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O Processo de Independência:

A Ilustração Portuguesa – “A Rainha reina, mas não governa” – Período, a partir da década
de 1790, em que D. Maria é afastada e seu filho e herdeiro D. João exerce a regência. A
década de 1790 é chamada de “Ilustração Portuguesa”. Quando a ideia de Império Luso-
brasileiro ganha força e vai ser implementada no contexto das “Guerras Napoleônicas” com a
transmigração/transferência da corte para o Rio de Janeiro. Além de fugir de Napoleão, a
família real portuguesa estava implementando um projeto estratégico, considerando que
vários monarcas perderam a cabeça durante as “Guerras Napoleônicas”, enquanto D. João
manteve sua cabeça e sua dinastia no poder tanto na Europa, quanto na América Portuguesa.
O processo de independência tem que ser relacionado sempre com a conjuntura que está
acontecendo em Portugal, considerando que há uma guerra civil entre portugueses do reino e
portugueses enraizados na América Portuguesa. O iluminismo português é tardio. No
“Período Pombalino” o iluminismo teve influência no despotismo esclarecido, política de
reformas e modernização da administração utilizada por Pombal para manter o poder do Rei.
No momento da ilustração portuguesa, as reformas realizadas por Pombal, na educação, irão
refletir no processo, pois gora vamos falar de atores formados em universidade, com
currículos padronizados, que estavam no ostracismo político devido as políticas retrógradas
adotadas no período em que D. Maria governou, ou seja, até a década de 1790, (Após perder
o marido e o filho primogênito, D. Maria é licenciada/afastada por apresentar sinais de
loucura). Estes atores vão assumir papeis importantes como estadistas, estrategistas, quando
D. João assume a regência. A Banca entende que a geração da década de 1790 representa o
“Iluminismo da Ilustração Portuguesa”. D. João somente é coroado rei de Portugal e
Imperador do Brasil em 1818, depois da Revolução Pernambucana. É o primeiro Imperador
coroado na América.
Em síntese, D. Maria é afastada em 1792, D. João passa a exercer o governo de Portugal de
fato. Em 1799, a corte vai considerar D. João oficialmente “Príncipe Regente” do trono
português. A política da “Viradeira” (desfazer as políticas Pombalinas) adotada por D. Maria
começa a perder força e isso abre espaço na regência/governo de D. João para aqueles
“estrangeirados”, que haviam tido contato com as “ideias afrancesadas”. Vai ser possibilitado
para este “estrangeirados” pensar o Estado Português, propor reformas, mudanças, ocupar
Ministérios, etc... Isso abre espeço para a “geração 1790”, “geração racionalistas”
influenciada pelo Iluminismo. É a geração formada nas Universidades Portuguesas após as
reformas na educação propostas no “Período Pombalino”. É uma geração que estava no
ostracismo enquanto a D. Maria exerceu o governo. No momento da Ilustração, destaca um
ator chamado Rodrigo de Souza Coutinho “futuro Conde de Linhares”. Este sujeito será um
dos ministros nomeados por D. João. Em termos de “status” se equivalerá ao Pombal e ao
Gusmão. Assim como padre Antônio Vieira, Dom Rodrigo de Souza Coutinho (pertencente à
geração de 1790) propõe a transmigração do aparato administrativo da Metrópole para a
Colônia. Para Dom Rodrigo, a criação de um Império transoceânico governado pela dinastia
dos Bragança, com sede no Rio de Janeiro, seria a melhor estratégia para aumentar o poderio
português. Quando a família real chega no RJ, ele será o principal ministro de D. João. Logo
após D. João assumir oficialmente a regência em 1799, começará aparecer uma série de
consequências decorrentes das “Guerras Napoleônicas”, no território português, na Península
Ibérica, na Política Internacional, na forma como Portugal se insere no consenso das Nações.
Então, neste momento, acontece uma certa divisão no Ministério português. Uma parte é
favorável à uma aproximação com a França, outra parte que manter e perpetuar a aliança
histórica com a Inglaterra. Na medida que Napoleão avança, faz bloqueio continental e
ameaça invadir Portugal, tem um grupo de Ministros que entende que o melhor a ser feito é
ceder às exigências de Napoleão pra não ser derrotado, enquanto outra parte, inclusive, o
Ministro Rodrigo de Souza Coutinho defende que é necessário resistir às investidas de
Napoleão. O grupo que defende a aliança com a Inglaterra vai sistematizar um projeto que
povoava o imaginário de estadias/estrategistas portugueses há muito tempo, principalmente,
no período que sucedeu a Restauração, no século XVIII. Estes estadistas entendem que o
Oceano Índico não é mais o eixo principal do Império português. O eixo do Império
português, para estes estrategistas, é, na verdade, o Oceano Atlântico, mais especificamente, o
“Atlântico Sul”. Para isso, consideraram que a Europa, naquele momento, era um território
perigoso para manter a cabeça do império português, devido ao momento de guerras
sistêmicas que estavam vivenciando, principalmente, porque Portugal era um território
relativamente muito menor que os países vizinhos e podia ser atacado a qualquer momento.
Nessa lógica, a ala dos estadistas liderados por Rodrigo Coutinho sugeriu que nada mais
lógico e estratégico para Portugal do que transferir a “cabeça” do reino, a sede da Coroa, para
o Atlântico Sul, especificamente, para a América, onde Portugal não tinha inimigos
poderosos, além disso, a América possuía um território vasto que possibilitava a expansão do
Império e a segurança da corte por estar separada da Europa por um Oceano inteiro,
considerando a aliança com a Inglaterra, ainda poderiam contar com a proteção da Marinha
Inglesa. Enfim, era mais lógico e mais favorável transferir a cabeça do Império para a
América Portuguesa. O Atlântico Sul, neste momento, era a parte mais estratégica do Império,
pois possibilitava o tráfico de escravos africanos, era onde estava localizada a região da
mineração, a fronteira conflagrada (Sacramento). Com efeito, a “geração de 1790”, em
especial, Rodrigo de Souza Coutinho é que vai sistematizar o raciocínio quanto a importância
da transferência do eixo do império para o Atlântico Sul. Esse raciocínio será sistematizado e
ficará conhecido como “Projeto do Império Luso-brasileiro”. Esta ideia já havia sido
proposta, na Restauração, pelo Padre Antônio Vieira, que enfatizava a fragilidade de
Portugal em meio às disputas entre as potências europeias, marcadamente entre França
e Inglaterra, e a importância das possessões coloniais para a manutenção da Coroa
portuguesa. Lembrando que este projeto não foi inventado pela “geração 1790”, somente
maturado, sistematizado e implementado. Quando a corte portuguesa chega ao Brasil, o
império português inicia um projeto de expansão e implementação de políticas de império,
através de invasões de territórios vizinhos, vai invadir Caiena/ Guiana Francesa, vai invadir a
Banda Oriental e vai se afastar dos perigos que estavam submetidos na Europa. Como dito
alhures, D. João é o único monarca que mantém sua cabeça no período de guerras
napoleônicas.
- (Processo de interiorização da metrópole - Ler capítulo Maria Odila Leite da Silva Dias).

- Período Joanino pensado a partir do projeto de “Império Luso-Brasileiro”: Este período


inicia com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, quando D. João ainda era príncipe
regente, e se estende até 1821.
Em 1806, pelo “Decreto de Berlim” popular “Bloqueio Continental”, que exigia que todas a
Nações do Continente Europeu fechassem seus portos, inclusive e principalmente, para a
Inglaterra, de modo que a Inglaterra ficasse sem acesso ao continente e, via de consequência
ficasse sufocada economicamente. O enfraquecimento da Inglaterra possibilitaria uma vitória
da França. Muitos países vão cumprir aderir ao bloqueio proposto pela França, dentre ele a
Dinamarca. Em resposta, a Inglaterra bombardeou a capital da Dinamarca. Portugal após
discutir as implicações de cumprir ou não a exigência francesa, opta como estratégia a
proposta e a opinião do grupo de Ministros liderados por Rodrigo Coutinho, que querem
manter a aliança com a Inglaterra, se fiando que, caso precisassem, a Inglaterra iria socorrê-
los militarmente. Ao não aderir ao “Bloqueio Continental”, os portugueses tinham ciência que
seriam invadidos pelas tropas francesas ajudados pelas tropas espanholas. Em 1807, portanto,
a família real decide fugir do ataque francês e implementar o projeto do “Império Luso-
Brasileiro” na América Portuguesa. Para isso, finge aderir ao “Bloqueio Continental”, ou seja,
“finge” que vai fechar seus portos para a Inglaterra, a fim de cumprir a exigência da França e
ENGANA Napoleão. Essa manobra tinha como objetivo evitar ou, no mínimo, atrasar a
invasão do território português por tropas francesas e espanholas que estavam na fronteira,
prontas para invadir na hipótese de Portugal não fazer adesão ao “Bloqueio Continental”.
Enquanto a família real embarca às pressas em navios portugueses, escoltados por navios
ingleses, em direção a América Portuguesa, as tropas francesas e espanholas que incialmente
acreditaram na farsa, percebem que houve orientação para que a fortalezas militares
portuguesas, na fronteira, aparentassem que estavam deixando as tropas invasoras passar,
“aceleram o passo” para tomar o território. Esta movimentação não foi suficiente para
impedir a partida da corte portuguesa inteira, que consegue transferir a família real para a
América, em segurança, com a escolta da Marinha Inglesa. Destarte, a estratégia encabeçada
por Rodrigo de Souza foi bem sucedida: A família real conseguiu fugir de Napoleão e o
Projeto de implementação de um “Império Luso-Brasileiro” para garantir a segurança da corte
e a expansão do Império tornou-se totalmente viável. Quando D. João embarca com a corte
para o Brasil, ele deixa um decreto nomeando representantes que serão responsáveis pela
administração de Portugal durante sua ausência. Na prática, este decreto teve pouca
efetividade, pois frente à invasão das tropas Francesas e espanholas, que tomam o território
português, tropas inglesas combatem as tropas francesas e espanholas no território português.
Assim, quem ficou em Portugal (burguesia e povão) vai pagar um preço altíssimo, pois estão
invadidos e vivenciando uma espécie de guerra civil. Essa guerra se estende até a derrota
definitiva de Napoleão, em 1815. Quem ficou, pagou o preço por estar dominada por tropas
francesas e espanholas e, ao mesmo tempo, subordinada às tropas militares da Inglaterra.
A Banca não entende que houve uma fuga da família real, mas, sim, uma
transmigração/transferência da corte/família real para a América como projeto de
implementação do projeto político chamado “Império Luso-Brasileiro”.
Em 1808, a chegada da família real ao Brasil marca o fim do período colonial, no sentido
clássico do termo. Logo após sua chegada, D. João decretou a abertura dos portos
brasileiros ao comércio com as nações amigas. Esta decisão resultou da pressão de
comerciantes, principalmente comerciantes baianos, mais especificamente, o Sr. José da Silva
Lisboa, o “Visconde de Cairu”. Esta abertura representou o fim do monopólio comercial
com exclusivo metropolitano e permitiu a liberdade de comércio. Isto ocorreu porque a
corte queria continuar a se abastecer de mercadorias, mas com Portugal ocupado pelas tropas
francesas, não era possível o abastecimento apenas de produtos comercializados por Portugal,
como previa o exclusivo comercial. Isso ocorre, em tese, porque a própria metrópole está na
colônia. Foi um prelúdio de que a colônia caminhava para ser um país independente. Outra
medida adotada por D. João foi tornar nulos e sem efeito os Tratados firmados em 1801
(Tratados de Badajós e Segundo Tratado de Madri). Esses tratados foram firmados entre
Portugal, França, Espanha e Inglaterra, representavam uma trégua, proposta para pôr fim à
“Guerra das Laranjas”. Para viabilizar a trégua foi acordado que: Se qualquer das partes
violassem os termos do acordo, o mesmo seria considerado nulo. Considerando que França e
Espanha invadiram o território português, na Península Ibérica, houve violação dos termos da
trégua. Por isso, D. João declarou nulos e sem efeitos os Tratados de 1801. O não
cumprimento dos termos dos acordos significava considerar nulas as fronteiras juridicamente
constituídas através dos Tratados, o que justificava a expansão do Império Português para
além destas fronteiras, neste momento. D. João inicia, então, a invasão de fato de territórios
franceses (Caiena/ Guiana) e Territórios espanhóis (Banda Oriental/Sacramento). Por outro
lado, também declarou o fim do exclusivo metropolitano. Em termos analíticos, as ações de
D. João representam o início da transição do mercantilismo português (exclusivo
metropolitano) para o liberalismo (abertura dos portos, o comércio era livre entre todas
as “Nações Amigas” mediante o pagamento do imposto de importação correspondente
(25%)). Este importo era igual para todas as “Nações Amigas”. Este é o preço que Portugal
estava pagando pelo apoio da escolta britânica no frete marítimo da família real portuguesa.
No entanto, aqui Portugal não está pagando o preço à Inglaterra. A Inglaterra acha pouco e,
inclusive, não vê com bons olhos a abertura dos portos. Neste momento, esta medida
representou, alguns sentidos, uma adesão à política liberal, porque ela iguala as tarifas de
importação para todas as Nações Amigas, não só para a Inglaterra. A Inglaterra não gosta da
abertura dos portos porque tinha consciência que as Guerras Napoleônicas iriam acabar e,
portanto, logo surgiriam concorrentes para o mercado consumidor presente na América
Portuguesa. Esta transição do mercantilismo português para o liberalismo inglês, ou seja, para
uma dependência econômica das importações inglesas. Em termos de análise, a América
Portuguesa sai da situação de domínio colonial metropolitano de Lisboa e vai para uma
condição de subordinação à Inglaterra. Isso significa uma mudança no polo externo de
dominação. Este é o resultado imediato das políticas adotadas por D. João, em 1808, abertura
dos portos e anulação dos Tratados, que acabaram com o mercantilismo português, mais
especificamente, o exclusivo metropolitano e iniciaram o Liberalismo na América.
Lembrando que, os portos não foram abertos somente para a Inglaterra, mas, sim, para todas
as Nações Amigas. Inobstante a abertura dos portos simbolizar a vitória do liberalismo
econômico frente ao mercantilismo português, não é este fato que determina a dependência de
Portugal em relação à Inglaterra, tanto é verdade, que a Inglaterra vai pressionar de forma
sistemática a assinatura de novos Tratados constando os seus privilégios alfandegários. Os
tratados desiguais, de 1810, entre Portugal e Inglaterra, inclusive, são frutos desta pressão
britânica. Estes tratados determinam que o imposto alfandegário seja menor para a Inglaterra
e maior para as demais Nações Amigas. Estes tratados que determinam a dependência
econômica de Portugal, na Órbita do Liberalismo Inglês. Durante a colônia, o comércio
exterior do Brasil estava atrelado à Metrópole. Após a transmigração da Corte, em 1808, a
Grã-Bretanha passou a responder por boa parte desse comércio, especialmente a partir de
1810, com os Tratados de Navegação e de Comércio. Quando D. João abre os portos,
automaticamente, ele está acabando com o exclusivo comercial. O exclusivo comercial e o
monopólio são típicos do mercantilismo, D. João está adotando o liberalismo, portos abertos
para todos, o que indica que a abertura dos portos dá início à transição para o liberalismo. O
liberalismo inglês e a dependência das importações inglesas, entretanto, está relacionada aos
tratados desiguais de 1810, quando a Inglaterra passa a ter privilégios alfandegários e passa a
pagar só 15% de imposto. Não há mais uma abertura de comércio plena e igual para todo
mundo. A abertura dos portos é vista, pela corrente majoritária de historiadores, como um
processo de natural, uma vez que, a corte portuguesa foi transferida para a América e precisa
ser abastecida por suprimentos.
- Ao fim das Guerras Napoleônicas, com a derrota da França, a Inglaterra emerge principal
potência. Depois de consagrado o concerto/equilíbrio de poder europeu, a Inglaterra vai
implantar um projeto para dominar as rotas comerciais marítimas. Na ocasião do Congresso
de Viena, a Inglaterra não vai disputar territórios ou áreas de influência no continente. O
centro da disputa será em torno das Ilhas estratégicas para garantir o controle dos Mares.
Assim, a Inglaterra se projeta ao longo do século XIX como a maior potência do mundo,
chegando ao ponto de ser chamada de “império onde o sol nunca se põe”! Ao longo século
XIX, Todas as Nações que estavam inseridas no comércio internacional da época acabam, em
alguma medida, submetidas à dominação, ao comércio, ao liberalismo inglês. O Brasil, por
sua vez, quando assina os Tratados Desiguais de 1810, simboliza um “alinhamento
relativamente precoce” à Inglaterra. Lembrando que este alinhamento não começou em
1810, mas, sim, desde o período que sucedeu o fim da “União Ibérica” e a “Restauração
Portuguesa”. Mas, em termos mundiais comparativos, o Brasil é primeiro lugar onde a
Inglaterra ensaia os Tratados Desiguais que, em síntese estabelecem: portos abertos com
privilégio alfandegário à Inglaterra e o direito de extraterritorialidade (direito de um cidadão
britânico que estiver em outro país, em qualquer lugar do mundo, governado por outro
monarca/autoridade, ser processado e julgado de acordo com a legislação britânica na
hipótese de descumprimento da lei local). A Inglaterra depois de testar a estratégia dos
Tratados Desiguais no Brasil, vai exportar esta prática para o resto do mundo. Com efeito,
depois dos Tratados de 1810, a Inglaterra passa a ser mais privilegiada do que a própria outra
parte do Império português que ficou na Europa, que é Portugal.
Por outro lado, a corte tem que reorganizar o Império Português, considerado que neste
momento a cabeça e corpo do Império estavam na América Portuguesa. Urge reorganizar o
aparato estatal inteiro. Há uma transferência praticamente integral de toda a estrutura do
Estado Português para o Rio de Janeiro, na nova corte, D. João vai recriar a estrutura
burocrática do Estado Português, por exemplo, todos Ministérios de Portugal vão ser
transplantados para a América. A corte precisa ser abastecida. A imprensa régia vai precisar
de papel e tinta. Lembrando que desde o momento que a corte deixou Portugal, o projeto era
implantar um Império Luso-Brasileiro, então, este Império precisa se expandir. Para se
expandir deverá fazer guerra, logo, vai precisar recriar a estrutura burocrática, em particular,
ao que se refere aos seus arsenais militares, fábricas de pólvora, academias militares de
treinamento, arsenal de marinha. Ou seja, no Período Joanino são recriadas todas as estruturas
mais fundamentais e estratégicas do Estado Português. Em concreto, é transplantado o
Ministério do Reino, Ministério da Marinha e do Ultramar, a sede da administração de todo o
território português ultramarino passa ser no RJ, Ministério da Guerra e estrangeiros,
Ministério do tesouro real/real erário/fazenda. O Conselho de Estado, o Desembargo do
Passo, A mesa de consciência e ordem (onde é feita censura), Conselho do extremo militar,
enfim, todas as estruturas importantes do Estado Português vão ser recriadas no RJ. Este
Estado que se instalou aqui e acabou com o status de colônia ao determinar a abertura dos
portos, passa a agir como a cabeça do Império, como o Estado que precisa se expandir e se
organizar para possibilitar que a corte pareça um corte. O Rio de Janeiro, neste momento do
início do século XIX, era uma cidade de costumes rígidos, comércio limitado e nenhuma vida
cultural, que não possuía qualquer espécie de organização urbana, era um caos, uma
desordem, era extremamente perigosa, com alta incidência de doenças. Essa estrutura não
estava preparada para receber a corte portuguesa. Quando a corte chega, a ordem é desocupar
as casas e colocar um selo dizendo “Sua Majestade real vai usar esta residência para abrigar a
corte”. Neste momento, a elite local, os colonos, vão ceder suas casas. Alguns irão protestar
contra a conduta do Rei, enquanto outros identificam o momento como uma oportunidade
para “fazer amigos”, estabelecer alianças, se aproximar da monarquia, da corte, da coroa, pois
a lógica é que quanto mais próximo do Rei, maiores os privilégios. Literalmente, “Quem é
amigo do rei, vai se dar bem”! Em um primeiro momento, estes “amigos do rei” começaram a
receber honrarias, títulos de nobreza, monopólio, privilégios. Em um segundo momento, a
recém-chegada corte demandava algumas necessidades. Em virtude disso houve o
desenvolvimento de algumas atividades econômicas, criação de rotas comerciais nos moldes
do mercantilismo português que ainda existia. Neste sentido, quem era “amigo do rei”
ganhava o monopólio sobre o abastecimento de determinado produto. Este foi um momento
para aproveitar oportunidade, onde a elite portuguesa que veio junto com o Estado português,
os comerciantes e burocratas portugueses estão se aproximando de alguns colonos, senhores
de engenho, senhores de escravos, proprietários de terras, proprietário de Minas. Alguns
membros desta elite local estavam e decadência e puderam se organizar devido as
“oportunidades de negócios” geradas com a chegada da corte no RJ. As modificações
introduzidas pela corte no Rio de Janeiro acontecem de maneira muito acelerada.

-Reformas Joaninas: “Nova Lisboa” –


****Apesar da chegada da família real, o Rio de Janeiro não foi transformado, oficialmente,
em capital do Império luso.
*A fim de possibilitar a expansão territorial do Império Português na América, D. João vai
INVADIR Caiena (1809), na Guiana e a Banda Oriental (Sacramento) – 1811/1812 = MAL
SUCEDIDA PORQUE A INGLATERRA SE OPÕE A INVASÃO – 1816/1821 = BEM
SUCEDIDA – A BANDA ORIENTAL VAI VIRAR PROVÍNCIA DO IMPÉRIO
PORTUGUÊS E BRASILEIRO “PROVÍNCIA CISPLATINA”.
ATENÇÃO: Para Rubens Ricupero, em seu ensaio para a coleção História do Brasil Nação
v.1,“Embora nunca tivesse sido totalmente efetivo, o bloqueio brasileiro do Porto de Buenos
Aires ocasionou graves perdas ao comércio de portenhos e britânicos, tendo sido a razão
principal da determinação de Canning (representante inglês) de liquidar o conflito”. A
GUERRA DA CISPLATINA TERMINOU SOMENTE após a interferência da potência
externa.
*Almejando a criação de um lugar adequado para abrigar a corte, D. João propõe um projeto
de “Civilização dos Trópicos”. Por exemplo, estímulos à produção artística,
intelectual/cultural, científica. D. João vai trazer missões artísticas estrangeiras, por exemplo:
- A Missão Artística Francesa, em 1816, também chamada de “Colônia Lebreton” – Estes
artistas trazidos por D. João são os desempregados da corte Napoleônica, após a derrota
definitiva de Napoleão). Considerando que os artistas pertencentes à “Colônia Lebreton” são
representantes do estilo neoclássico, eles vão entrar em conflito com os mestres do estilo
barroco, estilo predominante na América Portuguesa. Ela também é famosa porque ela foi
implantada com o objetivo de criar uma escola de arte “Academia Brasileira de Belas Artes”.
Esta escola não é criada no Período Joanino diante da resistência dos mestres barrocos, mas a
semente foi plantada e ela será criada depois por ocasião do Primeiro Reinado.
- Missão Austríaca, em 1817: Esta Missão é formada por cientistas, botânicos, zoólogos e
artistas europeus e vem junto com a Princesa Leopoldina da Áustria. O resultado mais
importante desta missão são publicação dos livros Reise in Brasilien (Viagem pelo Brasil)
e Flora brasiliensis, de Karl Philip von Martius, Johann von Spix e Thomas Ender. Eles são
famosos porque pela primeira vez a fauna e a flora presente na América Portuguesa foi
catalogada publicamente. Antes desta missão, todos os artistas e cientistas que retrataram o
Brasil ao longo do tempo, tiveram que fazer isso em segredo. A Missão austríaca além de ser
autorizada, recebeu patrocínio para fazer expedições que possibilitaram a pesquisa. Dona
Leopoldina tem um objetivo muito claro, pelo qual ela está na América, neste momento, que é
realizar o trabalho feito pela Missão Austríaca.
- Expedição Cientifica Langsdorff, em 1821, Se trata de uma Missão encampada pelo barão
Langsdorff, viabilizada pelo patrocínio do czar russo Alexandre I, com o objetivo de
organizar uma grande expedição de reconhecimento no interior do Brasil, em 1821. Entre os
integrantes estavam artistas, botânicos, naturalistas e cientistas. Esta expedição também tem
autorização da Coroa Portuguesa. Lembrar que eles chegam ao Brasil enquanto D. João estava
aqui, mas, a missão compreende o período de 1822/1829, ou seja, mesmo após o retorno de D.
João para Portugal. A maioria dos expedicionários sofreu com “doenças tropicais” e morreu
durante a expedição. Eram 39, sobraram 12.
*Além do projeto civilizatório, para transformar o Rio de Janeiro em um lugar apropriado
para a corte, era necessário um planejamento militar, iniciativas voltadas para os confrontos
bélicos decorrentes da implementação do “Projeto de Império Luso-Brasileiro”, evidenciado
nas seguintes medidas:
- Desenvolvimento de um arsenal de Marinha, 1811, herdeira de um histórico longo de
escolas militares, alguns historiadores com síndrome de Adão e Eva, que buscam origens
voltando no tempo até onde elas não existiam, lecionam, que estas escolas começaram ainda
no século XVII. A Academia Real militar nasce, oficialmente, em 1811.
- O Arsenal de Marinha é mais precoce e nasce em 1808
- Construção de fábrica de pólvora
* D. João determinou a criação da Imprensa Régia, em 1808, principalmente, para viabilizar
o funcionamento de uma burocracia. O primeiro jornal brasileiro era chamado “A Gazeta do
Rio de Janeiro”.
* D. João deixou um legado ao criar a Biblioteca Régia, hoje, a Biblioteca Nacional. Na
biblioteca, inclusive, tem um exemplar da Bíblia de Johann Gutenberg, considerada o
incunábulo mais importante, pois marca o início da produção em massa de livros no Ocidente.
* Em sentido cultural, D. João determina a criação de um teatro real
* Criação de uma escola de música
*Criação de universidades. A independência acadêmica do Brasil em relação a Portugal
demora um pouco. Somente em 1813, houve a criação da Escola de Medicina do Rio de
Janeiro, o Brasil passa a ter uma universidade nacional. Posteriormente, em 1815, foi criada a
Faculdade de Medicina da Bahia. A Faculdade de Direito de Olinda, de 1827, e a Faculdade
de Direito de São Paulo, do mesmo ano, foram os cursos criados para formar o bacharelado
em direito, que dominou a política nacional nos séculos XIX e XX.
* Criação do Real Horto, atual Jardim Botânico, com sementes dos 4 Continentes onde o
Império Português tem ou teve domínios ultramarinos, concretizando através deste projeto, a
grandeza do Império Português.
* Com a transmigração da corte, aumentou a densidade demográfica do Rio de Janeiro.
Assim, era necessário abastecer esta corte. D. João, então, experimenta trazer colonos
estrangeiros para trabalhar na América Portuguesa. Estes colonos ganharão terras e incentivo
para plantar e produzir alimentos para abastecer a corte, na condição de colonos, não de
escravos. O modelo de produção proposto por D. João para estes colonos não se enquadra no
estilo da plantation. É uma atividade econômica voltada para o mercado interno. As primeiras
experiências com colonos estrangeiras ocorrerão com alemães, através da ocupação da Serra
Fluminense, atual, região serrana do Rio de Janeiro.
- Quando a corte transmigrou para a América Portuguesa, D. João não conseguiu trazer todo o
pessoal responsável pela burocracia do Estado. Então, D. João cria estes postos de trabalho
públicos necessários para enquadrar o Rio de Janeiro nos moldes europeus e, assim, recria a
burocracia estatal e abre novos cargos/funções, o que possibilita trazer estes burocratas que
ficaram em Portugal, para a América Portuguesa.
- Quando cria condições propícias para abrigar a corte, D. João atrai mais população e
aumenta a malha urbana no Rio de Janeiro
- D. João cria caminho que conectam a Região Serrana Fluminense com o Centro-Sul da
América Portuguesa.
- D. João revoga formalmente, em 1809, o Alvará de 1785, assinado pela D. Maria. Assim,
autoriza e estimula novamente a atividade manufatureira. A revogação do ato que proibiu a
instalação de indústrias no Brasil e a abertura dos portos simbolizaram o fim do monopólio
metropolitano. Importante registrar que, a partir da chegada da Corte, em 1808, o Brasil
experimentou importante crescimento econômico
- D. João abre espaço no Ministérios para os estrangeirados.
- Com a implementação das medidas para receber a corte, D. João não está somente
implantando um projeto político e cultural, mas, sim, um projeto sócio econômico. De um
ponto de vista analítico, mais geral, chamado por Maria Odila Leite da Silva Dias de
“Interiorização da Metrópole”. Isso significa, principalmente, que a metrópole está se
interiorizando no Centro-Sul da América Portuguesa. A Metrópole quer dizer a corte, a
burocracia civil e militar, o clero e os comerciantes portugueses.
***Os comerciantes portugueses “menos nobres” (no antigo regime os comerciantes não
podiam ter status de nobre), mas eram necessários para promover o abastecimento da corte e
suprimento de escravos. Este comerciante, na América Portuguesa, se aproxima da corte e
passa a pleitear privilégios e títulos de nobreza. Estes comerciantes são os “homens de grosso
trato/grossa aventura). Para conseguir atingir o status de nobre, acumulam riqueza através do
comércio e investem na compra de terras. Esse “modus operandi” é considerado um projeto
arcaico, pois ao investir na terra, o capital é imobilizado, enquanto que, se fosse investido em
manufatura poderia gerar mais riqueza. Esse processo é chamado de “Enraizamento de
Interesses” de portugueses no centro-sul da América Portuguesa, ou seja, exatamente na
região geográfica onde era exercida a atividade mineradora. Na região onde dizem que o ciclo
do ouro propiciou um esboço de integração econômica, de mercado interno. Para Maria Odila,
os comerciantes portugueses na medida que querem privilégios, querem ser reconhecidos
como nobres de alguma forma, desejam ser “amigos do rei”, querem monopólios reais, vão ter
um capital simbólico enorme, na medida que vieram com a corte e têm o monopólio do
abastecimento da corte. Essa condição para um minerador decadente, para um proprietário de
terras decadente é muito atrativo. É necessário considerar que tanto o minerador quanto o
proprietário de terras decadente, localizado no centro-sul da América Portuguesa, têm coisas
muito interessantes para barganhar com este comerciante que quer ser nobre: terra, escravos e
o status de nobreza da terra. Maria Odila identifica, por exemplo, um processo no qual
filhas/filhos de comerciantes portugueses vão casar com filhos/filhas destes nobres da terra,
colonos, brasileiros. Esse processo vai gerar um “enraizamento de interesses portugueses” no
centro-sul da América Portuguesa. Em termos analíticos, esse processo resultou em
“portugueses enraizados” e “portugueses que ficaram na Europa e estão sob o julgo de tropas
franco-espanholas ou sob o comando militar britânico”, mesmo após a derrota de Napoleão,
pois os Ingleses permanecerão em território português. Em síntese, o português que veio para
a América está em ascensão, pois se estabeleceu em um lugar onde o Império está em
expansão, com prospecção progresso futuro, se aproximou da corte, aumentou seu status. O
português do reino, que ficou em Portugal, entretanto, teve que bancar sozinho os custos da
Guerra com a França e Espanha, além de obedecer uma autoridade militar da Inglaterra. Para
Maria Odila, à medida que este processo de enraizamento de interesses de portugueses no
centro-sul da América Portuguesa avança, a medida que a metrópole se interioriza, se inicia
um conflito gigantesco de interesses entre os portugueses enraizados, os portugueses do reino
e a nova corte/nova Lisboa. Esse confronto explica o rompimento e a pressão das cortes
portugueses pelo retorno de D. João para Portugal, para que D. Pedro fique e se submeta as
ordens das cortes, que culmina no “7 de Setembro” e, via de consequência, a separação formal
entre o Brasil e Portugal. O Brasil se torna um Estado independente e imediatamente começa
uma guerra. Maria Odila entende que está guerra se trata de uma espécie de guerra civil entre
portugueses do reino e portugueses enraizados. Se pensar o Império Português na sua
integralidade, todos os portugueses que ficaram fora do centro-sul da América Portuguesa
estão sendo prejudicados em relação aos “portugueses enraizados”.
- A insatisfação permeia tanto os portugueses do reino que ficaram em Portugal, quantos os
portugueses que estão na América Portuguesa, mas que estão localizados em outras partes da
América Portuguesa. A insatisfação decorre do fato de que, para implantar a “Nova Lisboa”,
nos moldes europeus próprios para abrigar a corte, D. João demandou muito investimento,
muito dinheiro. Destarte, quem ficou com o ônus de pagar pela implementação das reformas
Joaninas foram todos os portugueses, de todas as partes do Império. Enquanto, que o bônus
decorrente da implantação destas medidas tocou somente para os portugueses enraizados no
centro-sul da América Portuguesa. Além dos gastos decorrentes da implantação das reformas
implementadas por D. João para receber a corte, também foi preciso muito dinheiro para
garantir a política expansionista do Império, os custos, obviamente, foram suportados por
todos os portugueses também.
Esse conflito de interesses vai causar uma reação tanto dos portugueses do reino, quanto dos
portugueses colonos prejudicados pela “interiorização da metrópole do centro-sul da América
Portuguesa. Em termos analíticos, esta reação vai ensejar duas espécies de confronto:
***Em 1817, ocorre a Primeira Reação de Colonos do atual Nordeste (Pernambuco),
encabeçada por senhores de engenho, padres, é uma revolta da elite econômica, social e
cultura, contra a “Nova Lisboa” (RJ) (a cabeça do Império, origem da opressão, do
fiscalismo), contra a interiorização da metrópole. Eclode, então, mais uma, dentre tantas,
Revolução Pernambucana, chamada de “Revolução dos Padres”. O centro da Revolta dos
Padres é o “Seminário de Olinda”. Os pernambucanos serão violentamente reprimidos.
(Também tinha um pensamento de independência regional, não pensava na independência do
território inteiro)
***A segunda Reação partirá dos portugueses do reino, que ficaram em Portugal e arcaram
com os custos da invasão franco espanhola. Estes portugueses esperavam que após a derrota
de Napoleão, a corte retornaria à Europa e Portugal seria novamente a cabeça do reino. Eles
também esperavam o retorno do exclusivo comercial. Quando D. João foi coroado Rei, em
1818, no Brasil, ficou claro a corte não iria voltar, obviamente, os portugueses do reino se
revoltaram. Essa sublevação é chamada “Revolução Liberal do Porto”. Se inicia no Porto e
depois ganha a adesão de Lisboa. A junta governativa que os revoltosos criaram no Porto se
transformou nas “Cortes de Lisboa”. Os novos debates, propostos pelos liberais
revolucionários, no que diz respeito à constitucionalização da monarquia foi fundamental para
que as discussões institucionais e políticas, tanto no Brasil quanto em Portugal fossem
disseminadas.

INDEPENDÊNCIA:
A Independência é interpretada a partir da tese da Maria Odila que explica o processo de
interiorização da metrópole, especificamente, no centro-sul da América Portuguesa, que se
inicia em 1808, com a chegada da Corte no RJ e, em 1822, resulta em uma espécie de guerra
civil entre portugueses enraizados e portugueses do reino. Isso no bojo da “Revolução
Liberal do Porto”, símbolo do “Constitucionalismo Português” e inserida no contexto
chamado por Hobsbawm de “Onda do Mediterrâneo” (“Houve três ondas revolucionárias
principais no mundo ocidental entre 1815 e 1848. (...) A primeira ocorreu entre 1820-4. Na
Europa, ela ficou limitada principalmente ao Mediterrâneo, com a Espanha (1820), Nápoles
(1820) e a Grécia (1821) como seus epicentros). No caso da Península Ibérica, este
Constitucionalismo está atrelado a “Onda Revolucionária se 1920” e vai ser utilizado para
criar uma constituição, a fim de limitar o poder do Rei. A princípio a Revolução liberal do
Porto é feita para derrotar o absolutismo, o Rei. No caso o D. João VI, que estava na América
e não tinha voltado para Portugal após o Concerto de Viena. A Revolução liberal do Porto vai
dar origem as Cortes de Lisboa, que vão se reunir em Lisboa, na condição de Junta
Governativa, Poder Soberano da Nação e como legislativo. Começam, portanto, a legislar.
Dentre as deliberações postulam o retorno do Rei D. João VI e da família real para Portugal.
D. João deveria voltar para se submeter à autoridade legisladora das Cortes, ao
Constitucionalismo e jurar a Constituição que seria criada por estas cortes. Esse movimento
ocorre no mesmo momento em que as Cortes anunciaram eleições para representantes do
Império Ultramarino inteiro nas Cortes de Lisboa. Em síntese, as Cortes anunciam que são
responsáveis por criar a legislação, que Portugal não terá mais absolutismo, vai ter uma
constituição, o poder emana do povo, o Rei vai ter que aceitar a limitação de seus poderes. A
Constituição seria construída não somente pelos liberais do Porto ou pelas Cortes de Lisboa,
mas, sim, por todos os representantes dos interesses do reino e de todas as partes do Império.
Nesse contexto, se inicia, inclusive um processo de escolha de representantes do Rio de
Janeiro, São Paulo para as Cortes de Lisboa.
Resultados da “Revolução Liberal do Porto:
****Os que os portugueses do reino querem? O retorno do Rei, a elaboração e a subordinação
do rei a uma constituição e a restauração do pacto colonial (relação de dependência entre
metrópole e colônia).
- Retorno de D. João VI e da família real para Portugal.
- Surgimento de um “Constitucionalismo Português” que gerou a demanda do retorno da
família real para Portugal
- O Surgimento de um “Liberalismo à Brasileira”, ou seja, é a apropriação das ideias liberais
na América é que vai empolgar boa parte das elites locais, num primeiro momento, quando a
“Revolução Liberal do Porto” começa e promete as eleições para representantes de TODAS
as partes do reino para fazer parte das “Cortes de Lisboa”. No caso das elites brasileiras,
principalmente, as que estão fora do Centro-Sul, esse “liberalismo à brasileira” vai estar
associado a um período de certa empolgação com a possibilidade de participar da criação da
Constituição Portuguesa, de legislar sobre o reino inteiro. De fato, serão eleitos representantes
aqui na América. Por exemplo, José Bonifácio, representante de São Paulo, escreve as
instruções/orientações das “cortes de São Paulo” para as cortes de Lisboa. Essa ideia de um
“liberalismo à brasileira” vai, de fato, ganhar a elite brasileira por um tempo, associado ao
Constitucionalismo Português, associado a crença, a esperança, de que os representantes
brasileiros teriam voz nas Cortes Portuguesas, teriam voto em uma possível Assembleia
Constituinte. Quando chegam em Portugal, os representantes brasileiros sofrem uma desilusão
ao perceberem que não terão nem voz e nem voto. Quando retornam, eles conseguem ver com
clareza as reais intenções das Cortes de Lisboa, que é recolonizar a América Portuguesa e
restituir o “status quo” anterior a 1808, antes da abertura dos Portos. Fica nítida a vontade das
Cortes em reestabelecer o exclusivo metropolitano, a relação metrópole/colônia. Eles são
liberais e Constitucionalistas, em termos políticos, para limitar o poder do rei, em Lisboa. Em
termos econômicos, querem regredir e instituir novamente o mercantilismo, submetendo
novamente a América Portuguesa ao status de colônia. Após a frustração sofrida nas Cortes de
Lisboa, os representantes da América Portuguesa entendem que é uma falácia dizer que o
reino inteiro estava em um momento liberal. Na verdade, as Cortes de Lisboa devem ser vistas
nomo inimigas. Nesse momento, emerge claramente uma espécie de guerra civil entre as
elites locais (portugueses enraizados e colonos brasileiros) contra os portugueses do reino.
***Influência de ideia liberais “liberalismo a brasileira” e sua repercussão no Brasil: O
liberalismo no Brasil, nesse momento, é adotado pelas elites brasileiras com empolgação e
entusiasmo frente a possibilidade de obter representação (VOZ e VOTO) nas Cortes
Portuguesas. Este liberalismo consegue conciliar as ideias liberais de liberdade individual e
que todos são iguais perante a lei com uma realidade brasileira que adota o regime de
escravidão. O direito à liberdade individual não é compatível com uma realidade que aceita
legalmente o regime de escravidão. Desta incongruência nasce o “Liberalismo à Brasileira”.
O principal teórico deste conceito é o cientista político Christian Lynch, que leciona no
seguinte sentido: Desde o final do século XVIII, uma forma de liberalismo, expressado
através da Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Conjuração Carioca, enfim, havia a
circulação de ideias liberais, por exemplo, no areópago de Itambé. Na visão deste escritor, no
fim do século XVIII e início do século XIX, no Brasil, a ideia de liberdade era interpretada
sob a ótica de uma sociedade do antigo regime, denominada de “liberdade dos antigos”. No
Brasil aplicava-se a ideia de que somente podia se liberal o nobre/pessoa de qualidade/homem
bom. Os plebeus, os Escravos não eram pessoas de qualidade e não podiam ser um liberal.
Este pensamento está umbilicalmente ligado ao pensamento típico do antigo regime
português, que condena o trabalho mecânico/manual. A liberdade é compreendida como um
privilégio. Isso faz com que os comerciantes, quando ganham dinheiro, invistam em terras e
escravos para poder ganhar status de nobreza da terra. Até 1808, no Brasil, não havia
qualquer espécie de tipografia (textos impressos), a própria legislação proíbe. A Imprensa
Régia, criada por D. João, é a primeira impressa brasileira. Não havia, portanto, nenhum livro
ou jornal produzido no Brasil. Os livros com ideias afrancesadas eram importados da Europa.
Também não tinha Universidade no Brasil. Os filhos das elites estudavam em Portugal
(Coimbra). Também não havia a ideia de Brasil, a identidade era regional. Os colonos se
identificavam com o lugar onde efetivamente moravam e não se sentiam brasileiros. Pelo
contrário, se sentiam súditos de Portugal na América. A Corte quando chega ao Brasil, em
1808, vai alterar esta conjuntura, pois vai estabelecer uma série de medidas para enquadrar a
América nos moldes europeus, dentre estas, a criação de universidade e Imprensa. Com a
criação da imprensa régia “chapa branca”, ideias que até então eram desconhecidas, começam
a circular. Por exemplo, um jornal de oposição chamado “Correio Braziliense” (1808/1823),
de Hipólito José da Costa, único jornal de oposição que circulava de forma clandestina. Era
impresso na Inglaterra, pois a Imprensa Régia controlava o que podia ou não ser impresso.
Além disso, tinha a mesa de consciência e ordem que promove a censura os textos
inconvenientes. Este jornal foi um difusor de ideias liberais na América. Enfim, para ler sobre
ideias liberais, era necessários ler textos importados. Quando o Brasil é elevado a “Reino
Unido”, em 1815, a ideia de que existem portugueses do reino e portugueses da América se
consolida e retarda a construção de uma identidade brasileira, condição “sine qua non” para
existir qualquer projeto de Independência. Este pensamento vigorou até o momento em que as
Cortes de Lisboa deixaram clara a intenção de recolonizar a América. Quando os Colonos
percebem os reais objetivos das Cortes de Lisboa, fica clarividente que há um conflito de
interesses entre os portugueses do reino e os portugueses da América. Neste momento, é
germinada a ideia de um sentimento de identidade brasileira. Há uma série de especificidades
que corroboram a singularidade do Liberalismo edificado no Brasil:
***Experiência direta com o Regime Monárquico desde a chegada da Corte no Rio de
Janeiro, em 1808.
***Ao longo da década de 1810, a elite brasileira começou adotar o liberalismo dos antigos,
condicionado à presença de uma monarquia que está estabelecida no Brasil e, ao mesmo
tempo, com o exemplo negativo de vários “vizinhos” que se transformaram em Repúblicas e
caíram em desordem, do ponto de vista da elite brasileira. Destarte, o “liberalismo à
brasileira”, submetido ao raciocínio da elite local, se trata de um liberalismo
fundamentalmente constitucional, vinculado ao objetivo estrito de criar uma monarquia
constitucional, não se trata de um liberalismo republicano. Esse fator explica o motivo pelo
qual o Brasil não virou República após a Independência. Portanto, até 1808, vigora no Brasil,
um liberalismo muito específico, baseado no conceito de liberdade do antigos, qual seja:
Somente os nobres podiam ser liberais! Com efeito, até 1808, o Liberalismo Brasileiro
padecia por um defeito de origem, qual seja, estava sendo pensado e construído privado de
uma ideia elementar à compreensão do liberalismo político: a igualdade/isonomia jurídica de
todos perante a lei! A ideia de “liberdade dos modernos” somente começa a ser embrionada
depois da chegada da Corte, em 1808, que introduz a imprensa, autoriza a manufatura, cria
Universidades, acaba com o monopólio comercial, recebe estrangeiros. As sublevações
organizadas antes de 1808 são feitas a partir do conceito elitista e limitado do liberalismo dos
antigos. A ideia moderna de liberdade é inaugurada primeiro sob a perspectiva do liberalismo
econômico. Antes de haver uma defesa do liberalismo político, existiu um defensor do
liberalismo econômico: José da Silva Lisboa, o “Visconde de Cairu”. Segundo Amado Cervo,
foi o Visconde de Cairu que influenciou D. João a determinar a abertura dos portos e não
conceder privilégios alfandegários para a Inglaterra. O liberalismo político é discutido,
somente depois, através de ideias veiculados no jornal de oposição Correio Braziliense.
Portanto, as elites (o liberalismo ainda não se estende às camadas populares) somente vão
incorporar o liberalismo político depois da implantação do liberalismo econômico. No Brasil,
somente depois do “Vintismo” (década de 1820), do Constitucionalismo português, da
“Revolução do Porto” e da decepção das elites frente à hipótese de recolonização, a ideia de
“liberdade moderna” passou a ser associada a ideia de direitos e garantias do indivíduo
perante o Estado. A igualdade de todos (as elites) perante a lei. Esta ideia de igualdade,
obviamente, não abrange o povão, considerando que se a igualdade fosse pensada sob uma
perspectiva de massa, poderia haver transformações sociais importantes, mas desalinhadas
dos interesses das elites, por exemplo, o fim da escravidão.
***No Brasil, algumas vezes, o liberalismo econômico é atrelado ao liberalismo político. No
segundo reinado, TODOS os partidos políticos eram liberais. Toda elite que controla o
Estado Português deste 1831, desde o 7 de abril, desde a abdicação de D. Pedro, desde o
início da Regência é liberal politicamente, “sincronizando o “liberalismo moderno”, com
isonomia, e um regime vigente de escravidão, configurando o “liberalismo a brasileira”. Para
conciliar liberalismo político e a escravidão, as elites brasileiras se apropriam da ideia de
liberalismo econômico, que está relacionada diretamente ao direito sagrado de propriedade e a
liberdade comercial. Sob esta perspectiva o escravo é considerado propriedade. Nos trópicos,
portanto, no “vintismo”, quando começa a ser propagado amplamente o liberalismo político, a
ideia de liberdade/isonomia, é conciliada “à brasileira” com a ideia de propriedade para
justificar a manutenção da escravidão. Com efeito, todos são iguais perante a lei, exceto,
aqueles que são propriedade de alguém e, portanto, não podem ser abrangidos pelo Estado.
Esta é ideia que consta, inclusive, na Constituição de 1824. Esta Constituição não é totalmente
liberal.
***O processo de independência está umbilicalmente ligado ao projeto de restauração do
exclusivo colonial e da recolonização, encabeçado pelas “Cortes de Lisboa”. Quando as elites
brasileiras se conscientizam das reais intenções das Cortes de Lisboa, inaugura-se um período
de confrontos, de um lado, a pressão do “Liberais do Porto” pela restauração do exclusivo
colonial, de outro lado, as elites brasileiras resistindo à recolonização. A verdade é que D.
João atendeu as orientações das “Cortes de Lisboa”, retornou à Europa, estrategicamente,
concordou com a criação e “jurou” a Constituição. A única reivindicação das “Cortes de
Lisboa” que faltava ser alcançada era a recolonização da América Portuguesa. Lembrando
que, no “Vintismo”, em Portugal, o conflito que permeia a sociedade portuguesa é a oposição
entre o liberalismo e o absolutismo. A partir desta conjectura, a Banca interpreta que, o Brasil,
na década de 1820, reproduz o confronto existente na Europa entre liberalismo e absolutismo.
Ou seja, o processo que ocorre no Brasil, no “Vintismo”, é análogo ao que está ocorrendo na
Europa. Neste sentido, há um confronto aberto entre o príncipe regente do Brasil (D. Pedro foi
nomeado príncipe regente por decreto) e as “Cortes de Lisboa”. D. João deixou uma carta
para o filho, orientando, entre outras coisas, que na hipótese de ser necessário pleitear a
independência do Brasil, ele preferia que o próprio príncipe demandasse pela liberdade da
América Portuguesa. Na visão de D. João, o Príncipe reivindicar a independência impediria
que este processo fosse liderado por um “republicano aventureiro”, a exemplo de Bolivar e
Artigas, revolucionários da América Espanhola. Com esta estratégia, D. João garantiu a
manutenção da Dinastia dos Bragança tanto na Europa quanto na América. Brasil negociou e
pagou pela Independência. Urge registrar que, a negociação foi tripartite, na qual se
destacou a mediação da Inglaterra entre metrópole e ex-colônia. Essa negociação ocorreu
entre Brasil, Portugal e Inglaterra. Estava em jogo o reconhecimento da independência por
parte de Portugal, efetivado em 1825. No caso dos ingleses, somente reconheceram a
independência brasileira em 1826 (Neste momento, o reconhecimento da Independência pela
Inglaterra era condição essencial para que outras potências também o fizessem, devido à
relevância dos britânicos no Sistema Internacional). A primeira nação a reconhecer a
independência do Brasil, são os Estados de Benin e Onin (atual Nigéria). Formalmente é os
Estados Unidos. O resultado é a dinastia Bragança tanto no governo de Portugal, quanto no
governo do Brasil Independente. A estratégia Joanina para impedir que a Independência fosse
realizada por um “Republicano Aventureiro” foi um sucesso, assim como a artimanha
engendrada para “fugir” do Napoleão para Implantar o “Império Luso-Brasileiro” na
América.
- Os fatos que resultaram na Independência são:
*09/01/1821: As “Cortes de Lisboa” intimam D. Pedro, o Príncipe Regente, para retornar pata
Portugal. Este foi considerado o dia do “Fico” – “Se é para o bem de todos e felicidades da
Nação, diga ao povo que fico”! Através desta afirmação, D. Pedro deixa claro que não irá
obedecer ao ultimato das “Cortes de Lisboa”. Em contrapartida, algumas províncias
brasileiras, considerando o fato que o Rei está em Portugal, optam por obedecer a
determinação da Metrópole, que neste momento está localizada em Lisboa.
D. Pedro, então, age como governante do Brasil e determina que todas as províncias não
cumpririam a legislação emitida pelas Cortes. Ato contínuo, ao dia do “fico” emite o
“Cumpra-se”, que quer dizer que qualquer ordem vinda de Lisboa somente poderia ser
obedecida na América se fosse avalizada e recebesse o “cumpra-se”. Em suma, nenhuma
província podia obedecer às Cortes sem a autorização de D. Pedro. A conduta de D. Pedro
demonstrou que ele já estava agindo como governante do Brasil e, na condição de governante
do Brasil, estava rompendo com a metrópole e estava disposto a pagar o preço por isso.  A
oficialização do rompimento entre o Brasil e a metrópole portuguesa foi conduzida por
setores da elite política colonial, tendo à frente o próprio príncipe regente D. Pedro e se
fez acompanhar da ação popular. A iniciativa da independência e da manutenção da
unidade territorial foi do Sudeste. No Pará, na Cisplatina e no Maranhão, na Bahia, no
Piauí, há resistência ao projeto de independência de Dom Pedro. Isso ocorre porque as
províncias mais afastadas mantinham relações mais próximas a Lisboa que em relação ao Rio
de Janeiro.
*07/09/1822: O primeiro ato simbólico é o “grito”, às margens do Ipiranga. Entre os “liberais
à brasileira” (dentro da maçonaria) que apoiavam D. Pedro (que era maçom) na decisão de
separar o Brasil de Portugal, havia uma ala formada por José Bonifácio, os chamados
Aristocratas dentro do Partido Brasileiro, que hesitou até o último momento o rompimento
com a metrópole, até 1821, este grupo ainda acreditava que dava para negociar uma espécie
de “Monarquia Dual”, pra evitar a independência, com medo de que o liberalismo chegasse às
camadas populares e excedesse o liberalismo político e promovesse transformações sociais.
Por outro lado, existia um grupo mais radical, chamado de Democrático, liderado por
Gonçalves Ledo. O ato/grito significou a vitória do grupo Aristocrata. O projeto de
independência encampado por D. Pedro é aristocrata (um dos motivos da vitória aristocrata é
que D. Pedro ao se tornar Grão Mestre escolhe as lojas da maçonaria ligadas a Bonifácio.
Ledo também era maçom, mas de outra ala). Obviamente, quando a independência está sendo
negociada, aristocratas e democratas estão unidos, inclusive, com os portugueses enraizados.
D. Pedro foi capaz de fundir os interesses de diferentes grupos. Isso ocorreu porque o inimigo
era comum, era necessária a fusão de todos os grupos para derrotá-lo. O conflito surge depois
da implantação da Independência, pois os projetos de país não antagônicos. Este conflito
resultará em disputas no pós-separação. Apesar de ter sido negociada e paga, a Independência
brasileira não foi pacífica. A Independência Brasileira foi forjada nas “Guerras de
Independência”. Estas guerras aconteceram nas localidades onde existia uma concentração
significativa de Tropas Portuguesas leais a Lisboa, que resistiram acatar ordem de D. Pedro.
Por exemplo, na Bahia, onde tem dois carnavais, um que acompanha a data nacional e outro
em 02 de julho, feriado estadual, quando eles comemoram a Independência. Outro caso, é a
Guerra da Cisplatina, onde as Tropas Portuguesas não aderem a decisão de D. Pedro.
Considerar que somente teve guerras de independência onde existiam tropas portuguesas que
não reconheciam o comando de D. Pedro é um reducionismo histórico. No Piauí, por
exemplo, a concentração de tropas era muito pequena e, ainda assim teve resistência. O que é
importante reter sobre as “Guerras de Independência” é que neste momento ainda não existia
exército, marinha, tampouco, tropas brasileiras para lutar nas guerras de independência. Em
virtude disso, D. Pedro contratou mercenários para combater as tropas portuguesas leais a
Lisboa. Depois de derrotar a resistência, estes mercenários ficam famosos por serem
conhecidos como “criadores” do exército e da marinha brasileira. Isso ocorre porque eles
continuam formando as tropas brasileiras mesmo após o fim das guerras. Com efeito, como
saldo das guerras de independência, o Brasil sai independente, com um exército e uma
marinha formada.

-Historiografia da Independência – Interpretações Importantes:


*Maria Odila - “conceito de interiorização da metrópole” – Para esta autora a
independência é um processo que se inicia em 1808 e 1853.
* José Murilo de Carvalho – Construção da Ordem e Teatro de Sombras – Política Imperial –
Apresenta a tese da homogeneidade cultural das elites brasileiras. Ele leciona que durante
o Período Colonial não tinha Universidades na América Portuguesa, então, todos os filhos da
elite iam estudar em Coimbra, Portugal, com currículo padronizado. Assim, todos os egressos
dessas Universidade saiam com a mesma visão de mundo. Os filhos da Elite de diferentes
localidades da América Portuguesa se conheciam em Portugal. Quando eles retornam à
América, cada um com seu olhar regional, com seu olhar de origem, quando vão atuar no
Brasil Independente. Mas a visão de mundo é muito próxima, por exemplo, eles voltam com o
“liberalismo à brasileira” que concilia liberdade, isonomia jurídica e escravidão. Todos eles
voltam com uma visão de mundo de elite, que tem medo de uma rebelião escrava inspirada no
“haitianismo”, eles voltam, principalmente, querendo manter a unidade territorial “sagrada
para as elites locais”, manter um regime monárquico constitucional. Eles têm medo do
republicanismo reproduzido na América espanhola, pois na visão deles essa foi a causa da
fragmentação em vários países independentes. Essa fragmentação é associada por esta elite ao
caos, as guerras civis, enfim, todos os problemas que a América Espanhola Independente
enfrenta. Outra coisa que é sagrada para esta elite forjada em Coimbra é a economia baseada
na agro exportação. Inobstante a visão de mundo parecida, quando se trata de projetos
políticos, surge uma infinidade de possibilidades. A homogeneidade é cultural e de visão de
mundo, no que concerne aos projetos políticos, os interesses das elites são distintos, não existe
homogeneidade política. Para José Murilo a homogeneidade CULTURAL explica o motivo
pelo qual o Brasil manteve a única monarquia e unidade territorial, em meio as várias
repúblicas constituídas na América Espanhola. Não se pode dizer que a independência foi
CONSENSUALMENTE vista como ato político que rompeu com as estruturas básicas do
período colonial. Além disso, a aproximação das elites não foi generalizada, houve
discordâncias e, por último, o país não conseguiu se inserir vantajosamente na economia
internacional. O Brasil continuou submetido aos interesses das elites exportadoras e dos
mercados internacionais.
*Raimundo Faoro – autor da tese “Estamento Burocrático” – Raimundo Faoro propõe o
conceito de Estado Patrimonialista – origem Weberiana – Segundo Faoro, quando o Estado
Português se transfere para a América, em 1808, é o Estado patrimonialista português que está
sendo transplantado. O patrimonialismo, uma doença que está na origem da sociedade
portuguesa, vai ser enxertado nas camadas sociais brasileiras. Para Faoro este é “O problema”
que está na origem de todos os “nossos males”. Para Faoro o estamento burocrático, trazido
por D. João, é o grupo que dominava o Estado Português, em Portugal, e vai dominar o
Estado Português na América, em toda a história. Com efeito, para Faoro o Estado implantado
em 1822 é um Estado Patrimonialista, ou seja, é um país independente, mas com vício de
origem.
* Autor desconhecido - Unidade Territorial – Se trata de uma interpretação propagada sem a
fonte – Segundo essa tese a manutenção da unidade territorial e da monarquia, no Brasil, não
explica na homogeneidade cultural das elites, tampouco porque o Estado estava transplantado
na América desde 1808, mas, principalmente, porque as elites se uniam em torno de MEDO
comum, o haitianismo. Ou seja, que houvesse uma transformação social influenciada pelas
ideias difundidas na Revolução Haitiana sobre a ação política de negros, mulatos escravos
livres.
*Ilmar Rohloff de Mattos – Tempo Saquarema – Por muito tempo, os historiadores tiveram
esta obra como oposta à obra Construção da Ordem de José Murilo. Mas, na verdade, eles se
complementam. Para este autor o confronto central da sociedade colonial, entre “Casa
Grande” e “Senzala”. A elite colonial consegue manter na América, o sistema de “Antigo
Regime nos Trópicos”, ou seja, uma hierarquia em que os colonizados (escravos) são
subordinados aos colonos, porque esta é uma face de uma moeda que corresponde a um outro
lado da moeda, este outro lado da moeda significa que, para estar no topo da hierarquia social
aqui na América, este colono tem que estar externamente subordinado a uma elite
colonizadora fora do país. Isso quer dizer que, só existe escravos e senhores de escravos, uma
sociedade hierárquica que mantém esta hierarquia, mantém a escravidão e mantêm os colonos
como elite local, como nobreza da terra, porque esta mesma elite tá subordinada a uma
relação de dominação, de dependência em relação à metrópole colonizadora. Para este autor,
quando o Brasil se torna independente, o vínculo com o polo dominador externo é cortado,
está rompendo com o colonizador. Neste momento, a moeda colonial fica apenas com um dos
lados. Nesta ótica, o rompimento definitivo com o colonizador significa que a elite local, os
colonos, não conseguiria manter a dominação, a hierarquia, a organização social, nos moldes
do antigo regime, enraizada na escravidão. Esta elite não conseguiria manter o controle sobre
os colonizados. Em virtude disso, nos pós “7 de Setembro”, a elite local, os colonos, tentam
de todas as formas manter o vínculo com o polo externo, a fim de recriar a outra face da
moeda colonial. No Pós “7 de Setembro” o papel do colonizador não vai mais ser exercido
pela metrópole, mas, sim, por outra potência, que politicamente não vai ser metrópole e que
vai cumprir o papel de manter o equilíbrio da moeda colonial. Na visão da elite colonial
brasileira, neste momento independente, somente com dependência externa é possível manter
a ordem social e hierárquica enraizada na escravidão. Em termos analíticos, esta tese se aplica
no sentido de dizer que na Independência houve uma “recunhagem” da moeda colonial.
Concretamente, isso ocorre com renovação dos Tratados Desiguais com a Inglaterra. Os
colonos optam por manter a subordinação em relação à Inglaterra, neste momento
compreendida como colonizadora, para garantir a continuidade da supremacia sobre os
colonizados. Para este autor a subordinação e a dependência são necessárias porque a
sociedade e a economia colonial são estruturadas na “plantation” (latifúndio, monocultura,
mão-de-obra escrava, agricultura de exportação). Nesta hipótese, o corte do vínculo com o
colonizador e o rompimento das exportações pode alterar a estrutura da sociedade colonial.
Destarte, se a estrutura colonial deixar de ser basear na plantation, o liberalismo poderia
cruzar a porta da senzala, chegando às camadas populares e provocando transformações
sociais profundas, como ocorreu na Revolução do Haiti. Tanto Ilmar, quanto José Murilo,
tentam explicar a manutenção da unidade territorial para explicar a política do Império. Ilmar
parte de um referencial teórico Marxista, enfatizando o ponto de vista econômico, no que
concerne a estrutura econômica e social da colônia que se mantém mesmo depois da
independência. José Murilo, por sua vez, parte de um referencial mais Weberiana e enfatiza
aspecto cultural, no que tange a formação das elites. Apesar de parecer que estes autores são
antagônicos, eles se complementam, uma vez que, cada um analisa uma parte da realidade.

***José Bonifácio era amigo pessoal de D. Pedro e era visto como uma figura importante no
durante e após o “7 de Setembro”, era considerando um dos promotores da independência
brasileira. No governo de D. Pedro I é nomeado ministro do Reino e dos Negócios
Estrangeiros. Entretanto, indispõe-se com o imperador durante o processo constituinte e, em
1823, é preso e exilado. Retorna ao Brasil seis anos depois, se reconcilia com dom Pedro I e
com a abdicação do imperador, em 1831, é nomeado tutor do príncipe herdeiro, dom Pedro II.
Alguns historiadores dizem que um dos motivos do conflito entre Bonifácio e D. Pedro está
atrelado ao fato de Bonifácio ser um defensor do fim da escravidão. Considerando que a
manutenção da escravidão era o limite do liberalismo à brasileira, ao demandar pelo fim do
regime de escravidão, Bonifácio rompeu o limite e foi além do que as elites políticas,
econômicas e culturais brasileiras permitiam.

****No Congresso de Viena, ao fim das guerras napoleônicas, foi aprovado o “Princípio das
Legitimidades” e determinado que todas as dinastias depostas por Napoleão retornassem aos
seus respectivos tronos. D. João, por sua vez, não quis voltar para a Europa e continuou na
América com o objetivo de implantar o projeto de “Império Luso-Brasileiro”. Então, em
1815, para não ter que retornar, mas, mesmo assim obedecer ao Princípio da Legitimidade e
se reinserir no Concerto Europeu, o Brasil foi elevado a condição de “Reino Unido de
Portugal e Algarves” e a partir daí não há literalmente como falar em período colonial, haja
vista o Brasil ter status de “Reino Unido”. A partir do momento que o Brasil adquiriu o status
de reino, o Monarca pode estar aqui, que ainda será considerado que a dinastia está no trono.
Neste momento, O Brasil deixou de ser colônia política de Portugal. Lembrando que a D.
Maria morreu em 1816 e D. João somente foi coroado rei neste momento, ele poderia ter
voltado para ser coroado na Europa, mas ele não voltou e foi o primeiro monarca coroado rei,
em 1818, nas Américas, no Brasil e transformou em D. João VI. Desde a chegada da Corte no
Rio de Janeiro é clara a intenção de D. João em querer ficar na América e estabelecer aqui o
Império Luso-Brasileiro. A criação de uma corte legislativa no Brasil, similar às cortes
portuguesas, fazia parte de uma tentativa de esvaziamento das pretensões lusas e de reafirmar
a posição do Brasil em torno de seu status de Reino Unido.
***Em 1821, D João VI havia incorporou o território da Banda Oriental ao Reino Unido de
Portugal, Algarves e Brasil, com a designação de Província da Cisplatina e, em 1822, essa
Província tornou-se parte do Império do Brasil)

***A transferência da família real significou o deslocamento do eixo político e econômico


do império português, a interiorização da metrópole e a transferência da capital de Salvador
para o Rio de Janeiro que virou sede do império português (que tinha colônias na África,
América e Ásia). Lembrando que, formalmente, o Rio de Janeiro nunca foi considerada
capital do Império. Importante saber que, desde o século XVIII a aristocracia açucareira vinha
perdendo poder econômico e representatividade política

***O período de baixas tarifas alfandegárias se inicia em 1808, com a abertura dos portos às
nações amigas. Essa afirmação está correta sob o ponto de vista de que o processo de
Independência do Brasil" compreende período entre os anos de 1808 à 1831 começa com a
transferência da Corte e termina com a abdicação de D. Pedro I (Ricupero analisa a política
externa deste período. José Murilo concorda que a Independência somente se consumou em
1831. Para os liberais brasileiros, até 1831 existia a possibilidade de recolonização ou uma
reunião com a Coroa Portuguesa). Com efeito, os tratados de comércio da época da
Independência do Brasil inauguraram um período de baixas tarifas, o que provocou
“déficit” na balança comercial brasileira.

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