinastia
dos Bragança, com sede no Rio de Janeiro, seria a melhor estratégia para aumentar o poderio
português. Quando a família real chega no RJ, ele será o principal ministro de D. João. Logo
após D. João assumir oficialmente a regência em 1799, começará aparecer uma série de
consequências decorrentes das “Guerras Napoleônicas”, no território português, na Península
Ibérica, na Política Internacional, na forma como Portugal se insere no consenso das Nações.
Então, neste momento, acontece uma certa divisão no Ministério português. Uma parte é
favorável à uma aproximação com a França, outra parte que manter e perpetuar a aliança
histórica com a Inglaterra. Na medida que Napoleão avança, faz bloqueio continental e
ameaça invadir Portugal, tem um grupo de Ministros que entende que o melhor a ser feito é
ceder às exigências de Napoleão pra não ser derrotado, enquanto outra parte, inclusive, o
Ministro Rodrigo de Souza Coutinho defende que é necessário resistir às investidas de
Napoleão. O grupo que defende a aliança com a Inglaterra vai sistematizar um projeto que
povoava o imaginário de estadias/estrategistas portugueses há muito tempo, principalmente,
no período que sucedeu a Restauração, no século XVIII. Estes estadistas entendem que o
Oceano Índico não é mais o eixo principal do Império português. O eixo do Império
português, para estes estrategistas, é, na verdade, o Oceano Atlântico, mais especificamente, o
“Atlântico Sul”. Para isso, consideraram que a Europa, naquele momento, era um território
perigoso para manter a cabeça do império português, devido ao momento de guerras
sistêmicas que estavam vivenciando, principalmente, porque Portugal era um território
relativamente muito menor que os países vizinhos e podia ser atacado a qualquer momento.
Nessa lógica, a ala dos estadistas liderados por Rodrigo Coutinho sugeriu que nada mais
lógico e estratégico para Portugal do que transferir a “cabeça” do reino, a sede da Coroa, para
o Atlântico Sul, especificamente, para a América, onde Portugal não tinha inimigos
poderosos, além disso, a América possuía um território vasto que possibilitava a expansão do
Império e a segurança da corte por estar separada da Europa por um Oceano inteiro,
considerando a aliança com a Inglaterra, ainda poderiam contar com a proteção da Marinha
Inglesa. Enfim, era mais lógico e mais favorável transferir a cabeça do Império para a
América Portuguesa. O Atlântico Sul, neste momento, era a parte mais estratégica do Império,
pois possibilitava o tráfico de escravos africanos, era onde estava localizada a região da
mineração, a fronteira conflagrada (Sacramento). Com efeito, a “geração de 1790”, em
especial, Rodrigo de Souza Coutinho é que vai sistematizar o raciocínio quanto a importância
da transferência do eixo do império para o Atlântico Sul. Esse raciocínio será sistematizado e
ficará conhecido como “Projeto do Império Luso-brasileiro”. Esta ideia já havia sido
proposta, na Restauração, pelo Padre Antônio Vieira, que enfatizava a fragilidade de
Portugal em meio às disputas entre as potências europeias, marcadamente entre França
e Inglaterra, e a importância das possessões coloniais para a manutenção da Coroa
portuguesa. Lembrando que este projeto não foi inventado pela “geração 1790”, somente
maturado, sistematizado e implementado. Quando a corte portuguesa chega ao Brasil, o
império português inicia um projeto de expansão e implementação de políticas de império,
através de invasões de territórios vizinhos, vai invadir Caiena/ Guiana Francesa, vai invadir a
Banda Oriental e vai se afastar dos perigos que estavam submetidos na Europa. Como dito
alhures, D. João é o único monarca que mantém sua cabeça no período de guerras
napoleônicas.
- (Processo de interiorização da metrópole - Ler capítulo Maria Odila Leite da Silva Dias).
INDEPENDÊNCIA:
A Independência é interpretada a partir da tese da Maria Odila que explica o processo de
interiorização da metrópole, especificamente, no centro-sul da América Portuguesa, que se
inicia em 1808, com a chegada da Corte no RJ e, em 1822, resulta em uma espécie de guerra
civil entre portugueses enraizados e portugueses do reino. Isso no bojo da “Revolução
Liberal do Porto”, símbolo do “Constitucionalismo Português” e inserida no contexto
chamado por Hobsbawm de “Onda do Mediterrâneo” (“Houve três ondas revolucionárias
principais no mundo ocidental entre 1815 e 1848. (...) A primeira ocorreu entre 1820-4. Na
Europa, ela ficou limitada principalmente ao Mediterrâneo, com a Espanha (1820), Nápoles
(1820) e a Grécia (1821) como seus epicentros). No caso da Península Ibérica, este
Constitucionalismo está atrelado a “Onda Revolucionária se 1920” e vai ser utilizado para
criar uma constituição, a fim de limitar o poder do Rei. A princípio a Revolução liberal do
Porto é feita para derrotar o absolutismo, o Rei. No caso o D. João VI, que estava na América
e não tinha voltado para Portugal após o Concerto de Viena. A Revolução liberal do Porto vai
dar origem as Cortes de Lisboa, que vão se reunir em Lisboa, na condição de Junta
Governativa, Poder Soberano da Nação e como legislativo. Começam, portanto, a legislar.
Dentre as deliberações postulam o retorno do Rei D. João VI e da família real para Portugal.
D. João deveria voltar para se submeter à autoridade legisladora das Cortes, ao
Constitucionalismo e jurar a Constituição que seria criada por estas cortes. Esse movimento
ocorre no mesmo momento em que as Cortes anunciaram eleições para representantes do
Império Ultramarino inteiro nas Cortes de Lisboa. Em síntese, as Cortes anunciam que são
responsáveis por criar a legislação, que Portugal não terá mais absolutismo, vai ter uma
constituição, o poder emana do povo, o Rei vai ter que aceitar a limitação de seus poderes. A
Constituição seria construída não somente pelos liberais do Porto ou pelas Cortes de Lisboa,
mas, sim, por todos os representantes dos interesses do reino e de todas as partes do Império.
Nesse contexto, se inicia, inclusive um processo de escolha de representantes do Rio de
Janeiro, São Paulo para as Cortes de Lisboa.
Resultados da “Revolução Liberal do Porto:
****Os que os portugueses do reino querem? O retorno do Rei, a elaboração e a subordinação
do rei a uma constituição e a restauração do pacto colonial (relação de dependência entre
metrópole e colônia).
- Retorno de D. João VI e da família real para Portugal.
- Surgimento de um “Constitucionalismo Português” que gerou a demanda do retorno da
família real para Portugal
- O Surgimento de um “Liberalismo à Brasileira”, ou seja, é a apropriação das ideias liberais
na América é que vai empolgar boa parte das elites locais, num primeiro momento, quando a
“Revolução Liberal do Porto” começa e promete as eleições para representantes de TODAS
as partes do reino para fazer parte das “Cortes de Lisboa”. No caso das elites brasileiras,
principalmente, as que estão fora do Centro-Sul, esse “liberalismo à brasileira” vai estar
associado a um período de certa empolgação com a possibilidade de participar da criação da
Constituição Portuguesa, de legislar sobre o reino inteiro. De fato, serão eleitos representantes
aqui na América. Por exemplo, José Bonifácio, representante de São Paulo, escreve as
instruções/orientações das “cortes de São Paulo” para as cortes de Lisboa. Essa ideia de um
“liberalismo à brasileira” vai, de fato, ganhar a elite brasileira por um tempo, associado ao
Constitucionalismo Português, associado a crença, a esperança, de que os representantes
brasileiros teriam voz nas Cortes Portuguesas, teriam voto em uma possível Assembleia
Constituinte. Quando chegam em Portugal, os representantes brasileiros sofrem uma desilusão
ao perceberem que não terão nem voz e nem voto. Quando retornam, eles conseguem ver com
clareza as reais intenções das Cortes de Lisboa, que é recolonizar a América Portuguesa e
restituir o “status quo” anterior a 1808, antes da abertura dos Portos. Fica nítida a vontade das
Cortes em reestabelecer o exclusivo metropolitano, a relação metrópole/colônia. Eles são
liberais e Constitucionalistas, em termos políticos, para limitar o poder do rei, em Lisboa. Em
termos econômicos, querem regredir e instituir novamente o mercantilismo, submetendo
novamente a América Portuguesa ao status de colônia. Após a frustração sofrida nas Cortes de
Lisboa, os representantes da América Portuguesa entendem que é uma falácia dizer que o
reino inteiro estava em um momento liberal. Na verdade, as Cortes de Lisboa devem ser vistas
nomo inimigas. Nesse momento, emerge claramente uma espécie de guerra civil entre as
elites locais (portugueses enraizados e colonos brasileiros) contra os portugueses do reino.
***Influência de ideia liberais “liberalismo a brasileira” e sua repercussão no Brasil: O
liberalismo no Brasil, nesse momento, é adotado pelas elites brasileiras com empolgação e
entusiasmo frente a possibilidade de obter representação (VOZ e VOTO) nas Cortes
Portuguesas. Este liberalismo consegue conciliar as ideias liberais de liberdade individual e
que todos são iguais perante a lei com uma realidade brasileira que adota o regime de
escravidão. O direito à liberdade individual não é compatível com uma realidade que aceita
legalmente o regime de escravidão. Desta incongruência nasce o “Liberalismo à Brasileira”.
O principal teórico deste conceito é o cientista político Christian Lynch, que leciona no
seguinte sentido: Desde o final do século XVIII, uma forma de liberalismo, expressado
através da Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Conjuração Carioca, enfim, havia a
circulação de ideias liberais, por exemplo, no areópago de Itambé. Na visão deste escritor, no
fim do século XVIII e início do século XIX, no Brasil, a ideia de liberdade era interpretada
sob a ótica de uma sociedade do antigo regime, denominada de “liberdade dos antigos”. No
Brasil aplicava-se a ideia de que somente podia se liberal o nobre/pessoa de qualidade/homem
bom. Os plebeus, os Escravos não eram pessoas de qualidade e não podiam ser um liberal.
Este pensamento está umbilicalmente ligado ao pensamento típico do antigo regime
português, que condena o trabalho mecânico/manual. A liberdade é compreendida como um
privilégio. Isso faz com que os comerciantes, quando ganham dinheiro, invistam em terras e
escravos para poder ganhar status de nobreza da terra. Até 1808, no Brasil, não havia
qualquer espécie de tipografia (textos impressos), a própria legislação proíbe. A Imprensa
Régia, criada por D. João, é a primeira impressa brasileira. Não havia, portanto, nenhum livro
ou jornal produzido no Brasil. Os livros com ideias afrancesadas eram importados da Europa.
Também não tinha Universidade no Brasil. Os filhos das elites estudavam em Portugal
(Coimbra). Também não havia a ideia de Brasil, a identidade era regional. Os colonos se
identificavam com o lugar onde efetivamente moravam e não se sentiam brasileiros. Pelo
contrário, se sentiam súditos de Portugal na América. A Corte quando chega ao Brasil, em
1808, vai alterar esta conjuntura, pois vai estabelecer uma série de medidas para enquadrar a
América nos moldes europeus, dentre estas, a criação de universidade e Imprensa. Com a
criação da imprensa régia “chapa branca”, ideias que até então eram desconhecidas, começam
a circular. Por exemplo, um jornal de oposição chamado “Correio Braziliense” (1808/1823),
de Hipólito José da Costa, único jornal de oposição que circulava de forma clandestina. Era
impresso na Inglaterra, pois a Imprensa Régia controlava o que podia ou não ser impresso.
Além disso, tinha a mesa de consciência e ordem que promove a censura os textos
inconvenientes. Este jornal foi um difusor de ideias liberais na América. Enfim, para ler sobre
ideias liberais, era necessários ler textos importados. Quando o Brasil é elevado a “Reino
Unido”, em 1815, a ideia de que existem portugueses do reino e portugueses da América se
consolida e retarda a construção de uma identidade brasileira, condição “sine qua non” para
existir qualquer projeto de Independência. Este pensamento vigorou até o momento em que as
Cortes de Lisboa deixaram clara a intenção de recolonizar a América. Quando os Colonos
percebem os reais objetivos das Cortes de Lisboa, fica clarividente que há um conflito de
interesses entre os portugueses do reino e os portugueses da América. Neste momento, é
germinada a ideia de um sentimento de identidade brasileira. Há uma série de especificidades
que corroboram a singularidade do Liberalismo edificado no Brasil:
***Experiência direta com o Regime Monárquico desde a chegada da Corte no Rio de
Janeiro, em 1808.
***Ao longo da década de 1810, a elite brasileira começou adotar o liberalismo dos antigos,
condicionado à presença de uma monarquia que está estabelecida no Brasil e, ao mesmo
tempo, com o exemplo negativo de vários “vizinhos” que se transformaram em Repúblicas e
caíram em desordem, do ponto de vista da elite brasileira. Destarte, o “liberalismo à
brasileira”, submetido ao raciocínio da elite local, se trata de um liberalismo
fundamentalmente constitucional, vinculado ao objetivo estrito de criar uma monarquia
constitucional, não se trata de um liberalismo republicano. Esse fator explica o motivo pelo
qual o Brasil não virou República após a Independência. Portanto, até 1808, vigora no Brasil,
um liberalismo muito específico, baseado no conceito de liberdade do antigos, qual seja:
Somente os nobres podiam ser liberais! Com efeito, até 1808, o Liberalismo Brasileiro
padecia por um defeito de origem, qual seja, estava sendo pensado e construído privado de
uma ideia elementar à compreensão do liberalismo político: a igualdade/isonomia jurídica de
todos perante a lei! A ideia de “liberdade dos modernos” somente começa a ser embrionada
depois da chegada da Corte, em 1808, que introduz a imprensa, autoriza a manufatura, cria
Universidades, acaba com o monopólio comercial, recebe estrangeiros. As sublevações
organizadas antes de 1808 são feitas a partir do conceito elitista e limitado do liberalismo dos
antigos. A ideia moderna de liberdade é inaugurada primeiro sob a perspectiva do liberalismo
econômico. Antes de haver uma defesa do liberalismo político, existiu um defensor do
liberalismo econômico: José da Silva Lisboa, o “Visconde de Cairu”. Segundo Amado Cervo,
foi o Visconde de Cairu que influenciou D. João a determinar a abertura dos portos e não
conceder privilégios alfandegários para a Inglaterra. O liberalismo político é discutido,
somente depois, através de ideias veiculados no jornal de oposição Correio Braziliense.
Portanto, as elites (o liberalismo ainda não se estende às camadas populares) somente vão
incorporar o liberalismo político depois da implantação do liberalismo econômico. No Brasil,
somente depois do “Vintismo” (década de 1820), do Constitucionalismo português, da
“Revolução do Porto” e da decepção das elites frente à hipótese de recolonização, a ideia de
“liberdade moderna” passou a ser associada a ideia de direitos e garantias do indivíduo
perante o Estado. A igualdade de todos (as elites) perante a lei. Esta ideia de igualdade,
obviamente, não abrange o povão, considerando que se a igualdade fosse pensada sob uma
perspectiva de massa, poderia haver transformações sociais importantes, mas desalinhadas
dos interesses das elites, por exemplo, o fim da escravidão.
***No Brasil, algumas vezes, o liberalismo econômico é atrelado ao liberalismo político. No
segundo reinado, TODOS os partidos políticos eram liberais. Toda elite que controla o
Estado Português deste 1831, desde o 7 de abril, desde a abdicação de D. Pedro, desde o
início da Regência é liberal politicamente, “sincronizando o “liberalismo moderno”, com
isonomia, e um regime vigente de escravidão, configurando o “liberalismo a brasileira”. Para
conciliar liberalismo político e a escravidão, as elites brasileiras se apropriam da ideia de
liberalismo econômico, que está relacionada diretamente ao direito sagrado de propriedade e a
liberdade comercial. Sob esta perspectiva o escravo é considerado propriedade. Nos trópicos,
portanto, no “vintismo”, quando começa a ser propagado amplamente o liberalismo político, a
ideia de liberdade/isonomia, é conciliada “à brasileira” com a ideia de propriedade para
justificar a manutenção da escravidão. Com efeito, todos são iguais perante a lei, exceto,
aqueles que são propriedade de alguém e, portanto, não podem ser abrangidos pelo Estado.
Esta é ideia que consta, inclusive, na Constituição de 1824. Esta Constituição não é totalmente
liberal.
***O processo de independência está umbilicalmente ligado ao projeto de restauração do
exclusivo colonial e da recolonização, encabeçado pelas “Cortes de Lisboa”. Quando as elites
brasileiras se conscientizam das reais intenções das Cortes de Lisboa, inaugura-se um período
de confrontos, de um lado, a pressão do “Liberais do Porto” pela restauração do exclusivo
colonial, de outro lado, as elites brasileiras resistindo à recolonização. A verdade é que D.
João atendeu as orientações das “Cortes de Lisboa”, retornou à Europa, estrategicamente,
concordou com a criação e “jurou” a Constituição. A única reivindicação das “Cortes de
Lisboa” que faltava ser alcançada era a recolonização da América Portuguesa. Lembrando
que, no “Vintismo”, em Portugal, o conflito que permeia a sociedade portuguesa é a oposição
entre o liberalismo e o absolutismo. A partir desta conjectura, a Banca interpreta que, o Brasil,
na década de 1820, reproduz o confronto existente na Europa entre liberalismo e absolutismo.
Ou seja, o processo que ocorre no Brasil, no “Vintismo”, é análogo ao que está ocorrendo na
Europa. Neste sentido, há um confronto aberto entre o príncipe regente do Brasil (D. Pedro foi
nomeado príncipe regente por decreto) e as “Cortes de Lisboa”. D. João deixou uma carta
para o filho, orientando, entre outras coisas, que na hipótese de ser necessário pleitear a
independência do Brasil, ele preferia que o próprio príncipe demandasse pela liberdade da
América Portuguesa. Na visão de D. João, o Príncipe reivindicar a independência impediria
que este processo fosse liderado por um “republicano aventureiro”, a exemplo de Bolivar e
Artigas, revolucionários da América Espanhola. Com esta estratégia, D. João garantiu a
manutenção da Dinastia dos Bragança tanto na Europa quanto na América. Brasil negociou e
pagou pela Independência. Urge registrar que, a negociação foi tripartite, na qual se
destacou a mediação da Inglaterra entre metrópole e ex-colônia. Essa negociação ocorreu
entre Brasil, Portugal e Inglaterra. Estava em jogo o reconhecimento da independência por
parte de Portugal, efetivado em 1825. No caso dos ingleses, somente reconheceram a
independência brasileira em 1826 (Neste momento, o reconhecimento da Independência pela
Inglaterra era condição essencial para que outras potências também o fizessem, devido à
relevância dos britânicos no Sistema Internacional). A primeira nação a reconhecer a
independência do Brasil, são os Estados de Benin e Onin (atual Nigéria). Formalmente é os
Estados Unidos. O resultado é a dinastia Bragança tanto no governo de Portugal, quanto no
governo do Brasil Independente. A estratégia Joanina para impedir que a Independência fosse
realizada por um “Republicano Aventureiro” foi um sucesso, assim como a artimanha
engendrada para “fugir” do Napoleão para Implantar o “Império Luso-Brasileiro” na
América.
- Os fatos que resultaram na Independência são:
*09/01/1821: As “Cortes de Lisboa” intimam D. Pedro, o Príncipe Regente, para retornar pata
Portugal. Este foi considerado o dia do “Fico” – “Se é para o bem de todos e felicidades da
Nação, diga ao povo que fico”! Através desta afirmação, D. Pedro deixa claro que não irá
obedecer ao ultimato das “Cortes de Lisboa”. Em contrapartida, algumas províncias
brasileiras, considerando o fato que o Rei está em Portugal, optam por obedecer a
determinação da Metrópole, que neste momento está localizada em Lisboa.
D. Pedro, então, age como governante do Brasil e determina que todas as províncias não
cumpririam a legislação emitida pelas Cortes. Ato contínuo, ao dia do “fico” emite o
“Cumpra-se”, que quer dizer que qualquer ordem vinda de Lisboa somente poderia ser
obedecida na América se fosse avalizada e recebesse o “cumpra-se”. Em suma, nenhuma
província podia obedecer às Cortes sem a autorização de D. Pedro. A conduta de D. Pedro
demonstrou que ele já estava agindo como governante do Brasil e, na condição de governante
do Brasil, estava rompendo com a metrópole e estava disposto a pagar o preço por isso. A
oficialização do rompimento entre o Brasil e a metrópole portuguesa foi conduzida por
setores da elite política colonial, tendo à frente o próprio príncipe regente D. Pedro e se
fez acompanhar da ação popular. A iniciativa da independência e da manutenção da
unidade territorial foi do Sudeste. No Pará, na Cisplatina e no Maranhão, na Bahia, no
Piauí, há resistência ao projeto de independência de Dom Pedro. Isso ocorre porque as
províncias mais afastadas mantinham relações mais próximas a Lisboa que em relação ao Rio
de Janeiro.
*07/09/1822: O primeiro ato simbólico é o “grito”, às margens do Ipiranga. Entre os “liberais
à brasileira” (dentro da maçonaria) que apoiavam D. Pedro (que era maçom) na decisão de
separar o Brasil de Portugal, havia uma ala formada por José Bonifácio, os chamados
Aristocratas dentro do Partido Brasileiro, que hesitou até o último momento o rompimento
com a metrópole, até 1821, este grupo ainda acreditava que dava para negociar uma espécie
de “Monarquia Dual”, pra evitar a independência, com medo de que o liberalismo chegasse às
camadas populares e excedesse o liberalismo político e promovesse transformações sociais.
Por outro lado, existia um grupo mais radical, chamado de Democrático, liderado por
Gonçalves Ledo. O ato/grito significou a vitória do grupo Aristocrata. O projeto de
independência encampado por D. Pedro é aristocrata (um dos motivos da vitória aristocrata é
que D. Pedro ao se tornar Grão Mestre escolhe as lojas da maçonaria ligadas a Bonifácio.
Ledo também era maçom, mas de outra ala). Obviamente, quando a independência está sendo
negociada, aristocratas e democratas estão unidos, inclusive, com os portugueses enraizados.
D. Pedro foi capaz de fundir os interesses de diferentes grupos. Isso ocorreu porque o inimigo
era comum, era necessária a fusão de todos os grupos para derrotá-lo. O conflito surge depois
da implantação da Independência, pois os projetos de país não antagônicos. Este conflito
resultará em disputas no pós-separação. Apesar de ter sido negociada e paga, a Independência
brasileira não foi pacífica. A Independência Brasileira foi forjada nas “Guerras de
Independência”. Estas guerras aconteceram nas localidades onde existia uma concentração
significativa de Tropas Portuguesas leais a Lisboa, que resistiram acatar ordem de D. Pedro.
Por exemplo, na Bahia, onde tem dois carnavais, um que acompanha a data nacional e outro
em 02 de julho, feriado estadual, quando eles comemoram a Independência. Outro caso, é a
Guerra da Cisplatina, onde as Tropas Portuguesas não aderem a decisão de D. Pedro.
Considerar que somente teve guerras de independência onde existiam tropas portuguesas que
não reconheciam o comando de D. Pedro é um reducionismo histórico. No Piauí, por
exemplo, a concentração de tropas era muito pequena e, ainda assim teve resistência. O que é
importante reter sobre as “Guerras de Independência” é que neste momento ainda não existia
exército, marinha, tampouco, tropas brasileiras para lutar nas guerras de independência. Em
virtude disso, D. Pedro contratou mercenários para combater as tropas portuguesas leais a
Lisboa. Depois de derrotar a resistência, estes mercenários ficam famosos por serem
conhecidos como “criadores” do exército e da marinha brasileira. Isso ocorre porque eles
continuam formando as tropas brasileiras mesmo após o fim das guerras. Com efeito, como
saldo das guerras de independência, o Brasil sai independente, com um exército e uma
marinha formada.
***José Bonifácio era amigo pessoal de D. Pedro e era visto como uma figura importante no
durante e após o “7 de Setembro”, era considerando um dos promotores da independência
brasileira. No governo de D. Pedro I é nomeado ministro do Reino e dos Negócios
Estrangeiros. Entretanto, indispõe-se com o imperador durante o processo constituinte e, em
1823, é preso e exilado. Retorna ao Brasil seis anos depois, se reconcilia com dom Pedro I e
com a abdicação do imperador, em 1831, é nomeado tutor do príncipe herdeiro, dom Pedro II.
Alguns historiadores dizem que um dos motivos do conflito entre Bonifácio e D. Pedro está
atrelado ao fato de Bonifácio ser um defensor do fim da escravidão. Considerando que a
manutenção da escravidão era o limite do liberalismo à brasileira, ao demandar pelo fim do
regime de escravidão, Bonifácio rompeu o limite e foi além do que as elites políticas,
econômicas e culturais brasileiras permitiam.
****No Congresso de Viena, ao fim das guerras napoleônicas, foi aprovado o “Princípio das
Legitimidades” e determinado que todas as dinastias depostas por Napoleão retornassem aos
seus respectivos tronos. D. João, por sua vez, não quis voltar para a Europa e continuou na
América com o objetivo de implantar o projeto de “Império Luso-Brasileiro”. Então, em
1815, para não ter que retornar, mas, mesmo assim obedecer ao Princípio da Legitimidade e
se reinserir no Concerto Europeu, o Brasil foi elevado a condição de “Reino Unido de
Portugal e Algarves” e a partir daí não há literalmente como falar em período colonial, haja
vista o Brasil ter status de “Reino Unido”. A partir do momento que o Brasil adquiriu o status
de reino, o Monarca pode estar aqui, que ainda será considerado que a dinastia está no trono.
Neste momento, O Brasil deixou de ser colônia política de Portugal. Lembrando que a D.
Maria morreu em 1816 e D. João somente foi coroado rei neste momento, ele poderia ter
voltado para ser coroado na Europa, mas ele não voltou e foi o primeiro monarca coroado rei,
em 1818, nas Américas, no Brasil e transformou em D. João VI. Desde a chegada da Corte no
Rio de Janeiro é clara a intenção de D. João em querer ficar na América e estabelecer aqui o
Império Luso-Brasileiro. A criação de uma corte legislativa no Brasil, similar às cortes
portuguesas, fazia parte de uma tentativa de esvaziamento das pretensões lusas e de reafirmar
a posição do Brasil em torno de seu status de Reino Unido.
***Em 1821, D João VI havia incorporou o território da Banda Oriental ao Reino Unido de
Portugal, Algarves e Brasil, com a designação de Província da Cisplatina e, em 1822, essa
Província tornou-se parte do Império do Brasil)
***O período de baixas tarifas alfandegárias se inicia em 1808, com a abertura dos portos às
nações amigas. Essa afirmação está correta sob o ponto de vista de que o processo de
Independência do Brasil" compreende período entre os anos de 1808 à 1831 começa com a
transferência da Corte e termina com a abdicação de D. Pedro I (Ricupero analisa a política
externa deste período. José Murilo concorda que a Independência somente se consumou em
1831. Para os liberais brasileiros, até 1831 existia a possibilidade de recolonização ou uma
reunião com a Coroa Portuguesa). Com efeito, os tratados de comércio da época da
Independência do Brasil inauguraram um período de baixas tarifas, o que provocou
“déficit” na balança comercial brasileira.