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1ª.

SÉRIE DO ENSINO MÉDIO


3º BIMESTRE 2020 – ECE

Gêneros e sexualidades

SOCIOLOGIA
Profa. Beatrice Cavalcante Limoeiro

ATIVIDADE DO DIA 08/02/2021

Olá, pessoal!
Iniciamos esse 3º bimestre, dando continuidade aos estudos das Ciências
Humanas (Sociologia), através do Ensino Continuado Emergencial.
Neste material vamos conhecer os estudos sobre gênero e sexualidade,
discutindo questões e aprendendo conceitos fundamentais sobre essa área de pesquisa.

Leia todo o material com atenção e, ao final, responda a questão proposta em suas
anotações. Lembre-se que essa mesma questão fará parte do formulário de avaliação
que você vai preencher até o dia 01/03/2021. O formulário será disponibilizado no
tempo adequado pela equipe de professores.

*Você pode aprofundar seus estudos desse conteúdo acessando os capítulos 22 e 23 do


livro didático de SOCIOLOGIA.

Recapitulando
No último bimestre iniciamos nosso debate sobre o tema do preconceito e da
discriminação. Vimos que podem exister variados tipos de preconceitos e
discriminações e que muitos grupos diferentes podem se tornar um alvo destas
preconcepções negativas e atitudes desfavoráveis apenas por suas características e por
expressarem suas identidades. Durante as atividades do 2º bimestre, focamos em
compreender o que é o racismo e como ele opera no Brasil.
Agora no 3º bimestre vamos tratar de outro tema que também está relacionado
aos preconceitos e discriminações, vamos iniciar nossos estudos sobre gêneros e
sexualidades.
Se interessou? Então, vamos nessa!

O que são estudos de gêneros e sexualidades?


Os estudos de gêneros e sexualidades surgem a partir de uma compreensão das
desigualdades existentes para mulheres e homens nas sociedades ocidentais.
Estudiosas como Margaret Mead (1935) começam a questionar o papel, comportamento
e temperamento fixos atribuídos para homens e mulheres nas sociedades.
A filósofa Simone de Beauvoir em seu livro “O Segundo Sexo” (1940) se
dedica a compreender o que é ser mulher, qual a condição de vida das mulheres e busca
caminhos para iniciar um processo de libertação feminina. Para a autora: “Ser mulher
não é somente nascer com determinado sexo, mas, principalmente, ser classificada de
uma forma negativa pela sociedade. É ser educada, desde o nascimento, a ser frágil,
passiva, dependente, apagada, delicada, discreta, submissa e invisível.”
Vixi! Será?! Consegue identificar algumas destas características na forma como
aprendemos o que é ser mulher?
Além das investigações feministas, surgem como uma ramificação e por vezes
contestação a estes estudos: o Feminismo Negro, Feminismo Descolonial, Estudos
Interseccionais, Estudos Subalternos, que trazem à tona a importância de pensar a
condição feminina ou masculina em relação a outros marcadores sociais de diferença:
como etnia, sexualidade, classe, idade, nacionalidade, dentre outros.
A partir destas discussões de gênero, outros estudos surgem debatendo
sexualidades, comportamentos e estereótipos, a desigualdade entre os gêneros no
trabalho, na família, na política e na sociedade; o contexto do surgimento dos
movimentos sociais feministas e LGBTQ+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans,
Queer e +); as mudanças sociais e culturais na família e na estrutura da sociedade; os
comportamentos, identidades e lutas por direitos e reconhecimento de LGBTQ+;
preconceito, discriminação e violência contra mulheres ou LGBTQ+, dentre outros.

Compreendendo conceitos: o que é identidade de gênero, sexo e orientação sexual?


“Beleza, prof. Tudo muito interessante, muito bacana. Mas, afinal, o que é
gênero?”
Calma, meu anjo. Vamos lá!
Existem conceitos muito importantes para iniciar esse debate. São eles:
identidade de gênero, papel social, sexo biológico e orientação sexual. Veja a imagem
abaixo:

Você já conhecia esses conceitos? Já tinha ouvido falar?


 O sexo é uma condição biológica, está relacionado ao nosso corpo: órgãos,
hormônios, etc.
 O papel de gênero são as expectativas sociais e estereótipos1 que se criam a
partir destas possibilidades do sexo: feminino ou masculino. Formando um
mundo de significados e comportamentos definidos para homens e mulheres.

1
Concepção baseada em ideias preconcebidas sobre algo ou alguém, sem o seu conhecimento real,
geralmente de cunho preconceituoso ou repleta de afirmações gerais e inverdades. Fonte:
https://www.dicio.com.br/estereotipo/
Importante destacar que essas expectativas construídas socialmente são sempre
binárias: feminino ou masculino. Será que só existem essas duas
possibilidades?!?

EXEMPLOS:
• Homem não chora;
• Mulher não gosta de futebol, não sabe jogar;
• Homem não pode ser vaidoso;
• Mulher não sabe dirigir;
• Homem não sabe cozinhar;
• Mulher tem que arrumar a casa;
• Homem é corajoso, tem que brigar para mostrar que “é homem”;
• Mulher é delicada, caprichosa, uma princesa;

Que coisas consideramos: “de menino” e “de menina”?


Será que nos encaixamos nesses papeis?
E essas cores, hein?!?!

 A identidade de gênero diz respeito ao quanto a gente se aproxima, se percebe


como parte destes papeis. Podemos nos identificar com um, ou outro, ou talvez
com os dois! Ou talvez com nenhum! O que observamos é que há mais
possibilidades de identificação, para além dos papeis de gênero binários.
 A orientação sexual ou sexualidade tem a ver com nossos afetos, atração e
relações amorosas/sexuais que estabelecemos.

Pois é! Compreender esses conceitos é importante para que a gente perceba que
existe uma diversidade muito grande e muitas possibilidades para que as pessoas
construam suas identidades, afetos e expressividades. Significa dizer que nem sempre o
sexo biológico de uma pessoa vai corresponder à identidade de gênero esperada
(feminina ou masculina) ou ao papel de gênero imposto pela sociedade, como é o caso
das pessoas trans. E que existem mais maneiras de se relacionar além do padrão cis2-

2
Diz-se da pessoa que se identifica completamente com o gênero [atribuído ao seu sexo] de nascimento;
refere-se às mulheres e aos homens em completa conformidade com os órgãos sexuais que lhes foram
atribuídos à nascença; opõe-se ao transgênero (não identificação com o gênero [atribuído ao seu sexo] de
nascimento). Fonte: https://www.dicio.com.br/cisgenero/
heterosexual.
O mundo é muito grande e as pessoas muito diferentes. Não dá para esperar que
todos vão sentir e se comportar da mesma maneira, não é mesmo? E ainda bem, né?!
Quando a gente compreende isso, abrimos espaço para perceber e lutar pelos
direitos das pessoas que não se encaixam dentro das normas androcêntricas 3 e
heteronormativas4, sejam elas: mulheres, gays, lésbicas, bissexuais, pessoas trans, etc.

Teoria Queer
A Teoria Queer surge como um conjunto de estudos que buscam compreender as
diferenças no que diz respeito a identidade de gênero e sexualidade. Enfatiza que o
gênero não é uma verdade biológica, mas um sistema de captura social das
subjetividades. Significa que existe uma percepção, por vezes diversa, entre como me
sinto e como a norma diz que devo me sentir.
Veja esse relato:

“Eu nasci e cresci na periferia de São Paulo, e agora vivo na periferia de


Caucaia, no Ceará. Na periferia, não existem, aos olhos da norma, pessoas não
binárias. Eu mesma, ao longo de toda a minha vida nunca me percebi como
homem, nem como mulher. Eu era “o gayzinho” e “o viadinho”, depois que
descobri a transgeneridade é que percebi que eu podia enunciar o que sou: sou
travesti não reivindico ser mulher, não reivindico ser homem, mas essa é uma
posição minha. Eu reivindico sim a feminilidade” (Helena Vieira)5

O termo “queer” vem de “Queer Street”, na Inglaterra, onde viviam, em


Londres, os considerados vagabundos, endividados, as prostitutas e todas as pessoas
foram dos padrões de gênero e sexualidade. O termo ganhou sentido pejorativo, como
“viadinho”, “sapatão”, “maricona”, etc. Passou a ser usado como ofensa, tanto para
homossexuais, quanto para travestis, transexuais e todas as pessoas que desviavam da
norma cis-heterossexual.
3
Relativo ao androcentrismo, à tendência para assumir o masculino como único modelo de representação
coletiva, sendo os comportamentos, pensamentos ou experiências, associados ao sexo masculinos, os que
devem ser tidos como padrão. Refere-se à supervalorização do homem, e de suas experiências e
comportamentos, não assumindo os seres humanos como igualitários, geralmente desvalorizando as
experiências das mulheres ou a busca pelos seus direitos. (Fonte:
https://www.dicio.com.br/androcentrico/)
4
Refere-se à heteronormatividade, ao conceito de que apenas os relacionamentos entre pessoas de sexos
opostos ou heterossexuais são normais ou corretos. Que marginaliza as orientações sexuais que se diferem
da heterossexual. (Fonte: https://www.dicio.com.br/heteronormativo/)
5
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/osentendidos/2015/06/07/teoria-queer-o-que-e-isso-
tensoes-entre-vivencias-e-universidade/
Queer não é um termo inteligível no Brasil. As pessoas não se descrevem como
queer por aqui. Mas no Brasil, os mesmos processos de normatização e subalternização
dos corpos estão presentes. Queer no Brasil: traveco, viadinho, sapatona, transviado...
Os estudos da Teoria Queer buscam uma ressignificação do termo queer. Para
que seja assimilado por estes grupos marginzalidos como empoderamento. Portanto, o
Queer é o “estranho”. É aquele que se narra ou é narrado fora das normas.
A Teoria Queer propõe o questionamento às epistemes (pressupostos de saber),
ao que entendemos como verdade, às noções de uma essência do masculino, de uma
essência do feminino, de uma essência do desejo (BUTLER, 1990).

Gêneros, sexualidades e Direitos Humanos


No artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos está previsto no
primeiro tópico que:

“Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades


estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”

A Declaração não aborda diretamente a discriminação contra pessoas em relação


às suas sexualidades e identidades de gênero. Podemos compreender que em 1948, ano
de publicação do documento, as discussões sobre esse tema ainda eram pouco
difundidas. Porém é possíver perceber que o artigo é abrangente quando diz “qualquer
outra condição”, parte em que podemos e devemos incluir pessoas LGBTQ+.
No entanto, os dados nos mostram uma realidade desfavorável para mulheres e
população LGBTQ+. No mundo cinco mulheres morrem a cada hora por violência
doméstica6 e em 2015 Brasil foram registrados 63.090 denúncias de violência
doméstica, correspondendo a 1 denúncia a cada 7 minutos7. Sendo 58,55% destas
denúncias, violência praticadas contra mulheres negras. Além disso, tivemos 313
homicídios com motivações homofóbicas em 2015 no Brasil8.
Dá para ter uma ideia de que ainda há muito o que avançar na luta contra a

6
A informação é resultado de análise do estudo global de crimes das Nações Unidas e indica um número
estimado de 119 mulheres assassinadas diariamente por um parceiro ou parente.
7
Os dados são da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), a
partir do balanço dos relatos recebidos pelo Ligue 180.
8
Segundo levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB).
discriminação e pela garantia dos direitos de mulheres e LGBTQ+, não é mesmo?
Por isso é tão importante compreender e debater esse tema!

EXERCÍCIO AVALIATIVO
Observa a charge abaixo:

Na tirinha o personagem diz: “Futebol é jogo de homem!”, uma fala recorrente


que indica um senso comum sobre o que é considerado masculino ou feminino, ou até
mesmo sobre o que é considerado ser homem ou ser mulher na nossa sociedade. Quem
nunca ouviu alguma frase desse tipo, não é mesmo?
Utilizando suas palavras e se baseando no conteúdo deste material de
Sociologia, explique: como os estudos de gêneros e sexualidades podem ajudar a
questionar os estereótipos existentes sobre os papeis de gênero?

INDICAÇÕES

VÍDEOS:

• 1915 ou 2015?
https://www.youtube.com/watch?v=7XgCKLg_co0

• Princesas quebradoras de tabus


https://www.youtube.com/watch?v=bvwv_xdRJmo
• Você é feminista e não sabe
https://www.youtube.com/watch?v=INgNvF2u76o

• Sejamos todos feministas


https://www.youtube.com/watch?v=fyOubzfkjXE&list=PLBJxm73o8WSUM2d4H
FWTnNNaGwrwN59ez

 Curta doc sobre teoria queer

https://www.youtube.com/watch?v=t1mPljcU0yQ&ab_channel=DavidGabriel

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970.
BUTLER, Judith. Gender trouble: feminism and the subversion of identity.
Routledge: New York, 1990.
MEAD, Margaret. Sex and temperament in three primitive societies, New York,
William Morrow and c. 1935 (Trad. Bras. Rosa R. Krausz. São Paulo, Perspectiva,
2000)
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 217 (III) A. Paris, 1948.
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; COSTA, Ricardo Cesar Rocha. Sociologia para
jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016.
VÁRIOS. Sociologia em movimento. São Paulo: Editora Moderna, 2016.

Endereços eletrônicos:

Brasil tem 1 denúncia de violência contra a mulher a cada 7 minutos. O Estado de


São Paulo, 07 de março de 2016. Disponível em:
http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tem-1-denuncia-de-violencia-contra-a-
mulher-a-cada-7-minutos,10000019981 Acesso em: 18/05/2016.
Crime por homofobia, no Brasil, é 80 vezes maior do que no Chile. Empresa
Brasileira de Comunicação, 30 de setembro de 2014. Disponível em:
http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/09/crime-por-homofobia-no-brasil-e-80-vezes-
maior-do-que-no-chile Acesso em: 18/05/2016.
Violência doméstica mata cinco mulheres por hora diariamente em todo o mundo.
Empresa Brasileira de Comunicação, 08 de março de 2016. Disponível em:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-03/violencia-domestica-
mata-cinco-mulheres-por-hora-diariamente-em Acesso em 18/05/2016.

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