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Atividade Antioxidante e Antibacteriana

dos Compostos Fenólicos dos Extratos de


Plantas Usadas como Chás

Antioxidant and Antibacterial Activities


of Phenolic Compounds from Extracts of
AUTORES
Plants Used as Tea
AUTHORS

Fabia Cristina Asolini RESUMO


Adriana Maria Tedesco
Solange Teresinha Carpes
Os chás são bebidas populares e fontes significativas de compostos fenólicos, são
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFP/PR)
Via do Conhecimento, Km 01, Cx Postal 571 considerados importantes integrantes das dietas devido ao seu alto potencial antioxidante.
Pato Branco-PR, CEP: 85501-970, Brasil, Neste trabalho, foram avaliadas as propriedades antibacterianas e antioxidantes de compostos
Fone:+ 55 3220 2596 ; +55 41 3262 99 97 fenólicos encontrados em fitoterápicos comumente consumidos na região sudoeste do Paraná,
Fax: +55 46 3220 2511,
como: arruda (Ruta graveolens), camomila (Matricaria chamomilla), macela (Achyrocline
e-mail: solangecarpes@gmail.com
satureioides), alcachofra (Cynara scolymus), erva-mate (Ilex paraguariensis), tanchagem
(Plantago major), malva (Malva silvestris), sálvia (Salvia officinalis), capim-limão (Cymbopogon
Cristina Ferraz citratus) e alecrim (Rosmarinus officinalis). A atividade antibacteriana dos extratos etanólicos e
Faculdade Assis Gurgacz (FAG), Cascavel-PR, Brasil; aquosos das plantas foi avaliada utilizando as bactérias Staphylococcus aureus, Pseudomonas
aeruginosas, Bacillus cereus e Bacillus subtilis. Os extratos aquosos dos chás não apresentaram
Severino Matias de Alencar atividade antibacteriana com exceção da alcachofra. Os extratos aquosos e etanólicos da
Universidade de São Paulo, ESALQ-USP alcachofra inibiram o crescimento das quatro bactérias analisadas. Os extratos alcoólicos de
Piracicaba-SP, Brasil todos os chás analisados mostraram o maior halo de inibição contra o Staphylococcus aureus. A
e-mail:alencar@esalq.usp.br quantidade de compostos fenólicos totais extraídos de ambas as condições de extração variou
de 18 a 145 mg EAG/g de folha seca (EAG – equivalente em ácido gálico). Todas as amostras
de extratos aquosos e etanólicos dos chás apresentaram atividade antioxidante superior à
do controle que continha apenas etanol (80% v/v). Os extratos aquosos da macela, alecrim,
erva-mate e malva apresentaram maior atividade antioxidante (acima de 97%) entre os chás
analisados e não diferiram estatisticamente entre si pelo teste de Tukey.

SUMMARY

Teas are popular beverages providing a significant source of phenolic compounds,


important components of the human diet due to their high antioxidant potential. The aim of
this work was to evaluate the antibacterial and antioxidant activities of phenolic compounds
found in teas widely consumed in the southwestern region of Paraná State, Brazil, including
rue (Ruta graveolens), camomile (Matricaria chamomilla), “macela” (Achyrocline satureioides),
artichoke (Cynara scolymus), mate (Ilex paraguariensis), plantain (Plantago major), mallow
(Malva silvestris), sage (Salvia officinalis), lemon grass (Cymbopogon citratus) and rosemary
(Rosmarinus officinalis). The antibacterial activity of the ethanolic and aqueous extracts was
analysed against Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Bacillus cereus and Bacillus
subtilis. The aqueous extracts presented no antibacterial activity with the exception of the
artichoke extract, but the aqueous and ethanolic artichoke extracts inhibited the growth of the
four bacteria. The ethanolic extracts of all the teas tested showed the largest halos of inhibition
against Staphylococcus aureus. The amounts of total phenolic compounds extracted under
both conditions varied from 18 to 145 mg GAE/g dry leaf (GAE – gallic acid equivalents). All
extracts presented antioxidant activity significantly higher (p>0.05) than that of the control
PALAVRAS-CHAVE
containing only a solution of ethanol (80% v/v). The aqueous extracts of “macela”, rosemary,
KEY WORDS mate and mallow presented the highest antioxidant activities, but the difference among them
was not significant (p<0.05).
Chás; Compostos Fenólicos;
Atividade Antioxidante; Antibacteriana.

Tea; Phenolic Compounds; Antioxidant;


Antibacterial Activity.

Braz. J. Food Technol., v.9, n.3, p. 209-215, jul./set. 2006 209 Recebido / Received: 17/11/2005. Aprovado / Approved: 21/08/2006.
ASOLINI, F. C. et al. Atividade Antioxidante e Antibacteriana
dos Compostos Fenólicos dos Extratos de
Plantas Usadas como Chás

1. INTRODUÇÃO 2. MATERIAL E MÉTODOS

Os chás têm atraído muita atenção nos últimos anos


devido a sua capacidade antioxidante e sua abundância na
2.1 Preparo das amostras
dieta de milhares de pessoas em todo o mundo. São ricos em
catequinas, uma das seis classes dos flavonóides. As catequinas
dos chás apresentam propriedades biológicas como atividade As folhas de chás foram colhidas no campo, na
antioxidante e são seqüestradoras de radicais livres. região sudoeste do Paraná, nas proximidades da cidade de
Pato Branco-PR. Foram coletadas amostras de arruda (Ruta
Os antioxidantes podem ser definidos como substâncias graveolens ), camomila ( Matricaria chamomilla ), macela
capazes de retardar ou inibir a oxidação de substratos oxidáveis, ( Achyrocline satureioides ), alcachofra ( Cynara scolymus ),
podendo estes ser enzimáticos ou não enzimáticos, tais como erva-mate (Ilex paraguariensis), tanchagem (Plantago major),
que α-tocoferol (vitamina E), β-caroteno, ascorbato (vitamina malva (Malva silvestris), sálvia (Salvia officinalis), capim-limão
C) e os compostos fenólicos (flavonóides) (HALLIWELL, 2001). (Cymbopogon citratus) e alecrim (Rosmarinus officinalis). As
O consumo de antioxidantes naturais, como os compostos folhas foram ligeiramente lavadas com água corrente para a
fenólicos presentes na maioria das plantas que inibem a retirada do pó e qualquer outro tipo de material estranho e,
formação de radicais livres, também chamados de substâncias secas à sombra durante quinze dias. Após a secagem, foram
reativas, tem sido associado a uma menor incidência de doenças trituradas e armazenadas à temperatura ambiente.
relacionadas com o estresse oxidativo (DROGE, 2002). Foram preparados extratos aquosos (EAC) e etanólicos
O estresse oxidativo ocorre como um desequilíbrio entre (EEC) a partir de dez gramas de folhas secas e trituradas.
o balanço pró-oxidante/antioxidante, em favor da situação pró- Para a obtenção do EAC, as folhas secas foram submetidas à
oxidante, promovendo um dano potencial. O dano oxidativo infusão com água fervente. Os extratos etanólicos (EEC) foram
que as biomoléculas sofrem está relacionado com as patologias obtidos através da adição de uma solução de etanol a 80%, e
de um grande número de doenças crônicas, incluindo doenças manutenção em banho-maria a 70°C durante trinta minutos,
cardiovasculares, câncer e doenças neurodegenerativas sob agitação constante. Após a extração, as amostras foram
(MENDEL & YOUDIM, 2004; WISEMAN et al., 2001; LIAO et filtradas e os sobrenadantes acondicionados em tubos de ensaio
al., 2001; JAVANMARDI et al., 2002; KIM et al., 2003; LU & para posterior análise.
YEAP FOO, 2002).
Várias pesquisas no Japão mostraram que o consumo 2.2 Determinação dos compostos fenólicos totais nos
de cinco ou mais xícaras de chá por dia correlacionava-se Extratos Etanólicos (EEC) e Aquosos dos Chás
negativamente com a recorrência das Fases I e II do câncer de (EAC)
mama em mulheres (JANKUN et al., 1999; SAKANAKA et al.,
1989). Os chás ingeridos na forma de infusão contribuem para
Os compostos fenólicos totais foram quantificados
a extração dos compostos fenólicos (HINDON & FREI, 2003),
através do método espectrofotométrico de Folin-Ciocalteau,
compostos estes benéficos à saúde (BUNKOVA et al., 2005;
utilizando o ácido gálico como padrão de referência. A 0,5 mL
MENDEL & YOUDIM, 2004). de cada amostra, adicionou-se 2 mL do reagente Folin-
Segundo GUO et al. (2005), os compostos fenólicos Ciocalteau diluído 1/10 e 2 mL de Na2CO3 a 4% (p/p) e a mistura
presentes no chá verde apresentaram efeitos protetores às foi armazenada ao abrigo da luz por 2 horas. O tubo controle
células contra a neurotoxina pro-parkinsoniana (6-OHDA). continha 0,5 mL de etanol a 80%. A absorbância foi medida a
JAVANAMARDI et al. (2003) avaliaram 21 amostras de 740 nm usando um espectrofotômetro UV-VIS. Todas as análises
manjericão ( Ocimum basilicum L.) e encontraram uma foram realizadas em duplicatas. Os resultados foram expressos
correlação linear positiva entre a atividade antioxidante e o teor em mg de ácido gálico equivalente por g de peso seco (mg
de compostos fenólicos totais. EAG/g) (SINGLETON et al., 1965).
Segundo COELHO DE SOUZA et al. (2004), os extratos
metanólicos de sete espécies de ervas apresentaram alguma 2.3 Determinação da atividade antibacteriana de EEC
atividade antimicrobiana. Nesse estudo, a Parapiptadenia rígida e EAC
apresentou atividade contra quatro bactérias Gram positivas
e inibiu especialmente Micrococcus luteus. Outros autores
A atividade antibacteriana dos extratos dos chás foi
demonstraram importante atividade dos extratos etanólicos
determinada pelo método de difusão em disco segundo
de Malva sylvestris contra Bacillus subtilis (IZZO et al., 1995),
BAUER et al. (1966) com algumas modificações. Cepas de
Pseudomonas aeruginosa (ALKOFAHI et al., 1996) e Escherichia
Staphylococcus aureus ATCC 25.923, Pseudomonas aeruginosa
coli (IZZO et al.,1995; ALKOFAHI et al., 1996).
ATCC 15.442, Bacillus cereus e Bacillus subtillis ATCC 21.332
Este trabalho tem por intuito quantificar e avaliar foram cultivadas em ágar nutriente (Difco Lab.). Culturas ativas
as atividades antioxidante e antimicrobiana dos compostos destes microrganismos foram inoculadas por espalhamento com
fenólicos de dez chás tradicionalmente usados na medicina “swabs” estéreis em placas de Petri. Quarenta microlitros dos
popular do Brasil. extratos etanólicos e aquosos dos chás e 40 µL de etanol a 80%

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(controle) foram aplicados em disco de papel e colocados sobre

Compostos fenólicos totais (mg EAG/g folha seca)


as placas. A atividade antibacteriana dos extratos etanólicos e
aquosos das dez amostras de chás foi determinada pela medida
do halo inibitório formado ao redor dos discos após 24 h de
incubação a 37°C. A zona de inibição de crescimento das
bactérias foi expressa em mm. Todas as análises foram realizadas
em duplicatas.

2.4 Determinação da atividade antioxidante de EEC e


EAC

A atividade antioxidante dos EEC foi determinada pela


oxidação acoplada do β-caroteno e do ácido linoléico. Cinco
Tanchagem Erva-mate Arruda Alecrim Macela Alcachofra Sálvia Camomila Capim-limão Malva
mg de β-caroteno foram dissolvidos em 5 mL de clorofórmio
e adicionados a um frasco contendo 60 mg de ácido linoléico Amostras de Extratos Aquosos dos Chás (EAC)
e 200 mg de Tween 40. O clorofórmio foi removido por Obs: letras iguais acima das colunas indicam não haver diferenças a nível de 5% pelo teste
de Tukey
evaporação a 40°C por 5 min, adicionando-se suavemente EAG = Equivalente em ácido gálico
ao resíduo 50 mL de água destilada para a formação de uma
emulsão. Um mL desta emulsão foi adicionado aos tubos de Figura 1. Compostos fenólicos totais de Extratos Aquosos
ensaio contendo 0,5 mL de extrato etanólico ou aquoso dos dos Chás (EAC).
chás diluído 1/10 (PARK e IKEGAKI, 1998). Os tubos foram
colocados em banho-maria a 40°C efetuando-se leitura da Os teores de compostos fenólicos totais dos extratos
absorbância em espectrofotômetro a 470 nm no tempo zero, etanólicos variaram de 15 a 56 mg EAG/g folha seca (Figura
1 h, 2 h e 3 h. Os tubos controles continham apenas 0,5 mL de 2). A maior quantidade de compostos fenólicos por g de
etanol a 80% e 1 mL da emulsão. Todas as determinações foram planta seca (> 55 mg EAG/g) foi detectada nos extratos de
efetuadas em duplicata. A atividade antioxidante dos extratos tanchagem e erva-mate, mas não houve diferença significativa
foi avaliada em termos do descoramento do β-caroteno usando
entre os teores destas duas amostras. A arruda e o alecrim
a seguinte equação (ALENCAR, 2002):
apresentaram diferenças significativas quando comparadas
absorbância após 3 horas de reação a tanchagem e a erva-mate. Os extratos etanólicos de sálvia
AA = × 10
00
absorbância inicial e camomila apresentaram teores de compostos fenólicos em
torno de 25 mg GAE/g e não diferiram estatisticamente entre
si. Entretanto, os extratos de capim-limão e malva apresentaram
2.5 Análise estatística os menores teores de compostos fenólicos totais e diferiram
estatisticamente dos demais extratos de chá analisados (Figura
Os dados foram processados pela análise de variância 2).
ANOVA. Diferenças significativas entre as medias foram
determinadas pelo teste de Tukey ao nível de p<0,05 (MSTAT-
Compostos fenólicos totais (mg EAG/g folha seca)

C, 1998).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A quantidade de compostos fenólicos totais nos extratos


aquosos de chás variou de 18 a 145 mg EAG/g de folha seca,
como mostrado na Figura 1. Os valores dos compostos fenólicos
totais nos extratos aquosos de tanchagem, erva-mate e alecrim
foram maiores do que os respectivos extratos etanólicos (Figura
2). A erva-mate apresentou a maior quantidade de compostos
fenólicos (145 mg EAG/g folha seca) e diferiu estatisticamente dos
demais tipos de chás analisados. O teste de Tukey mostrou que Tanchagem Erva-mate Arruda Alecrim Macela Alcachofra Sálvia Camomila Capim-limão Malva
não houve diferença significativa para os teores de compostos Amostras de Extratos Etanólicos dos Chás (EEC)
fenólicos dos extratos aquosos de macela e alcachofra, bem como Obs: letras iguais acima das colunas indicam não haver diferenças a nível de 5% pelo teste
os extratos aquosos de sálvia e arruda também não diferiram de Tukey
EAG = Equivalente em ácido gálico
estatisticamente entre si. Entretanto, o teor de compostos
fenólicos totais do extrato de malva foi significativamente menor Figura 2. Compostos fenólicos totais de Extratos Etanólicos
que o dos demais extratos de chás (Figura 1). dos Chás (EEC).

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O grupo dos extratos de tanchagem e erva-mate


apresentou teor de compostos fenólicos significativamente
diferente dos apresentados pelos extratos de sálvia e camomila,
os quais ficaram em torno de 25 mg EAG/g de folha seca. Entre
os extratos etanólicos de chás analisados, a malva foi a que
apresentou a menor quantidade de compostos fenólicos em
mg EAG/g de folha seca (Figura 2).
A Tabela 1 apresenta as medidas dos halos de inibição dos
extratos aquosos de chás, contra Staphylococcus aureus ATCC
25.923, Pseudomonas aeruginosa ATCC 15.442, Bacillus cereus
e Bacillus subtillis ATCC 21.332. Com exceção da alcachofra, os
demais extratos aquosos dos chás não apresentaram atividade
antibacteriana contra as bactérias testadas.

Tabela 1. Atividade antibacteriana de EAC, determinada pelo


método de difusão em disco.
Bactérias
EAC# Figura 4. Atividade antibacteriana de EAC de alcachofra
Bacillus Bacillus Pseudomonas Staphylococcus
cereus* subtilis aeruginosa aureus contra Staphylococcus aureus.
Sálvia 0 0 0 0
Tanchagem 0 0 0 0
A Tabela 2 mostra as medidas dos halos de inibição
dos extratos etanólicos dos chás. Pode-se perceber uma
Alcachofra 4,0 2,5 1,0 4,0
sensível melhora na extração dos compostos antibacterianos
Macela 0 0 0 0 quando utilizado o etanol como solvente nos extratos de
Alecrim 0 0 0 0 sálvia, alcachofra, macela e arruda contra os microrganismos
Malva 0 0 0 0 Pseudomonas aeruginosa e Staphylococus aureus. Entretanto,
Arruda 0 0 0 0
os extratos etanólicos de malva, camomila e capim-limão
não apresentaram nenhuma inibição contra as bactérias
Erva-Mate 0 0 0 0
Bacilus cereus, Bacilus subtilis e Pseudomonas aeruginosa,
Camomila 0 0 0 0 porém apresentaram alguma atividade antibacteriana sobre
Capim-Limão 0 0 0 0 Staphylococcus aureus. O teste controle provou que o etanol
#
Extrato Aquoso dos Chás usado nas extrações não teve nenhuma ação inibitória.
* diâmetro do halo de inibição (mm)

O extrato aquoso da alcachofra inibiu o crescimento


de todos os microrganismos testados. A maior inibição foi Tabela 2. Atividade antibacteriana de EEC, determinada
pelo método de difusão em disco.
observada sobre Bacillus cereus e Staphylococcus aureus, ambos
com halo de inibição de 4 mm (Figuras 3 e 4). Bactérias
EEC# Bacillus Bacillus Pseudomonas Staphylococcus
cereus * subtilis aeruginosa aureus
Sálvia 1,0 0 0,5 2,0
Tanchagem 2,0 0 0 1,0

Alcachofra 4,0 0,5 4,0 6,0


Macela 4,0 4,0 5,0 7,0
Alecrim 0 2,0 2,0 7,0
Malva 0 0 0 3,0
Arruda 0 1,0 3,0 4,0
Erva-Mate 0 1,0 1,0 0,5
Camomila 0 0 0 2,0
Capim-Limão 0 0 0 0,5
Controle (etanol) 0 0 0 0
#
Extrato Etanólico dos Chás
* diâmetro do halo de inibição (mm)

Figura 3. Atividade antibacteriana de EAC de alcachofra ALZOREKY e NAKAHARA (2003) avaliaram a atividade
contra Bacillus cereus. antibacteriana de extratos de plantas comumente consumidas

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na Ásia ( P. orientalis, R. chalepensis, Ruta graveolens e de β-caroteno altamente insaturadas. Como resultado disso,
Zingiber officinale) e constataram que Bacillus cereus foi o o β-caroteno é oxidado, as moléculas menores são quebradas
microrganismo mais sensível aos extratos de plantas analisados. e subsequentemente o sistema perde o cromóforo. A
Independentemente do solvente usado, as bactérias gram- descoloração amarelada do β-caroteno pode ser monitorada
positivas foram as mais suscetíveis. espectrofotometricamente.
A arruda (Ruta graveolens) também conhecida como A absorbância dos extratos de chás foi medida a 470
arruda-dos-jardins, tem como princípio ativo óleos essenciais nm no tempo zero e em intervalos de 60 min até que a cor
e flavonóides (MARTINS, 1995). Segundo ALZOREKY e do β-caroteno desaparecesse na reação controle. Quanto
NAKAHARA (2003) e OJALA et al. (2000) a arruda possui maior a atividade antioxidante da substância teste maior será
atividade antibacteriana principalmente contra Bacilllus cereus a manutenção da cor característica do β-caroteno, pela menor
e Staphylococcus aureus. degradação do mesmo.
Todos os extratos etanólicos de chás analisados foram Neste estudo, os extratos aquosos e etanólicos das
inibitórios para Staphylococcus aureus. Os maiores halos dez amostras de chás impediram a descoloração amarela do
inibitórios foram obtidos com os extratos etanólicos de macela β-caroteno por neutralizar o radical livre do ácido linoléico
e alecrim (7 mm), seguido da alcachofra (6 mm), como mostra formado na reação. A atividade antioxidante dos extratos
a Figura 5.
aquosos e etanólicos dos chás após 3 horas de reação de
oxidação acoplada do β-caroteno e ácido linoléico é mostrada
nas Figuras 6 e 7, respectivamente.

Atividade Antioxidante (%)*

Tanchagem Erva-mate Arruda Alecrim Macela Alcachofra Sálvia Camomila Capim-limão Malva Controle
Amostras de Extratos Aquosos dos Chás (EAC)
Obs: letras iguais acima das colunas indicam não haver diferenças a nível de 5% pelo teste
de Tukey
* Atividade antioxidante após 3 horas de reação

Figura 6. Atividade antioxidante de Extratos Aquosos dos


Figura 5. Atividade antibacteriana de EEC de macela, Chás (EAC).
alcachofra, tanchagem e sálvia contra Staphylococcus aureus.

A macela ( Achyrocline satureioides ) é uma er va


medicinal usada em função de suas propriedades colerestética,
Atividade Antioxidante (%)*

antiinflamatória, antispasmódica e hepatoprotetiva. A A.


satureioides tem demonstrado atividade mutagênica in vitro
contra Salmonella e Escherichia coli, o que pode explicar o seu
uso popular em infecções intestinais, diarréias e desinterias.
Este efeito mutagênico é devido principalmente à quercetina
(OHSHIMA et al.,1998; DE SOUSA et al., 2002; POLYDORO et
al., 2004).
Segundo vários autores (ABDILLE et al., 2005; KULISIC
et al., 2004; GORISTEIN et al., 2004), a medida da atividade
antioxidante através do método de descoloração do β-caroteno Tanchagem Erva-mate Arruda Alecrim Macela Alcachofra Sálvia Camomila Capim-limão Malva Controle
é baseada na perda da cor amarela devido às reações com Amostras de Extratos Etanólicos dos Chás (EEC)
radicais formados durante a oxidação do ácido linoléico em Obs: letras iguais acima das colunas indicam não haver diferenças a nível de 5% pelo teste
uma emulsão. Neste método, o β-caroteno sofre uma rápida de Tukey
* Atividade antioxidante após 3 horas de reação
descoloração na ausência de um antioxidante devido à oxidação
acoplada do do β-caroteno e do ácido linoléico, os quais Figura 7. Atividade antioxidante de Extratos Etanólicos dos
geram radicais livres. Esses radicais livres atacam as moléculas Chás (EEC).

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Todas as amostras de extratos aquosos e etanólicos 4. CONCLUSÃO


dos chás apresentaram atividade antioxidante acima de 84%,
conseqüentemente acima do controle (62%). Os extratos
Os resultados obtidos indicaram que existe uma
aquosos da macela, alecrim, erva-mate e malva apresentaram
grande variação na concentração dos compostos fenólicos
maior atividade antioxidante (acima de 97%) entre os chás
nos diversos tipos de chás analisados, tanto nos extratos
analisados e não diferiram estatisticamente entre si pelo teste etanólicos quanto nos aquosos. O uso do etanol como solvente
de Tukey (Figura 6). melhorou sensivelmente a extração dos compostos fenólicos
A atividade antioxidante do controle foi significativamente presentes nos chás, bem como sua atividade antibacteriana.
mais baixa que a observada nos extratos aquosos e etanólicos Somente o extrato aquoso de alcachofra demonstrou atividade
(p< 0,05) (Figura 6 e 7). antibacteriana, diferentemente dos extratos etanólicos em
que todos apresentaram alguma atividade contra a bactéria
Através da análise da Figura 6 podemos verificar que Staphylococcus aureus. Os extratos alcoólicos de alcachofra,
os extratos aquosos de chás de arruda e capim-limão não macela e alecrim foram os que apresentaram as melhores
apresentaram diferenças significativas ao nível de 5% de atividades contra as bactérias testadas.
probabilidade pelo teste de Tukey na análise de atividade
Todas as amostras de extratos aquosos e etanólicos
antioxidante.
dos chás apresentaram atividade antioxidante acima de 84%
O extrato etanólico da macela, quando comparado e superiores a do controle (62%). Esses resultados podem
ao extrato etanólico de alecrim, não apresentou diferenças contribuir para avaliação dos efeitos antioxidantes in vitro
significativas ao nível de 5% no teste de Tukey com atividade dos chás. Entretanto maiores estudos in vivo devem ser feitos
antioxidante acima de 98%, como mostra a Figura 7 e para elucidar o mecanismo de ação e a biodisponibilidade dos
ambos extratos mostraram ser mais efetivos na inibição do flavonóides presentes .
Staphylococcus aureus (Tabela 2).
O extrato etanólico de erva-mate apresentou menor
teor de compostos fenólicos e menor atividade antioxidante REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
quando comparado ao extrato aquoso, no entanto, a atividade
antibacteriana dos compostos extraídos foi sensivelmente
ABDILLE, M. D. H. et al. Antioxidant activity of the extracts from Dillenia
melhorada com o uso do etanol como solvente (Tabela 1 e 2).
indica fruits. Food Chemistry, v. 90, p.891-896, 2005.
Esse efeito, da melhora da atividade antibacteriana pelo uso do
ALENCAR,S. M. Estudo fitoquímico da origem botânica da própolis
etanol como solvente foi também observado nos extratos de
e avaliação da composição química de mel de Apis melífera
macela e alecrim, porém com maior teor de compostos fenólicos
africanizada de diferentes regiões do Brasil. Tese (Doutorado
totais extraídos (Figura 1 e 2). em Ciência de Alimentos) - Universidade Estadual de Campinas,
Embora, nenhuma atividade antibacteriana foi Campinas SP, 2002, 120p.
obser vada no extrato aquoso da er va-mate, a mesma ALKOFAHI, A. et al. Biological activity of some jordanian medicinal plant
apresentou uma grande quantidade de compostos fenólicos extracts. Fitoterapia, v. 67, 435–442, 1996.
totais, com atividade antioxidante acima de 95%. No entanto, ALZOREKY, N. S.; NAKAHARA, K. Antibacterial activity of extracts from
ambos extratos aquoso e etanólico da alcachofra apresentaram some edible plants commonly consumed in Asia. International
baixos teores de compostos fenólicos totais (32,27 e 40,03 Journal of Food Microbiology, v. 80, p.223– 230, 2003.
mg GAE/g respectivamente), com atividade antibacteriana BAUER, A.W. et al. Antibiotic susceptibility testing by a standardized
elevada e atividade antioxidante acima de 85%. Isto sugere que single disk method. American Journal of Clinical Pathology, v.
provavelmente a concentração de compostos fenólicos não 45, 493-496,1966.
determina a atividade antioxidante e/ou antibacteriana, mas sim BUNKOVA, R. et al. Antimutagenic Properties of Green Tea. Plant Foods
a natureza dos compostos fenólicos presente nos extratos. for Human Nutrition, v. 60, p. 25–29, 2005.
COELHO DE SOUZA, G. et al. Ethnopharmacological studies
A quercetina é um dos principais flavonóides presentes
of antimicrobial remedies in the south of Brazil. Journal of
na macela (Achyrocline satureioides). Esse composto possui Ethnopharmacology, v. 90, n.1, p.135-14, 2004.
propriedades inibitórias da peroxidação lipídica através do
DESMARCHELIER, C. et al. Antioxidant and Free Radical Scavenging
seqüestro de espécies reativas ao oxigênio e quelação de
Effects in Extracts of Medicinal Herb Achyrocline satureioides
metais responsáveis pela geração destas espécies (OHSHIMA (Lam.) DC. (marcela). Brazilian Journal of Medical and Biological
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